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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa Universidade Federal da Paraíba 15 a 18 de agosto de 2017 ISSN 2236-1855 4903 “ALUNMAS HOJE, MESTRAS AMANHÔ: EXPECTATIVAS DE ATUAÇÃO DAS NORMALISTAS DA ESCOLA NORMAL DA PARAHYBA (1918) Maria Lúcia da Silva Nunes 1 Débia Suênia da Silva Sousa 2 Charliton José dos Santos Machado 3 Considerações à tessitura do texto As reflexões que ora se apresentam nascem de um projeto de pesquisa em desenvolvimento que busca textos produzidos por mulheres paraibanas, em geral, professoras, publicados em jornais e/ou revistas em circulação na Paraíba na primeira metade do século XX, para em seguida proceder-se análises com vistas a identificar as concepções e ideias em torno da educação, de questões pertinentes às mulheres, e sua articulação ao contexto em que se inserem. Neste texto, especificamente, o objetivo é discutir a concepção de educação veiculada nos discursos de normalistas e do paraninfo da turma por ocasião da festa de colação de grau da Escola Normal da Paraíba, em 31 de março de 1918; bem como identificar qual era a expectativa da sociedade em relação à atuação das futuras professoras, considerando, portanto, que as normalistas e o paraninfo, como mulheres e homem daquele contexto representam em seus discursos as ideias e concepções da sociedade paraibana. Assim, toma-se como fonte principal os discursos feitos pelas normalistas, durante a festa; uma delas, Noemia Ribeiro de Andrade, ocupando o lugar de oradora da turma e a outra, América de Gouveia Monteiro, escolhida pela sua trajetória exitosa durante o curso, para fazer uma conferência sobre o ensino e a missão das futuras professoras; e o discurso proferido pelo paraninfo da turma, professor Ascendino Cunha, textos publicados, respectivamente, nos dias 02 e 03 de abril de 1918, no jornal A União, órgão da imprensa oficial do estado da Paraíba. Complementarmente, são utilizadas, também, notas, notícias e 1 Doutora em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, professora Associado II do Departamento de Metodologia da Educação, do Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba, Campus I. E-Mail: <[email protected]>. 2 Mestre em Educação pela Universidade Federal da Paraíba, professora Adjunto I do Centro de Formação de Professores da Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Cajazeiras. E-Mail: <[email protected]>. 3 Doutor em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte; professor Associado III do Departamento de Metodologia da Educação, do Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba, Campus I. E-Mail: <[email protected]>.

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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 4903

“ALUNMAS HOJE, MESTRAS AMANHÔ: EXPECTATIVAS DE ATUAÇÃO DAS NORMALISTAS DA ESCOLA NORMAL DA PARAHYBA (1918)

Maria Lúcia da Silva Nunes1 Débia Suênia da Silva Sousa2

Charliton José dos Santos Machado3

Considerações à tessitura do texto

As reflexões que ora se apresentam nascem de um projeto de pesquisa em

desenvolvimento que busca textos produzidos por mulheres paraibanas, em geral,

professoras, publicados em jornais e/ou revistas em circulação na Paraíba na primeira

metade do século XX, para em seguida proceder-se análises com vistas a identificar as

concepções e ideias em torno da educação, de questões pertinentes às mulheres, e sua

articulação ao contexto em que se inserem. Neste texto, especificamente, o objetivo é discutir

a concepção de educação veiculada nos discursos de normalistas e do paraninfo da turma por

ocasião da festa de colação de grau da Escola Normal da Paraíba, em 31 de março de 1918;

bem como identificar qual era a expectativa da sociedade em relação à atuação das futuras

professoras, considerando, portanto, que as normalistas e o paraninfo, como mulheres e

homem daquele contexto representam em seus discursos as ideias e concepções da sociedade

paraibana.

Assim, toma-se como fonte principal os discursos feitos pelas normalistas, durante a

festa; uma delas, Noemia Ribeiro de Andrade, ocupando o lugar de oradora da turma e a

outra, América de Gouveia Monteiro, escolhida pela sua trajetória exitosa durante o curso,

para fazer uma conferência sobre o ensino e a missão das futuras professoras; e o discurso

proferido pelo paraninfo da turma, professor Ascendino Cunha, textos publicados,

respectivamente, nos dias 02 e 03 de abril de 1918, no jornal A União, órgão da imprensa

oficial do estado da Paraíba. Complementarmente, são utilizadas, também, notas, notícias e

1 Doutora em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, professora Associado II do Departamento de Metodologia da Educação, do Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba, Campus I. E-Mail: <[email protected]>.

2 Mestre em Educação pela Universidade Federal da Paraíba, professora Adjunto I do Centro de Formação de Professores da Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Cajazeiras. E-Mail: <[email protected]>.

3 Doutor em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte; professor Associado III do Departamento de Metodologia da Educação, do Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba, Campus I. E-Mail: <[email protected]>.

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reportagens veiculadas no jornal referido, em datas posteriores e anteriores à colação de

grau, e aspectos da legislação referente à formação na Escola Normal.

Embora não se trate de imprensa educacional, o jornal A União tem exercido um

relevante papel na formação da sociedade paraibana. O seu caráter oficial não o impediu de

ser o condutor de assuntos proeminentes em cada temporalidade histórica, mesmo que o teor

das notícias e matérias divulgadas assuma uma feição própria conforme o governo de cada

época. Órgão da imprensa oficial do estado da Paraíba, A União foi fundado no dia 2 de

fevereiro de 1893 pelo presidente da província, Álvaro Machado. Com circulação diária, é o

único que permanece em funcionamento até os dias atuais.

