a angústia no existencialismo

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  • 1. UNIVERSIDADE CAMILO CASTELO BRANCO MRCIO DE OLINDA GALLI A ANGSTIA NO EXISTENCIALIMO So Paulo 2013 A angstia no Existencialismo

2. Neste ensaio abordaremos aspectos da filosofia existencialista, em especial, A Angstia no Existencialismo, na perspectiva Fenomenologia- hermenutica em Sartre. Num segundo momento desdobraremos os principais elementos da angstia na obra de Sartre atravs do livro O Existencialismo um Humanismo, enfocando que o homem est condenado a ser livre. E, por fim, as principais respostas que Sartre aponta para a liberdade humana nos desafios dirios da existncia no que se refere aos projetos de vida do ser humano a fim de dar algum sentido liberdade como ponto auge da existncia. O solitrio artfice da liberdade (...) Para a filosofias da existncia, o homem sujeito de todas as suas aes. Construtor de seu devir e, no limite da finitude, artfice solitrio de sua liberdade. (Abro, 2004, p. 444) a partir desta citao que vislumbraremos os limites da existncia humana como projeto de vida e suas responsabilidades. Como nos mostra Sartre (...) o homem , antes de tudo, aquilo que ele projeta vir a ser. O homem , inicialmente, um projeto que se vive enquanto sujeito, e no como musgo. (Sartre, 2010, p. 26) Notamos que nesta passagem Sartre nos convida a refletir sobre as condies do papel do homem com o universo, quer dizer, com a interao do mesmo com suas potencialidades, medos e como ele pode ser o diferencial para uma existncia autnoma. Como nos mostra Abro: O projeto existencial no implica a subjetividade no sentido tradicional, pois nem mesmo se pode dizer que o Ego seja a essncia predefinida do homem. O homem tem, isso sim, uma dimenso subjetiva que prpria projeo de si, e pode ser plena e autntica conscincia de si. (Abro, 2004, p. 447) Devemos compreender que tal subjetividade do homem no que se refere ao Ego segundo Sartre no est na conscincia subjetiva do homem e sim fora dela, est presente nas coisas do mundo. Neste sentido a tese central da obra sartriana 2 3. a existncia precede a essncia, desta maneira o homem nasce como uma tbula rasa e vai preenchendo sua vida de sentido. Em suam nesta direo de alteridade com o mundo que o ser humano vai testemunhando suas conquistas e fracassos e desta maneira surgem s desigualdades no entendimento humano. Atravs da Janela Notamos impacientemente as desigualdades do mundo. Falta um qu de harmonia no qual toda e possvel identidade humana possam presenciar e expressar sua liberdade. Como nos ensinou Sartre (...) existncia precede a essncia o homem responsvel pelo que . (Sartre, 2010, p. 26). Desta maneira, nos lana ao mundo as mais variadas possibilidades do vir a ser, de tal modo que este ser se renove a cada instante preenchendo sua existncia da essncia libertadora. E por se tratar de liberdade o prprio autor nos convida a refletir que todo homem est condenado a ser livre. Neste instante, gera no esprito humano uma angstia que o afasta da cotidianidade de seres que transitam de um lado para outro seguindo velhos padres, velhos dogmas, velhas verdades... Nesta perspectiva, atravs da angstia que o ser se liberta dos padres e passa a testemunhar a cura do desespero do mundo carregado de tantas verdades. No Existencialismo um Humanismo nos mostra Penha que O existencialismo humanismo porque nica filosofia capaz de tornar a vida humana digna de ser vivida (Penha, 1992, p. 48). nesta relao do vir a ser que o ser humano aspira um ser preenchendo e desvelando sua existncia. Na medida em que apontamos na direo sartriana no que se refere liberdade da existncia humana e condicionamos a nossa anlise do vir a ser como interpretao hermenutica da realidade na existncia humana, temos a definio do sistema da filosofia sartriana na concepo de Danilo Marcondes. Segue a citao: A filosofia