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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO KELLEN IRENE RABELO BORGES A ARTE DE LER AS MÃOS: SABERES E CRENÇAS DO QUIRÓLOGO CONTEMPORÂNEO. Belém - PA 2015

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Autora Kellen Irene Rabelo Borges, Universidade do Estado de Pará 2015 Trabalho de conclusão de curso abordando os Saberes e Crenças do Quirólogo contemporâneo.

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO

CURSO DE LICENCIATURA EM

CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

KELLEN IRENE RABELO BORGES

A ARTE DE LER AS MÃOS:

SABERES E CRENÇAS DO QUIRÓLOGO

CONTEMPORÂNEO.

Belém - PA

2015

KELLEN IRENE RABELO BORGES

A ARTE DE LER AS MÃOS:

SABERES E CRENÇAS DO QUIRÓLOGO

CONTEMPORÂNEO.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito

para obtenção de grau de Licenciatura Plena em Ciências da

Religião, do Centro de Ciências Sociais e Educação, da

Universidade do Estado do Pará, sob a Orientação da Profª. Drª

Maria Roseli Sousa Santos.

Belém - PA

2015

KELLEN IRENE RABELO BORGES

A ARTE DE LER AS MÃOS:

SABERES E CRENÇAS DO QUIRÓLOGO

CONTEMPORÂNEO.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Universidade do

e Estado do Pará como requisito para obtenção do grau de

Licenciatura Plena em Ciências da Religião, do Centro de

Ciências Sociais e Educação.

Data da aprovação: / /

Resultado: _______________________________________________

Banca Examinadora:

Profª Drª Maria Roseli Sousa Santos – Orientadora.

_______________________________________________

Prof. Me José Antonio Mangoni/UEPA – Avaliador.

________________________________________________

Profª Me Marcia da Silva Carvalho/UNIPOP – Avaliadora.

________________________________________________

In memória de minha avó querida Raimunda da Conceição.

AGRADECIMENTOS

Nesses agradecimentos não poderia faltar o sentimento de gratidão que tenho por

essa energia viva quase indizível que estou habituada a chamar de Deus. Esse Deus que pode

ser chamado por diversos outros nomes, compreendido de infinitas maneiras e expressado seja

cataficamente ou apofaticamente. A esta manifestação, que nas Ciências da Religião podemos

também chama-lo de hierofania, tenho uma profunda comoção de agradecimento.

Gostaria de agradecer profundamente a minha família. Começando pelos meus

pais, Aracy e Luis, agradeço pelos seus ensinamentos, especialmente por sempre me dizerem

que a maior herança que os pais podem deixar aos seus filhos é a educação e amor pela

leitura. Faço agradecimentos também as minhas irmãs: Sâmia e Luciane, duas mulheres que

me ensinaram que ser profissionais em suas áreas de atuação – enfermagem e letras – é ter

antes de tudo paixão pela profissão. Agradeço igualmente aos demais familiares que sempre

estiveram ao meu lado, Tia Arailde, Tio Joaquim, assim como também meus primos, Jadson

Magno e Jayne. Também agradeço, ao companheirismo que meu cachorro Thor nas

madrugadas em que eu tecia esse trabalho de conclusão de curso.

Tenho um enorme agradecimento a fazer a Uriel Lopes, um irmão de alma, amigo

e companheiro de cinco anos de caminhada. Obrigada por me fazer “ter fé e ver coragem no

amor” como já diz aquela linda composição de Rodrigo Amarante. Obrigada pela paciência,

pelo seu amor, respeito, pelas inúmeras horas e dias de conversas sobre essa pesquisa.

Agradeço pelas suas críticas como cientista social que ajudou a fazer ajustes a esse trabalho.

Agradeço também aos meus amigos de graduação, em especial, Rafaela

Figueiredo, Jessica Kerolaine, Stepheny Rahan e, Fabiola Coelho, que me ensinou a lutar sem

desistir. Também agradeço a egressa do curso, Dyane Machado, pela sua amizade

iluminadora. Eu não poderia esquecer de agradecer os meus caros amigos pelas conversas

filosóficas e esotéricas: Keven Magalhães e Thiago Borba.

Também agradeço a todos os professores do curso de Ciências da Religião pelo

empenho como educadores e pesquisadores. Em especial a professora Roseli Sousa. Muito

obrigada professora por me ensinar que um pesquisador precisa ser independente, assim como

ter certeza do que quer pesquisar.

BORGES, Kellen. A ARTE DE LER AS MÃOS: saberes e crenças do quirólogo

contemporâneo. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Ciências Religião) –

Universidade do Estado do Pará, Belém, 2015.

RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso é resultado de pesquisas realizadas no campo de

aplicação de tema a ‘Arte de Ler as Mãos’. Essa temática representa todo o complexo

simbólico dessa técnica envolta de narrativas antigas. Então a partir da ótica das ciências da

religião objetivou-se no geral: analisar como ocorrem as formas de apropriação de saberes à

Arte de Ler as Mãos na contemporaneidade brasileira. E especificamente teve como objetivo:

apresentar as narrativas e personalidades que compõe a trajetória da leitura de mãos, analisar

o perfil daqueles que têm saber/conhecimento na Arte de Ler as Mãos; e por fim,

compreender como ocorrem as formas de apropriação à Arte de Ler as Mãos. No primeiro

momento dessa pesquisa, através de um levantamento bibliográfico, foram vistos alguns

apontamentos sobre o universo da Arte de Ler as Mãos por reconhecer que é um assunto

pouco conhecido e também abordado no espaço acadêmico. No segundo momento, para

compreender como ocorrem na contemporaneidade brasileira os saberes voltado a Arte de Ler

as Mãos, apresento a pesquisa em sua natureza qualitativa para o desenvolvimento e

finalização desse trabalho. Os resultados apontam que é possível obter o saber e aprendizado

para essa Arte através da tradição em família, através de cursos, e até mesmo por concepções

que perpassam o fenômeno religioso.

PALAVRAS-CHAVE: Arte de Ler as Mãos; crenças; ecologia de saberes.

ABSTRACT

This course conclusion work is the result of researches conducted on the effort of the theme of

the “Art of Hand Reading”. This thematic represents all the symbolic complex of this

technique shrouded on ancient narratives. So from the perspective of the sciences of religion

this work aims in general to: examine how occur forms of appropriation of knowledge to Art

of Hand Reading on Brazilian nowadays. And specifically aims: to present the stories and

personalities that make up the trajectory of palm reading, analyzing the profile of those who

have knowledge / expertise in Art of Hand Reading; and finally understand how occur forms

of ownership to the Art of Reading Hands. At first this research, through a literature review,

were seen some notes about the universe of Art of Hand Reading to recognize that is a little

known subject and sparing discussed in academic space. In the second phase, to understand

how they occur in the Brazilian contemporary knowledge aimed at the Art of Hand Reading,

here I present the research in its qualitative nature to the development and completion of this

work. The results show that is possible to obtain the knowledge and learning for this Art

through the family tradition, through courses, and even by conceptions that pervade the

religious phenomenon.

KEYWORDS: Art of Hand Reading; Beliefs; Ecology; Knowledges.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 Um resumo da linguagem simbólica da leitura de mãos ....................................... 11

FIGURA 2 Na superfície de Samudra, Vishnu e Lakshmi na serpente infinita ....................... 20

FIGURA 3 Página de um manuscrito de XV– Alguns símbolos nas mãos ............................. 24

FIGURA 4 Parte de um manuscrito do século XV – Os dedos e o astros................................ 24

FIGURA 5 Tratado do século XVI atribuído a Andrea Corvus – Algumas Linhas. ................ 24

FIGURA 6 Adrien Adolphe Desbarolles ................................................................................. 28

FIGURA 7 William Warner, o Conde Louis Hamon (Cheiro). ............................................... 29

QUADRO 1 Estratégia para a seleção dos intérpretes ............................................................. 36

QUADRO 2 Desdobramento da estratégia de seleção virtual .................................................. 36

QUADRO 3 Divisão didática do questionário ......................................................................... 38

QUADRO 4 Perfil dos intépretes dessa pesquisa ..................................................................... 48

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 9

1.1. Motivações e Objetivos ....................................................................................................... 9

1.2. A área de aplicação dessa pesquisa .................................................................................. 11

1.3. Estrutura do TCC ............................................................................................................... 12

2. NARRATIVAS E PERSONALIDADES DA LEITURA DE MÃOS ............................ 14

2.1. hast Jyotish e hast Samudrika Shastra ............................................................................... 14

2.2. Mito e Lendas ................................................................................................................... 18

2.2.1. As Marcas Auspiciosas ................................................................................................... 19

2.2.2. Personagens lendárias do Ocidente. ............................................................................... 21

2.3. Vestígios da leitura de mãos na Europa ............................................................................ 22

2.3.1. D’ Arpentigny e Desbarolles .......................................................................................... 25

2.3.2. A Quirologia do século XX ............................................................................................ 28

3. UNIVERSO METODOLÓGICO-TEÓRICO ................................................................. 32

3.1. Horizontes Metodológicos ................................................................................................. 32

3.1.1. Levantamento Bibliográfico: o estado da Arte.. ............................................................. 33

3.1.2. A construção da pesquisa qualitativa.............................................................................. 35

3.2. Perspectivas Teóricas. ....................................................................................................... 40

3.2.1. O vasto campo de saberes. .............................................................................................. 40

3.2.2. O fenômeno religioso no Brasil. ..................................................................................... 43

4. O QUIROLOGO CONTEMPORÂNEO ......................................................................... 48

4.1. O Perfil dos Intérpretes.. .................................................................................................... 48

4.2. Apropriação dos saberes .................................................................................................... 50

4.3. Ensino e Prática da ALM................................................................................................... 54

5. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................ 56

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 59

APÊNDICES ............................................................................................................................ 62

ANEXOS .................................................................................................................................. 64

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1. INTRODUÇÃO

1.1. MOTIVAÇÕES E OBJETIVOS.

Diversas foram as técnicas desenvolvidas no decorrer da história da humanidade

com a finalidade de revelar mensagens ocultas aos olhos dos leigos. O acesso ao universo

desses métodos tem um caminho curioso, porque são ferramentas que antes de tudo exigem

conhecimentos e saberes para auxiliar na decodificação dos símbolos e, dentre as múltiplas

praticas optei por abordar a leitura de mãos. O primeiro contato com essa arte usufruir no ano

de 2010, onde tive a oportunidade de conhecer uma mulher que se reconhecia como cristã e

estudante do espiritismo. Certo dia, depois de vários assuntos abordados por nós, ela tomou

para si as minhas mãos e apontou as linhas, os sinais e montes se apresentam na mesma e

quais eram seus significados.

No ano de 2012, época que adentrei no espaço acadêmico por meio do curso de

Licenciatura Plena em Ciências da Religião, a partir de outra ótica passei a observar ainda

mais que diversas sociedades em diferentes épocas apresentavam seus métodos de consulta

oracular e adivinhações para diversas questões sociais: ritos de cura, cerimônias religiosas,

entre outros. Uma das referências de extrema importância que estive em contato durante a

academia foi o livro de Evans Prietchard, Bruxaria, Oráculos e Magia entre os Azandes

(2005). Tal livro apresenta uma análise aos moldes de um funcionalismo sobre os oráculos, a

magia e a bruxaria na dinâmica da sociedade Azande.

Ainda no ano de 2012, participei de uma oficina intitulada “Poema Oráculo: a arte e

a espiritualidade nas tradições religiosas” 1. Nessa oficina pude observar e interagir com o

tarô, o pêndulo, as runas e entre outras coisas. Em contanto com tais métodos pude perceber

que não sabia como interpretá-los, pois me faltava conhecimento e saber sobre essas práticas.

Então especulei que para entender uma mensagem desses objetos, é preciso conhecer e saber

não só a técnica, mas especialmente a linguagem simbólica. Notei que cada ferramenta com

as quais estive em contato requeria uma compreensão que descodificasse os símbolos. Um

leigo no assunto não compreende as informações simbólicas de tais artifícios se não possuir

conhecimento e saber sobre elas. Apenas alguém especializado, ou melhor, que conhece e tem

saber sobre a linguagem simbólica, pode decodificar a informação e revelar a mensagem.

1 Evento “Livros Sagrados: os registros da fé”, realizado no período 19 a 23 de março de 2012, no Centro de

Eventos Ismael Nery - Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves (Av. Gentil Bitencourt, 650 - Nazaré, Belém -

PA, 66035-340).

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A partir dessas experiências em conjunto com as informações que as Ciências da

Religião estavam proporcionando, observei que em diferentes contextos e épocas, desde as

antigas civilizações até as sociedades contemporâneas existiriam e ainda existem pessoas que

exercitam a prática de compreender a linguagem simbólica seja de oráculos ou adivinhações.

Pessoas que têm conhecimentos e saberes voltado, como por exemplo, para o tarô, o pêndulo,

as runas e a leitura de mãos – ora chamada de Quiromancia ou também por Quirologia. Sem

privilegiar as problemáticas envoltas dos significados e das peculiaridades que os termos

quiromancia e quirologia podem apresentar, procurei ficar concentrada primeiramente no

tema da leitura de mãos como um todo.

No entanto, “leitura de mãos” é um termo muito modesto que não faz juízo a essa

complexa prática, já a quiromancia e a quirologia envolveriam muitas outras questões que não

cabem propriamente nessa pesquisa. Ao considerar tais aspectos procurei uma nomenclatura

que acolhesse expusesse a complexa técnica da leitura de mãos e as suas outras

nomenclaturas. Dessa forma, a Arte de Ler as Mãos é uma nomenclatura que abarcam todas

essas particularidades que pontuei, desde o simples termo “leitura de mãos”, até as

problemáticas que circundam a quiromancia e a quirologia.

A terminologia arte é de extrema importância, pois na perspectiva de Certau

(1994, p. 42), as “artes de fazer” estão repletas de uma “maneira de pensar investida numa

maneira de agir, uma arte de combinar indissociável de uma arte de utilizar”. A partir do tema

da leitura de mãos, é possível observar que o fato de pensar e o agir – combinações

indissociáveis da arte de utilizar – perpassa em duas instâncias: primeira está relacionada às

formas de apropriação dos conhecimentos, que é ter um arcabouço de pensamentos capazes

de entender a linguagem simbólica e, segundo, diz respeito ao saber, ou seja, a forma de agir

perante a vasta informação registrada durante toda uma vida.

Segundo Certeau (1994, p. 139), uma “arte é um sistema de maneiras de fazer que

são ajustadas a fins especiais e que são o produto ou de uma experiência tradicional

comunicada pela educação, ou da experiência pessoal do indivíduo”. Dessa forma, ao mesmo

tempo em que a Arte de Ler as Mãos está representando todo o complexo simbólico dessa

prática, saberes e crenças dos quirólogos2 contemporâneos é o foco da pesquisa. Nessa

perspectiva, exponho então, como objetivo geral: Analisar como ocorrem as formas de

apropriação de saberes à Arte de Ler as Mãos na contemporaneidade brasileira. E os objetivos

específicos abrangem:

2 O termo “quirólogo” é utilizado no sentido de “aquele que tem saberes na área da Arte de Ler as Mãos”. É uma

categoria que utilizei para abarcar os intérpretes dessa pesquisa.

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I. Apresentar as narrativas e personalidades que compõe a trajetória da leitura de mãos.

II. Analisar o perfil daqueles que têm saber/conhecimento na Arte de Ler as Mãos.

III. Compreender como ocorrem as formas de apropriação à Arte de Ler as Mãos.

1.2. A ÁREA DE APLICAÇÃO DESSA PESQUISA.

A título de informações, apresentarei brevemente o que seria a Arte de Ler as

Mãos. No geral é uma prática que analisa uma série de aspectos, como por exemplo, o

formato e a textura das mãos, até os dedos e as unhas, assim como também sinais e marcas

que podem se apresentar nessas áreas. Dentre todo o complexo universo da leitura de mãos,

procurei expor apenas algumas linhas, montes e sinais.

Figura 1: Um resumo da linguagem simbólica da leitura de mãos.

Fonte: Kellen Borges.

Segundo King (1983, p. 19), normalmente, existem na mão sete linhas maiores e

cinco menores. No entanto, nem todas as pessoas apresentam todas essas linhas, e como

pretendo apenas apresentar de forma geral a Arte de Ler as Mãos, abordarei apenas três delas,

12

porque em minha opinião são mais simples de serem visualizadas: a linha da vida, a linha da

cabeça e a linha do coração. Vale ressaltar que essas linhas também podem ser conhecidas

como “linhas principais”.

