a armadilha da complexidade

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artigo sobre a complexidade na tomada de decisão

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  • 18 Maio-Junho 2013 Military review

    A Armadilha da ComplexidadeCapito-Tenente Michael J. Gallagher, Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA; Joshua A. Geltzer; e Sebastian L. v. Gorka

    Quando comeamos a aplicar polticas univer-sais s complexidades da atual situao mundial, acabamos nos metendo em apuros1.

    Presidente Barack Obama

    Este artigo foi originalmente publicado na revista Parameters (Spring 2012).

    O Culto da ComplexidadeVivemos em um mundo com uma complexidade

    sem precedentes pelo menos, isso o que dizem. As palavras do Presidente Obama, citadas acima, ecoam um discurso cada vez mais comum nos setores de poltica externa e de segurana nacional dos Estados Unidos da Amrica (EUA): as foras da globalizao, o crescimento de atores no estatais, os conflitos irregulares e a proliferao de tecnologias destrutivas tm tornado mais difcil do que nunca elaborar uma slida estratgia de segurana nacional2. Se a estratgia a arte de criar poder por meio da especificao das relaes entre fins, mtodos e meios3, a existncia de uma complexidade inaudita pareceria, ento, tornar essa arte no s especial-mente rdua hoje em dia, como tambm claramente perigosa, pois selecionar qualquer linha de ao em particular excluiria respostas infinitamente adaptveis no futuro. Como descreveu, de forma memorvel, o ex-Secretrio de Defesa Robert Gates, os desafios segurana nacional dos EUA pr-11 de Setembro eram

    uma noite de amadores em comparao ao mundo atual4. Alm disso, conforme afirmou, recentemente, a antiga Diretora de Planejamento de Polticas do Departamento de Estado, Anne-Marie Slaughter, h uma conscincia geral de que estamos vivendo uma poca de mudanas rpidas e universais, em que os pressupostos do sculo XX fazem pouco sentido5. O artigo publicado sob o pseudnimo Mr. Y, que ocasionou os comentrios de Slaughter, sustentava que, ao contrrio do sistema fechado do sculo XX, que podia ser controlado pela humanidade, hoje vivemos em um sistema aberto, definido por seu carter extremamente complexo e multiforme6. Ao que parece, uma complexidade sem paralelo a caracterstica marcante da nossa era estratgica.

    Essas invocaes de complexidade per-meiam os documentos de segurana nacional norte-americanos da atualidade e influenciam a cultura estratgica do ps-Guerra Fria e ps-11 de Setembro em Washington. A mais recente Reviso Quadrienal da Defesa comea sua anlise com uma descrio do complexo e incerto cenrio de segurana, em que o ritmo de transformao continua a acelerar. a primeira vez, desde o colapso da Unio Sovitica ou o trmino da Segunda Guerra Mundial, que o terreno internacional afetado por mudanas to amplas e importantes7. Do mesmo modo, o relatrio Global Trends 2025, do Conselho Nacional de Inteligncia dos EUA, afirma que o

    Michael J. Gallagher Capito-Tenente do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, integrante do Programa de Inteligncia Estratgica para Oficiais Subalternos e doutorando em Relaes Internacionais na Georgetown University.

    Joshua A. Geltzer assistente judicirio federal. Formou-se em 2011 pela Yale Law School, onde atuou como redator-chefe da publicao Yale

    Law Journal. Concluiu o doutorado em Estudos de Guerra pelo Kings College, em Londres.

    Sebastian L. v. Gorka Diretor do Programa de Bolsas de Defesa Interna da Faculdade de Assuntos de Segurana Internacional, National Defense University (NDU), e leciona Guerra Irregular e Segurana Nacional dos EUA na NDU e na Georgetown University.

  • armadilha da complexidade

    19Military review Maio-Junho 2013

    sistema internacional tende para um grau cada vez maior de complexidade, medida que o poder se difundir e os atores se multiplicarem8. O documento Vision 2015, do Diretor de Inteligncia Nacional, chama nossa poca de Era da Incerteza, na qual o ritmo, o alcance e a complexidade das mudanas vm aumentando9. Algo preocupante o fato de que a gerao mais jovem de profissionais de poltica externa e segurana nacional parece aceitar e aderir a essas declaraes sobre uma mudana fundamental em nosso mundo e em nossa capa-cidade de enfrent-la. A orientao dada ao grupo Young Professionals in Foreign Policy (Jovens Profissionais do Setor de Poltica Externa), com milhares de integrantes, afirma que conquistar a complexidade ser o desafio fundamental para a gerao do milnio. A complexidade, ao que parece, a ltima moda.

    questionamos se o mundo foi, alguma vez, realmente to simples quanto sugerem os atuais partidrios da complexidade

    Rejeitamos essas declaraes e premissas, no apenas porque no tm fundamento emprico, mas o que muito mais importante porque negam a prpria arte da estratgia e impossibilitam a rea-lizao dos interesses nacionais norte-americanos. Comeamos por mostrar as consequncias nega-tivas da atual tendncia a venerar a complexidade, transformando-a em uma espcie de culto. Em seguida, questionamos se o mundo foi, alguma vez, realmente to simples quanto sugerem os atuais partidrios da complexidade, mostrando, assim, que a noo de seu ineditismo na poca atual descritivamente falsa. Ressaltamos, ento, que essa ideia perigosa, dadas as consequncias de um vcio em complexidade. Por fim, oferecemos uma forma de escapar dessa armadilha, com nfase na necessidade de priorizao no atual ambiente de segurana internacional, que reconhecidamente distinto. Esperamos enfatizar, ao longo do artigo, que a presente obsesso com a complexidade

    resulta em uma perigosa negao da necessidade de elaborar estratgias.

