a ansiedade dos universitários frente à exposição oral e sua análise neurobiológica

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A ansiedade dos universitrios frente exposio oral e sua anlise neurobiolgica

Resumo: A presente pesquisa tem o objetivo de ressaltar as reaes corpreas experimentadas diante das situaes do falar em pblico. A ansiedade que justifica esse medo recebe cientificamente o termo fobia social. O termo amplo, abordando outras fobias que sero rapidamente abordadas. O objeto de estudo, bem como seu espao, se limita ao universo acadmico em esfera nacional. sabido que a ansiedade excessiva causa grande desconforto e tem conseqncias negativas no desempenho acadmico, podendo levar evaso escolar. A fim de metodotizar o estudo foram analisados dados de pesquisas j aplicadas e seus vieses bem como a explanao cientfica dos efeitos neurolgicos e psicomotores causados pela fobia em questo.

INTRODUO: Do ponto de vista histrico, o estudo da neurobiologia do medo e da ansiedade se inicia nos relatos de Darwin sobre o carter evolutivo do comportamento emocional no homem. Os distrbios de expresso oral, como as dificuldades de articulao, de organizao do pensamento, na velocidade de fala e voz demasiadamente fraca, provocam inibies e, com isso, podem dificultar a comunicao oral, principalmente quando esta ocorre em pblico. As fobias esto entre os transtornos ansiosos mais comuns, destacando-s e a fobia social como um dos medos patolgicos mais limitantes. As implicaes da fobia social para o indivduo, sua freqncia na populao universitria e as exigncias sociais do ambiente so fatores que reforam a importncia da realizao de uma pesquisa sobre o tema na universidade. Especificamente nesse sentido, foram avaliados, os relatos de respostas fisiolgicas e neurolgicas, comportamentais e autonmicas de estudantes universitrios que relataram ter medo de falar em pblico em suas apresentaes acadmicas.

QUE FOBIA SOCIAL? Antes de esclarecer a expresso, preciso esclarecer seu termo central. Fobia o temor ou averso exagerada ante situaes, objetos, animais ou lugares. Sob o ponto de vista clnico, no mbito da psicopatologia, as fobias fazem parte do espectro dos transtornos de ansiedade com a caracterstica especial de s se manifestarem em situaes particulares. Fobia social, por sua vez, um transtorno caracterizado por medo persistente de situaes sociais, como a exposio a pessoas que no da famlia ou possveis e a questionamentos por terceiros. Essas situaes costumam ser evitadas e, quando defrontadas, se acompanham de ansiedade intensa, angstia e sintomas autossmicos (do sistema nervoso autnomo), que sero melhor explanados. Normalmente o paciente com Fobia Social se sente como se fosse ser humilhado publicamente ou colocado em situaes embaraosas. So exemplos dessas situaes as apresentaes em pblico, alimentar-se em local pblico, utilizar um sanitrio pblico e

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conversar com pessoas. A essncia da Fobia Social o medo extremo de ser examinado pelos outros em situaes sociais e/ou de desempenho pessoal, com subseqente embarao ou sensao de humilhao. Os dois tipos Segundo estudos epistemolgicos, identificaram dois subtipos de Fobia Social : 1 - O discreto, especfico ou no generalizado, o qual o mais conhecido e usualmente restrito a poucas situaes sociais, sendo a mais comum o medo de falar em pblico. A Fobia Social restrita fala, ou condies mais reservadas, corresponde classificao pela DSM-IV1 de Fobia Social no Generalizada. 2 - O outro subtipo a Fobia Social Complexa ou Fobia Social Generalizada. Ao contrrio da anterior, esta forma complexa , habitualmente, mais incapacitante, familiar e de longa durao, mais grave e corresponde grande maioria dos pacientes tratados em clnicas especializadas. A durao dos sintomas define a gravidade da fobia.

A GLOSSOFOBIA Especificao dos objetivos dessa pesquisa, a glossofobia, ou ainda ansiedade da fala, o medo de falar em pblico. a segunda colocada numa pesquisa espontnea feita para saber qual fobia as pessoas mais sofrem, em 2002 na Holanda. Perde apenas para a aracnofobia (de aranhas), e supera a aviatofobia (de voar) ou mesmo a tanatofobia (de morrer). Sintomas e seus aspectos biolgicos Alguns sintomas gerais so:

ansiedade intensa antes de, ou simplesmente a ideia de ter de se comunicar verbalmente com qualquer grupo, evitar eventos que foquem a ateno do grupo sobre indivduos na assistncia, desconforto fsico, nuseas, ou sensao de pnico nestas circunstncias.

Os sintomas mais especficos da ansiedade da fala podem agrupar-se em trs categorias: fsica, verbal e no verbal. Os sintomas fsicos resultam do sistema nervoso simptico responder situao com uma reao de lutar ou fugir. Estes sintomas incluem1

O Manual de Diagnstico e Estatstica das Perturbaes Mentais uma publicao da American Psychiatric Association , Washington D.C., sendo a sua 4 edio conhecida pela designao DSM-IV.

