a alvorada de uma artista

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Mulheres de peso na política Homens feministas e mulheres machistas CRASE #8 Março - 2011 Ano 1 - 8ª Edição - Março - 2011 O fantástico mundo de Babi A alvorada de uma artista A Inversão de Papéis A política das mulheres O Cinema Nazista de Leni Riefenstahl A ascensão e decadência de Leni

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Oitava edição da Revista Crase.

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Page 1: A Alvorada de Uma Artista

Mulheres de pesona política

Homens feministas e mulheres machistas

CRASE#8

Março - 2011

Ano 1 - 8ª Edição - Março - 2011

O fantásticomundo de Babi

A alvoradade uma artista

A Inversão de Papéis

A política das mulheres

O Cinema Nazistade Leni RiefenstahlA ascensão edecadência de Leni

Page 2: A Alvorada de Uma Artista
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Page 4: A Alvorada de Uma Artista

índiceEditorialp. 08

p. 10

A força dos homens e delicadeza das mulheres em uma só pessoa

As vidas de mulheres contada nos palcos

p. 15

O brilhantismo da cineasta de um dos maiores vilões da história

Parte da nova geração de escritores, Babi Dewet coleciona fãs com seu romance teen.

p. 20

p. 26

Amores, Perdas e Meus Vestidos

Lea T

O Cinema Nazista de Leni Riefenstahl

A alvorada de uma artista

Page 5: A Alvorada de Uma Artista

O ciclo que move a guerra dos sexosp. 42

A meritocracia de Dilma Rousseff

p. 53

p. 47

A escritora fala sobre sua vida e a influência no seu trabalho

CRASE CONVIDA

Nara Vidalp. 58

O carnaval das mulheres de Chico

O Cinema Nazista de Leni Riefenstahl

A Inversão de Papéis

A política das mulheres

Page 6: A Alvorada de Uma Artista

REVISTA

CRASEDIRETORIA

Direção-Geral: Dans Souza e Rafael Farah Diretor de Criação: Dans Souza

Diretor de Redação: Rafael Farah

REVISTA CRASERedatores: Cadu Senra, Clarissa Affonseca,

Emílio Farah, Tiago Garcia, Vinícius BaiãoColunista: Cadu Senra, Leandro

Bertholini, Rafael Farah Revisor: Ramon Lourenço

Produção: Yves Araujo

ARTE Diretor de Arte e Diagramação: Nicolas Dani

Assistente: Clarissa Affonseca

FOTOGRAFIA Editor-Responsável: Diego Val

INTERNETDesenvolvedor: Makerz

Page 7: A Alvorada de Uma Artista
Page 8: A Alvorada de Uma Artista

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“O s homens distinguem-se pelo que fazem, as mulheres pelo que levam os homens

a fazer”. Esta frase do grande Carlos Drummond de Andrade traduz com maestria como as mulheres eram vistas até anos recentes. “Eram” pois hoje em dia, seu papel não é limitado a apenas influenciar os homens. A cada dia elas provam que a linha que separa os sexos é apenas imaginária e relativa.

Em comemoração ao mês das mulheres, a Revista Crase homenageia estas mães, esposas, namoradas, amigas que com talento e determinação mostram que podem prevalecer neste mundo machista sem perder a essência feminina. O batuque das mulheres de Chico, o sucesso internacional da modelo e estilista transexual brasileira Lea T, a ascenção e decadência de Leni Rie-

Editorial

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fenstahl, cineasta do maníaco Adolf Hitler durante a era nazista e, é claro, nossa presidenta Dilma Roussef e sua política de meritocracia. Estes são alguns dos exemplos craseanos e claros da força das mulheres.

Para completar a homenagem, a Crase apre-senta uma nova promessa literária; Babi Dewet. Jovem, cool e extremamente talentosa, a escritora do livro Sábado a Noite (SAN) nos conta sobre sua vida, suas inspirações e, é claro, sobre seu livro, que traduz com clareza o clichê de histórias de amor adolescente, um drama social vivido por todos os jovens.

Rafael Farah

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No mês em que se ressalta a força

f e m i n i n a , u m e s p e t á -culo em cartaz no Teatro Leblon celebra a união de mulheres artistas para contar o “velho papo de mulherzinha”, dividindo m e m ó r i a s e c o n f l i t o s comuns do chamado sexo

frágil. “Amores, Perdas e Meus Vestidos” foi escrito pelas irmãs Norah Ephron e Delia Ephron, conheci-das por roteiros de comé-dias românticas para o c inema americano. No Brasi l , especif icamente n o R i o d e J a n e i r o , o texto recebe adaptação

por Leandro Bertholini

Amores, Perdase Meus Vestidos

E n t r e b o t a s e s a n d á l i a s , m e m ó r i a scômicas d o s e x o f r á g i l .

Teatro

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de Adriana Falcão, que repete com eficiência a dose de humor correta para os palcos tupin i -quins, após o estrondoso s u c e s s o d o t e x t o e m terras nova- iorquinas.