    As Consequncias de se Cultuar a ComplexidadeApesar de recentes tentativas de atuar

    maneira de George Kennan, oferecendo uma viso estratgica global10, a consequncia central de se adotar o atual discurso de complexidade no conceber e implantar uma verdadeira grande estratgia11. Arrebatados pela ideia de complexidade, os Estados Unidos reagem com paralisia, apostas em mltiplas opes simult-neas e repetidas demandas por novos paradigmas conceituais. Com grande frequncia, o setor de segurana nacional parece contentar-se em aceitar a apreenso ou paralisia analtica, que o subproduto natural da crena em uma complexidade sem precedentes e, ento, em adotar uma postura fundamentalmente reativa, enxergando a estratgia, em essncia, como um processo de observar, esperar e, ento, correr para adaptar-se e responder a um caso especfico. Essa viso define o atual ambiente estratgico como um n grdio to complicado que os EUA no tm como prever a variedade de opes disponveis, no podendo, portanto, estimar, de modo produtivo, os benefcios e custos de cada uma delas. Em consequncia, o mundo visto como sendo de uma complexidade impenetrvel,

    Um n grdio.

  • 20 Maio-Junho 2013 Military review

    no sendo possvel estabelecer prioridades: ele passa a ser uma massa indiferenciada de ameaas caticas, tornando-se impossvel decidir como e qual delas enfrentar primeiro.

    Uma reao ligeiramente menos nociva a esse discurso de uma complexidade indita e des-norteante apostar em vrias opes ao mesmo tempo. Seus atuais partidrios acreditam que necessria no uma nica estratgia, e sim uma combinao de acuidade, equilbrio e agilidade, que, em conjunto, permitam ao formulador de polticas responder a contingncias estocsticas e atuar ao longo de um amplo espectro geogrfico e operacional12. Esse enfoque continua sendo, claro, fundamentalmente reativo. Uma abordagem generalista em relao complexidade apre-senta srios riscos: quando se tenta investir em todas as opes ao mesmo tempo, no possvel preparar-se, verdadeiramente, para uma delas.

    Contudo, a reao mais comum afirmao de que existe uma complexidade avassaladora alegar que os EUA precisam descartar os velhos paradigmas e formular novos. A ideia parece ser a de que a complexidade do mundo em 2012 to indita com efeito, nica que requer ferramentas conceituais e prticas totalmente novas, para apoiar os interesses norte-americanos. Essa premissa gera a noo cada vez mais popu-lar de que os problemas da atualidade so mal estruturados (wicked problems). Problemas mal estruturados so to complexos que impossvel sequer compreend-los at que se tente alguma soluo. Quando isso acontece, uma forma do Princpio da Incerteza de Heisenberg se aplica, de modo que a interao do indivduo com o problema o torna ainda mais complexo e mal estruturado. Levados a seu extremo mais preju-dicial, esses argumentos se convertem na ideia de que problemas mal estruturados no permitem abordagens boas o suficiente. Em outras palavras, impedem solues certas ou erradas: permitem apenas respostas um tanto melhores ou piores13.

    As vrias respostas complexidade at as que exigem que se descartem as velhas ferramen-tas so unidas por uma viso nostlgica do passado, a noo de que, ao contrrio da atual

    deriva estratgica, os EUA podiam dar-se ao luxo, na Guerra Fria, de olhar o mundo pelo prisma esclarecedor de uma nica ameaa sovitica14. Segundo essa descrio idealizada do mundo bipolar do passado, os problemas eram lineares, o sistema internacional era fechado, e servidores pblicos visionrios foram capazes de conceber grandes estratgias, que forneceram um meca-nismo estratgico estvel por mais de trs dcadas de poltica externa norte-americana. Recordamos com lgrimas nos olhos os emocionantes dias da destruio mtua assegurada.

    Essa verso da histria exige uma anlise mais minuciosa. Talvez aqueles tempos no fossem to simples quanto achamos hoje. Talvez a comple-xidade no seja assim to indita quanto dizem.

    A Complexidade Durante a Guerra Fria impossvel calcular com algum grau de preci-

    so as dimenses da ameaa segurana dos EUA apresentada por essas medidas soviticas, exceto pela guerra. O sucesso destas depende de uma ampla gama de fatores atualmente imprevisveis, incluindo o grau de resistncia encontrado em outros locais, a eficcia da poltica norte-ame-ricana, o desenvolvimento de relacionamentos dentro da estrutura de poder sovitica, etc.15 Essa a redao do documento do Conselho de Segurana Nacional (NSC, na sigla em ingls) 20/4, de 23 de novembro de 1948, apresentado ao Presidente Truman em uma poca em que ele estava lidando com sua prpria nova ordem de complexidade. A Guerra Fria foi s o comeo:

    Em 23 de setembro de 1949, Truman revelou ao pblico norte-americano que os soviticos haviam detonado uma arma atmica, dois anos antes do que havia sido previsto pelo setor de inteligncia. A questo essencial de quando os soviticos desenvolveriam um bombardeiro com suficiente alcance e carga til para chegar at o territrio continental dos EUA permaneceu sem resposta.

