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A ÁFRICA TRADICIONAL 1

Maurício Waldman 2

A importância do conceito de África Tradicional - enquanto modo de vida e visão demundo - decorre do fato de que mesmo nos dias atuais, grande parte da população docontinente vive ou mantéim-se sob a infuência desta noção, responsável tambéim pelasprincipais referências do universo social, religioso e cultural dos africanos (Cf. WALDMANet alli, 2007).

Ademais, a defnição éi indispensável para a compreensão da realidade de países quecomo o Brasil, incorporaram na sua formação éitnica vasto contingente de africanos ecujas culturas foram indelevelmente marcadas por contribuições culturais oriundas doreino da Africanidade (Figura 1).

FIGURA 1: Três tambores: na Nigéria e em Salvador, Brasil. Não obstante retratarem realidades distantes noespaço, note-se a similitude e as analogias entre as duas imagens (Fotografa de Pierre Verger, sem data, inARAÚJO, 2006: 102).

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Num apontamento histórico e cultural, a África Tradicional associa-se a uma formaçãoeconômica, a aldeia, cujas bases estão assentadas num modelo de economia dita natural.Isto éi, autárquica e largamente autossufciente, associada a modos de vida visceralmentecomunitários, regidos pela tradição (LEITE, 1986 e 1984; GIORDANI, 1985).

Retenha-se que mais do que em “tribos” ou nas etnias, a identidade do continente estácentrada na família extensa, uma categoria muito mais ampla do que a família nuclearocidental. Daí que enquanto tal inclui agregados e pessoas consideradas pelos ocidentaiscomo externas ao grupo ou com parentesco afastado, frequentemente endossando laçosfamiliares ampliados, dado que transparece no plano linguístico (MAZRUI, 1986 e 1985).

Por exemplo, na maior parte das línguas africanas não existe palavra para primo, apenasirmão; não existem tios e tias, mas sim pais e mães, e assim por diante. Esta forma deorganização familiar éi comum ao continente como um todo, desde séiculos vigorando decosta a costa nas sociedades do continente.

A resiliência desta concepção, um dos pilares da resistência africana às sucessivasagressões cometidas no continente, éi nítida mesmo na África contemporânea (Figura 2).Para conferir, basta observar o trânsito desta noção em programas políticos propostospor lideranças históricas da África.

Veja-se, por exemplo, o conceito-chave de Ujamaa (“família ampla” na língua Kiswahili),lançado pelo líder tanzaniano Julius Nyerere (1922-1999), que entendia a sociedade doseu país como um coletivo abarcando o conjunto dos cidadãos, propondo a afrmação dapessoa a partir da participação coletiva, de um “fazer junto” no seio de uma comunidadenacional maior.

Por sua vez, as religiões tradicionais africanas devem ser analisadas no contexto dasexpectativas específcas dos povos da África. Muito longe de formarem mero conjunto desuperstições, as noções da esfera religiosa se conectam de modo manifesto com relaçõessociais e com a exploração dos recursos naturais, fundamentais para a permanência domodo tradicional de vida (ANJOS, 2009).

Nesta linha de abordagem, o solo, para a maioria dos povos africanos, era entendidocomo um bem coletivo, assim devendo permanecer por constituir herança dos espíritos

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ancestrais, proposição muitas vezes articulada a infexões extremamente objetivas (Cf.M’BOKOLO, 2012; LEITE, 1986).

FIGURA 2: Família extensa africana na moderna República do Togo, na África Ocidental (Fonte: Pinterest: <https://br.pinterest.com/ >. Acesso: 30-10-2017).

Exemplifcando, relativamente a este último ponto rubrique-se que entre os pescadoresTofnu da República do Benim, a proibição da pesca em certos lugares da Lagoa Nokoonéiera justifcada por constituírem lugar de repouso de uma deusa chamada Anasi Gbéigu,crença catalogada como muitas outras pelos estudiosos eurocentrados, enquanto umasimples crendice.