A peça conta, atra-vés de depoimentos reais, os conflitos das mulheres comuns por meio das lem-branças de suas roupas. Uma bota cowboy, por exemplo, desencadeia a história de um conturbado casamento. A escolha da bolsa ideal rende um his-térico e divertido ataque de nervos e, o dilema nas escolhas entre salto e sandálias rasteiras são alguns dos assuntos bem humorados abordados na trama. As situações engra-çadas vividas pelas per-

sonagens também abrem espaço para h is tór ias de extrema delicadeza, como a da mulher que aos 27 anos, se defronta com um câncer de mama e a necessidade de uma mastectomia (extração da mama), mas ao invés de se entregar, opta pela sobrevivência, e já que precisará de próteses, por que não aumentar a numeração do seu sou-tien?

A montagem bra-sileira de “Love, Loss and What I Wore” (título em

“...Formam juntas u m a c o n s t e l a -

ção...”

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inglês) diferencia-se da americana por ser prota-gonizada por um elenco fixo de atrizes, que por sinal formam juntas uma constelação, com Arlete Salles, Carolina Ferraz, Ivone Hoffman e Ta ís Araújo defendendo suas personagens. “A peça é muito divertida, o público gosta muito do que con-tamos em cena e sempre ouvimos risos ao longo das apresentações”, ressalta a atriz Carolina Ferraz. As histórias engraçadas, ternas, umas vezes dra-máticas e sempre reais são contadas sob a ótica das irmãs Ephron, que se tornaram grandes nomes da dramaturgia ameri-cana emplacando suces-sos como “Harry & Sally”, “Mensagem Para Você” e

mais recentemente, “Julie & Jul ia”, estrelado por Meryl Streep no cinema americano.

Um texto tão espe-cial não podia ser adap-tado por ninguém menos que Adriana Falcão, um dos maiores nomes da literatura e dramaturgia n a c i o n a l c o n t e m p o r â-nea. Autora de sucessos como “A Dona da Histó-ria”, mega sucesso tea-

Adriana Falcão

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tral estrelado por Marieta Severo e Andréa Beltrão. A adaptação cinemato-gráfica homônima à peça, foi estrelada por Marieta Severo, Debora Falabella e Rodrigo Santoro, com direção de Daniel Filho, e levou nada menos do que quatro milhões e 600 mil espectadores aos cine-mas. Adriana também é o nome por trás de outros grandes sucessos, tais como “A Máquina”, “O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias”, “Fica Comigo

Esta Noite” e “Se Eu Fosse Você”. Pode-se arriscar d izer que Adr iana é a nossa Norah Ephron.

A t u a l m e n t e , “Amores, Perdas e Meus Vestidos” tem apresenta-ções no Canadá, Estados Unidos, Argentina e Ingla-terra. No Brasil, a monta-gem tem direção de Alexan-dre Reinecke, cenografia e f igurinos de Teodoro Cochrane e representa um verdadeiro tributo àsmulheres.

A constelação fora dos palcos

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Leapor Clarissa Affonseca

Ela viveu como patinho feio.Mas não foi por muito tempo!

Talvez hoje, pra a q u e l a s q u e

s e m p r e p o s s u í r a m o direito e a estrutura de tal, ser mulher seja uma função em alta demanda e por vezes cansativa. Porém, imagine só um ser humano que sempre teve

uma intrínseca necessi-dade de ser mulher, mas que por ironia do destino n a s c e u c a r a c t e r i z a d o como homem. Teria ele a oportunidade de se tornar e ser reconhecido como feminino? Essa é a grande luta que a modelo tran-

Moda

t

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sexual Lea T vem enfren-tando perante a mídia do mundo todo.

Filha do ex-joga-dor de futebol Toninho Cerezo e de Rosa Helena Medeiros, essa jovem de 28 anos percebeu bem nova que não era como os outros meninos. Sua f e m i n i l i d a d e a f l o r a d a gerava dúvidas em seus familiares, mas como per-tencia a uma família de católicos, sua liberdade de expressão se tornou restrita. Leandro, como era chamada na época,

ainda tentou viver como gay – para ela seria uma realidade de mais fáci l compreensão por parte de seus pais. Porém, foi somente com o auxílio de especialistas que Lea T teve certeza de que um distúrbio era o responsá-vel por ela se sentir e se ver como mulher.

A descoberta do transexualismo foi para Leandro o inicio de uma nova fase – essa como Lea T. No entanto, com a nova intitulação vieram as con-sequências e os medos. Da aceitação dos pais ao medo de ter uma carreira profissional prejudicada pe lo preconce i to , sua vida parecia se reestrutu-rar. Graças a um amigo, o então Riccardo Tisci , Lea

“...Sua vida pare-cia se reestrutu-

rar...”

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T ganhou espaço como modelo feminina em uma campanha da Givenchy de 2010. A partir daí seu nome passou a ser men-cionado pelas mídias de moda mais conhecidas do meio e o sucesso não demorou muito a chegar. A androgenia da modelo foi essencial para sua instantânea ascensão no mundo da moda.