    Menos de um ms depois, os soviticos criaram a Repblica Democrtica Alem.

    Na mesma semana, Mao Tse-tung anunciou o estabelecimento da Repblica Popular da China.

  • armadilha da complexidade

    21Military review Maio-Junho 2013

    Em 03 de fevereiro de 1950, Klaus Fuchs, um cientista britnico que trabalhou no Projeto Manhattan, foi preso como espio sovitico.

    Em 14 de fevereiro de 1950, os soviticos firmaram um Tratado de Amizade, Aliana e Assistncia Mtua com o governo chins.

    Juntos, esses acontecimentos atingiram os EUA como uma srie de marteladas16. Diante desse surpreendente conjunto de surpresas no mbito da poltica externa, Truman encomendou uma anlise estratgica abrangente, liderada por Paul Nitze, que produziu o documento NSC 68.

    A bipolaridade que distinguiu o perodo imediatamente aps as hostilidades perdeu, assim, grande parte de seu fundamento lgico e vem, obviamente, dando lugar a uma situao internacional mais complexa e instvel17. Esse texto foi redigido pela Fora-Tarefa A, liderada por George Kennan, no lendrio Projeto Solarium, do Presidente Eisenhower. Esse exerccio competitivo para a concepo de uma grande estratgia, que produziu a New Look (NSC 162/2), veio a ser considerado o melhor exemplo de planejamento

    estratgico de longo prazo da histria da Presidncia dos EUA18. Com efeito, ao examina-rem o confuso ambiente de segurana, em 1953, o recm-eleito Presidente e seu Secretrio de Estado, John Foster Dulles, puderam concluir apenas que o curso estabelecido pelo governo Truman levaria ao desastre, potencialmente colocando em risco a civilizao ocidental19.

    Longe de estar diante do inimigo simples e monoltico que hoje figura em interpretaes nostlgicas da Guerra Fria, Eisenhower enfren-tava uma infinidade de ameaas diferentes e espalhadas por todo o mundo: a rpida expanso da tecnologia nuclear, a imprevisvel liderana sovitica aps a morte de Stalin, a crescente instabilidade na sia, uma aliana estremecida e frgil entre os pases-membros da Organizao do Tratado do Atlntico Norte (OTAN) e a frag-mentao dos imprios coloniais em Estados propensos a conflitos, entre outras20. Embora os EUA tenham tido, por um curto perodo, um quase monoplio sobre as armas nucleares21, suas capacidades de lanamento de longo alcance no se tornaram totalmente operacionais at o final dos anos 50 e incio dos anos 60. O grau de incerteza em torno do avano nuclear sovitico era ainda maior. Enquanto o governo Eisenhower

    formulava sua grande estratgia, os especialistas em polticas e os profissionais de Inteligncia norte-americanos tentaram prever quando os

    Klaus Fuchs

    O Presidente Eisenhower e John Foster Dulles, 1956

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    soviticos alcanariam a paridade nuclear. Esse chamado ano de mximo perigo enquadrou o debate sobre conteno ou recuo da Unio Sovitica, sem produzir respostas claras22.

    Quatro fatores constituem a chave para compreender esse ambiente. O primeiro que enfrentamos nveis mais elevados de risco e perigo. [] O segundo fator essencial no ambiente de segurana dos anos 80 pode ser resumido como imprevisibilidade23. Essas reflexes do General Andrew J. Goodpaster (publicadas originalmente na edio de maro de 1981 da revista Parameters) surgiram apenas um ano depois de o Presidente Carter descrever o ambiente internacional como sendo poten-cialmente o mais perigoso [] desde a Segunda Guerra Mundial24. A Revoluo Iraniana, em janeiro de 1979, e a respectiva crise de refns; a invaso sovitica do Afeganisto, em dezembro de 1979; a inflao desenfreada e uma debilitante dependncia em relao ao petrleo estrangeiro; e

    o senso geral de que os EUA estavam em declnio, enquanto a Unio Sovitica parecia estar cada vez melhor: tudo isso contribuiu para a impres-so de desordem estratgica norte-americana, que levou s palavras de Goodpaster25. Como defende o historiador John Lewis Gaddis, embora Carter no tenha lidado com esses desafios particularmente bem, considerando sua com-plexidade e intratabilidade, de se perguntar como outros teriam se sado26. Entretanto, o Presidente Reagan assinaria as Diretrizes de Deciso de Segurana Nacional (NSDD, na sigla em ingls) no 32, em maio de 1982, e no 75, em janeiro de 1983, estabelecendo os primrdios da Doutrina Reagan27. Ao fazer com que foras nacionalistas no Terceiro Mundo e no Leste Europeu se virassem contra uma Unio Sovitica cada vez mais falida, a Doutrina Reagan acabou obrigando Moscou a mudar de comportamento, alcanando, assim, o objetivo estratgico original de conteno. A imprevisibilidade e a queda livre

    Jovens participam de manifestao durante a revoluo iraniana de 1979.

