a afilhada rebelde, daniela pinheiro - piauí
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A Afilhada Rebelde, Daniela Pinheiro - PiauíTRANSCRIPT
E ra o final de uma manhã de brisa fri a e sol quente, no início de setembro, quando o presidente do
sindicato dos tax istas de São Paulo, Natalício Bezerra da Silva, tomou o microfone e se dirigiu à restrita plateia: "Vamos respeitar, h e in? Nada ele grac inhas. Não se convida uma pessoa para vi r na casa da gente e a gente host il iza ." O grupo agua rdava a chegada da presidente da República e candicb ta à reeleição, Dilma Vana Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, que naquele momento tinha 36% das intenções de votos - o que a colocava em empate técn ico, no primeiro e segundo turnos, com Marina Silva, do Partido Socialista Brasileiro, c<J tapultada às alturas nas pesquisas depois da morte do cabeça ela chapa, o ex-governador Eduardo Carnpos, em agosto.
"Eu nJo estou preocupado com vocês, não. Nossa categoria é respeitosa , mas pode aparecer alguém ele fora, querer apron tar, tumultuar, aí va i ter", continuou o sindica lista , ainda que sua preocupação fosse infundada, já que o ambiente estava cirurgicamente controlado. A imprensa foi espremida num pequeno palanque. Apenas dirigentes sindicais identi fi cados - a maioria trazendo estampados no peito adesivos com a cara ela candidata- tinham acesso à éÍ rea diante do palco. Populares eram vetados. Uma mulher, moradora de um prédio vizinho, foi orien tada por um segurança
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a dar a volta no quarteirão para entra r em casa. Meia hora depois, Dilma Rousseff foi recebida por uma audiência calorosa . A equipe da cand idata filmava tudo.
A menos de um mês das eleições, a campanha ela presiden te precisava se blindar de vaias, perguntas incômodas, manifestações populares fora do script. E pior: tinha que lidar com uma inédita e sombria perspectiva nas urnas. Dentre os eleitores, apenas 38% achavam sua gestão "boa ou ótima". Ainda segundo o Data folha, mais ela metade da população a considerava entre regular e péssima. Sua rejeição em São Paulo- maior colégio eleitoral do país - alcançava 47%. Em âmbito nacional, 34% do eleitorado afirmavam não votar nela "ele jeito nenhum". Era o maior percentual negativo entre os presidenciáveis. Desde o início ela corrida elei toral , pela primeira vez parec ia concreto o risco ele o PT deixar o poder depois de doze anos no comando elo país.
A popularidade ele Dilma Rousseff, ao chegar ao governo, ultrapassava os 70% de aprovação. O cam inho entre o pedestal e a corda bamba foi curto e difuso. É difícil determinar a pedra que pavimentou a rota do declínio: se as decisões econômicas ou a inexperiência política ela governante; se a onda ele mudança que veio ;I lOll ~l nas manifestações de junho ou o t·clnper;lmento insular ela mandat(iria; se a ojeri;r.a aos rituais ela política ou a t·clll aliv:l de illlpnmlr a própria marca ao goven 10 ; se a
persistência ela crise internacional ou o espectro ele seu padrinho político, o expresidente Luiz Inácio Lula ela Silva, que lhe fez sombra durante todo o processo. Uma relação peculiar que - como disse certa vez o ministro Gilberto Carvalho ainda va i merecer estudos acadêmicos.
Para es ta reportagem, foram ouvidas 26 pessoas 1 igaclas à presiden te ou ao Partido dos Trabalhadores . A maioria pediu anonimato. Dentre os procmados, apenas Dilma Rousseff e o ministro da Casa C ivil , Aloizio Merca cl an te, se negaram a falar com piauí.
A o assumir o mandato, Dilma Rousseff - a gerentona, a mãe elo Programa ele Aceleração elo Crescimento
-tinha em mente o que queria faze r: dar continuidade às políticas ele inclusão social elo governo Lula e implementar uma agenda desenvolvimentista, elas grandes obras ele infraes trutura, assunto que sempre lhe foi caro, para mover a economia. O país tinha cresc ido em ritmo chinês e parecia recuperado elo impac to ela crise global ele 2008. Além disso, havia a perspec ti va el os ganhos elo pré-sal e ela vitrine ela Copa elo Mundo.
A primeira equ ipe ministerial tinha a Gira da dupla. Dos 37 min istros, quin ze l1 :1viam sido indicados por Lula. Entre eles, C uido Mantega, mantido na Fai'.e 11 d;1, c Fernando Haclclacl, na Ecluca<.Jío, colll vistas à sua campanha eleitoral
para a Prefei tura de São Paulo. O expresidente também pediu para scaurar José Sérgio Cabrielli no comall(lo d:1 Petrobras. Dilma ai nda herdou boa parte dos dirigentes de esta tais e autarq ui as, e até a chefe do escri tório ela Presidênc ia em São Paulo, a então desconhecida Rosemary Noronha . E acomodou as nomeações ele ocasião feitas pelos partidos ela col igação. De sua lavra, emplacou as ministras mulheres e o ex-prefeito de Belo Horizonte, o amigo Fernando Pimentel , no Desenvolvimento.
Desde que Lula inventou a candidatura de sua ex-ministra das Minas e Energia e da Casa C ivil , o que ele via como qualidade em Dilma, uma fatia elo petismo e elos partidos aliados enxergava como defeito intransponível: o voluntarismo, as opiniões fo rtes, o temperamento irascível, a inexperiência política e até o vocabulário prolixo, ele falas longas e enfadonhas, permeadas ele termos técnicos. Um elos mais próximos interlocutores ele Lula disse ter sempre defendido que ela precisava ele "assessoria emocional" para ser presidente.
Lula parecia calcular que sua presença ao alcance em caso de emergência , a competência gerencial ela sucessora, a boa onda na econom ia e a força do apoio ele dezessete partidos e de mais ele 80% do Congresso Nacional ga rantiriam um governo de sucesso. O resto era contormível. No mais, ele era o grande vencedor ela eleição. Seu poste havia chegado hí.
E DEUS CRIOU A MULHER
O s pri111 ·iros 111 l'S l'~ dv 1',111'1'11111 I" ram rcdc1 1torcs. 1•. 111 p111 1C:1\ :.< '111 :1 nas, Dilme~ jií lll us lr<~ V: I :1 <JII<'
viera: vetou a distribu ição de cargos k derais para parl amentares ela b:1sc govern ista e anunciou um corte el e 50 bilhões ele rea is no Orçamento. Foi à Ch ina, visitou vizinhos latino-amer icanos, recebeu no Plana I to o pres idente amer icano Barack Obama. Jactava-se el e ser a primei ra mulher a di scursar na abertura da Assem bleia Geral das Nações Unidas. Era uma es tadi sta .
A classe média e a elite enfim reconheciam um rosto fam iliar: Dilma era di screta, tinha compos tura, fal ava português sem erros de concordância, faz ia o estilo durona c pnrccia intransigente diante ele cv idê11 Ci<1 s ele corrupção. Dist·a11Ci;Jv;t-s ~do j ·it o I .tda de se r. Rapicla-111 ·11! ·, :1 i11q >r ·ss:io foi ca ptada pelas pl·sq11i s: Js d · opi11iJo. Em maio ele 2011, o I hop · r ·g isl rava que ela tinha 73% ele aprovac,:Jo popular.
Ainda na primeira qu adra elo ano, Dilma teve uma pneumonia e precisou se afastar. A bancada do PMDB aproveitou para faze r o que melhor sabe: escambo político. Na votação elo Código Florestal , ameaçou ir contra o governo caso não fossem atendidos os pedidos el e emendas e cargos. Em seu primeiro choque ele realidade, a pres iden te também respondeu com ~1s armas qu e melhor maneja: ameaçou demitir os ministros elo partido. Instalou-se a primei ra das muitas crises com a base aliada. Sem av isar Dilma, Lula desembarcou em Bras ília para acalmar os ânimos dos correligionários. Reuni u-se com o vice-presidente, Michel Temer, foi fotografado ao lado de José Sarney e Rena n Ca lheiros, dourou a pílula e, para alguns, atribuiu à inexperiência ela sucessora a confusão, afinal contornada.
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IÍII-Sl' :ll rop ·lad:1 por I .1d:J, 'l lqll :llllo 1·k :ICJ' ·dii ;IV: I 'S I:Jr ;qJC11 :1S :IC01 110d:111dO :1 siIU aÇJO. O I'MDI\ acabm1 votando '111 p ·so a favor da emenda que anistiava os clcs111atadores, derrotando o governo. F ninguém foi demitido. Recentemente, um petista paulista resumiu o caso: "Essa inabilidade política, misturada com arrogância, marcou as ações dela. Como pôde achar que era liga r, ameaça r o vice e ele ia pedir desculpas? " Mas Dilma sa iu maior do episódio: era ela brigando quixotescamente contra os venais ela política.
Em maio, o país tomou conhecimento elo portentoso aumento ele patrimônio do ministro Antonio Palocci . Em apenas um ano, sua empresa de consultoria havia faturado 20 milhões de rea is. Na época, uma ministra disse ter ouvido da presidente : "Eu achei que fossem 3 ou 4, mas 20 é fada ."