Mesmo com a fama repentina, a aceitação de Lea T pela sociedade ainda é motivo de contro-vérsia. A maioria das pes-soas ainda não consegue entender o transexual. O fato de alguém nascer “no corpo errado” não é assimilado com tanta faci-lidade por cidadãos que não foram educados para

respeitar uma realidade diferente da deles. Mas essa realidade está pres-tes a mudar. A modelo só está aguardando o con-sentimento da justiça ita-liana para poder realizar a cirurgia de mudança de sexo e finalmente se tornar mulher.

Ta l n o t í c i a n o s coloca em um nível de quest ionamento mui to maior no que d iz res-

Foto: Stefano Moro

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peito ao que é ser ver-dade iramente mulher . É primordial possuir as características anatômi-cas femininas? Se sentir mulher não basta? E quem é mulher fisicamente, mas não se sente uma? São inúmeras as indagações e um número ainda maior de possíveis respostas, dentre elas muitas cheias de preconceito e desres-

peito, outras possivel -mente condescendentes. E mesmo que, um dia, uma saída seja encontrada, ainda assim, esses seres humanos – diferentes por natureza – continuarão se sentindo sozinhos e desamparados em meio à sociedade. Cabe a nós então incluir essas novas m u l h e r e s a o s n o s s o s mundos.

Top model Lea T

Foto: Stefano Moro

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Top model Lea T

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Depois dos anos d e m i s é r i a e

humilhação sofridos pelo povo alemão devido ao Tratado de Versalhes, Ado l f H i t ler chega ao poder em 1933 com a ideo-logia da superioridade da raça ariana e a doutrina do “espaço vital” nacional necessário aos alemães.

Cria a Câmara de Cultura do Reich comandada por Joseph Goebbels com o objetivo de fazer uma pro-paganda para as massas; repetitiva e que atingisse o e m o c i o n a l d o p o v o alemão, gerando uma con-cepção apaixonada sobre a doutrina monstruosa do novo chanceler. Para isso,

O Cinema Nazistade Leni Riefenstahl

por Tiago Garcia

O brilhantismo da cineasta de um dos maioresvilões da história.

Cinema

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Goebbels uti l izou o que para ele era o meio mais moderno para influenciar a população, o cinema. Surge então a maior cine-asta do Nazismo, Leni Rie-fenstahl. Nascida Helene Amalia Bertha Riefenstahl em 22 de Agosto de 1902, em Berl im, Leni contra a vontade do pai, estu-dou dança e desde cedo se apresentou como bai-larina em cidades como Munique e Praga, mas devido a uma lesão no joelho encerrou sua car-reira precocemente.

Entretanto a cine-asta não desistira de con-tinuar no meio artístico, desta vez como atriz. Ao ver um cartaz de um filme do diretor Arnold Franck,

ela o procura, e alguns m e s e s d e p o i s e s t r é i a interpretando uma baila-rina no filme de Franck, Der Heilige Berg. Em 1932, escreve, dirige, produz, monta e protagoniza Das Blaue Licht, segundo algu-mas fontes, no mesmo ano ouviu Adolf H i t ler d iscursar num comício e ofereceu a ele seus serviços como cineasta; ter ia f icado fascinada pelas habilidades orató-rias do líder. Já outras, como a própria diretora, afirmam que ela foi pro-curada por Hitler, depois

“...Considerado

por muitos uma

d a s m a i o r e s

obras...”

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de ter ficado impressio-nado com o talento de Leni na direção de A Luz Azul. O fato é que já em 1933 ela dirigiu um curta-metragem sobre um comí-cio do Partido Nazista, e Hitler, então, pediu a Leni que fi lmasse a conven-ção anual do Partido em Nurembergue em 1934. Surgia O Triunfo da Von-tade, um documentário considerado por muitos como uma das melhores obras de cinema já pro-duzidas. Leni util izou 36 câmeras, e para se distan-ciar dos cine jornais que apresentavam somente planos estáticos, investiu no movimento. As câme-ras foram posicionadas em diversos locais, que permitiam não só um cons

tante travelling do acon-tecimento, mas a cap-tura de diversos ângulos como se fossem parte do público que acompanha o congresso. Uma experiên-cia estética arrojada, que influenciou os rumos do cinema documental.

A diretora conhe-ceu a glória e ganhou prê-

Leni Riefenstahl

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mios internacionais com esse fi lme maldito. Mas na época o nazismo ainda não tinha levado o mundo à tragédia da Segunda Guerra. Depois da guerra, Leni caiu no ostracismo e o seu principal f i lme tornou-se sua maldição. Triunfo da Vontade é uma obra em que a arte e ide-ologia foram levadas às últ imas consequências. Leni colocou seu talento a serviço de um projeto totalitário de poder caído e isso lhe custou um alto

preço durante toda vida. Retirou-se para a África onde produziu documen-tários fotográficos sobre a vida selvagem. Foi a última figura famosa da era nazista a morrer, aos 101 enquanto dormia no dia 8 de setembro de 2003, em sua casa em Pöcking, na Alemanha. No fim das contas, sua beleza e seus múltiplos talentos artísti-cos não foram suficientes para reduzir as marcas de sua colaboração com o nazismo.

