a aplicaÇÃo da lei nº 11.719-08 ao processo penal eleitoral

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“A aplicação da Lei nº 11.719/08 ao Processo Penal Eleitoral”. por Maria Tereza O. S. Mussoi ORIENTADOR: FRANCIS RAJZMAN 2010 INSTITUTO A VEZ DO MESTRE RIO DE JANEIRO - BRASIL

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  • A aplicao da Lei n 11.719/08 ao Processo Penal Eleitoral.

    por

    Maria Tereza O. S. Mussoi

    ORIENTADOR: FRANCIS RAJZMAN

    2010

    INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

    RIO DE JANEIRO - BRASIL

  • 2

    A APLICAO DA LEI N 11.719/08 AO PROCESSO PENAL ELEITORAL

    por

    Maria Tereza O. S. Mussoi

    Monografia apresentada ao Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para a obteno de Ps-Graduao em Direito Penal e Direito Processual Penal Orientador: Francis Rajzman

    2010

  • 3

    Dedico, esse trabalho ao Carlos,

    Ana e Marina, como sempre .

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    Inmeros aqueles a quem devo agradecer.

    Inicialmente, meus agradecimentos aos colegas de turma que, desde o

    incio do curso, foram em muitos momentos difceis o meu apoio, me

    incentivando a continuar quando em determinadas situaes desistir teria sido

    a escolha.

    Aos meus colegas e amigos de trabalho, de enorme importncia nesta

    fase, pelo apoio, pelo suporte e pela inestimvel ajuda na escolha do tema,

    bem como na pesquisa e fornecimento de material para a elaborao deste

    trabalho.

    Meus agradecimentos aos professores e funcionrios do Instituto A Vez

    do Mestre, pelo ensinamento e cooperao.

    Por fim, a todos os meus parentes e amigos, que me deram fora para

    mais esta tardia aventura acadmica.

  • 5

    A maior das injustias parecer justo sem o ser

    (A Repblica Plato)

  • 6

    SUMRIO

    AGRADECIMENTOS................................................................. 04

    RESUMO.................................................................................... 08

    METODOLOGIA......................................................................... 09

    INTRODUO............................................................................ 10

    CAPITULO I AS ALTERAES NO RITO PROCESSUAL PENAL

    INTRODUZIDAS PELA LEI N 11.719/08

    1.1 Os Procedimentos Processuais Penais.................. 12

    1.2 O Procedimento Comum Ordinrio......................... 13

    1.3 O Procedimento Comum Sumrio.......................... 24

    1.4 O Procedimento Comum Sumarssimo................. 25

    CAPTULO II O PROCEDIMENTO PARA OS CRIMES

    ELEITORAIS PREVISTO NA LEI N 4.637/65

    2.1 O Processo Penal Eleitoral...................................... 27

    CAPTULO III APLICABILIDADE DO RITO PREVISTO NO

    CDIGO DE PROCESSO PENAL NOS CRIMES

    ELEITORAIS

  • 7

    3.1 A possibilidade de aplicao das modificaes

    impostas ao Cdigo de Processo Penal na legislao

    especial.................................................................... 38

    3.2 Solues Propostas para a aplicao do novo rito

    processual nos procedimentos penais eleitorais..... 46

    CONCLUSO.............................................................................. 49

    BIBLIOGRAFIA............................................................................ 51

  • 8

    RESUMO

    As inovaes trazidas com a edio da Lei n 11.719/08 trouxe vrios

    questionamentos com relao aos procedimentos penais.

    Um dos mais relevantes diz respeito possibilidade de sua aplicao

    nas leis especiais, em virtude dos diversos posicionamentos adotados pelos

    aplicadores do direito.

    Vrias teorias tm sido aduzidas, levando a uma inegvel insegurana

    jurdica, j que, quando de sua utilizao nos casos concretos, deixa ao livre

    arbtrio do juiz, no momento de sua deciso, a interpretao de seu melhor

    sentido.

    Ocorre que, como se ver a seguir, um importante princpio

    constitucional, o da isonoma, vem sendo atingido, uma vez que ritos distintos

    vm sendo aplicados em situaes fticas similares.

    De outra banda, tornou-se necessrio examinar outra questo

    tormentosa, qual seja, o momento do recebimento efetivo da denncia, para

    tentar definir o que seria mais benfico ao ru.

    Dessa forma, torna-se imperativa a busca de um consenso quanto ao

    melhor rito a ser aplicado quando da persacuo penal, qualquer que seja sua

    natureza, comum ou especial.

  • 9

    METODOLOGIA

    Este trabalho se trata de uma pesquisa unicamente bibliogrfica. Os

    principais autores utilizados na sua realizao deste trabalho pesquisa foram

    Eugnio Pacelli de Oliveira, Joel Jos Cndido, Marcos Ramayana, Geraldo

    Prado, Roberto Moreira de Almeida, Adriano Soares da Costa, dentre outros,

    alm de decises proferidas nos Tribunais do Poder Judicirio nacional.

  • 10

    INTRODUO

    Este trabalho tem por objetivo fazer um breve estudo sobre as

    alteraes legislativas introduzidas pela Lei n 11.719/08 e a possibilidade de

    sua aplicao no processo penal eleitoral ou, ainda, se dever ser mantido o

    rito previsto no Cdigo Eleitoral.

    O 2 do artigo 394 do CPP, com a redao dada pela nova lei,

    estabelece expressamente que as novas disposies do CPP no se aplicam

    s leis especiais.

    No entanto, logo abaixo, ressalva a aplicao dos arts. 395 a 398 a

    todos os procedimentos penais.

    Assim, ao mesmo tempo em que determina a no aplicao dos novos

    artigos legislao especial, tal regra excepcionada com relao aos arts.

    395 a 398.

    Portanto, h aparente contradio entre as normas, o que impossibilita

    a afirmao de qual rito dever ser seguido nas causas eleitorais.

    Desde a alterao do Cdigo de Processo Penal, os operadores do

    direito, incluindo-se os julgadores das causas criminais eleitorais, vm se

    deparando com esta tormentosa questo, uma vez que h grande divergncia

    em sede doutrinria e jurisprudencial.

    Este tema tem significativa importncia, tendo em vista que implica em

    saber qual o procedimento a ser seguido nas Aes Penais Eleitorais,

    evitando-se, destarte, enorme insegurana jurdica, posto que vem se

    verificando a utilizao dos dois ritos nos diferentes juzos eleitorais.

    Ademais, se questiona se a aplicao da nova legislao seria a mais

    benfica aos rus.

  • 11

    Assim, dirimir as dvidas surgidas quanto ao rito a ser aplicado nas

    questes penais eleitorais torna-se, atualmente, premente, visto a necessidade

    de uniformizao nas causas submetidas a julgamento.

    H recente deciso do Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Rio de

    Janeiro no sentido da aplicao das novas normas do CPP.

    De outra banda, o Tribunal Superior Eleitoral, em recente deciso, se

    pronunciou no sentido contrrio, posicionando-se pela no aplicao do rito

    previsto na nova lei, entendo pela manuteno daquele previsto na legislao

    eleitoral.

    Outrossim, o Supremo Tribunal Federal, quando provocado sobre a

    aplicao do novo rito do Cdigo de Processo Penal nas causas em que tem

    competncia originria, que tambm estariam excepcionadas a teor do

    disposto no 2 do art. 394, do CPP, entendeu por sua no aplicao.

    Dessa forma, torna-se imperativa a busca de um consenso quanto a

    essa questo, para a definio de sua aplicabilidade frente ao crimes de

    natureza eleitoral.

  • 12

    CAPTULO I

    AS ALTERAES NO RITO PROCESSUAL

    PENAL INTRODUZIDAS PELA LEI N 11.719/08

    1.1. Os Procedimentos Processuais Penais

    Os doutrinadores afirmavam que, antes da reforma processual

    introduzida pela Lei n. 11.719/08, o procedimento comum era dividido em

    ordinrio e sumrio, levando-se em conta, to-somente, o tipo de pena

    aplicada, recluso ou deteno.

    O procedimento comum ordinrio destinava-se apurao e

    processamento daqueles crimes apenados com recluso, enquanto o sumrio

    destinava-se aos crimes apenados com deteno, ou seja, para a aplicao do

    rito levava-se em conta somente a natureza da sano a ser aplicada,

    desconsiderando-se, destarte, o limite mximo da pena prevista no tipo penal.

    A principal alterao trazida pela referida lei quanto a esta questo veio

    no bojo do art. 394 do CPP, onde percebe-se a preocupao do legislador

    infraconstitucional de melhor definir o rito processual penal, evitando-se, desta

    forma, diminuir a ocorrncia de pedidos de nulidade no processo penal.

    Assim, atualmente h previso para dois tipos de procedimento, o

    comum ou o especial e, dependendo da penalidade aplicada, o comum se

    dividir em ordinrio, sumrio ou sumarssimo, seno vejamos:

    Art. 394. O procedimento ser comum ou especial.

    1o O procedimento comum ser ordinrio, sumrio ou

    sumarssimo:

  • 13

    I - ordinrio, quando tiver por objeto crime cuja sano mxima

    cominada for igual ou superior a 4 (quatro) anos de pena

    privativa de liberdade;

    II - sumrio, quando tiver por objeto crime cuja sano mxima

    cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de

    liberdade;

    III - sumarssimo, para as infraes penais de menor potencial

    ofensivo, na forma da lei.

    (...)

    Deste modo, o comum ser a regra geral, a ser aplicado em qualquer

    processo penal, excetuando-se quando previsto em outro sentido no prprio

    CPP ou determinado em lei especial. Entretanto, por ser regra geral, ser

    aplicado subsidiariamente aos procedimentos especial, sumrio e sumarssimo,

    a teor do seu pargrafo 5:

    (...) 5o Aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos

    especial, sumrio e sumarssimo as disposies do

    procedimento ordinrio.