A respeito das linhas principais, é levado em consideração se o risco é profundo,

se é forte ou claro, se está delineado tortuosamente ou não, se tem marcas e até mesmo se

apresenta pequenas linhas que podem ascender ou decrescer para qualquer área da mão, e

entre outras particularidades. Na imagem acima reuni alguns informações do universo da

leitura de mãos. É uma representação didática fácil de observar, e sem a complexidade que

uma mão de verdade pode trazer.

Além das linhas, as mãos podem ser dividas por montes. Na imagem procurei não

só colocar nomes, mas também usar os símbolos que é muito comum em alguns livros que

tomei como base para fazer essa representação. Para King (1983, 15), “há pelo menos oitos

montes”, desses oitos, apenas destaquei cinco: Vênus, Júpiter, Saturno, Apolo, Mercúrio e

Lua. Tais montes devem ser analisados na opinião de Pinheiro (2010, p. 33), o “tamanho, a

posição e a localização de cada monte”, em ambas as mãos para uma melhor compreensão

desses elementos.

Em paralelos com as linhas e os montes, podendo está situado em qualquer parte

da mão, podem ser encontrados uma série de sinais, como por exemplo, marcas de nascenças,

ou imagem que formam triângulos, círculos, quadrados, cruz, entre outros. Há também, aquilo

que Pinheiro (2010, p. 131), intitulou de “sinais místicos”, que são sinais considerados

“raros”, como por exemplo: o hexagrama, “símbolo totalizador do pensamento hermético”,

ele representaria “o equilíbrio espiritual e a perfeita sintonia do intelecto físico”.

Procurei não prolongar as linguagens simbólicas que envolvem o universo da

leitura de mãos, apenas ressaltei alguns símbolos que são fáceis de observar até mesmo na

própria mão. Não pontuei todos os significados, pois não é um dos objetivos dessa pesquisa.

Procurei apresentar algumas informações da leitura de mãos, pois são esses alguns dos

saberes e conhecimentos que os intérpretes dessa pesquisa saberiam reconhecer e dizê-los nas

mãos de uma pessoa.

1.3. ESTRUTURA DO TCC.

Como pesquisadora, estou ciente da árdua e prazerosa tarefa do tema Arte de Ler

as Mãos: primeiro porque é um tema escasso no espaço acadêmico, segundo que o assunto da

13

leitura de mãos por si só é uma temática inesgotável que através das Ciências da Religião

reconheci um espaço para abordá-lo em panorama interdisciplinar e multidisciplinar. Para

uma melhor compreensão dessa pesquisa, procurou-se estruturar sessões que estão

organizadas da seguinte maneira:

A primeira sessão, intitulada de Introdução, proporciono um apanhado geral a

respeito pesquisa. Nela exponho as motivações de propor tal temática, assim como a descrição

do objetivo geral e dos específicos a serem alcançados. Também, a título de informações

apresentei alguns aspectos da área de aplicação dessa pesquisa.

Na segunda sessão, Narrativas e Personalidades da Leitura de Mãos, em

conjunto com as subsessões Hast Jyotish e Hast Samudrika Shatra, Mito e Lendas, e Vestígios

da Leitura de mãos na Europa, compus um possível itinerário, tendo como base as tradições

envoltas da Arte de Ler as Mãos. Temas esses possíveis de se encontrados em livros que

abordam esse tema.

A terceira sessão, O Universo Metodológico-Teórico da Arte de Ler as Mãos,

subdivididos em Horizontes metodológicos e as Perspectivas Teóricas, exponho o tipo de

pesquisa, e como ela foi desenvolvido e as ferramentas utilizadas. Em conjunto, também faço

apontamentos sobre a base teórica dessa pesquisa.

E por fim, na quarta sessão, O Quirólogo Contemporâneo, apresento os dados e a

analises coletadas. Assim como também as Considerações Finais, onde sintetizo o que foi

alcançado nessa pesquisa.

14

2. NARRATIVAS E PERSONALIDADES QUE COMPÕE O PERCURSO DA

LEITURA DE MÃOS.

Existem diversas especulações e hipóteses a respeito de onde e como teria surgido

a prática de ler as mãos e, poucas são as pesquisas concretas vinculadas a esse tema. Muitos

autores que se dispõem a abordar sobre a Arte de Ler Mãos buscam compor um itinerário

dessa prática desde sua possível origem até os dias atuais. De acordo com Cheiro (1985),

partindo-se dos antigos hindus, o estudo das mãos pode ser acompanhado através de

civilizações como as da China, Tibete, Pérsia, Egito e, finalmente Grécia. É claro que outros

povos são ressaltados, como por exemplo, Hebreus, Assírios e Romanos3, dificultando ainda

mais um possível berço para leitura de mãos. A respeito do oriente, Zancanaro (2008, p.13),

alega que surgimento de tal prática “sob a óptica oriental teria sido de maneira epifânica”.

Ao considerar que é um tema pouco discutido no acadêmico, verificou-se ser

necessária a importância de abordar ao público desconhecedor de tal arte as narrativas e

personalidades que compõem percurso da leitura de mãos. Sendo assim, essa sessão será

responsável por apresentar algumas narrativas que compõe o percurso da leitura de mãos,

começando pelas tradicionais referências que são dadas ao oriente, como os sistemas: hast

Jyotish e hast Samudrika Shastra. Narrativas com toque mítico e de caráter lendário também

serão temáticas dessa sessão, para que seja mostrado como a leitura de mão tem um caminho

de tradição até o ocidente, onde vestígios dessa prática aparecem em manuscritos antigos. E

para finalizar, um esboço de tal arte no século XX. Dessa forma, para dar inicio a esse

percurso farei considerações respeito do primeiro espaço a ser abordado nessa pesquisa, o

oriente, para que gradativamente seja possível apresentar o ocidente, tendo sempre como eixo

norteador a tradição que é abordada nos livros de tal temática.

2.1. HAST JYOTISH E HAST SAMUDRIKA SHASTRA.

Entre tantas referências encontradas nos livros que abordam tal temática, procurei

escolher apenas um tema e abordá-lo. Tal escolha ocorreu pelo fato de ser um dos locais mais

citados na tradição. Dessa forma, optei então por abordar narrativas referentes à República da

Índia, sendo esse território cogitado em alguns livros nativos como um dos possíveis berços

3 A respeito dos Romanos, a tradição aponta Júlio Cesar. “Júlio César era tão perfeitamente versado nesse estudo

que: um dia recebeu em audiência um pretenso filho de Herodes, e logo descobriu o impostor, porque em suas

mãos faltavam todos os sinais da realeza” (CHEIRO, 1985, p. 20).

15

da Arte de Ler as Mãos. Segundo King (1983, p. 5), o tema da leitura de mãos é “mencionado

em antigos manuscritos indianos datados de 3.000 anos”. Seguindo esta conjetura, destaquei a

Índia como ponto de partida para delinear um percurso a partir das narrativas tradicionais que

fazem alusões por meio de sistemas complexos que são encontrados no oriente que sinalizam

possíveis técnica de ler as mãos.

No oriente4, situada mais precisamente na Ásia Meridional, a República da Índia,

como atualmente é reconhecida, alcançou sua independência no de 1947, após uma resistência

considerada não violenta contra o poderio Inglês. Sua extensão territorial detém uma vasta

histórica que presenciou a ascensão e quedas de grandes impérios. A República da Índia é

considerada também o berço de quatro grandes sistemas religiosos: hinduísmo, budismo,

jainismo e sikhismo. Sendo detentora de uma cultura magnífica que remonta tempos

imemoriais, com tradições, filosofias, etnias e diversas línguas.

Entre as literaturas mais antigas encontradas, os Vedas, de acordo Vaithilingam e

Sekhar (2010, p.6), são uma mina de conhecimento, tanto material quanto espiritual.

Transmitidos oralmente pelas famílias sacerdotais, os Vedas são considerados conhecimentos

de teor sagrado que abordam desde as ciências da natureza e até o aspecto espiritual,

transcendente e imanente. Dos Vedas, surgiam comentários sobre seu conteúdo: Brahmanas –

interpretação dos brâmanes – Aranyakas – Textos de autores que viviam em floresta – e os

Upanixades. A doutrina dos Upanixades está no Vedanta: “o fim do Veda”, ou os que estão

colocados no final dos textos védicos. Também é possível se referir aos Upanishads como

Vedanta.

De acordo com Vaithilingam e Sekhar (2010, p. 30), há ainda quatro Upa-Vedas

ou Vedas subsidiários e seis Angas ou membro explicativos. Os Vedas subsidiários abordam:

a ciência da vida e da saúde, a ciência da guerra, a ciência da música e da dança e a ciência da

política. E os membros explicativos, que são comuns a todos os quatro Vedas expõem: o

conhecimento de fonética, a gramática sânscrita, a métrica e versificação, a fisiologia ou

etimologia, a astronomia e astrologia, e o método ou ritual.

Dentre os membros explicativos, o quinto componente é intitulado de Jyotish.

Segundo Vaithilingam e Sekhar (2010, p. 30), o Jyotish é o responsável pela “astronomia e

astrologia”. O Jyotish então, abordar a respeito dos movimentos dos copos celestes e sua

influência sobre as questões dos seres humanos. A tradição acerca do conhecimento a respeito

4 A palavra oriente vem do latim oriens, ‘o sol nascente’, de orio, orire, ‘surgir, torna-se visível’, palavra da qual

nos vem também ‘origem’. (SPROVIERO, Mário B. Oriente e Ocidente: demarcação, p. 2).

16

do Jyotish é atribuída aos Rishis. De acordo com Ghanshyam (1998, 13), os rishis teriam

estudado e analisado no decorrer do tempo através de “observações empíricas os aspectos da

vida humana – físico, psicológico, emocional e espiritual – se refletiam no próprio corpo do

ser humano”.

Há muitos séculos, os sábios da índia traduziram a sabedoria dos Vedas em

seis grandes textos chamados Vedangas (ou membros dos Vedas). Um dos

principais membros – o jyotish. O jyotish, que se traduz literalmente por

“senhor da luz”, é o estudo dos efeitos da luz sobre os seres humanos – em

particular, das luzes celestiais: o sol, a lua, as estrelas e os planetas (GHANSHYAM, 1998, p. 19).

Para Defouw e Svoboda (2003), o jyotish seria praticado também por praticantes

do budismo, do sikhismo, do janismos e entre outras tradições. No jyotish, Defouw e Svoboda

(2003) alegam que o homem seria uma criação do cosmo. De uma forma geral, sem entrar nos

detalhes complexos dessa técnica, é dito que os astros teriam grandes influências nos seres

humanos, e essa influência poderia ser compreendida através do jyotish, ou estudo dos corpos

celestes, a “astrologia hindu”. Dentro do jyotish teria outra categoria de estudo intitulada de

Hast Jyotish, considerada como uma das referências atribuídas ao oriente, especialmente na

Índia. Segundo Ghanshyam (1998), Hast Jyotish significa o estudo dos efeitos da luz dos

corpos celestes sobre hast – a mão.

Assim como a Terra faz parte do sistema solar, que faz parte da Via Láctea –

que é apenas uma pequena parte do universo – assim também cada um de

nós é um universo microcósmico cheio de galáxias, constelações e sistemas

solares. Cada célula, com seus prótons, neutros e elétrons, é um sistema solar

em miniatura. O corpo humano se organiza em formas que vão se repetindo

até o nível microscópio. Vemos, por exemplo, que no sistema circulatório,

com suas artérias, veias, capilares e vasos sanguíneos que vão se ramificando

em múltiplas escalas, as mesmas formas se repetem desde o grande até o

pequeno. A configuração das linhas da mão segue o mesmo padrão de

ramificação multiescalar (GHANSHYAM, 1998, p. 19).

Ainda segundo Ghanshyam (1998), os livros sagrados da Índia ensinam que cada

ser humano é um espírito. O corpo físico – aquele que se pode vê e tocar – seria apenas um

dos três corpos que a humanidade possui. Um segundo corpo seria dotado de vibração elevada

e sutil, o corpo astral – a matriz de energia sutil que dá origem ao corpo físico.

O corpo físico se estrutura e se conserva de acordo com as especificações do

corpo astral. O terceiro corpo, conhecido como corpo causal, tem uma

vibração ainda mais sutil que a dos outros dois. Constitui a verdadeira base

17

do ser da pessoa – a “causa” ou matriz original – e passa, mudando de forma,

de uma vida a outra. No estudo hast Jyotish, quando olhamos para a mão,

estamos na verdade querendo ver os corpos astral e causal através do reflexo deles no corpo físico (GHANSHYAM, 1998, p. 20).

Para Marcio Pombo (2015), o hast jyotish seria uma enciclopédia de

autoconhecimento através dos astros. Os registros de tal enciclopédia apresentam-se sob a

forma de signos, como por exemplo, impressões digitais, linhas, montes e sinais. O conjunto

dessas informações compiladas nas mãos é similar a um mapa, cuja leitura desvela

características da natureza humana em diversas áreas: personalidade, relacionamentos

afetivos, saúde, entre outros.

O Hast Jyotish ensina-nos, tanto as técnicas de interpretar os diversos

aspectos formados pelo conjunto de signos da mão humana, quanto os

métodos para acionar o livre arbítrio no sentido de transformar/corrigir

quaisquer aspectos que, por motivos kármicos, estejam impedindo o

desenvolvimento pleno do indivíduo. É função do praticante do Hast

Jyotish servir de intermediário entre o consulente e as divindades cósmicas

encarregadas pela Divindade Suprema, não só de imprimir em suas mãos sua

trajetória kármica, mas também de lhe mostrar as chaves para abrir as portas de seu próprio potencial de superação (POMBO, 2015, s/p).

O estudo da hast jyotish apresenta-se como um método complexo baseado em

apontamentos Védicos que daria uma vasta produção, infelizmente nessa pesquisa não será

possível fazer mais considerações, pois fugiria demais ao tema proposto. Apresentou-se a hast

jyotish por causa de alguns autores que escrevem sobre a prática de ler as mãos apontam

como um sistema muito antigo de origem hindu. Dessa forma sugerindo especulações e

hipóteses Índia como um dos berços da Arte de Ler as Mãos.

Uma segunda referência que algumas literaturas nativas expõem aludindo cultura

hindu é um método de interpretação a partir do corpo humano: o Samudrika Shastra. De

acordo com Vedic Vidya Institute (2005), o Samudrika Shastra é um método complexo de

interpretação e análises do corpo humano, onde todas as marcas naturais, genéticas ou até

mesmo as que são adquiridas com o decorrer da vida de uma pessoa é levando consideração

nas análises.

Dentro do Samudrik Shastra existem diversos ramos de estudo e conhecimento,

como por exemplo, o estudo da face humana e das mãos – hast. Os ensinamentos

do Samudrika Shastra concentram-se em grande parte atendo-se aos estudos das

características presente na morfologia humana, desde o corpo até a aura. Em relação à mão

18

alega Vedic Vidya Institute (2005), que ela torna-se um espelho, que reflete a natureza de seu

dono e de seu destino. As marcas encontradas nas mãos de uma pessoa atêm-se a um bloco de

estudo voltado para a Tradição Védica chamada de Hast Samudrika Shastra.

Um número expressivo de textos que abordam a respeito do Hast Samudrika

Shastra está publicado nas línguas da Índia, como por exemplo, o tâmil, ou até mesmo em

inglês. Para Om Namah Shivaya (2014), a cultura hindu apresenta alguns documentos tais

como: ‘Hast Samudrika Shastra’, ‘Ravana Samhita’ e ‘Hast Sanjeevani’ que abordam essa

temática difícil de ser compreendida só pelas publicações do ocidente que expõe um breve

aspecto de tal método quase que impossível de identificá-los sem ajuda de outras literaturas,

especialmente as que estão em publicação em inglês.

O Hast Samudrika Shastra é um método complexo sobre os sinais auspiciosos, da

mesma forma que o Hast Jyostih se apresenta com sua complicada técnica que aborda a sobre

a influência dos astros nas mãos. Tais técnicas preferir não aprofundá-las, além delas não

fazerem parte de um dos objetivos desta pesquisa, são repletas de peculiaridades que causaria

um desfoque a esta pesquisa.