Entretanto, pesquisas posteriores quanto à origem destas interdições concluíram quejustamente nessas áreas se reproduziam os peixes capturados nas outras partes da lagoa.Logo, o culto à divindade perfazia claro papel prático de preservar ambientalmente osbancos pesqueiros (apud DIEGUES, 1994: 77).

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Mais ainda, no geral a comunidade aldeã africana mantéim intensa relação com o meionatural circundante, do qual retira a totalidade dos elementos necessários para a vidacotidiana, sendo que nesta derivação, a sociabilidade encontra expressão em marcasapropriadas diretamente da natureza, tal como éi o caso dos baobás, entendidos comomorada dos deuses e dos espíritos (WALDMAN, 2016c e 1997).

Na maior parte do continente, o baobá éi assumido como a árvore da aldeia, verdadeirocentro da vida social, sendo honrado pelos rituais das comunidades (Cf. NIANE, 1982). Emvista da proeminente importância simbólica desta árvore, mesmo com a desapariçãofísica dos aldeamentos, estes vegetais gigantescos se perpetuam na paisagem,testemunhando formas de organização do espaço das sociedades locais (Figura 3).

FIGURA 3: A célebre Esplanada ou Avenida dos Baobás, monumento nacional de Madagascar, tombado pelaUNESCO, órgão das Nações Unidas para Educação e Cultura. O planto dos Baobás foi realizado de modo ademarcar o trajeto deste caminho, direcionado por exemplares da Adansônia grandidieri, espécie de Baobáendêmica deste país. Uma imagem representatva das formas autentcamente africanas de artculação doespaço habitado (Fonte: < http://www.dailccogniton.com/content/image/20/trees/baobab-avenue.jpg >.Acesso: 30-10-2017).

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Cosmogonicamente, o sistema africano de pensamento estabelece que tudo no universose interliga. Para a sociedade tradicional éi impensável qualquer dissociação das pessoaspara com o mundo natural, por sua vez uma noção abrangente que integra num úniconexo ontológico a totalidade da criação: animais, vegetais e minerais (TEMPELS, 1949).

Mantéim-se com o solo relações de afrmação religiosa, reciprocidade e harmonia. Nestavisão de mundo, o equilíbrio com o meio ambiente não podia ser violado sob pena deprovocar, no seio das forças que sustentavam a natureza, perturbações que se voltam,no fnal das contas, contra a comunidade e os próprios humanos.

A visão da atuação de uma força primordial, vital ou preexistente, discernimento esteuniversal na totalidade dos mitos de criação africanos, éi concebida como o princípio doqual se originou a criação e a expansão do universo, desempenhando tambéim a funçãode umbrella concept a apreender e dinamizar multifário leque de inteligibilidadessensíveis observadas pelo africano na materialidade social (HAMPATÉ-BÂ, 1993).

Nesta linha de abordagem, o africano observava a presença de forças vitais presentes emtodos os seres existentes: nos humanos (tanto nos vivos quanto nos antepassados), nosanimais, nos vegetais e inclusive, nos seres inanimados (minerais, objetos, etc.).

A mais ver, as variáveis qualitativas percebidas nestas mesmas entidades, tais como suasfunções, características estéiticas e procedências, assim como a personalidade inerente acada vivente, estão indissoluvelmente vinculadas à fração de substância vital que aspersonifcam.

Neste sentido, este conceito, fundamental para o reconhecimento flosófco de mundopelos africanos, subentende que o conjunto dos seres mantéim entre si uma unidade vitale uma inter-relação que propicia harmonia e equilíbrio, construção imaginária na qual oser humano ocupa posição central.

Na rede formada pelas forças vitais, devemos tambéim consignar a prestigiosa funçãoatribuída à oralidade. Para grande parte das culturas do mundo tradicional africano, aoralidade éi o veículo por excelência da comunicação (LEITE, 1992).

O conhecimento das comunidades, preservado pelos griots, profssionais de memóriaprodigiosa que funcionavam como autênticas bibliotecas vivas, estava formatado em

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acervos orais na forma de milhares de relatos, contos, histórias e provéirbios (passimNIANE, 1982).

Deste modo, a sociedade tradicional africana, antes de “não ter evoluído para a escrita”,tal como frequentemente éi destacado pelas leituras ocidentais de África, antes optou emmuitas situações e contextos sociais e históricos, por reservar-lhe um papel secundário,com menor peso social do que a oralidade. Nesta acepção, retenha-se que do ponto devista da Africanidade, o conceito de analfabetismo éi absolutamente estrangeiro.

Contudo, uma ponderação matricial éi que não obstante o enorme prestgio desfrutadopela oralidade, a África constituiu um dos berços historicamente reconhecidos da escrita.As culturas do continente criaram múltiplos padrões de comunicação escrita, dentre osquais os hieróglifos egípcios e os sistemas de escrituração como o núbio, copta, tifnagh,bamum e ge’ez (Figura 4).

Complementando, ideogramas estilizados inventados pelos Ejagham no que atualmenteéi a Nigéiria e aforismos gráfcos como os símbolos Adinkora, com profundo apelo visual eem uso ainda hoje na República de Gana e noutros países do Golfo da Guinéi, são duasexplicitações da inventividade africana em transmitir sofsticados conceitos e ideiasatravéis de suportes imagéiticos gráfcos (Cf. WALDMAN, 2017e; 2000; WALDMAN et alli,2007).

Quanto à organização do espaço geográfco pelo mundo tradicional africano, conquantoexistissem milhares de aldeias ajustadas a circunscrições de ordem espacial, isto nuncasignifcou inexistência de contatos ou de relações comerciais mais amplas.

Reconhecidamente, as trocas externas à aldeia, tribo ou região tradicionalmente foram,na maioria das sociedades africanas, de volume limitado, tanto pela reduzida quantidadede excedentes e quanto pelas difculdades nas comunicações entre as diferentes regiõesdo continente. Mas, a despeito disso, as trocas sempre existiram (Cf. WALDMAN et alli,2007; VERGER et BASTIDE, 1992).

Isto porque na África, o coméircio possuía vários signifcados, não se restringindo a umpapel meramente econômico. Funcionalmente, o mercado africano foi uma contrapartidaà autarquia da sociedade tradicional, fortalecendo laços e o sentimento de solidariedadee da consciência do coletivo numa periferia geográfca mais dilatada.

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FIGURA 4: Trecho do Novo Testamento escrito através do sistema alfassilabário (ou abugida) ge’ez, tambémutlizado pelos idiomas amárico e tgrinca, na Etópia (Fonte: Pinterest: < https://br.pinterest.com/ >. Acesso: 01-12-2017).

Instituição tpica da sociedade africana, o mercado local, aléim de responder pelasatisfação de necessidades materiais elementares, tais como alimentação, vestuário eutensílios de uso cotidiano, desempenhava uma função integradora, congraçando gruposrivais, servindo de fórum para a arbitragem de confitos e conclusão de acordos.

Polo de um envolvente dinamismo social, não admira então que o mercado comumenteestivesse sob a tutela de uma divindade, possuindo, pois um caráter sacralizado. Domesmo modo, as feiras constituíam importante evento social. Elas ocorriam em diaspreviamente estipulados e formavam redes estruturadas em malhas cobrindo vastosterritórios e alcançando pontos longínquos do hinterland africano.

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Os mercados locais constituíam o núcleo das trocas comerciais, locais de informação edifusão das notcias, onde por excelência se exercia o controle social. Nenhuma novidadeera integrada à vida social sem antes passar pela feira.