    Ressalta-se que no ser somente a pena em abstrato que ir nortear

    a aplicao do rito comum ordinrio, uma vez que ainda dever se considerar o

    tipo de crime cometido, bem como a competncia fixada para seu julgamento,

    como os crimes dolosos contra vida, de competncia constitucionalmente

    determinada do Tribunal do Jri, e aqueles de competncia originria dos

    Tribunais.

    1.2. O PROCEDIMENTO COMUM ORDINRIO

    Este procedimento encontra-se normatizado nos artigos 394 a 405 do

    Cdigo de Processo Penal.

  • 14

    De acordo com o art. 396, seu incio se dar com o recebimento da

    denncia ou queixa, se no for rejeitada liminarmente nas hipteses previstas

    no art. 395, quais sejam: (i) inpcia da petio inicial; (ii) ausncia de

    pressuposto processual ou de uma das condies para o exerccio da ao; e

    (iii) ausncia de justa causa.

    Em no sendo caso de rejeio, verificando o julgador que h suporte

    probatrio mnimo, a pea inicial ser recebida, determinando-se a citao do

    acusado, com prazo de 10 (dez) dias para apresentao de defesa escrita.

    O recebimento da petio inicial, que causa de interrupo da

    prescrio, iniciar uma fase preliminar de defesa, trazendo uma grande

    inovao ao procedimento penal, pois h agora uma inverso do rito anterior,

    conforme disciplina o art. 396-A do mesmo diploma legal, abaixo reproduzido:

    Art. 396-A. Na resposta, o acusado poder argir

    preliminares e alegar tudo o que interesse sua defesa,

    oferecer documentos e justificaes, especificar as provas

    pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e

    requerendo sua intimao, quando necessrio.

    1o A exceo ser processada em apartado, nos

    termos dos arts. 95 a 112 deste Cdigo.

    2o No apresentada a resposta no prazo legal, ou se o

    acusado, citado, no constituir defensor, o juiz nomear

    defensor para oferec-la, concedendo-lhe vista dos autos por

    10 (dez) dias.

    H uma enorme diferena entre esta resposta e a defesa prvia

    anteriormente prevista, uma vez que aquela tinha por objetivo unicamente a

    apresentao do rol de testemunhas. Esta alterao decorre do permissivo

    contido no art. 397 de o juiz realizar o julgamento antecipado da lide, a

    absolvio sumria, nas hipteses previstas em seus incisos:

  • 15

    Art. 397. Aps o cumprimento do disposto no art. 396-A, e

    pargrafos, deste Cdigo, o juiz dever absolver

    sumariamente o acusado quando verificar: (Redao dada

    pela Lei n 11.719, de 2008).

    I - a existncia manifesta de causa excludente da ilicitude do

    fato;

    II - a existncia manifesta de causa excludente da

    culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade;

    III - que o fato narrado evidentemente no constitui crime; ou

    IV - extinta a punibilidade do agente.

    Ademais, verifica-se ser esta resposta obrigatria, a teor de seu

    pargrafo 2 do art. 396 (no apresentada a resposta no prazo legal, ou se o

    acusado, citado, no constituir defensor, o juiz nomear defensor para oferec-

    la, concedendo-lhe vista dos autos por 10 (dez) dias.), tendo em vista ser este

    o momento processual oportuno para o acusado arrolar testemunhas, arguir

    preliminares e requerer produo de provas, constituindo-se na primeira

    interveno da defesa tcnica, e, ainda, pelo fato de que em razo de sua

    ausncia ser passvel o reconhecimento de nulidade absoluta.

    Outrossim, para alguns doutrinadores, como Nestor Tvora e Rosmar

    Antonni Rodrigues Cavalcanti de Alencar1, ainda que no haja previso

    expressa, dever ser aberta vista para a parte adversa, para manifestao no

    prazo de cinco dias, aplicando-se por analogia o art. 409 do CPP (apresentada

    a defesa, o juiz ouvir o Ministrio Pblico ou o querelante sobre preliminares e

    documentos, em 5 (cinco) dias).

    1TVORA E ALECAR, Nestor e Rosmar. Curso de Direito Processual Penal. 1 ed. Ed. Jus Podium, p.5.

  • 16

    Este procedimento derivaria da necessidade de a parte contrria se

    manifestar sobre as preliminares argudas e documentos porventura acostados,

    em observncia ao princpio constitucional do contraditrio, j que poder

    haver a extino de punibilidade do acusado, evitando-se, assim, que o autor

    da demanda seja surpreendido com deciso fundamentada em argumentos por

    ele desconhecidos.

    Caso o juiz se depare com algumas das hipteses do art. 396-A,

    dever ser o acusado absolvido sumariamente, ressaltando-se que, neste

    caso, deve haver um juzo de certeza por parte do aplicador do direito.

    Ao contrrio, em no sendo caso de rejeio ou de absolvio sumria,

    ser designada audincia audincia de instruo e julgamento, que com as

    alteraes perpretadas pela nova lei, ser nica.

    Entretanto, o art. 399, CPP dispe que recebida a denncia ou a

    queixa, o juiz designar dia e hora para a audincia, o que gera imensa

    discusso em sede doutrinria e jurisprudencial sobre o momento efetivo do

    recebimento da pea inicial.

    Em verdade, se discute em que momento se inicia a ao penal, tendo

    em vista a nova redao do art. 363 do Cdigo de Processo Penal, que

    disciplina:

    Art. 363. O processo ter completada a sua formao quando

    realizada a citao do acusado.

    Assim, necessria a anlise do momento de recebimento da denncia

    para que a citao seja realizada.

    A primeria corrente entende que o recebimento da denncia se verifica

    na fase do art. 396 do CPP, porque fala em citao e no processo penal

    clssico s h citao quando comea o processo.

  • 17

    Para esta corrente, que tem como principais adeptos Guilherme de

    Souza Nucci, Pacelli, Polastri, Aury Lopes Jr, Luis Flvio Gomes e Capez, a

    resposta da defesa serve somente para a absolvio sumria, e que o disposto

    no art. 399 s confirmaria o recebimento ocorrido em momento anterior.

    Alegam, ainda, que se o juiz recebeu a denncia, j teria apreciado os

    requisitos do art. 395 do CPP.

    De outra banda, uma segunda corrente entende que o efetivo

    recebimento da denncia ocorre em momento posterior, e que o contido no art.

    396, CPP se trataria de uma aceitao provisria, pois ela poderia ser rejeitada

    com base no art. 395, CPP.

    Desta forma, o juiz mandaria notificar o acusado e no cit-lo. Vinda a

    resposta, seria feita a anlise da defesa e, no sendo caso de rejeio ou de

    absolvio sumria, ocorreria ento a citao.

    Aduzem que em algumas leis especficas se verifica que este tem sido

    o intuito do legislador.

    A Lei n 9.099/95, dos Juzados Especiais Criminais, em seu art. 81,

    dispe:

    Art. 81 - Aberta a audincia, ser dada a palavra ao defensor

    para responder acusao, aps o que o Juiz receber,

    ou no, a denncia ou queixa; havendo recebimento, sero

    ouvidas a vtima e as testemunhas de acusao e defesa,

    interrogando-se a seguir o acusado, se presente, passando-se

    imediatamente aos debates orais e prolao da

    sentena.(grifamos)

    De outra banda, a Lei n 11.343/06, que institui o Sistema Nacional de

    Polticas Pblicas sobre Drogas, em seu art. 55 tem como redao:

  • 18

    Art. 55. Oferecida a denncia, o juiz ordenar a

    notificao do acusado para oferecer defesa prvia, por

    escrito, no prazo de 10 (dez) dias.(grifamos)

    Em sendo assim, haveria possibilidade de um contraditrio em

    momento anterior citao, evitando-se, destarte, que o acusado fosse

    efetivamente parte de um processo, j que no caso de sua absolvio sumria

    aps a citao haveria anotao em sua Folha de Antecedentes Criminais.

    Para esta corrente, se assim no fosse, seria possvel o oferecimento

    da denncia inaudita altera pars, sem manifestao da parte e, portanto, sem

    contraditrio, tendo ocorrido um mero erro tcnico, como outros tantos, quando

    se fala em absolvio sumria.

    Outrossim, tambm aduzem um problema em relao a vrios

    institutos, dentre eles o da prescrio, j que a regra do recebimento da

    denncia tem natureza mista, portanto teria que ser interpretada de maneira

    mais benfica ao ru.

    Esta talvez seja a grande polmica trazida pela lei alteradora do CPP,

    em razo da diversidade de consequncias para o ru, posto que, de acordo

    com o art. 117, I, do Cdigo Penal, o recebimento da denncia constitui marco

    interruptivo da prescrio.

    Na vigncia dos dispositivos anteriores, considerava-se, de maneira

    pacfica, o momento do recebimento da denncia como o do juzo de

    admissibilidade da pea inicial acusatria, quando de seu oferecimento.

    Na viso de Cezar Roberto Bitencourt e de Jose Fernando Gonzales2,

    o legislador pode at ter pretendido antecipar o recebimento da inicial (juzo de

    admissibilidade) para oportunidade anterior citao, mas certamente no o

    fez.

    2 http//www.jusbrasilcom.br/noticias/115162/o-recebimento-da-denncia-segundo-a-lei-11719-08. Acesso em 30.01.2010.

  • 19

    Segundo os referidos autores, o projeto de lei pretendia uniformizar os

    procedimentos, com um modelo de contraditrio antecipado, no qual o juzo de

    admissibilidade somente seria realizado aps a defesa prvia.

