a Árvore humana

7
A árvore Humana Pois o homem é uma árvore dos campos. (Devarim 20:19) "O homem é uma árvore dos campos," e o calendário judaico reserva um dia a cada ano - "O Ano Novo das Árvores" a 15 de Shevat - para que nós contemplemos nossa afinidade com nosso irmão botânico e aquilo que ele nos pode ensinar sobre nossa vida. Os componentes principais da árvore são: as raízes, que ancoram-na ao solo e a abastecem com água e outros nutrientes; o tronco, galhos e folhas que formam seu corpo; e o fruto, que contém as sementes com as quais a árvore se reproduz. A vida espiritual do homem também inclui raízes, um corpo, e frutos. As raízes representam a fé, nossa fonte de sustento e perseverança. O tronco, ramos e folhas são o "corpo" de nossa vida espiritual - nossas conquistas intelectuais, emocionais e práticas. O fruto é nosso poder de procriação espiritual - o poder de influenciar os outros, de plantar uma semente em um ser humano, nosso próximo, e vê-la brotar, crescer e dar frutos. Raízes e corpo As raízes são a parte menos "glamourosa" da árvore, e a mais vital. Enterrada sob o solo, praticamente invisível, não possuem a majestade do corpo da árvore, o colorido de suas folhas nem o sabor de seus frutos. Mas sem as raízes, uma árvore não pode sobreviver. Além disso, as raízes devem se equiparar ao corpo; se o tronco e folhas de uma árvore crescem e se espalham sem um desenvolvimento proporcional em suas raízes, a árvore desabará sob seu próprio peso. Por outro lado, uma profusão de raízes proporciona uma árvore mais saudável e mais forte, mesmo se tiver um tronco esquálido e poucos ramos, folhas e frutos. E se as raízes são fortes, a árvore se regenerará mesmo quando seu corpo for danificado ou tiver os galhos cortados. A fé é a menos glamourosa de nossas faculdades espirituais. Caracterizada por uma "simples" convicção e comprometimento com a Fonte da pessoa, carece da sofisticação do intelecto, das cores vívidas das emoções, ou do senso de satisfação que provém da realização. E a fé está enterrada no subsolo, sua verdadeira extensão oculta das outras pessoas, e até de nós mesmos. Mesmo assim nossa fé, nosso comprometimento supra-racional a D'us, é o alicerce de toda nossa "árvore". Dela brota o tronco de nosso entendimento, do qual brota o ramo de nossos sentimentos, motivações e atos. E embora o corpo da árvore também forneça parte de sua nutrição

Upload: leandromaia

Post on 13-Jul-2016

1 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

sobre o homem comparado à árvore

TRANSCRIPT

Page 1: A Árvore Humana

A árvore Humana

Pois o homem é uma árvore dos campos. (Devarim 20:19)

"O homem é uma árvore dos campos," e o calendário judaico reserva um dia a cada ano - "O Ano Novo das Árvores" a 15 de Shevat - para que nós contemplemos nossa afinidade com nosso irmão botânico e aquilo que ele nos pode ensinar sobre nossa vida.

Os componentes principais da árvore são: as raízes, que ancoram-na ao solo e a abastecem com água e outros nutrientes; o tronco, galhos e folhas que formam seu corpo; e o fruto, que contém as sementes com as quais a árvore se reproduz.

A vida espiritual do homem também inclui raízes, um corpo, e frutos. As raízes representam a fé, nossa fonte de sustento e perseverança. O tronco, ramos e folhas são o "corpo" de nossa vida espiritual - nossas conquistas intelectuais, emocionais e práticas. O fruto é nosso poder de procriação espiritual - o poder de influenciar os outros, de plantar uma semente em um ser humano, nosso próximo, e vê-la brotar, crescer e dar frutos.

Raízes e corpo

As raízes são a parte menos "glamourosa" da árvore, e a mais vital. Enterrada sob o solo, praticamente invisível, não possuem a majestade do corpo da árvore, o colorido de suas folhas nem o sabor de seus frutos. Mas sem as raízes, uma árvore não pode sobreviver.

Além disso, as raízes devem se equiparar ao corpo; se o tronco e folhas de uma árvore crescem e se espalham sem um desenvolvimento proporcional em suas raízes, a árvore desabará sob seu próprio peso. Por outro lado, uma profusão de raízes proporciona uma árvore mais saudável e mais forte, mesmo se tiver um tronco esquálido e poucos ramos, folhas e frutos. E se as raízes são fortes, a árvore se regenerará mesmo quando seu corpo for danificado ou tiver os galhos cortados.

