a adivinha do rei

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A adivinha do Rei A adivinha do Rei Autora - Alice Vieira in: “Histórias Tradicionais Portuguesas” - Editorial Caminho Era uma vez um Rei, bom, justo e leal, mas tinha um grande defeito: era muito desconfiado! Um dia, um dos seus criados veio dizer-lhe que um Conselheiro seu cantou tal cantiga: “Para subir na vida eu tudo farei: com este punhal dou cabo de El-Rei. Rei morto Rei posto, sempre ouvi dizer! Sento-me no trono e Rei hei-de ser!” O Rei ficou furioso e mandou chamar o Conselheiro à sua presença, mas este desmentiu tal intriga. O Rei, desconfiado que era, não acreditou no seu fiel Conselheiro. O castigo por dizer tal coisa seria a sua morte. Mas, como o rei era bondoso, deu-lhe uma oportunidade. Para se salvar da morte, o Rei propôs uma adivinha à filha do Conselheiro, que era muito elogiada no reino. Se ela acertasse, o seu pai seria perdoado. O Rei pediu-lhe que ela fosse ao Palácio Real... mas que não viesse nem de noite nem de dia, nem vestida nem despida, nem calçada nem descalça, nem a pé nem a cavalo. Ao chegar a casa muito aflito, o Conselheiro contou à filha o socedido. Ao ouvi tal desafio, a filha soltou uma gargalhada. De madrugada, a filha do Conselheiro bateu à porta do Palácio Real, pedindo que a levassem à presença do El-Rei. Os guardas bem tentaram impedi-la, no entanto, a azafam era tanta que o Rei acordou, e, para seu espanto, alí estava, à sua frente, a filha do Conselheiro de uma maneira que ninguém nunca entrara no Palácio. Como ela era muito inteligente, não lhe foi nada difícil desvendar o mistério da adivinha. Alí estava ela: À hora do lusco-fusco (nem de noite nem de dia); Coberta com uma rede (nem vestida nem despida); Com umas meias nos pés (nem calçada nem descalça); Montada no seu fiel creado (nem a pé nem a cavalo).

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Page 1: A adivinha do Rei

A adivinha do ReiA adivinha do Rei

Autora - Alice Vieira in: “Histórias Tradicionais Portuguesas” - Editorial Caminho

Era uma vez um Rei, bom, justo e leal, mas tinha um grande defeito: era muito desconfiado!

Um dia, um dos seus criados veio dizer-lhe que um Conselheiro seu cantou tal cantiga:

“Para subir na vida eu tudo farei:com este punhal dou cabo de El-Rei.

Rei morto Rei posto, sempre ouvi dizer!Sento-me no trono e Rei hei-de ser!”

O Rei ficou furioso e mandou chamar o Conselheiro à sua presença, mas este desmentiu tal intriga.

O Rei, desconfiado que era, não acreditou no seu fiel Conselheiro. O castigo por dizer tal coisa seria a sua morte.

Mas, como o rei era bondoso, deu-lhe uma oportunidade. Para se salvar da morte, o Rei propôs uma adivinha à filha do Conselheiro, que era muito elogiada no reino. Se ela acertasse, o seu pai seria perdoado.

O Rei pediu-lhe que ela fosse ao Palácio Real... mas que não viesse nem de noite nem de dia, nem vestida nem despida, nem calçada nem descalça, nem a pé nem a cavalo.

Ao chegar a casa muito aflito, o Conselheiro contou à filha o socedido. Ao ouvi tal desafio, a filha soltou uma gargalhada.

De madrugada, a filha do Conselheiro bateu à porta do Palácio Real, pedindo que a levassem à presença do El-Rei. Os guardas bem tentaram impedi-la, no entanto, a azafam era tanta que o Rei acordou, e, para seu espanto, alí estava, à sua frente, a filha do Conselheiro de uma maneira que ninguém nunca entrara no Palácio.

Como ela era muito inteligente, não lhe foi nada difícil desvendar o mistério da adivinha. Alí estava ela:

À hora do lusco-fusco (nem de noite nem de dia);

Coberta com uma rede (nem vestida nem despida);

Com umas meias nos pés (nem calçada nem descalça);

Montada no seu fiel creado (nem a pé nem a cavalo).

Dizem que, de imediacto, o Rei se apaixonou por ela!

Depois mandou chamar o Conselheiro à sua presença e, perante toda a corte, pediu-lhe perdão.

Page 2: A adivinha do Rei

A partir desse momento o Rei prometeu que nunca mais ia ser desconfiado.

Consta-se que viveram felizes para sempre...