A sa ída de Palocci da Casa Civil foi um divisor ele águas. Além de ter a confi ança elo empresariado mais graúdo, era ele quem negociava a votação de projetos e o preenchimento de cargos no governo. No Planalto, também acalmava o ambiente. Com ele, Dilma não precisava se expor às querelas brasilienses, à romaria dos parlamentares atrás ele verbas, às visitas de ocasião dos representantes do PIB. Palocci fazia bem o serviço.
No lugar dele, assumiu a senadora peti sta Gleisi Hoffmann . Ao lado ela também petista Ideli Salvatti, na articulação política, elas formavam, com Dilma, a trinca que passou a dar o tom das negociações do governo com seus aliaelos. A nomeação repercutiu ma 1 no entorno, que ficou com a impressão de que as duas eram "café com leite": não tinham pulso firme ou estofo político. Como ve rbalizou o então ministro da Defesa, Nelson Jobim , a piauí, em agos-
to de 2011: "Ideli é muito fraquinha e Gle isi nem sequer conhece Brasília."
A pres iden te tinha suas razões. Primeiro, não queria outro "superministro" para lhe fazer frente - Palocci era uma exceção. Até o último minuto, Lula garantiu ao titular da Casa Civil que ele ficaria no ca rgo, mas Dilma sepultou a hipótese. Em público, ele ped iu dem issão, acei ta por ela depois ele vin te dias de crise. Quis para o luga r alguém em que pudesse confiar, mas, sobretudo, mandar. Agradava-lhe ainda a icleia de va lorizar duas mulheres naqueles cargos, antes só ocupados por homens.
Nesse momento, para vencer a tentação ele dar palpites - como ele mesmo declarou-, Lula se embren hou numa maratona ele viagens internac ionais que lhe tomaram quase todo o ano ele 2011. Coincidiu com a época em que o governo Dilma começou a ter uma feição própria. As demissões em sé ri e deram ao marqueteiro João Sa ntana uma senha para colar na presidente: Dilma era a faxi neira ela corrupção.
Em se is meses , sete ministros foram ,J, .IIIilid ll·· '.t· i•. l " íi VIIl v i,] o~ r m rl r nt'ln (' i:J, d(' ill ('/ ',111.11 i d : HJ,.~ 11 11 ('; 11 /',1 1, . ·1· :1 i:1 s i11:1 1'11 \' :IJII!HI p:1ilv d:1 opilJi:J\1 pi.dJiic: J, ilil l' lll :llll t'lli l· :H'<"IIci l·ll tllll si11 :d de :d ·r-1:1. 10: 111 1' 'OS :di:Hios, () l' t'; lci i;Í de J: IXÍ11CÍf:l pn.:ss tlptudl :t :1 corn qH;:io i11crttsl:ld:1 11 :-1 máq t1i11 a do l•:s1:1do, cxpc)lldo-lhc as tripas. Quatro dos se is lllinistros vinham do govcmo Lula. No I'J ; comentava-se a facil idade com que Dilma rifava companheiros. "Dem issões por malfeito são ossos elo ofíc io", disse ela à época.
Sem Lula e sem Palocci , Dilma ia ficando mais Dilma. Em meados ele 2011, por ocasião do an iversá rio
ele 80 anos ele Fernando Henrique Ca rdoso, ela enviou um cartão de feli citações cheio ele elogios ao ex-presidente tucano. O petismo estremeceu. Não bastasse, ela tomava providências em áreas elas quais seus antecessores mal haviam tido coragem de se aproximar: instalou a C om issão ela Verdade para esclarecer crimes da ditadura militar, assunto que Lula procrastinava, e aprovou a Lei de Acesso à Informação, acabando com o sigilo eterno ele documentos públicos.
O empresariado es tava encantado. Como havia assumido o governo com o dólar depreciado, o que prejudicava a indústria, Dilma Rousseff procurou benefici ar o setor controlando o câmbio, por exemplo. Preparava o maior pacote ele concessões da história, que daria à iniciativa privada um bom pedaço elas estradas, aeroportos e ferrovias elo país. Com a imprensa, o clima era de início ele namoro.
O governo seguia em velocidade ele cruze iro quando, no final ele outubro, veio o baque: Lula foi diagnosticado com um câncer na laringe. Ela, que havia tratado a mesma doença hav ia pouco mais ele dois anos, ficou devastada com a notícia. Sem o padrinho por perto, o poder elos lulistas no Planalto foi se esvaziando. A começar pelo elo secretári o-gera l ela
Presidência, Gilberto Carvalho, e ele Marco Aurélio Garcia, assessor especial para Assuntos Internacionais, sobre os quais ela costuma dizer que "falam coisas que não são elo nosso governo". No Planalto, ela já era chamada ele "a tia", apodo cunhado pela velha guarda lu lista . Até hoje, não raro um estranho pode escu tar durante uma visita que "a tia está procura nclo" por alguém.
No fim de 2011, Dilma atingiu o maior índice de aprovação ele um presidente: 59% elos brasileiros consideravam sua gestão ótima ou boa. Foi o maior percentual já alcançado desde a volta das eleições diretas no país. A economia cresceu menos que no ano anterior, mas o Brasil havia criado 2 milhões ele empregos e superado a Inglaterra, tornandose a sexta econom ia do mundo. O poste começava a brilhar sozinho.
Por essa época, num encontro no Planalto, ela confidenciou a um ex-ministro elo governo Lula, com quem ambo~
mantêm boas relações: "Se o Lula quiser, a próxima é dele. É só ele me falar", di sse, referindo-se às eleições de 2014.
O St'l', lllldo :1110 dl· gowr 11o 1'11111 \'ttlll l{pido 'ÍIIOdorO COIIIO lllll :ll :d:t d1 Micl 1cl ' lc111cr. Co111 :1 pcrspt'l' il l, ,
das clcit<õcs municipais Clll otilt lhro, I ld 111 a di111inuiu a agenda de v i a gc 11 ~ t ' •,1 trancou no Pia na I to para traça r os lc 1 tll il , elo bilionário pacote de conccssõc .~ t ' lll
infraestrutura. Estava em seu <1 111hi l' t 1!1 imersa em números, cláusulas, Í11d il' l "•, percentagens, muito PowerPoi1tl.
A performance da presidente j;í t ' L I
conhecida desde os tempos elas M i11 :1.' ,. Energia: ela abria o computador, Vl' lll:t uma miríade ele estatísticas, elencava pl:1 nilhas, "espancava o projeto" - co11, , gosta de di zer- até não sobrar ele pé ll l' nhuma brecha ou dúvida. Comand:1v:1 reuniões infindáveis, em que se clebal i:1 por horas um mero ponto e vírgula. N: 1 ~ negociações elo pacote dos aeroporhJs. um ministro di sse terem passado oit o meses falando sobre aTIR-a taxa ele rc torno elos investidores. O cletalhismo en1 perrava o processo, decisões se arrastava111 e o projeto demorava a sa ir elo papel.
A essa altura, já estava evidente su ~1 ojeriza pelos rituais da viela brasiliense: reuniões com ministros, encontros com deputados, recepções no ltamaraty, fu xicas com a base aliada. Receber entidades ele classe era um parto. Movimentos sociais, muito ele vez em quando. Empresá rios tentavam, em vão, marca r audiências na agenda sempre lotada- pelo menos para eles. Nos encontros com parl amentares, chamava atenção a falta de autonomia ele Icleli Salvatti. Ou ela respond ia às demandas dizendo que "ia ver com a pres iden te", ou chegava chutando a canela elos interlocutores, como um ventríloquo da chefe.
Dilma não falava nem com a bancada elo n "Para ela, a pol ítica era o mal em si. Empresário era abutre, e político era picareta. É assim que ela pensa", disse um importante dirigente elo Partido elos Tra-
balhadnl t',\, dm:llll c um café ela manhã, no Rio. I ) ii111 :1 11:"io li berava dinheiro, dificultava :1 di slri ill li c.,;:lo ele cargos, não recebia os pol íl icos, 11 :lo respondia aos empr ·s:írios. l J111 :1sscssor ela Presidência resulllill :1s r:1zm·s do comportamento: "Ela ilcll :lv:l q11c j:í s:1bia o que eles iam pedir 011 rccl:ll ll :lr. l<111 :io, 11 <1 cabeça dela, não tin h:1 tj ll t' •:Jsl:1r lc111pu com isso."
Os c:q>ricl 1os d ·s11orlcavam o cerimonial elo Pal:ício do l ' l : ll~<ill o. l hna vc1., na Espanha, cl:1 q11i s f: 11.Cr c0111 pras no 10: 1 Corte lnglés, III :IS vclou a C:011 1p:1nhia de seguranças. O gn 1po prec: iso11 se esconder atr<1s elas araras ela loja ele elcparblmentos. Em Londres, quis anela r el e metrô, causando rebuliço entre os seguranças ela Scotlancl Yarcl, que iam abrindo passagem para a com itiva brasileira. Em Washington, deixou em apuros o embaixador Mauro Vieira porque se recusava a se sentar, durante o encontro com Barack Obama, no sa lão ele entrevistas ela Casa Branca. Depois ele muita argumentação, ela concordou. Um ex-integrante elo cerimonial disse que era para evitar ser fotografada sentada- ela usava sa ia .