    Baseiam sua fundamentao na redao constante no PL 4.207/01,

    que deu origem lei, para o artigo 395:

    Art. 395. Nos procedimentos ordinrio e sumrio, oferecida a

    denncia ou queixa, o juiz, se no a rejeitar liminarmente,

    ordenar a citao do acusado para responder acusao,

    por escrito, no prazo de dez dias, contados da data da juntada

    do mandado aos autos ou, no caso de citao por edital, do

    comparecimento pessoal do acusado ou do defensor

    constitudo.

    Ressaltam, ainda, que mesmo que as alteraes sofridas possam

    indicar uma mudana de posio do legislador, diversas disposies mantidas

    do projeto seriam incompatveis com o recebimento da denncia em um

    momento inicial.

    Tambm neste mesmo sentido se manifesta Fernando da Costa

    Tourinho Filho3, no artigo intitulado Lei n 11.719/2008, que alterou Cdigo de

    Processo Penal, pe em risco o direito constitucional ampla defesa, como se

    v:

    Como a denncia no pode ser recebida duas vezes e tendo

    em vista a tendncia de ser a pea acusatria recebida aps a

    resposta do ru, como acontece nos procedimentos da

    competncia dos Tribunais (Lei n 8.038/1990), na Lei de

    Txicos (Lei n 11.343/2006) e no procedimento sumarissimo

    (arts. 77 a 81 da Lei n 9.099/1995), entendemos que, se o juiz

    no rejeitar a denncia ou queixa, simplesmente determinar

    seja o ru notificado para dar a sua resposta.

    3 http://revistavisaojuridica.uol.com.br/advogados-leis-jurisprudencia/35/julgamento-antecipado-no-processo-penal-lei-no-11719-2008-131969-1.asp. Acesso em 30.01.2010.

  • 20

    Para o respeitado doutrinador, a citao a que faz referncia o art. 396

    trataria-se de mera notificao, ocorrendo a citao na fase do art. 399, quando

    ento haveria a interrupo do prazo prescricional.

    A denncia s ser recebida na ausncia das hipteses previstas no

    art. 395 e este recebimento seria liminar, apenas para determinar a citao

    (rectius - notificao) do acusado para responder a acusao que lhe

    imputada.

    Em conformidade com o disposto no art. 396-A, a defesa preliminar

    teria o condo de impedir o recebimento da denncia, permitindo defesa a

    arguio de tudo que lhe interessar, juntando documentos e justificaes, na

    tentativa de obstar a formao de um processo contra o suspeito, que poderia

    at ser chamado de investigado ou indiciado, pois ainda no teria havido

    tecnicamente o recebimento da denncia.

    Assim, aps a apresentao da defesa prvia e analisando o artigo

    397 e 399 o juiz poderia absolver sumariamente.

    Entretanto, se houvesse o recebimento da denncia, seria ento

    designada a audincia una, nos termos do artigo 400 do CPP, iniciando-se,

    assim, a persecutio criminis in juditio.

    Do mesmo modo a viso de Paulo Rangel4, que entende haver o

    recebimento da denncia aps a anlise da admissibilidade da acusao, ou

    seja, aps a resposta escrita, por ocasio do artigo 399 do CPP e no na do

    artigo 396.

    Neste passo, o brilhante voto do Desembargador Geraldo Prado em

    sede de HC5 cuja ementa reproduzimos:

    4 RAGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 15 ed. Ed. Lumen Juris. 2008, p.495. 5http://www.mp.rj.gov.br/portal/page/portal/Internet/Repositorio_Arquivos/3ewsletter/2009/Diario_Justica/20090810SEGDJETJRJ.pdf. Acesso em 30.01.2010.

  • 21

    Quinta Cmara Criminal do Tribunal de Justia do Estado do

    Rio de Janeiro HC 5975 MK HABEAS CORPUS

    2009.059.05975 AUTORIDADE COATORA: VARA NICA DE

    ARRAIL DO CABO IMPETRANTES: (1) LUIZ RODRIGO DE

    AGUIAR BARBUDA BROCCHI (2) MARCELO NAPOLITANO

    DE OLIVEIRA PACIENTE: HERCULANO JOS LEAL DO

    CABO CORRU: JOS TARCISIO CORREA NEVES OUTRO

    NOME: JOS TARSISIO CORREA NEVES CORRU:

    LUCIANO GUIMARES DE CARVALHO EMENTA: HABEAS

    CORPUS. PROCESSO PENAL. ALEGAO DE INPCIA DA

    DENNCIA E AUSNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A

    DEFLAGRAO DA AO PENAL. CORRETA

    INTERPRETAO DO ARTIGO 396 DO CDIGO DE

    PROCESSSO PENAL. LEI 11.719/08 QUE ACOLHE A

    ESTRUTURA TRIFSICA DO PROCEDIMENTO,

    ANCORADA NO JUSTO PROPSITO DE INTRODUZIR UMA

    ETAPA DE DEBATE CONTRADITRIO PARA A

    ADMISSIBILIDADE DA ACUSAO E COM ISSO EVITAR

    SITUAES DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL.

    IMPRESCINDIBILIDADE DO CONTRADITRIO PRVIO E

    NECESSIDADE DE FUNDAMENTAO DA DECISO QUE

    RECEBE OU NO A DENNCIA. Paciente processado no

    juzo da Vara nica de Arraial do Cabo porque, em tese, como

    Diretor Presidente da Companhia Nacional de lcalis S/A teria

    suprimido o pagamento de ICMS no perodo compreendido

    entre 1 de julho de 2004 e 10 de maro de 2006. Caso

    concreto que demonstra o equvoco da interpretao e

    aplicao literal da regra contida no preceito do artigo 396,

    caput, do Cdigo de Processo Penal. Reelaborao legislativa

    do estatuto processual penal que foi concebida e orientada

    concretizao da garantia do contraditrio (artigo 5, inciso LV,

    da Constituio da Repblica). Introduo de uma etapa de

    avaliao sobre a viabilidade e idoneidade da acusao, bem

    como a necessidade de se atribuir carter decisrio

  • 22

    manifestao do magistrado que recebe ou no a denncia ou

    queixa. Exame prvio de admissibilidade da acusao que tem

    por escopo evitar a instaurao de processo criminal levando-

    se em conta o reforo sgarantias constitucionais do acusado.

    Projeto original, que resultou na Lei 11.719/08, modificado

    com a introduo da mesclise da discrdia receb-la- no

    artigo 96 do Cdigo de Processo Penal. Impossibilidade de se

    suprimir o contraditrio preliminar, etapa necessria

    formao do convencimento do magistrado no momento de

    proferir a deciso (fundamentada) de recebimento da enncia.

    Juzo de admissibilidade da acusao que se desloca para

    depois da resposta do acusado (conforme preconiza o artigo

    399 do Diploma Processual Penal), como nica soluo

    compatvel com o Estado de Direito e, por isso, com a

    Constituio da Repblica. Interpretao conferida que

    tambm procura prestigiar a configurao normativa que

    melhor promova asgarantias constitucionais do processo

    penal. Sacrifcio parcial da primeira norma (artigo 396 do

    Cdigo Processo Penal), uma vez que apenas o preceito que

    determina o imediato recebimento da inicial (receb-la) ser

    eliminado, porque somente ele contrasta com o preceito que

    remete esta deciso ao instante posterior ao da apresentao

    da defesa preliminar (artigo 399 do Cdigo de Processo

    Penal). Dvidas sobre a viabilidadeda pea acusatria que

    refora a tese da necessidade do contraditrio prvio ao

    recebimento da denncia. Reconhecimento da nulidade da

    deciso que recebe a denncia e no aponta as razes de

    decidir. Constrangimento ilegal configurado.

    ORDEM CONCEDIDA.

    Em sentido oposto doutrinadores como Aury Lopes Jr.6, Andrey Borges

    de Mendona7 e Marcellus Polastri8, entendendo que a citao ocorrer

    6 E por que essas condies da ao esto no art. 397 como causa de absolvio sumria?

  • 23

    quando do chamamento do acusado para apresentao de defesa prvia,

    quando no for o caso de rejeio da denncia.

    A seguir, o art. 400, CPP, disciplina a audincia, determinando que sua

    realizao se dar no prazo mximo de 30 (trinta) dias, para produo das

    provas, quais sejam: tomada das declaraes do ofendido; oitiva de

    testemunhas; esclarecimentos dos peritos; acareaes e interrogatrio do

    acusado.

    Encerrada esta fase, podero ser requeridas diligncias (art. 402,CPP).

    Em no havendo requerimentos, ou sendo indeferidos pelo juiz, sero abertos

    os debates, com as alegaes finais realizadas oralmente (art. 403, CPP).

    Ressalta-se a existncia de crticas quanto apresentao oral das

    alegaes finais, visto que prejudicial defesa, em virtude do pouco tempo

    para a sua elaborao, aps as alegaes da acusao.

    Em seguida, ser proferida a sentena, ainda em audincia, lembrando

    que, em razo da complexidade do caso, poder ser concedido s partes o

    prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentao de memoriais,

    devendo, ento, a setena ser proferida no prazo de 10 (dez) dias (art. 403,

    3, CPP).