  • armadilha da complexidade

    23Military review Maio-Junho 2013

    pareceram dar lugar, de forma quase milagrosa, a uma doutrina consolidada e, por fim, ao triunfo estratgico.

    Esses instantneos revelam que o quadro da Guerra Fria para o qual olhava Washington era tudo, menos uma simples tela em preto e branco. Ao contrrio, esteve sempre mais para Jackson Pollock do que para Mark Rothko: as conexes no eram claras, a marcha dos acontecimentos era frentica e a complexidade reinava. Para Truman, para Eisenhower e, depois, para Carter, os fatos mundiais ocorreram a uma velocidade alucinante, apagando previses anteriores, permitindo pouco tempo para a anlise e continuamente exigindo respostas em meio a uma incerteza persistente. O que hoje enxergamos como um dos perodos mais claros, definidos e estveis da poltica externa norte-americana foi vivenciado de outro modo pelos que formularam as estratgias e implantaram polticas em tempo real, conforme os aconteci-mentos se desenrolavam em todo o mundo. Se at durante a supostamente simples Guerra Fria, os assuntos externos eram to desordenados, pode-se razoavelmente postular que, em praticamente qualquer ponto na histria, estrategistas e estadis-tas lidaram com questes e problemas que, na sua poca, pareciam ser e talvez at fossem de uma complexidade indita.

    A complexidade, ou a percepo de complexidade, a eterna companheira do estrategista de segurana nacional.

    Assim, mesmo que os formuladores de poltica da atualidade estejam certos ao alegarem que sua tarefa mais difcil que a de seus equivalentes durante a Guerra Fria afirmao bem mais simples de se fazer em retrospecto , ela nunca chegou a ser fcil. Como argumentou recentemente um formulador de poltica do alto escalo: No precisamos que o Tom Friedman nos diga que o mundo ficou subitamente interconectado e que, portanto, as diversas formas de poder nacional

    so interdependentes e interativas. Sempre foi assim28. Parece que a complexidade, ou a percep-o de complexidade, a eterna companheira do estrategista de segurana nacional. J esquecemos a advertncia de certo general prussiano, de que a guerra simples, mas que at as coisas mais simples na guerra so difceis de realizar?

    Como Escapar da Armadilha da ComplexidadeE da? O universo pode estar inexoravelmente

    inclinado em direo a maiores nveis de entropia, mas isso no quer dizer que devamos entregar os pontos ou abandonar todos os velhos modelos ou nossa responsabilidade. A reverncia ritual ao conceito de complexidade uma armadilha retrica autoimposta29. Essa incessante nfase em nveis supostamente inditos de complexidade leva a duas falhas na descrio: desconsidera um passado repleto de precedentes, com uma complexidade semelhante ou at maior talvez; e caracteriza o mundo com um descritor que carece de um contedo analtico claro ou til.

    As presentes invocaes de complexidade no s so enganosas em termos descritivos, como tambm perigosas em termos normativos. Ceder complexidade no nos diz como reagir. Com efeito, dissuade-nos de uma reao, por medo de que no tenhamos condies de saber o que fazer. Na melhor das hipteses, impe uma postura reativa, porque a busca de uma viso afirmativa considerada imprudente em meio a um tumulto que nem sequer podemos compreender. O Culto da Complexidade demanda confuso e at medo diante de ameaas incompreensveis. A crena em uma complexidade sem precedentes no s representa um desrespeito aos que enfrentaram a Guerra Fria ou lidaram com situaes inter-nacionais confusas e tumultuadas; o que mais preocupante: essa armadilha induz, indevida-mente, combinao reativa de paralisia, apostas em mltiplas opes e reviso de paradigmas, conforme foi discutido anteriormente. Em outras palavras, exagerar a complexidade no apenas confunde nosso raciocnio, como tambm prejudica nossa atuao e, portanto, a busca de segurana interna.

  • 24 Maio-Junho 2013 Military review

    Sem dvida, existem atributos diferenciados no atual ambiente estratgico, mesmo que uma complexidade absolutamente indita no seja um deles. Parece ser verdade que determinar quais ameaas e oportunidades so as mais importantes para a segurana nacional norte-americana seja uma tarefa mais difcil hoje do que na Guerra Fria. A ameaa sovitica moldou o debate estratgico na era da Guerra Fria de uma forma que a Al Qaeda no capaz na atualidade. Durante aquela poca, nenhum formulador de poltica questionava se lidar com a Unio Sovitica era sua mxima prio-ridade estratgica. A comunidade estratgica de hoje em dia no tem esse tipo de consenso. Alguns afirmam que a Al Qaeda representa a ameaa decisiva segurana nacional dos EUA. Outros respondem que colocar o foco em tal organizao uma atitude mope e que a emergncia da China ou a proliferao nuclear so bem mais relevantes. Outros, ainda, demandam uma viso mais ampla de segurana nacional, incentivando uma nfase na mudana climtica e em doenas globais como sendo os mais graves desafios do presente e futuro.