A orientação teórico-metodológica que conduz a leitura das fontes vem da Nova

História Cultural que favoreceu não apenas a entrada de novos sujeitos sob o olhar histórico,

mas estimulou novas abordagens e tratamentos diversos para fontes tradicionalmente

usadas, e/ou instigou o surgimento de novas fontes, isto é, qualquer vestígio das experiências

de homens e mulheres pode ser alçado à condição de documento. Tendo como perspectiva a

escrita da história adotou-se como procedimento de tratamento das fontes a Análise de

Conteúdo (AC) sobre discursos que pautam elementos da formação e do exercício da

profissão docente, oriundos da Escola Normal da Paraíba, em 1918

Parafraseando Bardin (2011), a análise de conteúdo consiste no uso metodológico de

uma série de instrumentos, em estado de aprimoramento, possível de aplicar a discursos

diversos e de origens variadas. A estudiosa aponta para uma aproximação entre análise de

conteúdo e análise documental, quando aquela lança mão de técnicas e procedimentos para

analisar documentos visando condensar informações para armazenamento e consultas. A AC

tem sido bastante profícua tanto na pesquisa quantitativa, em que tradicionalmente e mais

frequentemente foi utilizada, como também na pesquisa qualitativa. Nas Ciências Sociais

apresenta-se como uma ferramenta metodológica útil para interpretar as percepções dos

atores sociais (CÂMARA, 2013) em discursos diversos e nos mais diferentes suportes. Assim,

notícias de jornais, relatórios, cartas, fotografias, entrevistas, relatos autobiográficos,

discursos políticos, entre outros (SILVA; FOSSÁ, 2013), têm sido alvo dos procedimentos da

AC, objetivando compreender e interpretar seus significados expressos e latentes, sem perder

de vista que cada texto dispõe de uma multiplicidade de sentidos.

Sem ferir o rigor metodológico, neste texto os procedimentos da AC são utilizados de

forma adaptada, uma vez que se adota as três fases procedimentais básicas com alterações:

1ª – pré –análise - consiste na “leitura flutuante”, ou seja o primeiro contato com as

fontes, a seleção, a elaboração de hipóteses e objetivos que nortearão a leitura e interpretação

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dos documentos escolhidos. Nesta fase, Bardin (2011) sugere os critérios da exaustividade –

esgotar a totalidade da comunicação; da representatividade – os documentos selecionados

devem representar, como amostra, o universo pesquisado; da homogeneidade – os dados

devem referir-se ao mesmo tema/assunto; e da pertinência – os documentos devem ser

relacionados ao objetivo da pesquisa.

Neste sentido, sendo realistas com a análise desenvolvida para este texto, considera-se

que os critérios da homogeneidade e da pertinência foram seguidos plenamente; por sua vez

os critérios da exaustividade e da representatividade foram em parte desenvolvidos.

Primeiro, porque não se concebe que uma análise esgote a totalidade de uma comunicação,

de um discurso, das potencialidades de um texto; segundo porque não se adota a perspectiva

de amostragem. Todavia, avalia-se que a as fontes dão conta de uma representação sobre a

educação, naquele contexto em que foram produzidas, dizendo não apenas como as

normalistas e futuras professoras se viam, mas também indiciando as expectativas da

sociedade paraibana com relação à atuação daquelas jovens que estavam saindo tituladas de

uma instituição escolar por décadas considerada uma das mais importantes.

Nesta primeira fase, os documentos foram selecionados a partir de um interesse que

vem se concretizando em pesquisas e produções de textos que se voltam para entender a

educação da mulher paraibana no século XX, suas práticas de escrita e leitura, sua

participação na imprensa, suas ideias sobre direitos femininos. A educação é o pano de fundo

desses estudos; assim interessa compreender o que as mulheres pensavam sobre, como

concebiam as práticas educativas, como avaliavam a ação da educação na sociedade e como

entendiam o seu próprio papel, mulheres instruídas, dentro de uma sociedade em que poucas

pessoas, ainda, tinham acesso à educação. Os textos estão disponíveis em arquivos públicos

como o Arquivo Histórico do Espaço Cultural José Lins do Rego e o Instituto Histórico e

Geográfico da Paraíba, mas também disponíveis digitalizados em acervos dos pesquisadores,

ora autores.

Documentos selecionados:

I - Escola Normal – Jornal A União, página 1 – 1º, 2º e 4º quadrantes, ano XXVI – nº

74, publicado no dia 02/04/1918, corresponde a quatro páginas e meia digitadas em espaço

simples, contendo o discurso do paraninfo e da oradora da turma. Intitulado Escola Normal,

com o subtítulo: Entrega solene pelo Exmo Sr. Presidente do Estado de diplomas a nove

professoras; há uma exposição inicial das autoridades presentes à solenidade, com a

indicação de hora, local e a sequência de falas. Primeiro abre a sessão o Diretor da Instrução

Pública e da Escola Normal, Eduardo Pinto, que improvisa um breve discurso no qual

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apresenta a finalidade daquela solenidade e aproveita para enaltecer as ações do Presidente

do estado, Camilo de Holanda, que passa a presidir a sessão, fazendo a entrega dos diplomas

às formandas, felicitando-as. Em seguida, o paraninfo da turma, o Professor Ascendino

Cunha, faz o seu discurso em que problematiza qual o é o ideal da educação, lamentando o

rompimento do ideal de educação antigo que preparava o homem para o Estado e para Deus.