    Porque so condies intimamente vinculadas ao mrito, ao elemento objetivo da pretenso acusatria, e dizem respeito ao interesse da defesa, que, como regra, acabam sendo alegados (e demonstrados) depois, na resposta preliminar do art. 396-A. Dificilmente o juiz tem elementos para analisar a existncia de uma causa de excluso de ilicitude ou culpabilidade, mesmo que manifesta, quando do oferecimento da denncia ou queixa(...) in LOPES JR., Direito Processual Penal. 3 ed. Ed. Lumen Juris. 2008, p.391. 7 Em nosso sentir, aps o seu oferecimento, caso no seja hiptese de rejeio liminar da acusao, dever o juiz receber a denncia ou queixa, determinando depois a citao do acusado para apresentar resposta escrita. (...) Veja, portanto, que o magistrado analisa a admissibilidade da acusao, mesmo que implicitamente. Se determinou que a citao deva ocorrer, porque no vislumbrou hiptese de indeferimento liminar. in MEDOA, Andrey Borges de. 3ova Reforma do Cdigo de Processo Penal. 2 ed. Ed. Mtodo. 2009, p.257. 8 Na verdade, a denncia, embora deva ser rejeitada liminarmente pelos motivos previstos no artigo 395 (e pensamos tambm por aqueles previstos no 397 do CPP), no pode ser desde logo julgada improcedente, com uma absolvio sumria, devendo antes ser recebida e respondida. (...) No h dois recebimentos, o que h uma m redao da lei. Na verdade, j tendo sido recebida a denncia , se no for o caso de absolvio sumria, mantido est tacitamente o recebimento, ou, por outras palavras, recebida que foi a denncia, ou, tendo sido recebida a denncia sem posterior absolvio, o juiz designar a audincia. Assim deve ser interpretado o art. 399 do CPP. . in POLASTRI LIMA, Marcellus. Manual de Processo Penal. 4 ed. Ed. Lumen Juris. 2009,p. 744.

  • 24

    De outra banda, segundo o art. 404 do Cdigo, entendendo o juiz pela

    realizao de diligncia considerada imprescindvel, de ofcio ou a

    requerimento da parte, a audincia ser concluda sem as alegaes finais. As

    partes apresentaro, no prazo legal, suas alegaes finais, por memorial, e,

    aps, no prazo de 10 (dez) dias, ser proferida a sentena (pargrafo nico).

    Vale lembrar que nas aes penais pblicas a omisso do MP

    equivaleria, indiretamente, a uma desistncia da ao e nas aes privadas,

    levaria extino da punibilidade.

    1.3. O PROCEDIMENTO COMUM SUMRIO

    O rito sumrio ser utilizado quando tiver por objeto crime cuja pena

    mxima cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade.

    Sero aplicadas a este rito as regras insculpidas nos artigos 395 a 397

    do Cdigo de Processo Penal, utilizadas no rito ordinrio, por expressa

    disposio legal (Art. 394, 4 - As disposies dos arts. 395 a 398 deste

    Cdigo aplicam-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau, ainda

    que no regulados neste Cdigo).

    Por este motivo, as suas fases iniciais so iguais s do rito ordinrio, e

    as disposies especficas encontram-se disciplinadas nos artigos 531 e

    seguintes do CPP, as quais passaremos a analisar.

    Em primeiro lugar, a audincia ser designada no prazo de 30 (trinta)

    dias, ao contrrio do ordinrio que se dar em 60 (sessenta) dias.

    No haver a aplicao dos artigos 402, 403 e 404 do CPP, tendo em

    vista a impossibilidade de fracionamento das fases instrutrias, postulatrias e

    decisria, ou seja, no haver possibilidade de requerimento de diligncias, de

  • 25

    apresentao posterior de memoriais e de prolatao de sentena posterior

    audincia de instruo e julgamento.

    Diferem, tambm, quanto ao nmero de testemunhas a serem

    arroladas, que neste rito de 6 (seis), enquanto naquele h previso de 8 (oito)

    testemunhas.

    Assim, no se vislumbram grandes diferenas entre os dois

    procedimentos.

    1.4. O PROCEDIMENTO COMUM SUMARSSIMO

    Ser feita uma breve anlise de seu rito, visto que, ainda que previsto

    no art. 394, III, do CPP, com a redao dada pela nova lei, diz respeito s

    infraes penais de menor potencial ofensivo, portanto aquelas de competncia

    dos Juzados Especiais Criminais, disciplinadas na Lei n. 9.099/95.

    Inicialmente, aps a lavratura do termo circunstanciado, haver uma

    audincia preliminar, a qual ter como principal objetivo a composio dos

    danos causados pelo cometimento do ilcito penal e o oferecimento da

    transao penal.

    Ocorrendo a composio dos danos, ser proferida sentena

    homologatria do acordo formado entre as parte, que no caso de ao penal

    privada ou pblica condicionada a representao implicar na renncia ao

    direito de queixa ou da representao.

    Entretanto, em se tratando de ao penal pblica incondicionada, a

    composio com o ofendido no impede a posterior atuao estatal.

    Na hiptese de ausncia de composio dos danos, inicia-se a fase de

    conciliao.

  • 26

    O art. 76 da Lei n. 9.009/95 prev o instituto da transao penal, para

    as aes penais pblicas, mas h entendimento em doutrina e jurisprudncia

    pela possibilidade de seu oferecimento nas aes penais privadas, quando no

    tiver ocorrido a composio civil dos danos.

    O Ministrio Pblico, quando convencido da materialidade do crime e

    de sua autoria dever oferecer a transao penal, nas hipteses do art. 76,

    que, ao ser aceita, ser homologada pelo juiz.

    No caso de no aceitao da proposta, ser oferecida imediatamente,

    de forma oral, a denncia (art. 77). A pea inicial, entretanto, somente ser

    recebida aps a resposta do ru (art. 81).

    Ser designada audincia de instruo e julgamento, na qual devero

    ser apresentadas pelas partes as testemunhas a serem ouvidas,

    independentemente de intimao.

    A pea acusatria poder ser rejeitada, no caso do julgador entender

    pela inexistncia do crime, sem que tenha determinado a citao do acusado.

    Na audincia, ser renovada a tentativa de conciliao e a proposta de

    transao penal. Em caso de negativa, a defesa oferecer sua resposta. No

    caso de recebimento da pea acusatria, sero ouvidas a vtima, as

    testemunhas de acusao e as da defesa.

    Aps, ocorrer o interrogatrio do ru, seguido da apresentao de

    razes orais, proferindo o juiz, ento, sua deciso.

  • 27

    CAPTULO II

    O PROCEDIMENTO PARA OS CRIMES

    ELEITORAIS PREVISTO NA LEI N 4.637/65

    2.1 O PROCESSO PENAL ELEITORAL

    O Direito Eleitoral tem seu prprio regramento em matria processual,

    insculpido nos artigos 355 a 364 do Cdigo Eleitoral.

    Ressalta-se que, por expressa determinao legal (art. 355, CE), os

    crimes eleitorais so de ao penal pblica incondicionada, iniciando-se com o

    oferecimento da denncia pelo Ministrio Pblico Eleitoral, o detentor da

    legitimidade para deflagr-la.

    Esta escolha legislativa tem como razo o fato de as aes eleitorais

    terem natureza pblica, uma vez que o interesse do Estado posto que o

    cometimento de ilcito eleitoral atinge a ordem pblica.

    Ainda que se trate de crime que na legislao penal comum sejam de

    ao penal privada, como o caso dos crimes contra a honra, no direito

    eleitoral sero de ao penal pblica incondicionada, posto que a leso maior

    ser sempre do Estado, em face do ntido interesse pblico envolvido. Neste

    sentido9:

    A calnia, a difamao e a injria tipificam crimes eleitorais

    quando ocorrem em propaganda eleitoral ou visando a fins de

    propaganda eleitoral (Cdigo Eleitoral, artigos 324, 325 e 326).

    9http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=2188&classe=Inq&origem=

    AP&recurso=0&tipoJulgamento=M. Acesso em 30.01.2010.

  • 28

    Com base nesse entendimento, o Tribunal, por ilegitimidade

    ativa, rejeitou queixa-crime ajuizada contra Deputado Federal,

    na qual se lhe imputava a prtica dos crimes de calnia e

    difamao (Lei 5.250/67, artigos 20 e 21, c/c o art. 23, II), em

    concurso formal, que teriam ocorrido durante a transmisso de

    programa eleitoral gratuito. Considerou-se que a hiptese

    dos autos configuraria crime eleitoral, perseguvel por

    ao penal pblica, nos termos do art. 355, do Cdigo

    Eleitoral. Salientou-se, ademais, que, nos crimes eleitorais

    cometidos por meio da imprensa, do rdio ou da televiso,

    aplicam-se exclusivamente as normas desse Cdigo e as

    remisses a outra lei nele contempladas.

    STF - Inq 2188/BA, rel. Min. Seplveda Pertence, 6.9.2006.

    (Inq-2188) (grifamos)

    Admite-se, porm, em sede doutrinria e jurisprudencial, a ao penal

    privada subsidiria da pblica, quando da inrcia do Ministrio Pblico

    Eleitoral10, conforme se depreende do voto de relatoria do Ministro Fernando

    Neves, no Acrdo o 21.295, quando do julgamento do Recurso Especial

    Eleitoral n 21.295, de Americana SP11, que unanimemente acompanhou o

    voto do relator, o qual transcrevemos:

    Ainda que o interesse pblico realmente esteja evidenciado

    nos feitos da Justia Eleitoral, no me parece suficiente esse

    argumento para elidir a possibilidade de se propor a ao

    penal privada subsidiria no que se refere aos crimes

    eleitorais.

    De modo geral, nas aes penais pblicas,

    incondicionadas ou condicionadas representao ou

    requisio, tambm est presente o interesse pblico,

    motivo por que a legitimao para agir reservada ao

    10 ALMEIDA, Roberto Moreira de. Direito Eleitoral. 2 ed.. Ed. Podivm. 2009. p. 343 11http://www.tse.jus.br/servicos_online/catalogo_publicacoes/revista_eletronica/internas/rj14_4/paginas/acordaos/ac21295.htm. Acesso em 30.01.2010.

  • 29

    Ministrio Pblico, a quem incumbe o exerccio da

    atividade persecutria, nos termos do art. 129, I, da

    Constituio Federal.