Aos poucos, as reuniões ministeriais também foram minguando. Desde a posse, todos os ministros hav iam sido proibidos ele falar com a imprensa. Qualquer declaração oficial, só por meio el o porta-voz ou ela própria presidente.
Em seu governo, Lula usava os vazamentos ele informação para testar vá ri as
icleias. Deixava deputados fomentarem boatos ele maneira a ter um termômetro elo que pensava em fa zer - ou não fa zer. Também aprove itava os di scursos para mandar recados, responder a ataques, fazer a defesa elo governo, dar a tônica ela disputa política. Conseguia traduzir questões complexas nos termos elas massas.
Com Dilma, nada di sso acon tec ia. Para ela, vazamento era apenas insubordinação, traição. Quem o faz ia era posto na geladeira . O senador Vita l elo Rêgo, do PiviDB el a Paraíba, perdeu um ministéri o porque a hipótese ele sua nomeação vazou. Testar uma icleia , só nas pesquisas qualitativas encomendadas pelo marqueteiro João Santana, partilhadas com um ou dois interlocu tores. Logo se ev idenciou que a comunicação era um empecilho incontornável no caso ele Dilma : ela se expressava numa sequência el e elipses ele <1rclua compreensão; suas frases eram desconexas, longas, truncadas. A imprensa registrou: nascia o di/mês.
"Temos um sistema hidrológico muito sensível à água"; "Sempre que você olha uma criança, há sempre uma figura oculta, que é um cachorro atrás, o que é algo muito importante"; "Prec isamos cada vez ma is cooptar e captar novas fron teiras tanto na Ásia quanto no Oriente Médio"; "Todos nós aqui sabemos que cada um el e nós escolhe - a viela faz a gente escolher - alguma elas datas em que a gen te nunca vai esquecer dessa
data." Assessores afirmam que, quando escreve, ela é clara, objetiva e focacla .
A cumulan.1-se ao redor ele Di lma histórias ele gritos, esculachos e rompantes. Mais ele uma pessoa me
contou ter visto a filha Paula repreender em público as grosserias ela mãe, extensivas a ministros, secretá rias, funcionários elo palácio. Um ex-ministro elo governo Lula, com quem Dilma trabalhou diretamente na Casa C ivil, presenciou cenas ele descontrole. "O que é perverso é que os esporros dela são sempre para quem est<1 embaixo. Ela sabe com quem pode gritar. É que nem lobisomem, sabe para quem pode aparecer", disse, irônico.
Quatro entrevistados se va leram ele conceitos elo livro O Príncipe, el e Nicolau Maqu iavel, para definir a maneira ele Dilma lidar com o poder. Se Fernando Henrique queria ser admirado e Lula queria ser amado, Dilma quer ser temiela. Certa brutalidade seria uma maneira ele se fazer respeitar, um sintoma ele insegurança. "Sou uma mulher dura cercada ele hom ens meigos", Dilma aprendeu a repetir desde a campanh a ele 2010, sempre que seu temperamento era questionado. Acertos ela equipe nunca são comemorados, não passa m de obri gação; desculpas, sinal ele fraqueza; dúvidas, prova ele descon hecimento.
Ela costuma formar sua opinião ouvindo pequenos grupos distintos- sem
que eles tenham conhecimento dessa comunicação estereofônica. Insiste em saber tudo o que pode dar errado, e só então se interessa pelo que pode dar certo. Bombardeia ele perguntas o mensageiro ele um projeto ou uma icleia. Faz isso uma oitava ac ima, com expressão similar à exibida quando entregou a taça ele campeões do mundo para os jogadores alemães. Os mais vulneráve is tremem. Nas discussões com a equipe, muitas vezes ela externa ele cara sua opinião sobre o assunto a ser tratado- o que intimida boa parte elos presentes, que se cala, ainda mais se tiver ponto ele vista contrário. O resultado é que metade ela equipe não gosta dela e a outra metade tem medo.
"Esse método prejudicou muito porque ninguém tinha coragem, ânimo ou saco ele se contrapor a ela. A ausência elo contrad itório fez com que ela embarcasse em muitas canoas furadas", comentou um ex-integrante ela equipe econômica elo governo, em meados ele se tembro, durante um almoço, no Ri o. "Na econômica, por exemplo", disse.
E m uma manhã ele setembro, o elétrico Roberto Kalil Filho, diretor elo Hospital Sírio-Libanês, médico ele
Dilma e Lula, es tava ele mau humor. "Hoje é bandeira vermelha", disse uma ele suas assistentes, num cód igo que indica o espírito elo chefe. Amigo e responsável pela saúde ele autoridades, empresários
EAKONOMICS DOS AUTORES DE FR
e famosos, Kalil também é a ponte de vários políticos e jornalistas com a cúpula elo JYT. Fala frequentemente com a presidente ao telefone. Dão-se muito bem porque, ele di sse, são parecidos. As conversas costumam começar com: "Oi , como estamos de humor hoje?"
Sentado em frente ao computador, ele falava sobre a paciente e amiga. Para prova r o que di zia, chamou uma secretária. "Vem aqu i, quem é mais cão? Eu ou a Dilma?" A moça perguntou se podia falar a verdade. "É o doutor Kalil , ele é o professor dela ." Segundo o cardiologista, avaliações sobre o temperamento ela presidente são a maior injustiça contra seu governo. "Você acha que a lg11 '•111 chega num ca rgo desses s ·11do boa zinha , pedindo por favor ". Jll'I'J5 1111I< JII . "Ela é inc ríve l, marav ilhosa, mas não
f\'ol6€Lí
está aqui para ficar ele nhe-nhe-nhém. É. igual a mim aqui no Sírio: o povo fala mal porque a gente cobra."
Kalil também dirige o Instituto elo Coração. Quando se está no comando, disse, "se a gente não mantém o tônus de doido, as coisas não anelam". "Ela é igualzinha. A gente leva no chicote porque senão não sa i nada", comentou enquanto mastigava um sanduíche de queijo. "Claro que toda pessoa como eu e ela às vezes erra na maneira ele se expressar, acontece." Mas elesculpas, acrescentou, ele não cos tuma pedir: "Até porque estou certo."
Quando a conversa derivou para as elecisões pol íhcas e cconôm icas cl.1 pres idente, ele sa i11 pcL1 tangc 11lc. "P:dpitci 110 Mais Mt dicos. I•: s(>. Diss · p:1r:1 el:1 q11 ·lo i 11111;1 C'O iS: I (" llfl :lri:t J50cJ:1 :IIJ:Ii Xcl, 111 :1S l1oj t· conheço melhor o programa e acho muito
bom", afirmou. Para Kalil , se as pessoas soubessem do outro lado de Dilma, entenderiam melhor sua gestão. "Poucas vezes vi alguém tão comprometido em mudar a vida dos pobres. Mas a Dilma é fechada. Por tudo que ela passou na vida, ela é isolada, é o perfil dela." Segundo ele, a "verdadeira Dilma" é a mulher que sai de madrugada, driblando a segurança, para andar de moto por Brasília- como havia revelado meses antes uma reportagem da Folha de S. Paulo. "Olha que ser pitoresco! Ninguém a conhece de verdade."
A maioria dos entrevistados confirmou a impressão. Ao conversa r sobre assuntos variados, fora da Presidência, Dilma relaxa, conta casos engraçados, deixa brotar o lado leve, tem o humor afiado. Vaidosa, fi ca lisonjeada quando seu conhecimento sobre artes, música ou literatura é reconhecido. "Ela também tem uma certa coquetterie", disseme um ex-ministro. "Mas, em geral, é muito defensiva", acrescentou.
Nas ocasiões em que se permitiu baixar as armas- foram dez - , Dilma chorou em público. "Ela sempre tratou o governo como uma grande família . E sempre no papel da mãe durona, repressora, que coloca de castigo o ministro que desobedece", comentou um ex-integrante do Ministério da Fazenda. A exigência se es tende a ela própria. "Não posso erra r, não posso errar" é uma frase recorrente da pres idente ouvida nos corredores do Pl analto.
Perguntei a Kalil se Dilma contari a com seu voto. "Claro que não! Sou malufi sta! O pastor Everalclo é meu cand idat-o", respondeu, llllnttorn cn1 que a troça soou ambígua. E o qttC sc11 paciente mais G11110-so pe11sav:1 disso? "A g '111 · n:lo Gda do asSIIItlo. O I .td :l di ;. q11 l· c11 ai11d:1 so11 do le111po dos 111;1 ~ a cos c <pw 110 di :1 q11 · ·11 l'vo lt1i r para 1111111 :111 0 :t I',V IIIc podt· co11-wrs:1r sol>rt' polli C': I", ll ':,poiHicll .