Expus o Hast Samudrika Shastra e o Hast Jyostih porque são termos que

aparecem ligeiramente e em alguns livros que buscam narrar e desenvolver a hipóteses a

respeito de o quão é antigo a prática de leitura de mãos. Ao apresenta-los não tive o propósito

de buscar uma origem definitiva ou comprovada baseada em tais sistemas. Apenas apresentei

indicativos que são cogitados em algumas literaturas ao lado da ideia de origem5 por serem

consideradas técnicas antigas que remontam a cultura hindu. Mas sempre é bom ressaltar que

buscar uma origem para leitura de mãos implica em diversas lacunas, e o material científico

não é suficiente porque que não existe um número expressivo de pesquisa em relação a esse

tema na academia para gerar mais discussões.

2.2. MITO E LENDAS DA TRADIÇÃO.

Alguns autores que aborda a leitura de mãos fazem alusões a grandes

personalidades que compõe a tradição da Arte de Ler Mãos. Alguns nomes presente nas

literaturas nativas são personagens de uma narrativa que aparenta ter caráter mítico, e outros

compõe uma vasta produção de lendas. Para compreender a respeito de Mito e Lenda os

5 Uso Origem no sentido do local que teria se originado possivelmente a Arte de Ler as Mãos.

19

estudos de Eliade (1972) e Croatto (2001) são subsídios teóricos que enriquecem o

entendimento de tais temáticas.

Em torno do século XIX as concepções a respeito da ideia de mito começaram a

mudar. Segundo Eliade (1972), invés de discutir o mito na acepção usual do termo, como

invenção ou ficção, ele foi aceito tal qual era compreendido pelas sociedades, onde mito

designa uma “história verdadeira”, extremamente preciosa por seu caráter sagrado e

significativo. Ao contrário do que muito se acreditava o mito não é algo falso ou mentiroso,

ele é uma narrativa responsável por relatar um acontecimento dentro de uma sociedade. O

mito é o relato de um acontecimento originário, no qual os deuses agem (CROATTO, 2001,

p. 209).

Dessa forma, o mito tem com intuito relatar o surgimento de uma instância, uma

lei, rito religioso, um sacrifício, cerimônia, uma prática e entre outros acontecimentos. Os

deuses agem nesse tipo de narrativa instituindo algo para a sociedade. Como por exemplo, o

Oráculo de Delfos, que segundo Giebel (2013), foi instituído por Apolo, aquele que

proclamava o vaticínio através da Pítia, sua sacerdotisa, para o consulente. E as lendas, de

acordo com Croatto (2001), não narram fatos primordiais, apesar de serem considerados

também importantes.

2.2.1. As Marcas Auspiciosas.

A Arte de Ler Mãos sob a ótica hindu, aparentemente apresenta uma antiga

narrativa de caráter mítico, onde um deus teria presenteado a sociedade com um tipo de

anotações sobre os sinais auspiciosos. Até o momento em que essa pesquisa se desenvolvia

não conseguir obter informações se existem referências dessa narrativa em português. De fato,

obtive conhecimento sobre esse aspecto a partir de pesquisas em sites eletrônicos/web/ da

internet no idioma inglês, como por exemplo, em Palm Reading Perspective. De acordo Palm

Reading Perspective (2011), o livro intitulado “Sariraka Sastra – Indian Science of Hand

Reading based on Kartikeyan System” publicado em 1960, por Vak Ayer, ressalta que:

Há muito tempo o Senhor Vishnu estava gostando de sua ‘nidra yoga’, na

companhia de sua consorte Lakshmi. O senhor Samudra apareceu e começou

a anotar as marcas auspiciosas sobre os corpos do casal divino - para orientação da humanidade (Palm Reading Perspective, 2011, s/p).

20

Essa narrativa de caráter mítico aponta que a primeira vez que teriam sido

anunciados sinais auspiciosos foi através do deus do Mar, também chamado de Samudra, em

cuja superfície Vishnu ao lado de Lakshmi repousava sob uma serpente. Existe pelo menos

duas versão de como a humanidade teria sido presenteada com as anotações dos sinais

benefícios: de um lado conta-se que Samudra teria acolhido símbolos auspiciosos do casal

divino e mais tarde presenteado a humanidade, onde antigos sábios, os rishis, da Índia teriam

desenvolvido e aprimorado ainda mais esses ensinamentos e por outro lado, é dito que Shiva

que teria ensinado sobre sinais auspiciosos.6

Figura 2 –

Na superfície de Samudra, Vishnu e Lakshmi na serpente infinita.

Fonte: Página God Photos, 10/04/20147.

Os famosos “sinais auspiciosos” são mencionado nas literaturas da Arte de Ler as

Mãos sinalizando grandes personalidades. Tais símbolos ressaltam características de uma

pessoa ligada, ou pré-destinada a algo: seja uma espiritualidade ou uma religiosidade elevada,

também apontaria as riquezas, um grande rei ou político, ou um esplêndido orador,

habilidades artísticas e entre outras características.

As narrativas vinculadas à tradição fazem referências às marcas atribuídas ao

príncipe Vardhamana, mais conhecido por Mahavira – “o grande herói” (SCHENKEL, 2013,

p, 25). Igualmente ressaltam o príncipe Rama, de acordo com Jorge Stella (1966, p. 145), é

6 Cf. SHASTI; VASHISTH, 2013.

7 Endereço do site < http://shirdisaibaba100.blogspot.com.br/2014/04/lord-sri-laxmi-narayana-beautiful.html >.

Acessado em, Ago. de 2015.

21

um “personagem do texto em sânscrito intitulado Râmâyana”, como possuidor de tais

símbolos. Sidarta Gautama, o Buda, também é lembrando na tradição, como o possuidor de

sinais que sinalizavam sobre seu grandioso futuro.

Em algumas introduções dos livros que abordam a Arte de Ler Mãos, príncipe

Vardhaman o Mahavira, o príncipe Rama e Sidarta Gautama o Buda, aparecem atrelados à

hipótese dos sinais auspiciosos, se tornando então, referências comuns em algumas literaturas.

Essa tradição se enquadra na categoria de lendas, um tema diferente daquilo que se

compreende as narrativas míticas.

De acordo com Croatto (2001, p. 233), tanto o mito como as lendas são

considerados verdadeiras pelo narrador e sua assembleia. Os protagonistas dos mitos são seres

divinos, e seus relatos narravam como e de onde teriam surgido, como por exemplo, uma

prática ou um rito. Diferente dos mitos que são considerados sagrados, as lendas podem ou

não ter um teor sagrado em suas narrações, com a presença das divindades em alguns

momentos. Na lenda o plano de fundo é mundo já está organizado, e os seres humanos são

seus personagens principais dos acontecimentos.

2.2.2. Personagens lendárias do Ocidente.

Alguns livros a respeito da Arte de Ler Mãos que buscam introduzir o leitor nesse

universo expõem personagens ilustres. No ocidente, segundo Pinheiro (2010), Hipócrates,

Anaxágoras, Aristóteles, são alguns dos filósofos que mantiveram algum contanto com

método de analisar as mãos. Assertivas como estas compõe um relicário de lendas que

esbarram na construção de um percurso próximo a ideia de histórico à leitura de mãos no

Ocidente.

Para King (1983), alguns manuscritos medievais da Europa Ocidental sobre

leituras de mãos recotam a tradicional lenda de como tal prática teria atingindo a Europa.

Essas lendas narram à descoberta do possível manuscrito achado no altar de Hermes contendo

aspectos da prática de ler de mãos. Alguns livros sobre a Arte de Ler Mãos ressaltam o

achado através de Anaxágoras, e outros a Aristóteles. Outros materiais mencionam o fato de

ser um trato árabe que foi descoberto durante as viagens por um desses filósofos.

As diversas lendas que existem daquilo que se aproxima da ideia da chegada da

leitura de mãos no Ocidente, se apresentam confusas. Segundo King (1983), Aristóteles teria

descoberto o manuscrito e entregado ao imperador Alexandre Magno. Mas outra lenda alude

22

o fato que a expansão do império da macedônia possibilitou que Alexandre III (Grande),

nascido por volta de 356 a.C., tivesse entrado em contato com a leitura de mãos. Para Pinheiro

(2010), no oriente médio se encontravam adeptos da prática de ler mãos, por causa expansão

de seu império Alexandre Magno acabou descobrindo tal técnica e levado à Europa.

Nas referências que utilizei para compor esse capítulo há outras personalidades

que são aludidas como parte do universo da Arte de Ler Mãos. Procurei citar apenas algumas

com o intuito de apresentar um pouco a tradição envolta desse tema. Durante o levantamento

bibliográfico não encontrei mitos referentes à Europa. Porém, lenda é o que não falta.

Especialmente as que são mencionadas filósofos, imperadores, e até mesmo religiosos.

As lendas da leitura de mãos que apresentam como personagens Hipócrates,

Anaxágoras, Aristóteles e o Imperador Alexandre III, compõem narrativas que sugerem um

tipo de marcador inicial da tradicional narrativa da leitura de mãos no Ocidente, tendo como

referência a Grécia antiga. Outras lendas aludem à presença de Júlio César como um “versado

nesse estudo” (FLORENZANO, 1985, p. 20). Algumas dessas narrativas apontam hipóteses

de como a Arte de Ler as Mãos teria chegado ao Ocidente.

2.3. VESTÍGIOS DA LEITURA DE MÃOS NA EUROPA.

Durante a parte do período histórico compreendido como Idade Média, que

convencionalmente para Renaldi (2014), está situada entre o V e o XV século, a Igreja

Católica consolidou um vasto e sólido patrimônio de bens materiais, tornando-se então

dentetora de um poder autoritário. Acontecimento esse que se reverberou em muitos fatos

históricos, como por exemplo, a inquisição no século XII.

Em 1184 uma bula papal determinava que os bispos excomungassem todos que

agissem contra os dogmas instituídos pelo clero. No ano de 1233, o papa Gregório IX criou o

Tribunal do Santo Ofício para perseguir e punir os dissidentes considerados hereges. Em

1252, segundo Baigent e Leigh (2001. p. 19), o papa Inocêncio IV autorizou uso da tortura

como método para obter confissões de práticas heréticas.

Dentre as várias práticas consideradas heréticas, se encontravam as consultas a

métodos de adivinhação do futuro. E a quiromancia, através do significado que seu termo

carrega, não deixa de ser um método que está envolvido nesse aspecto de vaticinar. De acordo

Rinaldi (2014), a leitura do futuro era considerada perigosa e obra do demônio, os religiosos

acreditavam que apenas Deus era o único que podia saber o futuro de todos.

23

O cenário na Europa nesse período se apresentava desfavorável para todos os

comportamentos, argumentos, ou questões contrárias aos dogmas instituídos pelos cristãos.

Dentre os diversos povos perseguidos, os Ciganos foram também alvo de diversas

brutalidades. Na tradição da leitura de mãos, Pinheiro (2010), alega que a expulsão dos

ciganos de algumas partes da Europa ocorreu através das ameaças que boa parte da população

realizava instigados pela Igreja Católica que nutrira receio ao modo de viver cigano e suas

práticas, como por exemplo, a leitura de mãos.

No contexto da supremacia cristã e seus dogmas, especialmente durante a Idade

Média, a Arte de Ler as Mãos parecia permanecer em atividade sigilosa temendo a Santa

Inquisição. De acordo com Bel-Adar (1993), durante o medievo, a prática de ler as mãos

entrou em aparente declínio e sua estrutura geral havia perdido quase toda a solidez apesar

dos alguns segredos terem sido guardados também por hermetistas.

Depois de um longo período de obscuridade a arte de ler as linhas das mãos

foi quase que somente cultivada pelos ciganos – e de modo mais intuitivo do

que científico – homens ilustres como Saint-Germain, Raphael, Desbarolles

e Papus devolveram-lhe o antigo prestígio. Hoje ela desperta mais atenção

do que nunca e demonstra uma acentuada tendência para retornar às velhas

bases, isto é, para considerar os tipos planetários e operar em estreita ligação

com a Astrologia, à ciência hermética fundamental (BEL-ADAR, 1993, p.10).

O interessante notar é que algumas problemáticas se levantam, pois ao mesmo

tempo em que os métodos de adivinhação do futuro, em especial a quiromancia – uma prática

que também tem propriedades de adivinhar – era combatidos por ser considerada herética,

aparentemente foi guarda e estudada pelo magistrado cristão e cultivada em sigilo por pessoas

não vinculadas ao clero. Um exemplo disso é a especulações a respeito de clérigos estudarem

a morfologia das mãos, suas linhas e seus sinais. Dentre eles é mencionado o Padre Ignácio

Vieira (1678-1739), o provável autor do Tratado de Chiromancia8, que no colégio de Santo

Antão no século XVIII, estava responsável pelas aulas de quiromancia.

Embora o Santo Ofício aterrorizasse a Europa, astrologia e as diversas mancias,

ou seja, as adivinhações, assim como outras práticas eram realizadas em sigilo. Determinados

escritos que abordam a Arte de Ler Mãos conseguiram sobreviver durante a Idade Média.

Segundo King (1983), há manuscritos medievais da Europa que apontam a leitura de mãos,

geralmente relacionada à Astrologia. Alguns dos manuscritos estão na Bodleian Library, a

8 No site ‘Europena think culture’ é possível encontrar o Tratado da Chriomancia.

24

principal biblioteca de pesquisa da Universidade de Oxford, uma das mais antigas da Europa,

situado no Reino Unido desde o século XVIII.

Figura 3 – Parte de um manuscrito do século XV.

Alguns símbolos nas mãos.

Fonte: (KING, 1983, p. 6)

Figura 4 – Página de um manuscrito do século XV.

Os dedos e os astros.

Fonte: (KING, 1983, p. 17)

Figura 5 – Tratado do século XVI atribuído a Andrea Corvus.

Algumas linhas.

Fonte: (KING, 1983, p. 41)

25

A tradição alega que a primeira publicação sobre a leitura de mãos no Ocidente

foi entorno do século XV. Segundo Pinheiro (2010), Johann Harlieb (1400-1541), escreveu

Die Kunst Chiromantie, um tratado sobre a Arte da Quiromancia. Também Bartolomeu della

Roscca (1467-1504), conhecido como Andrea Corvus de Mirandola (o Cocles), é considerado

autor das obras: Liber Chiromantiae e Anastasis Chiromantiae ac Physinomiae, ambas

abordando marcas presentes nas mãos.

Philippus Aureolus (1493-1541), conhecido por Papus, teria também estudado a

leitura de mãos segundo as narrativas da tradição. Considerado médico, alquimista, físico,

astrólogo astrônomo e excêntrico. Papus teria criado um tratado responsável por mostrava o

micro e o macrocosmo se correspondendo pela natureza. Nesse tratado o corpo físico, as

plantas e os astros poderiam mostrar sinais que seria possível de ler e interpretar. Segundo

Cairo (2015, p. 26), a quiromancia, a fisiognomonia (estudo do caráter através da leitura do

rosto), a linguagem do corpo, é apresentada.

Johann Harlieb, Bartolomeu della Roscca, Philippus Aureolus são algumas

personalidades da época medieval. Eles compõem uma parte do acervo da leitura de mãos no

ocidente, junto com outros nomes, que estão muitas vezes envoltos de lendas. É deles que

recorre à hipótese de desenvolvimento e manutenção da leitura de mãos durante a idade

média. Em relação aos manuscritos, poucas literaturas se atêm ao fato de expor ao leitor essa

documentação que diz respeito à leitura de mãos no ocidente.

2.3.1. Arpentigny e Desabarolles.

Na tradição da leitura de mãos é possível notar duas categorias que alguns autores

destacam sendo diferente quanto as suas nomenclaturas: Quiromancia e Quirologia. A

Quiromancia é um termo vinculado à adivinhação – Quiro/mão e Mancia/adivinhação –

Adivinhação pelas mãos. Já a Quirologia é um estudo sobre as mãos – Quiro/mão e

Logia/estudo. Não entrarei nas problemáticas referentes aos termos, apesar de que farei

apontamentos breves sobre ambas algumas vezes, nesse tópico apresentarei duas

personalidades consideradas muito importantes para o desenvolvimento da leitura de mão

durante o período considerado moderno.

No século XIX, a leitura de mãos parece ganhar novos delineamentos no ocidente

com observações, analises e interpretações específicas: de um lado a fisionomia das mãos, e

do outro lado se encontra os sinais que as palmas podem e/ou não apresentar. Para Paraclitus

26

(2012), nesse século tiveram início na Europa o que se pode chamar de estudos sobre o

método de ler as mãos, um dos nomes que se sobressaia era o de Casimir Stanislas

d’Arpentigny (1798-1865) e posteriormente o de Adolphe Desabarolles (1801-1886). Ambos,

dentro da tradição, se destacaram pelos estudos e obras sobre a Arte de Ler as Mãos.