    No entanto, o legislador previu a ao penal privada

    subsidiria como instrumento destinado eventual

    desdia ou inrcia do Parquet no exerccio dessa funo.

    A Constituio da Repblica elevou essa hiptese de

    legitimao extraordinria, j prevista nos arts. 100, 3o,

    do Cdigo Penal e 29 do Cdigo de Processo Penal,

    condio de garantia insculpida no art. 5o, LIX, daquela

    Carta, que, alis, constitui clusula ptrea. Trata-se da

    nica exceo regra da titularidade exclusiva do

    Ministrio Pblico nos crimes de ao penal pblica.

    Desse modo, considerando que a prpria Constituio Federal

    no estabeleceu nenhuma restrio quanto sua aplicao

    aos delitos previstos na legislao especial, entendo deva ser

    admitida a ao penal privada subsidiria no que se refere s

    aes relativas aos crimes eleitorais, os quais se apuram

    mediante ao penal pblica incondicionada, conforme

    inteligncia do art. 355 do Cdigo Eleitoral. (grifamos)

    De outra banda, no obstante o art. 356, CE tenha como dico

    Quando a comunicao fr verbal, mandar a autoridade judicial reduzi-la a

    trmo, assinado pelo apresentante e por duas testemunhas, e a remeter ao

    rgo do Ministrio Pblico local, que proceder na forma dste Cdigo,

    dever ser seguida a regra geral prevista no Cdigo de Processo Penal (art.

    46, 3). Assim a pea acusatria no precisa ser instruda pelo Inqurito

    Policial, questo que se encontra pacificada em jurisprudncia, a saber:

    Agravo regimental. Agravo de instrumento. Crime. Corrupo

    eleitoral. Art. 299 do Cdigo Eleitoral. Decurso de prazo. Art.

    357 do Cdigo Eleitoral. Ausncia. Oferecimento de denncia.

  • 30

    Inexistncia. Extino da punibilidade. Instaurao de inqurito

    policial. Dispensvel.

    1. O decurso de prazo do art. 357 do Cdigo Eleitoral sem

    oferecimento de denncia no extingue a punibilidade, na

    medida em que se trata de prazo de natureza administrativa.

    2. A instaurao de inqurito policial no imprescindvel

    para o oferecimento da denncia.

    Agravo no provido.

    (TSE, AAG n. 4.692, Ac. n. 4.692, de 22.6.2004, Rel. Min.

    Fernando Neves)12(grifamos)

    Nas palavras de Joel Jos Cndido13, a autoridade policial pode e

    deve instaurar inqurito de ofcio, equivocando-se aqueles que entendem pela

    necessidade de comunicao judicial para sua instaurao, posto que as aes

    penais eleitorais so pblicas incondicionadas, podendo o Parquet oferec-las

    sem que estejam instrudas com a pea investigativa.

    Ademais, o art. 356, CE faria referncia uma forma de comunicao

    de cometimento de crime eleitoral, se tratando, portanto, to-somente de

    notittia criminis que pode ser endereada autoridade judicial.

    A competncia para o julgamento das aes penais eleitorais

    exclusiva da Justia Eleitoral, competncia esta estabelecida em razo da

    matria.

    Entretanto, h previso do foro especial, por prerrogativa de funo,

    cabendo o julgamento pelo Tribunal Superior Eleitoral do Presidente e do Vice-

    Presidente da Repblica, Senadores, Suplentes e Deputados Federais. Aos

    12 http://www.tre-ce.gov.br/tre/juris/public/EmentarioTematico3_2006.pdf. Acesso em 30.01.2010. 13 CDIDO, Joel J. Direito Eleitoral Brasileiro. 11 ed. Ed. Edipro, 2005. p. 337.

  • 31

    Tribunais Regionais Eleitorais caberia o julgamento do Governador e do Vice,

    bem como de Deputados Estaduais, Distritais e Prefeitos.

    Quanto aos Vice-Prefeitos e Vereadores, a competncia para

    processamento e julgamento das aes penais seria dos Juzes Eleitorais.

    Neste ponto, h divergncia doutrinria e jurisprudencial. O STJ

    entende pelo cabimento de foro privilegiado, conforme acrdo abaixo14:

    HABEAS CORPUS HC 57341 RJ 2006/0076721-3 (STJ)

    PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. VEREADOR.

    COMPETNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNO. FORO

    PRIVILEGIADO ESTABELECIDO PELA CONSTITUIO

    ESTADUAL. POSSIBILIDADE. ORDEM CONCEDIDA.

    1. A jurisprudncia desta Corte consolidou o entendimento de

    que possvel instituir-se foro especial por prerrogativa de

    funo aos vereadores por meio da constituio estadual.

    2. Havendo previso na constituio fluminense nesse sentido

    (art. 161, inciso IV, alnea d, item 3), compete ao respectivo

    Tribunal de Justia julgar originariamente as aes penais

    propostas contra os vereadores daquele estado.

    3. Ordem concedida

    No entanto, o entendimento vigente nos Tribunais eleitorais so no

    sentido da ausncia de foro privilegiado nestes casos, como se v dos arestos

    abaixo colacionados:

    TRE-PI - PROCESSO: PROC 77 PI

    Relator(a): ORLANDO MARTINS PINHEIRO

    14 http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/8497/habeas-corpus-hc-57341-rj-2006-0076721-3-stj. Acesso em 30.01.2010.

  • 32

    Andamento do processo

    Ementa

    Denncia. Crime eleitoral. Vereador. Foro privilegiado.

    Inexistncia. Compete ao Juzo Eleitoral de primeiro grau

    processar e julgar vereador denunciado por crime eleitoral,

    uma vez que no h no Cdigo Eleitoral e legislao

    extravagante qualquer dispositivo que lhe assegure foro

    privilegiado15.

    6366 AG - AGRAVO DE INSTRUMENTO Tipo do

    Documento3-DESPACHO Municpio - UF Origem SO

    MIGUEL DA BAIXA GRANDE - PI Data20/03/2006 Relator(a)

    JOS GERARDO GROSSI Prolator(a) da deciso Publicao

    DJ - Dirio de Justia, Data 03/05/2006, Pgina 11116

    (...)Dessa maneira, as prescries estaduais atinentes a foro

    privilegiado por prerrogativa de funo para processamento e

    julgamento de vice-prefeitos por crimes comuns no se

    sobrepem s hipteses de julgamento por crime eleitoral, em

    que se admite foro privilegiado unicamente para prefeitos, nos

    termos do art. 29, inciso X, da Carta Maior.(...)

    RC - RECURSO CRIMINAL Tipo do Documento1-ACRDO

    N Deciso37.925 Municpio - UF Origem CAMPOS DOS

    GOYTACAZES - RJ Data24/08/2009 Relator(a) PAULO

    TROCCOLI NETO Relator(a) designado(a) Publicao DOERJ

    - Dirio Oficial do Estado do Rio de Janeiro, Tomo 157, Data

    28/08/2009, Pgina 1

    15http://www.jusbrasil.com.br/busca?q=GASTOS%20COM%20E%20PARA%20O%20PROCESSO&s=jurisprudencia. Acesso em 30.01.2010. 16 http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/3885862/processo-proc-109-pi-tre-pi. Acesso em 30.01.2010.

  • 33

    Ementa

    RECURSOS CRIMINAIS. CORRUPO ELEITORAL (ART.

    299). PRELIMINAR. COMPETNCIA DO JUZO DE

    PRIMEIRO GRAU.O foro por prerrogativa de funo foi

    atribudo aos vereadores unicamente pela Constituio

    Estadual, no havendo disposio neste sentido na

    Constituio Federal. O Supremo Tribunal Federal, no

    julgamento da ADI 2.587, reconheceu a possibilidade de as

    Constituies Estaduais estabelecerem foro por prerrogativa

    de funo a determinadas autoridades, desde que haja

    simetria com a Constituio Federal. No h como se admitir

    que o foro por prerrogativa dos vereadores 17

    O procedimento previsto no Cdigo Eleitoral tem aplicao em todos

    os crimes eleitorais, bem como naqueles que lhes forem conexos.

    Nos crimes de competncia originria dos Tribunais, sero tambm

    aplicadas as legislaes disciplinadoras especficas de cada um deles e, como

    em todos os crimes eleitorais, haver a aplicao subsidiria do Cdigo de

    Processo Penal.

    O art. 357, em seu 2, dispe sobre o oferecimento da denncia, com

    o mesmo teor do art. 41 do Cdigo de Processo Penal.

    O art. 358 revela as hipteses de rejeio da denncia: quando o fato

    narrado no constituir crime; j estiver extinta a punibilidade; a parte for

    ilegtima ou na ausncia de condies da ao.

    Entretanto, seu pargrafo nico traz uma ressalva, no caso de

    ausncia de legitimidade ou de condio para o exerccio da ao poder esta

    ser renovada quando preenchidos estes requisitos.

    17 http://intranet.tre-rj.gov.br/. Acesso em 29.01.2010.

  • 34

    Ressalta-se que, diante do caso concreto, deve ser observado se o

    crime est inserto naquelas hipteses de crime de menor potencial ofensivo,

    para que seja ofertada a transao penal.

    No caso de impedimento de seu oferecimento, ou na hiptese de

    rejeio da proposta ofertada, dever ser seguido o rito previsto no Cdigo

    Eleitoral, conforme entendimento pacificado em jurisprudncia, a saber:

    -1956 PA PROCESSO ADMINISTRATIVO Tipo do Documento

    RESOLUO N21294 Deciso Municpio - UF BRASLIA -

    DF Origem Data07/11/2002 Relator(a) SLVIO DE

    FIGUEIREDO TEIXEIRA Relator(a) designado(a) Publicao

    DJ - Dirio de Justia, Volume 1, Data 07/02/2003, Pgina 133

    RJTSE - Revista de Jurisprudncia do TSE, Volume 14, Tomo

    1, Pgina 407 Ementa INFRAES PENAIS ELEITORAIS.