Não admira, portanto que a ambição de qualquer autoridade fosse colocar os mercadoslocais sob seu controle direto. Exemplifcando, no Baixo Benim, não existia eventoimportante que não fosse celebrado no quadro temporal da feira, que aléim do mais,constituía centro de cerimônias concernentes a toda a comunidade (VERGER et BASTIDE,1992: 146).

Muitas vezes, a intensidade deste coméircio induziu o surgimento de cidades voltadasexclusivamente para o intercâmbio. Todavia, em razão do caráter predominantementenão-mercantil da economia tradicional, estes centros urbanos mantinham umrelacionamento seletivo com o resto da sociedade.

Não por acaso, estas cidades estavam incrustadas em rugosidades naturais que lhesgarantiam certo isolamento. Na costa oriental africana, houve uma decidida preferênciapor ilhas próximas ao continente, caso das cidades portuárias de Quíloa, Pemba, Sofala,Pate, Lamu, Moçambique, Mombaça, Mogadíscio e de Zanzibar (Figura 5), epifenômenosurbanos da civilização Swahili, todas com tráfco intenso com as populações do litoral ecom os países do Mar Vermelho, reinos árabes, Índia, Sri Linkoa, Irã, Malásia e Indonéisia(Cf. GIORDANI, 1985).

Portanto, a análise da sociedade, da cultura e da história da África Tradicional deve serfeita levando em consideração toda uma séirie de particularidades. No tocante à irrupçãodo Estado, por exemplo, este ocorreu de forma diferente dos impéirios da antiga Ásia,Europa ou da Améirica Préi-colombiana.

Os Estados tradicionais africanos não possuíam cunho despótico, não intervinham naeconomia, não organizavam a execução de trabalhos públicos, não enquadravam apopulação com vistas à exploração do trabalho coletivo e tampouco planejavam ouconstruíam obras hidráulicas.

Em suma: o surgimento de reinos e de impéirios como o Daoméi, Zimbabwéi, Ruanda,Congo, Kush, Axum, Ashanti, Kanem-Bornu, Mossi, Lunda, Ghana 3, Mali e Songhay, nãose deu por conta da organização de trabalhos hidráulicos ou lides agrícolas.

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FIGURA 5: Stone Town, centro antgo da cidade de Zanzibar, o mais famoso dos centros portuários Swahili dacosta da África Oriental (Fonte: < https://www.trip.me/blog/most-beautful-old-quuarters-around-the-world/ >.Acesso: 01-11-2017).

Antes, a formação destes Estados tradicionais esteve essencialmente relacionada ainferências geoeconômicas específcas, como o controle do coméircio intertribal ou inter-regional, exercido por aristocracias locais no tráfco do sal, da noz-de-cola, de bens deprestgio, escravos e de produtos preciosos como o ouro, cobre, éibano, marfm e peles.

Historicamente, o poder político tradicional demonstrou habilidade em criar mecanismosde solidariedade e de convivência entre povos muito diversifcados, operando com basena construção de consensos, uma estratéigia fundamental em um edifício de poder noqual a autoridade central era legitimada enquanto mantenedora de uma pluralidade deinteresses e de manifestações culturais e religiosas (WALDMAN et alli, 2007).

Entenda-se que na África Negra as formações estatais não possuíam caráter centralizado,classifcado como “teocrático” ou “despótico” na literatura histórica clássica, tal como foi

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endereçado para os impéirios Assírio, Hitita, Chinês, Mogul e da antiga Ásia Central. Ossoberanos africanos estavam sujeitos a sanções que limitavam consideravelmente umexercício autocrático do poder, inviabilizando a equiparação da história do continentecom outras realidades políticas.

Naturalmente, não se pode imaginar que o exercício do poder em África não expressassecontradições econômicas, sociais e dessimetrias de poder. O aparato estatal, qualquerque seja a realidade em foco, sempre éi um instrumento voltado para a afrmação de umahierarquia de mando.