    PriorizaoEssas vises concorrentes das questes de segu-

    rana nacional dos EUA indicam uma importante e marcante caracterstica do atual cenrio mundial: a priorizao , simultaneamente, muito difcil e muito importante para o pas. Cada uma dessas ameaas e potenciais ameaas Al Qaeda, China, proliferao nuclear, mudana climtica, doenas globais etc. pode evocar uma pior das hipteses extremamente intimidante. Considerando a difi-culdade de combinar estimativas de probabilidade com os nveis de risco associados a essas ameaas, desafiador estabelecer prioridades. Tais escolhas e compensaes so difceis, mas no impossveis30. Com efeito, so o instrumento de trabalho dos estrategistas e planejadores. Para que os EUA pos-sam responder de modo proativo e eficaz ao atual ambiente internacional, a priorizao o principal primeiro passo e precisamente a reao oposta acomodao e ao medo generalizado, estimulados pela noo de complexidade indita. A complexidade sugere uma maximizao da flexibilidade e uma

    minimizao do compromisso. A priorizao, por outro lado, exige uma alocao sensata de recursos e ateno, de modo a empregar o poder e esforos dos EUA da maneira mais eficiente e efetiva. Em outras palavras, a complexidade induz deciso de no decidir. A priorizao incentiva decidir quais so as decises que mais importam. O mundo de ameaas variadas de hoje, caracterizado por probabilidades imprecisas e riscos indefinidos, acabar nos deixando desnorteados, caso a aparncia de complexidade nos leve paralisia ou paranoia. Ser preciso estabelecer algumas prioridades para que os EUA possam encontrar os recursos para enfrentar suas maiores ameaas31. Como afirmou, recentemente, Michael Doran em relao Primavera rabe: os EUA precisam treinar-se para enxergar uma grande duna como sendo algo mais formidvel do que apenas uma infinidade de gros de areia32.

    Isso no visa a negar a possibilidade de fen-menos no lineares; efeitos borboleta; sistemas auto-organizadores que exibem padres, na falta de uma autoridade centralizada; ou propriedades emergentes33. Na verdade, esses atributos da teoria da complexidade lembram os estrategistas sobre a importncia de reconsiderar premissas centrais luz de novos dados e de admitir a flexibilidade ttica em caso de consequncias imprevistas.Uma boa estra-tgia requer escolhas difceis e comprometimento, mas no precisa ser inflexvel.Podemos priorizar sem sermos rgidos. Entretanto, um modelo em que tudo potencialmente relevante um modelo em que nada relevante.

    Distribuio de Poder e AutoridadeOutra alternativa til ao culto da complexidade

    entender at que ponto o poder e a autori-dade so mais distribudos ou difundidos por todo o presente sistema internacional do que na poca da Guerra Fria. Por exemplo, a cres-cente complexidade do sistema mundial, com a justaposio de acordos internacionais sem uma ordem hierrquica, faz com que seja mais difcil decidir onde reside a autoridade poltica sobre uma determinada questo34. Essa uma mistura de instituies paralelas, sobrepostas e subordinadas, em que compreender as unidades

  • armadilha da complexidade

    25Military review Maio-Junho 2013

    no significa entender o todo e [] a dinmica do todo define o comportamento das unidades e subunidades35. Consequentemente, deve-se atentar mais anlise de sistemas e identificao de entidades e agentes recm-fortalecidos, que possam atuar alm de sua aparente capacidade: por exemplo, j parece sensato dedicar crescente ateno a empreendedores de polticas transgover-namentais e a atores no estatais. Essa tendncia de democratizao no , intrinsecamente, mais ou menos complexa; depende dos atores especficos, assim como do poder e autoridade que estejam exercendo. Entretanto, parece haver uma mudana, e uma avaliao das prioridades de hoje em dia deve incluir uma conscincia dessa caracterstica potencialmente diferenciada do atual ambiente de segurana internacional.

    A Tecnologia e a Velocidade de MudanaOs acontecimentos de 2012 parecem

    desenrolar-se mais rpido que os ocorridos durante a Guerra Fria, embora, conforme discu-tido anteriormente, estes ltimos tenham, com frequncia, evoludo com bastante rapidez. O poder da tecnologia para conectar pessoas atravs do tempo e espao de formas novas e significativas era to importante na poca da Plato quanto no presente36. Hoje em dia, porm, a velocidade das mudanas tecnolgicas e o acesso difundido e instantneo a diversas fontes de informao permitem que indivduos atuem com rapidez no cenrio mundial. Atualmente, indivduos so capazes de formar grupos organizados com uma velocidade impressionante, podendo, ento, atrair a ateno mundial e at instituies internacionais, em busca de seus interesses. A tecnologia e a velocidade de mudana podem conferir poder, mas tambm ser um fator de limitao.