A fé é a menos glamourosa de nossas faculdades espirituais. Caracterizada por uma "simples" convicção e comprometimento com a Fonte da pessoa, carece da sofisticação do intelecto, das cores vívidas das emoções, ou do senso de satisfação que provém da realização. E a fé está enterrada no subsolo, sua verdadeira extensão oculta das outras pessoas, e até de nós mesmos.

Mesmo assim nossa fé, nosso comprometimento supra-racional a D'us, é o alicerce de toda nossa "árvore". Dela brota o tronco de nosso entendimento, do qual brota o ramo de nossos sentimentos, motivações e atos. E embora o corpo da árvore também forneça parte de sua nutrição espiritual, a parte principal de nosso sustento espiritual provém de suas raízes, de nossa fé e comprometimento com nosso Criador.

Uma alma pode desenvolver um tronco majestoso, ramos numerosos que se espalhem para todos os lados, lindas folhas e frutos capitosos. Porém esses devem ser igualados, na verdade suplantados, por suas "raízes." Sobre a superfície, pode haver muita sabedoria, profundidade de sentimentos, experiência abundante, copiosas realizações e muitos discípulos; mas se estes não estiverem seguros e vitalizados por uma fé e engajamento ainda maiores, será uma árvore sem raízes, fadada a desabar sob seu próprio peso.

Por outro lado, uma vida pode ser abençoada com um conhecimento escasso, parcos sentimentos e experiência, poucas realizações e "frutos" escassos. Mas se suas "raízes" são extensas e profundas, será uma árvore saudável: uma árvore que possua realmente aquilo que tem; uma árvore com a capacidade de se recobrar dos golpes da vida; uma árvore com o potencial de crescer e se desenvolver até tornar-se uma árvore mais elevada, mais bela e

Page 2: A Árvore Humana

ainda mais frutífera.

Fruto e semente

A árvore deseja se reproduzir, espalhar suas sementes o mais longe possível, para que enraízem em locais distantes e diversos. Mas o alcance da árvore é limitado à extensão de seus ramos. Deve portanto, buscar outros "mensageiros" com mais mobilidade para transportar suas sementes.

Por isso a árvore produz os frutos, nos quais as sementes estão envoltas em polpas e sucos saborosos, coloridos e fragrantes. As sementes por si mesmas não despertariam o interesse dos animais e do homem; porém

com seu envoltório atraente, não há falta de "fregueses" que, após consumirem o fruto externo, depositam a semente naqueles locais distantes e variados onde a árvore deseja plantar suas sementes.

Quando nos comunicamos com outras pessoas, usamos diversos meios para tornar nossa mensagem atraente. Nós a reforçamos com sofisticação intelectual, impregnamos com molho emocional, vestimos com palavras e imagens coloridas. Mas deveríamos ter em mente que isso é apenas o envoltório - o "fruto" que contém a semente. A própria semente não tem sabor - o único modo pelo qual podemos verdadeiramente causar impacto nos outros é transmitindo nossa própria fé simples naquilo que estamos lhes dizendo, nosso simples comprometimento à causa que estamos defendendo.

Se a semente lá estiver, nossa mensagem criará raízes em suas mentes e corações, e nossa própria visão será enxertada na deles. Porém se não houver semente, não haverá descendentes de nossos esforços, não importa quão saborosos sejam nossos frutos.

As sete espéciesPor Yanki Tauber, baseado nos ensinamentos do Lubavitcher Rebe

"Pois o Senhor teu D’us está te levando a uma boa terra: … Uma terra de trigo, cevada, uvas, figos e romãs: uma terra de oliveiras que emana azeite e [tâmara] mel." (Devarim 8:8)

Nossos sábios nos contam que, originalmente, todas as árvores tinham frutos, como também será o caso na Era de Mashiach. Uma árvore sem frutos é sintoma de um mundo imperfeito, pois a principal função de uma árvore é produzir frutos.

Se "o homem é uma árvore do campo" e o fruto é a maior realização da árvore, há sete frutos que coroam a colheita humana e botânica. Estes são os sete frutos e grãos destacados pela Torá como exemplares da fertilidade da Terra Santa: trigo, cevada, uvas, figos, romãs, azeitonas e tâmaras.

O 15º dia do mês hebraico de Shevat é o dia designado pelo calendário judaico como o "Ano Novo das Árvores." Neste dia, celebramos as árvores do mundo de D’us, e a árvore dentro de nós, partilhando destes sete "frutos," que exemplificam os

Page 3: A Árvore Humana

vários componentes e modos de vida humana. 

Comida e forragem

Os mestres cabalistas nos dizem que cada um de nós tem não uma, mas duas almas: uma "alma animalesca," que incorpora nossos instintos naturais, egoístas: e uma "alma Divina" incorporando nossos desejos transcendentais – nosso desejo de escapar do "Eu" e relacionar-se com aquilo que é maior que nós mesmos.