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acuidade auditiva, aumento da freqncia cardaca, aumento da presso arterial, pupilas dilatadas, aumento da transmisso, aumento do consumo de oxignio, rigidez dos msculos do pescoo/parte superior das costas e boca seca. Os sintomas verbais incluem, mas no esto limitados, a uma voz tensa, a um tremor na voz, repetio de "Umms" e "Ahhs" - pausas vocalizadas - que tendem a confortar oradores ansiosos. Muitas pessoas relatam transtornos da fala induzidos pelo stress que apenas ocorrem durante discursos pblicos. Alguns glossofbicos conseguem danar, atuar em pblico, ou at falar (como numa pea de teatro) e cantar, desde que no vejam o pblico ou se sentirem que esto a apresentar um personagem em vez de si prprios. Estima-se que 75% de todos os oradores sente algum nvel de ansiedade/nervosismo durante discursos pblicos.

SNS e os sintomas fsicos O corpo possui sistemas de manuteno da vida, que funcionam sem nossa participao consciente. No precisamos dizer ao corao para bater ou aos pulmes para respirarem enquanto estamos dormindo, por exemplo. O sistema nervoso se sub-divide em duas grandes partes: Sistema Nervoso Central e Sistema Nervoso Autonmico. O Sistema Autonmico, por sua vez, se divide em dois grandes ramos: o Sistema Simptico e o Parassimptico. Estes dois ramos esto envolvidos em todos os aspectos da sobrevivncia: circulao do sangue, respirao, digesto, reproduo, etc. Estes sistemas atuam sempre em conjunto: o Simptico responsvel por atividades que queimam energia e tambm nas situaes de perigo, que colocam a vida em risco. o Simptico que torna possvel fugir ou lutar - o Acelerador de nosso corpo. O Parassimptico responsvel pelas atividades relacionadas a ganho e conservao de energia, recuperao e regenerao aps situaes de desgaste e tenso. o Freio do corpo. A hiperativao do sistema Simptico se manifesta por acelerao dos batimentos cardacos, respirao mais curta e mais rpida, mos mais frias e tenso muscular, dentre as mudanas principais. O objetivo preparar o corpo para lutar ou fugir,como j foi dito. Esse fenmeno ocorre tanto em situaes reais de ameaa vida quanto em resposta aos nossos pensamentos de ansiedade e medos irreais. Quando o universitrio orador se v diante de uma platia e um examinador, o sistema simptico imediatamente ativado. Isso explica a taquicardia, os tremores, o mal-estar, que so os aspectos fsicos dos transtornos de ansiedade, dos medos e das fobias. A fisiologia do medo se inicia nas amgdalas (estruturas que nada tm a ver com as da

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garganta), ficam prximas regio das tmporas. Elas identificam uma situao ou objeto do qual se deve tomar cuidado e enviam ao hipotlamo o sinal para a produo dos neurotransmissores. A partir da, comeam as reaes no organismo que nos deixam em estado de alerta para agir. Alteraes emocionais e rgos-alvo

1. Crebro: as estruturas responsveis por iniciar a reao a estmulos amedrontadores so as amgdalas cerebrais, localizadas na regio das tmporas. Elas enviam um sinal ao hipotlamo, regio de controle do metabolismo, para que seja intensificada a produo de adrenalina, noradrenalina e acetilcolina. Em uma frao de segundo, a descarga dessas substncias causa alteraes no funcionamento de diversas partes do corpo 2. Olhos: a qumica do medo faz com que as pupilas se dilatem. Isso diminui a capacidade de a pessoa reparar nos detalhes que a cercam, mas aumenta o poder de viso geral. Em tempos ancestrais, esse recurso permitia que o homem identificasse no escuro das cavernas um predador e as possveis rotas de fuga 3. Corao e pulmes: o aumento do nvel de adrenalina eleva os batimentos cardacos. A maior irrigao sangunea faz com que crebro e msculos trabalhem mais intensamente, deixando a pessoa alerta e gil. O fato de o corao bater acelerado exige maior oxigenao da por que a respirao se torna mais curta, ofegante 4. Estmago: muitas pessoas, em situaes de medo, sentem dor na regio estomacal devido ao aumento na produo de acetilcolina. A liberao em maior quantidade de sucos gstricos acelera a digesto e a transformao dos alimentos em energia Fonte: Frederico Graeff, Universidade de So Paulo, em Ribeiro Preto Os casos analisados e suas correspondncias O Mtodo foi aplicado por membros do curso de Psicologia Centro Universitrio Nove de Julho (Uninove) 2 3 .Participaram efetivamente da pesquisa t rs estudantes do, unidade Vila Maria, So Paulo, capital que relataram medo de falar em pblico, embora oito, no total, tenham agendado entrevista (cinco no compareceram). Dois estudantes eram do sexo feminino (P1, 36 anos, e P3, 32 anos) e um do sexo masculino (P2, 22 anos). Os universitrios tomaram conhecimento do projeto, de maneira informal, por2

Larissa Zeggio Perez Figueredo;