    H motivos para crer que a era da informao restringe o emprego da capacidade material dos Estados de maneira significativa, complicando a converso de recursos em formas utilizveis de poder. Essa recm-descoberta limitao pode explicar o chamado paradoxo do poder no realizado ou por que o poder medido em termos de recursos raramente equivale ao poder medido

    com base em resultados almejados37. Um sistema em que mais aes estatais sejam observveis e estejam sujeitas disseminao instantnea em mbito mundial exerce uma forma compensatria de poder. Esse o poder como panoptismo: a vigi-lncia cria um estado consciente e permanente de visibilidade, que assegura o funcionamento automtico do poder38. Os Estados no precisam de um adversrio para restringi-los. Em vez disso, um senso automtico e no individualizado de estar sendo visto39 sem ser capaz de verificar quem est observando em um dado momento cobe ainda mais a ao, da mesma forma que as fotos de Abu Ghraib e os vdeos de ataques de VANT Predator atingindo civis servem como importantes foras contrrias ao exerccio do poder norte-americano. Especialmente para os EUA, na qualidade de superpotncia mundial, essa vigilncia em mbito global representa um desafio e constitui um componente caracters-tico do ambiente de segurana, em que o pas precisa, primeiro, priorizar e, depois, agir. Talvez at requeira cautela, em algumas situaes, mas isso no sugere a abordagem inevitavelmente reativa que advm da ideia bastante diferente de que o mundo de hoje de uma complexidade impenetrvel e especial.

    Aqueles que estiverem preparados, organizados e providos de recursos fsicos e humanos podem explorar a complexidade para realizar seus interesses.

    ConclusoQuando abandonamos a complexidade e pas-

    samos a falar de priorizao, difuso de poder e velocidade de mudana, percebemos a profunda ironia presente na armadilha da complexidade. Proclamar que ela constitui o princpio funda-mental da atual abordagem em relao estratgia indica uma incapacidade de entender que a pr-pria essncia desta que ela nos permite lidar com a complexidade pelo menos, isso que

  • 26 Maio-Junho 2013 Military review

    uma boa estratgia cumpre. A estratgia um compromisso com uma linha de ao em parti-cular, uma lmina heurstica que nos permite penetrar grandes quantidades de dados, com uma viso abrangente de como conectar certos meios disponveis com certos fins almejados. Ao separar o essencial do irrelevante, essas heurs-ticas muitas vezes tm um melhor desempenho que abordagens mais complicadas em relao a problemas complexos (ou at supostamente mal estruturados), que acabam sendo impossveis de submeter a qualquer clculo. Quanto mais complexo for o sistema, mais importante ser contar com heursticas para lidar com ele. Quer pelo emprego destas, quer por outros mtodos, a capacidade de perscrutar uma complexidade aparentemente insondvel e identificar padres e tendncias subjacentes fartamente recom-pensada quando outros permanecem confusos ou intimidados pela aparente impenetrabilidade de tudo isso especialmente quando aliada ao reconhecimento de que pequenas mudanas podem ter um grande impacto quando amplifi-cadas por todo um sistema interconectado. Se a complexidade, real ou percebida, for, verdadei-ramente, a caracterstica determinante do atual

    ambiente estratgico, deveramos, ento, estar assistindo a um renascimento da concepo de grande estratgia e do planejamento estratgico de longo prazo40. Infelizmente, no o caso pelo menos at agora.

    Mais especificamente, como a estratgia lida com a complexidade, esta, na verdade, recom-pensa atores verdadeiramente estratgicos. Aqueles que estiverem preparados, organizados e providos de recursos fsicos e humanos podem explorar a complexidade para realizar seus inte-resses. Por exemplo, a complexidade do regime internacional possibilita uma poltica de jogo de xadrez, na qual atores estratgicos podem selecionar o melhor canal entre diferentes foros para promover seus programas de preferncia ou utilizar estratgias polticas interinstitucionais para obter um resultado esperado41. Em virtude de sua elevada concentrao de especialistas tc-nicos e jurdicos, os EUA esto idealmente aptos a explorar essa complexidade e a obter sucesso em uma era de poltica de jogo de xadrez42. O primeiro passo substituir o atual culto reativo da complexidade pela priorizao proativa. Para escapar da armadilha da complexidade, ousemos decidir, isto , elaboremos estratgias.MR

    REFERNCIAS1. Presidente Barack Obama, apud LIZZA, Ryan. The Consequen-

    tialist: How the Arab Spring Remade Obamas Foreign Policy, The New Yorker, May 2, 2011, disponvel em: http://www.newyorker.com/reporting/2011/05/02/110502fa_fact_lizza?printable=true#ixzz1KWzFQym6. Acesso em: 16 ago. 2011.

    2. RAMO, Joshua Cooper. The Age of the Unthinkable: Why the New World Disorder Constantly Surprises Us and What We Can Do About It (New York: Little, Brown, and Company, 2009), p. 99. Ramo afirma que velhas abordagens de segurana esto se tornando cada vez mais inteis no ambiente do sculo XXI, em que ameaas nossa segurana fsica so complexas, novas e crescentes. Exigem nada menos que uma reinven-o total de nossas ideias sobre segurana.

    3. FREEDMAN, Lawrence. Strategic Studies and the Problem of Po-wer, in War, Strategy and International Politics: Essays in Honour of Sir Michael Howard, ed. Lawrence Freedman, Paul Hayes, and Robert ONeill (Oxford: Clarendon Press, 1992), p. 294.

    4. GATES, Robert. That Was Amateur Night, entrevista com John Barry, Newsweek, 25 out. 2008. Cabe reproduzir o contexto completo dos comentrios de Gates: Lembro-me de Henry Kissinger em 1970. A Sria havia invadido a Jordnia. Creio que havia algo acontecendo no Lbano. E havamos descoberto que os soviticos estavam construindo uma base de submarinos em Cuba. Sempre achei que o fato de Kissinger administrar duas ou trs crises ao mesmo tempo fosse uma incrvel

    demonstrao de astcia. Pois eu lhe digo: aquilo era uma noite de amadores em comparao com o mundo de hoje.