A equipe da Secretaria de Comun icação Social da Presidência era obrigaela a preparar relatórios periódicos só
para Dilma e Gleisi Hoffman, listando as besteiras cometidas pelos ministros . Detalhe: só as besteiras. D ilma não confia, não delega, não divide in fo rmação sobre o governo com o próprio time. as reuniões, avisava aos presentes: "Nem todo mundo va i saber de tudo. A informação aqui será compartimentada. Quem tem que saber ele tudo sou eu, não vocês."
Se um ministro demitia alguém sem consultá-la, corr ia o risco ele se ver clesmorali zaclo, como ocorreu com Fernando Pimentel, que exonerou o secretário execu ti vo Alessa nclro Teixe ira . Quando soube, Dilma repreendeu o ministro e chamou o demit ido para traba lhar no Plana lto. Da agend a elos ministros nos fin s ele semana - eles eram proibidos de de ixa r Brasília sem av is<í-la- a conversas de pé de ouvido entre aux iliares, ela quer saber de tudo. Não raro, tom a satisfações com os envolvidos.
Há quem ve ja nesse comportamento um eco elo próprio passado. D ilma foi
torturada pela ditadura e ficou presa durante três anos. "A cabeça dela é a cabeça de célula , de aparelho, como se ainda estivéssemos na luta armada, com gente do nosso lado podendo nos trair ou gente atrás ele nós querendo nos pega r", disse um ministro que passou pelos governos tucano e petista. Segundo ele, tudo faz sentido: a preferência pelo isolamento, a autossuficiência, a elesconfiança, o controle ela informação, o hábito ele guardar grandes somas ele dinheiro em casa "para qualquer emergência" ou, ainda , a mania el e dormir ele sapatos, "caso precisasse sair às pressas", que a acompanhou por anos. "Ela ainda é a menina elos anos 60", di sse.
E mbora o modo ele governar e o estilo pessoal prenunciassem ruídos, Dilma estava nas alturas quando
começou o segundo ano elo seu governo. Elogiada pela imprensa, respeitada pelos empresá rios, aprovada pelo eleitorado, temida pelos seus- chega ra a hora dr dar seu primeiro grito de independência. O poste queria luz própria. Em vez de: recuar nas medidas ele incentivo ao COII ·
sumo e ao investimento que hav iam sidn tomadas para contornar a crise global dr 2008, ela decidiu pôr o pé no acelerador.
A seu lado, Cuido Mantega funciona va como um "aperfeiçoaclor das ideia~".
Na concepção econômica ela presideuh-, va lia tudo para promover o crescimculo, proteger a indústria e o emprego, bmnhar o consumo e manter a balança comcrl'ial positiva . Um pouquinho ele inflação u:lo fa zia mal a ninguém, essa era a idci.r Dilma passou a ser acusada ele abattdn nar o tripé econômico- meta de i11llu c,;:lo, snpcr:ívit· fiscal c câ mbio fllrltt:tnl - sobre o qtt :d se snst·cntara a cshthilid.ul d:t eCOIIOIIIi:t I lOS (dliiiiOS doze :1110~ .
Cdli l'<JS :dcrlava111 p~tr:t o risC'o tl r J'IIIIIIIIV\' f lllll :l l'X Jl:III S:l!l C('OIIÍ>IIIil ':tlo,r . . seacla no endivida mento. "Ela não li g:1 va para críticas. Nunca ligou. T inha 11.1 cabeça uma ideia ele país cla ra. De fal o, ela sabe ma is ele econom ia elo que :1\ pessoas pensam, e sabe menos elo qui' ela pensa que sabe", afirmou um ex-i11 tegrante dos governos Dilma e Lula.
Na concepção da presidente, a interfc rência elo Estado na economia é crucial. Há em suas decisões um viés ideológico, ele esquerda, muito mais arra igado do que no governo Lula. A má vontade em rehlção à independência do Banco Central é um exemplo. Dilma costuma di zer que, no dia em que se colocar um banco privaelo para financ iar obras de infra estrutura c programas sociais - como o Min ha Cas~ 1
Minha Viela, cujos recursos são 95% elo governo - , o país não va i ter mais nenhuma morad ia subsidiada para os pobres.
Guiada por suas convicções, ela baix011 as taxas de juros elos bancos estatais par~1 fomentar o crédito e obrigar as instituições pri vadas a fa zer o mesmo. No primeiro pacote de concessão das rodovias, limitou a lucratividade elas empresas. "Ela acha que é preciso controlar tudo. Caso contr<írio, o empresá rio ia oferecer o pior serviço
pelo 111 :1 ior prl'<,·o, o que podia ser verdade. Mas voei- podl' conl rolar isso aumentando a concorrê11t ia , por exemplo", observou o ex-intcgrank rb cq1 1ipc econômica.
Na I' ·I mhras, fc.; z o mesmo para controlar a inn:l (.':lo : rc.; prc.;sou os preços dos combusl ívc.; is, a i 11da que.; a medida representasse.; 11111 b:Jq11 c.; para o caixa da estatal. A fin1 rk fon;ar :1 queda elo preço da eletricicL1rk, :111lcc ipo11 :1 renovação das concessões das oc racloras c d istribu idoras de ene rg ia , impcd i 11do-as de continuar a cobrar elo consumido r a reposição elo que haviam investido. As ações elas empresas elétricas despenca r a m.
Em paralelo, Dilma lançava mão elo que a imprensa batizou de "contabilichlcle criativa": inflou as "receitas" elo governo e mascarou as" despesas" ele modo a aumentar artificialmente o superávit primáriodinheiro reservado para o pagamento dos juros ela dívida pública e que sinaliza ao mercado que as contas internas vão bem.
Em uma tarde na sede do Partido elos Trabalhadores, o presidente ela legenda, Rui Falcão, falava sobre as críticas à gestão econôm ica. "Por má von tade ou desinformação, ela é acusada de ser intervencionista, mas, na verdade, ela tomou decisões que beneficiaram a população, não acionistas ou empresários", comentou. "Por que a grita? Porque muita gente rica, pela primeira vez, perdeu dinheiro."
À medida que Dilma ia imprimindo sua marca, parte do petismo castiço per-
dia terreno, como ocorreu nos fundos de pensão e nos bancos estatais. Em abri l de 2012, ela deu o passo mais ousado. Mandou a nova presidente ela Petrobras, Maria das Graças Foster, demitir parte ela diretoria da empresa . Três diretores ligados a três partidos foram clefenestraclos. Um deles era Paulo Roberto Costa, responsável pelo Abastecimento. No PT,
as demissões caíram mal. Sobretudo a ele Renato Duque, da diretoria de Serviços e Engenharia, responsável por grandes encomendas ele plataformas e sondas ele perfuração. Petista da corrente Construindo um Novo Brasil, tendência interna m ais poderosa do partido, Duque fora indicado pelo ex-ministro José Dirceu . É bom guardar esse nome.
Ainda convalescente do tratamento contra o câncer e mergulhado na campanha de Fernando Haddad à prefeitura paulistana, Lula assistia ele longe ao movimento. Quando vinham lhe falar mal elo governo, costumava responder com uma frase pronta: "Calma, ela vai mudar. Aquela cadeira muda as pessoas."
O Instituto Lula ocupa um sobrado de três andares no bairro do lpiranga, na Zona Sul ele São Paulo. De
corado com móveis de escritório em ferro, divisórias ele fórmica e chão acarpetado, lembra as instalações de um sindicato. É h1 que Lula despacha desde que deixou a Presidência. O local virou tam-
bém o ponto de romaria ele empresários e políticos para se queixar de Dilma. Logo, ganhou o apelido ele "Serpentário do lpiranga". Ali, dizem, as víboras destilam veneno puro contra o Planalto.
Numa manhã ele agosto, um elos dirigentes elo Instituto falava sobre o governo e as eleições vindouras. Segundo ele, Dilma enfrentava uma combinação de fatores preocupante: a crise internacional, o ressentimento da el ite- que se viu dividindo aeroportos e tendo de pagar hora extra para a empregada doméstica - e a dificuldade de vender o próprio governo. "Gastaram meses querendo emplacar a gerentona e a faxineira. Isso pegou muito bem para a elite, mas não quer dizer nada para o povão", comentou.
Em sua avali ação, o que ganha votos são ações sociais- Dilma as tinha, mas não conseguia mostrar. Para provar o que disse, ele citou pesquisas internas elo partido evidenciando que os eleitores atribuíam a Lula programas implementados por Dilma.
Nas hostes petistas , Dilma sempre foi vista como forasteira. Com passado de esquerda, fez sua trajetória no Partido Democrático Trabalhista, nas fileiras caudilhistas ele Leonel Brizola. Por muito tempo- e ainda hoje - , os petistas fazem questão de lembrar: Brizola foi aquele que se referia a Lula como "o sapo barbudo". Petistas mais mordazes comentam que ela herdou tudo elo bri-
zoli smo, menos a qualidade: a coragem ele enfrentar a TV Globo.
No mandato de Dilma, os petistas imaginavam pôr em prática a regulamentação dos meios de comunicação, defendida com ardor pelo partido. Mas ela não chegou nem perto do assunto. Na sua gestão, ocorreu uma mudança significativa na distribuição de verbas publicitárias para a imprensa. No segundo mandato de Lula, o então ministro da Secretaria de Comunicação Social , Franklin Martins, irrigou pequenos jornais, rádios e blogueiros. Com Dilma, esses veículos perderam dinheiro e influência.