Exemplifica com o homem angustiado produzido no Fausto de Goethe4, cita o jurista Pedro

Lessa5 e o filósofo inglês Herbert Spencer. Terminado o discurso do paraninfo, é a vez da

oradora da turma, Noemia Ribeiro de Andrade que inicia sua fala referindo-se ao advogado,

orador e professor pernambucano Aprígio Guimarães, e destaca a espinhosa e nobre missão

que deverão desempenhar em prol da pátria. Finda a transcrição dos dois discursos, o texto é

encerrado com o anúncio do discurso de América de Gouveia Monteiro, que será publicado

no dia seguinte, por falta de espaço na mesma edição. Encerra-se o texto, fazendo referência

à leitura da ata pelo secretário da Escola Normal, o Sr. José Eugênio Lins de Albuquerque e

assinatura, pelo presidente do Estado, pelo diretor da escola, por professores, pelas

formandas, pelo Padre Manuel Moraes, representando o Arcebispo Metropolitano, pelo Dr.

Antônio Massa, 1º vice presidente do Estado, pelos representantes da imprensa, e por

“pessoas gradas e distintas famílias de nossa sociedade”. A solenidade foi concluída com a

apresentação da banda de música da Força Policial, e o jornal A União esteve representado

por Sebastião Vianna.

II - Em louvor da Escola – jornal A União, página 1 – 2º e 3º quadrantes, ano XXVI –

nº 75, publicado no dia 03/-4/1918, corresponde a aproximadamente 3 páginas digitadas em

espaço simples, ocorrendo em algumas passagens espaço maior, quando há citação de

poemas. A oradora faz um discurso em que enaltece o amor à pátria, o valor da instrução, a

necessidade da escola e o papel das futuras mestras. Para isto lança mão de versos de Henri

Delassus6, fragmentos do poema Infinito do céu, de Alphonse Lamartine7 e do poema O

caçador de esmeraldas, de Olavo Bilac8.

4 Fausto, poema trágico, considerado a obra prima do poeta alemão Goethe. Fausto simboliza a “decadência do espírito humano que se deixa seduzir pelo mal. Fausto possui todas as ciências do mundo, mas revela-se insatisfeito com o conhecimento que já tem. Goethe reproduz em seus versos todo o ambiente universitário, científico e pseudocientífico da Alemanha do século XVIII. Disponível em < https://felipepimenta.com/2014/08/03/resenha-fausto-i-e-ii-de-goethe/> Acesso em 28 de março de 2017.

5 Pedro Augusto Carneiro Lessa (1859-1921) Jurista brasileiro, exerceu cargos políticos e foi professor da Faculdade de Direito de São Paulo. Ganhou reconhecimento na área jurídica como intérprete da Constituição Brasileira, contribuindo para a construção da teoria do habeas corpus .Informações extraídas de < http://www.stf.jus.br/portal/ministro/verMinistro.asp?periodo=stf&id=113> Acesso em 28 de março de 2017.

6 Henri Delassus (1836-1921), padre e escritor contra-revolucionário, acreditou e denunciou que um projeto de destruição do catolicismo era a base da dominação mundial, contra o qual se opôs, sendo considerado antiglobalização. Publicou Americanismo e a conspiração anti-cristã.

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A primeira leitura do texto indicou o objetivo do estudo, citado inicialmente, e orientou

para a formulação das proposições (hipóteses): a educação concebida naquele período, pelas

normalistas e a sociedade paraibana em geral apontava para o desenvolvimento da tríade:

físico, moral e intelectual; e a expectativa da sociedade (representada pelas próprias

formandas) em relação à atuação das futuras mestras é que estas assumissem sua “vocação”

alegremente, embora fosse uma missão ao mesmo tempo árdua e espinhosa, nobre e sagrada,

contribuindo para o desenvolvimento de seus alunos, como sujeitos propulsores do progresso

e responsáveis pelo futuro da pátria. Essas formulações apontaram para duas categorias

inicias: concepção de educação e expectativa de atuação das futuras mestras, que passaram a

nortear as releituras das fontes.

2ª – exploração do material, que consiste no desenvolvimento de procedimentos como

codificação, classificação e categorização. A leitura minuciosa, atenta e repetida possibilita a

ratificação ou não da(s) hipótese(s) formulada(s) na fase anterior, põe em evidência temas,

palavras, conceitos, categorias (as anteriores e outras que vão surgindo à medida que a leitura

se aprofunda). Nesta fase, também foram feitas adaptações procedimentais, visto que não

interessa quantificar o aparecimento e a frequência de um ou outro termo, nem ampliar as

categorias a serem analisadas. Também é importante destacar que as categorias selecionadas

estão claramente interligadas semanticamente e em termos de funcionamento numa

conjuntura: a educacional.

Para dar maior visibilidade a esse procedimento de organização das categorias e

facilitar a etapa seguinte que é o tratamento das fontes, organizou-se em quadros cada

categoria e como a mesma está explicitada em cada um dos textos. Para isto, alterna-se a

paráfrase com a transcrição literal dos textos, para facilitar a compreensão e ocupar menos

espaço.

7Alphonse Marie Louis de Prat de Lamartine (1790 - 1869), escritor, poeta e político francês. Considera-se que seus primeiros livros de poemas: Primeiras Meditações Poéticas (1820) e Novas Meditações Poéticas, (1823), tornaram-no célebre e influenciaram o Romantismo na França e em todo o mundo