Assim sendo, o passado africano tambéim observou contradições e litgios, que contestamuma visão idealizada pela qual a sociedade africana estava fundada na harmonia social ena ausência de confitos. As contradições seguramente existiam. Mas, condicionadas poroutras modalidades e confgurações políticas, históricas e sociais, diferentes das queeclodiram nos demais processos históricos.

Nesta linha de argumentação, embora no passado do continente possamos encontrarmuitos episódios de guerras opondo reinos e povos africanos entre si, a turbulência quecaracterizou durante várias déicadas trechos inteiros do continente do Séiculo XX não podeser dissociada da avaliação dos severos e brutais impactos promovidos pelo colonialismono continente.

Nesta perspectiva, a conhecida percepção da “tribalização” dos confitos no continentematerializaria mais um capítulo da ideologização da imagem da África, em nada somandopara um melhor conhecimento destes e pior, comprometendo reais possibilidades eexpectativas de entendimento.

Na realidade, a questão éi muito complexa, não podendo ser reduzida à existência ou nãodo chamado tribalismo, um conceito pobre, inefcaz, ideologicamente enviesado e que deresto, desqualifca o rico conteúdo das identidades culturais e éitnicas da África.

Caberia tambéim anotar que curiosamente, num sopesamento que escapa ao campo devisão de quase todos os comentaristas, o único continente que tem efetivamente revistosuas fronteiras com base na etnicidade éi a Europa e não a África (DÖPCKE, 1999: 81-85).Apenas para exemplifcar: a antiga União Soviéitica gerou quinze países independentes, aTchecoslováquia, dois, a ex-Iugoslávia, outros seis. Enquanto isso acontece na Europa(processo que está distante de esgotar), o mapa político da África pós-colonial, ainda que

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tenham se passado mais de seis déicadas de descolonização, éi fundamentalmente omesmo.

No mais, vale recordar que em boa parte dos Estados tradicionais da África coexistiammuitas etnias, e que nem por isso foram sacudidos por “confitos tribais”. Nessa linha deentendimento estão incluídas formações políticas que persistiram por séiculos, em lapsosde tempo muito mais extensos do que o da maioria dos Estados europeus modernos.

É o que comprova a cronologia histórica do continente: o Reino do Congo acumulava pelomenos três séiculos de história por ocasião da chegada dos portugueses em 1482. OImpéirio do Ghana perdurou por nove séiculos. O Mali, por mais de três. O Zimbabwéi, pordois séiculos e meio (Figura 6). Para completar, a Etiópia éi simplesmente uma formaçãoestatal das mais antigas do mundo (WALDMAN, 2017e; 2000; WALDMAN et alli, 2007).

FIGURA 6: As famosas muralhas duplas de Zimbabwe ou Monomotapa, notável realização arquuitetônica dospovos do Zambeze (Fonte: < http://editon.cnn.com/travel/gallerc/9000-cear-stone-great-zimbabwe/index.html>. Acesso: 01-11-2017).

Assim, antes de decretar a diversidade éitnica como um problema em si, o busílis talvezresida na capacitação ou não das estruturas políticas “mais avançadas” - implantadas peloOcidente na África, mormente para dar vazão a projetos políticos de extração neocolonial

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- em assumirem plenamente a pluralidade, um debate imiscuído no centro dasantinomias da modernidade (WALDMAN et alli, 2007: 123-124).

Por fm, note-se o caráter permanentemente atual dos antigos ensinamentos oriundos dasociedade tradicional. Embora traduzindo profundas alterações que ratifcaram o ingressodo continente na sociedade globalizada moderna, o africano de hoje mantéim-se atentoao que o mundo tradicional lhe ensina (M’BOKOLO, 2012; MUNANGA, 2006).