Cobrada pelo PT, ela também ficava presa à necessidade de justificar o que não havia feito . Havia uma pressão enorme para que fosse a público defender os réus do partido no caso do mensalão. Nem Lula o fez . Os petistas se sentiam sem uma cúmplice. E Lula, às vezes, idem. Quando estourou o caso Rosemary Noronha- funcionária da Presidência em São Paulo, apontada como "am iga íntima" de Lula e acusada ele tráfico ele influência-, Dilma nem titubeou. "Ela mandou demitir na hora, não quis nem saber", contou uma ex-assessora da presidente.
A todo tempo, os petistas trazem à tona que Dilma nunca pensou , desejou, quis ou se preparou para ser presidente da República. Repetem que e la se comportava como alguém independente, que não havia entendido que na ver-
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O ENIGMA ELEITORAL
-Decifrem-me, ou vos devoro!
elacle era apenas parte ele um projeto político mais amplo. "Ela foi eleita para ttttt proJt·lo l'nlílt \'1 1, N: t" (· d\'b , tt \' ttt tlo I .ula , é d ·todos. lo'.l: t tllttt ·a Sl't:Í :1 t':ttt el ielata dela lli CSIII ;( , d ÍSSC-111 ' () di ri "C li te elo instituto I .ttla. "() qu e vai se r julgado nas urnas siio doze anos, niio quatro", concluiu.
No final ele 2012 , as queixas elos empresários, a revolta elos parlamentares que se sentiam desprestigiados e sobretudo o baixo crescimento (0,9%) deram fim ao clima ele lua de mel. Na imprensa, a presidente era criticada pelo fracasso elas medidas para impulsionar a economia e prometia em troca um "pibão" para breve. O Brasil havia perdido a posição para a Inglaterra e voltado a ser a sétima economia elo mundo. O governo tinh<l 62% de aprovação.
P 01 1co d ·pois, :1 rev ista inglesa The t <cc mo111Í~t pediu a cabeça ele Cuido Ma1 ttega em extensa reporta
a 'ITI com críticas à condução ela política econômica brasileira. O "pibinho" assustava investidores e empresários. Durante todo tempo, o governo acrecl itou que a queda ela taxa de juros e o aumento elo crédito elos bancos oficiais implicariam um enorme incentivo ao investimento privado- que entretanto não aumentou. Ocorreu o inverso. De seu lado, Dilma respondia com evasivas e mantinha o pé firme nas diretrizes. A dificuldade ele admiti r erros é uma ele suas ca racterísticas mais notáveis.
Na mesma época, o prefeito ele São Paulo, Fernando Haddad, e o elo Rio, Eduardo Paes, estiveram no Planalto para tratar elo aumento elas tarifas ele transporte público. Mantega teve uma icleia: já que a inflação continuava próxima ele 6%, resistindo a voltar para o centro ela meta ( 4,5% ), era melhor segurar o reajuste. A resposta veio elas ruas meses depois, quando o aumento foi enfim anunciado.
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Em fevereiro, o "Volta, Lula" já havia se espalhado como gripe no inver
tllt . 1tt. J'ilttliiS ,j · Jl l'M !II ~ .'• : I : ittlltL I':tt tl 11 ttOi tt l' dtt n- I H'v ~ íd ·tt k 11 :ts :tposl:ts ·!v i lor: ti s - c ele g:ttd t:tv: t co ttt lol •:t . o pcli sttto alittt 'ttl:t v: t o ho:tlo ·os ·tllpn.:sários, iiiSalisfc itos, Cltgross:IV<llll o coro. Di! ma procurou I .ula c ped iu-lhe UI I\ gesto capaz de aplacar a boai'<Jria. Dias depois, durante a comemoração elo aniversário elo PT, Lu la fez seu papel: antes ele encerrar sua fala, como se cumprisse uma tarefa, finalmente mencionou a reeleição ele Dilma. O resultado foi dúbio. Parte ela legenda achou que era um erro antecipar a campanha, já que ainda havia quase dois anos ele governo pela frente. Outros entenderam ter sido uma maneira ele fortalecer o projeto ele poder num momento delicado. A verdadeira opinião ele Lu la ficou restrita a amigos e familiares. "Lu la é igua l à Bíblia, cada um interpreta como quer", disse José Eduardo Dutra, ex-presidente elo PT e atual diretor ela Petrobras.
Na casa elo próprio Lula, o anúncio da reeleição de Dilma repercutiu mal. A exprimeira-dama Marisa Letícia achou um absu rdo, uma ingratidão, uma traição que Dilma não tivesse perguntado a Lula, em nenhum momento, se ele queria ser candidato- conforme a presidente havia confidenciado para um ex-ministro, amigo ele ambos, um ano antes. A família ficou magoada. E especialmente Lula. '1,
Desde que deixara o Alvorada, Marisa Letícia sentia falta ela rotina brasiliense -as manhãs pescando no píer da Presidência, o entourage, os salamaleques, o poder. Dizia que Lula ainda era a única pessoa capaz de manter o país nos trilhos. Fazia coro com o Serpentário do lpiranga. "Ele sempre quis voltar, a Marisa queria que ele voltasse, os filhos queriam e boa parte elo PT também", disse-me um advogado ele renome ligado ao partido, em seu escritório, em São Paulo.
De sua parte, Dilma defendia que o mandato era dela. Deveria terminar o que hav ia começado e, como seus an tecessores, tinha o direito à reeleição. Nada disso, no entanto, era explicitado. Em público, Lula negava a hipótese ele se candidatar, mas no privado era sempre ambíguo. Ainda que não estimulasse o boato, não movia uma palha para matálo na origem. Em encontros rese rvados, ele passou a critica r a presidente.
Durante todo o mandato, Dilma e Lula nunca se afastaram ou deixaram de se falar. Ele sempre foi cuidadoso na aproximação e nas críticas. Dava sugestões ele modo que sua interlocutora pudesse acatálas ou não. Em vez ele dizer que ela estava negligenciando a política externa, Lula perguntava, como elo nada: "E a Africa , Dilminha? Está abandonada ... " Quando se estranhavam , um ou outro "sumia". Como relatou um auxi liar direto ela presidente: "Mito não telefona. Ele nunca telefonou, mas ele sumia. E ela, quando achava que ele estava dando declarações demais à imprensa, ou se julgava estar no caminho certo e queria preserva r-se ele ingerências externas, fa zia o mesmo."
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\Tidt :d d:t.\':tllljl:lltlt :l <il' l)tl111:t 1\lltl ~~d l vs Ltloc: tll z:tdo ·111 tl ttt cc ttlrto l'tottt ·rci;tl d · 13ras íli ;t.
N:1 ·ttl r: 1d:1. v· 'ltl-s · ·:1rl:1/. ·s ei ·eriattças cot tl C: ltlti s ·las vc rt11clhas, a sc rigrafia de 1 1111 ~1 fo to cl:t ca11clidata quando mi litava conlr<l a ditadura c um ctt orm c painel com a i 111agem dela, sorridente, ao lado ele Lu la. No mezanino, fica a sa la eleGiles Azevedo, ex-chefe de gabinete ela presidente no Planalto, hoje um dos coordenadores ela campanha.
Há vinte anos, ele é a sombra ele Oilma Rousseff, que o chama carinhosamente ele "Gil eLes"- como se ele fosse duas pessoas. Se há no mundo alguém em quem ela confie, é ele. Em uma tarde ele julho- quando ainda não havia Mari na Silva no páreo-, Azevedo comentava as dificuldades da chefe: "As pessoas não querem resolver problema, querem carinho, atenção. Ela quer resolver, não quer gastar tempo com firul a." Segundo ele, a praticidade e a cl iscrição ela presidente eram uma novidade no cargo. "Ela trabalha para dentro. Não quer holofote, quer resultado, isso é uma coisa diferente na política brasileira."
Para ele, é um grande equívoco afirmar que Dilma não sabe fa zer política. "Baixar os juros do sistema financeiro mexendo com lucros ele banqueiros, desafiar interesses econômicos nos contratos ele energia elétrica, criar a Com issão da Verdade, isso é não fa zer política?", indagou. "Ela fez isso sozinha."