Como o nome sugere, a alma animalesca constitui aquela parte de nós mesmos que é comum a todas as criaturas vivas: o instinto de autoconservação e perpetuação da própria espécie. Porém o homem é mais que um animal sofisticado. Existem qualidades que são exclusivamente nossas, como seres humanos – as qualidades que derivam de nossa "alma Divina." O ponto no qual nós nos graduamos além do "eu" e suas necessidades ("Como faço para sobreviver?" "Como obter alimento, abrigo, dinheiro, poder, conhecimento, satisfação?") a uma perspectiva supra-"eu"("Por que estou aqui?" "Qual é meu objetivo?") é o ponto no qual deixamos de ser apenas outro animal no mundo de D’us, e começamos a perceber nossa singularidade como seres humanos.

Isso não é dizer que o "eu" animal deve ser rejeitado em favor do "eu humano-Divino. Estas são nossas duas almas, ambas indispensáveis a uma vida de realização e propósito. Mesmo quando estimulamos o Divino dentro de nós para nos elevar acima do meramente animal, devemos também desenvolver e refinar nosso "eu" animal, aprendendo a cultivar os aspectos construtivos do próprio "eu": (ex. autoconfiança, coragem, perseverança) enquanto eliminamos o egoísta e o profano.

Na Torá, o trigo é considerado o esteio da dieta humana, ao passo que a cevada é mencionada como um alimento tipicamente animal (cf. Tehilim 104:5 e I Melachim, 5:8. Veja também o Talmud, Sotah 14a). Assim, o "trigo" representa o esforço para nutrir o que há de distintamente humano em nós, alimentar as Divinas aspirações que são a essência de nossa humanidade. A "cevada" representa o esforço para nutrir e desenvolver nossa alma animalesca – uma tarefa não menos crucial para nossa missão na vida

que o cultivo de nossa alma Divina.

Empolgação

Trigo e cevada, os dois grãos dentre as Sete Espécies, representam a "matéria-prima" de nossa composição interior. Depois destes vêm os cinco frutos – "aperitivos" e "sobremesas" em nosso cardápio espiritual – que adiciona sabor e estímulo ao nosso esforço básico de desenvolver nossas almas, a animalesca e a Divina.

O primeiro desses é a uva, cuja característica principal é a alegria. Como a videira descreve seu produto na Parábola de Yotam (Shofetim 9:13), "… meu vinho, que faz felizes D’us e os homens."A alegria é revelação. Uma pessoa influenciada pelo júbilo tem os mesmos traços básicos que possui em um estado não-jubiloso – o mesmo conhecimento e inteligência, os mesmos amores, ódios e desejos. Mas em um estado de felicidade, tudo é mais pronunciado: a mente é mais arguta, o amor mais profundo, os ódios mais vívidos, os desejos mais agressivos. As emoções que normalmente mostram apenas uma pálida imagem

de sua verdadeira extensão, agora tornam-se mais ostensivas. Nas palavras do

Page 4: A Árvore Humana

Talmud, "Quando entra o vinho, o oculto se revela."

Uma vida sem alegria poderia estar completa de todas as maneiras, porém é uma vida superficial; tudo está ali, mas apenas a superfície nua é mostrada. Tanto a alma animalesca quanto a Divina contêm vastos reservatórios de percepção e sentimento que jamais vêem a luz do dia porque não há nada para estimulá-los. A "uva" representa o elemento de júbilo em nossa vida – a alegria que desencadeia estes potenciais e adiciona profundidade, cor e intensidade a tudo que fazemos.

Envolvimento

Podemos estar fazendo algo total e completamente; podemos mesmo estar fazendo isso alegremente. Mas estamos ali? Estamos envolvidos?

Envolvimento significa mais que fazer alguma coisa certa, mais que dar tudo de nós. Significa que nos importamos, que estamos investidos na tarefa. Significa que somos afetados por aquilo que fazemos, para o melhor e para o pior.

O figo, a quarta das "Sete Espécies," é também o fruto da "Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal" – o fruto que Adão e Eva provaram, cometendo assim o primeiro pecado da história. Como explica o ensinamento chassídico, "conhecimento" (daat) implica um envolvimento íntimo com a coisa conhecida (como no versículo "E Adão conheceu sua mulher"). O pecado de Adão derivou de sua recusa em reconciliar-se com a noção de que há certas coisas das quais ele deveria se distanciar; ele desejava conhecer intimamente cada canto do mundo de D’us, tornar-se

envolvido com cada uma das criações de D’us. Mesmo o mal, mesmo aquilo que D’us tinha declarado fora do alcance dele.

