a articulaÇÃo escola-empresa e seus reflexos na …currículo do ensino tecnológico, deve ser...
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A ARTICULAÇÃO ESCOLA-EMPRESA E
SEUS REFLEXOS NA FORMAÇÃO
TÉCNICA ATRAVÉS DO CURRÍCULO
JOÃO BATISTA PESSANHA
(UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ)
WANESSA BARROS RANGEL
(SEC. MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE CAMPOS DOS
GOYTACAZES)
Resumo
Este artigo apresenta os resultados dos estudos da Teoria
Curricular, na busca de embasamento teórico para a consecução do
trabalho. Objetivamente pretende-se descrever como os resultados da
articulação escola-empresa deevem ser inseridos no Currículo da
Formação Técnica. O Currículo concebido desta forma torna-se mais
aberto e receptivo, ultrapassando o isolamento disciplinar,
apresentando características típicas da participação de um colegiado
comprometido com o resultado final do processo de ensino. A base
teórica foi obtida na pesquisa bibliográfica enfatizada na Teoria
Curricular; no envolvimento de atores diversos, internos e externos no
Comitê de Currículo da Formação Técnica. No estudo da articulação
escola-empresa identificou-se teoricamente e se constatou em práticas
comprovadas, os reflexos exitosos em relação à melhoria na Formação
Técnica. Para o desenvolvimento da articulação escola-empresa exige-
se como pré-requisito a autonomia para o processo de gestão da
escola; a formação de um Comitê de Currículo no modelo
Development a Curriculum (DACUM), constituído por atores e
especialistas internos e externos e que as atividades do referido Comitê
sejam desenvolvidas de forma participativa. Na conclusão, em relação
à articulação escola-empresa, consideramos factível sua adequação ao
processo de elaboração do currículo, como forma de melhorar a
qualidade da Formação Técnica da escola. A viabilidade está
apresentada sob a forma de cenários tais como: a concessão de
autonomia para a gestão escolar; o desenvolvimento do processo de
articulação escola-empresa; a formação do Comitê de Currículo
seguido da elaboração do cronograma de Atividades Complementares
como forma de enriquecer a formação técnica.
Palavras-chaves: Currículo; Articulação; Formação Técnica.
12 e 13 de agosto de 2011
ISSN 1984-9354
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011
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1. INTRODUÇÃO
1.1 Formulação do problema
Os mecanismos por meio dos quais a formação humana tem sido restringida, na
sociedade industrial, à condição de formação voltada quase que exclusivamente para o
trabalho, gerou a lógica que rege as relações sociais orientadas por critérios de racionalização
e que obedecem à dinâmica instrumental na qual o intervencionismo estatal e o planejamento
em larga escala não livraram a humanidade da anarquia da produção, mas a submeteram ainda
mais (MAAR, 1996, p. 69).
As condições concretas da formação tecnológica voltada para o trabalho na sociedade
industrial forçam o conformismo e não as influências conscientes as quais embrutecem e
afastam da verdade os homens oprimidos.
A cultura se tornou, na sociedade capitalista industrializada, um objeto. E, nessa
esteira, o objeto da formação passa a ser a indústria cultural que confere ao processo de
formação um ar de semelhança.
A educação que se realiza no Brasil como um todo não cumpre o que promete, a não
ser de forma limitada, e a Educação Tecnológica Profissionalizante envolvida no contexto
também apresenta fragilidades. Superar esse estado em que a formação do ser humano foi
confinada implica seguramente na análise crítica do processo que institui a educação como
semiformadora.
Esses foram os principais aspectos considerados na formulação do problema, centrado
na necessidade de se descrever o processo de articulação escola-empresa e o modo de incluir
os resultados em benefício do currículo da formação tecnológica, utilizando-se uma nova
prática metodológica no processo de elaboração e/ou reformulação de currículos, visando à
formação profissional não só para o mercado de trabalho, mas preparando o educando
também para a vida.
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2. OBJETIVOS
2.1 Geral
Descrever os procedimentos usados na articulação escola-empresa e o modo de inclusão
dos resultados no Currículo da Formação Tecnológica.
2.2 Específicos:
a) Descrever a importância da participação de um colegiado na elaboração do
Currículo da Formação Tecnológica;
b) Enfatizar a relevância da participação de especialistas externos no Comitê de
Currículos de instituições de ensino tecnológico profissionalizante;
c) Descrever a experiência com o Método DACUM aplicada ao currículo da Formação
Tecnológica;
d) Destacar a viabilidade de uso de experiências adquiridas na artuculação escola-
empreae aplicadas ao Currículo de uma Instituição de Formação Tecnológica
3. METODOLOGIA
A pesquisa, enquanto estudo metódico, tem como propósito sistematizar o
conhecimento sobre determinada área do saber cujo resultado vem a ser a concretização da
investigação planejada, desenvolvida e contextualizada.
A metodologia usada nesse trabalho foi desenvolvida de forma articulada em um
conjunto de etapas e processos ordenados, investigando os fatos na busca da verdade. O
método confere segurança ao resultado da pesquisa e foi estabelecido e aprimorado pela
contribuição acumulativa de conhecimentos adquiridos.
O método, portanto, significa o modo de organizar as etapas fundamentais da
pesquisa, e, a técnica, os diversos procedimentos utilizados em cada objeto de pesquisa
dentro das etapas metodológicas (RUIZ, 1988, p. 132).
Sob o ponto de vista do interesse desse trabalho, usou-se o método de pesquisa
descritiva e bibliográfica com o propósito de narrar o que acontece. As referidas pesquisas
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se propõem a descobrir a natureza do problema a ser estudado, sua composição, processos
que o constituem ou que neste se realizam.