existencialista sartriana parte da concepo do homem o ser cuja 3 4. existncia precede a essncia, isto o homem no tem essncia predeterminada, mas ele faz em sua existncia. Contudo, o homem tambm marcado pela conscincia da morte e da sua finitude, o nico animal que sabe que vai morrer e por isso, ao buscar essa identidade absoluta, est condenado ao fracasso. Portanto, a existncia , em ltima instncia, absurda de sentido. (Marcondes, 2011, p. 162) por meio desta conscincia subjetiva que o homem procura algum sentido para sua vida neste instante sua interao com o outro ganha um importante significado. Ser-para-o-outro a partir da individualidade e subjetividade humana que o ser se projeta para o outro como testemunha existencial de usas experincias vividas. neste aspecto que notamos a importncia do outro em nossas vidas, pois na medida em que tomamos alguma deciso estaremos implicando tal deciso ao universo inteiro, como nos mostra Sartre, (...) minha escolha envolve a humanidade inteira. (Sartre, 2010, p. 28) Tal escolha gera duas consequncias importantes que so a liberdade e a angstia. Sendo que na segunda perspectiva j est presente uma liberdade pr- determinada pela angstia que nos remete a uma deciso: seguir adiante ou parar. Para isso o filsofo define a angstia no existencialismo. Segue o autor: (...), o que entendemos por angstia? O existencialista costuma declarar que o homem angstia, isto significa o seguinte: o homem que se engaja e que se d conta de que ele no apenas o que ele escolhe ser, mas tambm legislador que escolhe ao mesmo tempo o que ser a humanidade inteira, no poderia furtar-se do sentimento de sua total e profunda responsabilidade. (Idem, p.28) Tais perspectivas apresentadas vislumbram as condies da existncia humana, pois o homem mesmo decidindo no alar um projeto para sua existncia culminar no abismo de suas fraquezas. Dessa maneira, Sartre, enfim defende a tese de que o existencialismo um otimismo, uma doutrina da ao. Seu desespero, diz, ativo, pois obriga o homem agir. (Penha, 1992, p. 50) Na medida em que envolvemos o outro, quer dizer, a humanidade inteira em nossas decises, teremos a dimenso das nossas aes. Basta remetermos tal 4 5. anlise nossa vidas cotidianas. Na medida em que decido ser um professor ou pedreiro tal deciso implicar e consequentemente afetar a humanidade inteira. Se eu tomo a posio de no escolher nada para a minha vida ou uma deciso equivocada, poderei comprometer um determinado grupo de pessoas, Sartre define como m-f. O que aconteceria se todos agissem do mesmo modo?. Para deixar mais claro a condio de m-f, recorreremos ao prprio Sartre Ao definirmos a situao humana como sendo de uma escolha livre, sem escusas e sem auxlios, todo homem que inventa um determinismo, um homem de m-f. (Sartre, 2010, p. 54) Podemos entender o conceito Determinismo como condio j estabelecida pela condio social em que o ser humano no ter como mudar tal situao, por exemplo, a condio de uma sociedade dividida em castas, nesta perspectiva vislumbraremos que um pobre jamais ser rico e por a adiante. Sobre tal condio exemplificada, nos responde Sartre: Um homem que se adere a determinado sindicato, comunista ou revolucionrio, tem objetivos concretos, esses objetivam implicam uma vontade abstrata de liberdade; mas tal liberdade tem que ser algo concreto. Ns queremos a liberdade para liberdade e atravs de cada circunstncia particular. E querendo a liberdade, descobrimos que ela depende inteiramente da liberdade dos outros, e que a liberdade dos outros depende da nossa. (Idem, 2010, p. 55) Em suma, devemos compreender que a existncia humana na concepo sartriana amparada pela liberdade na qual cada indivduo ser responsvel pelo seu projeto de vida como ponto de superao de si mesmo atravs de sua subjetividade e compromisso com o outro, como nos mostra Sbastien. (...) superao de si por si mesmo. conceito de projeto escolha originria contnua e irredutvel a uma deciso de vontade que diz a melhor maneira como o ser livre e atuante que humano voltado a ex- istir, isto , ser uma perptua inadequao de si mesmo. (Sbastien, 2012, p. 173) nesta superao de si mesmo que o Existencialismo um Humanismo nos apontando uma vida plena na qual reconhece a subjetividade humana como o ponto de partida da liberdade do homem no meio que o cerca. 