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ISBN 85-7516-002-8

I I9788575 160022

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Iniciação àesquisa Científica

Elisa Pereira Gonsalves

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Conversas sobre Iniciação àPesquisa Científica é uma bela síntesesobre a construção e apresentação deum projeto de pesquisa, além de ser umponto de referência para aqueles alu-nos que, pela primeira vez, pretendemdescobriros caminhos da ciência.

Com um título sugestivo, estelivro apresenta-se como uma boa con-versa sobre as regras instituídas dojogo da ciência. Numa linguagemsimples e objetiva sem perder a profun-didade e o rigor no tratamento dado aotema este livro configura-se como ummaterial enxuto, didático e vigoroso.

Sob a inspiração de filósofos,sociológos e neurocientistas comoMichel Maffesoli, Humberto Maturana,Francisco Varela e Antonio Damásio,este livro supera a figura de um "manualclássico" para a organização de umprojeto de pesquisa, quando introduzdesconfianças e elementos próprios docenário pós-moderno.

Explorando a sua experiênciacomo docente na área de PesquisaSocial, esclarecendo dúvidas comunsentre alunos de graduação, ElisaPereira Gonsalves mostra que as re-gras instituídas pelo jogo da ciênciaestão em constante mutação e que omaior motor dessa transformação é umconjunto formado pela criatividade,ousadia e o rigor do pesquisador.

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Coordenação Editorial: Willian F. Mighton

Revisão de Textos: Douglas Dias Ferreira

Editoração Eletrônica: Sonia TraviskiCapa: Fábio Cyrino Mortari

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Gonsalves, Elisa PereiraConversas sobre iniciação à pesquisa científica /

Elisa Pereira Gonsalves. -- Campinas, SP : EditoraAlínea, 2001.80 p.

Bibliografia.

I. Ciência - Metodologia 2. Métodos de estudo3. Pesquisa - Metodologia I. Título.

ISBN 85-7516-002-8

01-0872 CDD - 001.42

Índices para Catálogo Sistemático:

1. Pesquisa científica 001.42

Todos os direitos reservados à

Editora Alínea

Rua Tiradentes, 1053 - Guanabara - Campinas-SPCEP: 13023-191 - PABX: (OxxI9) 3232.9340 e 3232.2319

www.atomoealinea.com.br

Para tornar esse livro um material didático, contei comolhares de alunos da graduação e da pós-graduação da Uni-versidade Federal de São Carlos-UFSCar, como também dealunos do curso de especialização em educação da Facul-dade de Ciências e Letras de Araras. De forma especial, agra-deço à turminha de 1999 do Curso de Terapia Ocupacional eao estudante do Curso de Mestrado em Educação da UFSCar,Marcelo José Araújo. As dicas foram preciosas, ajudaram adar um tom mais agradável a esse trabalho.

A autora

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~umárioIntrodução 7

Capítulo IProjeto de pesquisa: primeiras questões . . . . . . . . 9

1. Definindo o que é um projeto de pesquisa. .. 112. A estrutura básica de um projeto de pesquisa . 133. Subjetividade e investigação científica . . . .. 174. Esclarecendo os termos monografia,

dissertação e tese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

Capítulo IISelecionando o tema da pesquisa . . . . . . . .. 251. Considerações iniciais sobre a seleção do tema 26

2. Primeiras aproximações ao tema 302.1. Pesquisa documental 312.2.Pesquisa bibliográfica 34

2.3. Contatos diretos . . . 36

3. Formas básicas de organizaçãodo trabalho científico 36

3.1. Fichamento . 373.2. Resumo. 40

3.3. Resenha . . 42

Capítulo IIIConsiderações em torno do objeto de pesquisa .... 47

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1. O jogo da ciência. . .

2. O referencial teórico.

3. A delimitação da questão.4. A elaboração da hipótese.

5. Os objetivos da pesquisa .6. A justificativa . . . . . . .

Capítulo IVEscolhendo o percurso metodológico 61

1. Tipos de pesquisa. . . . . . . . . . 641.1.Tipos de pesquisa segundo os objetivos. 65

1.2. Tipos de pesquisa segundo os procedimentosde coleta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

1.3.Tipos de pesquisa segundo as fontesde informação. . . . . . . . . . . . . . 68

1.4.Tipos de pesquisa segundo a naturezados dados . . . . . . 68

2. Os sujeitos da pesquisa. 693. O espaço da pesquisa. 704. A produção dos dados 71

5. Cronograma . . . . . . 72Encerrando a nossa conversa. 75Referências bibliográficas. . . 77

4749

5154

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Introdução

Como elaborar um projeto de pesquisa?Essa pergunta talvez seja a que mais ouvi - e ouço -

nos dez anos de exercício como docente, ministrandodisciplinas como Métodos e Técnicas de Pesquisa emEducação, Metodologia Científica e Métodos e Técnicasdo Trabalho Acadêmico Científico, tanto em nível degraduação como em pós-graduação.

Nesses anos, direcionei o meu olhar para aquelesalunos que, pela primeira vez, estavam se deparando como desafio de descobrir coisas pelo caminho da ciência.Pude perceber que a ausência de noções básicas, a falta declareza sobre a organização de alguns tópicos de um pro-jeto de pesquisa, a não-familiaridade com a linguagemprópria do campo da ciência são fatores que acarretamuma enorme dificuldade dos alunos em lidar com muitosmanuais.

O livro Conversas sobre Iniciação à Pesquisa Científica éum esforço de colaborar para a superação de algumasdificuldades iniciais do aluno que pretende elaborar umprojeto de pesquisa. Numa linguagem simples, pretendo

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colocar a sua disposição um material enxuto, didático, defácil acesso e manuseio. Como o próprio título sugere, éuma conversa, ou melhor, o início de uma boa conversasobre algumas regras instituídas do jogo da ciência.

Esse livro está dividido em quatro capítulos.No Capítulo I, intitulado Projeto de pesquisa: primei-

ras noções, trato de definir o que é um projeto de pesquisa,destacando também a sua estrutura básica. Em seguida,busco esclarecer os termos monografia, dissertação e tese,assim como oferecer uma noção da estrutura do trabalhomonográfico.

No Capítulo II - Selecionando o tema da pesquisa - teçocomentários sobre os critérios de seleção do tema depesquisa, oferecendo uma orientação preliminar decomo organizar a sua problemática, a partir de um levan-tamento inicial. Esse levantamento inicial poderá serrealizado melhor mediante pesquisa documental, apesquisa bibliográfica e também contatos diretos. Nestecapítulo você encontrará também sugestões para orga-nizar o material levantado, através de fichamento, resu-mo e resenha.

No Capítulo III, intitulado Considerações em torno doobjeto de pesquisa, pretendo colocar alguns elementos quepossibilitem a delimitação do problema, a explicitação d?referencial teórico, a elaboração de hipóteses, a orgam-zação dos objetivos e a elaboração da justificativa doproblema.

Por fim, no Capítulo IV - Escolhendo opercurso meto-dológico - discorro sobre os tipos de pesquisa, a especifi-cação dos sujeitos e do espaço da pesquisa. Ainda nessecapítulo, faço urna discussão sobre a produção dosdados.

Espero que essa leitura seja útil e agradável paravo' . Um abraço.

Elisa Pereira Gonsalves

Capítulo I

Projeto de pe~qui~a:primeira~ que~tõe~

A exigência de fazer urna pesquisa no final de umcurso de graduação ou de pós-graduação geralmentecausa, entre os alunos, urna sensação incômoda: a pes-quisa é compreendida como aquele trabalho difícil, que oaluno não tem lia menor idéia de como se começa". Quandoexiste urna noção de como se começa, muitas vezes oaluno não tem 11 idéia se vai conseguir terminar".

Se para o aluno o trabalho parece ser difícil, para oprofessor também não é tarefa fácil: antes mesmo deorientar o aluno sobre um determinado tema, ele precisadesconstruir o 'fantasma da pesquisa" ou o "pavor da mo-nografia", desfazendo as pré-noções e os preconceitoscriados em torno dessa questão.

Esse trabalho de desconstrução não é tarefa fácildiante da resistência criada pelos alunos. O primeiropasso para quebrar essa resistência talvez seja o de criarurna abertura para urna compreensão muito simples: a deque o processo de pesquisa pode ser prazeroso. É preciso

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ter como ponto de partida a idéia de que, pela frente, vocêpoderá mergulhar num espaço que pode ter comocaracterística principal a alegria da descoberta. E isso sódepende de você!

Você pode até concluir a sua pesquisa sem estarenvolvido com o tema, transformando o seu trabalho emuma cruz a ser carregada. Mas se você optar por colocarnesse caminho paisagens agradáveis, não tenho dúvida:o seu trabalho será muito mais interessante.

Estar envolvido com a pesquisa émuito importante,sobretudo porque a investigação científica requer rigor,disciplina, atenção, enfim, um olhar que não dispen-samos cotidianamente. Pesquisar dá trabalho, sim, não étarefa simples, mas não é uma missão impossível!

Ao optar por um trabalho de pesquisa científica,você se depara com a necessidade de tomar algumasdecisões. Por exemplo, você precisa definir o que vaiestudar, que tipo de abordagem irá fazer, que recursosmetodológicos irá utilizar. O que pode orientar vocêdiante de tantas decisões?

A 1/ chave do mistério", sem dúvida, está relacio-nada à organização do projeto de pesquisa.

Quando resolvemos seguir um caminho ou fazeruma viagem, o primeiro passo, geralmente, é fazer umplanejamento. O projeto de pesquisa é uma expressãoescrita desse planejamento, é o documento que revelauma série de decisões que você tomou para seguirviagem.

Para iniciarmos nossa conversa, vamos colocaralgumas questões básicas como a definição do que é umprojeto de pesquisa, sua estrutura básica para, em se-guida, esclarecermos alguns termos como monografia,dissertação e tese.

Conversas sobre Iniciação à Pesquisa Científica 11

1. Definindo o Que é um projeto de pe~Qui~a

Para realizar uma monografia é necessário organi-zar primeiro um guia. É o momento de construir o seuprojeto de pesquisa.

Mas o que é um projeto de pesquisa?Certa vez, o professor Dr. Ettore Gelpi, da Universi-

dade de Paris I, convidado para participar na qualidadede examinador na banca de projeto de uma aluna quecursava o mestrado em Educação na Universidade Fede-ral da Paraíba, fez a seguinte consideração: o momentomais privilegiado de um curso de pós-graduação é aconstrução e a análise do projeto de pesquisa, pois lá esta-ria inscrito o sonho, a vontade. Como uma planta que sefaz para construir uma casa: é o desejo que está contidoali. A casa não é o melhor momento, não é a fase maiscriativa, é o que 1/ deu para fazer".

O projeto de pesquisa deve funcionar como um guiado pesquisador em relação aos passos a seguir. Apesar deser um roteiro pré-estabelecido e rigorosamente elabo-rado, o projeto não é imutável, ao contrário, o caminhopercorrido ao longo da pesquisa acaba por imprimir-lhenovas características, novos aspectos, colocando novasexigências para o investigador.

Podemos dizer que o momento da construção doprojeto é o momento mais criativo e individual dopesquisador, como afirmou o professor Gelpi. Por outrolado, também é certo que oprocesso de investigação, pelasua riqueza, transforma o sonho, por vezes reduzindo-o,por vezes ampliando mais ainda os seus horizontes.

O projeto é uma apresentação organizada doconjunto de decisões que você tomou em relação à inves-tigação científica que pretende empreender. Para que oprojeto seja eficiente, ele precisa ser bem pensado e bemredigido, pois ele é um documento escrito, é a matéria-lização de um planejamento.

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o projeto deve ser entendido como um instrumentode ação. Ele existe para dar uma direção, para ajudar vocêa descobrir pistas para compreender alguns problemas enão para criar um obstáculo para o seu entendimento!

Mas o projeto não é uma proposta fechada, imutá-vel e inflexível. Ao contrário! Ao longo da investigaçãovocê pode incorporar novos elementos ao projeto,elementos que não foram previstos inicialmente. Essemovimento de abertura é próprio de qualquer atividadeplanejada.

o projeto deve ser entendido como um produto- pois é um documento escrito resultante de um exer-cício acadêmico e científico -, e também como umprocesso - pois é um instrumento dinâmico, que tem aimportante característica de ser flexível.

Atente também para a seguinte questão: o planeja-mento da pesquisa é feito durante todo o processo deinvestigação e não só no momento inicial. Você elaboraum guia como ponto de partida - que é o projeto =. mas aolongo do estudo novos elementos podem ser incorpo-rados, outros podem ser descartados. Esse movimento deseleção/ incorporação de elementos é próprio da ciência,é ele mesmo que imprime uma qualidade ao trabalho deinvestigação científica.

O projeto também preenche a seguinte finalidade:possibilita a comunicação entre os seus pares, permitindouma troca, o que é uma experiência muito rica e comumnos cursos de pós-graduação. Expondo seu projeto paraseus colegas e professores, você pode descobrir lacunas,enxergar novas possibilidades metodológicas, dentreoutras coisas.

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É importante ressaltar também que o exercício deelaboração do projeto tem uma finalidade pedagógica.Ao elaborá-lo. você estará exercitando certas regras dojogo científico, aprendendo a lidar com elas em algumamedida. Nesse aspecto, esse exercício de elaboração éfundamental para a formação do pesquisador.

Não se esqueça que, ao elaborar seu projeto, vocêestará lidando com elementos científicos e extra-ci ntí-ficos. A elaboração de um projeto de pesquisa implicalidar com pelo menos três dimensões, que estão int rli-gadas:

• a dimensão técnica, que remete para as regrasinstituídas sobre a elaboração de um projeto depesquisa científica, já que existe um consenso nacomunidade científica sobre o núcleo básico quetodo projeto deve contemplar;

• a dimensão teórica, que corresponde às escolhas dopesquisador (tema, referencial teórico etc.) quenorte iam a reconstrução de um objeto de conhe-cimento com procedimentos próprios e consen-suais no campo da ciência;

• a dimensão afetiua, que revela o envolvimento dopesquisador com o tema escolhido.

2. A eitrutura báiica de um projeto de peiquiiaUm projeto de pesquisa pode ser organizado de

várias maneiras. Não existe um padrão rigidamentestabelecido e imutável. Um pesquisador pode optar porpresentar o seu sumário do projeto da forma mais

/I lássica": justificativa, problema, objetivos, metodo-I gia, cronograma, bibliografia.

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Essa é uma estrutura básica que pode ser apresen-tada de muitas outras formas. Uma outra possibilidadede apresentação é a seguinte: origem do problema,âmbito da problemática, objetivos, considerações teó-rico-metodológicas, cronograma e bibliografia. Tam-bém é comum encontrarmos projetos com a seguinteseqüência: delineando o objeto de estudo, consideraçõesteórico-metodológicas, cronograma e bibliografia.

Qualquer que seja a sua apresentação formal, oprojeto de pesquisa deve contemplar um núcleo básico.Isto significa que, mesmo que a forma de apresentaçãoseja diversa, todo projeto deve responder às seguintesperguntas: /

o que pesquisar? (Definição do problema, hipóteses, baseteórica e conceitual);

• por que pesquisar? (Justificativa da escolha doproblema);

• para que pesquisar? (Propósitos do estudo, seusobjetivos);

• como pesquisar? (Metodologia);• quando pesquisar? (Cronograma de execução);• com que recursos? (Orçamento);• pesquisado por quem? (Equipe de trabalho, pesqui-

sadores, coordenadores, orientadores).

(Deslandes, 1996, p. 36)

Esse é o núcleo básico de um projeto de pesquisa.Para começar a elaborar o seu projeto, responda a cadauma das perguntas acima.

Após tentar responder às questões nucleares quecompõem o seu projeto de pesquisa, preste atenção nocaminho que você está traçando, nas partes que você nãoconsegue dissociar quando pensa no problema, nasquestões que você pretende dar maior visibilidade. Aten-tando para o caminho do seu pensamento - "como chegueiaté essa questão?" - você poderá apresentar melhor e commais clareza as suas idéias.

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Quando você está atento para o caminho do seupensamento pode perceber as conexões que fez parachegar a uma questão, pode apontar com segurança, porexemplo, em que momento da sua reflexão o objetivo doseu projeto emergiu. No geral, o objetivo do projetoemerge da problematização que você faz de um tema emuitas vezes fica difícil recortá-lo para, em seguida, fazeruma colagem na parte específica do projeto destinada aosobjetivos. Não crie esse tipo de obstáculo para você: se oseu objetivo fica melhor na parte destinada ao problema,tudo bem. O importante não é obedecer regras - que nãosão fixas -, o importante é deixar que as suas idéias sejamexpostas com clareza. Não assassine a sua idéia em nomede uma camisa-de-força que você mesmo criou.

Respondida cada pergunta do núcleobásico,é hora depensar na forma de apresentar o seu projeto. Lembre-se:

A forma de apresentação do projeto está, pri-meiramente, vinculada à construção do problema, jáque está intimamente relacionada ao conteúdo. Istosignifica que, ao delimitar o seu problema, você devepensar na exposição mais adequada para o seu texto.

Por isso, dedique um pouco do seu tempo para pen-sar sobre a forma de organização do seu projeto. Lembre-se que existe uma lógica na forma. Ela não é depositáriado seu projeto. Mais do que isso, a forma apresenta e faz oprojeto. Vocêjá sabe qual é o núcleo básico. A partir daí,sinta-se à vontade para dispor de forma criativa o seutrabalho.

Da mesma maneira que a estrutura do projeto temum núcleo básico, o percurso da investigação científicatambém possui alguns elementos comuns. É interessantea contribuição de Goldenberg (1999)neste momento. A

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autora compara o processo de investigação com umarelação amorosa. Vamos acompanhá-Ia:

A pesquisa apresenta diferentes fases. A fase inicial,que pode ser chamada de exploratória, lembra uma 'paquera'de dois adolescentes. É o momento em que se tenta descobriralgo sobre o objeto de desejo, quem mais escreveu (ou seinteressou) sobre ele, como poderia haver uma aproximação,qual a melhor abordagem dentre todas as possíveis paraconquistar este objeto. (Goldenberg, 1999, p.72).

Observe que na fase exploratória você está sondan-do, buscando uma primeira aproximação. Podemos dizerque a fase exploratória corresponde a um olhar, aindadistante, mas que indica uma atenção, um desejo.

Iniciada a /I paquera", é necessário um cuidadomaior, uma disciplina. É o momento de organizar o pro-jeto de investigação:

Em seguida, vem a fase que equivale ao "namoro", umafase de maior compromisso que exige um conhecimento maisprofundo, uma dedicação quase que exclusiva ao objeto depaixão. É a fase de elaboração do projeto de pesquisa em queo estudioso mergulha profundamente no tema estudado.(Goldenberg, 1999, p.72).

Segundo Goldenberg (1999), se a fase do "namoro"for bem-sucedida, o pesquisador acaba por envolver-seprofundamente com o seu objeto de estudo, iniciando afase do /I casamento" :

A terceira fase é o 'casamento', em que a pesquisaexige fidelidade, dedicação, atenção ao seu cotidiano, que éfeito de altos e baixos. O pesquisador deve resolver todosos problemas que vão aparecendo, desde os mais simples(como se vestir para realizar as entrevistas) até os mais cru-ciais (como garantir a verba para a execução da pesquisa).(Goldenberg, 1999, p.72-73).

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Por fim, a autora apresenta o último momento.Talvez seja uma das poucas /I separações" felizes:

Por último, a fase da "separação", em que o pesqui-sador precisa se distanciar do seu objeto para escrever o rela-tório final da pesquisa. É o momento em que é necessárioolhar o mais criticamente possível o objeto estudado, emque é preciso fazer rupturas, sugerir novas pesquisas. É omomento de ver os defeitos e qualidades do objeto amado.(Goldenberg, 1999, p.73).

3. ~ubjetividade e inve~tigação científicaVamos refletir um pouco mais sobre a idéia de

1/ distanciamento" no trabalho de investigação científica,já que é muito difundida no espaço acadêmico acompreensão de que quanto mais distanciado, melhorvocê enxerga o objeto de pesquisa.

Ao contrário de Goldenberg (1999), não creio que a"separação" seja uma condição necessária para que possaemergir um olhar mais crítico sobre a pesquisa. Destacoaqui três pontos importantes nessa discussão: o primeiro,que diz respeito à possibilidade de compreender a partirdo envolvimento; o segundo ponto, que se refere à rela-ção sujeito-objeto do conhecimento; e, por fim, a questãoda afetividade do conhecimento.

Sobre o primeiro ponto, destaco o seguinte: tenhonutrido uma certa desconfiança sobre o suposto 1/ olharprivilegiado" de posições que, de tão distanciadas, de tãoiluminadas, não enxerga mais. Proponho o caminho in-verso, aquele que acentua a condição de estar envolvidopara buscar a compreensão. Estar envolvido não temaqui o sentido reducionista - tal como muitas pesquisasparticipantes anunciaram - de fazer parte de uma deter-

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minada comunidade. Estar envolvido significa assumiruma condição que é natural ao se humano: a condição doestar-junto, a condição de pertencer existencialmente auma sociedade.

A condição de estar-junto indica, de acordo comMaffesoli (1999), o reconhecimento de que o conheci-mento está em ligação com o estado do mundo, impondoum julgamento de existência - que está aquém da discus-são sobre julgamento de fato e julgamento de valor.

Sobre esse tema, mais uma questão: nós nos enxer-gamos como humanos através de uma racionalidade queé histórica, que é produto da "posição normal" das pes-soas que vivem em sociedade. Isto significa uma coisa, nomínimo, muito interessante: a idéia de distanciamento doobjeto da pesquisa é uma criação humana datada deforma especial dos arautos do iluminismo! Pense nisso.

O segundo ponto a ser destacado trata da distinçãoconsagrada entre sujeito e objeto da pesquisa.

Os estudos de Humberto Maturana e FranciscoVarela (1995) sobre as bases biológicas do entendimentohumano evidenciam que o cérebro não é um sistema queprocessa informações; ao contrário, é um criador deimagens da realidade. A realidade seria, portanto, umaexpressão da organização cerebral que interage comimagens, modificando-as à luz das experiências reais.

Nessa compreensão, a distinção sujeito-objetoperde os seus contornos dicotômicos, pois já não sãopólos separados. A relação sujeito-objeto assume a formade um continuum. Nesses termos, todo esforço de com-preensão do mundo advêm de um espírito contempla-tivo, que modifica o que vê. Isso significa que, aquilo quemuitos denominam de "coisa em si" é sua própria inter-pretação. Fazer ciência é, portanto, um exercício deriação e de admiração.

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A terceira questão fundamental nesse debate sobre"separação" do pesquisador com relação ao seu objeto

de estudo se refere à afetividade do conhecimento. Tendoa não concordar com a idéia de que o distanciamento,exercido pelo controle do afeto, permitiria uma "visãomais realista" da vida social, especialmente pelascontribuições recentes do campo das biociências. Veja-mos o debate colocado em cena por António Damásio(1996).

Mediante análise empírica no âmbito da neuro-logia, Damásio (1996) supera a visão dicotômica quesepara a razão da emoção e constata que os sentimentossão elementos constituintes da razão.

Além disso, Damásio afirma que os sentimentostêm um estatuto privilegiado, pois estão presentes emtoda a atividade mental e têm uma condição de anterio-ridade, isto é, constituem um

quadro de referência para o que vem a seguir, eles têm sem-pre uma palavra a dizer sobre o modo de funcionamento doresto do cérebro e da cognição. Sua influência é imensa(Damásio, 1996, pp. 190-1).

A mente origina-se da atividade cerebral queinterpreta, utilizando-se de afeto e de emoção. Não existeregistro neutro, sem um componente de afetividade.Triste descoberta essa para os positivistas que preten-diam afastar as pré-noções e a subjetividade do trabalhodo cientista social!

Toda essa discussão para, finalmente, afirmar: nemdistanciamento, nem separação, nem controle do afeto. Opercurso teórico-metodológico da investigação científicanão se dá em contraposição aos elementos subjetivos. Asubjetividade é, ela mesma, condição para o exercício dainvestigação científica.

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'I

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4. E~clare(endoo~termo~ monografia, diHerta~ão e tee'O trabalho monográfico pode ser compreendido

como uma atividade de pesquisa científica, sendo geral-mente solicitado para conclusão de cursos de graduaçãoe de pós-graduação.

A monografia é um estudo profundo sobre umaautor(a), um tema, uma época, isto é, remete para umtrabalho escrito sobre um tema específico: mon(o) = único,graf( o) = escrever.

Assim, ao escrever um trabalho monográfico, vocêestará diante do desafio de aprofundar um aspecto dosmuitos que integram um determinado assunto. Naspalavras de Severino,

o trabalho monográfico caracteriza-se mais pela unicidade edelimitação do tema e pela profundidade do tratamento do quepor sua eventual extensão, generalidade ou valor didático (Se-verino, 1996, p.104).

A extensão do trabalho mono gráfico évariável. Mastanto em nível de graduação ou de pós-graduação, o maisimportante aqui é a qualidade e não a quantidade.

Como produto de um estudo científico sobre umdeterminado tema, a monografia é caracterizada porum trabalho rigoroso, que sistematiza observações,críticas e reflexões feitas pelo aluno. Mas cabe destacarque uma monografia ultrapassa o nível da compilação detextos, ou seja, não se trata de uma série de resumos eopiniões pessoais, trata-se de uma análise de dados quecontribua para elucidar determinados aspectos do temaestudado.

Portanto, cuidado!

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Fazer monografia não é fazer um exercício decópia de vários textos, repetindo incessantemente oque já foi dito por outro! Também cuide do oposto: umtrabalho monográfico não é a manifestação de suasopiniões pessoais, sem fundamentá-Ias!

o trabalho monográfico pode ser caracterizado apartir dos seguintes pontos: é um trabalho escrito, orga-nizado sistematicamente e completo; versa sobre umtema específico; é um estudo detalhado de um objeto;trata o objeto em profundidade e não em alcance; possuiuma metodologia científica; revela-se como uma contri-buição pessoalpara o desenvolvimento da ciência(Lakatose Marconi, 1992,p. 152).

A monografia apresenta a seguinte estrutura: intro-dução, desenvolvimento e conclusão.

Apesar de ser a primeira parte do trabalho rnonográ-fico, a introdução é a última tarefa a ser feita. Isso ocorreporque você precisa de um texto para saber o que vocêdeve introduzir. Booth (2000) distingue três elementosque devem estar contidos numa introdução:

• coniexio: você localiza o seu problema em um"pano de fundo", situando-o no interior das dis-cussões mais relevantes sobre o tema. Ao fazerisso você estará criando uma "base comum", ma-peando um terreno que permitirá ao leitor umacompreensão mais ampliada do seu problema.

• problema: deixe claro qual é objeto da sua pesquisa,qual é a contribuição que pretende dar para a com-preensão do tema.

• resposta: declare qual é a resposta - sempre pro-visória - que você descobriu para o seu problema.

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É importante lembrar que, na introdução, você deveformular de maneira clara o tema da pesquisa, conside-rando dois aspectos: o assunto que será tratado (a idéiageral, situando e delimitando o problema, justificando otema, definindo os termos e indicando o percurso meto-dológico) e como será desenvolvido (as idéias maisimportantes, a distribuição e os objetivos dos capítulos).

No geral, a primeira referência para elaborar aintrodução da monografia é o projeto de pesquisa.Retome o projeto, avalie o que foi cumprido, o que foimodificado, o que foi ampliado, o que foi descartado. Aintrodução é uma espécie de 1/ acerto de contas" com o seuprojeto inicial.

E não se esqueça de que a introdução deve conterum elemento de sedução, de convencimento. A partirdela, o leitor deve se convencer de que você descobriu umproblema que merece atenção e que tem consideraçõesimportantes a fazer sobre ele.

A segunda parte da monografia é o desenvolvimento.Nessa parte você deverá explicar, discutir e demonstraras principais idéias do trabalho. É o" miolo" do texto; porisso, a sua parte mais extensa.

O desenvolvimento será sempre dividido em partes.O número de partes ou capítulos depende do tipo de inves-tigação feita. A divisão traz clareza à exposição e deve serorganizada de forma equilibrada, ou seja, cada partedeve ter aproximadamente o mesmo número de páginas.

Preste atenção: o sumário do seu projeto não precisaser dividido exatamente em introdução, desenvolvimento econclusão. A coisa não funciona assim. Essa é a estruturabásica que toda monografia deve conter. Mas na apresen-tação formal, é privilegiada outra forma de exposição: nogeral, o sumário apresenta uma introdução, os capítulos ea conclusão. O conjunto dos capítulos é que forma o queestamos chamando de desenvolvimento.

Conversas sobre Iniciação à Pesquisa Científica 23

Na última parte da monografia, a conclusão, vocêdeve retomar de forma sintética as principais idéias colo-cadas nas duas primeiras partes do trabalho (na intro-dução e no desenvolvimento), estabelecendo possíveisrelações e elaborando algumas considerações finais, atítulo de fechamento.

São três as principais características da conclusão: aessencialidade (síntese interpretativa das principais idéiasdo trabalho); a brevidade (o texto deve ser curto, claro econvincente); e a pessoalidade (a conclusão deve eviden-ciar com muita clareza o ponto de vista do autor após asreflexões feitas).

No sentido lato, monografia indica todo trabalhocientífico que resulte de pesquisa. Apesar de ter o caráterde "tratamento de um tema delimitado", as monografiasvariam com relação ao nível de investigação. Isto signi-fica que você pode ter uma monografia feita em nível degraduação ou de pós-graduação: o que difere é a quali-dade do aprofundamento.

Em nível de pós-graduação stricto sensu, desta-camos dois tipos de trabalhos científicos: tese de doutora-mento e a dissertação de mestrado.

A tese de doutorado é o tipo mais característico demonografia. Refletindo sobre um tema único e específico,a tese deve colocar um problema, demonstrando hipó-tese - se for o caso -, e, através de uma argumentaçãosólida, convencer o leitor da sua proposição.

Exige-se da tese de doutoramento uma contribuiçãooriginal sobre o tema. Ela deve significar um progressopara o campo em que está inserida, uma /I descoberta", nosentido atribuído por Umberto Eco:

Quando se fala em "descoberta", em especial no campohumanista, não cogitamos de invenções revolucionáriascomo a descoberta da fissão do átomo, a teoria da relatividadeou uma vacina contra o câncer: podem ser descobertas mais

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modestas, considerando-se resuitado "científico" até mesmouma maneira nova de ler e entender um texto clássico, a iden-tificação de um manuscrito que lança nova luz sobre a bio-grafia de um autor, uma reorganização e releitura de estudosprecedentes que conduzem à maturação e sistematizaçãodas idéias que se encontravam dispersas em outros textos.Em qualquer caso, o estudioso deve produzir um trabalhoque, teoricamente, os outros estudiosos do ramo não deve-riam ignorar, porquanto diz algo de novo sobre o assunto(Eco, 1983, p. 2).

A dissertação de mestrado, por sua vez, cumpre asexigências de uma monografia: é a apresentação dosresultados de uma reflexão sobre um tema delimitado.

Como é um trabalho de iniciação à ciência, rigoro-samente orientado, é evidente que não se pode exigir dadissertação de mestrado um nível de originalidade.Assim, por ser um trabalho científico que corresponde àiniciação à investigação, a dissertação possui um caráterdidático acentuado.

Capítulo 11

~ele(ionando o tema da pesquisa

Você já sabe quais são as partes constituintes de umprojeto de pesquisa. Sabe que, no geral, o primeiro itemdo projeto se refere a uma justificativa do tema/ proble-ma selecionado.

Quer dizer que você deve escrever primeiro a justi-ficativa para depois escrever o problema? Como justificaralguma coisa que não sabemos ainda o que é?

É importante reafirmar que o momento da cons-trução do projeto é diferente da forma de apresentação doprojeto. Você já sabe qual é o núcleo básico de um projetode pesquisa, mas isso não significa que você deva come-çar a escrever primeiro a justificativa. De fato, o começo ésempre a organização da situação problemática.

Então, lembre-se:

Uma coisa é a forma de apresentação do proje-to; outra coisa é a construção do projeto.

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Assim, ciente de como se dá a ordem formal deapresentação de um projeto de pesquisa, cuidaremosagora do caminho que você deve trilhar para escrever,aos poucos, cada parte constituinte do seu projeto.

1. (onsideraçõe~ ini(iai~ ~obre a ~eleçãodo temaA primeira pergunta que está posta quando você

pretende organizar um projeto de pesquisa é a seguinte: oque pesquisar? Este é o momento de selecionar o tema.

Surgem mil idéias. Muitos temas aparecem e, possi-velmente, você não conseguirá precisar exatamente oponto-chave logo de início. Não se preocupe, esse mo-mento faz parte do processo de construção do problemapois ele indica as possibilidades, ainda que de formanebulosa.

O perigo está em permanecer nas nuvens até o final.Essa é uma fase preliminar necessária e natural, mas quedeve ser superada. Muitas vezes o primeiro impulso é ode escrever sobre A Política Educacional na Atualidade ousobre O Construtivismo Hoje. Ao pretender falar de tudo oresultado é um trabalho que, geralmente, não trata dotema com profundidade.

Mas, por onde começar? Que critérios devem serobservados na seleção de um objeto de estudo?

Para início de conversa é importante sublinhar queos temas para uma pesquisa podem surgir de váriasmaneiras. Vejamos algumas delas:

• da observação do cotidiano, através do qual,direcionando o seu olhar, o pesquisador poderádescobrir problemas interessantes;

Conversas sobre Iniciação à Pesquisa Científica 27

• da vida profissional, que suscita a vivência demuitas situações dilemáticas que podem ser pen-sadas como projetos de pesquisa;

• de contato com especialistas,' de maneira indi-vidual ou coletiva (através de conferências, semi-nários etc.), que costumam proporcionar o levan-tamento de novas questões;

• do estudo de literatura especializada, que podeindicar controvérsias e lacunas a serem preenchi-das;

• da criatividade, da descoberta repentina e algumasvezes casual de um problema a ser investigado.

Quando for escolher um tema de pesquisa, consi-dere que o tema a ser selecionado deve indicar a área deinteresse a ser investigada. No geral, a área de interessepode ser definida, primeiramente, pela sua vontade, pelasua motivação em fazer essa pesquisa. Na escolha da áreade interesse também é importante ser considerada a suacarreira e as exigências do curso. Em outros casos, a áreapode ser indicada pelo professor, apenas com a finali-dade de auxiliar o aluno no processo.

A tendência atual nos cursos de pós-graduação é ade que o aluno se engaje num grupo de pesquisa cujocoordenador seja um pesquisador experiente. As vanta-gens desse tipo de organização são muitas, uma delas é ade que possibilita o aprofundamento de um campo temá-ticó e, conseqüentemente, faz avançar o conhecimentonaquela área.

Se você está diante desse cenário, o ideal é que osseus interesses estejam em sintonia com as preocupaçõesde um grupo de pesquisa. Caso contrário, não é preciso sedesesperar. Espaços para projetos consistentes e criativostambém são conquistados.

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Mas uma coisa é fundamental: o seu interesse é ocritério mais precioso.

É importante destacar também que você deve consi-derar para a seleção de um tema a sua área de especiali-zação. O que isso significa? Significa que aconselho vocêa não escolher um tema sobre o qual não tenha nenhumaaproximação ou referência, pois isso poderá dificultar oumesmo impedir a execução do seu trabalho. O pesqui-sador deve ter uma certa familiaridade com o tema esco-lhido, pois isso tende a facilitar a busca pela bibliografiadisponível. Além disso, a familiarização com o tema podeproporcionar uma reflexão mais consistente.

Você também pode escolher um tema pelo desejo depreencher uma lacuna na sua formação profissional.Muitas vezes nos deparamos com temas e problemasimportantes na nossa prática profissional, que nãotivemos oportunidade de estudar com maior rigor.Embora exista aqui a dificuldade de não estar familia-rizado com o tema, a motivação pode ser um poderosoinstrumento de trabalho.

Mas, lembre-se:f

Na escolha de um tema de pesquisa, a opçãoideal é unir uma grande motivação com urna certafamiliaridade!

Os motivos que orientam a escolha de um tema nemsempre são "racionalizáveis", no sentido mais redu-cionista do termo. Certo dia ouvi o seguinte depoimentode um aluno do curso de pós-graduação em educação daUFSCar, Alberto Brunetta:

Tinha tudo para escolher um tema de Sociologia Rural.Fiz Ciências Sociais na graduação. Vim da roça, de famíliapobre, já cortei cana ...mas uma coisa me chamou a atenção,

Conversas sobre Iniciação à Pesquisa Científica 29

não saiu da minha cabeça. Foi uma cena que presenciei: umdia, numa escola de ensino noturno, vi policiais ficaremolhando para uma sala de aula como se os alunos fossembandidos. Eu estava naquela sala de aula como estagiário dePrática de Ensino. Vi aquela cena e fiquei pensando eupodia ser um daqueles alunos, fui aluno de curso noturno aspessoas só estavam estudando, estavam ali porque queriamaprender, não eram obrigadas a ficar ali. Não esqueci isso.Essa é a minha motivação maior para uma dissertação que euchamo de B.O. da educação: a visão dos políciais ...

Você consegue perceber o quanto tem de envol-vimento na construção do tema? Percebeu o quanto adimensão afetiva ofereceu os melhores contornos parapensar o objeto de estudo?

Os manuais de pesquisa incluem, como razões paraa escolha de um tema de pesquisa, o interesse pelo proble-ma 1/ em função de sua carreira", ou "a partir das exigências docurso", ou ainda" pelo desejo de preencher uma lacuna na suaformação profissional". Todas essas razões são legítimas emuito importantes. Entretanto, é preciso atentar paraelementos de outra natureza, que revelam uma sensibi-lidade, um envolvimento com o tema escolhido, comoindica Alberto Brunetta. Creio que a razão maior para aescolha de um tema está relacionada com esse envol-vimento: o pesquisador, de alguma forma, é seduzidopelo que vê.

Um aspecto relevante a ser considerado n stmomento é se o tema escolhido é exeqüível, isto, épossível de ser executado por você. Muitas vezes s .J geum tema interessantíssimo, mas que, diante da dispo-nibilidade do pesquisador, da amplitude do tema oumesmo das condições concretas que limitam princi-palmente o trabalho de pesquisadores iniciantes, não épossível de ser executado.

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Por exemplo: é muito interessante estudar as condi-ções de trabalho do professor leigo no interior do Pará.Mas se você quer fazer um trabalho de campo e mora noEstado de São Paulo, não tem bolsa de estudo para pro-porcionar uma viagem até lá, não possui contatos e nemmesmo tem informações além das referências oferecidaspela mídia, com certeza esse tema não é para você.

2. Primeira~ aproximaçõe~ ao temaVocê já' definiu o seu tema, que é muito amplo. O

passo seguinte é começar a se aproximar mais para desco-brir qual é o ponto exato que você pretende pesquisar.

Para determinar esse ponto é preciso conhecer umpouco o tema selecionado. De acordo com Richardon(1985), você pode utilizar dois processos para iniciar essatarefa.

O primeiro processo se realiza com a da atitude dopróprio pesquisador, que define o seu problema sem aparticipação dos sujeitos da pesquisa. Isto significa que opesquisador, conhecedor do tema, possuindo um domí-nio na área e uma larga experiência em pesquisa, levantaa priori o problema.

No segundo processo, o pesquisador" escuta" ossujeitos da pesquisa, que levantam os problemas. Nestaforma de delimitar o problema, o pesquisador reconheceque os sujeitos têm melhores condições de indicartemas/problemas relevantes. Mas preste atenção: "escu-tar" o outro não significa, necessariamente, estar fazendouma observação participante. "Escutar", aqui, tem o sen-tido de ter como foco elementos do cotidiano.

onversas sobre Iniciação à Pesquisa Científica 31

Ciente das suas opções iniciais, o passo seguinteserá o de realizar um levantamento de documentosíisporuveis, a fim de mapear as diferentes contribuições'xpressas em livros, periódicos, dentre outros.

Uma questão sempre se coloca nessa fase: devobuscar toda a literatura existente sobre o assunto ou devoIimitar-me ao material disponível?

Evidentemente que é impossível reunir toda a lite-ratura sobre um determinado assunto, mas, sem dúvida,, possível e imprescindível reunir as contribuições maisrelevantes sobre o tema selecionado. E esse esforço sem-pre indica ir ao encontro de materiais bibliográficos des-onhecidos, muitas vezes indicados pelo professor··

orientador.Esse aspecto deve ser ressaltado porque ainda

encontramos os seguintes casos:

• aquele aluno que pretende realizar uma mono-grafia sem consultar um único livro, porque acre-dita ser a sua experiência "absolutamente sufi-ciente para escrevê-Ia";

• aquele aluno que possui dois ou três livros e acre-dita que eles possam" dar conta de toda a mono-grafia, por isso não precisará fazer nenhum levan-tamento".

Desfazendo esses nós, você pode dispor de trêsprocedimentos: a pesquisa bibliográfica, a pesquisa docu-mental e os contatos diretos.

2.1. Pe~qui~adocumentalPara discutir a idéia de pesquisa documental é pre-

ciso esclarecer o que seja um documento. O documento é

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qualquer informação sob a forma de textos, imagens, sons,sinais etc., contida em um suporte material (papel, madeira,tecido, pedra), fixados por técnicas especiais como impres-são, gravação, pintura, incrustação etc. Quaisquer informa-ções orais (diálogo, exposições, aula, reportagens faladas)tornam-se documentos quando transcritas em suporte mate-rial (Chizzotti, 1991, p. 109).

Isto significa que, possivelmente, você deverásuperar aquela idéia de que documento é apenas o escritooficialmente, guardado nos arquivos governamentais. Anoção de documento corresponde a uma informaçãoorganizada sistematicamente, comunicada de diferentesmaneiras (oral, escrita, visual ou gestualmente) e regis-trada em material durável.

Assim, ao lado de comunicados à imprensa, livrosde recortes, artigos de jornal, registros individuais eprocessos, os materiais que os sujeitos escrevem por simesmos como autobiografias, diários e cartas pessoaistambém são documentos.

Apesquisa documental é muito próxima da pesqui-sa bibliográfica. O elemento diferenciador está na natu-reza das fontes: a pesquisa bibliográfica remete para ascontribuições de diferentes autores sobre um assunto ,atentando para fontes secundárias, enquanto a pesquisadocumental recorre a materiais que ainda não receberamtratamento analítico, ou seja, as fontes primárias.

Vamos comentar um pouco mais sobre a idéia defontes primárias e de fontes secundárias.

Entende-se por fontes primárias dados originais,produzidos pelas próprias pessoas que os coletaram.Esse tipo de fonte é caracterizada pela relação direta comos fatos a serem analisados: o sujeito faz um relato, obser-va uma fotografia, analisa uma gravação.

Conversas sobre Iniciação à Pesquisa Científica 33

Uma questão é fundamental nessa discussão: o quearacteriza a fonte primária é a proximidade da fonte comacontecimento, a relação mais próxima entre as pessoaso registro. Isto significa que, quando se trata de fonte

primária, interessa uma relação direta com o documento.No entanto, mesmo que se anuncie uma" exatidão",

um "retrato fiel" de um documento, como fazem algunsmanuais de pesquisa, é importante lembrar que tododocumento é produzido por alguém e para alguém, e,portanto, está na dependência de olhares. O esforço debuscar esse "retrato fiel" é, no mínimo, estressante, já quessa busca

não garante a veracidade e exatidão do registro em termosabsolutos. Qualquer pessoa que relata um acontecimento nãoo faz imparcialmente; apresenta a versão pessoal com suasdistorções conscientes ou inconscientes. Portanto, a fonte"primária" não se refere à exatidão ou veracidade do registro,mas à minimização de interferência entre o registro e o acon-tecimento (Richardson, 1985, p. 207).

Por sua vez, a compreensão de fontes secundáriasremete para aqueles "dados de segunda mão". Nesse caso,não se tem uma relação direta com o acontecimento regis-trado, mas sim com conhecimento através de elementosou de sujeitos mediadores. Vejamos um exemplo: umpesquisador que pretende escrever a biografia de PauloFreire. Para tanto, ele vai em busca de documentos pro-duzidos por outros pesquisadores que não conheceramPaulo Freire pessoalmente mas que fizeram entrevistascom amigos do educador. Tais entrevistas revelam dife-rentes olhares: dos amigos pessoais de Paulo Freire queforam entrevistados e dos pesquisadores que conduzi-ram as entrevistas.

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É importante sublinhar que as características dasfontes secundárias não diminuem a sua relevância. Aquestão é saber qual é o tipo de fonte adequada para seuproblema.

Lembre-se que a discussão sobre fontes, quer sejamprimárias, quer sejam secundárias, remete necessa-riamente para o olhar. Se isso já ficou claro quando setrata de fontes secundárias, que possuem diferentesmediadores para que a informação possa surgir, é precisoatentar também para essa idéia quando se trata de fontesprimárias. A observação de um acontecimento, o ânguloprivilegiado para fotografar, uma carta ou uma auto-biografia sempre carregam consigo a marca, a interpre-tação de um sujeito que é o seu produtor.

2.2. PeiQuiia bibliográficaA pesquisa bibliográfica é muito próxima da pes-

quisa documental. O elemento diferenciador está nanatureza das fontes. Nas palavras de Gil:

Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza funda-menta/mente das contribuições dos diversos autores sobreum determinado assunto, a pesquisa documental vale-se demateriais que não receberam ainda um tratamento analítico,ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com osobjetivos da pesquisa. (Gii, 1994, p. 73).

Caracteriza-se a pesquisa bibliográfica pela identi-ficação e análise dos dados escritos em livros, artigos derevistas, dentre outros. Sua finalidade é colocar o inves-tigador em contato com o que já se produziu a respeito doseu tema de pesquisa.

Conversas sobre Iniciação à Pesquisa Científica 35

A pesquisa bibliográfica é caracterizada pela utili-zação de fontes secundárias, ou seja, pela identificação eanálise dos dados escritos em livros, artigos de revistas,dentre outros. Sua finalidade é colocar o investigador emcontato com o que já se produziu a respeito do seu temade pesquisa.

Na pesquisa bibliográfica o pesquisador vai sedeparar com dois tipos de dados: aqueles que são ncon-trados em fontes de referência (dados populacionai ,eco-nómicos, históricos etc.) e aqueles dados especializadosem cada área do saber, indispensáveis para o des nvolvi-mento da sua pesquisa.

Em termos de síntese, Mann (1975,p. 66)apr sentaa distinção essencial, quando se trata da natur z dasfontes, a partir da "ocasião em que os documento foramescritos". O autor apresenta a seguinte classificaçã

~e(UndárioiPrimárioi

Contemporâneos ContemporâneosCompilados na ocasião pelo Transcritas de font 5 primá-autor (autos do tribunal, ata rias contemporâneas ( tu-oficial, contratos, cartas, fil- dos que recorrem a d u-me, censo, gravação). mentos originais ou traba-

lho de campo)."Eu estou escrevendo agora"

"Ele escreveu no momento"

RetrospectivosCompilados após o aconte-cimento, pelo autor (diáriopessoal, autobiografia, rela-tos).

RetrospectivosTranscritos por font s pri-márias retrospectivas (pes-quisa recorrendo a diários,autobiografias, relatos).

"Ele escreveu depois""Eu escrevi depois"

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Atente para uma questão: o 11 eu" do quadro deMann não se refere ao 11 eu-pesquisador", mas sim ao11 eu-autor", aquele que registra suas próprias impressõessobre um determinado fato, aquele que se autoriza aescrever histórias. O 11 ele" do quadro de Mann indica afigura do pesquisador que recorreu ao 11 eu-autor" paraescrever outras histórias, a partir do relato inicial.

É importante que o levantamento bibliográficoinicial seja discutido com o professor-orientador, quepoderá indicar a necessidade de ampliar e diversificar omaterial selecionado para o início do trabalho. Lembre-seque esse é um levantamento inicial. No decorrer dapesquisa, a reflexão geralmente indica novas necessi-dades de aprofundamento de questões inicialmente nãoprevistas.

2.~.(Ontatoi diretoiO esforço de levantar dados pode ser realizado

através de contatos diretos. Isto significa que o pesqui-sador deve conversar informalmente com pessoas quepodem fornecer dados ou sugerir possíveis fontes deinformações úteis.

~. fOrmai báiicai de organização do trabalho científico

Você já escolheu o tema que pretende pesquisar.Também já realizou um levantamento inicial dos mate-riais disponíveis sobre o assunto. Feito esse levanta-mento, você precisa conhecer melhor o material selecio-nado. E, certamente, cada material examinado indicaránovas fontes a serem pesquisadas.

Conversas sobre Iniciação à Pesquisa Científica 37

Essa fase é muito importante para a construção doeu projeto e também para a sua monografia. Quantas

vezes lemos um livro e depois de alguns dias vem aquelapergunta: onde foi mesmo que eu li isso? Qual é o autorque trabalha essa questão?

Para evitar esses e tantos outros problemas seme-lhantes, organize-se!

Após o levantamento inicial dos documentos, dabibliografia disponível e feitos contatos diretos, o passoseguinte é organizar o material através de fichamentos,resumos e resenhas. Selecionado o material, organizeuma base de dados ou um fichário de apontamentos.

Aos poucos, ao adquirir mais experiência, cadapesquisador define que tipo de organização é maisadequada para o seu campo de pesquisa e para a suaforma de trabalho.

A cada leitura, registre suas impressões sobre omaterial. Sugiro três formas de sistematização: o ficha-mento, o resumo e a resenha.

3-1. fichamentoVocêpode recorrer a dois tipos de fichamento para

organizar o seu material.O primeiro tipo de fichamento é o mais simples,

denominado de fichamento bibliográfico, e serve apenascomo um guia de busca: você seleciona o material e fazum registro numa ficha, incluindo dados bibliográficoscompletos do texto, número de registro na biblioteca (sefor o caso) e um resumo do seu conteúdo, feito apenas apartir do sumário. Quando se trata de revistas especia-lizadas, os artigos, no geral, são antecedidos de umresumo, que também deve ser anotado.

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Veja o seguinte exemplo:

Fi(ha Bibliográfi(aTítulo: _Autor(a): _ReferênciaBibliográfica: _Indicadopara, _

Referênciai Importantei / Anotaçõei

Podemos dizer que essa é uma fase de reconheci-mento, uma "pré-Ieitura" que permite uma primeiraaproximação do assunto a ser investigado. Nessa fase, opesquisador examina prefácios, introdução, conclusão,sumários etc. Esse tipo de fichamento é, na verdade, umguia bibliográfico para o aluno e tem como objetivos:

• Evitar pesquisas com a mesma abordagem (a não sernos casos de verificação ou confirmação;

• pesquisar se existem outras abordagens do proble-ma levantado e verificar como foi pesquisado, quaisos instrumentos (técnicas) utilizados e se há possibi-lidade de se aperfeiçoar técnicas já existentes;

• estabelecer uma visão global e crítica a respeito doproblema e das hipóteses levantadas para sua solução;

• iniciar (pré-seleção) o guia bibliográfico, indicando apossível bibliografia básica e a bibliografia comple-mentar para o estudo da temática proposta.

(Pádua, 1996, pp. 42-43).

o segundo tipo de fichamento é mais elaborado, équele que recorre à ficha de leitura.

Conversas sobre Iniciação à Pesquisa Científica 39

Recomendamos que a ficha de leitura seja organiza-da em três partes:

• o resumo das idéias do autor: apresentação porescrito da compreensão do texto, por tópicos, comvocabulário próprio;

• destaque de citações do autor: apresentação de algu-mas passagens do texto consideradas mais rele-vantes e que representem cada tópico anterior-mente destacado (não esquecendo de registrarsempre o número da página);

• interpretação do texto: reconstrução mais livre dotema abordado no texto, expressando um diálogocom o autor, incorporando ou questionando posi-ções assumidas.

Você pode organizar esse tipo de fichamento daseguinte forma:

ficha de leituraTítulo:Autor(a):Referênciabibliográfica:Indicadopara

Remmo

Citaçõei Importantei

Comentárioi

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É importante que o levantamento bibliográficoinicial seja discutido com o professor-orientador, quepoderá indicar a necessidade de ampliar e diversificar omaterial selecionado para o início do trabalho. Lembre-seque esse é um levantamento inicial. No decorrer dapesquisa, a reflexão geralmente indica novas necessi-dades de aprofundamentos de questões inicialmente nãoprevistas.

~.2.RemmoÉ muito comum, no meio acadêmico, a solicitação

de resumo de um livro ou artigo. De imediato, surgemdúvidas: alguns têm dificuldade de resumir, outros nãoconseguem discernir o que é o principal e o secundário-na dúvida escreve sobre tudo -, não compreende bem otexto e por aí vai...

O primeiro passo é saber o que é um resumo e comoresumir um texto.

O resumo é um pequeno texto que destaca as idéiasessenciais do texto-base, procurando guardar uma fide-lidade ao texto original. O resumo é, portanto, umaapresentação concisa e seletiva de um artigo, obra ououtro documento que põe em relevo aspectos de maiorinteresse e importância.

Destaco aqui três tipos de resumo:

• o resumo indicativo, que não dispensa a leitura dotexto completo, faz uma referência às partes maisimportantes do texto, descrevendo a natureza,forma e objetivo do texto-base, utilizando-se defrases curtas;

• o resumo informativo, que contém todas as informa-ções mais importantes apresentadas no texto-base

Conversas sobre Iniciação à Pesquisa Científica 41

e dispensa a leitura desse último, se for o caso. Oobjetivodesse tipo de resumo é informar oconteúdoe as principais idéias do autor contidas naqueletexto-base, destacando o objetivo do autor, a meto-dologia adotada e as conclusões obtidas. O resumoinformativo possui, no final, um conjunto de pala-vras-chave;

• o resumo crítico, que é um resumo informativo queformula um julgamento sobre o texto-base. Trata-remos neste livro do resumo crítico como resenha.

Qualquer que seja o tipo de resumo que você pre-tenda fazer, atente para as seguintes dicas:

• a primeira coisa que deve ser escrita no resumo é areferência bibliográfica do texto-base. Faça umcabeçalho e escreva a referência completa;

• procure ser fiel ao texto original, buscando repro-duzir as idéias do autor, mesmo quando vocêestiver usando as suas próprias palavras. Nunca édemais lembrar que, apesar dessa vigilância, todoleitor é um co-autor, já que a leitura não é um atopassivo. Portanto, tenha em mente que o que vainortear os destaques que você deverá fazer é, emúltima análise, a sua própria subjetividade;

• destaque a idéia principal do texto e os detalhesmais importantes. Preste atenção na estrutura dotexto, identificando idéias de conseqüências,adição, oposição, incorporação de novas questõese complementação do raciocínio. Atente para osexemplos oferecidos, geralmente eles compõemum detalhe importante;

• sublinhe. Lembre-se que você deve sublinharnuma segunda leitura, quando tem condições de

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examinar o capítulo, de pontuar as idéias maisimportantes. Não precisa sublinhar orações intei-ras, aprenda a sublinhar só os termos essenciais;

• organize um esquema lógico. Visualizar o textopode ajudar muito, facilitando uma consulta, aexplicitação da relação entre as partes, dentreoutros.

~l Re~enhaPedir para um aluno de graduação uma resenha é

um verdadeiro tormento! Explico: geralmente o profes-sor não diz exatamente do que se trata porque acreditaque o aluno já possui informações básicas necessárias;por sua vez, o aluno acha que resenha é isso ou aquilo(um colega disse isso, ele ouviu aquilo e por aí vai ...), nãoconsulta nenhuma fonte bibliográfica para esclarecero termo e nem pergunta ao professor. Na maioria dasvezes, entrega-se como resenha alguma coisa parecidacom um resumo.

Lembro-me bem do depoimento de algumas alunasde graduação do Curso de Terapia Ocupacional. Segun-do elas, já tinham feito muitas resenhas durante o curso.A partir do momento em que coloquei nas mãos delasalgumas resenhas de estilos bem variados, publicadas emrevistas especializadas de circulação nacional, uma alunaolhou para a colega que estava sentada ao lado e disseassustada: "Nossa! Você já fez alguma coisa parecidacom isso7".

A resposta foi um sonoro não!Então, vamos "voltar um pouco a fita" para enten-

dermos a importância da resenha. A rigor, esse tipo detrabalho tenderia a n'~oser qualificado como científico,já

Conversas sobre Iniciação à Pesquisa Científica 43

que sua característica principal é tida como de "extração"e não de "produção". No entanto, é praticamente umconsenso na comunidade científica a importância dessetipo de comunicação. Destaco aqui dois pontos regis-trados por Salomon (1991, p. 134), que identificam deforma precisa a importância da resenha:

• diante da enorme produção bibliográfica,as comu-nicações sucintas oferecem informações precisas,contribuindo para uma" atualização" das pessoasinteressadas no assunto;

• fazer uma resenha, para quem está iniciando nocampo da investigação científica, é muito impor-tante porque constitui um passo significativo naelaboração tanto de um projeto como de umamonografia, que impõe a condição, ao aluno, defazer sínteses e apreciações.

o termo resenha indica trabalho de síntese, umaanálise resumida de produções científicas ou não,podendo ser seguida de apreciação crítica.

Distinguimos dois tipos de resenha: a informativa(considerada também como resumo informativo) e acrítica (que contempla uma apreciação, um julgamentoexplícito).

A idéia de resenha crítica deve ser compreendida soba observância do seguinte alerta: a criticidade do trabalhoestá vinculada à maturidade e autonomia do autor daresenha; portanto, é bastante variável.

Mas o que significa fazer uma resenha crítica7O sentido atribuído é o seguinte: você deve elaborar

um julgamento sobre a obra. Para tanto, você pode fazerdois tipos de crítica:

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44 Elisa Pereira Gonsalves

• a crítica externa, que ressalta a importância da obrano seu contexto histórico, social, cultural e filo-sófico;

• a crítica interna, que se dedica ao exame do conteúdoda obra, julgando-o.

Mais uma vez eu digo: não existe uma receita. Maspara que você não se perca, sugiro um roteiro que con-templa alguns pontos importantes e que, geralmente, sãoabordados numa resenha:

• Referência bibliográfica: em algum lugar da resenhavocê deve registrar o(s) autor(es) do livro, o títuloe o subtítulo da obra e a referência completa, inclu-sive o número de páginas. Algumas pessoas colo-cam logo na primeira frase da resenha, outros cha-mam uma nota de rodapé. Não importa o lugar,mas esse é um dado indispensável.

• Credenciais do autor: é interessante oferecer aoleitor da resenha informações gerais sobre o autordo livro que você está resenhando, como tambémem que circunstâncias ele fez o estudo (quando,onde, por quê).

• Conteúdo da obra: aqui é o momento do resumo dasprincipais idéias da obra. Pergunte-se sobre o quediz a obra, se tem alguma característica especial, aforma pela qual foi abordado o tema, se exigeconhecimentos prévios para compreendê-Ia, queteoria serviu de referência, qual o método utili-zado.

• Conclusão dota) autoria): é importante registrar seo(a) autor(a) faz conclusão, se sim, em que mo-mento (no final do livro ou dos capítulos) e, final-mente, qual foi a conclusão.

Conversas sobre Iniciação à Pesquisa Científica 45

I1

I

I• Apreciação: esse é o momento mais trabalhoso, que

exige mais de quem está elaborando uma resenh~porque se refere ao julgamento da obra. Vocepode se perguntar sobre o.n:~rit0,9-a o~ra.(qual acontribuição dada, se as idéias sao cnatIvas, sedesenvolve novos conhecimentos, se propõe umaabordagem diferente), sobre o estilo (~la.ro,conciso, objetivo, coerente), sobre a forma (lógica.sistematizada, se há equilíbrio entre as partes, sehá originalidade), sobre o lugar d~ on~e fala oautor (onde se situa em relação as diferentescorrentes científicas, filosóficas). Nesse momento,também são feitas considerações sobre umapossível indicação da obra (é dirigi da a que pú-blico?).

Lembre-se que a resenha é um comentário d~ ~n:aobra, escrito em uma redação contínua e que a divisãoque fiz em cinco partes (referência bibliogr~fica, creden-ciais do autor, conteúdo da obra, conclusao do autor eapreciação) é apenas didática. ,

Quando for escrever uma resenha, observe tambemas "normas práticas" sugeridas porSalomon (1991,p.137):

• se o assunto a ser abordado estiver fora da suacompetência, é melhor optar por uma .resenhainformativa ou por deixar claro para o leitor essalimitação;

• ao ler o texto-base, aquele que você vai resenhar,faça anotações em núcleos do tipo "passagensprofundas", " pontos obscuros", "novidade",/I repetição";

• destaque com cuidado a tese central que o autorestá desenvolvendo. Acompanhe a sua argu-mentação. Essa apreciação tornará o seu jul-gamento mais denso e criterioso.

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Apesar de oferecer todas essas informações sobre oque é uma resenha, acredito que a melhor forma de seaproximar da idéia do que sejauma resenha é lendo uma.Existem ótimas revistas especializadas que trazemexcelentes resenhas. Lendo-as, você se dará conta dadiversidade de estilos e de formas de estruturar umtrabalho desse tipo.

Capítulo 11I

(omideraçõe~ em torno do objeto de pe~Qui~a

1. o jogo da ciência

A compreensão mais corrente entre os pesquisa-dores é a de que, na investigação científica, deve-sepercorrer um caminho que exija um esforço na desco-berta da /I coisaem si", que é o desconhecido. Isto significaque você deve partir das impressões primeiras sobre umdeterminado fenômeno e buscar conhecer o seu núcleo, asua essência.

Nesses termos, dois momentos podem ser destaca-dos no processo de conhecimento na investigação cientí-fica. O primeiro momento é o da aproximação imediataao fenômeno estudado, que é formada pelas impressõesque temos a partir do nosso cotidiano. Nesse terreno,estamos diante das /I formas fenomênicas da realidade",ou seja, estamos nos deparando com o que está diantedo nosso nariz: não precisamos fazer muito esforçopara enxergar. Esseé o mundo fenomênico, o mundo das

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aparências ou, como diz Kosik (1985), o mundo dapseudoconcreticidade.

Mas por que pseudoconcreticidade? Porque é o queparece mas não é. Você vê um fenômeno que não semostra por inteiro, revela-se parcialmente aos seus olhos,escondendo partes ou detalhes. O que está escondido écompreendido como a essência, o concreto, o que vocêprecisa descobrir.

Aí estaria o jogo da ciência: elucidar como oselementos fenomênicos e essenciais se relacionam,se interpenetram.

Na atualidade, diante da crise de paradigmas, algu-mas desconfianças estão sendo semeadas sobre o clássicoentendimento ocidental da relação aparência/ essência,que secundariza a imagem, o aparente.

É importante sublinhar que o mundo contempo-râneo tem sido cenário de mudanças na organizaçãosocial: das descobertas da microinformática ao genoma,passando pelas diversas e novas formas de convivênciasocial - que são expressões de uma socialidade queencarna uma emoção compartilhada e que orienta a von-tade individual - é possível enxergar elementos de umacultura nascente. '

O ritmo é acelerado. As imagens do cotidiano sãorápidas, quase "invisíveis",pois não exigemcompreensão.Parece que as imagens não têm tempo. E é justamentediante do sentimento de urgência, do domínio do instan-tâneo que convém uma abertura de espírito para com-preender o mundo lentamente.

A "estratégia da lentidão" remete para um vetorepistemológico que privilegie a apresentação do mundo,

Conversas sobre Iniciação à Pesquisa Científica 49

a emergência de uma atitu~e mais narrativa que des-creva, que emita paradoxos. E preciso cultivar, portanto,um" espírito contemplativo" para ouvir a música que estápara nascer.

Neste cenário, a observação do mundo não se prestaà conclusão, nem mesmo à mania classificatória própriado pensamento moderno. É preciso afirmar uma posturamais respeitosa com as múltiplas experiências da vidacotidiana, distanciada das noções afirmadas pela RazãoModerna.

É no interior desse debate que emerge um movi-mento instituinte que tende a modificar as regras da ciên-cia: a aparência não é um dado a ser ultrapassado: ela éconsiderada em si, já que, como disse Novalis "o exterioré um interior elevado a estado de mistério" .

É certo que algumas pessoas tendem a reagir às no-vas concepções com misoneísmo, isto é, com hostilidadeà inovação, à mudança. Por certo, é cômodo entrinchei-rar-se por trás de um método universal, desencarnado.

Mas é sempre bom lembrar da belíssima passagemde Hegel que afirma que a filosofia somente toma umaforma quando a realidade terminou o seu processo deformação: "não e senão no início do crepúsculo que a coruja deMinerva alça vôo". Pense nisso.

2. O referencial teóricoDefinindo o tema e organizando o levantamento

inicial, é necessário precisar mais o que você vai estudar,especificando melhor que aspecto do tema você pretendeprivilegiar na sua investigação. Esse é o momento daproblematização do tema e da sua delimitação.

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Problematizar um tema significa abrir um leque dequestões que possam colaborar para que o seu problemaseja definido, para que a sua hipótese possa emergir, paraque você possa situar o seu problema no interior de umdebate teórico.

É importante esclarecer que o caminho paraelaborar a problematização do tema começa a exigir maisdo que o levantamento bibliográfico inicial, impõe umaanálise sobre a literatura disponível sobre o tema. Atarefa aqui é a de, diante de vários estudos e interpre-tações, selecionar o seu campo de atuação, fazer o seurecorte. Isto significa que na problematização do temadeve estar contido o tão temido e pouco entendidoreferencial teórico.

Essa parte do projeto não é consensual entre ospesquisadores. Alguns adotam a postura de que a teo-rização deva emergir da análise dos dados, enquantooutros defendem a sua antecipação. Acredito que o olharjá sup?e um referencial. E o caso de explicitá-lo.

E importante ressaltar que a explicitação dasreferências teóricas não constitui uma 1/ camisa-de-força":é necessário estar atento aos dados, que são sempreconstruídos. A partir deles, novas categorias teóricaspodem surgir.

Nas palavras de Moura:a revisão da literatura é uma busca sistemática no sentido demapear o que se tem pesquisado na área. Não é uma fasediscreta, independente da pesquisa. A integração do materiallevantado deve permitir uma análise do que se tem deno-minado "o estado da questão" sobre um determinado tema ouproblema de pesquisa, revelando lacunas que justificam oestudo que se pretende fazer (Moura, 1998, p. 38).

Até aqui teremos uma primeira aproximação doque chamamos de objeto de estudo. É uma primeira apro-ximação porque o que ocorre nesse percurso é que no

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processo de investigação você descobrirá os contornosmais nítidos do objeto que você está pesquisando, e issopermitirá inclusões ou exclusões de determinadoselementos.

No projeto, você constrói, no máximo, uma in-dicação do objeto de estudo. A aproximação e a suaconstrução só é possível no interior do próprio processode investigação.

3. A delimitação da que~tãoA investigação científica começa como uma ques-

tão, que permite ao pesquisador lançar-se à procura denovas respostas. Formular uma questão tem aqui umduplo sentido: pode indicar uma indagação, um proble-ma a ser resolvido, como também pode indicar um temasujeito a estudo, um ponto que merece discussão.

A caracterização de uma questão é condição neces-sária para o bom desenvolvimento da pesquisa. Se vocêseleciona uma questão muito abrangente, torna a pes-quisa mais complexa, às vezes até mesmo inviável. Aocontrário, se você delimitar bem a sua questão, a con-dução da sua pesquisa será facilitada, os objetivos ficamclaros, a metodologia é indicada.

Não existe uma receita para construir uma situaçãoproblemática, da qual você extrairá a sua questão. Esse éum processo singular, que está na dependência da natu-reza do assunto a ser pesquisado e também do tipo depesquisa que se quer realizar.

Sob esse importante alerta, você pode considerar,como inspiração, os seguintes pontos:

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• identifique a situação problemática que pretendeestudar em seu contexto histórico, social e filosó-fico;

• examine os fatos que compõe a situação escolhidae as explicações já existentes sobre esses fatos.Nesse momento você estará iniciando um diálogocom os autores que se dedicam ao estudo daqueletema;

• através do diálogo estabelecido você registraráconcordâncias, discordâncias (entre os própriosautores que você selecionou e também de autorescom você) e lacunas a serem preenchidas. Sãojustamente essas lacunas que evidenciam o queainda precisa ser pesquisado;

• descubra a ótica sob a qual cada autor está falando,isto é, qual a sua tendência teórica. Isso permiteum vigor maior no diálogo, e a construção de ummapa dos diferentes olhares sobre a questão;

• para o diálogo ser mais denso, reflita sobre a perti-nência das relações estabelecidas entre os fatos eas explicações oferecidas pelos autores.

Organizada a situação problemática, você podedestacar o aspecto que pretende investigar, a sua questãoespecífica. Dentre os vários aspectos você deverá 'esco-lher um "pedaço", a parte que você quer estudar comprofundidade.

Formular a questão significa que você deve colocarde maneira clara, específica e operacional, qual é a difi-culdade que você pretende examinar.

Muitos autores sugerem que a questão deva ser for-mulada, explicitamente, como pergunta. Uma vantagemde escrever dessa maneira está em facilitar a identificaçãoda questão para o leitor, e também em tornar rápida asso-

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ciação com a hipótese e com os objetivos do projeto. Masformular /I o problema" como pergunta não é uma condi-ção obrigatória.

Lembre-se que a questão deve ser clara e precisa.Nem pense em escrever coisas do tipo" como funciona amente dos operários da construção civil, que possuem umadescrença sobre a escola como veículo de ascensão social?"

Já pensou na tarefa ainda impossível de desvendara mente do outro, que, para completar a missão, ainda setrata do conjunto dos operários da construção civil detoda a parte do mundo, já que também não está especi-ficado?

Outro aspecto importante é, portanto, o seguinte: o"problema" deve ter uma dimensão variável. Isso signi-fica que, se a sua primeira indagação é "os operários daconstrução civil possuem uma descrença sobre a escola como veí-culo de ascensão social?", você deverá ser mais preciso, jáque não conseguirá saber se todos os operários daconstrução pensam sobre o assunto. Tome cuidado edelimite bem o seu problema.

Lembre-se que, ao delimitar a questão, você deveráresponder também a uma série de indagações: a questão érelevante? Mesmo que seja um tema interessante, é ade-quado para mim? Tenho condições concretas para reali-zar esse estudo? Tenho fontes de consulta acessíveis e defácil manuseio? Existem recursos financeiros para o des-envolvimento da pesquisa? Terei tempo disponível parainvestigar essa questão?

Delimitado o tema, elaborada a sua problemati-zação e pontuada a questão, uma direção é tomada. Essadireção pode indicar possíveis "respostas", mesmo queprovisórias. É nesse momento que emerge o que chama-mos de hipótese.

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4. A elaboração da hipóweNo sentido etimológico, hipótese significa" o que

está suposto". Assim, a hipótese é uma" antecipação" doresultado da pesquisa, uma resposta possível à perguntaq~e você fez ~o elaborar o seu problema, que poderá (ounao) ser confirmada pela pesquisa.

. DAea~ordo com Gil (1994,pp. 60-66) podemos distin-gUIr tres trpos de hipóteses: as casuísticas (que afirmamque um objeto, uma pessoa ou um fato têm determinadac~racterístic.a); ~s que se referem à freqüência de aconte-CImentos (indicam se determinadas característicasocorrem com maior ou menor intensidade); e as queesta~e~ece~ relações entre variáveis (que permitem aclassificação em duas ou mais categorias, como; porexemplo, sexo, classe social).

Como voc~ pode perceber, a não é uma respostaqualquer, alucinada, estabelecida sem critérios. Aoelaborar, a ~ua hipótese, observe se ela possui as seguintescaracterísticas: se é plausível, consistente, específica,~lara, explicativa e simples. Se a sua pergunta é "os operá-nos da construção civil, que trabalham na empresa X, na cidade Y,possuem uma descrença sobre a escola como veículo de ascensãosocial?", a sua hipótese pode ser colocada da seguintemaneira: "Há evidências de que os operários da construção civil,que trabalham na empresa X, na cidade Y, possuem uma descrençasobre a escola como veículo de ascensão social".

E, lembre-se:

Vo.cê não é obrigado a justificar a sua hipótese.O enunciado da hipótese é uma expressão da livreescolha, que mistura intuição, bom senso, experiênciae competência. .

Conversas sobre Iniciação à Pesquisa Científica 55

A hipótese é a sua explicação, a sua resposta àpergunta, ao problema que você formulou. Ela tem comocaracterística ser um enunciado conjetural, isto é, sem umfundamento preciso. A hipótese é, portanto, uma supo-sição, uma opinião.

É comum entender a hipótese como uma respostaprovisória. Mas lembre-se: a todo instante é necessáriosuspeitar dessa resposta. O caminho da investigaçãocientífica indica pontos desconhecidos ou, pelo menos,parcialmente conhecidos. De posse de novos elementos,você pode afirmar, complementar ou mesmo contradizera sua resposta provisória.

É comum encontrarmos em pesquisadores ini-ciantes aquele desejo quase incontrolável de quererprovar que a sua hipótese está certa. Se você tem aresposta, não precisa pesquisar. A ciência está alicerçadana dúvida e não na certeza.

Muitas vezes a hipótese é compreendida como umaherança positivista. Concordamos com Minayo, de que sepode relativizar o parâmetro objetivista do positivismo e

encarar a formulação de hipóteses como uma tentativa decriar indagações a serem verificadas na investigação. Por-tanto, consideramos que este item pode ser substituído ouencarado como uma formulação de pressupostos ou dequestões. Enfim, como um diálogo que se estabelece entre oolhar do pesquisador e a realidade a ser investigada. São, emsuma, afirmações provisórias a respeito de determinadoproblema em estudo (Minayo, 1996, p. 40).

Ao formular a sua hipótese, lembre-se que os con-ceitos expressos devem ser claros e específicos. Alémdisso, a hipótese não deve se basear em valores morais",indicando o que é "bom", o que é "prejudicial", dentreoutros.

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5. O~objetivo~ da pe~Qui~a

É importante registrar agora o que se pretende coma investigação, que metas você pretende alcançar aoterminar a pesquisa. É o momento de definir os objetivosda pesquisa.

Preste atenção:

o objetivo é o que você pretende atingir com asua pesquisa e não o que você vai fazer para atingi-Ia!

Dentro de um projeto de pesquisa, os objetivosservem para dar a direção da ação do pesquisador e paradefinir a natureza do trabalho. Ao estabelecer objetivos,você estará, mais uma vez, evidenciando o seu problema.Assim, uma maneira prática e eficiente de organizar o seuobjetivo é revisitar o seu problema.

Lembre-se que, além de indicar a natureza do seuproblema, os objetivos oferecem indicações sobre aescolha do seu percurso metodológico, pois norteiam aescolha dos métodos e das técnicas de pesquisa.

Podemos esperar, portanto, uma coerência entre adelimitação da questão, a determinação dos objetivos e aescolha da metodologia. Atente para essa questão e redijaos objetivos do seu projeto de pesquisa buscando aumen-tar a probabilidade de coerência entre as partes do seuprojeto.

Os objetivos devem ser reais e atingíveis, isto é,representam de fato a execução das atividades, manifes-tando-se de forma concreta e possível dentro do tempodisponível.

No geral, os objetivos são iniciados por um verbo noinfinitivo. Sem dúvida que estamos cansados de fórrnu-

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Ias e de receitas. No entanto, é muito mais fácil criar umnovo bolo quando se tem uma boa noção do "bolo davovó". Nesses termos, recorro à seguinte classificação deSantos (1999)sobre verbos específicos,a partir de estágioscognitivos que possibilitam atividades intelectuais:

Estágio de conhecimento - Se expressa em verboscomo apontar, citar, classificar, conhecer, definir, descrever,identificar, reconhecer, relatar.

Estágio de compreensão - Em verbos como compre-ender, concluir, deduzir, demonstrar, determinar, diferenciar,discutir, interpretar, localizar, reafirmar.

Estágio de aplicação - Em verbos como aplicar,desenvolver, empregar, estruturar, operar, organizar, praticar,selecionar, traçar.

Estágio de análise - Em verbos como analisar,comparar, criticar, debater, diferenciar, discriminar, examinar,investigar, provar.

Estágio de síntese - Em verbos como compor,construir, documentar, especificar, esquematizar, formular,produzir, propor, reunir, sintetizar.

Estágio de avaliação - Em verbos como argumentar,avaliar, contrastar, decidir, escolher, estimar,julgar, medir, se-lecionar.

(Santos, 1999, pp.61-62).

Podemos distinguir os objetivos da pesquisa emobjetivos gerais e objetivos específicos:

• os objetivos gerais definem o que se p~etende alcan-çar com a realização da pesquisa. E um objetivomais amplo, a questão principal da pesquisa.

• os objetivos especificos são considerados objetivossecundários, estão relacionados à questão princi-pal e definem aspectos mais específicos, quecontribuem para alcançar o objetivo geral.

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Para compreender melhor como organizar os seus obje-tivos, vejamos um exemplo oferecido por Santos (1999).

Vamos supor que o seu objetivo geral seja o de"analisar se o limão é eficaz no combate aos resfriados". Comovocê já fez uma revisão bibliográfica inicial, tem algumaspistas de elementos que podem ajudar a resolver oproblema. Por exemplo, você já sabe que alguns aspectossão importantes nessa pesquisa, como "o vírus do res-friado", "os componentes químicos do limão", "as reações dovírus do resfriado aos componentes químicos do limão". Essa éa fase denominada "levantamento dos aspectos componentesimportantes do problema" (Santos, 1999, p. 64).

Feito isso, você passará para a segunda fase, que é atransformação de cada um dos aspectos escolhidos em umobjetivo, colocando um verbo no início do enunciado queindique a atividade que você pretende realizar. Exemplo:"examinar o vírus do resfriado", "identificar os compo-nentes químicos do limão" .

A partir daí, duas tarefas estão postas. A primeira éa de "verificar a suficiência dos objetivos específicos propos-tos", isto é, você deve se perguntar se o conjunto dosobjetivos que você definiu é suficiente para que vocêatinja o objetivo geral. A segunda tarefa é a de "decidirsobre a melhor seqüência lógica", ou seja, você deve ter ocuidado de estabelecer quais os assuntos que precedem aoutros (Santos, 1999, p. 65).

b. A ju~tifi(ativa

Depois de ter delimitado a questão de estudo, cabeindagar sobre a sua relevância. É o momento de organi-zar a justificativa, considerando os seguintes aspectos: Porque escolhi esse tema? O tema que escolhi é importante?

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Que motivos o justificam, nos planos teórico e prático?Qual é a relação do tema ej ou do problema formuladocom o contexto social? Que contribuição posso oferecercom esse estudo e, se for o caso, quais os aspectos inova-dores do trabalho?

Justificar um tema é evidenciar razões suficien-tes para que haja o desenvolvimento da pesquisa. Istosignifica que você deve apresentar bons e convin-centes motivos para empreender o seu esforço deinvestigação.

Não existe um padrão para escrever a justificativa.Sob esse alerta, Richardson (1985) indica os seguintespontos que podem ser contemplados:

1. Modo como foi escolhido o tema para ser pesquisadoe como surgiu o problema levantado para o estudo.

2. Apresentação das razões em defesa do estudo reali-zado.

3. Relação do tema e/ou do problema estudado com ocontexto social.

4. Explicação dos motivos que justificam a pesquisanos planos teórico e prático, considerando as possíveis contri-buições do estudo para o conhecimento humano e para asolução do problema em questão.

5. Fundamentação da viabilidade da execução propos-ta de estudo.

6. Referências aos possíveis aspectos inovativos dotrabalho( ...)

7. Considerações sobre a escolha do(s) local(is) queserá(ão) pesquisado(s). Relatar se a pesquisa será realizadaem nível local, regional, nacional ou internacional.

(Richardson, 1985, p.20)

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Lembre-se que a justificativa não é outra revisãobibliográfica. No geral, ela não apresenta citações deoutros autores. Apesar de tratar de razões de ordemteórica, seu objetivo não é o de registrar todo o referencialteórico adotado mas, sim, de sublinhar a importânciadaquela investigação no debate teórico.

Capítulo IV

E~colhendo o percuno metodológico

o percurso metodológico se refere ao caminho tri-lhado para que você atinja os objetivos que definiu. Aquivocê também deverá explicitar os instrumentos que utili-zará na investigação e as fontes de pesquisa.

Uma concepção muito difundida - e extremamentereducionista - é aquela que associa metodologia a umconjunto de técnicas e de procedimentos para a coleta dedados empíricos. Neste sentido, metodologia significa ocaminho a ser percorrido.

No entanto, a questão metodológica ébem mais am-pla e indica um processo de construção, um movimentoque o pensamento humano realiza para compreender arealidade social.

Isso significa que, ao registrar o seu percurso meto-dológico, você estará evidenciando a sua postura episte-mológica enquanto pesquisador, ou seja, você deixarápistas de como está concebendo a relação sujeito-objetodo conhecimento.

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62 Elisa Pereira Gonsalves

Méthodos significa o caminho para chegar a um fim,enquanto logos indica estudo sistemático, investigação.Assim, no sentido etimológico, metodologia significa oestudo dos caminhos a serem seguidos, incluindo aí osprocedimentos escolhidos.

Entendida como o caminho e o instrumentalpróprios para abordar aspectos do real, a metodologiainclui concepções teóricas, técnicas de pesquisa e acriatividade do pesquisador.

Incluir concepções teóricas na metodologia nãosignifica que você deverá fazer outra revisão bibliográ-fica. O que está sendo colocado é que a escolha do métodoremete para uma posição teórica (positivista, estrutura-lista, dialética, fenomenológica, dentre outras) e que deveser explicitada.

Não se trata de elaborar um discurso, por exem-plo, sobre o que é fenomenologia, quando surgiu, quaisas principais contribuições etc. etc. Não é um discursosobre o método. Trata-se de evidenciar como você está seaproximando do seu objeto de estudo, como você pre-te;nde abordá-lo. Essa aproximação já deve ter sido feitaquando você elaborou o seu "problema". Trata-se ago-ra de nomeá-Ia.

Ná parte do projeto que cabe à metodologia vocêdeverá explicitar os procedimentos que pretende utilizarna produção dos dados (entrevista, questionário, dentreoutros). Mas não basta uma frase em que você afirma:/I como instrumento utilizarei a entrevista serni-estrutu-rada". Você deve deixar claro por que aquele - e nãooutro - procedimento foi escolhido, por que ele é maisadequado. Além disso, cada procedimento tem suasvariações - por exemplo, uma entrevista pode ser estru-

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turada, semi-estruturada OU não-estruturada - e vocêdeve esclarecer a sua opção. Quando possível, recomen-da-se que seja apresentado o seu roteiro de entrevista ou aprimeira versão do questionário a ser aplicado, quandofor o caso.

A metodologia inclui também a criatividade e a ex-periência do pesquisador. A partir deste entendimento,pesquisadores, de posse de elementos próprios do campoda investigação social, têm o poder de criar o seu própriocaminho e, ao narrarem os seus percursos, poderãoevidenciar o método como aquilo que se construiu aocaminhar. Como você deve ter percebido, esse é o pedaçoda metodologia que faz parte de todo o caminho trilhadomas que, evidentemente, só poderá ser escrito no relató-rio da sua pesquisa, já que não se pode antecipar os pro-dutos de um caminho criativo.

Assim, a criatividade é um poderoso elemento doprocesso de pesquisa, que está posto desde o seu início eque não pode ser definido a priori, pois está na depen-dência do processo de investigação.

Se a criatividade faz parte do processo de investi:"gação, como colocá-Ia em movimento?

As possibilidades são muitas, mas destaco aqui aintuição, que não se identifica apenas como uma quali-dade psicológica: a intuição é oriunda de um tipo de sedi-mentação da experiência, ela exprime o que Maffesolidenomina de /I saber incorporado".

Essa intuição, reveladora de uma sensibilidade inte-lectual, pode ser um ato de conhecimento.

Após tecer considerações metodológicas, você devedistinguir, de forma mais específica, a direção do seuolhar. Sugerimos que você contemple os seguintes pon-tos: tipo de pesquisa, sujeitos da pesquisa, espaço da pes-quisa, coleta de dados, análise dos dados (de que nãotrataremos nesse livro) e cronograma.

Vejamos cada um desses pontos.

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1. Tipo~de pe~qui~a

Se você quer arrumar uma confusão, perguntepara um estudante que tipo de pesquisa ele pretendefazer. Eu já ouvi diálogos interessantíssimos, como oseguinte:

• Que tipo de pesquisa você vai fazer?• Vou fazer uma pesquisa descritiva.• Ah, legal. É um estudo de caso?• Não, é uma pesquisa descritiva.• Tudo bem, já entendi. É uma pesquisa qualitativa ou

quantitativa?• Eu já falei que é uma pesquisa descritiva. Haja

paciência ...

Haja paciênciamesmo para tanta confusão na cabeçadonossoamigo,quesódefinea suapesquisacomodescritiva!

No geral, existe um desconhecimento entre os alu-nos sobre como se pode classificar um tipo de pesquisa.Vamos ver se conseguimos esclarecer um pouco.

Podemos classificar as pesquisas segundo diferen-tes critérios: segundo seus objetivos, segundo seus proce-dimentos de coleta, segundo suas fontes de informação eainda segundo a natureza dos seus dados. Vejamos oquadro abaixo:

Tipos de pesquisas Tipos de pesquisas Tipos de pesquisas Tipos de pesquisassegundo os segundo os prece- segundo as fontes segundo a naturezaobjetivos dimentos de coleta de informação dos dados

• Exploratória • Experimento • Campo • Quantitativa• Descritiva • levantamento • laboratório • Qualitativa• Experimental • Estudo de caso • Bibliográfica• Explicativa • Bibliográfica • Documental

• Documental• Particioativa

Conversas sobre Iniciação à Pesquisa Científica 65

1.1. Tipo~de pe~qui~a~egundoo~objetivo~Classificar tipos de pesquisa segundo os objetivos

significa indagar sobre as suas metas, as suas finalidades,sobre o tipo de resultado esperado: alguns são maisconceituais, outros mais descritivos etc. