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A APLICAÇÃO DE CONCEITOS DA FILOSOFIA LEAN DE CONSUMO AO SISTEMA DE APRENDIZADO PRÉ-VESTIBULAR João Gabriel Soares Puppin Thiago Clemente Vasconcellos Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Eduardo Galvão Moura Jardim, PhD. Rio de Janeiro Março de 2018

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A APLICAÇÃO DE CONCEITOS DA FILOSOFIA LEAN DE

CONSUMO AO SISTEMA DE APRENDIZADO PRÉ-VESTIBULAR

João Gabriel Soares Puppin

Thiago Clemente Vasconcellos

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia de Produção da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Eduardo Galvão Moura Jardim, PhD.

Rio de Janeiro

Março de 2018

ii

COLOCAR A FOLHA DE APROVAÇÃO IMPRESSA A

PARTE AQUI

(ELA NÃO PODE TER NUMERAÇÃO DE PÁGINA)

iii

Puppin, João Gabriel Soares

Vasconcellos, Thiago Clemente

A aplicação de conceitos da filosofia Lean de consumo ao

sistema de aprendizado pré-vestibular / João Gabriel Soares

Puppin, Thiago Clemente Vasconcellos – Rio de Janeiro:

UFRJ/ESCOLA POLITÉCNICA, 2018.

XI, 44 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Eduardo Galvão Moura Jardim

Projeto de Graduação – UFRJ/ POLI/ Engenharia do

Produção, 2018.

Referências Bibliográficas: p. 44.

1. Educação 2. Lean Manufacturing 3. Curso pré-vestibular

4. Consumo 5. Andragogia. I. Eduardo Galvão Moura Jardim.

II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica,

Curso de Engenharia de Produção. III. A aplicação de

conceitos da filosofia Lean de consumo ao sistema de

aprendizado pré-vestibular.

iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos aqueles que me ajudaram, de alguma forma, a concluir mais

essa etapa. Não foi fácil, e sem a ajuda de todos não seria possível. Primeiramente,

agradeço a Deus. Sem Ele, nada é possível e sou grato por ter colocado pessoas

maravilhosas perto de mim.

Ao meu pai Ronaldo, que sempre fez seu máximo para oferecer as melhores

oportunidades, e por passar tantos valores importantes, como integridade, honestidade, a

vontade de ser cada vez melhor e nunca aceitar que obstáculos me impeçam de alcançar

meus objetivos.

À minha mãe Flavia, que sempre me deu carinho e amor e, de onde estiver, ainda

zela por mim e ilumina meus caminhos.

Às minhas irmãs Mariana e Natalia, que sempre estiveram próximas e são

exemplos para mim. Me enchem de orgulho e me inspiram a buscar ser todo dia alguém

melhor.

À minha namorada Julia, por me apoiar em diversos momentos.

A todos os meus amigos que estiveram ao meu lado desde criança e de diversas

formas me apoiaram nesse caminho. Em especial ao meu melhor amigo Renan. Sem ele

não estaria formado.

À professora Maria Alice, por sempre ser alguém que tentou apontar os caminhos

aos alunos e ajuda-los com o que precisassem na faculdade.

Finalmente, a todos que não estiveram explicitamente aqui descritos, mas que, de

alguma forma, me ajudaram a chegar aonde cheguei.

João Gabriel Soares Puppin

v

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a toda minha família e amigos por terem me dado suporte

em todos os momentos dessa longa jornada. Houve momentos difíceis, e sem vocês não

teria sido possível.

Agradeço, também, à minha dupla nesse projeto, João Gabriel. Sem ele, não

teria sido possível concluir mais essa etapa.

Por último, a todos os docentes que, de alguma forma, contribuíram para a

minha formação.

Thiago Clemente Vasconcellos

vi

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção.

A aplicação de conceitos da filosofia Lean de consumo ao sistema de aprendizado pré-

vestibular

João Gabriel Soares Puppin

Thiago Clemente Vasconcellos

Março/2018

Orientador: Eduardo Galvão Moura Jardim

Curso: Engenheiro de Produção

Os tempos mudaram, e a tecnologia avançou. Diante dessas mudanças, a sociedade

também mudou, e a geração Z, bem como a vindoura, está em evidência. Seus padrões de

comportamento e suas necessidades são diferentes e o mundo dos serviços tenta se adaptar

a elas. Diante dessa realidade, os sistemas tradicionais de ensino devem também se

preparar para essas mudanças. Com isso em mente, o presente trabalho analisa a situação

de um curso pré-vestibular, sua metodologia e seus processos. Nesse contexto, esse

estudo busca na Filosofia Lean, no seu viés orientado para o consumo, uma diretriz que

indique quais mudanças são necessárias para atender as atuais e futuras demandas dos

alunos. Após estudos e análise, chegou-se a soluções amparadas pelas teorias de produção

enxuta, sob a ótica do que é valor para o consumidor, aumentando para 75% de tempo

gerando valor. Com a aplicação da tecnologia que permite captar e cruzar dados, além de

eliminar os desperdícios, pode-se conhecer melhor e engajar o aluno, que é o foco do

processo de consumo.

Palavras chave: Educação, Lean Manufacturing, Curso pré-vestibular, Consumo,

Andragogia.

vii

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Engineer.

The application of consumption oriented Lean philosophy concepts to a pre-college

system

João Gabriel Soares Puppin

Thiago Clemente Vasconcellos

March/2018

Advisor: Eduardo Galvão Moura Jardim

Course: Production Engineering

Times have changed, and technology has advanced. Facing these changes, society has

also changed, Z generation, as well as the forthcoming ones, is in evidence. Its behaviour

patterns and their needs are different and the service industry tries to adapt itself to them.

Facing this reality, traditional education systems must also be prepared for these changes.

Bearing this in mind, the present study analyses the situation of a pre-college course, its

methodology and processes. In this context, this study seeks in Lean Philosophy for

consumption, a guideline that would indicate which changes are necessary to attend the

current and upcoming students needs. After studies and analysis, some solutions

supported by Lean production were found out, under the optics of what is value for the

consumer, and the time generating value was increased to 75%. By technology

application which allows Data capture and crossing, besides waste elimination, it is

possible better knowledge and engage the student, who is the focus of this consumption

process.

Key words: Education, Lean Manufacturing, Pre-college course, Consumption,

Andragogy

viii

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 1

2. LIMITAÇÕES DO ESTUDO 5

3. ABORDAGEM DO ESTUDO 6

4. REFERENCIAL TEÓRICO 7

4.1. Processo de ensino 7

4.2. Lean Manufacturing 8

4.3. Consumo Lean 9

4.4. O que é valor? 11

4.5. O que é desperdício? 11

4.6. O que é qualidade? 12

4.7. Princípios de Andragogia 12

5. SITUAÇÃO ATUAL DO PRÉ – VESTIBULAR 14

5.1. O dia-a-dia do estudante 14

5.2. Análise da situação 16

5.3. Visão Lean do Processo 20

6. ABORDAGEM LEAN PROPOSTA 23

6.1. Soluções Lean para o processo 23

6.2. Introdução da tecnologia à solução 28

6.3. O sistema ideal 30

6.4. Resultados esperados

6.5. Introduzindo a andragogia à solução

32

35

7. ANÁLISE COMPARATIVA DOS RESULTADOS 38

7.1. Comparação dos resultados as is e should be 38

7.2.Gestão de indicadores 39

8. CONCLUSÃO 43

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 45

ix

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Ciclo Lean 9

Figura 2 - Mapa de consumo “as is” 19

Figura 3 - Proporção valor x desperdício “as is”. 20

Figura 4 - Mapa de consumo “should be”. 34

Figura 5 - Proporção valor x desperdício “should be”. 35

Figura 6 - Diagrama ciclo PDCA. 40

Figura 7 - Diagrama PDCA aplicado ao case do Curso. 41

x

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Tabela de tempos por etapa “as is”. 18

Tabela 2 - Grade horária do curso “as is”. 24

Tabela 3 - Grade horária do curso “should be”. 25

Tabela 4 - Tempos por etapa “should be”. 33

Tabela 5 - Comparação por etapa “as is” x “should be”. 38

xi

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Resumo de tempos do processo “as is”. 20

Quadro 2 - Princípios Lean x Solução. 32

Quadro 3 - Resumo de tempos do processo “should be”. 35

Quadro 4 - Resumo da comparação “as is” x “should be”. 38

1

1. INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, o mundo vem sofrendo várias transformações. Como

apontado por Volpato e Iglesias (2014), é provável que nosso tempo fique marcado na

história como o período da aceleração do desenvolvimento tecnológico, tal qual as

décadas anteriores ficaram marcadas pela evolução do ferro e da eletricidade. Com a

revolução tecnológica, diversos novos negócios vêm sendo criados e outros se

transformado. Somado a isso, a humanidade vive uma das épocas de maior prosperidade

em sua existência: não há grandes epidemias, temos uma grande longevidade e não há

grandes guerras; temos meios de comunicação extremamente eficientes e eficazes,

tecnologia de ponta que nos auxilia em toda sorte de problemas e nos permite ter todo

tipo de informação à qualquer momento e em qualquer lugar. Segundo Volpato e Iglesias

(2014), vivemos na sociedade da informação, e como consequência, novos

comportamentos dentro dos setores sociais estão surgindo, causando até mesmo

mudanças de cultura. Pode-se sintetizar boa parte dessa nova sociedade em uma

expressão: geração Z.

A geração Z, também chamada iGeneration, é um conceito em Sociologia que se

refere à corte dos nascidos após 1995 e até meados da década de 2010, sendo sucedida

pela geração Alpha. Essa geração desenvolveu-se numa época de grandes avanços

tecnológicos e prosperidade econômica, facilidade material, e efetivamente, em ambiente

altamente tecnológico, imediatamente após a instauração do domínio da virtualidade

como sistema de interação social e midiática, e em parte, no nível das relações de trabalho.

A geração Z cresceu rodeada de facilidades oferecidas por seus pais, que

obviamente queriam dar uma vida melhor do que aquela que tiveram, para seus filhos. Se

a geração Y (geração anterior, nascida na década de 80) viu a tecnologia crescer, foi a vez

da tecnologia ver a geração Z nascer e os acompanhar desde pequenos. De acordo com

Toledo (2012), jovens desta geração têm como hábito ser tão multitarefas, podendo ao

mesmo tempo trabalhar em mais de um projeto, responder e-mails, acompanhar as

notícias através de algum site, conversar com os colegas, conversar com os amigos online,

ouvir música e dar atenção às redes sociais. Eles foram acostumados a conseguir o que

querem, quando e onde querem (imediatistas), são dinâmicos e inovadores. Trata-se da

primeira geração verdadeiramente globalizada, que cresceu com a tecnologia e a internet

e as usa desde a primeira infância. De forma resumida, nota-se pessoas que têm pressa e

2

facilidade para obter informações, com pouco foco, extremamente ativas e, até certo

ponto egocêntricas.

Diante desse cenário, discute-se muito sobre como adaptar, ou mesmo criar,

serviços para essa geração de novos consumidores. Um dos serviços que passa por forte

questionamento é a educação. Em diversos aspectos, o modelo tradicional visto hoje vem

sofrendo críticas. Não à toa, vemos todos os dias notícias sobre novidades tecnológicas

nas salas de aula; sessões parlamentares com novas propostas de grades e metodologias;

novas redes de escolas ou cursos com ofertas de melhores resultados.

Nos últimos anos, têm surgido inúmeros novos colégios e tipos de negócio

voltados para o ensino, desde cursos pré-vestibular até novas redes com metodologias

modernas de aprendizado.

É nesse contexto em que esse trabalho visa propor possíveis soluções de

metodologias para indivíduos dessa geração.

Desde crianças, aprendemos que deve-se estudar para ser bem-sucedido. Ainda

nessa linha, somos estimulados a estudar sempre mais e mais a fim de obter

conhecimento. Outras atividades de lazer, ou simplesmente não relacionadas aos livros e

provas, são consideradas desperdício de tempo no processo de aprendizado. Será,

portanto, que todo o processo de ensino e desenvolvimento intelectual reside no ato de

estudar?

Como apontado por Costa (2008), o lazer também tem uma forte contribuição na

formação sócio-política do cidadão, além de contribuir para o processo de aprendizado.

Na visão do autor, atividades de lazer podem desenvolver o indivíduo tanto individual

como socialmente, gerando condições para garantir o bem-estar e satisfação de aspirações

de ordem particular, familiar, cultural e comunitária. Não por acaso, são parte da vida

escolar de jovens momentos de diversão e descontração - o horário do recreio, atividades

lúdicas para crianças, ou mesmo jogos no ensino de algumas matérias (jogo da cerveja,

por exemplo).

Além do lazer, há também outros aspectos importantes a serem alcançados no

tempo livre, os quais não estão presentes no momento do livro e resolução de exercícios,

e que inclusive são cobrados do estudante. Como em qualquer sistema, as técnicas de

gestão visam sempre um objetivo. Há métricas no sistema educacional, indicadores de

desempenho que apontam para a eficácia das instituições de ensino no cumprimento desse

objetivo. Olhando hoje para o cenário brasileiro e seu sistema sócio-educacional, a

ferramenta de medição para o sucesso de uma organização de ensino básico é a avaliação

3

por meio de provas, e o indicador do desempenho a nota obtida. Mais especificamente

para o Brasil, observando o ensino básico temos claro um objetivo final: ingresso de seus

clientes (alunos) em universidades de primeira linha. Portanto, a principal métrica do

sucesso de uma instituição de ensino é quantos de seus estudantes entram para boas

faculdades. Dessa forma, o objetivo final de uma escola ou curso, no Brasil, é obter boas

notas no vestibular.

O vestibular em nosso país é uma série de provas, cujas notas qualificam e

ranqueiam os estudantes para cursar o ensino superior. Dentre todas, nos últimos anos

vem se destacando o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Criado em 1998, trata-

se de um exame originalmente para medir a efetividade do ensino no país aplicado

anualmente. A partir de 2009, essa avaliação passou a ter maior peso, pois tornou-se a

porta de entrada para quase todas as universidades de ponta do país. Entre as

competências exigidas para obter êxito estão interpretação de obras literárias e artísticas,

conhecimentos de atualidades, além de produção textual (redação). O desempenho nesses

componentes tem influência direta do tempo livre do aluno. Espera-se do avaliado que

ele traga elementos intertextuais e conhecimentos gerais para a prova. A fonte desses

conteúdos muitas vezes são filmes, obras literárias, teatro ou outras experiências de

entretenimento. Portanto, é de extrema importância para o desempenho final do aluno que

ele tenha tempo livre para divertir-se, mas também de ter experiências culturais.

É possível concluir, após o exposto até o momento, o quão fundamental é o

momento distante dos livros e exercícios para o melhor cumprimento do objetivo final de

aprendizado e das organizações educacionais. No entanto, observando o quadro geral dos

estudantes, hoje em dia, será que é praticada a melhor conciliação desses dois momentos?

A realidade é que não. A maioria dos jovens foca seu tempo em estudar, deixando

de lado todo o resto. Desde que cumpram algumas horas diárias de estudo, se dão por

satisfeitos e têm a impressão de estarem fazendo o melhor para seus objetivos. Não há

uma organização, nem processos pensados para otimização do tempo. Dessa forma, falta

tempo para estudar o suficiente, ou mesmo ter momentos de lazer. Diante das 24h horas

disponíveis diariamente, há o questionamento de como fazer melhor uso do tempo. Se

perguntarmos aos jovens dessa geração Z, certamente todos querem fazer um número

grande de atividades, mas não encontram tempo para tudo. Não fazem, porém, a análise

das suas atividades para entender e aumentar a parte do seu dia que é valor para eles.

Ao encarar esse paradigma, parece propício pensar na abordagem Lean às

atividades dos jovens. O sistema Lean dá um novo enfoque ao uso dos recursos. A

4

necessidade verdadeira de recursos é a necessidade real, natural, aquela resultante de

atividades que agregam valor. Todas as outras necessidades, oriundas de atividades que

não agregam valor, são na verdade desperdícios (WOMACK, JONES E ROOS, 1992).

Desse ponto de vista, pode-se questionar se, de fato, todas as atividades exercidas pelos

estudantes são de fato valor e se há planejamento e sistemas para execução majoritária de

atividades que gerem valor.

Será considerada, então, a hipótese de que há, hoje, um grande desperdício no

processo de ensino do curso pré-vestibular, e que ele pode ser reduzido, se usada a

abordagem Lean, de forma a adaptar o modelo atual aos jovens dessa geração.

Portanto, o projeto terá como objetivo aumentar o tempo livre dos alunos que estão

fazendo vestibular, eliminando os desperdícios através da aplicação da abordagem Lean

ao processo de aprendizado. Será estudada, também, a possibilidade de mudar a

abordagem pedagógica e forma de prestação de serviços do campo da educação, de forma

a torna-la mais personalizada e adaptada às necessidades particulares de cada indivíduo

dessa nova geração Z.

Ao final do trabalho, espera-se que seja desenvolvida uma proposta de modelo

que se adeque ao novo público alvo, e mais enxuto, que possa ser replicado em outros

ambientes estudantis.

5

2. LIMITAÇÕES DO ESTUDO

O presente estudo se limitará a proposição de possíveis soluções para o processo

de ensino. Não irá, contudo, fazer protótipos nem simulações práticas do desenvolvido

no mesmo.

Além disso, o estudo não se aprofundará as singularidades de cada um dos

indivíduos do curso estudado, tampouco as peculiaridades inerentes a cada uma das

disciplinas ministradas no pré-vestibular.

Não serão abordadas também questões sobre a formação dos alunos enquanto

cidadãos. Por se tratar de um pré-vestibular, os alunos fazem o curso pensando apenas em

adquirir conhecimento para os exames de ingresso das universidades e não na formação

integral.

6

3. ABORDAGEM DO ESTUDO

O estudo será baseado na vivência em um curso pré-vestibular real.

Primeiramente, será feita uma descrição do ambiente, a fim de contextualizar a

realidade do sistema que estamos estudando. Essa descrição contará sobre o dia-a-dia dos

alunos e sua utilização do curso. Levantaremos, também, os tempos utilizados para

realização de suas atividades.

Em seguida, será feita uma análise desses gastos, buscando entender as origens

dos desperdícios, para então questiona-los.

A próxima etapa consistirá na criação de soluções que visam reduzir os

desperdícios de tempo eventualmente encontrados. Após identificar formas de fazer a

redução, serão buscadas ferramentas para tentar tornar essas soluções factíveis e

explicando seu funcionamento aplicado ao problema, para depois validar as ideias sob a

ótica Lean.

A etapa seguinte é a comparação da situação atual (“as is”) com o senário de

solução proposto (“should be”).

Por fim, será introduzida a Andragogia à solução desenhada, seguida de uma

proposta de como fazer a gestão de indicadores gerados pelo processo de formação e a

conclusão.

É importante salientar:

O estudo é baseado em grande parte no know how sobre o curso de pré-

vestibular e a rotina estudantil de quem o frequenta;

O curso pré-vestibular tem um objetivo muito claro – aprovar pessoas no

vestibular. Por conta disso, há peculiaridades no negócio inerentes ao foco

nesses exames que diferem o ensino no ambiente estudado, de escolas

tradicionais, as quais visam formação integral do aluno.

7

4. REFERENCIAL TEÓRICO

4.1. PROCESSO DE ENSINO

Muitas pessoas aprendem sem se preocupar verdadeiramente com o processo de

aprendizado em si. Dos muitos estudos que já foram feitos no campo da ciência do ensino,

pode-se distinguir de forma genérica, segundo Moreira (1999), três abordagens: a

comportamentalista, a cognitivista e a humanística.

Essa última considera, fundamentalmente, o aluno enquanto pessoa. Ele é livre

para escolher e sua autorrealização é o grande objetivo e o ensino deve facilitar isso,

juntamente com o crescimento individual. De acordo com Santos (2006), nela a

autorrealização do aprendiz deve ser priorizada como base fundamental da aprendizagem,

de forma que haja uma valorização tanto do aspecto cognitivo, quanto do motor e do

afetivo. Sua diferença para as outras é o não foco nos estímulos e nem na cognição.

De acordo com Moreira (1999), a linha cognitivista dá ênfase ao processo da

cognição, pelo qual o mundo de significados tem origem. Ao longo do aprendizado do

aluno, o mesmo estabelece relações de significação, atribuindo significados à realidade

por ele vivenciada. Em outras palavras, essa corrente empodera o aluno como mais do

que um receptáculo de informações. O cognitivista propõe que o processo de aprendizado

está além de receber dados e memoriza-los, mas na capacidade de fazer relações das

informações recebidas com o mundo em que vive. Para Santos (2006), os significados

não são entidades estáticas. Eles são pontos de partida para a atribuição de outras

significações, as quais possibilitam o desenvolvimento da estrutura cognitiva sendo as

primeiras equivalências que o indivíduo usa como ponte para a aquisição de novos

significados.

Por último, a linha comportamentalista considera, segundo Moreira (1942), o

aprendiz como um ser que responde a estímulos que a ele são apresentados. Desconsidera

aspectos internos da mente do indivíduo, focando apenas no comportamento observável.

Ela tem forte influência do Positivismo, se atendo ao caráter científico de mensuração e

possibilidade de observação. Como consequência, ela se atém a fenômenos de estímulo e

resposta. Dessa forma, estuda-se o processo de aprendizado do humano como produto de

associações estabelecidas por estímulos, e refletidas em comportamentos.

Grande pensador behaviourista, Skinner (1974) aprofunda que o ser humano age

por comportamentos reflexos e operantes. Os reflexos involuntários e os operantes

8

conscientes. Ele propõe também a ideia de reforços, que são uma forma de condicionar

as respostas aos estímulos numa direção. Ou seja, dada uma sequência de reforços ao

aprendiz, é possível esperar dele que para determinada situação que lhe apareça, ela vá

seguir determinado curso de ação em resposta a esse estímulo. Trazendo para a educação,

e mais especificamente no vestibular, há uma proposta de preparar o estudante com

reforços, para que suas respostas a questões estejam já direcionadas, ou que seu raciocínio

siga por determinado caminho, a fim de solucionar algum problema.

Analisando essas linhas, cabe ressaltar que o estudo conduzido nesse trabalho será

feito considerando uma linha comportamentalista, por ser a mais próxima da realidade

objetiva da educação em nosso país. Isso, porque nossos exames que medem o

aprendizado ao longo do ensino escolar têm forte caráter behaviourista, com acúmulo de

informação e memorização. Sendo assim, todas as análises e soluções propostas terão

como base essa linha de pensamento do aprendizado.

4.2. LEAN MANUFACTURING

O pensamento Lean vem da década de 40, período de reconstrução do Japão pós-

guerra, criado por Taiichi Ohno e seus pares, e enraizado no sistema Toyota de produção.

Aplicado, no princípio, apenas na manufatura de automóveis, foi mais tarde introduzido

em diversas outras áreas e atividades industriais e econômicas. Setores que não têm nada

a ver com o de carros se beneficiaram dos avanços no Lean Manufacturing. A base dessa

filosofia de gestão é o objetivo de eliminação do desperdício e criação de valor. Esses

desperdícios podem ser de qualquer natureza, seja tempo ou custos, por exemplo.

Segundo Womack e Jones (1996), podemos separar o pensamento Lean em 5

princípios (Figura 1):

Especificar o valor desejado pelo consumidor - a organização deve criar valor

para todos os stakeholders;

Identificar a cadeia de valor para cada produto, questionando toda etapa

atualmente necessária para produzi-lo;

Estabelecer o fluxo do produto continuamente através apenas das etapas

subsequentes que agreguem valor. Tentar balancear o fluxo para evitar excessos e

desperdícios;

9

Induzir a produção puxada entre etapas em que o fluxo contínuo é possível -

deixar que o cliente lidere os processos, sendo ele a desencadear os pedidos, e não a

empresa a empurra-los;

Objetivar a perfeição, de forma que o número de etapas e a quantidade de

tempo e informação necessários para servir o consumidor continue sempre a diminuir.

Figura 1 Ciclo Lean (fonte: www.Lean.org)

4.3. CONSUMO LEAN

Como dito anteriormente, a filosofia Lean foi além da indústria automotiva. Pode-

se então pensar nela para diversos tipos de processos, inclusive os de consumo.

O ensino pré-vestibular pode ser tratado como um processo de consumo, afinal,

alunos interessados em ingressar na faculdade estão dispostos a pagar por um curso, a fim

de se prepararem para o exame. Deve ser feita uma observação simples: o consumo é um

processo contínuo - um conjunto de ações ao longo de um período, que visam resolver

um problema. Envolve, essencialmente, busca, obtenção, instalação, manutenção e

reparos. Isso toma tempo, esforço, e, invariavelmente, incômodo ao consumidor. Pode-

se assumir, portanto, que as pessoas consomem para resolver seus problemas - desde

pequenos como encontrar e usar um software para seu trabalho, até diagnosticar e tratar

uma doença no sistema de saúde. Portanto, os atos de consumo não estão focados

necessariamente nos bens e serviços em si, mas na resolução total do problema. Uma

10

solução parcial - um software que só atenda parte do trabalho, ou uma medicação que

apenas reduza os sintomas - não é solução.

Além disso, todos gostariam de ter seus problemas resolvidos de forma a não

serem muito onerados, no que diz respeito ao custo, com gastos mínimos de tempo,

esforço e recursos. Com o avanço da tecnologia e os padrões de vida crescem, o principal

recurso que falta é o tempo. Portanto, economizar tempo e energia pessoais para usos de

maior valor se torna um objetivo extremamente importante.

Em terceiro lugar, os consumidores querem obter exatamente aquilo que precisam

para resolver seus problemas, inclusive bens e serviços na especificação exata requerida.

Não querem ter que fazer substituições, reparos e acertos.

Também querem resolver esses problemas onde precisarem. Há uma mudança no

comportamento do consumidor. Se antes havia uma tendência a serviços pessoais, os

quais eram empurrados para o cliente, hoje vive-se uma era mais de autosserviço. Os

interessados vão diretamente ao produtor ou à loja, sem, muitas vezes, um intermediário.

Mais do que isso, querem ter a resolução dos problemas quando precisam deles

resolvidos. Hoje, o produtor conhece muito pouco o consumidor. Os sistemas de provisão

envolvem tipicamente estranhos encomendando bens e serviços de desconhecidos. Não é

surpresa, portanto, que o consumidor não avise com antecedência que fará um pedido ao

fornecedor. É importante salientar que na metodologia Lean, a noção de “quando”

significa produtos muito diferentes na visão do cliente final. Esse descompasso e

desconhecimento acaba por gerar filas e esperas desnecessárias e incômodas.

Por último, muitas pessoas gostariam de reduzir o número total de problemas que

precisam resolver. A maneira óbvia é empacota-los. Elas adorariam um “provedor de

soluções”. Por exemplo, um provedor que colocasse em suas geladeiras todos os

alimentos que querem, quando querem, sem que tenham que pedir; ou algo que possa

gerenciar as contas e o consumo do lar, de forma econômica, sem que tenham que pensar

nisso. Portanto, transferir a unidade fundamental do consumo de muitos itens individuais

para poucas soluções agregadas seria um grande salto.

Em síntese, a definição de valor para o consumidor hoje em dia passa

necessariamente por esses seis princípios:

Resolver o problema completamente;

Não desperdiçar meu tempo e minimizar o custo total do consumo, que é o

preço pago a mais pelo incômodo e para evitar espera;

Fornecer exatamente aquilo que é preciso;

11

Entregar valor onde querem;

Proporcionar valor quando querem;

Reduzir o número de decisões que precisam ser tomadas para resolver os

problemas.

4.4. O QUE É VALOR?

Valor é um conceito, até certo ponto, abstrato. Quando pensado o seu significado,

pode-se definir como a compensação que se recebe em troca pelo que é pago ou gasto.

Segundo Pinto (2010), mais do que algo obtido por uma troca, o valor é “tudo

aquilo que justifica atenção, o tempo e o esforço que dedicamos a algo”.

Para Womack e Jones (1996), trata-se da capacidade oferecida a um cliente

quando ele quer, por um preço justo, conforme definição do cliente. Além disso, o fluxo

de valor é o conjunto de atividades específicas necessárias para projetar, produzir e

oferecer determinado produto, da concepção do lançamento, do pedido à entrega. É ainda

importante apontar que o valor é especificado pelo cliente final.

Para a realidade desse trabalho, será assumido que, para o aluno, valor é todo o

tempo gasto em atividades que agregam conhecimento para ele; no momento de lazer

dele, qualquer atividade que gere prazer.

4.5. O QUE É DESPERDÍCIO?

Há enorme competição nos dias de hoje. Num mercado onde produtos são

extremamente similares, é razoável presumir que a relação entre valor gerado ao cliente

e o quanto elas pedem em troca é um fator decisivo nessa disputa. Portanto, é provável

que o vencedor seja aquele que ofereça maior valor, pelo mínimo possível em troca.

Para Womack e Jones (2006), desperdício é tudo aquilo que não agrega valor ao

cliente. Qualquer ação, recurso ou processo o qual o cliente não perceba ou sinta que é

importante pode assim ser classificado. Deslocamentos, inspeções e controles,

verificações e controles, consertos e esperas são indesejáveis.

Desperdício, nesse trabalho, é todo o tempo em que o aprendiz estudar algo que

já assimilou, ou ficar sem estudar (dentro do período dedicado aos estudos).

12

4.6. O QUE É QUALIDADE?

Um conceito que anda intrinsecamente atrelado ao modelo Lean de produção é a

qualidade. Uma definição genérica dela pode ser o grau de utilidade que um bem ou um

serviço tem e pode ser mensurado. Para James Tebaul (1991), a qualidade é antes de tudo

a conformidade às especificações. É também a resposta ajustada à utilização de um

serviço ou produto, na hora de selecioná-los e no longo prazo.

Seguindo essa definição, como pode-se definir a qualidade, no processo de ensino

do caso estudado? Primeiramente, é possível ater-se ao conteúdo programático de um

aluno vestibulando. Portanto, toda a grade curricular para o vestibular deve ser

contemplada no curso. Dito isso, a segunda dimensão é o atendimento às expectativas do

cliente. Nesse ponto, há dois clientes considerados: pais e estudantes. Ambos convergem

num interesse em comum: a aprovação nos concursos. Esse aspecto é, contudo, uma

limitação do trabalho. Como não será observado ao final do ano para observação dos

resultados, não será considerado isso. Além disso, os pais, que são quem paga, esperam

ver os filhos estudando e tendo acompanhamento. Para a proposta feita, qualidade é

também o tempo que o aluno ganha para realizar outras atividades fora do curso, sem que

seja prejudicado por perda de tempo estudando.

Então, a qualidade será tratada como o cumprimento da grade curricular, a

mensuração (com consequente progresso) do quanto os alunos estão se desenvolvendo e

o quanto de tempo é poupado em relação ao modelo atual.

4.7. PRINCÍPIOS DE ANDRAGOGIA

A Andragogia, segundo Malcolm Knowles (1970), é a arte ou ciência de orientar

adultos a aprender. Para uma melhor compreensão, a andragogia está para os adultos

assim como a pedagogia está para as crianças. É um conceito ainda pouco difundido, mas

muito importante para a educação de adultos pois está pautada nos seguintes princípios:

Necessidade de saber: Os adultos precisam saber qual a vantagem em

aprender a informação que está sendo passada para eles e qual a sua necessidade, ou seja,

o que eles ganharão com o processo.

13

Autoconceito do aprendiz: Os adultos não gostam de ter as decisões impostas

a eles pois se sentem responsáveis por suas vidas e decisões e por isso precisam ser

tratados como seres capazes de realizar suas próprias escolhas.

Papel das experiências: Por já serem mais “vividos”, os adultos já possuem

experiências prévias e essas não devem ser ignoradas no processo de aprendizagem, pelo

contrário, devem ser a base do mesmo.

Prontidão para aprender: Enquanto crianças estão dispostas a aprender a

informação que é exposta a elas, adultos se tornam mais dispostos quando o conteúdo a

ser assimilado pode ser útil em seu dia a dia. Se o conhecimento parece capaz de ajudá-

los na solução de problemas do cotidiano, o aluno se mostra mais interessado em

aprender.

Orientação para aprendizagem: Os adultos aprendem melhor quando a

aprendizagem é orientada para os fatos, aplicabilidade e resultados.

Motivação: Os fatores motivacionais são extremamente importantes para o

processo de aprendizagem dos adultos. Satisfação, autoestima, qualidade de vida e afins

são essenciais para o processo.

O objeto do estudo é um curso pré-vestibular e ainda que os alunos não sejam

adultos propriamente ditos, eles estão no final da adolescência, ou seja, uma fase de

transição. Sendo assim, a pedagogia não se mostra eficaz sozinha e o ideal seria um misto

entre a Andragogia e a Pedagogia. A utilização de alguns princípios citados acima

ajudaria no processo de aprendizagem já que o aluno está se tornando adulto e mesmo

que inconscientemente questionando alguns princípios da Pedagogia.

14

5. SITUAÇÃO ATUAL DO PRÉ – VESTIBULAR

5.1. O DIA-A-DIA DO ESTUDANTE

Na realização do estudo, será feita a análise do processo de aprendizagem semanal

de um aluno de pré-vestibular. Para isso, o projeto será baseado no know how para mapear

o processo como é feito hoje em dia nos principais cursos do Rio de Janeiro, além de

visitas aos mesmos. A partir desse estudo, será montado um mapa ideal eliminando ao

máximo os desperdícios usando conceitos de Lean e Andragogia.

O curso foca em indivíduos que estudam apenas no pré-vestibular. Ou seja, já com

ensino médio completo e, portanto, dedicação exclusiva aos estudos para ingressar na

faculdade. São em geral alunos de classe média-alta e alta.

Atualmente, o dia do aluno se divide em 3 partes: primeiramente o aluno tem aula

de 2 disciplinas por dia, duas horas e meia de cada disciplina. Ao final da semana o aluno

totaliza 10 disciplinas divididas da seguinte forma: Biologia 1, Biologia 2, Física,

Geografia, História, Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, Matemática 1, Matemática

2, Química, Redação e Interpretação de Textos. Em um dos dias da semana, os alunos

que optarem por ter aulas de Língua Estrangeira (Inglês ou Espanhol) têm 1 aula extra de

1 hora dessa disciplina.

Após as aulas, o aluno vai para casa e resolve listas de exercícios das disciplinas

cujas aulas ele teve naquele mesmo dia. Depois da resolução dos exercícios o aluno

confere o gabarito para poder abrir nas discrepâncias.

Depois de descobrir os pontos das disciplinas que ficou com dificuldades, o aluno

retorna ao curso para tirar suas dúvidas na monitoria, que funciona da seguinte maneira:

em uma sala, os monitores ficam sentados aguardando a chegada dos alunos com dúvidas

(a quantidade de monitores por disciplina depende da demanda de dúvidas da mesma). O

aluno pode tirar quantas dúvidas forem necessárias, mas muitas vezes existe uma espécie

de fila de espera devido à grande procura.

Em linhas gerais, essas são as macro etapas. Para fazer melhores considerações

sobre a situação do processo contínuo, conduziu-se o estudo no Gemba, como um dos

princípios da metodologia Lean. A maioria dos alunos tem 18 anos recém completados,

e não tem carro. Portanto, depende do transporte público para chegar ao curso, ou vai

andando. Levantando o tempo que um grupo de alunos levava para chegar ao pré-

15

vestibular, tomamos uma média de aproximadamente 30 minutos. O mesmo tempo pode

ser considerado para a volta.

Em seguida, chegando ao curso, ele entra na aula. As aulas são expositivas, e

durante as 2 horas e meia o professor introduz e explica um tema. Eles são separados em

módulos e cada professor tem autonomia para fazer a divisão dos módulos segundo o seu

entendimento. Cada aula tem essencialmente uma parte de explicação, que é a maior, e

execução de alguns exercícios exemplos, para apontar a aplicação da teoria apresentada.

A quantidade de questões feitas em sala variam de um professor para outro, até porque

cada disciplina tem características próprias, que favorecem a prática de exercícios em sala

ou não. Não há, portanto, um padrão de tempo gasto em cada. De forma majoritária, os

alunos têm um papel mais passivo do que ativo nessa etapa, pois são, fundamentalmente

ouvintes. Atualmente, cerca de 45 minutos de cada aula são desperdiçados com a

metodologia utilizada na grande maioria dos cursos existentes no Brasil. No formato atual

o professor precisa, ao entrar em classe, montar o quadro com a matéria que será dada, o

que envolve escrever uma lousa inteira cerca de 3 ou 4 vezes, demandando pelo menos

45 minutos para a escrita e a cópia por parte dos alunos. Entra as duas aulas, há um

intervalo de 30 minutos para que todos descansem, comam algo ou vão ao banheiro, para

encararem a outra aula.

Após o período de aulas, o aluno vai para casa, onde ele irá fazer as listas de

exercício. Essa é a parte mais rica do seu dia no que diz respeito ao tempo de valor

agregado. As listas de exercício são entregues em folhas de papel para os estudantes, e há

aproximadamente 40 exercícios em cada, algumas divididas em subquestões “a”, “b” e

“c”. É esperado que seja feita uma lista de exercícios por tema, com formatos que variam

de discursivas a múltiplas-escolhas. Ao final de cada uma, há as respostas das questões.

Todo aluno pode fazer as questões com consulta, embora a orientação seja para

que se reduza ao máximo as vezes em que busca ajuda, para que haja o processo de

aprendizado mais facilitado, pela falha e subsequente correção. Para matérias que

envolvem contas, há espaço de rascunhos para as contas, e a orientação é sempre que

possível utiliza-lo em vez de calculadoras, pois as provas são feitas sem a utilização da

ferramenta. Após finalizar os exercícios, o aluno gasta um tempo fazendo a conferência

das respostas na última página.

Tendo localizado erros, o aluno frequentemente volta às apostilas e livros

didáticos para reler a matéria e tentar por conta própria sanar as dúvidas. Invariavelmente,

ele acaba por reler partes do conteúdo que já dominou, e essa leitura passa tanto por

16

pontos em que, de fato, há um aprendizado, e por outros que se tornam repetitivos e

agregam pouco ou nenhum valor. Municiados com novos conhecimentos, e tendo relido

a matéria, o estudante volta aos exercícios para tentar refazer os que não havia conseguido

antes. Majoritariamente, ele descobre pequenos erros, derivados da falta de atenção, ou

resolve com algum tipo de conhecimento que adquiriu na releitura do conteúdo.

Contudo, algumas vezes, a revisão não é o bastante. O aluno encontra dificuldades

para a resolução de alguma questão, e precisa de ajuda. É para essas situações em que se

espera do aluno a ida à monitoria. Nela, o aluno vai até uma sala, dentro do curso, aonde

está um monitor, que, geralmente, é graduando em alguma universidade, ou às vezes é o

próprio professor da matéria. De forma personalizada, ele aponta os caminhos para a

solução do problema. Esse método, contudo, acaba gerando filas de espera. Essas filas

são o principal gerador de desperdícios nessa etapa do aprendizado

5.2. ANÁLISE DA SITUAÇÃO

É necessário analisar esse dia-a-dia, e localizar nele os momentos em que se gera,

de fato, valor ao cliente, buscando entender os desperdícios.

Um ponto de partida são as locomoções. Na rotina dos estudantes, como em

muitos outros processos os transportes são um desperdício para o cliente final. O trajeto

feito diariamente não traz ao aluno quaisquer novos conhecimentos. Portanto todo o

tempo que passa se deslocando é considerado desperdício, sem qualquer retorno didático.

Esses 30 minutos gastos por viagem poderiam ser direcionados para outras atividades,

sejam recreativas ou educativas.

Dentro do curso, como já citado anteriormente, o aluno tem as aulas expositivas

ministradas por professores do curso. Já foi mencionada também a limitação do modelo

presente: o tempo de setup é bem grande, juntamente com o tempo demandado pelos

alunos para anotar tudo que está sendo posto no quadro. Posto isso, não é difícil chegar à

conclusão de que o formato atual prestado no curso é uma grande fonte de desperdícios.

Se cada uma tem aproximadamente duas horas e meia, aproximadamente dezessete por

cento dela está sendo desperdiçada. Pensando de forma Lean, pode-se nesse momento

refletir também sobre o outro lado do processo de consumo: o provedor. Não só o aluno

está deixando de usar esse tempo para alguma outra atividade que lhe acrescente algo,

como o curso está também desperdiçando um grande recurso: o tempo do professor. A

17

cada dia de trabalho (jornada de 8h) que o curso paga ao seu docente, uma hora e vinte

minutos é gasta para que o professor fale, praticamente, para ninguém. Se fosse possível

racionalizar esse processo, talvez o curso não só oferecesse um melhor produto ao cliente,

como também reduziria seus custos. Essa redução poderia gerar um maior lucro, ou

mesmo ser repassado ao consumidor, tornando a solução enxuta ainda mais atraente aos

pais dos alunos. O intervalo das aulas é também um desperdício, na medida em que,

apesar de auxiliar na recuperação do aluno para a segunda aula, não é algo pelo qual o

cliente está pagando. Ninguém que inscreve o filho num curso pré-vestibular o escolhe e

paga a mensalidade baseando-se no tempo de intervalo interaulas que será oferecido.

No período de estudos em casa, a tarefa é fazer as listas de exercícios. Essa

atividade é a principal do processo de aprendizagem, quando se olha para a perspectiva

do tempo investido em aquisição de conhecimento. Em média, o aluno “padrão” toma

duas horas para realizar os exercícios propostos. As listas são um apanhado de questões

extraídas, muitas vezes, de provas de vestibulares antigos, dispostas de formas aleatória.

Como já mencionado, elas são de todos os tipos, desde as discursivas até as múltiplas-

escolhas. O tempo gasto de 120 minutos é uma média, considerando consultas, que

também geram valor ao processo de aprendizado. Contudo, após fazer tudo, a etapa de

conferência de resultados toma um bom tempo do aluno. Por se tratar de papel, o vai e

vem entre páginas para checar se as respostas estão corretas toma um tempo, além da

indicação dos erros que devem, posteriormente corrigidos. Ao indicar, o aluno para e vê,

de forma superficial, aonde errou, e analisa qual caminho tomar para sanar a dúvida. O

processo leva um total de 20 minutos mais ou menos, do qual não se extrai qualquer valor.

Pode ser feita uma analogia dessa conferência, a um teste de qualidade numa fábrica. O

cliente não paga para fazer checagens de qualidade. Ele paga por um produto do qual se

espera qualidade, mas não pelo teste de aferição. Se houvesse uma forma de garantir a

qualidade ao longo do processo, poderíamos eliminar essa etapa. Contudo, isso é inviável

no processo de aprendizado, por princípio (principalmente pelo erro e acerto ser uma

etapa importante, e os estudantes terem tempos de assimilação diferentes). Mas por que

não considerar reduzir esse tempo gasto, para que ele fosse o menor possível? Mais à

frente, serão discutidas as possíveis melhorias. Por ora, conclui-se apenas que a parte de

conferência de resultados é necessária, mas agrega pouquíssimo valor.

Tendo localizado os erros, o vestibulando volta à apostila e à matéria para

releitura, em busca da compreensão do erro cometido, e tenta refazer os exercícios. O

material disponibilizado é denso e não é muito setorizado. Além disso, não há qualquer

18

indicação nesse material sobre a qual sequência de exercícios cada parte se refere. Por

conta disso, fica difícil para o estudante localizar exatamente a parte que ele deve ler. Ele

acaba lendo muita coisa que já havia absorvido anteriormente, e não consegue dar uma

maior ênfase à parte que deveria para sanar a dúvida pontual do exercício. Isso faz com

que o tempo de uma hora e meia para a releitura, além de extenso, seja pouco produtivo,

gerando apenas trinta e três por cento do tempo despendido de valor. Após a releitura, ele

gasta em média 40 minutos para refazer os exercícios, os quais são valor puro gerado.

No caso de após essas etapas ainda haver dúvidas, o aluno tem como último

recurso a monitoria. A monitoria é no próprio curso, em salas onde o monitor fica tirando

as dúvidas que chegam. Os alunos vão ao seu encontro na hora marcada, e têm

atendimento personalizado. Cada um tira sua dúvida e volta para casa. Contudo, o volume

de dúvidas é alto. Por conta disso, cada servidor acaba não dando vazão para o fluxo de

chegada de alunos. Portanto, como o tempo de serviço é alto, o fluxo de saída é menor do

que o de entrada, criam-se filas para esperar a sua vez. Em média, um aluno pode chegar

a esperar duas horas para ter suas dúvidas sanadas. Disso, apenas 20 minutos são

efetivamente tirando suas próprias dúvidas, o que gera mais de oitenta por cento do tempo

do aluno sendo desperdiçado. Novamente, podem-se explorar o lado do servidor: está

sendo pago um monitor para tirar as dúvidas, e paga-se muitas horas-aula para ele. Será

que de fato o recurso está sendo usado de forma inteligente? Não seria possível manejar

para que o monitor fosse usado apenas quando fosse necessário, puxado pela demanda do

aluno? Uma demanda orientada, de forma que o servidor pudesse se preparar para tirar

dúvidas as quais ele já sabe que virão?

Após passar por todas essas etapas, chegamos à Tabela (Tabela 1) com os tempos

por etapa, e o mapa de consumo do processo (Figura 2):

Tabela 1 - Tabela de tempos por etapa “as is”. Fonte: confecção própria, 2018

ATIVIDADE VALOR GERADO DESPERDÍCIO TOTAL

Ir ao curso 0 30 30

Assistir à aula 105 45 150

Intervalo 0 30 30

Assistir à aula 105 45 150

Ir para casa 0 30 30

Fazer lista de exercícios 120 0 120

19

Figura 2 - Mapa de consumo “as is”. Fonte: confecção própria, 2018

45 min 45 min

30 min 30 min

105 min 105 min

Conferir

resultados60 min

20 min

30 min

30 min

120 min

100 min

30 min 30 min

40 min

20 min

Fazer l ista

de exercíci-

os

Reler a

matéria

Refazer a

listaTirar

dúvidas

na

monitoria

Ir ao

curso

Intervalo

das aulas

Voltar

para casa

Ir ao

curso

Voltar

para casa

Assistir à

aula I

Assistir à

aula I

Conferir resultados 0 20 20

Reler a matéria 30 60 90

Refazer exercícios 40 0 40

Voltar ao curso 0 30 30

Tirar dúvidas na monitoria 20 100 120

Voltar para casa 0 30 30

Total 420 420 840

20

Pode-se sintetizar o estudo de tempos no quadro abaixo (quadro 1):

Quadro 1 - Resumo de tempos do processo “as is”. Fonte: confecção própria, 2018.

Tempo total de processo 14 horas

Tempo total gerando valor 7 horas

Tempo total desperdiçado 7 horas

Parte do tempo em que se gerou valor 50%

É assustador olhar o resultado. Não bastasse que 14 horas do dia dos alunos fiquem

comprometidas, metade desse tempo é gasto na forma de desperdício (Figura 3). Ou seja,

cinquenta por cento do tempo é gasto de forma supérflua.

Figura 3 - Proporção valor x desperdício “as is”. Fonte: confecção própria, 2018.

5.3. VISÃO LEAN DO PROCESSO

Olhando para o processo como um todo, através da visão Lean, voltada para o

consumo, pode-se assumir que o produto em questão soluciona o problema proposto

(preparação para o vestibular). De fato, ao longo do ano, o curso passa todo o conteúdo

programático ao aluno. Suas listas têm um nível de exigência que desenvolve o aluno,

preparando-o para questões difíceis, de todos os formatos. Além disso, as monitorias dão

atenção exclusiva ao aluno, garantindo que todas as suas dúvidas serão tiradas.

Quando levado em consideração o segundo pilar, no entanto, a qualidade do

serviço prestado começa a desandar. Constata-se, após análise, que definitivamente o

processo tem inúmeros desperdícios e consome muito do tempo do cliente. Além disso,

21

o curso tem despesas com professores e monitores, recursos caros que certamente são

pagos pelo cliente. Se esse pilar se baseia na redução do tempo tomado pelo cliente e o

custo por ele pago, definitivamente 14 horas é um preço alto a se pagar, ainda mais

considerando que esse tempo tem mais de sua metade gasta na forma de desperdício.

Em terceiro lugar, a o cliente espera receber exatamente aquilo que precisa. Ao

longo do processo, foram notadas repetidas vezes que isso não ocorre. Inclusive, por isso

gera-se um consumo de tempo desnecessário. Quando o aluno tem uma dúvida, por

exemplo, ele tem que ler uma apostila ou um livro, ambos com muito mais informação

do que ele de fato precisava para solucionar a questão da lista. Na hora da monitoria, o

curso é incapaz de fornecer exatamente o que ele precisa. O curso oferece um monitor

que está ali para tirar dúvidas de qualquer natureza, e não a dúvida específica daquele

aluno. Ele pode apresentar formas de solucionar o exercício, mas não necessariamente ele

está preparado para dar a melhor solução possível. Resumidamente, o ponto é: o monitor

ou quem quer que vá tirar a dúvida não tem um conhecimento específico da dúvida do

aluno e por isso vai com um grande arsenal de conteúdo, que não necessariamente será

usado, e mesmo que seja, não foi preparado da melhor forma possível para o estudante,

pois o servidor está conhecendo a dúvida na hora. Os livros e materiais então, esses não

mudam dependendo do questionamento.

O quarto pilar também definitivamente não é respeitado. O cliente espera que o

seu problema seja solucionado aonde ele quiser. O curso é num local estático, e por isso

o aluno deve se deslocar até lá. Essa falta de flexibilidade acarreta, como vimos, um

enorme tempo de desperdício. Mais do que isso, o aluno fica dependente do

deslocamento. Se por algum motivo ele não puder ir até o curso, ele perde quase todo o

seu dia. Apesar de haver o ponto positivo do isolamento para aqueles que querem estudar

no curso, longe de distrações, quando se coloca na balança, a restrição de que só possa

desfrutar do curso quem está no espaço físico tem um impacto muito negativo.

O quinto ponto basilar propõe que o cliente possa ter valor gerado na hora que ele

quiser. Excluindo a lista de exercício, todo o resto da programação diária do estudante é

engessada. As aulas são presenciais em horários pré-determinados. Quem chega atrasado

perde parte do conteúdo e deve estudar por conta própria esse pedaço. Portanto, uma

pessoa que não tem disponibilidade em algum dia para ir ao curso, assim como no caso

da localização, está fadada a perder o conteúdo daquele dia ou daquela aula. Apesar de

ter faltado, contudo, o cliente ainda paga por essa aula. Ou seja, nos dois últimos casos, o

consumidor está pagando por um produto cuja inflexibilidade o impossibilita de usufruir.

22

Não há abatimento, caso haja alguma falta. Na lógica Lean, isso soa absurdo. Não faz

sentido algum o cliente pagar por algo que não usou, e não agregou valor a ele.

Por último, tem-se a expectativa do cliente de não precisar tomar decisões. Ao

longo do processo de aprendizado apresentado no estudo, não há, na realidade, grandes

encruzilhadas ou trade-offs a serem feitos pelo aluno. De fato, há uma sequência linear

do que ele deve fazer. Mas será que não se pode indicar melhores caminhos e práticas ao

cliente? O vestibular é um concurso extremamente disputado e ir bem às vezes não é o

bastante, tendo que buscar sempre o melhor possível. Será, portanto, que o aluno está

tendo um bom desempenho? Será que o curso não pode ir além, e pré-avaliar o aluno, de

forma que possa antever a necessidade de mais estudos?

Portanto, após ser averiguada a realidade encontrada no curso, pode-se concluir

que pouco se faz no sentido de tornar o processo mais inteligente e enxuto. O cliente paga

por um produto que traz pouco valor agregado, toma um enorme tempo dele, e falta

proatividade na busca por melhorar as condições de aprendizado do aluno. Nos próximos

tópicos, a tentativa será de oferecer alternativas para tornar mais eficiente o curso e o

processo de aprendizado do cliente, objetivando otimizar a utilização de recursos tanto

do curso quanto do aluno. No final, espera-se proporcionar um custo menor, tanto

monetário quanto no que tange o tempo gasto, além de ofertar algo mais próximo do que

o cliente de fato espera e precisa.

23

6. ABORDAGEM LEAN PROPOSTA

6.1. SOLUÇÕES LEAN PARA O PROCESSO

Será buscado racionalizar o processo de consumo descrito. Foram apontados

anteriormente pontos onde há desperdício. Alguns, inclusive, tiveram suas razões

expostas, e questionamos suas existências. Foram introduzidas também algumas

ponderações que indicam possíveis caminhos de solução.

O primeiro ponto é quebrar um pouco o paradigma do ensino tradicional –

presencial. O curso pode e deve continuar tendo, é claro, as aulas em salas. Apesar dos

avanços tecnológicos, ainda está preso ao que vem sendo praticado há séculos. Contudo,

será que é realmente necessário estar no curso o tempo todo para absorver o conteúdo?

Há atualmente inúmeros cursos que são feitos integralmente a distância, e muitos deles

apresentam bons resultados. Não obstante, universidades renomadas como o MIT (EUA)

disponibiliza todas as suas aulas online, para que estudantes do mundo inteiro tenham

acesso gratuito a ele. O objetivo não é a transformação do pré-vestibular em um curso à

distância. Mesmo porque, quando se pensa nos clientes, sua maioria tem suas

mensalidades pagas pelos pais. Oriundos de uma geração anterior, eles tendem a ficar

com um pé atrás com a solução inteiramente remota. Como um interessado no processo,

a etapa presencial é, sim, valor para o consumidor. No entanto, por que não seria possível

flexibilizar, e expandir as possibilidades de absorção de conteúdo?

Dado esse passo inicial, podemos pensar mudanças de sequências de processos

para reduzir esperas. Nos pareceu, ao longo das avaliações que muitos dos processos estão

engessados, e uma reengenharia com sua flexibilização pode servir para solucionar muitas

das esperas. Por exemplo, uma troca do horário de monitoria poderia retirar do processo

horas desperdiçadas com transporte.

É primordial, também, reduzir o tempo total de processo de aprendizado do aluno.

Como já mencionado, o vestibular tem muito do seu foco no conteúdo programático,

aquele que é passado ao aluno ao longo dos anos de formação escolar. Contudo, cada vez

mais há uma exigência maior por conhecimentos e cultura gerais, além de vivência fora

do âmbito acadêmico para poder se sair bem, principalmente na redação (que possui um

alto peso), mas também das questões teóricas. Portanto, nesse sentido, um caminho que

deve ser seguido parece ser o de encurtar algumas etapas do processo, talvez até mesmo

dividindo em mais etapas de menor duração.

24

O momento da aula, no qual constatou-se desperdício, tem nos dois pontos de

incômodo (o professor preparar o quadro e o aluno copiar) um fator comum: a lousa.

Enquanto o professor monta o seu quadro, o setup para início de aula, o aluno também

perde tempo para copia-lo. Como queremos um ensino personalizado, faz sentido que o

professor de fato monte o seu quadro aula a aula. Do contrário, uma apresentação em

Powerpoint® solucionaria o problema. Contudo, cada turma é uma turma, e os exemplos

dados e abordagem escolhida são individualizados. Esse é um ponto que acreditamos que

deve ser mantido, portanto. No entanto, se o professor já está escrevendo, por que o aluno

deveria escrever também? Parece ser um retrabalho desnecessário. Se já temos uma

pessoa que faz as anotações, necessariamente, parece razoável que essa pessoa possa

repassar para o resto. Alguns alunos poderiam anotar por conta própria, por entenderem

ser o melhor para seu aprendizado, o que muitos estudos indicam, mas a aula não deveria

ser parada para a cópia do quadro, caso o professor pudesse compartilhar o que está ali.

Seguindo para as outras etapas do caso estudado, as de deslocamento são

extremamente custosas para o aluno. Se forem olhados apenas os deslocamentos

relacionados ao vai-e-vem para o curso, o aluno perde quase dez por cento do seu dia.

Quando se fecha um pouco mais a visão apenas para a rotina relacionada ao curso,

contabiliza-se quinze por cento do processo. Ao dar mais um zoom, o transporte simboliza

vinte e oito por cento de todo o tempo desperdiçado. Portanto, se pudéssemos elimina-lo,

ou pelo menos diminui-lo, teríamos uma drástica redução do tempo desperdiçado em um

dia. Tem-se por dia dois movimentos rotineiros de locomoção: um para a aula e outro

para a monitoria (Tabela 2). Será que há de fato a necessidade de fazermos duas viagens

para um mesmo local? É muito contraproducente perder uma hora a mais do dia apenas

para isso. É bem verdade que a volta para casa após as aulas é uma opção, podendo o

aluno ficar no próprio estabelecimento para seguir estudando. Contudo, seguindo a

filosofia Lean, é extremamente indesejável querer impor ao cliente uma solução. Esta

deve, em verdade, ser puxada pelo consumidor, e espera-se do provedor a flexibilidade

para atender. Pode-se tomar então como objetivo para as locomoções, reduzi-las a apenas

uma – para ir e voltar das aulas diárias.

Tabela 2 - Grade horária do curso “as is”. Fonte: confecção própria, 2018.

Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira

08:00 AULA 1 AULA 1 AULA 1 AULA 1 AULA 1

08:30

25

09:00

09:30

10:00

10:30 Intervalo

11:00

AULA 2 AULA 2 AULA 2 AULA 2 AULA 2

11:30

12:00

12:30

13:00

13:30

14:00

(…)

18:00

Monitoria Monitoria Monitoria Monitoria Monitoria 18:30

19:00

19:30

20:00

Uma solução trivial, mas ainda válida e eficaz, passa pelo rearranjo dos horários

da monitoria. Atualmente, as monitorias são no final da tarde, criando uma lacuna no

meio do dia dos estudantes. Se fosse possível traze-las um pouco mais para perto do final

da aula, seria eliminada a necessidade do segundo deslocamento. O aluno teria ainda uma

hora de almoço, para que pudesse descansar e se alimentar (Tabela 3). Mas por que,

necessariamente, o aluno deve ir à monitoria?

Tabela 3 - Grade horária do curso “should be”. Fonte: confecção própria, 2018.

Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira

08:00

AULA 1 AULA 1 AULA 1 AULA 1 AULA 1

08:30

09:00

09:30

10:00

10:30 Intervalo

11:00

AULA 2 AULA 2 AULA 2 AULA 2 AULA 2

11:30

12:00

12:30

13:00

13:30 Almoço

14:00

26

14:30

Monitoria Monitoria Monitoria Monitoria Monitoria 15:00

15:30

16:00

16:30

(…)

Esse questionamento conduz ao segundo ponto, sobre as razões que levam o aluno

a ir à monitoria. Pode-se fazer uma analogia a um serviço automobilístico. A visita do

aluno à monitoria é como a ida de um carro ao mecânico. Se o automóvel apresenta falhas,

vai ao mecânico para consertar; o aluno vai ao monitor para checar uma falha no seu

processo de aprendizado. Portanto, pode-se concluir que um problema na assimilação por

parte do estudante o faz ir à monitoria. Ou seja, a não conformidade, a falta de qualidade

faz com que o aluno tenha que ir ao reforço. Uma solução imediata seria a garantia de

conformidade do processo, para que não se faça necessária a visita. Contudo, essa solução

é pouco provável. A cognição é algo extremamente particular, e o ensino algo ainda

subjetivo. Cada um tem seu próprio tempo e assimila o conteúdo de uma forma bastante

singular. Em um único formato de aula, é extremamente improvável sanar completamente

as dúvidas de todos. Até por isso há esse reforço, para personalizar o acesso ao

conhecimento. Poder-se-ia pensar então numa solução para que cada questão apresentada

tivesse uma resolução completa, abrangendo qualquer dúvida que poderia eventualmente

aparecer. No entanto, se o problema for analisado como um todo, a ida à monitoria é um

transtorno, não só pelo deslocamento, mas também pelo tempo de espera para

atendimento. O que nos leva a pensar, então, que não se trata apenas do momento da

monitoria em si, mas de todo o processo de ir até lá e ser atendido. Nesse sentido, pode-

se propor outras soluções. E se, ao invés de ir ao curso ser atendido, o cliente pudesse, de

casa, sanar sua dúvida? Parece um caminho interessante, ainda mais pensando com a

filosofia Lean, pois o serviço poderia ser provido exatamente aonde o cliente precisa. A

solução então passa pelo aluno ter a possibilidade de, de casa, tirar suas dúvidas sobre as

listas, e, quando for necessário ir a uma monitoria, cujo horário está conectado com o

horário de aula dele.

Contudo, nem sempre será possível evitar que o aluno vá à monitoria. Apesar de

assumir como uma premissa e o foco evitar que o ele precise de fato ficar para o reforço,

impreterivelmente isso acabará ocorrendo. Nesses momentos, deve-se priorizar a

minimização do transtorno. Foi apontado anteriormente que o desconforto, e principal

27

causador do desperdício na ida à monitoria é a fila de espera. Por se tratar de um

atendimento mais personalizado, cada pessoa tem um momento de dúvidas com o

monitor, que as tira de forma paciente e atenciosa. Contudo, há muitos outros levando

dúvidas, muitas vezes em mais de dois exercícios, o que gera uma espera. A solução

trivial, mas descartada de início, seria o aumento do número e servidores. Não faz sentido

aumentar o custo do serviço, se há subutilização dos recursos. É razoável acreditar que o

monitor pode melhorar o seu atendimento, tornando-o mais eficiente e igualmente

personalizado, direcionado para as dúvidas individuais. Durante a tirada de dúvida, o

mesmo monitor repete inúmeras vezes o mesmo exercício, ou exercícios de mesma

natureza. Isso é um retrabalho que consome tempo do monitor, do aluno que aguarda na

fila, e consome dinheiro do curso. Parece uma hipótese aceitável a ideia de fazer um

exercício durante 15 minutos para 5 ou 6 alunos ao mesmo tempo, em vez de gastar pelo

menos 5 com cada um. Até porque, apesar de possivelmente eles terem dúvidas em pontos

distintos do exercício, necessariamente há partes comuns a todos, e isso poderia

economizar tempo. Para fazer esses agrupamentos de dúvidas, deveria haver um sistema

de triagem, tal qual um hospital.

Esse sistema, deveria se basear em níveis de dificuldades das questões. Tal qual

no hospital os doentes passam por uma triagem para mensurar a gravidade dos ferimentos,

as dúvidas poderiam ser triadas, por tipo de exercício, número de etapas e complexidade.

Na elaboração das listas, em vez das questões serem sortidas, elas deveriam ser

categorizadas, e planejadas para virem em blocos de assuntos conectados e resoluções

“padrão”. Dessa forma, ao chegar para tirar as dúvidas, ao anunciar as questões, o monitor

já consegue entender o quão imediato é a resposta e a solução da dúvida. Mais uma vez

pensando de forma Lean, é importantíssimo conhecer o problema do consumidor, para

estar preparado para atende-lo com o menor gasto possível de tempo e custo. Pensando

dessa forma, passa-se a questionar por que a triagem deve ser feita na hora. Se

pudéssemos saber quais as dúvidas dos alunos, poderíamos de antemão dimensionar

quanto tempo de monitoria deveríamos disponibilizar, e quais são as dúvidas virão,

podendo os monitores se prepararem para chegar com as melhores explicações possíveis

para os tipos de exercício.

Esse pensamento leva a outro ponto do processo de ensino: as listas e seu

preenchimento. Já foi exposta sua organização e categorização, mas, apesar de ser o

momento em que mais se gera valor no ensino, ainda há desperdícios que poderiam ser

eliminados e que ajudariam a solucionar o problema da triagem. O processo de conferir

28

respostas que toma 20 minutos do aluno é essencialmente um procedimento repetitivo e

que pode ser substituído facilmente por um algoritmo. Nada mais é do que checar a

resposta dada, a correta, e se forem iguais indicar “correto”. Do contrário, indicar

“errado”. Portanto, é algo que pode facilmente ser substituído por uma plataforma, aonde

o estudante inclui as respostas, tem o resultado na hora, e encaminha-o para o curso.

Tendo em mãos os índices de acertos das questões, o curso pode programar as monitorias

se baseando nos dados. Cada monitoria, nessa lógica, é direcionada para determinados

temas de determinados módulos e questões.

6.2. INTRODUÇÃO DA TECNOLOGIA À SOLUÇÃO

Nos últimos tópicos, foram ponderadas soluções para os diversos problemas que

geram desperdícios, após reflexões e questionamentos, destrinchando os problemas e suas

possíveis causas. Algumas, inclusive são na realidade resultados de problemas anteriores

do próprio sistema, o que acaba por cascatear para as etapas seguintes. Nesse tópico, serão

acrescentadas ao rascunho de soluções proposto anteriormente ferramentas para de fato

produzir o sistema considerado ideal.

A tecnologia pode ser vista como a principal aliada para tornar o consumo do

ensino mais enxuto e flexível. Não se pode, no entanto, acreditar que apenas sua

introdução resolve os problemas sozinha. Moran (2007) aponta que, fosse a tecnologia

sozinha a solução, o ensino já teria todos os seus problemas sanados. Lobo e Maia (2015)

mencionam a importância no processo de aprendizagem o aprender fazendo, o interesse

e a experiência para o sucesso. Que, além disso, deve-se ter em mente que as tecnologias

não eliminam técnicas de ensino, mas se somam a elas no processo educacional.

A ideia central é a criação de um aplicativo próprio do curso, com funções que

auxiliem a preparação do aluno. A plataforma digital seria praticamente um backup tudo

que acontece dentro do curso. Além disso, para evitar os desperdícios de tempo gerados

pelas aulas muito longas, o primeiro passo seria a redução do tempo das aulas. Dessa

forma, podemos fazer com que o aluno fique focado e todo o tempo em sala seria

aproveitado.

Quanto à flexibilização do ambiente de aprendizado, o curso poderia começar a

trabalhar com videoaulas, na forma de streaming principalmente. Há softwares de

monitoramento e gerenciamento do comportamento de alunos no ensino a distância, para

29

que os alunos que não puderem estar presencialmente, tenham uma interface para, ao

longo da aula, interagirem e tirarem dúvidas. Um bom exemplo de software é o

LanSchool, que permite essa interação, além de criação de questões online para aqueles

que estão remotos. Portanto, além do presencial, alunos teriam acesso remoto à aula.

Como essas aulas são transmitidas, elas poderiam ser guardadas, para que, posteriormente

os alunos tivessem acesso ao que foi dado. O aplicativo poderia, então, além de fazer o

ao vivo, ter um acervo das aulas dadas ao longo do ano.

Entrando na esfera tecnologia, combinando computadores com o “quadro-negro”

pode-se pensar em uma lousa inteligente, algo que vem sendo utilizado amplamente em

escolas de classe média-alta no exterior e pode ser implementado aqui também. Com as

lousas inteligentes, as aulas e anotações feitas ao longo das duas horas e meia poderiam

ser salvas e enviadas aos alunos. Essa solução foi escolhida, pelo modelo expositivo com

slides pré-prontos não tem a personalização necessária. Os slides prontos podem ser

encontrados na internet, e isso seria um diferencial por customizar o ensino. Como

falamos de trazer a interação de alunos remotos, as interações poderiam ser exibidas na

tela, para ser compartilhada com os demais.

Além das aulas ministradas no ano e o serviço de streaming com interação, o

aplicativo poderia ter também podcasts das matérias. Apesar de parte do tempo de

deslocamento ter sido eliminada proposta, ele não foi extinto por completo. Por isso, com

os podcasts, o aluno pode passar o trajeto ouvindo a passagem dos conteúdos presentes

nas gravações, ou dicas de provas e questões. O objetivo dessa alternativa é tentar agregar

valor ao tempo de deslocamento do cliente, o mínimo que seja.

No que diz respeito às listas de exercícios, como já exposto anteriormente, o

aplicativo seria a plataforma aonde o estudante colocaria as respostas das suas questões.

Por ser digital, o sistema consegue executar o algoritmo de conferência de respostas para

cada lista solicitada. Após incluir suas respostas, o aluno pode ver quais questões ele

errou, e focar na resolução delas. Em vez de ter que reler a matéria, o curso

disponibilizaria as resoluções de cada uma das questões em forma de vídeo. Como a lista

estaria sendo organizada não mais de forma sortida, esse esforço passa a fazer sentido, e

o aluno consegue tirar suas dúvidas por conta própria. O objetivo é que esses vídeos sejam

feitos de forma extremamente explicativa e detalhista, detalhando cada pequeno passo

dado e embasando-os com a teoria dada em sala. Para cada questão errada, o aluno

receberia um link com um vídeo da resolução da mesma para entender exatamente em

que ponto ele cometeu o erro. Além disso, ele recebe como informação de qual o tópico

30

da apostila que está sendo abordado naquela questão e dessa forma, na hora que ele volta

para reler a matéria, não precisaria ler a apostila toda e sim focar somente nos pontos que

não ficaram claros. O terceiro ponto muito importante nesse processo é que depois de

assistir ao vídeo e reler o ponto da matéria que não entendeu muito bem, o sistema fornece

para o aluno uma nova questão, similar a questão que o aluno errou, para que ele possa

resolvê-la e ver se a dúvida foi sanada.

Vale salientar, que além de todas essas vantagens geradas no processo de

aprendizagem do aluno e na eliminação de desperdícios, a direção do curso ainda possui

outra vantagem: com a alimentação do sistema a partir das respostas dos alunos, o curso

consegue manter uma estatística do rendimento de cada aluno e no geral. Caso haja uma

disciplina específica com defasagem, ou até uma matéria específica em uma das

disciplinas, o curso é capaz de criar aulas extras e de reforço para ajudar seus alunos e

melhorar seus desempenhos.

Por último, o curso e seus monitores recebem de forma sincronizada o panorama

de como os alunos estão indo, baseado na plataforma e nas respostas que lá estão. Como

os alunos têm uma segunda etapa de tentativa de exercício, a plataforma encaminha

somente essa segunda tentativa para os monitores. Com isso em mãos, a equipe de apoio

do curso pode preparar-se para realizar a bateria de dúvidas, já separando os exercícios

de soluções mais simples para serem debatidos no início do plantão, e as dúvidas não tão

imediatas mais para a frente. O ponto central dessa solução é evitar que o monitor repita

etapas de um mesmo exercício várias vezes, apresentando para um grupo métodos de

resolução que se apliquem a todos os exercícios. Tal qual iniciativas de serviços de

economia compartilhada, os estudantes teriam suas dúvidas juntadas para serem tiradas

no mesmo momento, de forma personalizada. Assim o tempo para que algum aluno

tivesse sua dúvida sanada seria diminuído drasticamente, e a expectativa é que caia para

menos da metade do atual tempo de espera.

Portanto, o uso da plataforma digital ajuda a solucionar a maioria dos problemas

do quadro inicial do curso, desde que pensemos de forma Lean para atender as demandas

do cliente.

6.3. O SISTEMA IDEAL

31

Finalmente, serão consolidadas as propostas, checando-se de fato se são

adequadas aos princípios de Lean ao consumo, e apresentando a comparação entre o “as

is”, e o mapa de consumo desenhado para o novo formato proposto, para a subsequente

análise crítica e as etapas de implementação.

Como já exposto anteriormente, o primeiro pilar de resolução total do problema é

algo que já é feito. O curso necessariamente entrega uma abordagem de todos os

conteúdos programáticos para qualquer vestibular, e o faz de forma direcionada à

execução de provas e exames nacionais, ainda que talvez não da forma mais eficiente,

mas eficaz. Pode-se ir direto então ao segundo pilar – redução do custo total, tanto de

tempo quanto de dinheiro. Na nova proposta (Quadro 2), reduzimos de forma intensiva o

tempo gasto de forma desnecessária. Mais do que a redução da proporção

valor/desperdício, o tempo total de processo foi significativamente diminuído, para que o

cliente possa ter mais tempo livre. Além disso, a proposta traz consigo uma consequente

redução do tempo de utilização do recurso docente, após a avaliação de que não era usado

de forma tão eficiente. Com isso, podemos reduzir os gastos de pessoal. Além disso, a

possibilidade de muitos preferirem, com as novas alternativas, a utilização do ensino

remoto, as instalações físicas podem ser menos utilizadas, gerando economia. Todas essas

economias poderiam ser repassadas ao consumidor final. Portanto, a solução reduz o

gasto de tempo e, possivelmente, de dinheiro do cliente.

Além disso, seria possível com o novo modelo de plataforma digital, entender

exatamente do que o cliente precisa, para poder então oferecer. Ao ter essa interface com

o aluno que bota no aplicativo suas respostas, o curso recebe diretamente dele suas

dificuldades, pode se preparar para oferecer as melhores soluções de suas dúvidas e

acompanhar seu desempenho para, posteriormente, indicar que pontos ele deve reforçar.

Em seguida, pode dar a ele o melhor horário para tira-los, pois poderá prever, de antemão,

como será a monitoria, usando como insumo o desempenho daqueles que fizeram os

exercícios. Estão sendo, também, disponibilizadas diversas formas de consumir o

conteúdo, de forma que o estudante tem como escolher aquilo que melhor se adapta ao

seu perfil.

O quarto e quinto pilares andam juntos, na medida em que estão intrinsicamente

ligados à flexibilidade do serviço. No modelo antigo, para que o aluno tivesse acesso ao

conteúdo, ele precisava necessariamente estar presente em determinados horário e local

para adquirir conhecimento. No novo formato, com o aplicativo, o aluno pode assistir ao

conteúdo na hora que ele quiser (inclusive ao vivo, quando ele pode interagir), além de

32

ter a mobilidade a seu favor. Com acesso à internet, ele pode assistir à aula no caminho

para o curso, caso saia atrasado, além de durante as viagens poder consumir os podcasts

e vídeos de aulas antigas. Portanto, a solução cumpre também esse âmbito do Lean.

Por último, o curso se propõe a reduzir as necessidades do próprio cliente de tomar

decisões. Como já supracitado, o curso tem como forma de medir o desempenho do aluno

no processo de aprendizado as respostas que dá para suas questões das listas. A partir

disso, gera um big data, utilizado para o curso entender melhor o consumidor. A direção

é capaz de analisar e apontar quais matérias ele deveria reforçar, os caminhos a serem

seguidos para recuperar seu desempenho.

Quadro 2 - Princípios Lean x Solução. Fonte: confecção própria, 2018.

Resolver o problema completamente; Conteúdo programático completo; metodologia de ensino;

material didático

Não desperdiçar meu tempo e minimizar

o custo total do consumo, que é o preço

pago a mais pelo incômodo e para evitar

espera;

Redução de tempo de transporte; redução de tempo

copiando quadro; redução do número de visitas à monitoria;

redução dos desperdícios do estudo em casa; material mais

organizado; redução de tempo de espera na monitoria;

menos custos com pessoas; mais tempo livre para outras

atividades

Fornecer exatamente aquilo que é preciso;

Monitoria direcionada para as dúvidas; aula feita de forma

personalizada; diferentes métodos de passagem de

conteúdo; material mais organizado.

Entregar valor onde querem; Aulas por streaming; podcasts com conteúdo; acervo de

aulas dadas gravadas

Proporcionar valor quando querem; Podcasts com conteúdo; acervo de aulas dadas gravadas

Reduzir o número de decisões que

precisam ser tomadas para resolver os

problemas.

Acompanhamento pela plataforma; monitoria direcionada

para os resultados incluidos na plataforma

Com esses pilares atendidos (Quadro 2), entende-se que do ponto de vista Lean, o

curso tem tudo para ter sucesso. Vamos a seguir olhar os resultados esperados do modelo

should be e avaliar se vale investir nessas mudanças.

6.4. RESULTADOS ESPERADOS

33

Os esforços do projeto focaram bastante na redução de desperdícios, a fim de

aumentar o tempo livre do aluno, e proporcionar uma melhor experiência para ele. É

interessante notar que muitas das atividades tiveram uma redução de tempo total de

execução bastante grande, como sugere a Tabela abaixo (Tabela 4).

Tabela 4 - Tempos por etapa “should be”. Fonte: confecção própria, 2018

ATIVIDADE VALOR GERADO DESPERDÍCIO TOTAL

Ir ao curso 0 30 30

Assistir à aula 130 20 150

Intervalo 0 30 30

Assistir à aula 130 20 150

Tirar dúvidas na monitoria 20 20 40

Voltar para casa 0 30 30

Fazer lista de exercícios 120 0 120

Conferir resultados 0 2 2

Reler a matéria 30 0 30

Refazer exercícios 40 0 40

Total 470 152 622

Se olhar para o mapa de consumo (Figura 4), conseguimos ver graficamente a

mudança drástica do processo de aprendizado. Se num momento notou-se uma

quantidade grande de “brancos” nas etapas, o novo diagrama mostra o contrário, uma

quantidade significativa dos boxes está preenchida, indicando que maior parte do

processo está de fato agregando valor ao aluno. Seria ainda maior, não fossem as etapas

de locomoção. O senário sugerido na Tabela 4 é o pessimista. Isso porque, com as

soluções oferecidas, o aluno pode ter acesso ao curso inteiramente de forma remota, o

que eliminaria uma hora de desperdício do processo. Ou mesmo que optasse por ir

presencialmente, ele poderia ir ouvindo o podcast, ou assistindo a alguma outra aula, o

que geraria valor mesmo durante o transporte.

34

Figura 4 - Mapa de consumo “should be”. Fonte: confecção própria, 2018

O novo processo tem uma duração total de 10 e 22 minutos, com um total de valor

gerado de 7 horas e 50 minutos (Quadro 3). Isso totaliza setenta e cinco vírgula seis por

150 min

20 min

150 min

Fazer l ista

120 min

Reler a

matéria 30

min

Refazer os

exercícios

40 min

Ir ao curso

30 min

Ass is ti r à

aula

20 min

Voltar do

curso

30 min

Ass is ti r à

aula

20 min

Interva lo

30 min

Ir à

monitoria

20 min

35

cento do total. Com a aplicação da filosofia Lean, poder-se-ia obter fazer uma melhoria

significativa no processo educacional do curso.

Quadro 3 - Resumo de tempos do processo “should be”. Fonte: confecção própria, 2018.

Tempo total de processo 10 horas e 22 minutos

Tempo total gerando valor 7 horas e 50 minutos

Tempo total desperdiçado 2 horas e 32 minutos

Parte do tempo em que se gerou valor 75,6%

Nesse novo modelo, houve uma forte redução do desperdício. Com as mudanças

propostas, o desperdício do processo caiu para menos de um quarto do total (Figura 5).

Além do desperdício ser menos de vinte e cinco por cento, conseguimos reduzir o tempo

total do dia que o aluno deve, necessariamente, dedicar ao processo de ensino para uma

parcela aceitável do dia do vestibulando.

Figura 5 - Proporção valor x desperdício “should be”. Fonte: confecção própria, 2018.

6.5. INTRODUZINDO A ANDRAGOGIA À SOLUÇÃO

Como já citado anteriormente, na Andragogia o aluno sai da posição de receptor

exclusivo de conhecimento e se torna parte ativa do processo de aprendizagem. Ao retirar

o aluno da posição passiva, aumenta-se o seu interesse na aula e consequentemente [e

otimizada a sua capacidade de assimilar o conteúdo.

Essa metodologia mostra que a capacidade de memorização de informações está

intimamente ligada as emoções. Exemplificar isso é muito simples: raramente uma pessoa

36

lembra qual foi o cardápio de seu almoço na terça-feira da semana anterior, mas

provavelmente essa mesma pessoa lembra exatamente onde estava e o que estava fazendo

no dia 11 de setembro de 2001, dia em que ocorreu o atentado às torres gêmeas do

complexo empresarial do World Trade Center, na cidade de Nova Iorque. Isso acontece,

pois um evento de grandes proporções como esse gera no indivíduo diversos tipos de

sentimentos e emoções (boas ou ruins, mas fortes) e ao fazer isso, tudo que aconteceu

naquele dia fica marcado em sua memória. O mesmo acontece, por exemplo, quando um

ente querido morre. Ainda que seja um sentimento péssimo é uma emoção muito forte e

provavelmente os acontecimentos daquele dia e os detalhes ficam marcados em nossa

memória.

Dessa forma, é muito importante que o professor tenha isso em mente ao montar

sua aula. Ele deve mexer com os sentimentos ou com as emoções do aluno de alguma

forma logo no início da aula, para que o aluno se interesse e, mais do que isso, memorize

o assunto tratado em sala.

Uma forma interessante de fazer isso, seria ao final de cada aula, introduzir o

assunto da aula seguinte e dar ferramentas aos alunos para que pesquisem sobre o assunto.

Essas ferramentas podem ser livros que devem ser pesquisados, vídeos na internet, algum

problema “desafio”, ou qualquer outra coisa que instigue a curiosidade do aluno e o

incentive a pesquisar ainda mais sobre o assunto que ainda será tratado na próxima aula.

Um método muito eficaz, que já é usado em alguns colégios no Brasil e no mundo

é o “Método de Cornell”. Esse método foi inventado por Walter Pauk (2013), um

professor da Universidade de Cornell e serve para que o aluno tome notas de forma bem

sistemática. Sendo assim, ao chegar na aula seguinte, o professor é capaz de realizar um

pequeno debate sobre o assunto logo no início da aula utilizando como ponto de partida

questionamentos dos próprios alunos, tirando os mesmos das posições passivas de

receptores de conhecimento e os fazendo participar ativamente do processo de

aprendizagem.

Vale lembrar, que os alunos que estão sendo estudados não são adultos, mas estão

numa fase de transição. Logo, ainda que esses princípios da Andragogia tenham muito a

acrescentar, a pedagogia não deve ser deixada de lado, ou seja, depois desse pequeno

debate que serve para capturar a atenção do aluno, o professor deve utilizar a sua aula

como planejou anteriormente, tomando novamente o “controle” da aula.

Por último, uma possível ideia para ajudar na motivação e no estímulo ao estudo

e ao empenho, o curso pode oferecer premiações aos alunos por seus desempenhos. Com

37

os resultados das listas e assiduidade nas aulas, os alunos poderiam ter suas inscrições

pagas pelo curso. Apesar de ser um prêmio mais simbólico do que representativo na renda

do público, a ideia de um prêmio mais próximo (os resultados do vestibular saem muito

tempo depois) ajuda na motivação dos alunos.

Portanto, a implementação da Andragogia pode aproximar o aluno ainda mais do

propósito do curso, empoderando-o para ter a proatividade de ir atrás das aulas, ainda que

de forma remota, minimizando a chance de perde-lo com o excesso de flexibilidade.

38

7. ANÁLISE COMPARATIVA DOS RESULTADOS

7.1. COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS AS IS E SHOULD BE

Nesse ponto, será feita a análise comparativa entre o modelo “as is” e o “should

be”. Serão vistas primeiramente as etapas individuais de cada um dos modelos (Tabela

5).

Tabela 5 - Comparação por etapa “as is” x “should be”. Fonte: confecção própria, 2018

As is Should be

Atividade Valor

gerado Desperdício Total

Valor

gerado Desperdício Total

Ir ao curso 0 30 30 0 30 30

Assistir à aula 105 45 150 130 20 150

Intervalo 0 30 30 0 30 30

Assistir à aula 105 45 150 130 20 150

Ir para casa 0 30 30 Etapa eliminada

Fazer lista de exercícios 120 0 120 120 0 120

Conferir resultados 0 20 20 0 2 2

Reler a matéria 30 60 90 30 0 30

Refazer exercícios 40 0 40 40 0 40

Voltar ao curso 0 30 30 Etapa eliminada

Tirar dúvidas na

monitoria 20 100 120 20 20 40

Voltar para casa 0 30 30 0 30 30

Total 420 420 840 470 152 622

Foram eliminadas das 12 etapas iniciais duas que eram desnecessárias. Foi

invertida a ordem de algumas, mas no final das contas, há pontos que ressaltam aos olhos.

O tempo de releitura da matéria caiu aproximadamente sessenta e seis por cento, tal qual

o tempo gasto com a monitoria. Olhando para a aferição dos resultados das listas, houve

praticamente a eliminação dessa etapa. Ela foi reduzida em 90 por cento, sobrando um

tempo ínfimo dessa etapa (Quadro 4).

Quadro 4 - Resumo da comparação “as is” x “should be”. Fonte: confecção própria, 2018.

As is Should be Δ

Tempo total de processo 14 horas 10 horas e 22 minutos -3 horas e 38 minutos

Tempo total gerando valor 7 horas 7 horas e 50 minutos 50 minutos

Tempo total desperdiçado 7 horas 2 horas e 32 minutos -4 horas e 22 minutos

39

Parte do tempo em que se gerou valor 50,0% 75,6% 25,6%

Quando é feita a comparação geral dos dois a diferença é também gritante. Foi

reduzida em mais de três horas e meia a duração do processo como um todo (vinte e seis

por cento), o que dá muito mais tempo livre para o vestibulando. Além disso, houve a

redução em sessenta e quatro por cento o tempo desperdiçado ao longo das etapas.

Finalmente, foi aumentada a proporção do tempo que de fato gera valor em cinquenta por

cento, um crescimento bastante significativo.

Portanto, do ponto de vista quantitativo, o modelo proposto atende completamente

o consumidor final. Ele poupa tempo, e oferece a ambos, curso e cliente, a possibilidade

de redução de custos. No entanto, há desafios a serem vencidos. Primeiramente, pode

haver resistência dos pais ao novo modelo. Acostumados com o ensino tradicional, eles

que são quem de fato paga pelo curso, podem se sentir incomodados com o excesso de

flexibilidade dada aos seus filhos. Outro ponto mencionado é que estamos numa geração

que gosta de coisas rápido, e facilmente perde interesse pelo que está fazendo. O modelo

proposto, para dar certo, precisa de disciplina e de uma alta proatividade do aluno. Ao ter

tirada de si a responsabilidade de anotar uma aula, ou mesmo de ter sua frequência

presencial facultada, é extremamente perigoso que o aluno não se engaje o quanto deve.

7.2. GESTÃO DE INDICADORES

Um desafio para o novo modelo é a mensuração de resultados. Quando fala-se de

um pré-vestibular, é imediato o primeiro indicador de resultado: aprovações em

vestibulares. Não pretende-se aqui mudar essa medida básica para o tipo de negócio

estudado. Todavia, olhar apenas para o resultado final é um péssimo caminho para o

sucesso. Não utilizar os dados dos microprocessos para gerar conhecimento é desperdiçar

um excelente recurso para melhorias. Falconi (2013) aponta que o método gerencial

transforma uma organização numa escola, pois a procura por resultados é paralela à busca

por conhecimento.

A base desse novo método é a eliminação dos desperdícios. Contudo, a principal

ferramenta para chegar lá são as plataformas digitais. No final, faz sentido imaginar que

um estudante que faça bom uso da plataforma terá bons resultados. Separam-se então dois

grupos de indicadores: os de uso da plataforma, para medir o uso da solução e os de

desempenho individual do aluno.

40

Pensando nisso, podemos pensar em algumas métricas e diretrizes de como medir

e analisar o que se está sendo feito. Seria razoável fazer medições sobre as ferramentas,

e posteriormente possíveis correlações entre elas e resultados do curso. A plataforma é

um produto dentro do serviço de ensino pré-vestibular, e principal ferramenta nas

mudanças propostas. Se utilizarmos o Plan, Do, Check and Act (PDCA) (figura 6), a etapa

realizada até o momento nesse estudo nos remete ao P (Plan). Até o momento, foi-se

projetado um sistema de como funcionaria a rotina do aluno com a plataforma e os

resultados esperados no que diz respeito às economias de tempo. Além deles, deve-se

criar resultados esperados de uso: quantos alunos estão usando cada funcionalidade, e

quanto de conteúdo se coloca na ferramenta.

Figura 6 - Diagrama ciclo PDCA (fonte: https://napratica.org.br).

O ponto de partida é o engajamento com a ferramenta. O quanto os alunos de fato

estão usando a plataforma? Quais as funcionalidades mais estão usando? De quais estão

reclamando? Pode-se buscar analisar se todos os conteúdos são procurados dentro da

plataforma, para possivelmente eliminar conteúdos que não sejam muito utilizados.

Depois, vem a implementação (D – Do), que consiste na criação da plataforma, e

do preenchimento da mesma com conteúdo. O início das aulas ajudam nesse

preenchimento, mas é importante também carregar a plataforma com as resoluções dos

exercícios de listas.

A outra fase de checagem consiste na análise dos resultados obtidos de

indicadores, output’s de processos. Não obstante, utilizar e cruzar esses dados é uma

formidável arma para nos indicar se a ferramenta está sendo usada e se ela tem

efetividade. Deve-se cruzar os dados de uso das ferramentas com os resultados do curso.

41

Pode-se buscar padrões de uso da ferramenta nos alunos que tiveram melhores resultados

no vestibular. Faz sentido imaginar que aqueles que mais usaram a plataforma terão

melhores resultados, mas é preciso comprovar com dados. Como foram as notas de

determinada matéria nos exames? E nas listas? Questionamentos como esses podem nos

levar a identificar que o método de ensino de um professor talvez não esteja dando

resultado. Possivelmente as listas estão desalinhadas com as demandas dos vestibulares,

caso os resultados não conversem. Portanto, deve-se medir o uso das funcionalidades da

ferramenta, os resultados dos alunos nas listas de exercício, o índice de erros nas questões

de cada matéria, e os resultados do vestibular.

Feita a análise, é importante agir em cima dos resultados, com planos de ação

fundamentados para reforçar pontos positivos, e melhoras os pontos negativos. Melhorar

listas cuja matéria tem obtido maus resultados nos exames. Ou mesmo reforçar o uso da

plataforma, caso identifique-se que só foi bem quem utilizou assiduamente a ferramenta.

Figura 7 - Diagrama PDCA aplicado ao case do Curso. Fonte: confecção própria, 2018.

A ideia do Ciclo PDCA ser um ciclo é que ele não deve parar nunca. A busca pela

melhoria deve ser contínua (Figura 7). Sempre há algum indicador que pode ser

melhorado, ou há melhores práticas que possam ser implementadas. Segundo Falconi

• Analisar engajamento

• Cruzar dados de alunos com resultados do curso e com atividade no processo

• Mudanças na plataforma

• Mudanças nos processos

• Mudanças de metodologia

• Mudança de pessoas

• Iniciar as aulas

• Alimentar a plataforma

• Seguir a operação

• Criação da plataforma

• Definição de processos

• Projeção de resultados

Plan Do

CheckAct

42

(2013), apenas com gestão, com busca de melhorias continuamente, e metas ousadas o

sucesso de uma organização pode acontecer.

Além dos indicadores da plataforma, é importante também que o curso consiga

levantar indicadores de desempenho individuais dos alunos. Parte importante da proposta

passa por entender melhor quem é o cliente, e tentar suprir suas necessidades, mesmo

antes deles perceberem sua necessidade. Espera-se que sejam poupados de necessidades

de fazer escolhas. Na proposta de inclusão da tecnologia no processo de aprendizagem, a

ferramenta coleta dados da performance do aluno e os usa para apontar aos monitores

quais as dúvidas terão. Mas além disso, esses dados servem de fomento também à

organização.

De posse desses dados, a gestão do curso é capaz de indicar ao aluno se ele deve,

ou não ir à monitoria, a quais matérias ele deve dar mais atenção (em que o aluno tenha

defasagem), quais tópicos estudar, listas extras ou livros de apoio, fazendo um

acompanhamento pedagógico do cliente, baseado nos tempos que levam para resolver

questões ou índice de acerto. Assim, pode-se chegar aos alunos com soluções para

problemas que, invariavelmente, eles mesmo podem não perceber.

Esses dados servem também como insumo para que o curso tome decisões

gerenciais sobre seus recursos. Pode-se identificar quais matérias estão gerando mais

problemas aos discentes, e descobrir-se que o problema é do material didático, da

abordagem de ensino, do conteúdo disponibilizado na plataforma ou mesmo do professor

que está ministrando as aulas.

43

8. CONCLUSÃO

Viu-se ao longo do projeto que mesmo processos que passam inicialmente a

impressão de já serem bem feitos, podem ser melhorados, confirmando-se a hipótese de

que o modelo atual não funciona tão bem para a atual geração. De uma situação conde

gera-se, durante quatorze horas apenas cinquenta por cento de valor, obteve-se a

possibilidade de gerar mais de vinte e cinco por cento a mais de valor ao cliente, ao

eliminar desperdícios.

Há um grande desafio, atualmente, que é o ensino em massa, em especial o pré-

vestibular. Faze-lo com qualidade é ainda mais complexo. Os tempos mudaram, e vê-se

hoje uma geração muito diferente das anteriores. O ensino tradicional parece que não

funciona mais tão bem para os jovens da atualidade. Educar essa geração parece

extremamente desafiador. Ao mesmo tempo que o avanço tecnológico parece fazer mudar

a juventude, tornando-a cada vez mais dinâmica, a tecnologia torna-se também uma

grande aliada para melhorar nossas condições de vida e nossos serviços.

Como visto no estudo, essa melhora, como o aumento do tempo livre tende a ser

benéfica para os indivíduos. Quando pensa-se nos exames que eles devem encarar, esse

tempo que ganham é extremamente importante, podendo ser usado para mais estudo, para

atividades de lazer ou culturais. Com sua ajuda, pôde-se transformar completamente um

processo de ensino que tinha fortes raízes tradicionais e inflexíveis. Mudança essa que foi

norteada quase que inteiramente pela filosofia Lean, aliada a uma nova metodologia de

ensino, a Andragogia.

Pode-se concluir, ao final do estudo, que o curso estudado tem um enorme

potencial de melhora, adaptando-se mais aos tempos modernos e oferecendo o melhor

serviço possível ao cliente. Com a introdução da tecnologia, estamos não só reduzindo

tempos, mas introduzindo no ensino uma tendência mundial, que é a utilização de big

data para conhecer melhor os clientes. Se muito é usado para atingir potenciais

consumidores em campanhas de marketing, no caso estudado permite que o curso consiga

entender melhor quem usufrui dos seus serviços, podendo direcionar atenção e adaptar o

produto ao aluno, aumentando significativamente suas chances de sucesso no vestibular.

Apesar da não prototipação do projeto, as perspectivas para a elevação do nível de serviço

são as melhores possíveis.

A proposta apresentada atende o objetivo pré-estabelecido, de adaptar o ensino

tradicional ao novo público, na medida em que consome seu tempo de forma mais

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eficiente, usa ferramentas tecnológicas e o conhecimento de Big Data para oferecer a ele

o melhor produto do qual ele necessita. Além disso, criou-se um processo mais curto,

proporcionando mais tempo livre para os jovens ao eliminar os desperdícios. Por último,

aplicou-se uma melhora da abordagem pedagógica, com o uso da andragogia. Tudo isso

feito de forma integrada com tecnologia, tornando mais próximos provedor e consumidor,

curso e aluno.

45

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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https://ead.academiadoconcurso.com.br/noticias-sobre-concursos/nao-deixe-que-

suas-anotacoes-prejudiquem-os-seus-estudos-conheca-o-metodo-cornell/102 Acessado

em: 01/03/2018.