5 6. A obrigao de ser livre Percorreremos alguns pontos referentes Angstia no Existencialismo em Sartre quanto obrigao de sermos livres e capazes de transformar o meio que nos cerca. Devemos entender que neste processo o homem defronta-se com sua prpria angstia como ponto de singularidade de sua subjetividade, o que levar o homem a fazer uma escolha para melhor representar sua existncia. neste dilogo entre liberdade e angstia que o homem constri diariamente sua identidade. Como nos mostra Abro: A obrigao de ser livre gera a angstia, que deriva do sentimento de no estar predestinado, de ter que optar construindo ao mesmo tempo o fundamento da opo. E optar por uma alternativa ao mesmo tempo aniquilar todas as outras. esse excesso de poder sobre si mesmo que gera o medo, e gera tambm o desejo de alienar a minha liberdade. (Abro, 2004, p. 450) Ao quebrar a barreira dos nossos limites e medos, alcanaremos a construo de uma identidade autnoma capaz de fazer da existncia humana algo belo e livre. Desta maneira, enfrentar os nossos medos ou desesperos nos dispe a construir o que nossa prpria existncia escolhe. Nos mostra Sartre: (...) Quanto ao desespero, essa expresso tem um sentido extremamente simples. Ela quer dizer que ns s poderemos contar com aquilo que depende de nossa vontade ou como conjunto das possibilidades que tornam nossa ao possvel. (Sartre, 2010, p. 39) Pois ao fazermos as nossas opes, estaremos escolhendo pela humanidade inteira, sempre dialogando com a realidade que nos cerca. Se faz necessrio assumirmos nossos desejos e sonhos como referencial de nossa subjetividade, pois, a partir deste ponto da existncia humana seremos capazes de superar as nossas limitaes ao buscarmos alternativas para vencer, (...) Na realidade, as coisas sempre sero exatamente como o homem decidir que elas sejam. (Idem, 2010, p. 41) Quando tomamos a noo de nossas aes e atos e buscamos fora de quaisquer determinismos solues para os conflitos dirios, percebemos que nossas vidas so eterno devir, ou melhor, vir a ser, que o homem se constri, tal como nos mostra Tillich: 6 7. (...) O homem cria o que ele . Nada dado a ele para determinar sua criatividade. A essncia de seu ser o deve ser, e o que tem que ser no algo que ele encontre; ele o faz. E a coragem de ser como si prprio a coragem de fazer de si prprio a coragem de fazer de si prprio o que quer ser. (Tillich, 1967, p. 169) Tillich nos convida a refletir a nossa condio de indivduos transformadores que se revelam na cotidianidade de ser que se representa na existncia humana at atingir a essncia do nosso ser. Como nos mostra Reynolds: (...) Em outros termos, isso simplesmente significa que os entes humanos no tem alma, natureza, eu ou essncia que nos faam o que so. Ns, simplesmente, somos, sem quaisquer restries que nos faam existir de qualquer modo particular, e somente mais tarde que viemos conferir nossa existncia qualquer essncia. (Reynolds, 2013, p. 83) Verificamos nesta passagem que o ser humano factualmente, segundo existncia. nesta perspectiva que o filsofo fundamenta sua filosofia numa ontologia da angstia em favor da liberdade do ser humano. Desta maneira, temos trs importantes conceitos para demonstrar os discurso sartriano, que so: ontologia, angstia e liberdade. A primeira demostra o estudo na questo do ser; a segundo a angstia no existencialismo, como nos mostra Sbastien no conceito angstia em Sartre: (...) que caracteriza em particular a existncia autntica