O celular tocou. Passaram-lhe o resultado ele uma pesquisa recen te, mas ele não quis comentar os números. Com voz mansa , pôs-se a listar as conquistas do governo: o Minha Casa Minha Viela havia construído 2 milhões ele morad ias; o Brasil Carinhoso retirara 8,7 milhões ele pessoas ela m iséria; das dez ma iores hidrelétricas elo mundo, três seriam cons-
truíclas no Brasil; o Pronatec ofereceu cursos técnicos a 8 milhões ele estudantes. "Na crise, o mundo perdeu 60 milhões ele empregos, e o Bras il gan hou 11 milhões. Como que alguém pode dizer que esse governo fracassou? "
Naqueles dias, a dicotomia entre o Ipiranga e o Planalto era explícita. Os mais próximos ela presidente se incomodavam com o fato de Lula despontar como um gên io da lâmpada, sempre com uma frase ele efeito, uma solução mágica, um conselho incrível, ainda que o JYI' amargasse derrotas fragorosas em dois dos principais estados brasileiros: Linclberg Farias, no Rio, e Alexandre Pacl ilha, em São Paulo. A eterna comparação entre ela e Lula também a incomodava. Ela sorria amarelo quando ele falava em público sobre "o criador e a criatura" ou quando explicitava que o governo era "meu e ela Dilma", ratificando ataques ele advers<ír ios. Ela também percebia que o "Volta, Lula" aparecia sempre nos momentos em que u governo estava frag il izaclo, quase comu um corretivo a sua gestão. E quem está :1
seu lado repara que Dilma se refere a Lula como "presiden te" e o trata ele "se.• nhor", enquanto ele, a despeito elo cargn qtl c cl:1 oc11p:1, sc111pr · s ·r ·fcr · :'1 Jll t".l clc111c co 1110 "Di111 1i 11ha" c "você". I0: 1tl t• os dois, a rclaçJo nunca foi ele jX1rid:1tl1 Qua ndo o pres idente da Vcncwcl:l , N1 col<is Maduro, visitou o Brasil, 110 :1111• passado, engatou numa conversa att itll ,l ela com Lula. Deixa ram Dilma, ; I pt <"ot dente, esperando por quarenta mi111tl• "·
Mas era fato que, depoi s el e qlt. l'•l quatro anos ele mandato, ela aind:1 jll <' cisava un_1bilicalmente ele Lula par:1 '" eleger. "E difícil suceder o Lula. O t'.t risma, o processo ele transferência, é ttll l peso muito grande", afirmou G iles /\ ,,,. vedo. Segundo ele, qualquer canclicl :tl tl elo partido es tar ia na mesma situa c;;: 11 1 A relação ele ambos, ele disse, para ap l:1 car qualquer boato de desentendime11l o, era excelente. "lVIas ela pensa, né? "
O prejuízo de se ter an tecipado :1 campan ha eleitoral logo ficou visí vel. O governo passou a ser avali ;l
elo com lupa, cada ação ele Dilma fic011 sob suspeição ele ser eleitoreira. Quando o preço elo tomate chegou a lO reai s o quilo- um aumento ele 80% em menos ele um ano-, a opinião pública gri tou: :1 inflação está mordendo a dona ele cas::J .
No Congresso, a relação com o Executivo também ia ma l. Nos primeiros doi s anos, Dilma havia feito algo se mover no pântano elo fisiologismo brasiliense. "Acabou a conversinha mole, tangenciacla , uma coisa querendo dizer outra, segundas intenções. Com ela , não tem", comentou um ministro elo PMDB, durante um jantar em Brasília. Um ex-ministro paulista também me disse: "Ela é honesta, não pensa em dinheiro e não tem filho para fazer negócio. Isso já cria uma barreira para as conversas esquisitas."
Press ionada por Lula, ela ced ia nas alianças, mas até a última hora tentav::J uma carta diferente. Foi o caso ela ida ele
Renan Calheiros pa ra a presidência do Congresso Nac ional. Ainda que o PT tivesse combinado, por escrito, o revezamento com o outro partido, quando a posse se ap rox imou, ela insinuou que Calheiros dcsishsse elo ca rgo ern troca elo apoio incondicional el o governo para elegê-lo gov ·rnador ele Alagoas . Ele agradeceu. "l•:la ia com o m il ho e eles voltavam com a pipoca. F ia não entendia o quão mais fundo era o buraco", comentou uma x-aux iliar da presidente.
O est ilo D il ma tinha um preço. Uma coisa era ser faxi neira quando estava por cima, outra era manter a pose sendo bombardeada de todos os lados. "Deputado dá troco. É um horror, mas é fa to", comentou um parlamentar ela base aliada, em Brasília. A retal iação vinha elo próprio quinta l. Numa ocasião, o então presidente ela Câmara, o petista Marco Maia , queria indicar um afilhado político para o Banco elo Brasil. Dil ma não o atendeu. Em represália, ele abandonou uma sessão no meio para atrapalhar a votação.
No Congresso, Dilma perdeu em várias votações relevantes para o governo. Com uma articulação política frágil , sem vocação para fazer o jogo da arraia-miúda, ela ficou à mercê elo fisiologismo. " o segundo e terceiro anos de governo, como estava sem anteparo, ela se expôs muito", comentou o deputado Paulo Teixeira, elo PT ele São Paulo, em seu gabinete na Câmara, em agosto. Um elos exemplos ocor-
reu durante a votação da Lei elos Portos, quando o deputado Eduardo C unha, líder do PMDB na Câmara, emparedou o governo. "A presidente ficou em simetria com um deputado. Isso não pode. Na Fazenda, a mesma coisa. Ela foi virando o alvo direto elas críticas por não ter esse mu ro ele defesa", comentou. Ao longo do tempo, o pragmatismo ganhou. Dilma liberou o aumento elos ministérios para acomodar aliados, ministros fax inaclos indica ram sucessores, e ela trocou um ministro por causa ele um minuto a mais no programa eleitoral na tevê. A imagem ele fax ineira ficara para trás.
Vieram as manifestações ele junho de 2013. Começaram contra o aumento elas passagens ele ônibus, mas logo
ganharam dimensão nacional e se transformaram em revolta contra os gastos com a Copa, a precariedade dos serviços públ icos, a venali clacle da política bras il eira. Em vinte di as, a aprovação elo governo Dil ma despencou el e 57% para 30%. O grito ele independência não tinha ma is eco. No meio da crise, foi ela quem pegou um avião para São Paulo para se encontrar com Lula. O poste precisava de luz.
Foi quando Lula sugeriu a sa ída de C uido Mantega. Mais uma vez, ela se fez ele surda. "A maior força de Mantega durante todo o governo foi ter sido vulnerável. Poucos naquele ca rgo permitiram ta manha ingerência elo presidente daRe-
pública", comentou um ex-integrante ela equipe econôm ica. Para ela, demiti-lo signi ficava perder o poder irrestrito ele mandar na economia. Nessa época, Lula comentou com um grupo no lpiranga: "Ela não va i mudar." E viajou para uma longa série ele compromissos na Áfri ca. Mais uma vez, ela entendeu o recado.
Paradoxalmente, depois de junho, teve início o período mais profícuo elo governo Dilma. Em poucos dias, os protestos fi zeram o Congresso aprovar projetos contra a corrupção, governos recuaram no reajuste elo transporte público e o Judiciário mandou para a cadeia um político acusado ele corrupção - o deputado Natan Donaclon, do PMDB ele Roraima. O Planal to emplacou o Mais Médicos e consegui u aprovar no Congresso a le i para destinar à educação o di nheiro elos royalties do petróleo.
As mani fes tações também provocaram uma reação inéd ita na presiden te: ela mudou de icleia. Quando não apareceu nenhum interessado no leilão pela concessão ele um trecho ela rodovia BR-
262, que liga o Espírito Santo a Minas Gerais, ela fl ex ibili zou as regras elo jogo e só aí as negociações deslancharam . Ao mesmo tempo, Dilma passou a se encontrar com os movimentos sociais, lideranças indígenas, representantes el e igrejas evangélicas. Reuniu-se até com o presidente ela Central Única elas Favelas, o Preto Zezé. Recebeu parlamenta res,
ministros, empres<írios. Também fi cou assídua no Twitter, em sintonia direta com os eleitores. "Ali , deu uma rev igorada em todo mundo. As coisas anelavam, aconteciam", disse-me um ministro do governo, no final de setembro.
Na imprensa, ela era atacada sem dó: as obras para a Copa não ficariam prontas, os protestos paralisari am o país, a im agem do Brasil no exterior se ria abalada -em suma, o desastre era iminente. Dois meses depois elas manifestações de junho, o governo era aprovado por 44% da população. A presidente tinha coisas a resolver e se trancou no Planalto novamente. Em pouco tempo, a rotina voltou ao normal: reuniões infind áveis, encontros secretos, broncas. A geren tona estava ele volta.
A reforma min isteri al, no início el e 2014, produziu o pri meiro homem forte do governo : Aloiz io Merca
clante, alçado para a Casa C ivil depois que Gleisi Hoffmann se clesincompatibilizou para concorrer ao governo elo Pa raná. Ao longo elo manda to, os interlocutores ele Dilma eram ldeli , Gleis i, G iles Azevedo, Fernando Pimentel e José Eduardo Carclozo, ministro ela Jus tiça. Quando substituiu Fernando Haddad na Educação, Mercadante fo i galgando espaço no grupo.
Ainda ministro da Educação, passou a acompanhar a presidente nas viagens
I
internacionai s, mesmo que o assunto não di ssesse respeito à sua pasta. Aproveitava os longos voos para palpitar sobre o governo em geral. Di z-se dele se r "o maior especialista no ministério dos outros". A demissão ele Antonio Patriota, do Min istério das Relações Exteriores, foi gestacla en tre os fi os do hirsuto bigode. l'":1 011 ~ , . , 11 .1 :., . ,ll' '''" í.nJ!.,, ,.,,,, 11 ,,. ~ í,.,, .:, .i :Jiil l' IH H'<Ill !lld< 'lil ilil·:l '!JII .i ll ' lll l',! ll l' .' :l 11 11' ~: 1 p:11 :1 _. ,. snd :ll' I'L'I' In dv l)i iiJI :I.