    5. Anne-Marie Slaughter, apud MR. Y, A National Strategic Narrative (Washington, DC: Woodrow Wilson International Center for Scholars, 2011), p. 2.

    6. MR. Y, A National Strategic Narrative (Washington, DC: Woodrow Wilson International Center for Scholars, 2011), p. 5.

    7. U.S. DEPARTMENT OF DEFENSE (DOD), Quadrennial Defense Review Report (February 2010), p. 5, disponvel em: http://www.defense.gov/QDR/images/QDR_as_of_12Feb10_1000.pdf. Acesso em: 16 ago. 2011.

    8. US NATIONAL INTELLIGENCE COUNCIL, Global Trends 2025: A World Transformed (Office of the Director of National Intelligence, National Intelligence Council, 2008), p. x-xi. Consulte, tambm, US DOD, The Na-tional Military Strategy of the United States of America 2011: Redefining Americas Leadership (Washington DC: Department of Defense, 2011), p. 1, p. 5-6, p. 16.

    9. DIRECTOR OF NATIONAL INTELLIGENCE, Vision 2015: A Globally Net-worked and Integrated Intelligence Enterprise (Washington DC: Director of National Intelligence, 2008), p. 4, disponvel em: http://www.dni.gov/Vision_2015.pdf. Acesso em: 16 ago. 2011.

    10. MR. Y, A National Strategic Narrative.11. DREZNER, Daniel W. The Challenging Future of Strategic Plan-

    ning, The Fletcher Forum of World Affairs 33/1 (Winter/Spring 2009):

  • armadilha da complexidade

    27Military review Maio-Junho 2013

    p. 13. Dan Drezner defende que o planejamento estratgico para a poltica externa norte-americana est morto ou em via de morrer. Ou, pelo menos, essa a opinio dos principais comentaristas e formu-ladores de polticas nos ltimos anos. Consulte FRIEDBERG, Aaron L. Strengthening U.S. Strategic Planning, The Washington Quarterly 31/1 (Winter 2007): p.47. Friedberg sustenta que o governo norte-americano perdeu a capacidade de conduzir um planejamento estratgico nacio-nal srio e contnuo.

    12. QDR, p. 7.13. CONKLIN, Jeff. Wicked Problems and Social Complexity, in

    Dialogue Mapping: Building Shared Understanding of Wicked Problems (Hoboken, NJ: Wiley, 2006). A ideia de problemas mal estruturados foi introduzida em RITTEL, Horst W.J.; WEBBER, Melvin M. Dilemmas in a General Theory of Planning, Policy Sciences, Vol. 4 (1973), p. 155-169. Cabe observar que esses autores estavam enfatizando que certos pro-blemas no podem ser tratados cientificamente. Evidentemente, no alegamos que a estratgia possa ser abordada cientificamente: tanto arte quanto cincia, alm de ser inevitavelmente provida de valores. Discordamos, porm, com aqueles que invocam a ideia de problemas mal estruturados como desculpa, em primeiro lugar, para evitar uma busca por solues ideais.

    14. MCLAUGHLIN, John. Future Challenges for American Intelligence, 14 ago. 2008, QuickTime Player video file, disponvel em: https://ou-terdnn.outer.jhuapl.edu/VIDEOS/081408/McLaughlin.mpg. Consultar, tambm, MOORE, Charles P. Whats the Matter with being a Strategist (Now)? Parameters 39, no. 4 (Winter 2009-10): p. 5. Evidentemente, enxergar o mundo inteiro pelo prisma sovitico s vezes podia ser to confuso quanto esclarecedor. Consulte LERNER, Mitchell. A Failure of Perception: Lyndon Johnson, North Korean Ideology, and the Pueblo Incident, Diplomatic History 25, no. 1 (Fall 2001): p. 647-675.

    15. NATIONAL SECURITY COUNCIL (NSC) 20/4, U.S. Objectives with Respect to the USSR to Counter Soviet Threats to U.S. Security, Foreign Relations of the United States, Vol. 1 (Washington, D.C.: Government Prin-ting Office, Department of State, 1948), p. 663-669.

    16. WELLS, Samuel F. Jr. Sounding the Tocsin: NSC 68 and the Soviet Threat, International Security 4, no. 2 (Autumn 1979): p. 117.

    17. Task Force A of Project Solarium, Report to the National Security Council: A Course of Action Which the United States Might Presently or in the Future Undertake with Respect to the Soviet Power Bloc Alter-native A, Project Solarium Task Force A Full Report (1), Box 39, Disaster File Series, White House Office National Security Council Staff Papers, Eise-nhower Presidential Library, Abilene, KS, 150.

    18. FLOURNOY, Michele A.; BRIMLEY, Shawn W. Strategic Planning for National Security: A New Project Solarium, Joint Forces Quarterly 41, no. 2 (2006): p. 83. Consultar, tambm, Solarium II: American Grand Strategy, Center for New American Security, disponvel em: http://www.cnas.org/node/576 (acesso em: 16 ago. 2011); EXUM, Andrew. Channe-ling Eisenhower, Abu Muqawama, publicado em 1 dez. 2009, disponvel em: http://www.cnas.org/blogs/abumuqawama/2009/12/channeling--eisenhower.html. Acesso em: 16 ago. 2011.