A respeito da história de Casimir Stanislas d’Arpentigny (1798-1865) e seu

envolvimento com leitura de mãos é um tanto incerto. As citações sobre o seu nome nas

referências utilizadas para essa pesquisa, não revelam muitos fatos de sua vida, apenas seu

método de analisar as mãos. Por meio de pesquisas virtuais, descobrir Handreling de autoria

de Christopher Jones, reproduzido com permissão no site johnnyfincham.com, página

intitulada de The Palsmistry, o nome de Casimir atrelado a algumas narrativas. Através da

The Palsmistry (2015) pude descobrir que Casimir teria sido possivelmente um capitão do

exercito francês, e o fato de uma cigana ter lido suas mãos, marcou sua vida a ponto de se

debruçar a estudar nesse tema e organizar o livro La Chirognomie de 1839.

Segundo Desbarolles (2000), Casimir teria percorrido forjas e fábricas

investigando os dedos e as mãos de aritméticos, ferreiros e artistas para compor seu acervo de

estudo das mãos. Nesse acervo estão incluídas as peculiaridades que as mãos e os dedos

podem apresentar, em seu sistema é possível encontrar sete tipos de diferentes mãos, todas

com conceitos e definições que corresponde à personalidade das pessoas.

Uma classificação mais complexa, abrangendo sete tipos de mãos, foi feita

pelo quiromante francês do século XIX Casimir d’Arpentigny. [...] Nesta

Classificação, os setes formatos de mão são os seguintes: I. Mão elementar;

II. Mão Quadrada, por vezes conhecida como mão “útil” ou “prática”; III.

Mão espatulada, conhecida ainda como mão “ativo-nervosa”; IV. Mão

Filosófica ou “nodosa”; V. Mão cômica, artística; VI. Mão Psíquica ou “idealista”; VII. Mão mista (KING, 1983, p. 7-8).

As analises de Casimir Stanislas d’Arpentigny reuniu um resumo sobre sete tipos

de mãos possíveis de se encontrar e que revelaria a personalidade das pessoas. Para Pinheiro

(2010), as observações e análises de Stanislas d’Arpentigny sobre a fisionomia das mãos teria

possibilitado outros rumos nas técnicas de ler mãos no ocidente no que diz respeito ao aspecto

da forma e estrutura da mão: dedos, falanges, unhas, tamanho e etc. Apesar de toda a

organização de Casimir, King (1983) alega que são vários os modelos de serem classificadas

as formas de mãos. O sistema de Casimir teria sido criticado por outros quirólogos e melhor

organizado anos depois.

27

Em Os Mistérios da Mão Adrien Desbarolles expõe suas análises sobre o formato

das mãos, dedos, montes, linhas sinais e etc., citando algumas vezes as observações de

Casimir Stanislas d’ Arpentigny. Na segunda parte do livro, intitulado de Quirognomia,

Desbarroles parece dá voz ao Capitão d’ Arpentigny, oferecendo a hipótese que ambos

mantinham diálogos a respeito da prática de leitura de mãos.

Perguntei um dia ao senhor d’Arpentigny como descobrira o seu sistema:

<<Por uma inspiração divina>>, respondeu-me. E, com efeito, ao falar

assim, estava em perfeito acordo com a sua doutrina por um lado, dado que

tem os dedos pontiagudos, e, por outro, com a magia, que explica por que

razão os homens com dedos pontiagudo estão mais sujeitos do que os outros

às inspirações divinas (DESBAROLLES, 2000, p.67).

De acordo com o site Handreling de autoria de Christopher Jones, também pude

obter conhecimento que Adrien Adolphe Desbarolles (1801-1886) teria sido um pintor

parisiense e quiromante. Na The Palsmistry (2015) também expõe que Desbarolles no livro

Les Mysteres de la Main publicado pela primeira vez em 1859, com perspectivas dos

ensinamentos cabalísticos de Eliphas Levi, especialmente no que diz respeito a ideia dos

“Três Mundos” representado pela símbolo M que algumas mãos podem apresentar.

A letra M que temos na mão indica também três mundos. A primeira, a linha

da vida, rodeia a criação, o amor, o mundo material. A segunda, a linha da

cabeça, estende-se até ao meio do mundo natural, ocupa e atravessa a

planície e o monte de Marte; é a luta que dá a força e a razão na vida. A

terceira, a linha do coração, encerra o mundo divino representado pelos

momentos colocados na raiz dos dedos, que os fazem, como canais,

comunicar com a luz astral; envolve a ambição ou a religião, a fatalidade, a

paixão pela arte, a ciência hermética, que vêm todas dos astros (DESBAROLLES, 2000, p. 117).

De acordo com Pinheiro (2010), Desbarolles é tido como uma das personalidades

famosas dessa época sobre os estudos da Arte de Ler Mãos. Na introdução de seu livro,

intitulado Os Mistérios da Mão (2000), Desbarolles ressalta a ideia da harmonia do universo

lançar sinais específicos nas mãos que revelam situações importantes. Tal obra é dividida em

três partes: a primeira, responsável pela Quiromancia: montes e linhas; Na segunda parte

sobre Quirognomonia; e a terceira sobre observações e aplicações diversas. Com ele teria

surgido análises com ênfase em símbolos que se apresentam nas mãos: linhas, montes, cruz,

triângulo, círculo e etc. Desbarolles também seria o autor do livro intitulado de Revelations

Completa publicado em 1874.

28

Figura 6 - Adrien Adolphe Desbarolles

Fonte: Página EUROPENA, think culture9.

De acordo com Pinheiro (2010), o Capitão Casimir Stanislas d’ Arpentigny e

Adrien Adolphe Desbarolles são considerados os pais de quiromancia moderna. Sendo o

Capitão Casimir, o observador da fisionomia das mãos. E Adrien Desbarolles o responsável

por aprimorar as análises feitas por Casimir Stanislas d’ Arpentigny, abordando também as

linhas e sinais presente nas mãos.

2.3.2. A Quirologia do século XX.

No finalzinho do século XIX, o estudo a respeito do formato, da textura das mãos

e dos dedos, assim como também, sobre as linhas, os montes e os símbolos continuavam a ser

criticados por não apresentar métodos devidos e sistemáticos aos moldes do cientificismo

moderno. Apesar disso, segundo Pinheiro (2010), esse é período que marca o possível início

da moderna Quiromancia, que passa a ser considerada por alguns autores como sendo uma

ciência e devendo, portanto, ser chamada de Quirologia.

Quirologia é o termo por nós preferido, a Quiromancia, por ser mais

cientifico e por excluir toda ideia oculta. A Quirologia estuda, na mão, a

marca astral, no que acreditava Desbarolles, o grande mestre deste

conhecimento. A mão é o gesto; o gesto é a palavra, a palavra é a alma; a alma é o homem (CARDOSO, 2000, p. 159).

9 Endereço do site <

http://www.europeana.eu/portal/record/03915/3DA660A397CC7769DABBC56A5EB4041F24CE25C2.html >.

Acessado em, Ago. de 2015.

29

Cogito que o termo quiromancia – adivinhação pelas mãos – passava a ser trocado

por quirologia – o estudo das mãos – por causa do cientificismo da época, mas verificar isso

como mais detalhes mudaria o foco do objetivo proposto para essa sessão. No entanto a parti

da citação de Cardoso (2000), é o que se pode obsevar e especular, ao sugerir que o termo

quirologia seria mais científico que quiromancia, pratica que estaria envolto de uma ideia de

ocultismo. Deixando os problemas quanto ao termo, voltemos a condensá-las nesta pesquisa

com a Arte de Ler as Mãos.

Alguns dos livros sobre a leitura de mãos buscam seguir uma sistematização que

pudessem revelar que o estudo sobre as mãos também mereciam ser discutidos dentro da

academia. Mas antes que esse fato seja abordado, busquei organizar as narrativas e

personalidades que compõe o percurso da leitura de mãos o mais próximo de uma linearidade.

Dessa forma, primeiro apresentarei William Warner, considerado um grande quirólogo do

século XX, e depois apresentarei algumas publicações importantes que envolvem o mundo a

Arte de Ler as Mãos.

Figura 7 – William Warner, o Conde Louis Hamon (Cheiro).

Fonte: (KING, 1983, p. 41)

O irlandês William John Warner (1866-1927), conhecido como Conde Louis

Hamon, de epíteto Cheiro10

, teria impulsionado o universo da Arte de Ler Mãos a outros

patamares. As tradicionais narrativas envoltas do famoso Cheiro compõe uma biografia onde

astrologia, numerologia e clarividência contavam como suas habilidades.

10

Segundo FLORENZANO, (1985, p. 9), Pronunciar: Ki-ro.

30

As várias teorias culminaram com os trabalhos do Conde Louis Hamon,

melhor conhecido como Cheiro, que se tornou extremante famoso devido à

exatidão de suas predições. Infortunadamente, ele também alegava possuir

poderes ocultos, de forma que se tornou difícil separar o aspecto técnico

(leitura) da quiromancia, da parte psíquica (oculta) de suas interpretações,

que tiveram como resultado aquele brilhantes predições (BROEKMAN, 1972, p. 11).

William John Warner, “Cheiro”, também é uma personalidade envolto de diversas

lendas. Segundo King (1983, p. 80), a vida de Cheiro – em um momento correspondia a de

um quiromante da sociedade, em seguida de um conferencista público. O William teria escrito

alguns livros com temática do universo da leitura das mãos, um deles é intitulado Como ler as

mãos, publicado 1894. Nesse livro, Cheiro conta um pouco de sua vida, a baixo um treco

traduzido por Florenzano.

No meu caso, [...], vim a ficar em situação de poder concentrar a mente

nesse estranho estudo da vida desde a mais tenra idade. De então até aos

vinte anos, estudei toda a literatura que me foi possível obter sobre o tema.

Viajei por certo países, tal como a índia, o berço do conhecimento oculto, e,

por fim, em obediência a um voto que fizera, durante os vintes anos,

subsequentes dediquei-me a este Estudo como carreira profissional, lendo,

de manhã à noite as mãos de homens e mulheres e crianças, de toda sorte e condição, em todas as partes do mundo (FLORENZANO, 1985, p. 17).

Diversas são as tradições que estão envolta na biografia de William John Warner,

considerado por alguns autores como um famoso quirólogo do século XX. Ele sem dúvida é

um das personalidades que mais apareceu vinculado a Arte de Ler as Mãos nas referências

que utilizei. No entanto, William John Warner, não foi o único que deixou publicações a

respeito da leitura de mãos, o médico do exército mexicano Arnold Krumm-Heller (1876-

1949) também desenvolveu um trabalho sobre a temática. O Tratado de Quirologia médica:

diagnostico das enfermidades, publicado em 1927, é uma obra com análises e prognósticos

feitos através das mãos dos pacientes de Arnold. Em seu tratado alega Krumm-Heller (1985),

mais de trinta mil casos teria provados que sempre o mesmo sinal correspondia à persistência

de uma doença, tais observações e coletas clínicas que remontariam vinte anos de pesquisas.

Outra personalidade a ser ressaltada é Julius Spier (1887-1942), um psicólogo

especialista na morfologia e linhas das mãos. De acordo com King (1982), Spier, passou

vários anos reunindo arquivos e estudando milhares de impressões palmares, descobriu que a

quiromancia indicava acuradamente o que ele denominou “reais disposições” do indivíduo. O

31

único livro de Julius Spier é intitulado de The Hands of Children (1944), e sua introdução de

autoria de Carl Gustav Jung (1875-1961).

A Arte de Ler as Mãos passou gerativamente pelos séculos através de

personalidades que buscaram estudar sua prática. Muitos outros nomes e narrativas poderiam

ser citadas e esmiuçadas brevemente, mas como pertence à categoria de tradições e não existe

um número expressivo de pesquisa como base, torna-se difícil abordá-los completamente sem

recorrer à própria literatura nativa. Literatura essa que por si só, já é bem mais confusa por

dispor informações fragmentadas. Reconhecendo esse problema, o critério para construir essa

sessão valeu-se da ideia de escolher temas que aparecessem com mais frequência nesses tipos

de referências, logo, possíveis de serem apresentados.

32

3. O UNIVERSO METODOLÓGICO-TEÓRICO DA ARTE DE LER AS MÃOS.

Uma pesquisa que traz como objeto o tema leitura de mãos, não deve

desconsiderar as narrativas que compõe esse tradicional universo. Apresentá-lo é expor uma

parte da vasta tradição passível de se encontrar em um número expressivo de referências

secundárias. Está pesquisa procurou apresentar um pouco desses elementos presente nas

narrativas como forma de oferecer ao público que desconhecem a história tradicional envolta

no tema da Arte de Ler as Mãos. Dessa forma esta sessão é responsável por apresentar o

universo metodológico e teórico da pesquisa a partir do campo de aplicação de tema ‘Arte de

Ler as Mãos’.

3.1. HORIZONTES METODOLÓGICOS.

Ao considerar que o universo da leitura mãos é vasto, retirou-se uma unidade dele

e indagou-se: como ocorrem na contemporaneidade brasileira, as formas de apropriação dos

saberes à Arte de Ler as Mãos? A partir de então, foi preciso realizar uma análise no perfil de

pessoas que têm saberes voltado nessa temática para compreender a questão proposta. Para

analisar as formas de apropriações buscou-se estruturar um caminho onde as ferramentas

metodológicas proporcionassem dados que visibilizassem à problemática em seu contexto

real. Dessa forma a metodologia é compreendida como,

o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade.

Neste sentido, a metodologia ocupa um lugar central no interior das teorias e

está sempre referida a elas. A metodologia inclui as concepções teóricas de

abordagem, o conjunto de técnicas que possibilitam a construção da realidade (MINAYO, 1994, p. 16).

A abordagem metodológica foi estabelecida em consonância às concepções

teóricas adotadas diante do caráter qualitativo do fenômeno em estudo o que permitiu realizar

uma pesquisa que buscasse compreender como ocorrem as formas de apropriação dos saberes

e conhecimentos na Arte de Ler as Mãos na contemporaneidade brasileira. Para analisar tal

problemática, essa pesquisa que foi dividida em três momentos que comungam entre si tendo

como eixo norteador os objetivos que foram propostos: levantamento bibliográfico, pesquisa

de campo e a sistematização dos dados coletados.

33

3.1.1. Levantamento Bibliográfico: o estado da Arte.

O primeiro momento desta pesquisa está relacionado ao levantamento

bibliográfico que de acordo com Marconi e Lakatos (2003, p. 158), na pesquisa bibliográfica

há um apanhado sobre os principais trabalhos já concluídos capazes de fornecer dados atuais e

relevantes relacionado ao tema. O levantamento bibliográfico está atrelado a todos os

objetivos, mas especialmente no objetivo de apresentar narrativas e personalidades que

compõe a trajetória da leitura de mãos. Vale ressaltar que o material mais vasto produzido a

respeito da leitura de mãos é de cunho nativo e, alguns deles expõem pequenas introduções

que conjeturam origens de tal prática, dessa forma a pesquisa bibliográfica é de extrema

importância porque,

A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia

já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas,

boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material

cartográfico etc. (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 183).

Recorro também à aplicação do estado da arte, ou segundo Ferreira (2002, p.

258), “estado do Conhecimento”, que é um método que também faz parte da pesquisa

bibliográfica, mas que “procura mapear a produção acadêmica produzida por diferentes

campos do conhecimento”. Esse recurso possibilitou fazer um levantamento sobre pesquisas

voltadas para o tema da “leitura de mãos” na academia. Verifiquei através dos bancos de

dados virtuais das universidades no Brasil, com a delimitação a partir do ano de 2010 até o

ano de 2015, se existiam Trabalhos de Conclusão de Curso, Dissertações de Mestrado e até

mesmo Teses de Doutorados com a temática da leitura de mãos. O resultado que obtive foi

que não havia registros nos bancos virtuais de produção acadêmica em tais categorias sobre a

temática.