(0: le dL·s: dmlcl l<lll !lOS olliOS d:1 (ll'l'Sl dente dura11l <.: as r ·volt·as d<.: j111d H>. N:1s reuniões no Alvorada para debater as providênc ias diante da crise, Mercadantc ti nha sempre uma opinião aguerrida, era assertivo, não titubeava- o que, para Di lma, é uma virtude. Entregava resultados num governo que tinha pouco a mostrar e teve importante papel na elaboração do Mais Médicos e elo Pronatec - duas vitrines do governo. Logo, mais urn apelido foi cunhado nos corredores elo Planalto. Mercaclante se tornara "O Príncipe".
Quadro históri co elo PT, ele sempre teve uma relação conturbada com Lula
PAAA OND~ ~5TNJ \..~VANDO ~55~5T~MA5
IMP~RTIN~NT~5 ?
para nada", ressaltou sua inabilidade política e a dificuldade de tocar o governo.
~VO\..TA PAAA O AAMAAlO!
Dois elos presentes relataram o ocorrido a um conhecido empresário brasileiro elo ramo do comércio exterior. "Se ela depender dele para se eleger, coitada dela", comentou um deles, segundo o empresário contou, em seu escritório, em São Paulo. A declaração na Itália foi apenas uma das várias feitas por Lula em reun iões fechaelas. Recentemente, a um grupo ele executivos ele um grande banco ele investimentos, com sede na avenida Faria Lima, na capital paulista, a cena se repetiu.
e a ala paulista do partido. É considerado vaidoso, arrogante, megalômano. No governo Lula, jamais teve um ministério. Mas, na ausência de nomes de peso do partido - José Dirceu, José Genoino, Antonio Palocci - , era ele a melh or opção case ira para auxili a r a presiden te. Quando se tornou um dos
~ ~ - _ L - - ~ -- - ~ - ·~ .... ,..1 ....,. ..... . .... C ... ...... ~ .... ~ -< 1., (lttl l(' tl;, !I lt'l ('ttl .l/',\' 111 .j, . t'JJilt ' IJI ,I l.1 , S\'11 (l!IS. <' .i tl llllll l,
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E m maio deste ano, as pesquisas apontavam para a perspec tiva el e haver segundo turno nas eleições
pres idenciais. A reação elo governo veio a reboque: aumentou o valor elo Bolsa Família e anunciou a correção na tabela do Imposto ele Renda.
Dilma teve de lidar com as críticas e adversidades. Na abertura ela Copa, fora vaiada e insultada em coro pela torcida presente ao ltaquerão. Sua popularidade despencara e o padrinho a deixara soz inha. "Ela não passa recibo, não deixa a emoção tomar conta", disse um ministro do governo. É mesmo uma búlgara. Na lapela, nos bordados, no crepe, nos botões trabalhados, nas cores, nos modos, no palada r, mas, sobrei lido, na maneira de externar emoções. "t:: como se da hv<.:ss<.: uma missão. Você não vai vê-la se lamentando por aí. É uma causa, é uma missão", observou. Nem quando fala do assunto que lhe é mais doloroso - a tortura- ela o fa z em tom ele lamúria. O relato, r~se rvaclo a poucos, é contado com detalhes es tarrececlores. Um elos episódios mais degradan tes envolveu um rato vivo.
Fora dos campos, a Copa el o Mundo transcorreu melhor elo que se esperava . infraestrutura, segurança , telecomunicações, tratamento aos turistas, às seleções e aos chefes ele Estado - em geral, não houve problemas. Os poucos foram acobertados pela simpatia ela hospitalidade.
Logo depois do campeonato, o governo convocou uma entrevista coletiva com a presença de todos os ministros para falar do sucesso elo evento. Mas já no dia seguinte Rui Falcão di sse ~ imprensa que era hora ele "reeleger Dilma e trazer Lula de volta em 2018". A presidente mal tivera tempo ele colher os louros quando a luz do poste a ofuscou novamente. "Aquela fala era uma maneira ele dar um hori zonte à militância para a continuidade elo projeto", di sse-me Falcão, dias depois.
Um pouco antes ela Copa, o ex-presidente Lula es tev~ em M ilão para visitar a sede ela Pirell i. A noi te, num jantar privado, fez uma breve explanação sobre o Bras il e a América Latina. Ali , para os cerca ele vinte convidados, clesancou a sucessora. Disse que ela não o "consulta
O escle março ele 2011, uma auditoria interna da Petrobras investigava a venda da refinaria de Pasaclena, nos
Estados Unidos. O negócio custou 1,18 bilhão à Petrobras, quase 27 vezes mais do que o valor pelo qual a empresa americana havia sido vendida em 2005. Como presidente do Conselho de Administração ela estatal, Dilma foi uma elas pessoas que aprovou a transação. Quando engrossa ram as suspeitas sobre o negócio, em março deste ano, Graça Fostcr preparou uma nota, limitando-se a dizer que o assunto era objeto de sindicância interna.
Dilma rechaçou a explicação e consi clerou a nota "ingênua". Sentada em s<.: ll gabinete, batucou no computador, du rante horas, outra resposta , sob o olhar dt• quatro assessores, entre eles o advogado geral ela Un ião, Luis Inácio Adams. "!•. para sa ir assim", ordenou. Em nenh1 1111 momento ela consultou Lula ou o PT. Nu nova versão, ela indicava que a COilllll .l
hav ia se baseado em "documentação l.1 lha" e " informações incompletas".
A nota caiu -como un{a .bon~ba ;,, nêutron. Baseada nela, a oposição pl'd11 1 a abertura ele uma Comissão Paria '' "'" tar ele Inquérito a fim ele apurar as dl' núncias . Na opinião el e um renom:1d 11 advogado que trabalha para as emprcil <'l ras envolvidas, Di lma "trouxe o assu1 Jl, 1 para o centro elo pa lco". A interl ocutorl'.,, Lula propalava que ela hav ia dado "1111 1 tiro no pé" ao jogar dúvidas sobre o Clll basamento técnico e jurídico para :1 compra ela refinaria. O assunto, apos l:1 vam os petistas, teri a morriclo por si s" com a vaga explicação ela Petrobras.
Pouco depois, o Tr ibun al ele Conl ~ 1.' el a União entendeu que os membros elo conselho- incluindo Dilma, o empresário Jorge Gerclau e Fábio Barbos:1, pres idente elo Grupo Abri l - nada tinh am a ver com o assunto. Os suspeitos a serem julgados seriam ex-diretores cl;1 Pe trobras, entre eles Paulo Robertu Cos ta - um dos presos na Operação Lava a Jato, ela Polícia Federal , que apurava as denúncias - e o ex-pres iden te cL1 empresa, José Sérgio Gabrielli . Ambos dem itidos por Di lma dois anos antes.
Segundo a rev ista Veja, em troca da redução el a pena e proteção à família. Costa teri a revelado, num acordo ele delação premiada , que hav ia repassad o dinheiro ela corrupção para políticos como os ex-governadores Sérgio Cabra I (PMDB) e Edua rdo Campos (PSB), a go-
vern;~dora peemedebista Roseana Sa rney c seus colegas de partido Renan Calheiros e Edison Lobão, ministro das M inas e Energia.
Em uma noite de setembro, encontreime com um advogado de um dos réus da Operação Lava a Jato, em um bar do Leblon, no Rio. Preocupado com a repercussão da delação premiada, ele corroborou o que já havia dito o réu : "Se ele falar, não tem eleição." Comentou que Cos ta "era um ser ún ico na política bras ileira" - pela primeira vez, um operador atuava nas duas frentes: na arrecadação de recursos de campanha e na distribuição para políticos. " a época do PC Farias, ele só arrecadava , não sabia para quem ia o quê. Esse Paulinho sabe tudo", afirmou .
O caso ganhava contornos a inda mais preocupan tes porque, por causa da nova Lei Anticorrupção- sancionada por Dilma Rousseff - , atualmente são os con troladores das empresas que respondem pelos crimes, não mais um diretor ou um secretári o. "Você imagina o que é ter o dÓno de uma empreiteira rea lmente correndo o ri sco de ir pa ra a cadeia?", observou o advogado.
O que moveu Dilma ainda é controverso. Havia a informação de que o relator do caso no TCU, o ministro José Jorge, ampliaria as investigações para o governo. "O que ela fez foi se defender, com razão. O que ela acha que é defesa própria, o PT
chamou de 'falta de solidari edade"', disseme um ministro palaciano. O curto-ci rcuito era da luz, não do poste.