    PROCEDIMENTO ESPECIAL. EXCLUSO DA

    COMPETNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS. TERMO

    CIRCUNSTANCIADO DE OCORRNCIA EM SUBSTITUIO

    A AUTO DE PRISO - POSSIBILIDADE. TRANSAO E

    SUSPENSO CONDICIONAL DO PROCESSO -

    VIABILIDADE. PRECEDENTES.

    I (...)

    IV - possvel, para as infraes penais eleitorais cuja pena

    no seja superior a dois anos, a adoo da transao e da

    suspenso condicional do processo, salvo para os crimes que

    contam com um sistema punitivo especial, entre eles aqueles

    a cuja pena privativa de liberdade se cumula a cassao do

    registro se o responsvel for candidato, a exemplo do tipificado

    no art. 334 do Cdigo Eleitoral.18

    18 http://www.tse.gov.br/internet/jurisprudencia/index.htm. Acesso em 30.01.2010.

  • 35

    Recebida a pea acusatria pelo juiz, ser determinada a citao do

    ru, intimando-o para interrogatrio em audincia (art. 359), que seguir o

    disposto nos artigos 185 e seguintes do CPP.

    Prazo de 10 (dez) dias para apresentao da defesa do ru, na qual

    deve constar os pedidos de diligncia, o rol de testemunhas e os documentos a

    serem juntados (pargrafo nico do art. 359).

    Cabe ressaltar que, ainda que no texto do artigo supracitado contenha

    a expresso o ru ou seu defensor ter o prazo de 10 (dez) dias para oferecer

    alegaes escritas e arrolar testemunhas, a defesa do ru dever ser tcnica,

    sob pena de nulidade absoluta.

    O art. 360 disciplina a audincia, na qual ocorrer a oitiva das

    testemunhas arroladas.

    Encerrada a audincia, prazo de 5 (cinco) dias para as alegaes

    finais da defesa e da acusao, que devero respeitar a ordem constante no

    art. 500 do CPP, primeiro o Ministrio Pblico e depois a defesa.

    Em regra, no poder nesta fase ocorrer a juntada de documentos,

    tendo em vista que considera-se encerrada a fase instrutria do processo.

    De outra banda, a ausncia de apresentao de alegaes finais pela

    defesa, conforme entendimento pacificado em jurisprudncia, deve ser suprida

    com a nomeao de advogado dativo, ainda que o ru tenha constitudo

    advogado. Neste diapaso o seguinte julgado:

    TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SERGIPE

    ACRDO N 437/2009 Espcie: Reclamao Processo: n:

    13 - Classe 28 Reclamante: Augusto Cesar Aguiar Dinzio

    Reclamado: Juiz Evilsio Correia de Arajo Filho

  • 36

    RECLAMAO. MAGISTRADO. PRELIMINAR.

    COMPETNCIA PARA APRECIAO DA MATRIA. CARTA

    PRECATRIA. CRIME DE TORTURA. JUSTiA COMUM

    ESTADUAL. MRITO. PRINCPIO DA PERSUASO

    RACIONAL. DEVER DA TESTEMUNHA DE DIZER A

    VERDADE. ALEGAES FINAIS. NO APRESENTAO.

    DEFESA TCNICA ESSENCIAL E INDISPONVEL. ZELO DO

    JUIZ. IMPROCEDNCIA. ARQUIVAMENTO. 1. (...)

    4. Assim, esclareo que nas alegaes finais se

    concentram e resumem as concluses que representam a

    posio substantiva de cada parte perante a acusao,

    sendo o ltimo ato que lhes pesa a ttulo de nus e

    colaborao na formao da sentena, como exigncia da

    estrutura contraditria do justo processo da lei. E, sendo a

    defesa tcnica essencial e indisponvel, e tendo o

    advogado constitudo deixado de apresentar as alegaes

    finais, o PODER JUDICIRIO TRIBUNAL REGIONAL

    ELEITORAL DE SERGIPE reclamado tomou a medida

    correta ao intimar a parte para constituir novo advogado,

    ou no o fazendo, nomear Defensor Federal.

    (...)19 (grifamos)

    Transcorrido o prazo, 10 (dez) dias para a prolatao da sentea (art.

    361), que seguir as mesmas regras da sentena penal da justia comum.

    Caber recurso aos Tribunais Regionais Eleitorais em face da deciso

    proferida (art. 362), com prazo de 10 (dez) dias para sua interposio.

    Intimao da parte contrria para contrarrazes em igual prazo embora

    silente o Cdigo Eleitoral, em respeito aos princpios do contraditrio e da

    ampla defesa.

    19 http://www.tse.gov.br/internet/jurisprudencia/index.htm. Acesso em 30.01.2010.

  • 37

    Recebidas as peas, ou ultrapassado o prazo para sua apresentao,

    os autos devero ser imediatamente remetidos ao TRE.

    Por fim, o art. 364 determina, expressamente, que os crimes conexos

    queles eleitorais sero processados e julgados pela Justia Eleitoral e, ainda,

    que a eles ser aplicado subsidiariamente o Cdigo de Processo Penal.

  • 38

    CAPTULO III

    APLICABILIDADE DO RITO PREVISTO NO

    CDIGO DE PROCESSO PENAL NOS CRIMES

    ELEITORAIS

    3.1 A possibilidade de aplicao das modificaes impostas

    ao Cdigo de Processo Penal na legislao especial

    Diversas so as interpretaes sobre a possibilidade de aplicao do

    novo rito introduzido pela Lei n 11.719/88.

    A questo central que se verifica nas discusses acerca da matria diz

    respeito a saber se sua aplicao seria mais benfica ou no ao ru.

    Entretanto, a maioria dos doutrinadores no enfrenta a questo, limitando-se a

    a comentar a redao dos art. 396 e 399 para lastrear sua posio.

    Dentre os poucos que aprofudam o tema, sobre a possibilidade de

    aplicao do Cdigo do Processo Penal aos procedimentos penais especiais

    aps as alteraes legislativas, encontra-se Marcellus Polastri20:

    Quanto ao disposto no 2, houve m redao da lei,

    sendo evidente que somente ser aplicvel o

    procedimento ordinrio ao especial quando no houver

    procedimentos especficos previstos, tanto no CPP como

    em leis extraordinrias

    20 POLASTRI LIMA , Marcellus Manual de Processo Penal. ED. LUMEN JURIS - 4 Ed.2009, p. 575.

  • 39

    Entretanto, em sentido contrrio posiciona-se o Desembargador

    Gerajdo Prado21, que dentre os juristas e doutrinadores o que faz a anlise

    mais profunda do tema.

    No seu entender, o Cdigo de Processo Penal assumiu a tarefa de

    definir como os procedimentos se desenvolvem, acabando com a multiplicidade

    de procedimentos que causavam inmeras confuses.

    O Art. 394, 4 (As disposies dos arts. 395 a 398 deste Cdigo

    aplicam-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau, ainda que no

    regulados neste Cdigo.) regularia, ento, os procedimentos.

    Embora no seja todo o procedimento, tratam-se daqueles dispositivos

    iniciais que formariam uma espcie de teoria geral do procedimento penal, ou

    seja, uma estrutura geral do procedimento penal.

    Neste sentido, estaria convergente com as recentes modificaes nos

    procedimentos penais especiais.

    Na lei de entorpecentes, quando for o caso de trfico de drogas, o

    Ministrio Pblico oferece a denncia, o juiz a analisa e, se entender que falta

    justa causa, pode rejeit-la. Entretanto, se ele no entende pela rejeio, ele

    no recebe a denncia e sim determina a notificao do acusado para

    apresentao das alegaes preliminares (preliminares ao ato de recebimento

    da denncia).

    Assim, tudo o que veio em matria penal de 1994 para c estaria no

    sentido de resguardar o contraditrio prvio ao recebimento da denncia ou da

    queixa. Todas as leis, como a lei de drogas, instituram o contraditrio prvio,

    no fazendo sentido, assim, no oportunizar s partes aquilo que

    oportunizado nestes casos.

    Se o acusado de trfico tem a alegao preliminar, para a sim ter o

    recebimento da denncia, para ser marcada a audincia, no h sentido de

    nos demais procedimentos especiais no ser disponibilizada a mesma

    oportunidade, no seria isonmico.

    21 PRADO, Geraldo, in : Palestra MUDANAS CPP - CEPAD - Julho 2008.

  • 40

    A regra deve ser igual para todos, e esta exatamente a que se utiliza

    na lei de drogas, dentre outras, de que deve haver um contraditrio prvio

    denncia ou queixa.

    De outra banda, o Procurador de Justia do Estado do Rio de Janeiro

    Marcos Ramayana22 faz uma anlise sobre a matria, ao detalhar o

    procedimento penal eleitoral aps a entrada em vigor da lei alteradora.

    A seu sentir, aplica-se o procedimento previsto no Cdigo de Processo

    Penal, com exceo do art. 399 do CPP, posto que o 4 do art. 394 limitou a

    aplicao dos artigos 395 a 398.

    Assim, a rejeio da denncia ocorreria pela anlise do art. 395 do

    CPP, cabendo ao juiz expor as razes de fato e de direito de admissibilidade

    da acusao.

    Quando do recebimento da denncia, ser ordenada a citao do

    acusado, at porque, para este doutrinador, o fato de a denncia ser recebida

    no inibe o contraditrio logo no incio da ao penal para fins da absolvio

    sumria.

    Assim sendo, a controvrsia referente ao momento inicial do

    recebimento da denncia instituda pela redao dos artigos 396 e 399 do

    CPP, no atingiria o processo penal eleitoral.

    Para ele, o momento inicial de interrupo da prescrio ocorreria com

    o recebimento da denncia na forma do art. 396 do CPP, e se coadunaria,

    neste aspecto, com o art. 359 do Cdigo Eleitoral.

    Com o recebimento da denncia, previsto no art. 359 do Cdigo

    Eleitoral, com a nova alterao, especialmente dos artigos 396 e 396-A do

    CPP, os juzes eleitorais no deveriam, ento, designar o interrogatrio e sim

    22 RAMAYANA, Marcos - O Processo Penal Eleitoral passo a passo

  • 41

    determinar a citao do acusado para responder acusao no prazo de 10

    dias (defesa prvia ou alegao preliminar).

    Aps o oferecimento da defesa prvia, passaria ento anlise da

    possibilidade de absolvio sumria, prevista no art. 397 do CPP e somente

    aps a sua deciso que o juiz daria impulso processual com a designao do

    interrogatrio, que foi postergado.

    A aplicao do novo rito no causaria qualquer prejuzo ao acusado,

    uma vez que ele ser ouvido aps a anlise do novo instituto da absolvio

    sumria, observando-se, assim, os pactos internacionais referentes ampla

    defesa e contraditrio.

    A defesa prvia, com prazo de 10 dias, seguir o CPP, devendo ser

    agudas todas as matrias de defesa (mrito) e as preliminares (artigo 396-A

    do CPP), bem como dever constar o rol de testemunhas, com a aplicao

    subsidiria do CPP (mximo de 8 (oito) em casos de procedimento ordinrio e

    de 5 (cinco) nas hipteses de procedimento sumrio).

    Tendo em vista o instituto da absolvio sumria, o acusado tentar

    encerrar a ao penal utilizando os fundamentos legais, previstos de forma

    taxativa no art. 397 do CPP.

    Entretanto, os fundamentos da absolvio sumria previstos nos

    incisos I a IV do art. 397 do CPP, na viso do citado doutrinador, tambm so

    aptos a viabilizar a rejeio liminar da denncia. Uma das causas a

    prescrio (hiptese de extino da punibilidade do agente), porque no se

    pode receber denncia por crime j prescrito, at porque tal fato configura

    constrangimento ilegal e daria ensejo impetrao de habeas corpus.

    No sendo caso de absolvio sumria, o juiz eleitoral se pronunciar

    sobre as provas requeridas na defesa prvia, pois as da denncia j podem ter

    sido deferidas na deciso de recebimento da denncia.

  • 42

    A absolvio sumria desafia recurso de apelao, pois se trata de

    sentena terminativa de mrito, similar ao art. 593, inciso I do CPP. Assim

    sendo, o recurso cabvel desta deciso o previsto no art. 362 do prprio

    Cdigo Eleitoral ("Art. 362. Das decises finais de condenao ou absolvio

    cabe recurso para o Tribunal Regional, a ser interposto no prazo de 10 (dez)

    dias"), denominado de apelao criminal eleitoral, sendo o prazo de

    interposio e de apresentao de razes de 10 dias.

    Neste passo, no se aplica a regra geral dos recursos eleitorais, cuja

    previso de prazo recursal de apenas 3 dias (art. 258 do Cdigo Eleitoral),

    at porque o art. 5, inciso LV da CRFB/88 garante o contraditrio e a ampla

    defesa, no subsistindo nenhuma dvida de que o prazo de 10 dias favorece a

    defesa.

    Outrossim, Marcos Ramayan entende que a controvrsia referente ao

    momento inicial do recebimento da denncia instituda pela redao dos artigos

    396 e 399 do CPP, no atinge o processo penal eleitoral.23

    Ultrapassada a anlise das correntes divergentes, passa-se ao

    entendimento vigente nos Tribunais.

    Em julgamento de Habeas Corpus impetrado no Tribunal Regional

    Eleitoral do Paran, de relatoria do Ministro Renato Paiva, a deciso foi

    proferida no sentido da aplicao do Cdigo de Processo Penal nas questes

    eleitorais, ao argumento que a denncia fora oferecida aps a entrada a

    alterao perpretada pela Lei n 11.719/08, devendo, em observncia ao

    disposto no art. 396, ser aplicado o novo rito previsto no CPP, ignorando-se o

    art. 359, pargrafo nico do Cdigo Eleitoral, cuja ementa transcrevemos:

    98 HC - HABEAS CORPUS Tipo do Documento1-ACRDO

    N Deciso36226 Municpio - UF Origem PONTA GROSSA -

    23 RAMAYANA, Marcos - O Processo Penal Eleitoral passo a passo

  • 43

    PR Data20/01/2009 Relator(a) DR. RENATO PAIVA Relator(a)

    designado(a) Publicao DJ - Dirio de justia, Data

    09/02/2009 Ementa

    HABEAS CORPUS. DESIGNAO DE DATA PARA

    REALIZAO DE INTERROGATRIO. AUSNCIA DE

    OPORTUNIDADE PARA O DISPOSTO NO ART. 396, DO

    CDIGO DE PROCESSO PENAL. RITO PROCESSUAL

    PREVISTO PELO 4, DO ART. 394, DO CDIGO DE

    PROCESSO PENAL. INOBSERVNCIA DO RITO

    PROCEDIMENTAL DO CDIGO DE PROCESSO PENAL,

    ALTERADO PELA LEI N. 11.719/2008. ORDEM

    CONCEDIDA.24

    No mesmo sentido, a deciso proferida pelo Tribunal Regional Eleitoral

    do Rio de Janeiro no HC n 113, de relatoria da Ministra Maria Helena Cisne, a

    saber25:

    113 HC - HABEAS CORPUS Tipo do Documento1-

    ACRDO N Deciso37.565 Municpio - UF Origem MACA

    - RJ Data30/03/2009 Relator(a) MARIA HELENA CISNE

    Relator(a) designado(a) Publicao DOERJ - Dirio Oficial do

    Estado do Rio de Janeiro, Tomo 060, Data 03/04/2009, Pgina

    01 Ementa

    HABEAS CORPUS. DESIGNAO DE AUDINCIA DE

    INTERROGATRIO. APLICAO APLICAO DA LEI

    11.719/08. PRINCPIO DA AMPLA DEFESA E DO

    CONTRADITRIO. PRINCPIO TEMPUS REGIT ACTUM.

    CONCESSO DA ORDEM.

    Esta deciso baseou-se no entendimento da relatora de que a Lei n

    11.719/08 incluiu o interrogatrio como meio de defesa e prova na audincia,

    24http://www.trepr.jus.br/internet2/sj/pauta/ver_sessao_julgamento.jsp?dtr=20/01/2009&m=01&a=2009. Acesso em 30.01.2010. 25 http://intranet.tre-rj.gov.br/. Acesso em 29.01.2010.

  • 44

    visando a garantir a dialeticidade do processo, bem como assegurar ao ru a

    aplicao dos princpios da ampla defesa e do contraditrio.

    Ademais, aduziu em seu voto que a regra a da aplicao imediata da

    lei processual, segundo o princpio tempus regit actum, refletido na regra do art.

    2 do CPP, A lei processual aplicar-se- desde logo, sem prejuzo da validade

    dos atos realizados sob a vigncia da lei anterior..

    Uma vez que antes da vigncia da lei nova lei o interrogatrio era ato

    imediatamente posterior citao, e que no caso analisado houve adiamento

    da audincia de interrogatrio, entendeu que os atos subseqentes ainda no

    tinham sido praticados.

    Assim, o processo deveria seguir seu curso de acordo com o novo

    procedimento trazido pela lei 11.719/08, abrindo-se prazo para os rus

    apresentarem resposta acusao, respeitando-se a aplicao da regra da

    aplicao imediata das leis processuais e do devido processo legal.

    Entretanto, o Supremo Tribunal Federal tambm j enfrentou a

    questo da possibilidade de aplicao do rito introduzido pela Lei n 11.719/08,

    em sede de Habeas Corpus (HC n 652/BA) - dirigido contra ato de membro de

    Tribunal Regional Eleitoral que aplicou o rito previsto na Lei n 8.038/90 - nos

    julgamentos de processos criminais de sua competncia originria,

    posicionando-se no sentido de sua inaplicabilidade.

    No caso em tela, foi alegado pela parte que com a adoo do

    procedimento originrio do art. 7 da Lei n 8.038/90, sem que fossem

    observadas as alteraes promovidas pela Lei n 11.719/2008, o ato de defesa

    prvia igualmente foi limitado, uma vez que "pela novel ritualstica, dispe o ru

    de 10 (dez) dias para promov-la, aps o novo juzo de admissibilidade

    realizado, na forma do art. 397 do CPP (na sua nova redao), quando

    presente, obviamente, ao menos uma das hipteses ali arroladas."

  • 45

    Aduzia o ru, tambm, que as alteraes trazidas pela nova lei no

    seriam apenas de ordem procedimental e sim da forma de realizao de atos

    materiais de defesa, devendo, portanto, serem interpretadas luz dos incisos

    XL, LlV, L V, do art. 5 da Constituio Federal.

    Outrossim, ainda que assim no fosse, seriam mais benficas ao ru,

    devendo ser aplicada a retroatividade benigna prevista no art. 5, XL, da Magna

    Carta.

    Pugnava pela anulao do interrogatrio realizado sem a observncia

    do novo rito definido no CPP, com a sua notificao para apresentao da

    defesa prvia.

    Quando de seu julgamento, o relator Ministro Arnaldo Versiani

    entendeu pela inaplicabilidade das modificaes trazidas pela nova lei, ao

    argumento de que a ao penal em comento, por se tratar de ao de

    competncia originria do Tribunal Regional Eleitoral, submeteria-se Lei n

    8.038/90, que institui normas procedimentais para os processos que especifica,

    bem como porque o seu art. 9 ao estabelecer que a instruo obedecer, no

    que couber, ao procedimento comum do Cdigo de Processo Penal", revelaria

    o carter subsidirio de aplicao do Cdigo de Processo Penal.

    Portanto, entendeu-se que a nova lei s incidiria sobre os ritos previstos

    em legislao especial na ausncia de disposies especficas, tendo em vista

    o seu carter supletivo, conforme se depreende da ementa do acrdo abaixo

    reproduzida:

    HC-652 Inteiro Teor Inteiro Teor652 HC - Habeas Corpus Tipo

    do Documento N Deciso Municpio - UF Origem Data 1-

    ACRDO SALVADOR - BA 22/10/2009 Relator(a)

    ARNALDO VERSIANI LEITE SOARES Relator(a)

    designado(a) Publicao

    DJE - Dirio da Justia Eletrnico, Data 19/11/2009, Pgina 13

  • 46

    Ementa

    Habeas corpus. Ao penal. Procedimento. Lei n 8.038/90.

    Invocao. Inovaes. Lei n 11.719/2008.

    1. O procedimento previsto para as aes penais originrias -

    disciplinado na Lei n 8.038/90 - no sofreu alterao em face

    da edio da Lei n 11.719/2008, que alterou disposies do

    Cdigo de Processo Penal.

    2. A Lei n 8.038/90 dispe sobre o rito a ser observado desde

    o oferecimento da denncia, seguindo de apresentao de

    resposta preliminar pelo acusado, deliberao sobre o

    recebimento da pea acusatria, com o consequente

    interrogatrio do ru e defesa prvia - caso recebida a

    denncia -, conforme previso dos arts. 4 ao 8 da citada lei.

    3. As invocadas inovaes do CPP somente incidiriam em

    relao ao rito estabelecido em lei especial, caso no

    houvesse disposies especficas, o que no se averigua na

    hiptese em questo.

    Ordem denegada.26

    Ressalta-se que a Lei n 8.038/90 institui normas procedimentais para

    os processos criminais originrios do Superior Tribunal de Justia e do

    Supremo Tribunal Federal, tratando-se, portanto, de legislao especfica, tal

    qual o Cdigo Eleitoral.

    3.2 Solues propostas para a aplicao do novo rito

    processual nos procedimentos eleitorais

    26http://www.tse.gov.br/sadJudSadpPush/ExibirDadosProcesso.do?nproc=652&sgcla=HC&nprot=198712009&comboTribunal=tse&tipoProcesso=J. Acesso em 30.01.2010.

  • 47

    Em razo dos problemas demonstrados quanto aplicabilidade do rito

    previsto no Cdigo de Processo Penal nos procedimentos eleitorais, com as

    alteraes introduzidas pela Lei n 11.719/2008, algumas solues tm sido

    apresentadas pela doutrina.

    Para aqueles que entendem pela impossibilidade da aplicao do rito

    do CPP em razo da dico do pargrafo 2 do art. 394, os procedimentos

    eleitorais continuam a ser regidos pelo Cdigo Eleitoral.

    Entretanto, temos que assiste razo queles que, com base na

    alterao, especialmente dos artigos 396 e 396-A, entendem que os juzes

    eleitorais no devem mais designar o interrogatrio, mas, sim, determinar a

    citao do acusado para responder acusao no prazo de 10 dias (defesa

    prvia ou alegao preliminar).

    Ainda que o 2 do artigo 394 contenha a determinao de afastar a

    possibilidade de se aplicar os procedimentos especiais, o 4 manda aplicar a

    todos os procedimentos penais o disposto nos artigos 395 a 398.

    Assim, ao aderirmos corrente que entende que a citao do acusado

    somente ocorrer aps a defesa prvia, com base no disposto no art. 396, este

    procedimento, por se revelar mais benfico ao acusado, dever ser aplicado a

    todos os procedimentos penais.

    Com sua aplicao nestes moldes, evita-se que o acusado seja

    efetivamente parte de um processo e, no caso de absolvio sumria, no

    haveria qualquer anotao em sua Folha de Antecedentes Criminais.

    Ademais, ao se postergar o momento da interrupo do prazo

    prescricional, tambm estaria se beneficiando o ru. Ressalta-se que o instituto

    da prescrio tem natureza mista, ou seja, processual e penal, j que se trata

    de uma das espcies de extino de punibilidade previstas no art. 107 do

    Cdigo Penal.

  • 48

    Outrossim, a ratio que permeia as leis n 9.099/95 e, principalmente, a

    Lei n 11.343/06, que trata dos crimes de trfico de drogas, a da existncia

    de um contraditrio prvio, determinando a notificao (e no a citao) do

    acusado para apresentao de defesa preliminar e posterior recebimento da

    denncia, no se admitindo que nos crimes eleitorais, de menor gravidade do

    que aqueles relacionados ao trfico de drogas, no se possa aplicar a mesma

    disposio.

    De outra banda, o recebimento da denncia em momento posterior

    defesa prvia exigiria do juiz uma fundamentao aps a anlise dos artigos

    395, 396 e 397 do CPP, o que solveria um problema que at hoje no encontra

    soluo pacfica em sede de doutrina e jurisprudncia, a ausncia de

    fundamentao quando do recebimento da denncia.

    Depois de apresentada a resposta que o juiz poder, ser for o caso,

    nas hipteses do artigo 397, absolver sumariamente o ru quando: verificar

    causa manifesta da ilicitude do fato; a existncia manifesta de causa de

    excluso da culpabilidade, salvo a inimputabilidade, porque ser for

    inimputabilidade por menoridade o processo nulo e se for o caso do artigo 26

    CP o processo segue para, se for o caso, viabilizar a medida de segurana;

    quando o fato narrado no constitui crime (fato atpico); ou extinta a

    punibilidade do agente.

    Todas as leis, como a lei de drogas, instituram o contraditrio prvio.

    H um consenso na doutrina processual penal brasileira de que a deciso de

    recebimento da denncia ou queixa tem que ser fundamentada. E no faria

    sentido ser fundamentada sem oportunizar as partes aquilo que

    oportunizada, por exemplo, aos rus no processo da lei de drogas, o que

    afastaria o princpio constitucional da isonomia.

    Em face do todo o exposto, entendemos pela aplicao integral do rito

    introduzido pela Lei n 11.719/08 s leis especiais, dentre elas a legislao

    eleitoral, considerando-se ser este um rito mais benfico ao ru.

  • 49

    CONCLUSO

    A possibilidade de aplicao da nova ritualstica trazida pela n

    11.719/08 s leis especiais tem gerado grandes controvrsias na doutrina e na

    jurisprudncia. No entanto, percebe-se que a sua aplicao trar grandes

    benefcios aos acusados.

    Para os defensores desta tese, a sua adoo evitaria que o acusado

    fosse efetivamente parte de um processo no caso da existncia de requisitos

    que ensejassem a absolvio sumria.

    Assim, a inexistncia de qualquer anotao em sua Folha de

    Antecedentes Criminais seria muito mais benfico ao indiciado, posto que no

    impediria a concesso de inmeros benefcios previstos na legislao penal,

    bem como pela ausncia de consequncias na prpria esfera cvel.

    De outra banda, o fato de se postergar o momento da interrupo do

    prazo prescricional tambm estaria beneficiando o ru, por se tratar uma das

    espcies de extino de punibilidade previstas no art. 107 do Cdigo Penal.

    No se pode perder de vista, tambm, que a ratio que permeia as

    novas leis penais, dentre elas a dos Juizados Especiais Criminais e a do

    Trfico de Drogas (leis n 9.099/95 e Lei n 11.343/06, respectivamente) a da

    existncia de um contraditrio prvio, determinando a notificao (e no a

    citao) do acusado para apresentao de defesa preliminar e posterior

    recebimento da denncia.

    Na esteira desta nova opo legislativa, no se pode admitir que nos

    crimes eleitorais, de menor gravidade do que aqueles relacionados ao trfico

    de drogas, no se possa aplicar a mesma disposio.

  • 50

    Ocorre que vem surgindo em sede de doutrina e jurisprudncia

    posicionamento no sentido contrrio, entendendo pela no aplicao do novo

    rito.

    Entretanto, somente utilizado como argumento o fato de o Cdigo de

    Processo Penal fazer referncia expressa da excluso de sua aplicao nas

    leis especiais, a teor do 2 do art. 396.

    Em virtude dos fatos narrados, os problemas advindos da utilizao ou

    no da nova ritualstica processual penal traz enorme insegurana jurdica, em

    virtude da imprevisibilidade das decises judiciais.

    Portanto, o tema abordado revela-se de suma importncia para os

    profissionais do direito, bem como para toda a sociedade, na medida em que

    sua discusso poder trazer novos contornos aos procedimentos penais,

    evitando-se a aplicao de ritos distintos em casos similares, podendo, desta

    forma, ter uma indiscutvel e real eficcia, impedindo julgamentos com

    procedimentos distintos como hoje se vislumbra nas questes eleitorais, de

    suma improtncia visto que nelas se protege a coletividade e a prpria

    democracia.

  • 51

    BIBLIOGRAFIA

    BITENCOURT, Cezar Roberto e GONZALEZ, Jose Fernando, in:

    http://www.jusbrasil.com.br/noticias/115162/o-recebimento-da-denuncia-

    segundo-a-lei-11719-08. Acesso em 30.01.2010.

    CNDIDO, Joel J. Direito Eleitoral Brasileiro. Ed. EDIPRO. 11 Ed., 2005.

    CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal . Ed. SARAIVA, 2009.

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    ORIENTADOR: FRANCIS RAJZMANAndamento do processo