No entanto, encontrei em alguns artigos o tema da leitura de mãos, mas com

enfoque maior sobre o povo Cigano, como por exemplo: “José, Tereza, Zélia... E sua

comunidade: Um Território Cigano” (2005), de Ademir Divino Vaz, e “Análise sobre práticas

tradicionais na Cultura Cigana, com enfoque na Quiromancia e no nomadismo” (2014), de

Luciana de Assiz Garcia. Foi a partir da produção de Luciana de Assiz, que encontrei um

trabalho de Conclusão de Curso intitulado de “Olhares Múltiplos: O significado da Quirologia

34

para pessoa com diferentes escolaridades, crenças e superstição.” (2008), de Karine

Zancanaro.

O Trabalho de Conclusão de Curso de Karine Zancanaro, até o momento do

levantamento de dados não estava registrado no banco virtual de sua universidade. Em partes,

ele está disponível em seu blog11

, referência que Luciana de Assiz utilizou para compor sua

pesquisa. Através do endereço do blog que conseguir obter algumas informações sobre a

pesquisa de Zancanaro, e contatá-la para que pudesse disponibilizar sua pesquisa. E dessa

forma obtive o conhecimento sobre: “Olhares Múltiplos: O significado da Quirologia para

pessoa com diferentes escolaridades, crenças e superstição”. Essa pesquisa está situada na

área de Comunicação Social, pela Universidade Católica de Minas Gerais, e foi também como

um requisito parcial para obtenção do grau Bacharel em Comunicação Social, habilitação em

Publicidade e Propaganda.

A pesquisa de Karine Zancanaro está dividida em três momentos: levantamento

do referencial teórico, levantamento dos dados através de uma pesquisa qualitativa, e os

tratamentos dos dados obtidos. Em resumo, pesquisa de Zancanaro (2008), trata-se dos

resultados obtidos sobre a quirologia, como o propósito de “identificar a imagem da

quirologia, antes e depois do contanto com a mesma, por pessoas de variadas crenças, níveis

de escolaridade e grau de superstição”, assim como também, verificar “quais desses fatores

seriam variáveis intervenientes para a construção do significado da quirologia por parte dos

pesquisados” (2008, p. 4).

Como base para análise, Zancanaro (2008, p. 4), partiu dos princípios da

semiótica social, e recorreu ao apoio de “assuntos abordadas no instrumental teórico: origem e

teoria da quirologia, o olhar acadêmico sobre a quirologia e superstição, origem e imagens da

etnia cigana, e a origem da semiótica, suas principais escolas mais semiótica social”. Todo

esse aparato possibilitou que Zancanaro visualizar e organizar os dados coletados para

“identificar grupos interpretativos para três principais imagens da quirologia: charlatanismo,

prática esotérica, e técnica lógica capaz de propiciar autoconhecimento” (2008, p. 4).

A pesquisa de Karine Zancanaro revela horizontes para realizar outras pesquisas

que envolva o tema da leitura de mãos, que não seja só a partir da semiótica, ela mostra

“indícios de acuidade da técnica quirológica empregada, fator de sustento para realização de

trabalhos futuros.” (ZANCANARO, 2008, p. 4). Assim como também, é uma pesquisa de

11

“Quirologia Brasil” disponível em: < https://karinemaria.wordpress.com/2011/02/ >. Zancanaro também é a

Idealizadora da Quirologia Brasil disponível: < http://www.quirologiabrasil.com.br/idealizadora.html >.

35

suma importância, pois Zancanaro delineia um caminho possível para trazer essa temática

para dentro das discussões e reflexões da academia.

3.1.2. A construção da pesquisa qualitativa.

Ao ter realizado o levantamento bibliográfico, e visualizado as produções

acadêmica através do estado da arte, foi possível construir um caminho para esta pesquisa.

Com o propósito de apresentar as narrativas e as personalidades que compõe o percurso da

leitura de mãos, estabeleço um diálogo entre pesquisa bibliográfica e um estudo histórico para

expor com melhor delineação dessa temática. O estudo histórico é pertinente diante do

desafio desta pesquisa já que a Arte de ler as Mãos é um tema insuficientemente explorado

dentro dos espaços de pesquisas acadêmicas.

O método histórico preenche os vazios dos fatos e acontecimentos,

apoiando-se em um tempo, mesmo que artificialmente reconstruído, que

assegura a percepção da continuidade e do entrelaçamento dos fenômenos (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 107).

As literaturas secundárias sobre a leitura de mãos contêm pequenos esboços sem

uma abordagem específica dessa temática, especialmente no que diz respeito ao possível

“berço” dessa arte. A partir do levantamento bibliográfico foi possível construir um percurso

histórico artificial, onde outras perspectivas nativas clarearam os temas que estão envolto da

tradição. Dentro de uma lógica linear, a ferramenta artificial histórica, procurou apresentar um

possível percurso da leitura de mãos que situem o leitor que desconhece a tradição.

Para dar conta sobre proposição dos saberes e conhecimento à Arte de Ler as

Mãos na contemporaneidade brasileira, recorro a uma pesquisa qualitativa com característica,

descritiva e analítica para contemplar o segundo e o terceiro objetivo: analisar o perfil

daqueles que têm saber/conhecimento na Arte de Ler as Mãos e compreender como ocorrem

as formas de apropriação à Arte de Ler as Mãos. Dessa forma, a segunda etapa realizou-se

através de uma pesquisa de campo de cunho qualitativa que,

Trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças,

valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das

relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 1994, p. 22).

36

Através da pesquisa qualitativa optou-se por balizadores para uma melhor

delimitação da seleção no território brasileiro de pessoas que têm saberes e conhecimentos

voltados à área de leitura de mãos. A estratégia que balizam a seleção dos intérpretes ocorreu

nos seguintes quesitos e considerações:

Quadro 1: Estratégia para a seleção dos intérpretes.

Após ter organizado a estratégia e seus balizadores para a seleção dos intérpretes,

no primeiro momento, através dos recursos que as novas tecnologias de informação e

comunicação/NTICs proporcionam, buscou-se durante três meses12

fazer uma pesquisa a

partir de sites virtuais de buscas com as seguintes palavras: Quiromancia, Quirologia e Leitura

de Mãos. O banco de dados virtual revelou um número expressivo de pessoas que abordavam

tais palavras em sites. Tendo em vista o vasto campo virtual, decidiu-se então inserir um

desdobramento para a estratégia. Dessa forma para uma nova busca virtual, considerou-se que

sites e blogs estivessem de acordo com:

Quadro 2: Desdobramento da estratégia de seleção virtual.

12

Está pesquisa começou de fato com a realização do projeto no segundo semestre do ano de 2014. No começo

do mês de novembro do mesmo ano, passei a realizar o levantamento de pesquisa virtual para os intérpretes, isso

durou entorno de três meses – Novembro, dezembro de 2014 e Janeiro de 2015. Entre finalização da busca

virtual e o retorno das respostas das pessoas que iria participar, mais a coleta de dados, durou quatro meses – de

fevereiro até maio de 2015. Mais os dados da última intérprete, toda a pesquisa qualitativa de fato terminou no

mês de setembro de 2015.

I.Homens e Mulheres que obtém conhecimento na Arte de Ler as mãos

que pudessem participar por interesse e disponibilidade; Para que esta pesquisa fosse realizada sem fins lucrativos;

II.Intérpretes de diferentes regiões Brasil - Considerado que o fenômeno

religioso se manifesta por diferentes concepções nas regiões brasileiras.

III.Acima de trinta anos; considerado que essa faixa etária estaria

relacionada as solidificações dos temas saberes e conhecimento dos

intérpretes desta pesquisa;

a) A página virtual estivesse estruturada no tema da pesquisa;

b) Administrador da página ativo em suas publicações - com última

postagem do ano de 2015;

c) sites, blogs, páginas de língua portuguesa.

37

A partir do desdobramento a seleção de intérpretes reduziu o número de pessoas

na busca virtual. Encontrei na pesquisa virtual, páginas estruturadas com o tema da pesquisa,

com administradores ativos em suas postagens, com última publicação no de 2015 e em

língua portuguesa. Após entrar em contato com alguns administradores, dois deles

gentilmente aceitaram participar dessa pesquisa: Adriana e Jorge. À Adriana, que proporciona

workshop de leitura de mãos, pedi que indicasse outra pessoa de seu meio que conhece essa

técnica, ela me indicou duas outras pessoas, dessas duas, apenas Jasmim13

cordialmente

continuou até o fim do das entrevistas.

Tais seleções também foram lançadas para metrópole do estado do Pará. Mas não

obtiveram sucesso. Não encontrei administradores de páginas referentes ao tema na busca

virtual. Então recorri a uma pesquisa na metrópole tendo como referências dois endereços

cedidos por amigos que frequentaram estabelecimentos considerados “esotéricos” por ambos.

As duas pessoas que alegaram fazer leitura de mãos não puderam participar dessa pesquisa,

uma alegou não ter interesse, e a segunda solicitou um determinado valor lucrativo pelas

informações que poderia oferecer. Precisamente no mês de agosto, conversando com uma

amiga egressa do curso de Ciências da Religião sobre a minha pesquisa, ela informou que sua

tia sabia “essas coisas de leitura de mãos”. E dessa forma, entrei em contato com a última

intérprete para essa pesquisa.

Por fim, está pesquisa acabou composta por quatro intérpretes14

. com idades entre

30 a 59 anos, com diferentes escolaridades, crenças e que tem saberes e conhecimentos

voltados à área de leitura de mãos e diferentes localidade do território brasileiro. As

ferramentas usadas para sistematizar os dados e compor a análises foram através de

entrevistas e questionários.

Questionário é um instrumento de coleta de dados, constituído por uma série

ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a

presença do entrevistador. Em geral, o pesquisador envia o questionário ao

informante, pelo correio ou por um portador; depois de preenchido, o

pesquisado devolve-o do mesmo modo. Junto com o questionário deve-se

enviar uma nota ou carta explicando a natureza da pesquisa, sua importância

e a necessidade de obter respostas (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 201).

Através do questionário foi possível coletar os dados para essa pesquisa. E esse

questionário era norteado com três temas: o primeiro intitulado de Perfil: nomes, idades,

13

Jasmini é um nome espiritual de Flávia Lopes, ela pediu para utiliza-lo na pesquisa. 14

Os intérpretes terão seus nomes divulgados. Os termos de concessão estão ao final desse trabalho.

38

localidade, escolaridade, religião e/ou espiritualidade, e também o contato com outras

religiões; O segundo responsável pela Apropriação da Arte de Ler Mãos (ALM): de onde

provinha o conhecimento da ALM, processos de aprendizagem da ALM, métodos durante o

aprendizado e se recebia ajuda ou auxilio durante a prática da ALM. E por fim, o terceiro

visava o Ensino da ALM: como alguém poderia dispor ou obter conhecimento da ALM,

ensinar outras pessoas e estrutura do Ensino da ALM. Através dos temas, foi possível

organizar de uma forma mais didática a análise dos coletados. O quadro abaixo possibilita

visualizar didaticamente tais informações.

Quadro 3: Divisão didática do questionário15

.

Com os questionários didaticamente estruturados com temáticas específicas foi

possível coletar os dados através de perguntas abertas. Três vias desse questionário, foram

respondidos virtualmente e encaminhados pelo meu endereço de email. Também, por meio da

internet pude enviar um questionário à minha amiga que mora nas proximidades da quarta

intérprete dessa pesquisa, ou seja, em Icoaraci, para que ela pudesse dá a sua tia. Com o

retorno do questionário imprimido e escrito manualmente no inicio de setembro, notei durante

a análise que algumas respostas não davam para compreender. Como o tempo que organizei

para finalizar a análise estava acabando, recorri a uma entrevista.

A entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas

obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma

conversação de natureza profissional. É um procedimento utilizado na

investigação social, para a coleta de dados (MARCONI; LAKATOS, 2003,

p. 195).

15

O questionário na integra para coleta de dados está nos apêndices.

Questionário

I - Perfil

II - Apropriação da

ALM:

III - Ensino da ALM

1.Nome;

2.Idade;

3.Localidade;

4.Escolaridade;

5.Religião e/ou Espiritualidade

6.Contato com outras

religiões;

7. De onde provém o

conhecimento da ALM;

8.Processos de

aprendizagem da ALM;

9.Ajuda ou auxílio para

a prática de leitura de

mão;

10.como alguém poderia

dispor ou obter conhecimento da ALM;

11.Ensinar outras pessoas e estrutura do Ensino da ALM;

12.Estrutura do Ensino da

ALM;

39

Em setembro já com a entrevista agendada, me desloquei com um roteiro para

auxiliar na coleta de informações até Icoaraci, um distrito administrativo pertencente ao

município de Belém. E de entrevista, passou a ser uma conversa calorosa, que fluiu

gradativamente a partir do momento que as minhas mãos foram analisadas. De fato, através

da leitura realizada em minhas mãos, que Maria gentilmente com sua voz meiga foi me

revelando os dados para essa pesquisa.

Durante a entrevista sucedeu, que apesar de ter estruturado um roteiro não foi

possível segui-lo na ordem linear que estava estabelecido, isso ocorreu porque a intérprete da

pesquisa oferecia os dados no decorrer da análise das minhas mãos. Dessa forma, notei que as

minhas mãos haviam aberto espaço para fluir melhor a entrevista, então deixei que a

entrevista prosseguisse de tal forma. Enquanto Maria analisava as minhas mãos, também

revelava algumas informações que possibilitavam espaços necessários para tecer as perguntas.

E assim, ela ia analisando as minhas mãos e respondendo as perguntas estruturadas, maneira

essa que resultou na falta de linearidade do roteiro que estava constituído.

Dessa conversa com Maria, além de obter dados, foi possível absorver o

conhecimento empírico de sua prática de leitura de mãos, tendo como referências as minhas

palmas, que as registrei e constam nos anexos desta pesquisa. Também acabei obtendo

conhecimentos voltados a Arte de Ler as Mãos, pois ao mesmo tempo em que Maria analisava

as minhas palmas, ia descrevendo de uma forma bem didática com indagações para que eu

relembrasse o que ela estava dizendo, como por exemplo, “onde é mesmo que fica a linha da

vida?”. De um lado foi extremamente produtiva essa entrevista que virou uma conversa, mas

por outro, como o roteiro havia deixando de ser linear, um intenso trabalho realizou-se para

transcrever o áudio que estava gravado.

Os procedimentos mencionados na segunda etapa da pesquisa viabilizaram a

coleta dos dados para analisar os perfis daqueles que tem saberes e conhecimento na Arte de

Ler as Mãos, e compreender como ocorreram essas formas de apropriação. Foi possível

analisar o perfil dos intérpretes desde suas idades, a localidade em que vivem atualmente,

escolaridade, suas crenças, no quesito religião ou espiritualidade até chegar aos seus saberes e

conhecimentos para a Arte de Ler as Mãos.

Após toda a coleta dos dados, por fim, chegou-se a terceira etapa dessa pesquisa:

sistematizar os dados coletados e analisá-los. A análise consistiu na organização do conteúdo

em forma de quadro temático com identificação das recorrências, sensos e dissensos entre os

conteúdos das diversas entrevistas. No primeiro momento o quadro foi elaborado centrado na

40

resposta de cada entrevista, depois foi feito o estudo comparativo entre elas. A sistematização

dessas duas etapas gerou resumos individuais (por entrevista) e coletivos (entre entrevistas). A

análise propriamente dita considerou: 1) a triangulação entre os estudos da teoria, 2) as

sistematizações das entrevistas por temática e, 3) as considerações que desenvolvi gerando as

interpretações que indicam os resultados diante do problema investigado no estudo.

Para dar continuidade a esta pesquisa realizo adiante a triangulação entre os

estudos das teorias que envolvem essa pesquisa, para que na próxima sessão, a sistematização

das entrevistas seja exposta e por fim, as minhas considerações referentes aos dados obtidos.

3.2. PERSPECTIVAS TEÓRICAS.

Em conjunto com os horizontes metodológicos, os referencias teóricos são bases

substâncias para essa pesquisa. De um lado estruturei considerações feitas ao que seria a

ecologia de saberes e a importância de discutir tal proposta. E por outro lado, estabeleci

apontamentos ao fenômeno religioso, especialmente no que diz respeito ao território

brasileiro.

3.2.1. O vasto campo de saberes.

Dentro do espaço delimitado à ideia de ocidente, aos Gregos é atribuído o

surgimento do pensamento racional e filosófico. Mais tarde, aproximadamente no século XV

na Europa, nascia a intitulada ciência moderna. Para Cervo e Bervian (2002), a ciência, até a

Renascença, era tida como um sistema de proposições rigorosamente demonstrados,

constantes e gerais que expressavam as relações existentes entre seres, fatos e fenômenos da

experiência. A novidade da ciência moderna, de acordo com Magee (2001), era o fato de sua

insistência em testar as teorias por confronto direto com realidade, verificando-as pela

observação e mensuração dos dados que elas deviam explicar.