8 Olavo Bilac (1865-1918), poeta brasileiro que compõe com Alberto de Oliveira e Raimundo Correia a trindade parnasiana. Considerado e criticado por boa parte da crítica literária como o pregoeiro do serviço militar obrigatório. Preso e confinado em Minas, em 1892, sob a ditadura de Floriano Peixoto. “Da experiência de Minas nasce o Bilac didático: ao lado dos motivos das bandeiras das cidades mortas, da história pátria transpostos para a poesia, a constante paideia positiva e negativa com relação a um país que não tem livros de texto (e aqui os úteis livros de leitura para as escolas, em prosa elegante, destinados a suplantar os velhos e horríveis manuais), que não tem escolas (e aqui a idéia discutível o quanto se queira, de que o serviço militar obrigatório possa suprir as necessidades)”. Desta “safra patriótica” saiu, por exemplo, O caçador de esmeraldas (1902), no qual um tom épico relata os sete anos do bandeirante Fernão Dias Paes Leme, que marcha heroicamente pelos sertões de Minas Gerais, morrendo de febre, com as mãos apertando as supostas esmeraldas que nada mais eram que turmalinas. Mas sua glória viria por abrir os sertões brasileiros para a civilização branca. (Cf. PICCHIO, 1997)

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QUADRO 1 – CATEGORIA CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO

TEXTO CONCEPÇÃO

Discurso do paraninfo – Ascendino Cunha

Na antiguidade: educava-se o homem para o Estado e para Deus; Tempos modernos: educar para a felicidade = aperfeiçoamento das faculdades superiores Ideal de educação = verdades fundamentais da civilização cristã = a caridade + a justiça + desenvolvimento dos compromissos morais e cívicos “Combate às paixões, ao egoísmo, à avidez do domínio e do gozo, aos preconceitos (sic) sinistros da inveja e do orgulho” 9 Educação no sentido técnico objetiva: “robustecer o corpo e aperfeiçoar o espírito, servir à pátria e ao próximo combatendo todos os males que flagelam as sociedades e impedem a felicidade comum”.

Discurso da oradora – Noemia Ribeiro

“Educar! Missão esta a mais difícil de quantas se ligam aos interesses sociais de uma nação”. Educação = desenvolvimento físico (pela ginástica), moral (pelos conselhos) e intelectual (pela instrução)

Conferência - América Monteiro

Educação = instrução = chave da harmonia universal Educação = instrução = casta flor do espírito, ornamento da alma, pérolas de luz, germes fecundos Educação = lapidação da alma

Fonte: Dados da pesquisa no jornal A União, 1918.

QUADRO 2 – CATEGORIA EXPECTATIVA DE ATUAÇÃO DAS FUTURAS MESTRAS

Texto Concepção

Discurso do paraninfo – Ascendino Cunha

Ser caridosa, amparar o semelhante na ignorância, na dor e na miséria; Ser justa = reconhecer e respeitar o direito, o mérito e as virtudes do semelhante, mesmo que este seja adversário, inimigo ou competidor. “Preparar a formação de um novo Brasil consciente, forte e senhor dos seus destinos, curado radicalmente dessa anarquia mental, política e administrativa que nos avilta e desmoraliza.”

Discurso da oradora – Noemia Ribeiro

“espinhosa missão” Ensinar o amor à natureza, à história dos antepassados, o culto aos heróis “... empenhar o mais precioso das energias de toda a nossa vida nessa benfazeja e humana cruzada do ensino...” “amainar a alma embrionária e terna desses futuros responsáveis pelos destinos da pátria amada...” “... não desanimaremos jamais no ingente esforço que se exige para a consociação destes três princípios (desenvolvimento físico + moral + intelectual) fundamentais reclamados para preencher as condições de uma educação perfeita”. Seguir o exemplo dos mestres: “... a memória dos mestres que ficam nos guiará na senda escabrosa, o seu verdadeiro exemplo nos fortalecerá”. “Confiança no vigor da nossa mocidade, no ardor de nossa coragem, na força de nossas convicções”. Alcançar êxito da “decidida ação pela nobilitante causa da adorada pátria brasileira e da querida terra paraibana”.

Conferência- América Monteiro

Ser como o escultor que transforma a pedra, como o oleiro que transforma o barro, como o mineiro que desce ao seio da terra para encontrar as pedras preciosas Transformar os alunos = míseros, infelizes, coitados, em seres nobres, instruídos, educados, dignos Cumprir o dever, a sublime função de mestre e artista, germinando sabedoria, “luz” e virtude para a gente pobre e humilde “que suspira pela escola, pela verdade” Uma missão superior

Fonte: Dados da pesquisa no jornal A União, 1918.

9 Quando se faz uso de citações literais das fontes, optou-se pela atualização da ortografia.

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Os quadros acima não significam que o conteúdo das fontes foi exaustivamente

condensado, mas apenas o que parece mais significativo foi destacado para ter visibilidade e

facilitar a interpretação, que na AC consiste, na 3ª fase, no tratamento das fontes.

Leitura e interpretação das fontes: discursos grandiloquentes para uma missão superior

O tratamento das fontes é o momento em que se faz a leitura interpretativa da

documentação que se elegeu para analisar, procurando desvendar não apenas o seu conteúdo

explícito, mas também o latente, o que está nas entrelinhas, o que não foi dito claramente,

porém se deixou em pistas por palavras, por referências, por indícios. Aproveita-se uma

palavra, ou uso que dela se faz, uma associação, um conjunto de palavras, uma indicação de

leitura, uma intertextualidade para se fazer inferências. Mas este não já é mesmo o trabalho

do historiador, que em sua lida com as fontes, faz-lhe perguntas, revira-as procurando os

sentidos ocultos, agarra-se a um indício para procurar novos elementos que lhe possibilitem

formular conclusões? Amparados nessa orientação é que a leitura interpretativa das fontes -

os discursos das formandas e do paraninfo - permite fazer as considerações de análise do

conteúdo em torno da concepção de educação e das expectativas de atuação das futuras

mestras.

Numa ocasião solene, para a qual concorreram as autoridades políticas, religiosas e

intelectuais da Parahyba do Norte10, o Presidente do Estado entrega os diplomas a nove

senhoritas que concluíam o curso normal, após terem prestado o exame de capacidade

profissional, sendo elas: Áurea Carneiro de Mesquita, Noêmia Ribeiro de Andrade, Ecila Lins

Pessoa Baptista, Anália Lyra, Laura Vidal, Palmira Pires Xavier, América de Gouveia

Monteiro, Olinda Francisca do Valle e Anatilde Ribeiro de Moraes. Os discursos em tom

rebuscado, apoiados em citações de intelectuais brasileiros e estrangeiros contribuem para a

pompa da ocasião

Ao observar-se não apenas os sobrenomes das autoridades presentes, das formandas, a

representação das instâncias sociais – estado, educação, igreja e imprensa – é possível avaliar

a importância desse acontecimento para a sociedade paraibana da época. Primeiro, no

sobrenome identifica-se a elite local: os Carneiros, os Ribeiro, os Lins, os Pessoa, os Vidal, os

Pires Xavier, os Monteiro, os do Valle, os Cunha, os Holanda. Não há um desses nomes que

não se possa associar ainda hoje na Paraíba a políticos e pessoas que ocupa(ra)m cargos de

destaque nas gestões de órgãos públicos, se destacaram na Medicina ou no Direito, por

10 Nessa época, o nome ainda era redigido assim.

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exemplo. Se por um lado isto significa que a Escola Normal era bastante prestigiada pela alta

sociedade; por outro significa que ainda era frequentada principalmente pela camada mais

poderosa da sociedade. Ou seja, as moças que acessavam a Escola Normal naquele momento

não dependiam dessa formação para sobreviver, muito embora boa parte delas fosse exercer

a profissão logo em seguida. Por esse tempo e nas décadas seguintes, as escolas normais do

país já eram frequentadas por moças das camadas menos favorecidas que buscavam com a

formação nessa instituição conseguir uma ascensão social e também condições de

subsistência. Essa representação da elite paraibana em uma turma de normalistas pode ser

característica apenas dessa turma. Sabe-se também que a erudição possibilitada pela

formação em escola normal dava um quê a mais de valorização a uma moça casadoira ou a

condição de sobreviver sem depender de um casamento. Uma turma só de mulheres!

Exemplo de feminização do magistério que já se instalara nesse ofício, consequência de lutas

das mulheres por espaços de ocupação profissional.

Entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX, as mulheres passaram a ser consideradas como as únicas capazes de socializar as crianças no reduto escolar, devido às correntes de pensamento que permeavam o contexto da época, nas quais eram discutidas diferenças ditas como “naturais” entre os sexos, conferindo à mulher, por oposição ao homem atributos como: bondade, doçura e paciência, além do jeito “natural” para lidar com as crianças. (NUNES, 2011, p. 143)

Com essa concepção, o magistério primário passou a ser encarado como profissão

adequada ao feminino. E como consequência, o sentido de docência associou-se à idéia de

vocação, sacerdócio, doação, sacrifício, cuidado, caridade e amor incondicional pelo ofício.

Segundo Almeida (2006), a profissionalização feminina pelo magistério primário não

feria a “missão” da mulher aos moldes do século XIX.

O exercício do magistério representava um prolongamento das funções maternas e instruir e educar crianças era considerado não somente aceitável para as mulheres, como era também a profissão ideal em vista destas possuírem moral ilibada, sendo pacientes, bondosas e indulgentes para lidar com os alunos. A Escola Normal iria, paulatinamente, suprir uma necessidade e um desejo femininos. [...] Mesmo assim, a concepção implícita na freqüência das escolas normais pelas mulheres e na educação feminina, de um modo geral, continuava atrelada aos princípios veiculados de esta educação ser necessária não para seu aperfeiçoamento ou satisfação, mas para ser a esposa agradável e a mãe dedicada (ALMEIDA, 2006, p.82).

Os discursos pronunciados por ocasião da entrega dos diplomas fazem referência a essa

postura altruísta e abnegada das futuras mestras quando reforçam a ideia de missão

“espinhosa”, “superior”, “Ser caridosa”, “... empenhar o mais precioso das energias de toda a

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nossa vida nessa benfazeja e humana cruzada do ensino...”, “... fizerem da caridade e da

justiça o ideal para que foram educados”.11

Ao observar o quadro que se refere à concepção de educação, percebe-se que há uma

semelhança no modo de pensar essa prática que pode ser resumida em algumas palavras que

aparecem no discurso do paraninfo e/ou das formandas. Educação é representada pela

tríade: desenvolvimento físico (pela ginástica), moral (pelos conselhos) e intelectual (pela

instrução), fortemente amparada por fundamentos cristãos como a caridade e a justiça,

literalmente presentes no discurso do paraninfo, sendo ratificados nas falas das normalistas,

que se colocam dispostas a servir a “gente pobre e humilde” que suspira pelo saber. Nas

palavras de Ascendino Cunha mais fortemente se percebe a questão da religião católica como

necessária à formação. Há um lamento do orador em relação à separação entre Igreja

Católica e Estado, como se isto representasse uma perda para o ideal de educação, que assim

permanece indefinido: “Não se educa mais para o estado nem também para Deus; - para que

então?” Há menos de três décadas, a Constituição Brasileira de 1891, não sem ambiguidades

(CURY, 2001, apud CUNHA, 2010), separava o Estado da Igreja Católica, e definia ser

leigo/laico o ensino ministrado nas escolas públicas.Todavia essa separação nunca se realizou

completamente12. Sobre essa questão, Cunha (2010, p. 195) afirma:

A despeito da escassa base social, a laicidade foi, assim, erigida em política do Estado Republicano, como ideologia de uma elite intelectual de orientação européia, liberal-maçônica. Entretanto, as classes dominantes, as classes médias e as classes populares continuaram religiosas, principalmente católicas, praticando diferentes graus de sincretismo, especialmente estas últimas.