Leni e o Führer

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CRASERECOMENDA Filmes

O Triunfo da Vontade(Alemanha, 1935)

O congresso Nacional-Socialista alemão de 1934 é documentado de maneira impressionante. Tudo é gigantesco: são paradas, desfiles monumentais e discur-sos para um público em total catarse. Um espetáculo cinematográfico hipnótico e

terrificante que retrata, com imagens fortes, toda a pompa (e a barbárie) do regime nazista.

A Luz Azul (Alemanha, 1932)

A Luz Azul é uma variação dentro do gênero dos “filmes de montanha”, na l inha dos trabalhos de Arnold Fanck (com quem Riefenstahl colaborara assi-duamente). É a história do amor trágico entre uma aldeã e um artista citadino,

numa atmosfera de romântico lirismo que remonta aos contos e tradições populares da Alemanha.

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Literatura

A alvorada deuma artistaA escritora nos conta sobre seu primeiro livroe um pouco da sua vida.

por Vinicius Baião

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Co m u n i c a t i v a e d o n a d e u m

carisma extremamente n a t u r a l , B a b i D e w e t revelou-se na entrevista concedida à Crase, uma autora decidida. Apesar de jovem - tem apenas 24 anos -, mantém seus pés no chão e mostra rara consciência de seu papel enquanto artista, dos pontos fortes de sua escrita e também de suas limitações literárias.

B a b i é f i l h a d e professores, e como o esperado em uma família de intelectuais, mergu-lhou no mundo dos livros com pouquíssima idade. Trocava as peripércias em escorregas e “trepa-trepas” por momentos de introspecção com livros,

cadernos e giz de cera. Com o apoio dos pais, aos cinco anos já escrevia mais que o esperado, mas foi durante a adolescên-cia, no interior de Goiás, que a menina começou a criar histórias.

Mesmo tendo lan-çado há pouco tempo seu pr imeiro l ivro, Sábado à Noite, a escritora já acumula fãs espalhados por todo o país, graças a sua atuação na inter-n e t , m a i s e s p e c i f i c a -mente pelo universo das fanfics. O próprio l ivro é resultado direto desta atuação. Para quem não sabe, fanfics são enredos criados e baseados em histórias que já existem. O nome “fanfic” é uma abreviação do termo em

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inglês fan fiction, ou seja, “ficção criada por fãs”. São narrativas onde fãs se apropriam de histórias e personagens já existen-tes (reais ou não), e, utili-zando-se deste material, produzem suas próprias tramas.

Foi através deste r e c u r s o q u e n a s c e u Sábado à Noite, ou sim-plesmente, SAN. Enquanto c u r s a v a a f a c u l d a d e de Cinema, Babi Dewet conheceu a banda inglesa McFly. Com um grupo de amigas fundou o primeiro fansite do grupo no país. L o g o d e p o i s , a b r i u o portal Fanfic Addiction – onde hospedava fanfics sobre o grupo britânico. Apaixonada pelas músicas do quarteto, usou a influ-

ência dos garotos famo-sos para escrever SAN, usando um recurso, até então, inédito no Brasil: a fanfic interativa.

F u n d a d o e m d e z e m b r o d e 2 0 0 5 , o portal, atualmente, está próx i mo da ma rca de 1 mi lhão de vis i tas. Tal popularidade alavancou também sua história que passou a ter muitos fãs. Em pouco tempo, Babi viu sua condição de fã ser substituída pela de ídolo. Eram centenas de emails, comentários e recados

“. . .Sua condição de fã ser subs-t i t u í d a p e l a d e ídolo...”

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elogiando Sábado à Noite, a i n d a e m s u a v e r s ã o digital. Diante de tama-nha repercussão, Dewet viu-se pressionada por seus leitores e amigos a transformar sua trama em livro. E assim o fez.

Como todo escri-tor iniciante encontrou d if icu ldades para sua primeira publicação, mas decidiu não procurar edi-toras já estabelecidas, prefer indo produz ir o l ivro por conta própria, contando com a ajuda pre-

ciosa de seus amigos. “A publicação não foi simples – demora tempo pra fazer tudo sozinha - mas tive ajuda dos meus amigos que fizeram a capa, revi-saram, etc.” Os amigos não ajudaram apenas na elaboração do livro, mas também forneceram ele-mentos para o enredo. É que Babi usou nomes, característ icas, piadas e fatos de seus próprios amigos em seu processo de criação. A razão que a motivou na produção independente fica simples em suas palavras: “não acho justo o que um autor iniciante ganha no Brasil pela sua obra, e eu quis, sim, ser reconhecida”.

M e s m o e n f r e n -tando problemas buro-

“. . .O reconheci-mento desejado não tardou a apa-recer...”

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cráticos típicos da produ-ção independente, como a impossibilidade de obter código de barras e, assim, poder vender seus livros em livrarias – SAN é ven-dido apenas pela inter-net -, o reconhecimento d e s ej a d o p e l a a u t o r a não tardou a aparecer. A própria internet fez o dever de casa e divulgou

sua obra a tal ponto, que hoje ela é procurada por editoras interessadas em ter Sábado a Noite em seu catálogo, e com propos-tas bem mais vantajosas que a maioria das rece-bidas pelos autores nova-tos. “Hoje tenho pedidos e propostas de editoras, e esse lançamento garantiu que meu livro não fosse

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só mais um para elas”. Além disso, a persistência da autora foi tanta que, após pagar de seu pró-prio bolso a uma editora, conseguiu ter sua obra exposta em um estande da Bienal do Livro, em São Paulo, tendo também ali grande êxito.

A explicação para este sucesso se dá pela já citada popularidade de seu portal, onde a histó-ria ganhou suas primeiras formas e fãs, e pelo forte apelo que a trama exerce, não apenas sobre os mais

jovens, mas sobre todos aqueles que ainda sentem um gostinho de saudade quando relembram seus tempos de escola. Afinal, é a l i q u e a t r a m a s e desenrola, em sequências e temas que lembram os filmes teens americanos a que assistimos repeti-das vezes em “Sessões da tarde” da vida. Sábado à Noite narra a história de um amor jovem, ver-dadeiro e conf l i tante. Amanda é a garota mais bonita e popular do colé-g io. Seu melhor amigo só arruma encrenca na companhia dos maus ele-mentos: os marotos. Tudo a seu redor acaba des-moronando quando uma paixão mal resolvida volta à tona e a sua lealdade é posta à prova. Seria um

“...O suspense

imposto prende

a atenção...”

Page 33: A Alvorada de Uma Artista

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Na cama com os livros

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garoto mais importante que uma amiga? O ritmo de suspense imposto pela narrativa prende a aten-ção do leitor até um final inesperado e surpreen-dente.

O c l i m a d e romance esco lar pre-sente no texto faz com que o livro seja mais admi-rado por meninas que meninos, visto o perfil da obra no “Skoob” (site de relacionamentos em que os participantes avaliam e trocam informações

sobre livros lidos), onde das quase 300 avaliações existentes para SAN, 95 % foram feitas pelo público feminino.

V a l e d e s t a c a r que na história original, de fanfic, as músicas do grupo mascarado eram as músicas da banda britâ-nica McFly, sendo usadas pelo protagonista como uma forma de dizer o que estava sentindo para a sua amada. Já na versão do livro, por uma questão de direitos autorais, as letras e nomes das can-ções foram modificadas, mas a essência continua a mesma e é um bom exer-cício ler o livro interca-lando-o com as canções do grupo inglês. Este jogo

“ . . . C r i a u m a

atmosfera real-

m e n t e i n t e r e s -

sante...”

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“ l e i t u r a - a u d i ç ã o ” c r i a uma atmosfera realmente interessante e parece nos t ransportar cada vez mais para o universo criado por Babi Dewet e também – por que não? – para nossas próprias lem-branças dos amores, ami-zades e bailes escolares.

Se a internet ofe-receu à autora ferramen-tas fundamentais para a composição de sua obra, também foi responsável por seu maior deslize esti-lístico: as descrições. No fanfic não era necessá-rio descrever os perso-nagens de maneira subs-

Na parede, estampado o seu gosto pela banda McFly

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tancial, uma vez que eles já eram conhecidos pelo públ ico. Assim, no pro-cesso de transposição do virtual para a página, as descrições propostas pela escritora parecem artifi-ciais, como que feitas por obrigação, na maioria das vezes usando pequeno arsenal de recursos e de léxico, o que, por sua vez, deixa todas descri-ções num mesmo tom, sem grandes variações e semelhantes por demais. A autora reconhece sua dificuldade nesta tipolo-gia assim como destaca seu melhor recurso: os diálogos, que já foram p r o b l e m a d u r a n t e a faculdade de cinema. O

reconhecimento de seus pontos fortes e fracos é raro em autores inician-tes, que tendem a não ver defe i tos em suas obras. Esta consciência certamente contribuirá para uma grande evolu-ção nos próximos l ivros de Babi, que por sinal não devem demorar mui to a pintar na área, visto que SAN é uma tri logia.

Os fãs, a quem Babi tem um profundo respeito, dizendo inclu-sive que “não pode dar bobeira de ofendê-los”, aguardam ansiosamente. Vemos a alvorada de uma verdadeira artista!

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Produção de Moda:Yves Araujo e Clarissa Affonseca

Direção de arte e Styling:Yves Araujo

Fotos:Diego Val

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CRASERECOMENDA Literatura

Sábado À Noite (2010)Autor: Babi DewetEditora: Babi Dewet

O livro fala sobre Amanda, uma adoles-cente como muitas outras, que é popu-lar na escola e tem sua vida virada do

avesso quando um amor mal resolvido volta à tona e uma amizade é posta em prova. Sábado à Noite é um romance chick-lit com foco teen baseada em uma fanfic de McFLY e já vem colecionando uma miultidão de fãs.

Viajar Sem Dinheiro & GafesInternacionais (2010)Autor: Nara VidalEditora: All Print Editora

Viajar sem dinheiro e gafes interna-cionais relata experiências v iv idas

por brasileiras na Europa. Livro traz contos reais - outros nem tanto - sobre os ajustes e diferenças cul-turais entre brasileiras e europeus.

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O d i t o p o p u l a r “por trás de um

g r a n d e h o m e m e x i s t e s e m p r e u m a g r a n d e mulher” agora pode ser considerado uma relíquia machista de outrora. Essa frase implica que homens sempre estariam à frente, enquanto as mulheres, apesar de tão talentosas

quanto (ou mais), esta-riam sempre por detrás dos panos, cuidando de “seus homens” do escuro. Hoje vemos que não é mais assim. Depois de muita luta, as mulheres adqui-riram os devidos direitos, minimizando a diferença – tanto no meio pessoal quanto no profissional –

Mundos machista ou feminista teriam diferença?

por Rafael Farah

A Inversão de Papéis

Sociedade

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entre homens e mulhe-res. Minimizando porque a p e s a r d e t o d a e s s a evolução socia l , a inda vivemos em um mundo machista. Neste contexto entende-se como machis-tas, não apenas homens, mas também mulheres que a inda presas aos valores de uma geração ignorante à necessidade não de um, mas dois sexos fortes, contentam-se em v iver na sombra, ju l -gando o desejo de outras de serem donas de suas próprias vidas.

Como mencionado a n t e r i o r m e n t e , a i n d a vivemos em um mundo predominantemente mas-cul ino, o que abre um leque de obstruções para essas super-mulheres de

plantão. O “preconceito” para com mulheres tra-balhadoras ainda é um perigo real e constante. Exemplos óbvios são os salár ios, muitas vezes d iferenciados, o assé-dio sofrido por grande parte destas trabalha-doras... E ainda existem os julgamentos das pró-pr ias mulheres; “como assim você não quer ter filhos?” “ficar solteira e viajar pelo mundo? Tem certeza?”

N ã o s a t i s f e i t a s em alcançar os direitos

“...Ser mulher é

um conceito exis-

tencial...”

Page 44: A Alvorada de Uma Artista

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iguais, uma quantidade infindável de mulheres ainda fazem seus traba-lhos como donas de casa, além do profissional. São as mulheres mult i -uso, conseguem unir a mater-nidade ao dever social previamente estabele-cido como masculino, de prover para a família. A psicóloga e professora Jul iana Wall ig acredita que ser mulher é um con-cei to ex istencia l ; “vou sendo mulher de diver-s a s f o r m a s c o n f o r m e vou existindo, conforme vou passando por expe-r i ê n c i a s ” .

Essa tentativa de igual izar sexos trouxe c o n s i g o t a m b é m u m a reversão dos mesmos.

Q u a n d o a n t i g a m e n t e tínhamos definidos exata-mente o papel de homens e mulheres na sociedade, hoje temos um vórt ice confuso de identidades. A sociedade contempo-rânea permite a criação de homens feministas e mulheres machistas. É a inversão de papéis. Hoje em dia não é incomum ver pais cuidando dos filhos enquanto mães traba-

Page 45: A Alvorada de Uma Artista

lham fora. O provedor – nesse caso provedora – muitas vezes é a mulher.

Talvez esta inver-são de papéis seja parte de um ciclo. Da submis-são à igualdade, talvez esteja chegando a vez das mulheres de empu-

nhar tacapes metafóri-cos e “botar ordem na c a s a ” . Ta l v e z q u a n d o este dia chegar, já tenha-mos consciência de que criar e manter uma famí-lia são escolhas pessoais e, que gêneros sempre s e r ã o i g u a i s e m s u a s d i f e r e n ç a s .

Igualdade?

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Page 47: A Alvorada de Uma Artista

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Ch i c o B u a r q u e , c o m o t o d o s

sabem, é um artista poli-valente e muito aclamado por todo mundo em qual-quer área em que atua, seja na música ou na lite-ratura. Dentre as muitas homenagens recebidas ao longo de sua carreira, se destaca a de um grupo

de mulheres, autodenomi-nadas “batuqueiras”, que em 2006 organizaram um bloco carnavalesco cha-mado, “As Mulheres de Chico” ou “MDC”. O intuito era dar uma nova roupa-gem às lendárias músi-cas do Ídolo de um jeito bem brasileiro, carioca e, claro, feminino. O resul-

...Afinal, não tinha comoser apenas uma. por Cadu Senra

Música

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tado não poderia ter sido mais satisfatório.

Em suas versões, a banda, comandada por suas idealizadoras, as cui-queiras Glaucia Cabral e Vivian Freitas, usam e abusam de ritmos nacio-nais bem conhecidos como, o samba, a marchinha e até mesmo o inesperado funk carioca. O laboratório do grupo não para por aí. O MDC ousa ao explorar a sonoridade de batuques rítmicos não tão difundi-dos, como o côco, o ijexá e

o jongo. Com exceção do côco, oriundo de Alagoas e Pernambuco, todos tem suas raízes no território africano. Essa forte pre-sença do batuque na sono-ridade da banda explica-se pelo fato de quase toda ela ter vindo de oficinas de percussão e outros blocos de carnaval.

O r e p e r t ó r i o possui 32 músicas de Chico, que passam por diferen-tes fases da carreira do compositor, e três músicas autorais, com letras em homenagem a Buarque. “Bye-bye Brasil”, “A Banda” e “Geni e o Zeppelin”, três verdadeiros protestos contra a ditadura, figuram entre as mais festejadas. Porém, Chico é conhecido por cantar, como nenhum

“ . . . E s s e a m o r

que as mulhe-

res sentem por

Chico...”

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outro homem, a alma femi-nina. Logo, músicas como “A Rosa”, “Morena dos olhos d’gua’’ e “A Rita”, também não podiam faltar. Quanto as músicas autorais, só os nomes já dizem bem à que vieram. “Marchinha das Mulheres”, “Samba para Chico’’ e a mais nova,“ Será que o Chico vem?”, mos-tram no som a maturidade e autonomia do grupo na hora de compor, e nas

letras a devoção enorme que existe dessas mulhe-res – e não só dessas – por Chico Buarque de Hollanda. Um trecho da canção “Samba para Chico” diz assim: Que homem é esse?/ Que fez surgir?/ Tanta magia de amor e dor/ Em cada história a principal/ É a mulher com seu encanto magistral. A letra deixa claro que esse amor que as mulheres sentem por

As Mulheres em desfile no Leblon - RJ

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Chico, é na verdade inspi-rado pelo amor que este sente pelas mulheres, ao sempre colocá-las em suas composições.

Ao debutarem no carnaval de 2007, a banda chamou muito a atenção de todos os que a assis-t iram. Aquele carnaval passou, assim como outros, no entanto, a banda das mulheres de Chico, não. Ano após ano elas vêm

conquistando o seu espaço dentro da música brasi-leira. Após a idéia do bloco de carnaval o projeto cres-ceu muito, e felizmente conseguiu não limitar a sua agenda somente aos even-tos que ocorrem próximos ao carnaval. A Banda con-seguiu sua independência da festividade, sendo pre-sença marcante em gran-des casas de show pelo Rio de Janeiro e o resto do Brasil.

Yoko Ono, John Lennon e Paul McCartney

Foto: Marcia M

oreira

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MúsicaCRASERECOMENDA

Jethro TullRock Progressivo

Álbum destaque:Aqualung (1971)

BeirutRock Alternativo

Álbum destaque:Lon Gisland (2007)

Este é, sem dúvida alguma, o cd essencial da carreira brilhante do mago da música Folk, Cat Stevens. Hora teatral e hora político, o álbum é capaz de prender o ouvinte do início ao fim, não só por letras elaboradas, mas pela criatividade musical de seu idealizador.

Álbum destaque:Tea For The Tillerman(A&M - 1970)

CAT STEVENS

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Política

O título acima traz bem as dificulda-

des com que as mulheres têm que lidar neste uni-verso ainda masculino. Surpreendentemente elas conseguem, e o fazem mantendo todas as suas atividades naturais, ou seja, são mães e profissio-nais “full time”. Reconfigu-rando paradigmas sociais as mulheres vêm impondo uma nova demanda por

posturas mais éticas, mais profissionais.

Não que não exis-tam mulheres antiéticas ou maculadas pelos vícios desta estrutura machista, do “farinha pouca meu p irão pr imeiro” . Estas n ã o s e f i r m a r a m p o r suas posições, apenas m a n t i v e r a m o p e n s a -mento chauvinista incor-porado às suas condutas.

A políticadas mulheres

por Emílio Farah

Ah! Essas mulheres ...

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Mas existem aque-las que realmente fizeram ou fazem a diferença. No Brasil tivemos uma Chiqui-nha Gonzaga, expoente nas artes populares, popu-larizou o choro e foi a pri-meira mulher a reger uma orquestra, v irou inclu-sive mini-série da Globo, quer mais re levância?

Passo a passo a presença feminina foi se fazendo predominante de alguma forma, seja no trato da coisa pública, na atenção dispensada aos problemas sociais ou na

simples administração de recursos. Nestas mudan-ç a s d e p a r a d i g m a s e apostam as fichas em uma racionalidade não linear, antítese ao pensamento masculino. Seguindo nesta l inha surgiu a primeira Presidenta do Brasil, como auge desse novo pensar brasileiro. Se vai ser bom governo ou não, apenas podemos desejar e espe-r a r . E m u m p r i m e i r o momento, seu governo retrata uma postura emi-nentemente técnica, não demonstra “jogar para a torcida”, sua cintura dura

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vem incomodando seus aliados e assessores de imprensa.

U m a c l a r a demonstração desta posi-ção, focada na meritocra-cia, foi a indicação do Ilus-tre Ministro Luiz Fux para recompor a Corte Consti-tucional, qualquer dúvida basta pegar uma pequena parte da sua história como profissional do Direito.

D i v e r s o s m i n i s -tér ios de porte foram colocados nas mãos de técnicas, seja no Minis-tério da Cultura, onde temos a Ministra Ana de Hollanda, irmã do com-positor Chico Buarque de Hollanda, é atriz, cantora e também compositora.