Nas abordagens de Cervo e Bervian (2002, p. 5), há a reflexão de que “cada época

elabora suas teorias segundo o nível de desenvolvimento em que se encontra, substituindo as

antigas – que passam a ser consideradas como superadas e anacrônicas” – por novas ideias, ou

outros paradigmas. O modelo de ciência moderna exclusivista e legitimadora do saber é tema

de discussões nas ciências humanas, pois cada vez mais se reconhece que uma nova

41

consciência sobre as esferas que compõe a sociedade vem tentando se estabelecer no

alvorecer do século XXI.

Novas abordagens epistemológicas seguem nesse rumo que faz estalar as bases da

supremacia do cientificismo para olhar a rede de interrelações entre saberes e conhecimentos

existentes na humanidade. Por meio do campo sociológico Boaventura de Sousa Santos expõe

abordagens que reconhece a “diversidade inesgotável e inabarcável das experiências de vida e

de saber do mundo” (SANTOS, 2008, p. 20 Artigo). Entre as críticas de Santos, encontramos

o tema da razão indolente, uma discussão sobre o modelo de supremacia da racionalidade

científica,

que conhece mal os limites do que permite conhecer da experiência do

mundo e conhece ainda menos os outros saberes que com ele partilham a

diversidade epistemológica do mundo. Aliás, mais do que não conhecer os

outros saberes, recusa reconhecer sequer que eles existam (SANTOS, 2008a,

p.27).

Nas reflexões sobre a epistemologia, Boaventura compõe argumentos que mostra

o quanto a racionalidade da moderna ciência não reconhece outros saberes, e até chega a se

recusar em reconhecer que eles existam. De acordo com Santos (2002, p. 12), tudo que não é

legitimado ou reconhecido é declarado inexistente, e a não-existência assume a forma de

ignorância ou de incultura. E é nesse aspecto que reside à importância, da sociologia dos

saberes ausentes, para que seja feito a “identificação dos saberes produzidos como não

existentes pela epistemologia hegemônica” (SANTOS, 2008a, p. 27).

Outra crítica lançada por Boaventura (2008a, p. 94), é que “a experiência social

em todo mundo é mais ampla e variada do que a tradição científica ou filosófica ocidental

conhece e considera importante” e, no entanto, esta riqueza é não levada em total

consideração. Boaventura alega haver uma pluralidade infinita de saberes existentes no

mundo, e é até inatingível quanto tal, considerando o aspecto que cada saber só pode dá conta

parcialmente, a partir da sua perspectiva específica. No entanto,

por outro lado, como cada saber só existe nessa pluralidade infinita de

saberes, nenhum deles pode compreender‑se a si próprio sem se referir aos

outros saberes. O saber só existe como pluralidade de saberes [...] As

possibilidades e os limites de compreensão e de acção de cada saber só

podem ser conhecidas na medida em que cada saber se propuser uma

comparação com outros saberes. Essa comparação é sempre uma versão

contraída da diversidade epistemológica do mundo, já que esta é infinita [...]

Nessa comparação consiste o que designo por ecologia de saberes (SOUZA,

2008a, p. 27-28).

42

Na perspectiva de Boaventura, a ecologia dos saberes parte da ideia de ser plural,

onde cada saber está responsável apenas por uma especificidade. Nenhum saber pode

compreender-se a si próprio sem se referir aos outros saberes, ou seja, existe uma rede que

conecta cada saber, formando uma ecologia de saberes. E dessa forma, Boaventura de Souza

Santos, então propõe uma nova abordagem epistemológica, a de reconhecer e compreender a

ecologia de saberes.

A ecologia de saberes visa criar uma nova forma de relacionamento entre o

conhecimento científico e outras formas de conhecimento. Consiste em

conhecer ‘igualdade de oportunidades’ às diferentes formas de saberes

envolvidas em disputas epistemológicas cada vez mais amplas, visando a

maximação dos seus respectivos contributos para a construção [de] ‘um outro mundo possível’ (SANTOS, 2008b, p.108).

A partir das contribuições de Boaventura sobre a ecologia de saberes, se passa a

observar então a crítica feita à monocultura do saber legitimada pela ciência moderna. De

acordo com Santos (2002, p.17.), a ecologia de saberes permite não só superar a monocultura

do saber científico, como a ideia de que os saberes não científicos são alternativos ao saber

científicos. O relacionamento que pode haver entre o conhecimento científico e as outras

formas de saberes consistem em tem consciência de não subalternizar outros saberes, mas

compreender que eles estão interligados. É necessário então realizar discussões quanto ao

critério de validade alternativas sem que eles sejam desqualificados pelo rigor científicos e

seu cânone epistemológico.

A questão não está em atribuir igual validade a todos os tipos de saber, mas

antes em permitir uma discussão pragmática entre critérios de validade

alternativos, uma discussão que não desqualifique à partida tudo o que não

se ajusta ao cânone epistemológico da ciência moderna (SANTOS, 2008b, p.108).

Para Boaventura (2008b, p. 142), o reconhecimento da diversidade epistemológica

do mundo sugere que a diversidade é também cultural e, em última instância, ontológica,

traduzindo-se em multiplicas concepções de ser no mundo. E ainda mais, essa multiplicidade

de saberes se “assenta no reconhecimento da pluralidade de saberes heterogêneos”. Na

perspectiva da Gramática do Tempo (2008), a ecologia de saberes está pautada no

reconhecimento de diversos saberes e práticas exercitada pela humanidade. E tais práticas

heterogêneas implicam também na “independência complexa dos diferentes saberes que

43

constituem o sistema aberto do conhecimento em progresso constante da criação e renovação”

(2008b, p. 157). Dessa forma, não desqualificar as formas de outros saberes é possibilitar

reconhecer uma pluralidade de caráter infinito.

3.2.2. O fenômeno religioso no Brasil.

A partir de uma ótica imbuída de cientificismo, o fenômeno religioso passou

também a ser objeto de pesquisas e por consequência a ser criticado por alguns críticos

modernos. Entre as tantas abordagens sobre o fenômeno religioso, ressalto apenas duas

hipóteses que foram lançadas durante o século XIX: de um lado em determinado momento da

história ocorreu o pronunciamento do fim da religião e, de outro, mais tarde se passava alegar

o seu retorno: o retorno do sagrado. O suposto inevitável desaparecimento da religião era

uma ideia filha do positivismo e do evolucionismo científico que tinham como dominador

comum,

a busca de um paradigma de cientificidade subjacente às várias disciplinas

em jogo, capaz de fundamentar e garantir criticamente os próprios

resultados, bem como a pesquisa típica do pensamento da época, marcada

por aquilo que Eliade denominou como “saudade das origines”, daquele

prius histórico, daquelas “formas elementares”, daqueles “princípios

germinais” que constituiriam o início (cronológico-lógico-axilógico) do

desenvolvimento religioso da humanidade (FILORAMO; PRANDI, 1999, p. 8).

A crítica de Filoramo e Prandi é justamente sobre as ideias advindas do casamento

entre o ideal de evolucionismo e positivismo. A busca pelo “início do desenvolvimento

religioso da humanidade” e as análises e explicações para o fenômeno religioso até meados do

século XX, delineou um contexto propício para o discurso do suposto desaparecimento da

religião. As pesquisas sistemáticas e metódicas desenvolvidas por alguns críticos que

absorviam as ideias da moderna ciência legitimadora da verdade e progressista teriam sido as

bases para o discurso do fim da religião.

As ciências sociais enquanto estiveram dominadas por uma série de pressupostos

de um contexto progressivo e evolucionista do século XIX estava com a sua ótica voltada a

outros horizontes do desenrolar da história da humanidade, e não se atinha ao fato do contínuo

exercício do fenômeno religioso. A superação da ideia do fim da religião no ocidente ocorreu

até bem pouco tempo atrás, através da hipótese de um retorno do sagrado ou da religião.

44

Retorno esse, na perspectiva de Clifford Geertz (2001), erroneamente concluindo, porque na

verdade a religião sempre esteve presente, o problema era a atenção das ciências sociais terem

se desviados para outros campos.

Enquanto se desenrola a história política explosiva do século nascente, o

desdobramento mais notável – e o mais surpreendente – que as ciências

sociais se veem obrigadas a enfrentar na cena mundial é com certeza aquilo

que se usa denominar, muitas vezes erroneamente, como “o retorno da

religião”. Erroneamente porque na verdade a religião nunca desapareceu –

foi a atenção das ciências sociais que se desviou a outros campos (GEERTZ, 2001, p. 10).

Não havia então um retorno da religião, se a mesma nunca havia desaparecido.

Esse fenômeno sempre esteve interligado com a estrutura social, impulsionada pela

humanidade, porque “a religião só existe no horizonte humano” (CONCEIÇÃO, 2011, p.

890). No século XXI compreende-se que não é possível afirmar um retorno da religião, se a

religião jamais saiu do palmo social, o que se observa é uma nova releitura e até

ressignificação das tradições religiosas com o novo contexto que se delineia através de novas

concepções e compreensão do mundo atual.

Ao considerar que o fenômeno religioso se manifesta de diferentes formas nas

sociedades tendo como norteador a ótica do ser humano, logo, tal característica expõe um

horizonte plural e diversificado. E não é de hoje que se visualiza um número expressivo de

diferentes sociedades, onde o fenômeno religioso foi e é compreendido de maneiras

particulares em diversas épocas e contextos. Sem estender essa temática para proporções

gigantescas, delimitei-o a partir de onde está pesquisa foi realizada, o Brasil.

A partir das abordagens de Ivo Oro (2013, p. 49), que teve como base os dados

relacionados às religiões, publicados pelo IBGE – Censo Demográfico 2010 – e pela

Fundação Getúlio Vargas, de um modo geral o Brasil, mostrou-se um território possível de se

encontrar inúmeras formas das pessoas se relacionarem com o fenômeno religioso, seja por

meio de instituições religiosas ou desvinculadas delas. Uma diversidade plural que é

observável em todo mundo, desde diferentes épocas e contexto. Mas não muito recentemente

que tem se reconhecido e discutido tais temáticas.

Na atualidade essa presença diversificada e plural em que se manifesta o

fenômeno religioso, na perspectiva de Ivo Oro (2013), em parte ocorreu por causa dos

recursos de mídia e comunicação social em conjunto com a globalização. Além de outros

fatos, também se deve ressaltar, por exemplo, o declínio da supremacia cristã no ocidente e

45

sua separação com o Estado. Ainda de acordo com Ivo (2013, p. 76), o pluralismo religioso

atual fornece condições para que se esteja em contato com elementos culturais e religiosos de

diversas origens e procedências.

Os meios de comunicação possibilitam a difusão e divulgação de tudo o que

ocorre, as pessoas estão continuamente em contato e, possivelmente,

absorvendo e se impregnando de ideias, valores, propostas, símbolos de

outras religiões ou Igrejas que não especificamente da sua religião (ORO,

2013, p. 77).

O fato das pessoas poderem absorver valores, propostas, narrativas míticas,

símbolos e ritos de outras religiões que não seja especificamente de suas crenças, possibilita

observa uma camada de práticas que vão se juntando a partir daquilo que o ser humano

organiza e dá flexibilidade. De acordo com Oro (2013), as pessoas que frequentam pouco as

instituições religiosas ou não se ligam a nenhuma Igreja, também podem ter seus momentos e

objetos religiosos. É interessante ressaltar também nessa discussão a respeito da

espiritualidade – um dado que aparece no IBGE e vem ganhando espaço para ser discutido.

Ao analisar as espiritualidades, uma das sinalizações importante enfatizado por

Ivo Oro (2013) é reconhecer que o ser humano possui uma pluralidade de dimensões que não

se restringe apenas a matéria física ou corpórea, ou até mesmo as potencialidades

neurobiológicas: sentimentos, emoções, afetividade, pensamento entre outros aspetos. Mas

que “somos também espírito, pois muitas atividades não são materiais nem palpáveis” (ORO,

2013, p. 74). Nessa perceptiva o corpo é alimentado por outras dimensões que são cultivadas

por distintas formas de enxergar o fenômeno religioso, seja por meio das instituições

religiosas ou desvinculadas a elas. A partir da perspectiva de Ivo Oro, todas as pessoas têm

propriedades que corresponde à espiritualidade, mas cada pessoa exercita esse elemento de

maneira diferente.

Diversos elementos de diferentes religiões ou espiritualidades podem ser

agregados em um conjunto de práticas que tem significado para a pessoa que a pratica. Na

perspectiva de Ivo Oro (2013), o contexto brasileiro é pluralista e marcado pelo subjetivismo.

Na contemporaneidade esse pluralismo de práticas religiosas ou de caráter espiritual é

evidente e até mesmo se mistura ao cenário de metrópole industrial. Tal característica é

possível de se observar no mapeamento realizado por José Magnani (1992), para instituições,

espaços, associações, núcleos centros e lojas dedicadas a diversas e diferentes práticas de

tradições religiosas ou espirituais.

46

Uma das análises construídas por Magnani é o fato de que um contato mais

sistemático com esse universo, além de mostrar um público que consome talvez até

ingenuamente tais práticas, também revela um “tipo mais exigente, informado que se dedica a

alguns desses temas com outra atitude” (1999, p. 10). Na urbe paulista, através da listagem

organizada por José Magnani (1992), o conjunto de várias e diferentes práticas coexistem

entre si, como por exemplo, consulta a oráculos e práticas adivinatórias, terapias orientais, e o

fornecimento de cursos ou workshops vinculados às práticas, crenças, sistemas filosóficos e

entre outros temas. Elementos esses agora possíveis de visualiza-los em toda a parte:

nos anúncios classificados de jornais e revistas, em lugar de destaque nos

estandes das livrarias e no topo das listas do mais vendidos, é tema de talk-

shows da televisão e de chats na internet, faz parte de selecionados mai-lings

mas também circula nos adesivos de automóveis, é divulgado em folhetos

e,finalmente, estava, na época, disponível na linha 0900 de serviços de

telefone. (MAGNANI, 1999, p. 9-10).

As práticas oferecidas por jornais, revistas, sites entre outras ferramentas da

comunicação, em sua maioria, na perspectiva de Magnani (1992), são consideradas

desprovidas de base científica, como por exemplo, as adivinhações. Na perspectiva de Ivo

Oro (2013), as religiões institucionalizadas ainda repulsam e condenam tais práticas,

chamando-as de superstições e crendices. Apesar de ser considerada não científico, a

adivinhação para Pennick (1992), é um método de adquirir conhecimentos indisponíveis por

outros meios.

o principio básico da adivinhação transcende ou ultrapassa o quadro

materialista do mundo prevalecente nos dias atuais. A visão científica do

mundo é analítica, no sentido reducionista. Ela procura – e consegue, de

maneira brilhante na maioria dos casos – explicar a infinidade de

fenômenos da existência valendo-se da física, dividindo e decompondo

cada matéria e cada interação em seus componentes básicos. Infelizmente,

o inato sistema de crença adotado pela visão cientifica do mundo descarta

qualquer outro sistema de maneira automática – é exclusivo, afirmando

representar a única realidade objetiva. Quando há alguma atenção à

adivinhação, é apenas para firmar que se trata de um sistema de crença cujo estudo está afeto à antropologia social (PINNICK, 1992, p. 9).

Esta discussão de Pinnick é importante, pois dá suporte para visualizar que as

práticas e saberes voltados ao tema da adivinhação são subalternizados pela ciência moderna,

que é analítica, no sentido reducionista. Tomando o campo de aplicação dessa pesquisa, a

‘Arte de Ler as Mãos’, é uma prática que situa em dois planos, ora por adivinhação, em seu

47

termo de quiromancia, ora por um rigor “científico”, através da forma de quirologia. Mas está

pesquisa não está preocupada e nem tem o interesse de discutir se as adivinhações são práticas

verdadeiras. O propósito é trazer para a discussão o fato de que existe um saber exercido e

praticado por pessoas que lidam com tais técnicas. E esses tipos de saberes e práticas foram e

ainda permanecem subalternizados.

48

4. O QUIRÓLOGO CONTEMPORÂNEO.

Analisar o perfil daqueles que tem saberes a Arte de Ler as Mãos no século XXI

consistiu em propor pessoas com nomes, idades, escolaridades e que se identificam com

alguma religião ou espiritualidade, assim como se já estiveram alguma vez em contatos outras

formas em que o fenômeno religioso possa se manifestar. Esses aspectos possibilitou

compreender que cada um deles detém uma experiência específica que compõe um tipo de

vitral, onde cada pedaço é uma unidade que reflete a colorida histórias de vida que eles

possuem, desde infância até a vida adulta. Dessa forma, essa sessão é responsável por trazer a

análises e resultado dos dados obtidos. Para uma melhor visualização e abordagem da coleta

dos dados, organizei os tópicos abaixo didaticamente de acordo com os temas que envolvia

estrutura dos questionários, mencionados anteriormente na metodologia.

4.1. O PERFIL DOS INTÉRPRETES.

A primeira parte do questionário envolveu o tema do perfil dos intérpretes. Essa

parte estava responsável por coletar: nome, idade, localidade, escolaridade, religião ou

espiritualidade, e contanto com outras formas em que o fenômeno religioso possa se

manifestar. Nesses primeiros dados já foi possível observar o caráter de ecologia de saberes,

como também, a diversificada da manifestação do fenômeno religioso no território brasileiro.

No quadro a baixo é possível visualizar as primeiras informações:

Nome Idade Localidade Religião ou Espiritualidade Escolaridade

Adriana 41 São Paulo Candomblé Jêjê onde pretendo

permanecer pelo resto de vida

eu tiver.

Superior Incompleto Curso

de Direito

Jasmim 30 Diadema no ABC

Paulista

Espiritualista*16

Mestrado em Administração

e empreendedorismo

Jorge 59

Indaial, SC Sou Cristão Espiritualista.

Desde os 7 anos de idade

Superior Completo

Pós em Logística

Maria das

Graças

56 Distrito de

Icoariaci - PA

Umbandista – Espírita e

Candomblecista

Superior

Psicologia

Quadro 4: perfil dos intérpretes dessa pesquisa.

16

O asterisco sinaliza que essa resposta foi resumida com o intuito de melhor ser apresentada em um parágrafo.

49

Os quatros intérpretes dessa pesquisa ofereceram por diferentes abordagens

diversos temas que formam unidades que resultam em um vasto saber, ou seja, uma ecologia

de saberes, que na perspectiva de Boaventura (2008b, p. 142), também é uma “pluralidade de

saberes heterogêneos”. Entre os saberes dos intérpretes procurei destacar três aspectos que

coexistem em suas vidas: os saberes voltado ao tema a Arte de Ler as Mãos, os

conhecimentos adquiridos pelo nível superior e os conhecimentos nutridos pela religião ou

espiritualidade em que eles se identificam.

É interessante notar que na pergunta relacionada ao contato com outras religiões

ou espiritualidades, todos os intérpretes alegaram pelos menos mais de três tradições

religiosas. Em suas respostas apareceram subsídios para visualizar a vasta manifestação do

fenômeno religioso no Brasil, assim como a possibilidade de absorver “ideias, valores,

propostas, símbolos de outras religiões e Igrejas” (ORO, 2013, p. 77). Não coloquei no

quadro relacionado ao perfil, pois as respostas foram bem desenvolvidas por estar conectada a

história de vida de cada intérprete. Começando por Adriana, a respeito do contanto com

outras religiões escreveu: Nasci em um lar católico, trabalhei como voluntária de espiritismo

30 anos entre kardecismo e umbanda, conheci a igreja evangélica, mas foi só de passagem

por conhecimento.

Dentre os intérpretes apenas Jasmim, a respeito de sua espiritualidade, concentrou

uma resposta mais detalhada: Hoje não pratico nenhuma religião convencional, me considero

espiritualista, acredito que cada religião com as quais tive contato tem aspectos positivos que

podem me auxiliar na minha caminhada espiritual. Considero que tenho minha própria

religião. Já faz uns três anos que pratico. E sobre contato com outras religiões ela escreveu:

Sou uma curiosa de religiões, fui criada na religião católica, conheci ainda na infância um

pouco da evangélica, depois de adulta, conheci a budista, adventista, umbanda, candomblé,

kardecismo. Em sua fala é possível observar o absorvimento para si próprio benefícios de ter

estado com outras religiões, anteriormente abordado por Ivo Oro.

Na abordagem de Jorge, é possível verificar não só o aspecto de absorvimento de

diferentes concepções traçada por Ivo Oro (2013), mas também a própria tessitura de ecologia

saberes de Boaventura. O contato com outras religiões aconteceu desde sua infância, e toda a

sua vida ele se viu em contato com diferentes tradições religiosas: Sou filho de pai luterano e

mãe católica. Meus filhos estudaram em Colégio Adventista. Minha esposa foi Criada na

Assembleia de Deus. Meu padrasto era da Igreja Reformada. Minha família é batizada na

Igreja Mormon, inclusive eu. Faço parte de todas estas religiões. Fiz escola de aprendizes do

50

Evangelho. Faço parte da Fraternidade dos Discípulos de Jesus. Faço parte da Grande

Fraternidade Branca do Espaço. Fiz curso completo e fui médium de Umbanda. E outras

coisas mais como Mahikari, I am, etc.

Com a necessidade de se realizar uma entrevista, almejando obter um melhor

desenvolvimento de algumas respostas, Maria das Graças possibilitou uma compreensão das

religiões que escreveu em questionário. Em entrevista alegou: Sou umbandista e fiz

recentemente... É... feitura no Candomblé. Eu sou do Ketu. Em dúvida, perguntei se ela tinha

então passando de uma religião para outra, e sua resposta foi: Continuo nelas todinhas. E sou

espírita. Sou mentora espiritual na mesa espírita. Eu abro a mesa espírita e faço a cura

espiritual também. Entre as três religiões citadas por Maria a sua relação com o espiritismo se

deu primeiramente dentro de sua casa por intermédio de sua mãe: eu seguia o espiritismo com

ela [a mãe de Maria] em casa, ela abria a mesa espírita. Depois eu fui ser a secretária,

depois eu fui ser a presidente de mesa. Hoje eu sou a presidente de mesa espírita,

trabalhamos no espiritismo, fazemos cura espiritual.

Assim como os demais intérpretes, Maria também está situada no plano da

ecologia de saberes. Várias unidades heterogenias de saberes compõem a sua história de vida:

desde aos saberes vinculado a Umbanda-Espiríta – por onde ela preside e faz cura espiritual –

como os seus próprios saberes voltado a tema da leitura de mãos, e a importância que a

graduação em psicologia teve em sua vida, que é um dado muito interessante que está

pesquisa revelou. O contato contanto com outras religiões que Maria teve, foi o fato de sua

graduação em psicologia, onde estudou a antropologia da religião: eu fui em várias religiões.

Seicho-no-ie, eu fui ao Budismo, Espiritismo, Umbanda, Candomblé, Igreja Evangélica... Eu

percorri, estudei porque tem que ter a filosofia da das religiões, cada religião tem a sua

filosofia. Através da graduação em psicologia Maria conheceu outras religiões porque

precisava estuda-las na academia, em entrevista também informou o contato que esteve com

as dissidências da Igreja Evangélica, como a Batista e a Quadrangular.

4.2. APROPRIAÇÃO DOS SABERES E CONHECIMENTOS.

Na continuidade do questionário, a segunda parte, intitulada de “Apropriação”, foi

composta por quatro perguntas. Nesse item procurei não construir separadamente cada

pergunta, organizei os parágrafos de acordo com as informações dadas pelos intérpretes.

Primeiro porque o questionário era de caráter aberto, e cada resposta está atrelada a outra. E

51

segundo, porque em entrevista com Maria é impossível querer apresentar sua informações em

blocos separados, quando na verdade todas as informações partem de uma única fonte. Mas

gostaria de ressaltar que nessa parte do questionário é possível visualizar primeiramente, em

resumo dois grupos: os de tradição na família e aqueles que não têm tradição em suas

famílias.

Começando por Adriana, em questionário a respeito de onde teria provindo seu

conhecimento sobre a Arte de Ler as Mãos, respondeu: É tradição na minha família minha tia

hoje falecida foi quem me ensinou a ler mãos e jogar cartas, passou alguns conhecimentos

herméticos, astrológicos, isso aos 08 anos de idade, mas o curso de astrologia me auxiliou a

determinar e compreender a energia planetária contida nos montes das mãos. Questionada

sobre o seu Processo de Aprendizagem Adriana informou alguns livros e que teve sempre a

intuição e as informações da cigana, assim como também as pesquisas que realizou para

compreender a eficácia das informações. Em relação ao Método durante aprendizagem,

Adriana citou alguns autores com as quais esteve em contato, como por exemplo, Bel Adar,

Cheiro, Cécile Sagne. E por fim, se referiu novamente a intuição da cigana: e a intuição que a

entidade cigana Maria Dolores me favoreceu aprender, desde então até hoje em minhas

consultas e aulas que forneço me baseio nesses estudos e ajuda espiritual. Nessa frase é

possível observar a finalização de Adriana com ajuda espiritual, aspecto esse que perpassa a

questão se receberia algum tipo de ajuda ou auxilio espiritual da sua religião e sua resposta foi

a seguinte: Tenho o conhecimento, a didática e o auxilio espiritual da cigana Maria Dolores.

[...] O Candomblé cultua orixás, [...] me auxilia na proteção, para que eu não absorva os

problemas alheios, quando faço uma leitura, ler as mãos é estar em contato com o profundo

do ser, e nem sempre a energia é tão agradável o que poderá ocasionar problemas

obsessivos, desordens espirituais.

Sendo também a leitura de mãos tradição em sua família, Jorge descreveu que seu

conhecimento teria provindo do conjunto entre seu dom de nascimento e os ensinamentos de

sua mãe: Meu dom de nascimento e conhecimento prático, provêm da minha mãe, hoje

chamada de Vovó Dora. Meu conhecimento, provem do meu estudo autodidata e da minha

experiência de mais de 50 anos lendo as mãos das pessoas. Minha mãe conviveu com os

ciganos na Hungria que moravam e trabalhavam na sua fazenda. Ela aprendeu com eles

diversas artes, "mancias", recebeu o dom desde a juventude e aprendeu a ler a mão, tirar a

sorte nas cartas, procurar águ com varinha e muitas outras coisas. Ela me passou, a benção

e o conhecimento, bem como me ensinou na prática durante vários anos. Esta herança

aliada ao meu dom de nascimento, fez de mim quem sou hoje. Do mesmo modo, eu transferi o

52

meu conhecimento aos meus filhos. O meu filho mais novo, Daniel, por ter o dom de

nascimento, recebeu a minha bênção (juntamente com o Patriarca da Igreja) patriarcal, por

escrito, que se encontra nos arquivos da Brian Yung University - BYU nos Estados Unidos, e

os demais segredos ciganos e da cabala, que estão na minha família há gerações. Entre

tradição em família e o dom de nascimento que Jorge alegou, perpassa toda uma ecologia de

conhecimento que tem precedência muito antes de seu nascimento.

Um fato curioso durante a infância e pré-adolescência de Jorge está atrelado

também ao seu Processo de Aprendizagem na Arte de Ler as Mãos. Jorge relatou que quando

criança sentia muitas dificuldades de se expressar em português na escola, pois em sua casa,

todos falavam em húngaro. Quando ele ficava muito nervoso, sua marca de nascença, situada

no meio da testa, acima do nariz entre os dois olhos, ficava de coloração roxa, essa marca era

motivo de gozação entre seus colegas de escola. Um dia, quando criança, teria voltado

chorando para casa, e sua mãe o indagou sobre o que havia acontecido e ele contou que todos

em sua sala na escola tinham habilidades específicas, um sabia desenhar, outro recitar, tocar

violão, e só ele não sabia nada. De acordo com Jorge, eu queria ser popular, querido entre os

colegas e não mais motivo de chacota. Então sua mãe pacientemente teria dito que o ensinaria

um segredo que se ele tivesse dom, nunca mais ficaria sozinho, nas palavras de Jorge: E de

fato, ela me ensinou pacientemente a ler as cartas e a ler as mãos e algumas outras coisas.

Desenvolvi muito este dom mais tarde quando minha consciência expandiu devido a um

avistamento de nave extraterrestre que sobrevoou à noite a minha casa na Vila Rosália,

ainda na minha pre-adolescência. Passei então a ter o dom da vidência e a minha

mediunidade se ampliou ao longo dos anos durante os meus estudos esotéricos. Entre outros

processos de aprendizagem, Jorge também informou ter feito diversos cursos de modo

autodidata através de livros.

A respeito de métodos durante a ALM, Jorge respondeu que fez diversos cursos

de modo autodidata através de livros, como por exemplo, Elementos de Quiromancia, de

Francisco Valdomiro Lorenz, Editora Pensamento. E faço uso permanente de livros nas

consultas, como por exemplo, Enciclopédia de Quiromancia Prática. Também aprendi com a

minha mãe durante muitos anos, o que também é um curso prático. Nessa parte do

questionário Jorge informou também ser autor do livro: Como Ler a Mão de minha autoria

publicado e à venda na amazon.com (basta pesquisar por PURGLY). Sobre ajuda ou auxilio

respiritual Jorge informou que seu Mentor Espiritual pertence à Falange da Fraternidade da

Rosa, da Cruz e do Triângulo, em suas palavras: É um Preto Velho que me acompanha me

inspirando nestes trabalhos. Tambem tenho cobertura espiritual da Fraternidade Branca do

53

Espaço. É interessante notar que nessa resposta Jorge foi o único que mencionou o aspecto de

como faz atendimento de suas consultas, ele informou que faz atendimento em estado

sonambúlico, meio dormindo e meio acordado. Também informou que em geral faz um

trabalho onde resulta um relatório de cerca de sete páginas sobre suas análises.

Os que declaração não ter a Arte de Ler as Mãos na família obtiveram o

conhecimento de tal prática por diferentes modos. As formas de apropriação de

saberes/conhecimentos de Jasmim, aconteceu durante um curso de quiromancia presencial por

onde nutriu afetividade e admiração pelo método: Não é tradição de minha família. Fiz

cursos presenciais. Um workshop e me apaixonei pela leitura de mãos, é incrível,

maravilhoso o poder que se encontra na palma de nossas mãos.

No questionário, Maria respondeu que a sua apropriação de saberes voltado ao

tema da Arte de Ler as Mãos teria provindo Através da Quiromancia, resposta que não pude

compreender ao certo nesse primeiro momento. Só através da entrevista ficou claro a sua

resposta. Ela informou mais detalhadamente a respeito de seus saberes e conhecimentos

estavam atrelados à intuição de sua Cigana que havia aparecido em um sonho e informando

alguns significados da leitura de mão: Eu, eu sonhei como uma cigana lendo a minha mão. A

cigana lia a minha mão. E aí, a partir do momento que aquela Cigana veio e leu a minha

mão aí eu me interessei em conhecer o significado do que ela tava me dizendo [...] Foi, a

minha cigana. A minha cigana é que me dá toda essa intuição e a quiromancia foi a cigana.

Ela vinha muito bonita ela pegava a minha mão, era uma senhora de idade e, ela usava um

pito assim na cabeça (fez o gesto com o cabelo para exemplificar o penteado). Aí no sonho

ela dizia “me dê aqui sua mão” aí ela ia dizendo “olha a linha da vida olha a linha do

coração, olha a linha da sua cabeça o seu destino está cruzado” ela começava a dizer... aí eu

acordei com aquilo... Aí eu digo assim “meu deus eu vou ter que saber o significado melhor

dessas coisas”. Aí eu comecei, desde os 17 anos a me interessar a procurar a conhecer. Aí eu

peguei... Eu mesmo comecei a desenhar a minha mão.

Em questionário, a respeito de seu processo de aprendizagem Maria respondeu:

Lendo minha própria mão despertou minha mediunidade cigana. Durante a entrevista foi

possível compreender mais detalhadamente tal resposta. O sonho que teve com a Cigana que

lia a mão de Maria a deixou muito interessada em saber do que se tratavam todas aquelas

informações. Dessa forma, em um caderno17

passou a registrar os conhecimentos que a

17

Esse caderno não tem apenas informações sobre a leitura de mãos, Maria informou que o mesmo contém sobre

jogo de Búzios, Taro, o estudo da face humana, entre outras peculiaridades. Ao final desse trabalho há registros

que fiz desse material.

54

Cigana instruía, como por exemplo, a textura das mãos, unhas, montes, linhas, símbolos entre

outras coisas mais. Em entrevista ela também informou e mostrou o desenhando de sua

própria mão e estudado pela mesma. A partir da entrevista então ficou claro que o método que

Maria responde sobre o seu aprendizado ter sido através da Orientação através da

Quiromancia (mediunidade). Então o aspecto de ter lido a sua própria mão ter despertado a

mediunidade cigana de Maria, de um lado estava relacionado ao sonho que instruía, e de outro

o aspecto de ter uma cigana que a acompanha.

4.3. ENSINO E PRÁTICA DA ALM.

É possível verificar que já foi traçada uma vasta ecologia de saberes que perpassa

pelas instâncias do fenômeno religioso por diferentes abordagens dos intérpretes dessa

pesquisa. Tal aspecto mostra que a “experiência social em todo mundo é mais ampla e variada

do que a tradição científica ou filosófica ocidental conhece e considera importante” (SOUSA,

2008a, p. 94). E dessa forma, a partir da experiência social é possível construir uma cadeia de

saberes heterogêneo. Essa característica foi possível de se observar também nos dados

coletados na terceira parte do questionário responsável pelo tema Ensino e a Prática da Arte

de Ler as Mãos.

A pergunta relacionada como alguém poderia obter conhecimento para praticar a

Arte de Ler as Mãos, Adriana respondeu que Desde que haja interesse pelo tema e tenha a

capacidade de desenvolver, alem do conhecimento a sensibilidade, que toda profissão, exige.

A respeito da questão se ensinava outras pessoas ela respondeu: Sim, dou aulas através de

cursos, workshops, já é uma rotina que vivencio, e a procura tem sido frequente. Sobre a

estrutura do assunto, Adriana escreveu sobre fazer uma programação desde: surgimento, as

características, influencia e o método preditivo, partindo em seguida as aulas pratica.

Jasmim deu a seguinte resposta sobre, como alguém poderia obter conhecimento

sobre a Arte de Ler as Mãos: todos somos energia e todos temos intuição e se nos propormos

a estudar, nos dedicar e abrir nossos olhos para esse tipo de leitura que o mundo espiritual e

energético tem para nos mostrar, tudo fica muito simples e possível a todos. Indagada se

ensinaria outras pessoas, respondeu que sim, mas que precisaria de tempo e desenvolver um

material para que isso se concretizasse.

Além de livros, cursos e através das ferramentas virtuais, como vídeos e blogs,

onde fez referencia a sua página O Biometro, Jorge também ressaltou o aspecto de aprender

55

por meio da tradição em família, como por exemplo, o seu caso, onde sua mãe repassou

conhecimento. No questionário, também consta a informação que Jorge repassou para o seu

filho, em conjunto com a sua benção patriarcal de transferência dos dons. A respeito de

ensinar outras pessoas, Jorge respondeu que está em seus planos oferecer um curso de como

ler as mãos online pela internet. Contudo, ainda não foi colocado em pratica por falta de

tempo, já que ele está voltado para outros projetos. A estrutura que sobre as aulas, segundo

Jorge, seria dividido em duas partes: Quirognomonia Palmisteria. A quirognomonia aborda

As formas da mão em geral Os sete tipos de mão Os dedos As unhas O polegar Afinidades

das mãos A palmisteria aborda Os montes As 7 linhas principais das mãos As outras linhas

das mãos e dos pulsos Duração de vida Saúde Número de filhos Contato com extraterrestres

Mediunidade Reflexologia palmar.

Em questionário Maria escreveu que as pessoas podem obter o conhecimento da

Arte de Ler as Mãos Através de Estudo Sobre o assunto - além de também – Ter mediunidade

e Alma Cigana. Referente à pergunta se ensinaria outra pessoa, ela respondeu “Sim, se a

pessoa se dedicar e ter mediunidade”. Em entrevista, detalhou mais a respeito dessa

informação: esse conhecimento [o conhecimento de ler as mãos] vem da mediunidade de cada

um. Então não é qualquer um que chega e vai saber... (Na breve gesticulação de suas próprias

mãos) Mesmo olhando isso aqui... (se refindo as mãos) não sabe pegar a mão assim e ir

dizendo... (pegou as minhas mãos a apontou com o dedo indicador as três linhas principais da

vida para exemplificar que a pessoa que não tivesse mediunidade não sabia analisar as

informações que as mãos podem revelar). Em questionário, sobre a estrutura dos assuntos,

Maria escreveu três temas: Psicológica. Mental e espiritual. Em entrevista, tais elementos se

tornaram compreensivos porque, primeiro, Maria tem formação em psicologia, e estudos

adquiridos também na Umbanda-Espírita.

Finalizo aqui a coleta dos dados obtidos e ressalto a importância da ecologia de

saberes que também agrega as temáticas do fenômeno religioso. A discussão sobre a ecologia

de saberes de Boaventura de Sousa constrói um caminho onde é possível tecer apontamentos

e o reconhecimento sobre outros saberes, como por exemplo, os refrentes ao tema da Arte de

Ler as Mãos. Através do exercício da prática de ler as mãos, seja através do ato da tradição

em família, ou na realização de cursos nessa temática, tal técnica se mantém vivia na

contemporaneidade brasileira.

56

5. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Além de apresentar as narrativas e personalidades que compõe a trajetória da

leitura de mãos, analisou-se o perfil daqueles que têm saberes/conhecimento voltado ao tema

da Arte de Ler as Mãos, para compreender como é que ocorrem na contemporaneidade

brasileira, as apropriações desses saberes. É possível afirmar, com base nos dados obtidos,

que os intérpretes são detentores de histórias específicas sobre suas apropriações na técnica de

ler as mãos, assim como todos se reconhecem ou se identificam com alguma religião ou

espiritualidade. Outro aspecto identificado é que todos possuem escolaridades intituladas de

nível superior, com apenas uma pessoa em estado de “incompleto”. Os seguintes cursos que

apareceu nos questionário foram: ‘Direito’ e ‘Psicologia’. E em níveis mais prolongados de

estudos surgiram: ‘Mestrado em Administração e Empreendedorismo’, assim como também

surgiu o ‘Pós em logística’.

Quando questionados sobre o contato com outras religiões ou espiritualidades,

através de diferentes abordagens comprovou-se ainda mais a possibilidade que as pessoas têm

na contemporaneidade brasileira de conhecer outras manifestações religiosas ou

espiritualidades, discussão traçada por Ivo Oro sobre o Fenômeno Religioso no Brasil (2013).

A pesquisa revelou que o contato com outras religiões é um dado característico entre os

intérpretes. Em uma escala percentual, 100% dos intérpretes alegaram pelos mais de três

religiões que estiveram em contato. Sendo predominantes entre eles as seguintes instituições:

o Cristianismo, o Candomblé e a Umbanda.

Apesar das diferentes abordagens dos intérpretes sobre como teria se apropriados

dos conhecimentos voltados ao tema da leitura de mãos foi possível separar, como

mencionado anteriormente, dois grupos: os de tradição em família e aqueles que não têm

tradição em suas famílias. Mas esse não é o único resultado que gostaria de ressaltar, um dado

interessante que se revela nessa pesquisa são os elementos que perpassam a categoria de

fenômeno religioso, como por exemplo, as seguintes designações: “Auxílio Espiritual da

Cigana Maria Dolores”, “Mentor Espiritual Preto Velho”, assim como, “Inspiração da Cigana

e mediunidade Cigana”.

A respeito de como alguém pode dispor ou obter conhecimento referente à leitura

de mãos, os endereços de sites virtuais surgiram como ferramentas contemporâneas para

leigos obterem conhecimento. Livros e cursos também aparecem como utensílios de

aprendizados. Nessa perspectiva de aprendizado, os quatros intérpretes da pesquisa alegaram

57

que todas as pessoas poderiam obter saberes voltado ao tema da leitura de mãos, assim como

também se disponibilizavam a ensinar, tal técnica por meio de uma estrutura didática. Mas

cada um deles ressaltou peculiaridades para esse método, tais como: benção, estudo, intuição,

interesse pelo tema, mediunidade e alma Cigana.

A partir desse conjunto de informações é possível compreender que apesar de

diferentes abordagens coletadas esta pesquisa revelou as seguintes instâncias:

Todos os intérpretes estão na área de graduação;

Os dados revelaram boa parte das afirmativas já ressaltadas por Ivo Oro (2010), tendo-

se baseado referencias dos dados do IBGE. As religiões e espiritualidades citadas

foram as seguintes: Catolicismo, Luterana, Assembleia de Deus, Adventista, Igreja

Batista, Igreja Reformada, Quadrangular e “evangélica” (mais não especificada);

Kardecismo, Mórmons e Umbanda e Umbanda-Espírita; Dentre nações de Candomblé

foram registras: Candomblé (não especificado), Candomblé Jêjê e Candomblé Ketu;

Budismo e Seicho-no-ie. No entanto surgiram nessa pesquisa outras formas de crenças

e ensinamentos, como por exemplo, “Grande Fraternidade Branca” e “I AM”.

Todos os intérpretes estão situados no fenômeno religioso, não são só pelo fato de se

reconhecerem ou identificarem uma religião ou espiritualidade, ou por terem

frequentando outros espaços e instituições religiosas ou de espiritualidade. Mas

especialmente por causa dos elementos que passam pela categoria do fenômeno está

diretamente conectado com a prática da leitura de mãos. Termos como: “ajuda

espiritual da Cigana Maria Dolores”, “intuitiva [...] Mentores e Mestre espirituais”,

“Mentor Espiritual pertence à Falange da Fraternidade da Rosa, da Cruz e do

Triângulo. É um Preto Velho que me acompanha me inspirando nestes trabalhos.” e

“Espiritualidade – mediunidade”. Essas são algumas das características que compõe

também o fenômeno religioso.

A respeito de onde provinham os saberes voltados a Arte de Ler Mãos, os intérpretes

revelaram questões que envolviam as suas próprias histórias de vida. Todos os

intérpretes tiveram diferentes formas de adquirem o saber à Arte de Ler as Mãos. Tais

conhecimentos podem está vinculados a uma habilidade que advém de uma tradição

na família, como também livros e endereços virtuais, como por exemplo, sites, blogs,

páginas e vídeos-aulas. Esta pesquisa ainda revelou que os saberes também podem

advim através de cursos ou workshops e, até mesmo pela via fenômeno religioso:

através de uma mediunidade.

58

Os dados revelaram ainda que apesar de haver aqueles que têm a Arte de Ler as

Mãos como tradição na família, e outros não, eles apontaram algumas concepções deles que

perpassam o fenômeno religioso. Dessa forma, as experiências que compõe os saberes dos

intérpretes coexistem com elementos pertencentes ao fenômeno religioso, fato esse

mencionado anteriormente. E esses saberes formam uma infinita cadeia de ecologia de

saberes que são heterogêneos.

Trazer o tema da Arte de Ler as Mãos para o espaço acadêmico é discutir não só

novas temáticas, mas a importância de abordar práticas que foram subalternizadas por um

olhar cientificista que organizou uma monocultura do saber, crítica essa proposta por

Boaventura de Sousa Santos. Nesta pesquisa procurou-se expor um pouco da história de vida

de cada interprete reconhecendo a proposta de Boaventura sobre a ecologia de saberes. Cada

ser humano é detentor de experiências únicas que trás em si um arcabouço de aprendizados.

Um arcabouço formando de várias unidades da vasta ecologia de saberes.

O tema da Arte de Ler as Mãos, seja através da quiromancia ou da quirologia,

ainda tem muito que se problematizar. A própria questão envolta da ideia de vaticinar o futuro

através das mãos, ou o estudo e análise da linguagem simbólica dessa prática, e ainda mais,

como permanecem em atividade na própria contemporaneidade são alguns dos assuntos que

deixo como proposta para futuras pesquisas. Reconheço que há muito que se observar dessa

método.

Chegado ao término dessa pesquisa, também gostaria de ressaltar que há diversas

outras formas de utilizar o mesmo tema e abordá-la por diferentes linguagens e perspectivas

metodológicas e teóricas. Recorrendo a frase de Adriana, Desde que haja interesse pelo tema

e tenha a capacidade de desenvolver, alem do conhecimento a sensibilidade, que toda

profissão, exige, é possível não só avançar para outros rumos essa pesquisa, como visualizar

outras abordagens a partir dela, tecendo sempre uma vasta ecologia de saberes que coexistem

com inúmeros conhecimentos.

59

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em < http://www.sathyasai.org.br/vedas/por-que-vedas/audios-letras-etc/doc/vedas-uma-

introducao.pdf >. Acessado em Mai, de 2015.

62

APÊNDICES

APÊNDICE A – Questionário.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO

LICENCIATURA PLENA EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

QUESTIONÁRIO REFERENTE À PESQUISA

I– Perfil

1. Nome:

2. Idade:

3. Localidade:

4. Escolaridade:

5. Já esteve em contato ou outras religiões ou espiritualidades? Quais?

II- Apropriação da Arte de Ler as Mãos.

6. De onde provém seu conhecimento da Arte de Ler as Mãos?

7. Como ocorreu seu processo de aprendizagem referente à Arte de Ler mãos?

8. Quais métodos foram usados durante seu aprendizado a Arte de Ler mãos?

9. Você recebe ajuda ou auxílio espiritual para sua prática a Arte de Ler mãos?

III – Ensino da Arte de Ler as Mãos.

10. Como uma pessoa pode dispor ou obter conhecimento/saberes para praticar na

Arte de ler mãos?

11. Você se dispõe a ensinar outras pessoas a Arte de Ler as Mãos?

12. Como você estrutura o ensinamento da temática da Arte de Ler as Mãos para

outras pessoas?

63

APÊNDICES B – Roteiro da Entrevista com Maria

Questões:

1. De onde provém seu conhecimento de leitura mãos?

2. Como ocorreu seu processo de aprendizagem referente à Arte de Ler mãos?

3. Quais os métodos foram usados durante seu aprendizado a Arte de Ler mãos?

4. Você recebe ajuda ou auxílio espiritual para sua prática a Arte de Ler mãos?

APÊNDICES C – Minha Mão depois da entrevista.

APÊNDICES D – Caderno de Maria.

64

ANEXOS

Anexo A: Termo de Cessão Gratuita de Direitos sobre Depoimento Oral, Questionários e

Imagens.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO

LICENCIATURA PLENA EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

TERMO DE CESSÃO GRATUITA DE DIREITOS SOBRE DEPOIMENTO ORAL,

QUESTIONÁRIOS E IMAGENS.

CEDENTE, nacionalidade,

, estado civil ,profissão , portador da Cédula de Identidade

RG/nº emitida pelo e do CPF

domiciliado e residente na Rua/Av./ , .

CESSIONÁRIO: Universidade do Estado do Pará / Centro de Ciências Sociais e Educação -

CCSE/ Curso Licenciatura Plena Em Ciências Da Religião, estabelecido na Rua do Una, nº

156 - Belém - Pará - Brasil - 66.050-540 – Telégrafo.

OBJETO: Questionário respondido exclusivamente para o curso Licenciatura Plena em

Ciências da Religião.

DO USO: Declaro ceder a Universidade do Estado/ curso de Licenciatura Plena em Ciências

da Religião sem quaisquer restrições quanto aos seus efeitos patrimoniais e financeiros a

plena propriedade e os direitos autorais do depoimento de caráter histórico e documental que

prestei a pesquisadora .

A Universidade do Estado do Pará/CCSE/ Curso de Licenciatura Plena em Ciências da

Religião fica consequentemente autorizado a utilizar, divulgar e publicar, para fins culturais, o

mencionado depoimento, no todo ou em parte, editado ou não, bem como permitir a terceiros

o acesso ao mesmo para fins idênticos, segundo suas normas, com a única ressalva de sua

integridade e indicação de fonte e autor.

Local, dia/ mês/ 2015.

Assinatura do Depoente/Cedente

65

Anexo B – Termo de CESSÃO de Adriana.

66

Anexo C – Termo de CESSÃO de Flávia – Jasmini.

67

Anexo C – Termo de CESSÃO de Jorge Purgly.

68

Anexo D – Termo de CESSÃO de Maria da Conceição.

9

Universidade do Estado do Pará

Centro de Ciências Sociais e Educação

Departamento de Filosofia e Ciências Sociais

Curso de Licenciatura Plena em Ciências da Religião

Travessa Djalma Dutra, s/n – Telégrafo

66113-200 Belém-PA

www.uepa.br