Sobre o discurso do paraninfo, o jornal A Imprensa13, da Igreja Católica, tece

comentários elogiosos a partir do título notícia:

Pelo ensino - Um belo discurso – Princípios de um educador No passado domingo, 2 deste mês, na Escola Normal, por ocasião da solenidade em que foram conferidos diplomas à turma de professoras deste ano, o sr. dr. Ascendino Cunha, paraninfo da festa e catedrático docente

11 Destaque-se que o paraninfo, embora se dirigindo a uma turma composta apenas de mulheres, usa sempre o gênero masculino.

12 Em pleno século XXI encontra-se em escolas públicas imagens de santos católicos, “altares” para os santos de preferência e a prática de rituais religiosos como as orações para iniciar o dia, por exemplo.

13 O jornal A Imprensa foi fundado em 27 de maio de 1897 por Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, primeiro bispo do Estado da Paraíba; o primeiro redator chefe foi o padre José Tomás. Editado em formato reduzido, o jornal tinha como objetivo transmitir a ideologia católica através de pregações. Posteriormente, o padre Carlos Coelho, que era um religioso com ideias consideradas avançadas para a época, assumiu o cargo de editor chefe, o que trouxe inovações para o jornal. A sua posição incomodou a tal ponto que o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), na ditadura getulista, censurou A Imprensa. O jornal reabriu por volta do ano de 1946, com a redemocratização do país. No entanto, por questões financeiras, mas também pressões políticas internas e externas, fechou definitivamente na última semana de dezembro de 1967.

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daquele estabelecimento publico de educação, proferiu um belo discurso, onde encontramos formosos princípios relativos à moral no ensino.(Parahyba, A Imprensa, 07/04/1918, – ano XV– nº 34 p. 1).

Essa relação igreja/estado terá continuidade nas escolas pela presença de padres e

outros funcionários da igreja como professores, diretores e outras ocupações de destaque.

A próxima turma concluinte da Escola Normal se formará sobre a direção do Cônego

João Batista Milanez, conforme noticia o jornal A União em 07/01/1919:

Em data de 2 do fluente, foi pelo exmo. sr. dr. Presidente do Estado nomeado Diretor da Escola Normal o nosso caríssimo diretor rvmo. cônego João Baptista Milanez. À gentileza de s. excia., insistindo e reiterando o convite, quis o cônego Milanez corresponder aceitando o pesado ônus que lhe confiou o chefe do governo. Conhecendo de sobejo as invulgares qualidades de administrador que, mercê de Deus, reúne a pessoa do nomeado, o dr. Camillo de Hollanda chamou-o a dirigir aquele importante estabelecimento, certo de que irá ter um auxiliar devotado e trabalhador. O cônego Milanez, experimentado já em cargos idênticos, se esforçará, estamos certos, por se colocar na altura do encargo, esperando para isso o concurso eficaz dos corpos docente e discente da Escola Normal. Jubilosos, deixamos neste pálido registro, os nossos votos de felicidades a s. rvma. no árduo desempenho de suas novas funções.

E as normalistas continuariam sendo preparadas sob as bênçãos do catolicismo.

A concepção de educação defendida pelas formandas e pelo professor homenageado

compreende uma prática social que tem como finalidade instruir o indivíduo para que ele

atue em prol do desenvolvimento da pátria, o que se faz incutindo-lhe o amor a terra, o

respeito às tradições e à história dos antepassados, o culto aos heróis, sob as graças do

cristianismo, principalmente da igreja católica, que define como valores cristãos superiores a

caridade e a prática da justiça. Educação ministrada através de atividades que trabalhassem a

tríade: físico, moral e intelectual; só assim seria possível o alcançar o ideal de felicidade

assegurado pelo desenvolvimento das “faculdades superiores”

A respeito da categoria Expectativa de atuação das futuras mestras, o que se infere

desde o início dos discursos é que as formandas/futuras mestras, bem como o professor

paraninfo atribuem à docência uma responsabilidade enorme e uma importância no trabalho

a ser desenvolvido que se equipara às atividades mais difíceis, mais trabalhosas, ligadas aos

interesses sociais; que exigem maior dedicação, coragem, criatividade e esforços de ordens

diversas. Os campos semânticos que descrevem a atividade a ser empreendida pelas futuras

mestras contêm palavras como: missão, missão espinhosa, ação nobilitante, trabalho de

artista, função sublime, oleiro, escultor, “caçador de esmeraldas”, lapidador de almas,

amainador de almas embrionárias, semeador do bem e da virtude. Assim, a profissão a ser

exercida pelas futuras mestras tem para as mesmas um valor extraordinário, uma

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importância grandiosa para o bom progresso da pátria, um caráter de “iluminação” para o

indivíduo a quem essa ação se dirige: o aluno. Essa caracterização que nos três textos busca

apoio de intelectuais diversos: teólogos, juristas, poetas, políticos, concorre para a criação de

um sentido glorioso ao trabalho docente. Tal constatação remete à discussão de Araújo (2011)

quando reflete sobre docência e profissão e recorre a Encyclopedie ou Dictionnaire raisonné

des sciences, des arts e des métiers, por une Societé de Gens de letters - sob a direção de

Diderot e D´Alambert que veio a público entre 1752 e 1772, que caracteriza três categorias de

profissões:

As profissões gloriosas que produzem mais ou menos o apreço de distinção, e que todas tendem a procurar o bem público, são a religião, as armas, a justiça, a política, a administração de rendimentos do estado, o comércio, as Letras, e as belas – Artes. As profissões honestas são aquelas do cultivo das terras, e das ocupações que são mais ou menos úteis. Há em todos os países profissões baixas ou desonestas, porém necessárias na sociedades; tais são aquelas dos carrascos, dos porteiros, dos açougueiros [...] (Apud ARAÚJO, 2011, p 23).