Psicloga clnica e consultora acadmica. Mestre em Psicobiologia e Doutoranda em Cincias Unive rsidade Fe deral de So Paulo EPM-Un ifesp; Professora do curso de Psicologia e Membro parecerista do Comit de tica em Pesquisa Uninove. Aluno de graduao do curso de Psicologia Uninove

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Ronaldo Vieira Barbosa;

Aluno de graduao do curso de Psicologia Uninove

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meio da divulgao realizada pelos representantes de sala da referida universidade, e aqueles que possuam disponibilidade agendaram uma entrevista com o pesquisador. No dia agendado, cada um dos participantes foi informado sobre o projeto e seus aspectos ticos e assinou o termo de consentimento. Antes do incio das questes, foi solicitado que preenchessem a escala de medo da avaliao negativa. A escala de medo da avaliao negativa um instrumento utilizado para acessar as respostas cognitivas, consideradas patolgicas em indivduos com fobia social (para compreenso detalhada, ver escala de Liebowits)4. Trata-se de um questionrio com 30 afirmaes descritivas de situaes em que o sujeito apresenta medo de ser avaliado negativamente. Os participantes assinalaram a alternativa verdadeira ou falsa para cada uma das afirmaes, de acordo com o modo como reagem s situaes descritas. Para cada afirmao em que o participante assinalou a opo relativa a um sintoma de fobia social, foi contabilizado um ponto (mximo: 30 pontos). O roteiro da entrevista semidirigida era composto de questes referentes s respostas cognitivas, comportamentais e autonmicas dos participantes, durante a apresentao de um seminrio. As questes foram agrupadas nas seguintes categorias: 1) preparao para a apresentao (se houve/ tempo); 2) percepo do desempenho (subdividida em auto e heteropercepo); 3) respostas autonmicas (taquicardia, sudorese, rubor facial, tontura, tremor, ondas de frio ou calor); 4) respostas comportamentais (fuga, congelamento, esquiva ou enfrenta mento), e 5) respostas cognitivas(subdivididas em preocupao, cognies associadas s estratgias de esquiva); humilhao/julgamento,

Foram selecionados trs estudantes universitrios que relataram ter medo de falar em pblico e apresentaram um seminrio no ms anterior entrevista, que ocorreu entre os meses de outubro e novembro de 2005, na prpria universidade onde estudavam. Antes do incio das questes, foi solicitado que cada um dos participantes preenchesse a escala de medo da avaliao negativa. Posteriormente, foi conduzida a entrevista, que foi gravada, tendo por objetivo coletar o relato das experincias do participante durante sua ltima apresentao para a elaborao da hiptese diagnstica de fobia social. Ao trmino da entrevista, foi entregue um folheto explicativo sobre o distrbio. Os participantes da pesquisa relataram em suas respostas que, durante os seminrios acadmicos, sentiram o rosto ruborizado, tremedeiras, palpitaes, desejo de fuga e insegurana quanto avaliao dos outros. Esses dados so compatveis com os descritos pela literatura que menciona sintomas similares aos encontrados como critrio diagnstico da fobia social.

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Escala: vide pgina 7

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Falar em pblico uma situao potencialmente estressora que desencadeia sintomas de fobia nos participantes. Na literatura em geral, apresentaes pblicas so as circunstncias que mais geram sintomas do distrbio. Concluso Estudos posteriores, utilizando uma amostra mais ampla, possibilitaro uma viso mais abrangente do problema na universidade. De toda forma, a constatao desses fatos aponta para a necessidade de elaborar formas de identificao do transtorno para dar suporte a essa populao especfica, visto que a fobia social pode prejudicar o desempenho acadmico. Ainda que a anlise da pesquisa seja baseada, mais especificamente nos efeitos fisiolgicos da glossofobia, os tratamentos merecem um enfoque psicolgico. Para isso importante investir, dentro da universidade, na criao de ncleos de atendimento psicolgico aos estudantes, na elaborao de instrumentos rpidos de triagem para fobia social, em proposta s de educao psicolgica, como palestras, e de interveno teraputica breve e em grupo, que requerem baixo custo, pouco tempo, e podem atingir maior contingente de estudantes do que encaminhamentos individuais. Iniciativas como essas podem gerar resultados positivos para todos, pessoal e academicamente. O convvio saudvel entre as pessoas torna a aprendizagem um processo prazeroso, o que melhora, de maneira global, o desenvolvimento educacional.

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REFERNCIAS1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Buchalla AP. Voc tem medo de qu. Veja. 2003; 36(44): 100-7http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462003000600009 http://www.camarabrasileira.com/venceromedo.htm http://www.dirigindosemmedo.com.br/ansiedade.html http://www.psicologia.com.pt/instrumentos/dsm_cid/ http://veja.abril.com.br/210201/p_104.html http://www.fonoaudiologiarj.com.br/pdf/disturbios_expresao_oral.pdf http://pt.wikipedia.org/wiki/Glossofobia http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S151755452004000200005&script=sci_arttext 10. http://www.homemdemello.com.br/psicologia/fobia.html 11. http://www.ufrgs.br/psiq/liebowit.pdf