D a janela da sala d<l pr ·s icl ·111 · d:1 Petrobras, Ma ri a das C raças ]•'os
ter, tem-se uma visão magnífica da Baía de Guanabara. Em uma manhã de julho, sentada de cos tas para o cenário, ela fa lava sobre a chefe e am iga D il ma Rousseff. As duas se conheceram em reuniões de traba lho na Petrobras há dezo ito anos. Quando va i a Bras ília, Graça é uma das poucas a ser convidada a pernoitar no Alvorada. Lá, passam a noite conversando, ouvindo música e lendo.
Encontram o-nos quase do is meses antes do acordo de delação premiada fe ito por Paulo Roberto da Costa . Comentei que gostaria de ouvir uma "voz amiga" da presidente, pois me surpreendia como seus assessores e interlocutores mais próximos reservavam a Dilm a cr íticas tão élc idas c comcnt;-ír ios tfío fe rinos." ]~ injusto colll la, 11 111 ilo inj1 1sto", di sse l•'os ler logo 110 co 111 ·r;o d:~ conversa. " I~ isso <ICO II I · · · porq1 1' ·l:1 ~ j11 sta e paga um preço alio por isso", ava liou.
No final de se tembro, com 111 ais uma queda brusca das ações, a Pctrobras l1avia deixado de ser a maior emprc a bras i I eira e perdera 144 bilhões de rea is de va lor de mercado desde o in ício do governo de D ilma Rousseff. Perguntei o que ela pensava ;~o o11vir que a presidente hav ia "acabado co111 :1 Petrobras e destruído o se tor clélri ('o". "Conheço essa empresa como a p:d111 :1 d:1 111 inha mão, não tem isso", di s~v . <'lll :lli ;.:llldo a nega tiva com um 111 0\'illl l' lilll d:1 ·abeça. "Como uma em-
piau 111\llilllll
prcs<l q1 1 · i11 vcs tc 100 bilhões de rea is por ano, I'CIII 70 bi lhões em ca ixa e produz 500 n1i l b:11-r is de petróleo por dia , só no pré-s;d, 1 ocl ·estar mal?", perguntou.
C h • ' <I III OS a Pasadena . Relatei a ela o qu · h ;~v ia ouvido de ci nco pessoas ligadas ciO 1''1', com palav ras a mais ou a menos, 111 as sempre com o mesmo sentido: ;1 pr sidente hav ia ex·pos to o esqucnw q11 • ela sabia ter financiado sua ca mp<lllha c a de vá rios companheiros el o P'l' c de p<1rtidos aliados . Sem hes itar, G raça respondeu, grave: "Não se i nada disso el o que você es tá fa lando."
Ulll copeiro trouxe café. Ela retomou o rac iocínio. Acredita que Dilma é vítima da própria honestidade. "Ela é justa, honesta, mui to justa e honesta. Esse é o ponto fu ndamental de tudo", di sse. Era ele se imaginar que ela ficasse doída com as críti cas inclementes. "Não é fác il para ninguém. Olha, eu vou até parar de falar porque eu já chorei aqu i hoje. Mas, pode ficar tranquila, não foi por causa da Petrobras", disse, sorrindo.
A trágica morte ele Eduardo Campos varreu como um fu racão o cenário ele itoral. A par tir ele então, tudo o
que se especulava ficou velho. Em Brasília , passou-se a ouvir a expressão : "Ah, isso é tão 12 de agosto!", em referência à véspera do desastre. O PT havia se preparado para repetir o mote "Nós con tra eles", no embate com o PSDB. Quando Marina Silva se tornou uma ameaça real, o partido não sabia o que fa zer. De novo o "Voll a, I .1da" surgi11 fo1t · dentro do n.
Naqueles dias, um influente empresário, com negócios no Sudeste e a rdeste, foi recebido para jantar na casa ela famíli a Lu la em São Bernardo do Campo. Como era domingo, ped iram pi zza pelo telefone e se reuniram em volta da mesa. O assunto logo resvalou para o governo. Ele, que estava decepcionado com o PT,
externou sua opinião. Foi a deixa para Ma risa desancar D ilma mais uma vez : ingrata, falsa e traidora foram alguns elos adjetivos que empregou. Os filhos ele Lula corroborava m a opinião el a mãe. O ex-presidente permaneceu calado.
Ali , o empresá rio teve uma epifani a. Percebeu que, por ma is forte que fosse o "Volta, Lula", o ex-pres idente jamais teri a coragem el e se apresentar como cand idato. Nem para sa lva r a eleição ele 2014, j<í que ele já ti nha em vista 2018. O preço ele deixa r de se r um mito e desembarcar na viel a real, num cenário el e in certeza ag uda , era pesado demais. Logo que Marina se lançou candidata , as pesquisas encomendadas pelos partielos não davam grande va ntagem a Lula sobre sua ex-ministra, quando confrontados na mesma cédula.
Com o alerta vermelho na campanha ele Dilma, Lula passou a viajar pelo país fazendo comícios e acompanhando a candidata em eventos. Quatro ministros se licenciaram elos cargos para cuidar da ar ticulação política. A 32 dias do primeiro turno, um grupo se reun iu na suíte elo hotel Uni que, em São Paulo, onde Dilma
estava hospedada . Lula deu a ordem de comando : "Va i ser o segundo tu rno mais longo da história. Ele tem que começar agora", disse. Isso sign ificava atacar Ma rina com todas as armas, para que ela chegasse ao segundo turno fragilizacla.
A part ir daí o tom da propaganda eleitora l engrossou: Mar ina foi comparada a Jânio Quadros e Fernando Collor de Mello. Em outro spot, di zia-se que, com a autonom ia que ela pretende dar ao Banco Central, a comida va i sum ir elo prato das famíli as, em benefício dos banqueiros, ca rac teri zados na propaganda como vi lões. No jargão publicitário, a ordem era "clescons lruir" l'vlarina: explorar suas incongruências, dubiedades, fragil idades, o túnel desconhecido que se ria seu governo. A es tratégia surtiu efe ito. Em três semanas, D il ma abriu quin ze pontos de va ntagem sobre Ma rina , mas aind a não tinh a o suficien te pa ra vencer no primeiro turno.
A poucos dias elas eleições, o Brasil havia saído elo Mapa Mundial da Fome das Nações Un idas . Pela pri
meira vez em cinco anos, registrava-se retração da economia, que havia entrado em recessão técn ica. Ao contrário do que pregava o governo, o país crescia menos do que seus pares na América Latina. A inflação recuava a passos lentos. lndagada se far ia mudanças na equipe ministerial caso reeleita, Dilma respondeu de bate-pronto "Ano novo, equipe nova", incorporando a s u repertório a expressão "novo, nova", bordão ela adversá ria Ma rina e sua "nova política". O recado tinha alvo: Ma ntega esta ri a fora no próximo governo. Ele soube ela notícia pela internet. "Ela só não esclareceu se também vai mudar. Se va i deixa r ele ministrar para começar a presidir", disse um secretário do governo com status de m inistro.
No final ele setembro, durante um café da manhã no Rio, um importante dirigente do PT comentava o enredo elei toral. "Ninguém ia imaginar a morte elo Eduardo Campos, a cri se econômica mundial, o sentimento que ia surgir das man ifestações de junho. Mas todo mundo sabia da inabi lidade ela D il ma, da ojeriza pela polít ica, desse temperamento", resumiu.
A reeleição ele Di lma ganhara fôlego. De nada adiantara mos trar as obras, os programas, as falas de Lula. A vantagem só foi recuperada quando o PT pegou em armas e passou a atacar sem piedade a adversá ri a. As difi culdades do governo, segundo meu interl ocutor, nunca foram ele macroeconom ia, mas de estilo. "Arrogâ ncia", ele d isse. Argumentei que, se eleita, ela poderia fa zer um governo mais 1 ivre, sem se preocupar com Lula ou com o JYr, já que provavelmente seria seu último cargo político na viela. Ele ba lançou a cabeça e deu um sorrisinho. Antes de se retirar, arriscou o porvir: "O fato é que, se ela ganhar, fo i o PT que aj udou. E aí, no dia 1 o de jane iro, o governo passa a funcionar no lpiranga. Se perder, ela va i levar essa culpa para sempre. Infeli zmente, isso é a políti ca." O
Texto de Flávio Cafiero Direção de Zé Henrique de Paula
Com Fúlvio Stefanini, Roney Focchini, Chris Couto e atriz convidado Karin Rodrigues
Sox e Sob 6s 21 h30 o Dom 6s 19h I TUCA
Texto lngmar Bergman Direçõo de Ulysses Cruz
Com Gabrielo Duarte, Ne lson Boskerville, Marcos Suchara e Lucas Lentini
Sex21h30, Sob 21h00 e Dom 19h30 J TUCARENA Estréia dia 18 de Outubro.
Espetáculo de improvisação teatral. Cio Borbixos de Humor.
Com Anderson Bizzocchi , Daniel Nascimento, Elídio Sonno e convidados.
Qui, 6s 21 h30 i TUCA
Texto de Le Plat du Jour - Adoptoçõo livre do Livro Peter Pon e Wendy, de J.M. Borríe Direção de Pedro Pires
Cynthio Folobell o, Antonielo Conto, Alexandra Golik e Corlo Condiotto
Sob o Dom 6s 16h00 J TUCARENA