Como profissão voltada ao bem público e que usufrui de apreço de distinção, ser

professor(a) faz parte das profissões gloriosas, afirmação de Araújo, aqui ratificada.

Essa grandiosidade atribuída à profissão que exerceriam depois de formadas vem

sendo alimentada por uma cultura escolar marcada por rituais, símbolos, conhecimentos,

objetos e lugares que estimulam e reforçam diferenciações entre alunas e alunos da Escola

Normal e as demais pessoas que frequentavam outras escolas ou não frequentavam escola.

Ao identificar-se a localização da escola normal nas cidades em que essa instituição

existiu, percebe-se que o edifício, seja adaptado ou próprio, sempre ocupou espaço

importante na cidade.

No caso da cidade da Parahyba do Norte, segundo Cardoso e Kulesza (s/d)14: “A escola

desloca-se de acordo com as configurações do espaço urbano; movimenta-se no sentido de

melhor adequar-se ao espaço, obedecendo às relações sociais que simbolicamente a

carregam”.

Em 1918, a Escola Normal da Paraíba ocupava a antiga residência presidencial e antigo

Palacete da Instrução Pública, depois Biblioteca Pública, enquanto sua sede própria estava

sendo construída e seria inaugurada em 1919, prédio que a Escola Normal ocupou até 1939, e

onde hoje funciona o Tribunal de Justiça do Estado. Segundo Cardoso e Kulesza (s/d), “O

novo edifício da Escola Normal vinha a atender as aspirações a as exigências postas pela

14 Disponível em <http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe3/Documentos/Coord/Eixo4/490.pdf> Acesso 02/04/2017.

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crescente urbanização. Havia chegado o momento da escola adaptar-se a um modelo que

privilegiava condições técnicas, pedagógicas e estéticas postas pela modernidade”.

O jornal A União noticia a inauguração do novo prédio que abrigaria a Escola Normal.

Conforme estava anunciado, realizou-se, domingo ultimo, a inauguração do novo edifício, mandado construir pelo governo do Estado, para a Escola Normal desta capital, distribuindo-se na mesma ocasião os diplomas de professores aos alunos-mestres, que concluíram o curso, o ano passado. Foi uma bela festa, a que se associaram os mundos oficial e eclesiástico desta cidade, não faltando o elemento culto da Paraíba. [...] É-nos grato também congratularmo-nos com o exmo. sr. presidente do Estado pelo grande melhoramento, que acaba de introduzir em nossa terra comum, qual é o novo palácio da Escola Normal, assim como os educandos paraibanos, que têm agora um basto prédio, moderno e higiênico [...] (A UNIÃO, ano XVI , nº 32, 03/04/1919).

Para uma missão tão importante a exercer, o discurso que antecede e antever a prática

futura serve para uma demonstração de cultura de ambos os lados: mestre e formandas

recorrem à história da educação, à literatura, à religião, ao direito, para exibirem sua

condição letrada própria e adequada a quem vai tirar a “gente pobre e humilde da ignorância.

Nesse sentido, pode-se dizer que há uma ordem crescente nos discursos proferidos.

O primeiro a falar é o paraninfo em cujo discurso o teor principal é a lamentação pela

quebra (pelo menos legalmente) da união entre Igreja e Estado para definir os rumos da

educação, o que se esperar da educação, qual o ideal. Fica clara uma intencionalidade

moralizante na orientação das futuras professoras, que devem se guiar pelo ideal católico de

educação, no qual o trabalho moral de fortalecimento do espírito deve guiar as demais

atividades. Faz isto, usando de uma cultura universal sobre o assunto que envolve

conhecimento sobre as civilizações, de maneira geral, e sobre a história da educação ao longo

dos períodos históricos. Demonstra naturalidade ao citar autores e obras, parafraseando,

como quem conhece de cor.

A oradora da turma faz um discurso rápido e mais simples em termos de estrutura

argumentativa, mas destaca a concepção de educação que deve nortear o trabalho futuro,

bem como o espírito patriótico e tradicional de cultivo às coisas da terra e culto aos heróis.

Não deixa de assinalar que a espinhosa missão a que se destinam foi assumida

espontaneamente, mas todo o esforço é válido para atender os interesses da nação. Assim, o

“ardor da mocidade”, “a firmeza das convicções”, “a confiança nas conquistas do futuro” e “a

memória dos mestres” serão a base para o desenvolvimento desta missão.

O discurso de maior poder de convencimento pela estrutura argumentativa, pela

intertextualidade ousada, é o da normalista escolhida pelo seu desempenho distinto nos anos

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em que esteve na Escola Normal. Se estivesse se formando no ano posterior, certamente teria

recebido o prêmio Epitácio Pessoa, instituído pelo Decreto nº 941, de 23 de maio de 1918,

que seria concedido ao aluno da Escola Normal distinto “pela inteligência, aplicação e

comportamento, dentre os que com ele frequentarem o curso” (A UNIÃO, ano XXVI, nº 113,

24/05/1018).

Dentre as justificativas para a instituição do prêmio, apontou-se:

Considerando que é dever dos governos estimular o amor às letras, às ciências e às artes, de modo a favorecer o desenvolvimento da intelectualidade; Considerando que tais prêmios devem ao mesmo tempo revestir o caráter de uma homenagem aos homens de notório serviço à Pátria e particularmente à causa do ensino, cujos esforços em bem do saber servirão de incentivo e de modelo aos premiados [...]