que enfrenta esta ausncia de escusa e de justificao. No entanto, a angstia no deve ser vista como obstculo, mas antes como o prprio vetor da ao, que orienta e a torna possvel. (Sbastien, 2012, p. 173) E por fim, o ermo liberdade, que o fruto da escolha do homem por seu destino, como apresentado no livro O Existencialismo um Humanismo no qual Sartre define o termo Humanismo. Segue o autor: (...) o humanismo, que significa no fundo, o seguinte: o homem est constantemente fora de si mesmo; projetando-se e perdendo-se fora de si que ele faz o homem existir e, por outo lado, perseguindo fins transcendentes que ele capaz de existir; sendo essa superao e apropriando-se dos objetos apenas na relao a essa superao, o homem est no corao, no centro da superao. No h outro universo seno um universo humano, um universo da subjetividade humana. (Sartre, 7 8. 2010, p. 60) por meio da subjetividade que o ser humano se relaciona com o universo descobrindo nas relaes humanas sua liberdade e superando seus limites com ser finito. Nesta perspectiva o homem formula seus projetos de vida que o define como ser social, isto , as condies de trabalho, na poltica, na religio, na arte, enfim, o seu papel na sociedade em que est inserido. na transcendncia das aes humanas que podemos compreender que o homem o fruto de suas aes, ele determina o meio que o cerca e no tem enquanto homem como se furtar de sua liberdade como afirma a filosofia sartriana O homem est condenado a ser livre. (Idem, 2010, p. 33) Consideraes Finais Ao longo deste trabalho apresentamos as relaes existentes entre a liberdade e a angstia na perspectiva sartriana. Verificamos como ponto chave da subjetividade do homem a superao do cogito cartesiano penso, logo existo (Descartes) pela transcendncia do ego que est fora da conscincia humana e por fim, o mtodo fenomenologia em Husserl, em especial a intencionalidade do ser, no qual Sartre desenvolve sua primeira anlise da condio humana. A obra O Existencialismo um Humanismo testemunha que dentro do projeto sartriano o autor projeta o ser humano numa condio mxima de liberdade e coloca o homem como principal interlocutor de sua existncia, uma lio que Nietzsche, em sua obra Assim Falava Zaratustra, nos apresenta sabiamente, - O homem uma corda estendida entre o animal e o Alm-Homem: uma corda sobre o abismo. Perigoso passar um abismo, perigoso seguir esse caminho, perigoso olhar para trs, perigoso temer e parar. (Nietzsche, 2010, p. 22) Extramos desta lio que o Alm-Homem representa a condio plena do homem em sua existncia, como nos mostra Santos O Alm-Homem algo que acontece na essncia humana, um grau intensamente elevado. O Alm-Homem no nega a essncia humana, sua mais alta realizao (Nota explicativa do livro Assim Falava Zaratustra de Mario Ferreira dos Santos). Devemos compreender que a existncia e essncia esto intimamente conectadas, pois se trata de uma 8 9. elevao do entendimento humano, e por fim, Abismo, que constitu uma metfora da qual Nietzsche se utiliza para representar o devir humano, como nos mostra Santos: ABISMO- Smbolo dionisaco do ser dos seres, no devir infinito, onde tudo se perde, de onde tudo se vem (...). O abismo a vertigem do ser. (Idem, 2010, p.) Referncias Bibliogrficas ABRO, Bernadete Siqueira. Histria da Filosofia. So Paulo: Abril Cultural: 2004 NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falava Zaratustra. 5 edio. Petrpolis, RJ: 2010 PENHA, Joo da. O que Existencialismo. 11 edio. So Paulo: 1992 MARCONDES, Danilo. Textos Bsicos de Filosofia dos Pr Socraticos a Wittigestein, 7 edio. Rio de Janeiro: 2011 REYNOLDS, Jack. Existencialismo. Petrpolis RJ: Vozes, 2013 SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo um Humanismo. Petrpolis, RJ: 2010 SBASTIEN, Camus (Vrios autores). 100 obras-chaves de Filosofia. Petrpolis, RJ: 2010 9 10. TILLICH, Paul. A Coragem de Ser. Rio de Janeiro: 1967 10