3.1 Tipo e Nível de Investigação
O presente trabalho de pesquisa utilizou como ponto de partida os fundamentos
teóricos sobre currículo, para então ser abordado o método de se elaborar Currículo da
Formação Tecnológica, considerando as contribuições da parceria escola-empresa em uma
concepção colegiada, levando em conta a Teoria Crítica, o Currículo na Contemporaneidade,
transversalidades e inter/transdisciplinaridades curriculares.
O trabalho foi desenvolvido com o propósito de comparar as semelhanças e
diferenças entre o Método DACUM de elaborar Currículo com o método atual usado na
feitura do Currículo da Formação Tecnológica.
4. TEORIA CURRICULAR
4.1 Antecedentes
Como a essência desse trabalho está centrada no estudo e análise do projeto de
Currículo do Ensino Tecnológico, deve ser levado em conta que, para formar profissionais da
área tecnológica dotados de saberes sociocoletivistas, torna-se necessário ter o projeto
curricular como uma espécie de livro de cabeceira dos educadores e educandos, porque o
currículo estabelece uma espécie de diálogo com o cotidiano da vida. Um currículo dentro de
uma rede de complexidades deve estar aberto às solicitações e às provocações do meio, aberto
a perturbações que surgem no processo e que viabilizam o reconhecimento do momento de
negociação e renegociação com as demandas que emergem no entorno (MORAES, 2008, p.
192).
O planejamento curricular necessita ser flexível e aberto para o desconhecido,
acolhedor do inesperado, deve emergir em redes, ir além das amarras disciplinares, ser
transcendente e transdisciplinar. Como instrumento para a efetivação de processos reflexivos,
criativos e críticos, o gerenciamento curricular colabora para o desenvolvimento de
competências e habilidades dos indivíduos em formação. Nesse sentido, os conteúdos devem
ser dinâmicos e relacionais para mobilizar o pensamento e a ação do sujeito aprendiz.
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4.1.1 Educação e Formação na Sociedade do Capitalismo Tardio
Detalhando a situação, Theodor Adorno demarca os prováveis mecanismos por meio
dos quais a formação humana tem sido restringida, na sociedade plenamente industrial, à
condição de formação cultural voltada quase que exclusivamente para a adaptação. Ao
privilegiar o aspecto da adaptação, a educação fragiliza os processos que conduzem à
diferenciação e faz emergir uma semiformação (MAAR, 1996, p. 63).
4.1.2 Breve Histórico do Currículo na Escola
O Currículo é, com certeza, o elemento da organização educacional que mais
incorpora a racionalidade dominante na sociedade do capitalismo e está impregnado da lógica
marcada pela competição e pela adaptação da formação humana às razões do mercado. Isso se
evidencia no conjunto de teorias que têm, ao longo da história, dialogado com as práticas de
organização curricular (MOREIRA, 2005, p. 13).
Antonio Flávio Moreira (2005, p. 20) localiza o surgimento dos estudos especializados
no campo do Currículo no início do século XX, particularmente no ano de 1918, com a
publicação do livro The Curriculum, de F. Bobbit. As mudanças econômicas, políticas e
culturais da sociedade americana de então impulsionam o interesse em adaptar a escolarização
ao contexto da educação de massas. As proposições de Bobbit, inspiradas nos propósitos de
racionalização do trabalho de Frederick W.Taylor, prescrevem que a instituição educacional
deveria se organizar tal qual uma fábrica, especificando, rigorosamente, os resultados que
pretenderia alcançar, bem como os métodos e mecanismos de avaliação com vistas a
assegurar que tais propósitos fossem, de fato, atingidos. Tais proposições, em síntese,
proclamam uma racionalidade situada a partir dos critérios de eficiência e controle.
Numa concepção atual, o currículo deve, portanto, ser considerado como uma
composição de métodos, estratégias e aprendizagens significativas, normais e naturais, de
natureza complexa e transdisciplinar, capazes de viabilizar a conexão de saberes em redes, é a
complexidade apresentada por Edgar Morin (citado por MORAES (2008, p. 176).
Pesquisando escritos e artigos de variadas autorias, constata-se que os especialistas em
currículos admitem que, em relação ao assunto, a situação atual é de crise. Os avanços
teóricos têm tido pouca influência na prática docente, as discussões travadas ecoam muito
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fracamente dentro das escolas/universidades não contribuindo, como se desejaria, para a
mudança desejada.
Educar consiste, portanto, em um processo de transformação conjunta entre educador e
educando, no qual o aprendiz/educando transforma-se em comunhão com os seus professores
e companheiros no espaço educacional cujas transformações referem-se tanto à dimensão
explícita ou consciente, quanto às dimensões implícitas ou inconscientes (PADILHA, 2004, p.
160-164).
Paulo Freire, por sua vez, nos diria que “educar é também um ato de amor, por isto,
um ato de coragem. Não se pode temer o debate, nem as análises da realidade. Não se pode
fugir à discussão criativa” (FREIRE , citado por PADILHA, 2004, p.164). Para ele, educação
implica, acima de tudo, uma constante mudança de atitude; implica substituir hábitos de
passividade por participação.
Atualmente, não podemos falar sobre educação do ser humano sem levar em conta os
processos de formação que considerem o meio em que o processo educacional acontece de
modo efetivo, ao que chamamos de formação ecocêntrica, que devem ser focados para além
das especificidades curriculares, os saberes e valores extracurriculares tais como a ética, o
respeito à biodiversidade, ao meio ambiente e o amor ao próximo.
Concordamos com Paulo Freire citados por MORAES (2008): educar implica criar
espaços de convivência agradável, prazeroso e emocionalmente sadio. Pressupõe a
criação de circunstâncias que levem ao enriquecimento da capacidade de ação e reflexão do
sujeito aprendiz; a criação de condições para a formação plena do seu espírito para que ele
aprenda a viver/conviver em harmonia, com alegria e plenitude, de modo que possa estar mais
fortalecido para enfrentar o seu próprio destino e dar conta da finalidade maior da sua
existência.
4.1.3 Contextualizando o Currículo
O currículo concebido como forma de caminho, carreira, antídoto da cegueira, modelo
de inclusão, farol que ilumina a trajetória do educando, deve contemplar os princípios da
flexibilização, inter e transdisciplinaridade, o saber-fazer-saber e o contexto (MACHADO,
2008, p. 47-48).
A flexibilização curricular possibilita a ampliação dos horizontes do conhecimento e o
desenvolvimento de uma visão crítica mais abrangente, pois permite ao educando ir além de
seu campo específico de atuação profissional, oferecendo condições de acesso a
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conhecimentos, habilidades e atitudes formativas em outras áreas profissionais. Caracteriza-se
tanto pela verticalidade, quanto pela horizontalidade (inter e transdisciplinaridade). Tem como
premissa a possibilidade de contemplar, além de uma formação em área específica do saber,
uma formação complementar em outro saber. Deve ser entendida como sendo a possibilidade
de organização do saber continuado visando a aprendizagem ao longo da vida.
Portanto, em vez de se ter um currículo rígido, é melhor tê-lo ligado a uma rede
flexibilizada e conectada com a formação do educando. Desta forma estaremos trabalhando
com um currículo para um curso que funcione como um fluxo articulado de aquisição de
saberes, num período finito de tempo, mas que capacite o educando para continuar os estudos,
tendo como base a flexibilidade, a diversidade e o dinamismo (PADILHA, 2004, p. 140-146).
O universo de atividades curriculares deve ser cumprido dentro e fora da instituição e
elas devem ser reorganizadas periodicamente. Essas atividades devem fazer parte da estrutura
curricular do curso. Precisam estar voltadas para a ampliação das experiências científicas,
socioculturais, profissionais e humanísticas dos educandos. O objetivo é a busca de uma
melhor compreensão das relações existentes entre a prática social e as atividades escolares, a
integração teoria/prática, a integração escola-empresa-sociedade com a orientação dos
educandos para a solução de problemas enfrentados no campo profissional no contexto
socioambiental, local e regional.
4.1.4 As Etapas da Construção de um Currículo
Quando surge a necessidade de se elaborar um currículo, algumas indagações são
naturais: O que nós deveremos ensinar para os nossos alunos? É o que nós melhor sabemos?
É o que nos foi ensinado? Da maneira como fomos ensinados? Ou o que gostamos de ensinar?
Devemos ensinar aquilo que já temos experiência? O que consta nos livros? Ou, nós devemos
ensinar para os nossos alunos o que eles necessitam aprender para viver e ingressar e se
manter no mundo do trabalho?
Para buscar respostas para esses questionamentos, um projeto de currículo precisa ser
concebido de forma adequada, através da identificação do problema, definição dos objetivos,
metas, justificativas, plano de ações; ser avaliado ao longo do processo, analisar-se os riscos e
planejar as contingências.
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4.1.5 O Método DACUM e a participação coletiva na Elaboração de
Currículo
O DACUM (Developing a Curriculum) consiste em um método pragmático usado na
elaboração e reformulação curricular de áreas tecnológicas, a partir da análise das habilidades,
conhecimentos e atitudes necessárias ao cumprimento das tarefas de determinada ocupação.
Foi desenvolvido nos anos 60 na Colúmbia Britânica, no Canadá, como um modelo de
planejamento curricular inovador. Atualmente, o método é usado em diversos países em todo
o mundo (ALBRECHT, p. 97, In: School-to-careers system).
Os anos 60, no Canadá, representaram um período de significativo desenvolvimento
educacional, tanto em relação à educação formal quanto à formação para o trabalho. No
período que precedeu a essa expansão, o Canadá introduziu uma abordagem sistemática da
análise do currículo, principalmente sobre as atividades laborais ligadas ao mercado de
trabalho no segmento do comércio. Robert Adams, o responsável pelo desenvolvimento da
metodologia, descreve-a como um “perfil de conhecimentos, habilidades e atitudes, que
servem tanto para a elaboração de currículo como para a avaliação de programas de
treinamento ocupacional”.
A metodologia DACUM consiste na elaboração e desenvolvimento de currículo, que se
incumbe de orientar principalmente o educador/educando a conhecer os objetivos previstos
para seu progresso durante a formação tecnológica. Ao método DACUM devem ser
incorporados esforços extras com o propósito de enriquecer o processo de formação.
O método DACUM é trabalhado/organizado sob a forma de Workshop que inclui, além
da figura de um Coordenador/Facilitador, um mínimo de 8 e não mais de 15 membros, que
formarão o Comitê de Currículo, constituído por educadores; gestores especialistas,
representantes do setor produtivo atuantes em áreas afinadas com a ocupação a que se destina
o currículo, representantes Sindicais, representantes de Conselhos de Classe como CREA –
Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura e Agronomia, representantes de Secretarias
de Trabalho e Meio Ambiente, Supervisores Pedagógicos, Professores de notória competência
entre outros. Cabe à Direção da Instituição escolar nomear o Coordenador/Facilitador do
processo.
O desenvolvimento do método inclui os seguintes passos: 1. Orientação; 2. Natureza
do título da ocupação; 3. Identificação das áreas gerais da ocupação e as tarefas; 4.
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Identificação dos conhecimentos e habilidades potenciais exigidos para a formação; 5.
Seleção de conteúdos e método pedagógico; 6. Revisão do processo.
De forma resumida, o método pode ser apresentado, de acordo com o exemplo que
segue:
Ocupação Áreas atuação Tarefas Conhecimentos Habilidade/Atitude
Engenheiro
Elétrico Manutenção
Inspeção em
motores e
geradores
elétricos
Eletromagnetismo:
Leis da Indução
Magnética;
Faraday e Lenz
Ter raciocínio abstrato
espacial e saber analisar
e priorizar as ações de
acordo com o contexto
Tabela no 1 - Demonstrativo de ações executadas por um Comitê de Currículo usando o Método DACUM.
Fonte: Elaborada pelo autor/pesquisador.
O tema gerador para aplicação do método é a ocupação (formação técnica), seguido da
definição das áreas de atuação, tarefas, conhecimentos necessários para a realização das
tarefas e as habilidades e atitudes necessárias para lidar com os resultados e tomadas de
decisões. A representação visual do método está demonstrada na figura seguinte.
Habilidade
e Atitude
Conhec.
necessários
Definição
de tarefas
Área de
atuação
Ocupação
Ocupação
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Figura 15 – Fluxograma do desenvolvimento do método DACUM
Fonte: Elaborada pelo autor/pesquisador.
4.1.6 Formação do Comitê de Currículos
O Comitê de Currículo para utilizar o método DACUM deve ser formado,
necessariamente, por atores internos e externos à instituição de ensino. Os atores externos
devem ter notória competência no campo da ocupação analisada. Quase sempre são
profissionais de alto nível oriundos dos quadros funcionais de instituições parceiras da escola
(empresas e instituições representativas da sociedade civil organizada) que, em conjunto com
os demais membros do Comitê, responsabilizar-se-ão pela elaboração do Currículo,
fortalecendo a crença de melhor adequar o Currículo com a realidade através da participação
coletiva. A participação de atores externos requer motivação, o que se conseque através da
formalização de parcerias significativas entre escola-empresa-comunidade (SLOAN, p. 19, In:
School-to-careers system).
Inicia-se o processo, organizando um painel com a participação dos especialistas do
Comitê, usando-se a técnica da “chuva de ideias” consultando as informações fornecidas que
são arrumadas em forma de painel. Com o apoio do facilitador é possível filtrar as
funções/tarefas pouco claras ou as que estão repetidas para a ocupação que está sendo
trabalhada. Assim, são estabelecidas as grandes funções e as tarefas pertinentes a cada uma
delas. A partir desse ponto, buscam-se os conhecimentos necessários à realização das tarefas,
os componentes curriculares e a metodologia a ser utilizada, levando em conta o tempo de
formação e a legislação em vigor.
De posse da descrição dos conhecimentos necessários, elencam-se os componentes
curriculares. Na conclusão da elaboração do Currículo deve ser incluído o itinerário
formativo, a base tecnológica, a metodologia, o processo avaliativo, as habilidades e as
atitudes necessárias à formação para a ocupação analisada e para a vida, englobando o
“aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser”. A eficiência e eficácia do currículo
projetado deve ser avaliada levando em conta a competência do educando diante de situações
reais apresentadas.
O método recomenda também a participação obrigatória de representantes do corpo
docente nos Workshops DACUM, porque seus planos de aula são tidos como relevantes para
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o alcance dos objetivos e metas previstos. Além disso, o método prevê a necessidade de
educadores e educandos conhecerem o que se espera deles ao final do processo, como forma
de mantê-los comprometidos com os resultados.
Para uma escola de formação tecnológica que tenha a pretensão de incluir além da
atualização tecnológica, também valores da ética ambiental no Currículo, a seleção dos
membros do Comitê deve ser feita incluindo a participação de profissionais cujos perfis se
afinem com a ocupação e princípios pretendidos. Por exemplo, ao se desejar incluir princípios
ecocêntricos no Currículo, representantes, especialistas técnicos da área de educação
ambiental devem participar do Comitê de Currículos.
A forte argumentação para a construção de parcerias está ligada a cenários de
mercados, competitividade e a internacionalização das economias entre regiões. Cada vez
mais, Instituições de Ensino Tecnológico estão atentas e direcionam seus cursos às
necessidades reais do mundo do trabalho. À medida que o contato entre a escola e a empresa
se transforma em parceria, ganham todos os segmentos envolvidos.
Nesse cenário, a escola passa a trabalhar com seus alunos os conhecimentos e
experiências necessários ao bom desempenho profissional, afinados com as necessidades
demandadas pelo mundo do trabalho e pela sociedade como um todo. Em contrapartida, as
empresas e a comunidade são contempladas na medida em que essas selecionam para os seus
quadros de colaboradores, profissionais egressos da escola, cidadãos da própria comunidade
local, com a formação exigida pelo mundo do trabalho e quiçá para a vida (SLOAN, p. 23, In
School-to-careers system).
Deste modo as empresas podem redirecionar seus investimentos em treinamento,
focando outras áreas e aspectos organizacionais, e a escola apresenta sua contrapartida,
justificando para a sociedade a razão da sua existência.
Nessa linha de raciocínio, reporto-me ao posicionamento de Wolfgan Maar, quando diz
que “na sociedade industrial a formação do ser humano encontra-se voltada quase que
exclusivamente para o trabalho”. Hoje, na sociedade pós-industrial, a busca vai para além da
formação para o trabalho. A educação tecnológica profissionalizante dever formar o ser
educando também para a vida, para viver em sociedade e em harmonia com o seu habitat
natural, centrado no estilo de vida focado na prática ecocêntrica, agindo no sentido de
preservar a vida no planeta, desenvolvendo atitudes coerentes com os valores éticos
ambientais.
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No sistema de parcerias que se forma para viabilizar a aplicação do método DACUM,
além das especificidades técnicas e suas relevâncias para a formação profissional, também
devem ser trabalhados valores como o respeito aos limites dos recursos naturais centrados na
preservação do meio ambiente como forma de adoção de princípios sóciocoletivistas
ecocêntricos incluídos na formação técnica.
Os temas e conteúdos socioambientais a serem inseridos no Currículo virão através da
contribuição dos especialistas, membros do Comitê de Currículos com direito a voz e voto.
Certamente esses especialistas trabalharão no sentido de eleger e incluir no Currículo, temas
transversais desenvolvidos até sob a forma de projetos, tais como: superconsumo, alterações
climáticas, escassez de água potável, lixo, produção de calor, eficiência energética, liderança
energética, design ecológico entre outros.
Parcerias entre empresas, escola e comunidade são comuns em outros países,
principalmente naqueles mais desenvolvidos tecnológica e socialmente, nos quais, um
sentimento de responsabilidade conjunta sobre os destinos do país fazem parte do modo de
ver os negócios e a educação. Tais parcerias compõem-se de um vínculo estreito entre as
escolas e empresas no tocante à organização do Currículo da Área Técnica, na oferta de
atividades práticas aos educandos sob a forma de estágio, estudos e proposição conjunta de
soluções e de situações enfrentadas pelas empresas, chegando até a utilização de instalações
da empresa para treinamento de alunos em seus equipamentos ou doação de equipamentos às
escolas para que habilidades específicas possam ser desenvolvidas de forma prática. A
representação visual da formação do Comitê encontra-se na figura seguinte:
Essa foi a forma que observamos como foram trabalhadas as questões pertinentes a
parcerias e uso do método DACUM para currículo nos Estados Unidos, onde, em 1996,
participamos de um grupo de estudos envolvendo currículos e avaliação institucional; naquele
país, o referido método é usado de forma intensiva. A nossa estada por lá fez parte do curso
de Pós-Graduação na Área de Atualização de Gestores da Educação Tecnológica e o nosso
trabalho de conclusão de curso foi no segmento de elaboração de Currículo usando o Método
DACUM.
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Figura 16 – Formação do Comitê DACUM.
Fonte: Elaborada pelo autor/pesquisador.
Em nossa experiência na área educacional, temos visto o quanto essas parcerias têm
sido produtivas, tanto para as empresas quanto para a escola e os alunos. Uma vez
formuladas e homologadas as parcerias entre escola-empresa, a metodologia DACUM deve
ser mais facilmente desenvolvida e aprimorada, desde que seja levada em conta a realidade da
escola e dos parceiros envolvidos, respeitando os limites das pessoas e instituições.
Na nossa visão, o sucesso na utilização do Método DACUM depende de alguns fatores
tais como: a existência de sólidas parcerias, o comprometimento institucional, o envolvimento
dos atores do Comitê de Currículo, o clima organizacional, a ética, o respeito e a
solidariedade. O planejamento é também uma etapa imprescindível para o sucesso do método,
bem como o trabalho em equipe, receptividade às mudanças, diversidade de pensamento e a
busca do consenso através do diálogo.
5. A ARTICULAÇÃO ESCOLA-EMPRESA
A velocidade com que as mudanças ocorrem em muitos casos aceleradas pela abertura de
mercados faz com que, cada vez mais, instituições ligadas à geração e disseminação do
Atores
externos
Comitê de
Currículos
Atores
Internos
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conhecimento e corporações do setor produtivo (empresas), busquem processos de
aproximação como forma de sustentar e aumentar os níveis de competitividade.
O processo de articulação deve ser feito diretamente entre a instituição de ensino e a
empresa, desta maneira, as partes buscam otimizar seus recursos e minimizar suas
dificuldades somando esforços para superar as diferenças. É importante que se entenda, a
priori, quais os objetivos que levam estas instituições a firmarem um processo de
aproximação.
5.1 Objetivos da articulação escola-empresa
O processo de articulação escola-empresa acaba trazendo benefícios para ambas as
partes. Para a escola, que geralmente passa por um processo de inovação tecnológica mais
lento que a empresa, vislumbra-se a possibilidade concreta dos reflexos da inovação
tecnológica chegarem até ela por esta via, facilitando a atualização curricular através da
participação efetiva de representantes e especialistas da empresa no Comitê de Currículos da
Escola, o que enriquece e atualiza o Currículo, aumenta a oportunidades de estágios e
empregos para os alunos egressos da escola facilitando o processo de gestão da escola.
Para a empresa, principalmente a de pequeno porte, entre outras vantagens, está a
viabilidade da redução de investimentos em tecnologias específicas com a possibilidade de
acesso à infraestrutura de laboratórios da escola, a disponibilidade estratégica de mão-de-obra
qualificada e a oportunidade do desenvolvimento de novos produtos e processos a partir da
parceria escola-empresa. A afinidade entre escola-empresa traz benefícios sociais também
para a comunidade, pois as oportunidades de trabalho são aproveitadas por alunos egressos da
Escola, oriundos da sociedade local/regional (SLOAN, p. 23, In: School-to-careers system).
A cooperação escola-empresa é considerada como um importante “arranjo
interinstitucional” para a efetivação da interface da escola com os mais diferentes setores da
sociedade em um contexto no qual o conjunto articulado lida com necessidades inerentes à
tecnologia de novos produtos, processos, informação, qualidade, formação de recursos
humanos e, acima de tudo, ao reconhecer que as dificuldades podem ser mais facilmente
superadas quando enfrentadas em parceria.
5.2 Formando parcerias entre escola-empresa
O desafio para a realização de parcerias entre escola-empresa está centrado na
dificuldade de se convencer e envolver os dirigentes das empresas no processo de
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aproximação com a escola. O discurso por parte da Escola deve ser proferido levando em
conta a possibilidade de se oferecer uma educação capaz de formar o educando para o
mercado de trabalho e para a vida.
Nesse sentido aconselha-se selecionar as empresas potencialmente significativas para se
firmarem as parcerias, sem que se esqueça de considerar as entidades representativas dos
órgãos de classes de cada segmento, tais como Federação de Indústrias, Associações
Comercial e Industrial, Governo local dentre outras.
Após a seleção das empresas com as quais se deseja convidar para consolidar a parceria,
recomenda-se planejar e desenvolver a aproximação. Ficar aguardando que elas venham até a
escola, fragiliza o entendimento inicial do processo de articulação escola-empresa. Se o
representante da Escola possuir contatos com pessoas representativas da organização com a
qual a articulação esteja sendo feita, recomenda-se usar essa via facilitadora no processo.
Em geral, os gestores da iniciativa privada preferem participar das negociações e tomadas
de decisões em relação à articulação escola-empresa, desde a fase preliminar até a
culminância do processo e/ou conclusão de projetos. Portanto, recomenda-se que todo o
processo de estruturação da parceria seja construído de forma conjunta, evite trazer etapas já
prontas, isso amedronta os gestores das empresas.
No diálogo com as empresas, aconselha-se primeiro ouvir e depois falar. É preciso ter
cautela no processo de interlocução e evitar assumir de forma desmedida a liderança
discursiva na elaboração do processo, a menos que surja de forma natural. Fale de suas
preocupações e motivações, apresente os seus pontos de vista em relação às potencialidades,
fragilidades, oportunidades e ameaças nos projetos pontuais elencados no processo de
articulação. Relate sobre os benefícios-chaves para as partes envolvidas ((ALBRECHT, p. 97,
In: School-to-careers system).
Esteja receptivo ao diálogo no processo de interlocução com a empresa. Aceite conversar
sobre outros assuntos, tais como: perfil profissional, mercado de trabalho, estágio curricular,
desenvolvimento de novos produtos e processos, atividades de pesquisas, extensão e ensino,
estágio curricular, preservação ambiental, ética/cidadania, mercado consumidor e Currículo
da Formação Técnica.
Recomenda-se firmar a articulação escola-empresa através de um Termo de Convênio
abrangente, com os projetos pontuais sendo tratados de forma aditivada ao convênio amplo.
Para tanto, deve existir concretamente o compromisso tácito firmado entre as partes como
resultado da referida articulação.
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De forma resumida, apresenta-se, no quadro seguinte, alguns pontos-chaves para se
estabelecer e manter o processo de articulação escola-empresa.
Complementando, apresentamos os pontos julgados como ameaçadores à consolidação da
articulação escola-empresa, ou seja, as situações que devem ser evitadas durante as etapas de
implantação e desenvolvimento das parcerias.
Tabela 02 – Pontos fortes e “chaves” para se estabelecer parcerias fortes e estáveis.
Fonte: Elaborada pelo autor/pesquisador em 10/04/2010.
Situações ameaçadoras
01 Planejar todo o projeto de parceria para depois convidar a empresa
02 Evite excesso de precauções, posição defensiva e acusação a outrem
03 Permita que o discurso transite de forma ampla e não só por uma área
04 Evite frustrações com encontros sem objetivos definidos
05 Procure não assumir de forma automática o papel de líder nas reuniões
Tabela 03 – Situações que ameaçam as parcerias
Fonte: Elaborada pelo autor/pesquisador em 10/04/2010.
Pontos chaves
01 Identifique os prováveis parceiros
02 Vá até eles
03 Use seus contatos
04 Criem a estrutura juntos
05 Ouça antes de falar
06 Fale de suas preocupações
07 Fale sobre os benefícios-chaves para as partes envolvidas
08 Esteja aberto para o diálogo e outras idéias
09 Analise o mercado de trabalho
10 Firmes compromissos tácitos
11 Direcione as potencialidades para a gestão e o currículo da escola
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5.3 Descrevendo experiências na articulação escola-empresa: Uso prático do
Método DACUM
As experiências institucionais que serão relatadas adiante, em relação à articulação escola-
empresa, teva a nossa efetiva participação na condição de professor do então CEFET-Campos
atual IF-Fluminense.
Durante o período compreendido entre o ano de 1974 e 2000, tínhamos vínculo
empregatício como professor da Área Tecnológica Profissionalizante do atual Instituto Federal
Fluminense (IFF), outrora Escola Técnica Federal de Campos.
No relato de nossas experiências na articulação escola-empresa e no uso da metodologia
DACUM, estiveram envolvidas as Instituições IFF e a empresa PETROBRAS (Petróleo
Brasileiro S.A), e o processo desenvolveu-se como segue:
“A PETROBRAS e a entrão CEFET-Campos manifestaram o interesse pela formação e
atualização dos então chamados Operadores de Produção de Petróleo. Nós, representantes do IFF,
sugerimos o agendamento de reuniões entre Supervisores Técnicos da PETROBRAS e Representantes da
Área de Eletrotécnica do IFF da qual eramos membros. Como resultado dessas reuniões, surgiu a ideia
de se envolver na definição do projeto curricular: operadores de plataformas em exercício e com notória
experiência; professores especialistas que iriam trabalhar no projeto; representantes da Área de
Recursos Humanos da PETROBRAS; e Especialistas da Área Pedagógica do IFF. Como facilitadores
foram nomeados um Coordenador representando o IFF e um Supervisor Técnico representando a
PETROBRAS.
Formou-se então um grupo de seis professores de Área Técnica do IFF, uma pedagoga e cinco
representantes da PETROBRAS, sendo quatro deles operadores de plataforma, profundos conhecedores
das atividades inerentes à referida ocupação. A princípio esse grupo foi formado por 12 membros e
chamado de “Colegiado”.
Foram realizadas três reuniões, uma no IFF em Campos dos Goytacazes/RJ e duas na
PETROBRAS na cidade de Macaé/RJ. Os desdobramentos apontavam que a área de atuação dos
operadores de plataforma, objeto da parceria, seria o segmento da Operação de Sistema de Energia
Elétrica, abrangendo desde o controle de turbinas até o acionamento dos motores elétricos utilizados na
perfuração, exploração e transporte de petróleo. Mas o grupo também entendia que uma parte menor do
tempo utilizado no curso deveria ser dedicado para a aprendizagem de procedimentos relativos à
Manutenção dos Equipamentos Elétricos, porque tratava-se de atividade que mantinha interface com a
operação.
A partir da definição das áreas (operação e manutenção), foram elencadas pelos especialistas do
colegiado (Comitê de Currículo), as tarefas típicas desenvolvidas pelos profissionais ocupantes da
função de Operador de Plataforma de Petróleo, considerando inclusive as dificuldades inerentes ao
trabalho em regime offshore.
Na etapa seguinte, foram definidos os conhecimentos necessários para que o aluno egresso do
curso executasse satisfatoriamente suas tarefas, procedimentos de avaliação e metodologia de trabalho.
Sobre a questão da metodologia a ser usada, ficou consensado que fosse trabalhado o aproveitamento da
experiência de vida e a realidade individual do aluno, afinada com o contexto em que o aluno iria ser
inserido em termos profissionais. Foi também proposto, que os conteúdos deveriam ser trabalhados
numa sequencia coerente, evitando fragmentações, sem perder de vista as questões inerentes às
diferenças individuais e o formato intensivo do curso, com 8 horas diárias de estudos, durante 12
semanas de 5 dias, perfazendo um carga horária total de 480 horas-relógio de estudos.
Revendo os procedimentos, supervisores da PETROBRAS, que participavam como membros do
Comitê de Currículo, sugeriram que fosse realizado o embarque em plataforma de petróleo, de
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professores considerados elementos-chaves no processo de formação para que vivenciassem as
condições reais em que os operadores de plataforma desenvolveriam as atividades profissionais.
A justificativa foi no sentido de que a condução das argumentações por parte dos professores em
sala de aula e nos laboratórios teriam mais consistência, aumentando a qualidade do processo de
formação dos operadores. O Comitê analisou a sugestão, que foi acatada.
Foram então selecionados três professores para o embarque; entre os quais estava o professor Luiz
Augusto Caldas Pereira,o professor Deodoro Campos e o autor deste trabalho que também foi incluído
para a visita técnica às plataformas. Foi definido o embarque para a Plataforma de PARGO, situada no
pólo nordeste da Bacia Petrolífera de Campos. A escolha de PARGO deveu-se à elevada potência do
sistema de geração de energia elétrica, que inclusive exportava energia elétrica para outras plataformas
das imediações na referida bacia petrolífera.
A viagem foi feita usando-se como meio de transporte um helicóptero cujas condições de voo
apresentavam características suigeneris em relação à decolagem, aterrissagem e condições de
confinamento em uma pequena aeronave com espaços reduzidos. A situação causava preocupação,
principalmente para pessoas como nós, professores, passageiros que estavam vivenciando aquela
situação pela primeira vez e tendo que voar mar adentro a uma distância aproximada de 80 km em linha
reta.
Durante a visita tivemos a oportunidade de observar detalhadamente todas as condições reais de
instalações, equipamentos elétricos, os procedimentos, as iniciativas e as decisões operacionais inerentes
ao processo e o modo de intervenção dos operadores de plataforma em efetivo exercício.
Após a visita técnica, retornamos à base e o curso foi iniciado. Todos sabiam qual era a expectativa
ao final do curso. Para os professores tratava-se de um desafio; para a PETROBRAS era a necessidade
dos serviços educacionais realizados e o alcance dos objetivos; para o IFF, em termos institucionais,
seria a importância de haver firmado a parceria e a busca pela manutenção da mesma. Todos tinham
clareza do papel que deveria ser desempenhado no processo, isso facilitou o andamento do curso.
As avaliações de todo o processo se dava de modo concomitante e, a qualquer dificuldade surgida,
os membros do Comitê estavam de “prontidão” para resolver a situação antes de se tornar algo com
maior dificuldade de se equacionar.
Ao final dessa etapa que incluía o estágio do formando atuando na área, já com expectativas de
resultados e em situação real de trabalho, a avaliação foi considerada positiva pela PETROBRAS, pelo
IFF e pelos formandos. Os formandos sentiam-se encorajados para operar e manter os equipamentos da
planta elétrica das plataformas de petróleo para as quais eram escalados após a formação. Essa
primeira etapa serviu de modelo para outras duas, desenvolvidas nos períodos de 1993/1994 com seis
turmas de trinta alunos cada, e 2005/2006 com três turmas de trinta alunos cada. No total foram
formados quinhentos e nove alunos. Em todas as etapas, as avaliações foram consideradas com nível de
excelência por parte da empresa cliente/parceira e considerada equivalente a padrões internacionais
(PESSANHA, J.B.,Tese de Doutorado; 2010; p.127)”.
6. CONCLUSÃO
O tema central desse traballho recaiu sobre o Currículo. Levando em conta as
pesquisas desenvolvidas e os conhecimentos adquiridos, conseguimos apresentar um conceito
para o Currículo, enquanto instrumento de planejamento do processo educacional, como
sendo: O Currículo é a luz que ilumina a trajetória do ser aprendiz.
A Teoria Curricular encontra-se em crise, isso porque a produção teórica, ou seja, o
que a academia produz nesse campo de pesquisa chega de forma fragilizada no espaço onde o
processo ensino-aprendizagem acontece, isto é, na sala de aula de uma escola comum.
Mesmo diante das fragilidades, para nós que dedicamos boa parte da trajetória
profissional ao Ensino Tecnológico Profissionalizante, atuando como professor e agora
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iniciando a carreira de pesquisador na área da educação, existem razões para acreditar e até ter
certo encanto pela educação. O motivo parece óbvio: mesmo que a qualidade do Ensino
Tecnológico esteja aquém da esperada, a educação serve como uma espécie de motor que
impulsinona o ser humano para a vida.
Mas a educação precisa mudar. Tem que ser projetada para afinar-se com o seu tempo,
adquirir sinergia e fôlego suficientes para alcançar o padrão desejado pela sociedade brasileira
e compatível com a realidade do nosso país.
Entendemos que o Ensino Tecnológico, na busca por melhorias da qualidade da
formação das pessoas, ilhado, isolado, sem articular-se com a sociedade no geral e mais
especificamente com as empresas, dificilmente dará conta dessa tarefa. A Escola tem que
estar articulada com a sociedade local e seu entorno, gerando movimentos sinergéticos em via
de mão dupla.
No atual momento global e plural, a Educação Tecnológica Profissionalizante continua
sendo convocada para dar conta da formação do cidadão, no sentido de prepará-lo não só para
o mercado de trabalho, mas para viver, conviver, preservar e festejar a vida.
Diante das bibliografias pesquisadas, experiências vividas e desafios do presente,
entendemos que a articulação entre escola-empresa reflete na formação do ser aprendiz,
através do Currículo da Formação Técnica e também nas demais interfaces que surgem dessa
articulação. Esse é um procedimento que agrega valores à formação do ser também para a
vida.
O mercado de trabalho valoriza para além das habilidades específicas, também as
habilidades básicas e de gestão. O estoque de informações disponibilizadas ao aprendiz deve
ser organizado como conjunto de conhecimentos essenciais e indispensáveis para levar o
indivíduo a pensar e inserir-se criticamente numa sociedade cada vez mais tecnológica.
Em relação ao alcance dos objetivos específicos, a proposta de se apresentar a
importância de um colegiado na elaboração do currículo da formação técnica esse aspecto
ficou contemplado no texto. Da mesma forma ficou demonstrada a relevância da participação
de especialistas externos na feitura do Currículo. Por outro lado, foi aprofunddado o processo
de descrição de experiências vivenciadas com a utilização do Método DACUM, bem como a
viabilidade de seu uso nas atividades de elaboração e/ou reformulação de um Currículo da
Formação Tecnológica Profissionalizante, enriquecendo a formação do ser aprendiz
(Experiência institucional obtida com o Método DACUM aplicada ao currículo do curso da
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Formação de Operadores de Plataforma de Petróleo- resultado da parceria IFF-
PETROBRAS).
6.1 Recomendações finais
Quanto ao método de articulação escola-empresa apresentado e testado, consideramos
factível sua adequação nas escolas como forma de melhorar a qualidade da Formação
Tecnológica. A referida viabilidade de adequação encontra-se apresentada sob a forma de
cenários tais como seguem:
CENÁRIO 1: AUTONOMIA
A descentralização administrativa caracterizar-se-á como fato concreto no sentido da
conquista da autonomia da escola, que concede ao gestor a flexibilidade necessária para
trabalhar o processo de articulação escola-empresa de forma consistente. Ao mesmo tempo,
exigirá maior comprometimento sistêmico e legal do gestor.
CENÁRIO 2: ARTICULAÇÃO ESCOLA-EMPRESA
Implantar mecanismos ágeis voltados para a criação de um espaço de diálogo
permanente entre a escola e a empresa, cujo objetivo será manter, permanentemente
atualizados, os Currículos escolares e adequados ao nível e à diversidade de cursos.
CENÁRIO 3: COMITÊ DE CURRÍCULOS
Utilizar os estudos de mercados disponíveis, analisar junto com as representações
significativas do setor produtivo e a sociedade como um todo e definir o “norte” demandado
para as futuras ocupações e desenvolver com eles o sistema de acompanhamento de egressos.
Esses mecanismos alimentarão o banco de dados do Laboratório de Currículo da Escola,
administrado pelo Comitê de Currículos;
CENÁRIO 4: ATIVIDADES COMPLEMENTARES NA FORMAÇÃO
TÉCNICA
Elaboração de uma agenda/cronograma de eventos que funcionará como bússola,
aproximando as estruturas escolar-comunitária-empresarial, constando de feiras, seminários,
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simpósios, visitas técnicas, pesquisas, estágios, empregos e prestação de serviços, que
funcionem como ações enriquecedoras do processo de ensino, pesquisa e extensão.
Finalmente, acreditamos ter apresentado um estilo de articulação escola-empresa capaz
de contribuir com a formação técnica em termos de resultados finais do processo ensino-
aprendizagem e de gestão de uma escola.
Por fim, cremos no êxito das mudanças, principalmente quando surgem dificuldades
para se resolverem problemas antigos usando instrumentos inadequados, como currículos
elaborados de forma individual. Em se tratando de mudanças/enriquecimentos curriculares, o
sucesso depende do esforço individual e necessariamente do coletivo.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Título: A ARTICULAÇÃO ESCOLA-EMPRESA E SEUS REFLEXOS NA FORMAÇÃO TÉCNICA ATRAVÉS DO CURRÍCULO Autores: JOÃO BATISTA PESSANHA e WANESSA BARROS RANGEL. Tema: 11.03. Estudo da Prática Profissional em Engenharia Palavras-Chave: Currículo; Articulação; Formação Técnica. Enviado por JOÃO BATISTA PESSANHA em 06/04/2011
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