Tal iniciativa agregou um valor a mais para a cultura escolar da Escola Normal que a

colocava em lugar de destaque entre as instituições educativas paraibanas daquelas primeiras

décadas do século XX. O prêmio era uma medalha de ouro presa a uma fita de seda com as

cores nacionais, de um lado escrito o nome Presidente Epitácio Pessoa circulando a efígie

deste e o ano da turma que se tratar, na outra face, a divisa da Escola.

Ainda destacando a eloquência do discurso da aluna escolhida por mérito, a

demonstração de erudição aparece desde o início, quando a mesma introduz versos em

francês de Padre Henri Delassus que enfatizam o amor à pátria, em seguida cita, também em

francês, versos do poema Infinito céu do poeta francês Alphonse de Lamartine, que enaltece a

beleza do céu à noite e a pequenez do ser humano ante essa criação divina.

O uso de citações em francês aponta para uma condição de domínio de línguas

estrangeiras que atribui erudição a quem o possui, e o francês, à época, juntamente com

vários elementos da cultura francesa, eram bem vistos e apropriados no Brasil, como

sinônimo não apenas de cultura, mas também de elegância.

Para finalizar o tom grandiloquente do seu discurso, essa oradora traz para seu texto

estrofes do poema O Caçador de esmeraldas, de Olavo Bilac, aproveitando para fazer um

paralelo entre o trabalho do mestre e o do célebre bandeirante paulista Fernão Dias Paes

Leme, que se embrenhou pelos sertões do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.

Além de ter exercido funções políticas em São Paulo, ganhou notoriedade quando desbravou

por sete anos os sertões de Minas Gerais em busca de esmeraldas, façanha que lhe custou a

própria vida.

Não é à toa essa comparação: os campos e montanhas dos sertões representam a

escola; o mestre é o desbravador, o caçador de esmeraldas que é capaz de dar sua própria

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vida em prol do êxito de sua missão, e o aluno seria a pedra preciosa bruta e virgem,

incrustada nas montanhas, que o saber do mestre faria surgir brilhante. Em suma: as

formandas tinham uma nobre missão/dever a cumprir: a sublime função de mestre e artista,

germinando sabedoria, “luz” e virtude para a gente pobre e humilde “que suspira pela escola,

pela verdade”.

América Monteiro não recebeu o prêmio Epitácio Pessoa, certamente, porque o mesmo

ainda não fora criado, mas no mesmo mês em que se formou foi nomeada para reger a

cadeira mista de Souza, pelo o que indica a fonte, criada para ela, conforme anuncia o mesmo

jornal A União:

Atos oficiais O exmo. sr. dr. Camillo de Hollanda, presidente do Estado, assinou os seguintes atos oficiais: Decretos: [..] Suprimindo a cadeira mista do povoado de São José, comarca de Souza, e criando uma rudimentar. Dividindo as cadeiras de economia e prendas domesticas (3.° e 4.° anos) e de trabalhos manuais da escola Normal. Criando uma cadeira mista em Souza. Portarias: [...] Nomeando dona America Monteiro, para reger, efetivamente, a cadeira mista de Souza. (A UNIÃO, Ano XXVI, nº. 83, 12 de abril de 1918).

Tal ação governamental pode indicar como as professoras formadas em Escola Normal

eras esperadas e desejadas pela sociedade que via a possibilidade de mais escolas para seus

filhos e de mais professoras com formação adequada para exercer a profissão, em

conformidade com a educação desejada no período.

Considerações Finais

A leitura das fontes permite afirmar que a concepção de educação presente nos textos

compreende uma prática social que tem como finalidade instruir o indivíduo para que ele

atue em prol do desenvolvimento da pátria, o que se faz incutindo-lhe o amor a terra, o

respeito às tradições e à história dos antepassados, e o culto aos heróis. Educação ministrada

através de atividades que desenvolvessem a tríade: físico, moral e intelectual. Das futuras

professoras, esperava-se que atuassem como missionárias alegres que tinham em suas mãos

uma tarefa difícil e espinhosa, porém nobre e sagrada. Ou como artista/artesã que toma a

alma da criança tal como o oleiro toma o barro, ou como o escultor toma a pedra para

transformá-la na mais perfeita escultura. Ou ainda como o bandeirante desbravador dos

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sertões que abre o caminho para a entrada da civilização nos mais distantes rincões, nem que

para isto tenha que doar a própria vida. Pode-se identificar no discurso das normalistas e da

sociedade da época uma concepção de docência que transita desde os antigos mestres

religiosos, cujo perfil apontava para uma missão extraordinária, vocacionada e definida pela

doação, até uma visão de educadora como salvadora da pátria e dos indivíduos, não mais de

suas almas, mas de seus intelectos, de sua formação para atuar na sociedade como sujeitos

propulsores do progresso.

Referências

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Sites

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ISSN 2236-1855 4918

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Fontes Impressas

PARAHYBA. A União, Ano XXVI, nº 74, 02/04/2018, p.1. PARAHYBA. A União, Ano XXVI, nº 75, 03/04/2018, p.1. PARAHYBA. A União, Ano XXVI, nº 83, 12/04/2018, p.3. PARAHYBA. A União, Ano XXVI, nº 113, 24/05/2018, p.3. PARAHYBA. A Imprensa, Ano XVI, nº 20, 07/01/1919, p.1. PARAHYBA. A Imprensa, Ano XVI, nº 32, 03/04/1919, p.1. PARAHYBA.A Imprensa, Ano XV, nº 34, 07/04/1918, p. 1.