O figo de Adão foi uma das forças mais destrutivas da história. Em seu igualmente poderoso disfarce construtivo, o figo representa nossa capacidade para um envolvimento profundo e íntimo em nosso próprio esforço positivo – um envolvimento que significa que somos um com aquilo que estamos fazendo.

Ação

"Seus lábios são como um fio de escarlate" exaltou Salomão em sua celebração do amor entre o Noivo Divino e Sua noiva Israel: "Sua boca é graciosa: sua têmpora é como um pedaço de romã em seus cachos" (Shir HaShirim, Cântico dos Cantos 4:3). Conforme interpretada pelo Talmud, a alegoria da romã expressa a verdade que: "Mesmo os vazios dentre vocês estão repletos de boas ações, como uma romã [está repleta de sementes]."

A romã é não somente um modelo para algo que contém muitos detalhes. Fala também do paradoxo de

como um indivíduo pode ser "vazio" e, ao mesmo tempo, estar "repleto de boas ações como uma romã."

A romã é uma fruta altamente dividida em compartimentos: cada uma de suas centenas de sementes está envolvida em seu próprio saco de polpa, e separada de suas iguais por um membrana rija. Da mesma maneira, é possível para uma pessoa fazer boas ações : muitas boas ações – mesmo assim elas permanecem como atos isolados, com pouco ou nenhum efeito sobre sua natureza e caráter. Ela pode possuir muitas virtudes, mas elas não se tornam ela; ela pode estar repleto de boas

Page 5: A Árvore Humana

ações, mesmo assim permanece moral e espiritualmente superficial.

Se o figo representa nossa capacidade para envolvimento total e identificação com aquilo que estamos fazendo, a romã é a antítese do figo, representando nossa capacidade de superar a nós mesmos e agir de maneira a ultrapassar nosso estado espiritual interno. É nossa capacidade de fazer e conseguir coisas que são totalmente incompatíveis com quem e o quê somos no momento atual.

A romã é a "hipocrisia" em sua forma mais nobre: a recusa de se reconciliar com a estação moral e espiritual de alguém, conforme definido pelo estado atual do caráter da pessoa; a insistência em agir melhor e mais Divinamente que aquilo que somos.

Luta

Para a maioria de nós, "vida" é sinônimo de "luta." Lutamos para forjar uma identidade sob a sombra pesada da influência de nossos pais e amigos; lutamos para encontrar um parceiro para a vida, e depois lutamos para preservar nosso casamento; lutamos para criar nossos filhos, e depois lutamos em nosso relacionamento com eles quando adultos; lutamos para ganhar o sustento, e depois lutamos com nossa culpa pela boa sorte que tivemos; e subjacente a isso tudo, está o eterno conflito entre nosso "eu" animalesco e

Divino, entre os instintos egoístas e nossas aspirações para transcender o "eu" e tocar o Divino.

A "oliveira" em nós é aquela parte que se esforça na luta, que se revela, que não escaparia mais dela que da própria vida. "Bem como uma azeitona," dizem nossos sábios, "que fornece seu azeite quando prensada," assim, também, nós cedemos o que há de melhor dentro de nós quando pressionados pelos moinhos da vida e as forças opostas de um "eu" dividido.

Perfeição

Como o "figo" é contrabalançado pela "romã," assim também a "azeitona" em nós contrasta com nosso sétimo fruto, a tâmara, que representa nossa capacidade para a paz, a tranqüilidade e a perfeição. Embora seja verdade que somos melhores quando pressionados, é igualmente verdade que há potenciais em nossa alma que brotam apenas quando estamos completamente em paz conosco – somente quando conseguimos um equilíbrio e harmonia entre os diversos componentes de nossa alma.

Assim canta o Salmista: "O tsadic (pessoa completamente justa) vicejará como a tamareira (Salmos 92:13). O Zohar explica que há uma determinada espécie de tamareira que demora setenta anos para frutificar. O caráter humano é composto de sete atributos básicos, cada um consistindo de dez sub-categorias; assim, o florescer do tsadic "após 70 anos" é o fruto da absoluta tranqüilidade – o produto de uma alma cujos aspectos e nuances de caráter foram refinados e harmonizados consigo mesmo, com o próximo e com D’us.

Embora a azeitona e a tâmara descrevam duas personalidades espirituais muito diferentes, ambas existem dentro de cada homem. Pois mesmo em meio a nossas lutas mais ardentes, sempre podemos encontrar conforto e fortaleza na tranqüila perfeição que habita o íntimo de nossa alma. E mesmo em nossos momentos mais tranqüilos, sempre podemos encontrar o desafio que nos levará a realizações ainda maiores.

Page 6: A Árvore Humana