R e f o r ç a n d o o novo viés, uma mulher no Desenvolvimento Social, Tereza Campello. Gaúcha e economista, se dedi-cava antes ao Programa de Aceleração do Cresci-mento (PAC).

Na sensível posi-ção de gestora do Minis-tério do Meio Ambiente, foi nomeada Izabella Tei-xeira, bióloga e funcioná-ria de carreira do Ibama desde 1984 . Tem mes-trado em Planejamento Energético e doutorado

“...Levada a cabo pelas mãos de uma direção téc-nica...”

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em Planejamento Ambien-tal. Por fim, coube a uma mulher o temido, às vezes odiado, nunca amado, M in i s tér io do P laneja -mento. A técnica Miriam Belchior, que atuou como Coordenadora do Pro-grama de Aceleração doCrescimento (PAC).

E s s a , n a r e a l i -dade, será a grande dife-rença entre seu governo e o de Lula, seu mentor,

que deu novamente uma aula de estratégia polí-tica, adquirida depois de muita pancada. O ex-pre-sidente percebeu que a manutenção de suas con-quistas sociais somente p o d e r i a s e r l e v a d a a cabo pelas mãos de uma direção técnica. Não dá para imaginar, a esta altura, o que deve estar passando pela cabeça destes políticos. É esperarpara ver.

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CRASE CONVIDA

Nara Vidal

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Nara Vidal é mineira de Guarani. Há 10 anos mora na Europa onde trabalha como jornalista e colunista de revistas de arte, dança e decoração. Autora do livro “Viajar sem dinheiro e gafes internacionais” (All Print, 2010), Nara lançou através do Clube de Autores e de forma independente seu livro de poemas “De mais e de menos”. Formada em Letras pela UFRJ e em Arte pela London Met University, Nara tem se tornado uma das escritoras mais queridas e populares no Brasil.

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M inha mãe, uma feminista de alma, sempre disse para as três filhas: “Estudem. Vocês não

sabem o dia de amanhã. Precisam estudar, ler, se infor-mar para crescer e então ser alguém.” Ela dizia que a vida era difícil para qualquer um e nós mulheres talvez tivéssemos a surpresa de sermos colocadas à prova mais vezes do que esperamos. Apesar do aspecto rea-lista das suas palavras, minha mãe me criou sem cortes para as asas da minha imaginação! Talvez tenha alimen-tado tal criatividade até demais. Uma vez, quando menti

EM TEMPO

Nem flores, nem mimos,

Nem viagens, nem encontros

Nem café no Deux Magots

Nem foto na Pont des Arts

Nem vento, nem chuva

Nem seu sol, nem seu gelo

Nem ele, nem ela

Nem caro, nem gasto

Bastava seu tempo.

- Nara Vidal

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sobre determinado paradeiro de uma roupa da minha irmã mais velha, minha mãe comentou que era uma imaginação fértil, a que eu tinha, apesar de no fundo, ser mesmo uma mentira feia e gorda! Por sermos uma casa só de mulheres (pobre do meu pai!), sempre houve muita cumplicidade entre nós, irmãs, mãe e sobrinhas. A competição, se existiu, passou em branco, pois o fato era que cada uma de nós tinha seus próprios interesses e sei bem que os das minhas irmãs eram muito diversos do meu: ser artista! Comportei-me como tal por anos! Um comportamento de uma pretensão danada! Cheguei a ficar trancada no apartamento que meus pais paga-vam para eu estudar na faculdade, por uma semana inteira escrevendo poemas e justificando a preguiça como um momento de intensa inspiração e tormento que deveriam ter voz e expressão. Imagina! Como dizia uma tia minha, esse comportamento era “falta de couro!”

Com tamanha liber-dade, amizade e aposta da minha mãe, nunca parei de escrever. Alguns dos tais poemas que surgiram no momento de intensa inspi-ração fazem parte do meu mais recente livro “De mais

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e de menos” (Clube de Autores). Assim, nunca parei de escrever. Nunca parei de me expressar, sempre exorcizando minha feminilidade, com sua delicadeza e agressividade. Sempre querendo pensar um dia como homem, um dia como mulher. Assim minha escrita foi tomando forma. Eu recuso os versos açucarados e gra-tuitos, melosos e previsíveis. Prefiro expressar o que acho que cada mulher realmente seja: uma caixa de Pandora! Não abra! Há tantos segredos, tantas hitórias, muitas sem final feliz, muitas difíceis, muitas cheias de prazer e muitas sem volta. Escrevo sobre sexo, sem culpas e sem reservas. Escrevo sobre rejeição e monotonia. Escrevo sobre o amor, como quer que se apresente! Escrevo sobre nós, mulheres e toda a nossa complexidade e simplicidade. À grande mulher da minha vida, minha mãe, sempre dedico minhas escritas. Ela foi-se e nunca leu meus livros. Mas o interessante da ironia da vida é que agora, uma outra mulher entra na minha vida, com força e propriedade: minha filha, já cheia de personalidade. Sinto a responsabilidade nos ombros todos os dias, pois acredito no que a Simone de Bouvoir nos contou: não nascemos mulher, mas nos tornamos mulher!

Nara Vidal

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