    19. BOWIE, Robert R.; IMMERMAN, Richard H. Waging Peace: How Eisenhower Shaped an Enduring Cold War Strategy (New York: Oxford University Press, 1997), p. 124-125.

    20. Ibid., p. 4, p. 246, p. 252.21. PRICE, Richard; TANNENWALD, Nina. Norms and Deterrence: The

    Nuclear and Chemical Weapons Taboos, in The Culture of National Se-curity: Norms and Identity in World Politics, ed. Peter Katzenstein (New York: Columbia University Press, 1996), p. 117.

    22. BOWIE; IMMERMAN, Waging Peace, p. 126; WELLS, Sounding the Tocsin, p. 157.

    23. GOODPASTER, Andrew J. Development of a Coherent American Strategy, Parameters 40, no. 4 (Winter 2010-2011): p. 41.

    24. Citao em Ibid., p. 40.25. GADDIS, John Lewis. Strategies of Containment: A Critical Appraisal

    of Postwar American National Security (New York: Oxford University Press, 2005), p. 347.

    26. Ibid., p. 347.27. Ibid., p. 355-359.28. HILLEN, John. What Is Grand Strategy and Do National Security

    Policymakers Know How to Do It? lecture, Duke University, Durham, NC, 10 Sept. 2009.

    29. Para obter mais informaes sobre armadilhas retricas, con-sultar GODDARD, Stacie E. When Right Makes Might: How Prussia Overturned the European Balance of Power, International Security 33, no. 3 (Winter 2008/2009): p. 110-142; WILLIAMS, Michael C. Words, Images, Enemies: Securitization and International Politics, International Studies Quarterly 47, no. 4 (December 2003): p. 511-32.

    30. A verdadeira questo em pauta nossa prpria vontade nossa propenso a dar sria e contnua ateno a essas questes complexas e difceis; nossa flexibilidade para chegar a decises inteligentes; nossa disposio em assumir a responsabilidade, arcar com os custos e fazer os sacrifcios. GOODPASTER, Development of a Coherent American Strategy, p. 47.

    31. OHANLON, Michael. Is Libya Policy Cornerstone of an Oba-ma Doctrine? USA Today, 29 ago. 2011, disponvel em: http://www.usatoday.com/news/opinion/forum/story/2011-08-28/Is-Libya-policy--cornerstone-of-an-Obama-Doctrine/50166404/1?loc=interstitialskip. Acesso em: 31 ago. 2011.

    32. DORAN, Michael Scott. Doran Replies, Foreign Affairs 90, no. 4 (July/August 2011): p. 187. Nesse artigo, Doran ataca o que ele chama de falcia acadmica, em que a necessria simplicidade de conceitos estratgicos confundida com ingenuidade.

    33. BOUSQUET, Antoine; CURTIS, Simon. Beyond Models and Me-taphors: Complexity Theory, Systems Thinking, and International Relations, Cambridge Review of International Affairs 24, No. 1 (March 2011): p. 43-62.

    34. ALTER, Karen J.; MEUNIER, Sophie. The Politics of International Regime Complexity Symposium, Perspectives on Politics 7(1) (March 2009): p. 13.

    35. Ibid., p. 15.36. POWERS, William. Hamlets Blackberry: A Practical Philosophy for

    Building a Good Life in the Digital Age (New York: HarperCollins, 2010).37. NYE JR., Joseph S. The Future of American Power, Foreign Af-

    fairs (November/December 2010), p. 4, disponvel em: http://www.foreignaffairs.com/articles/66796/joseph-s-nye-jr/the-future-of-ame-rican-power. Acesso em: 16 ago. 2011.

    38. FOUCAULT, Michel. Discipline and Punish: The Birth of the Prison (New York: Vintage Books, 1977), p. 201.

    39. Ibid., p. 201.40. Com base em ideias do campo da psicologia poltica, acadmicos

    constatam que a complexidade leva a um processamento seletivo de informaes e a uma dependncia de relaes e heursticas, a fim de lidar com uma enorme quantidade de informaes. Essa dependncia afeta a poltica, porque o que representa a escolha racional bem me-nos evidente e porque os horizontes cronolgicos dos polticos podem estar fora de sintonia com o tempo necessrio para que relaes de causa-efeito fiquem claras. ALTER; MEUNIER. The Politics of Interna-tional Regime, p. 17. Consultar, tambm, DREZNER, Daniel W. Does Obama Have a Grand Strategy?: Why We Need Doctrines in Uncertain Times, Foreign Affairs 90, no. 4 (July/August 2011): p. 57-68. Drezner faz a observao relacionada de que grandes estratgias importam em pocas de radical incerteza em assuntos internacionais, porque podem funcionar como faris cognitivos, guiando os pases rumo segurana. Ele defende que a atual era de radical incerteza em funo de (1) uma desordem mundial macia e (2) uma transio de poder.

    41. ALTER; MEUNIER. The Politics of International Regime, p. 15-16.42. DREZNER, Daniel W. The Power and Peril of International Regime

    Complexity, Perspectives on Politics 7, no. 1 (March 2009): p. 65-70.