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INCLUSÃO DIGITAL NA TERCEIRA IDADE Elisa Sergi Gordilho Loreto Professor Doutor Marco Silva Programa de Pós Graduação e Educação da Universidade Estácio de Sá. RESUMO Em nosso tempo, presenciamos a cibercultura e o ciberespaço fomentados pelas mudanças tecnológicas na informação e na comunicação onde computadores, tablets, celulares e outros aparelhos digitais conectados à internet sustentam esses ambientes e se tornaram fundamentais nas diversas esferas da sociedade. Em conseqüência dessa novo ambiente, a inclusão digital se torna uma preocupação imediata. Assim, o objetivo deste trabalho é analisar a formação oferecida pelos cursos de informática para terceira idade com vistas a promover a inclusão digital dos cursistas, investigando quais as abordagens utilizadas na construção dos usos do computador e da internet e também de outras tecnologias digitais; os procedimentos metodológicos adotados pelos professores; a formação dos professores dos cursos; como se caracteriza a atuação dos cursistas no uso das tecnologias e as concepções de inclusão digital dos professores e cursistas. Palavras-chave: Inclusão digital – terceira idade – cibercultura e ciberespaço. As sociedades do século XXI estão marcadas pelas diversas mídias que oferecem informações e oportunidades de comunicação acessíveis em todo o mundo. No Brasil, o tema “sociedade da informação” ganhou sentido de política pública com o documento Sociedade da Informação no Brasil – Livro Verde – a partir do ano 2000. O documento foi desenvolvido sob a chancela do Ministério da

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INCLUSÃO DIGITAL NA TERCEIRA IDADE

Elisa Sergi Gordilho LoretoProfessor Doutor Marco Silva

Programa de Pós Graduação e Educação da Universidade Estácio de Sá.

RESUMO

Em nosso tempo, presenciamos a cibercultura e o ciberespaço fomentados pelas mudanças tecnológicas na informação e na comunicação onde computadores, tablets, celulares e outros aparelhos digitais conectados à internet sustentam esses ambientes e se tornaram fundamentais nas diversas esferas da sociedade. Em conseqüência dessa novo ambiente, a inclusão digital se torna uma preocupação imediata. Assim, o objetivo deste trabalho é analisar a formação oferecida pelos cursos de informática para terceira idade com vistas a promover a inclusão digital dos cursistas, investigando quais as abordagens utilizadas na construção dos usos do computador e da internet e também de outras tecnologias digitais; os procedimentos metodológicos adotados pelos professores; a formação dos professores dos cursos; como se caracteriza a atuação dos cursistas no uso das tecnologias e as concepções de inclusão digital dos professores e cursistas.

Palavras-chave: Inclusão digital – terceira idade – cibercultura e ciberespaço.

As sociedades do século XXI estão marcadas pelas diversas mídias que oferecem

informações e oportunidades de comunicação acessíveis em todo o mundo. No Brasil, o tema

“sociedade da informação” ganhou sentido de política pública com o documento Sociedade

da Informação no Brasil – Livro Verde – a partir do ano 2000. O documento foi desenvolvido

sob a chancela do Ministério da Ciência e Tecnologia para debater possíveis diretrizes para

ações no país rumo à inclusão digital na sociedade da informação. Como afirma Silva (2010,

p 134), “não basta democratizar o acesso aos meios digitais de informação. É preciso

qualificar comunidades excluídas, dotando-as de competências para participar na era digital,

na cibercultura, na sociedade da informação”. Ou seja, propiciar inclusão digital requer algo

mais que distribuir computadores e acesso à internet. Será necessário formar para a

participação colaborativa livre e plural no ciberespaço e na cibercidadania. Será preciso

formar o usuário para além do uso meramente técnico-instrumental das tecnologias abrindo

espaço para autoria e coautoria, para atuação nas redes sociais em uma perspectiva cidadã,

comunitária e política.

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Esse desdobramento dá-se pela novidade trazida com as mídias digitais, em especial o

computador, que por seu aparato hipertextual1 não se limita à velha estrutura de transmissão

de informações (como na TV, rádio e impressos) e abre espaço para a interação, com um

sentido descentralizador da emissão e recepção da mensagem, onde é possível a participação

integral do usuário.

O expressivo movimento da sociedade da informação, bem como o desenvolvimento

social, econômico e político gerado por ela estão intimamente ligados ao ciberespaço, à

cibercultura, que por sua vez, emergem com a internet.

Lévy (1999, p. 17) define cibercultura como “o conjunto de técnicas (materiais e

intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensar e de valores que se desenvolvem

juntamente com o crescimento do ciberespaço”. A cibercultura emerge no ciberespaço em

uma rede complexa de multifaces, potencializando uma ambiência aos usuários da internet de

conexão e conversação mundial, “fomentando uma opinião pública ao mesmo tempo local e

global” (LEMOS, p. 25).

Santaella (2004, p. 40) define ciberespaço como “uma realidade multidirecional,

artificial ou virtual incorporada a uma rede global, sustentada por computadores que

funcionam como meios de geração e acesso”. As tecnologias digitais surgiram, então, como a

infra-estrutura do ciberespaço, considerado como “não apenas a infra-estrutura material da

comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que abriga, assim

como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo” (Lévy, 1999, p. 17).

Com a web 2.02 cresce ainda mais a possibilidade de participação coletiva em escala

mundial através de sites colaborativos e redes sociais de todos os tipos (compartilhamento e

cocriação de imagens, vídeos, músicas, textos etc). O internauta está livre para “desempenhar

o papel que desejar”, como diz Lemos (2002). Para este autor amplia-se a esfera pública, isto

é, o ambiente onde o internauta pode selecionar conteúdos, participar, intervir, colaborar, ser

emissor e mediador de sua produção.

Tudo isso confirma o que Lévy e Lemos entendem como evolução da comunicação na

cibercultura e na sociedade da informação. A nova esfera pública ampliada no ciberespaço,

materializada no computador, no tablet, no celular traz uma nova ambiência comunicacional

1 Hipertexto é um conceito criado por Teodor Nelson na década de 1960 para exprimir a ligação que pode ser feita em um texto de forma digital a um conjunto de informações variadas como outros textos, imagens, sons, vídeos etc. O hipertexto é representado por uma palavra ou expressão que se destaca em meio ao resto do texto e assim que clicado, remete a hiperligação esquematizada para maior abordagem sobre o termo escolhido, podendo ser vinculado infinitas vezes.2 A web 2.0 é uma nova versão da antiga web. Sua chegada em 2004 teve como princípio um novo ambiente de interação e participação oferecidas pelas populares redes sociais, wikis e sites que se tornam cada vez mais sólidos com a colaboração e cocriação pelos usuários da rede.

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que descentraliza o pólo da emissão centrado no modelo um-todos, em favor do modelo

todos-todos.

Este trabalho abrange os conceitos apresentados de “sociedade da informação”,

cibercultura, ciberespaço e inclusão digital e tem como foco o público que está aumentando

significativamente a tentativa de inclusão digital: a terceira idade.

Baseado em dados do IBGE3, em 2006 o Brasil tinha 15 milhões de idosos além de

dados recentes que apontam que a expectativa de vida no país hoje é de 73 anos IBGE (2010).

Os idosos de hoje possuem um novo perfil fortemente caracterizado pela ausência de

obrigações familiares, algumas vezes, compromissos profissionais, disponibilidade de tempo

e estímulo à inovação (SILVA, 2009). Esse perfil vem se transformando ao longo dos séculos

por motivos econômicos, políticos e sociais. Em nosso tempo, as tecnologias da informação e

comunicação (TIC) e a cibercultura trazem novas demandas a essa faixa etária. Kachar (2003,

p. 60) sinaliza um dos pontos mais importantes para os idosos: “a tecnologia possibilita ao

indivíduo da terceira idade estar mais integrado em uma comunidade eletrônica ampla,

colocando-o em contato com parentes e amigos, num ambiente de troca de idéias e

informações, aprendendo junto e reduzindo o isolamento”. Lima et. al. (2008, p. 5), por sua

vez, argumentam dizendo que a “inclusão no mundo digital, não é somente uma forma de

inserção, porém fator primordial para que o longevo continue sendo um sujeito ativo em suas

tarefas cotidianas e possa interpretar o cenário que o cerca”.

Kachar (2003) afirma que os idosos, em especial, têm revelado dificuldades em

entender a nova linguagem e lidar com a tecnologia. Vieira e Santarosa (2009) explicam que

essa dificuldade existe, pois esses indivíduos, nomeados como idosos contemporâneos,

desenvolveram-se em um contexto histórico e social onde a tecnologia estava em um patamar

muito “mais primitivo do que hoje”.

Como foi dito anteriormente, o ciberespaço concretizado no computador pela internet

permite um novo ambiente comunicacional rompendo com a forte cultura unidirecional

proposta pelas mídias clássicas. Os indivíduos da terceira idade estão impregnados dessa

cultura uma vez que passaram grande parte de suas vidas como espectadores da TV, do rádio

e do jornal impresso, vivendo experiências lineares e como espectadores. São poucos os que

não se apresentam desnorteados diante de um sistema interativo4 e hipertextual. Santaella

(2004, p. 37) diz que “a navegação interativa no ciberespaço envolve transformações 3 Instituto Brasileiro de Geografia Estatística.4 O interativo ou a interatividade pode ser caracterizado pela expressiva dinâmica que se realiza nas formas de trocas comunicativas, cujo internauta poderá ser ator, exercendo influência sobre o conteúdo, manipulando-o e modificando-o ao seu bem entender. É o “indivíduo-teleintra-atuante” envolvido na bidirecionalidade e hibridação, fundamentos da interatividade (SILVA 2010, p. 53).

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perceptivo-cognitivas” e, quando ocorrem essas transformações o usuário se torna um “leitor

imersivo”, um tipo de usuário que “navega entre nós e nexos construindo roteiros não lineares

e não seqüenciais”, que possui familiaridade na apropriação das linguagens hipermidiáticas5.

Nas pesquisas de Santaella (2004) foram observados jovens entre 18 e 30 anos que

apresentaram grandes dificuldades no uso do computador e da internet e foram avaliados

inicialmente no grupo dos usuários novatos. Com base nessa constatação, pode-se imaginar o

grau de dificuldades das pessoas da terceira idade, uma vez que estão temporalmente mais

impregnadas de esquemas unidirecionais e analógicos que sedimentaram espectadores

contemplativos “bem comportados, com intervalos de atenção bem treinados a programações

manipulativas e a movimentos lineares” (SILVA 2010, p 14).

Consequentemente se torna de extrema validade investigar os processos realizados

para inclusão digital das pessoas da terceira idade que estudam em cursos de informática, na

perspectiva da sintonia com a sociedade da informação, com a cibercultura e com a inclusão

digital abordada nas primeiras páginas deste projeto de pesquisa.

Assim, a problemática dessa pesquisa está situada no estudo da formação da terceira

idade para uma participação efetiva do ciberespaço e da cibercultura em direção à inclusão

digital, onde o indivíduo esteja familiarizado com os diversos signos e a estrutura que

compõem essa esfera e possa manifestar seus pensamentos, sua autoria e sua cidadania nesse

novo ambiente comunicacional nunca antes vivenciado por eles.

Para tal investimento, a pesquisa será realizada na Universidade Aberta da Terceira

Idade (unATi) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), por se tratar de um dos

programas mais reconhecidos no país para a faixa etária, com diversos cursos dentre eles,

informática para terceira idade.

O objetivo deste trabalho é analisar a formação oferecida pelos cursos de informática

para terceira idade com vistas a promover a inclusão digital dos cursistas.

Esta investigação demanda as seguintes questões de estudo:

a) Quais as abordagens utilizadas na construção dos usos do computador e da

internet? E de outras tecnologias digitais tais como celular, tablet, caixa eletrônico de banco,

portais de serviço online etc?

b) Quais os procedimentos metodológicos adotados pelos professores?

c) Qual a formação dos professores atuantes nos cursos e como se preparam para

atender as necessidades específicas dos alunos de terceira idade?

5 A hipermídia se desdobra do conceito de hipertexto caracterizada por executar o papel de várias mídias (de sons, como o rádio, de imagens como a TV, de textos como os impressos) concentradas em um suporte tecnológico digital – o computador.

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d) Como se caracteriza a atuação dos cursistas no uso das tecnologias digitais

durante a formação?

e) Quais as concepções de inclusão digital dos professores e dos cursistas das

turmas investigadas?

f) Sob as definições de usuários e leitor imersivo de Santaella (2010), qual o

perfil predominante dos alunos no curso investigado?

REFERÊNCIAS

KACHAR, V. Terceira Idade & Informática: Aprender revelando potencialidades. São Paulo: Cortez, 2003.

LÉVY, P. Cibercultura. Rio de Janeiro: 34, 1999.LEMOS, A. Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto Alegre: Sulina, 2002.

LEMOS, A. O futuro da internet: em direção a uma ciberdemocracia / André Lemos e Pierre Lévy. – São Paulo: Paulus, 2010 (Coleção comunicação).

Sociedade da informação no Brasil: livro verde / organizado por Tadao Takahashi. – Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2000. >Disponível em: http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/18878.html< . Acesso em: ago. 2010.

SILVA, M. Sala de aula interativa. 5 ed. – São Paulo: Edições Loyola, 2010. – (Coleção práticas pedagógicas).

________.Inclusão digital: algo a mais do que ter acesso à tecnologias digitais. IN: Ensino-aprendizagem e comunicação. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2010.SANTAELLA, L. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. – São Paulo: Paulus, 2004.

Instituto Brasileiro de Geografia Estatística. >Disponível em: http://www.ibge.gov.br/paisesat/main.php<. Acesso em: nov. 2010.

VIEIRA, M. C.; SANTAROSA, L. M. C. O uso do computador e da Internet e a participação em cursos de informática por idosos: meios digitais, finalidades sociais. XX Simpósio Brasileiro de Informática na Educação, 2009.