Recorda o historiador nigeriano Ade Ajayi: “A visão de uma nova sociedade africanadeverá, necessariamente, elaborar-se na África, proceder da experiência históricaafricana e do sentido próprio à continuidade da história africana. O africano ainda não éimestre do seu destino, contudo, ele tampouco persiste somente como um objeto sujeitoaos caprichos deste mesmo destino” (in ASANTE et CHANAIWA, 2010: 896).

É assim que o mundo tradicional se transforma numa fonte de inspiração para a recriar eao mesmo tempo manter a identidade do continente. Uma tradição viva, que perseveraem encantar e seduzir novas gerações de africanos e afrodescendentes.

FIGURA 7: Jovem da etnia Serer da República do Senegal (Foto: Claude Gourlac, in Ethnies duSénégal, Pinterest: < https://br.pinterest.com/ >. Acesso: 01-12-2017).

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WALDMAN, Maurício et alli. Memória D'África - A Temática Africana em ala de Aula. SãoPaulo (SP): Cortez Editora. 2007;

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1 A África Tradicional éi um texto de capacitação em afro-educação utilizado em cursos,palestras e conferências desenvolvidos pelo autor em diversos espaços educativos,particularmente junto ao Centro de Estudos Africanos da Universidade de São Paulo(CEA-USP), entidade na qual o autor participou durante dez anos como professor-colaborador (2004-2014). A presente edição deste texto incorpora revisão ortográfca,cautelas de estilo e normatizações editoriais inerentes ao formato PDF, masterizadapela Editora Kotev para fns de acesso livre na Internet (2017, Kotev ©). No mais, foramagregadas diversas fguras com o fto de auxiliar na compreensão do tema, assim comoreferências bibliográfcas de interesse para os que desejam maior aprofundamentotemático. O texto éi de caráter gratuito, sendo proibida qualquer forma de reproduçãosem préivia autorização do autor.2 Maurício Waldman éi jornalista, consultor, editor, professor universitário eantropólogo africanista. Na trajetória de Waldman constam: graduação em Sociologia(USP, 1982), mestrado em Antropologia (USP, 1997), doutorado em Geografa (USP,2006) e três pós-doutorados: Geociências (UNICAMP, 2011), Relações Internacionais(USP, 2013) e Meio Ambiente (PNPD-CAPES, 2015). Waldman atuou como consultorinternacional da Câmara de Coméircio Afro-Brasileira e professor nos cursos de difusãocultural do Centro de Estudos Africanos da USP (CEA-USP). Maurício Waldmanresponde pela autoria de dezenas de artigos e textos cientfcos centrados no temáriode África & Africanidades, publicados pela revista África (CEA-USP), Jornal Cultura(Luanda, Angola), revista Brasil-Angola Magazine (São Paulo) e Portal Instituto Afro(São Paulo). Waldman éi autor de Africanidade, Espaço e Tradição: A Topologia doImaginário Espacial Tradicional Africano na fala griot sobre undjata Keita do Mali(Revista África, coedição CEA-USP & Editora Humanitas, 1997-1998), paper consideradointernacionalmente relevante pelo CNRS - Centre National de la Recherche Scientifque(França), a maior entidade pública francesa de pesquisa. Waldman tambéim éi coautorde Memória D’África: A temática africana em sala de aula (Cortez Editora, 2007), obrade referência no campo africanista.Mais Informação:Portal do Professor Maurício Waldman: www.mw.pro.br Currículo Lattes-CNPqu: http://lattes.cnpq.br/3749636915642474 Verbete Wikipedia English: http://en.wikoipedia.org/wikoi/Mauricio_Waldman Contato email: [email protected] 3 Atentar para o fato de que a atual República do Gana, grafada sem “h”, não temnenhuma relação histórica e geográfca com o Impéirio do Ghana. A denominaçãoGana foi adotada no governo nacionalista de Kwaméi Nkoruma com o intuito derebatizar a antiga Colônia Britânica da Costa do Ouro com uma referência docontinente africano, independentemente desta não possuir inserçãolocal.

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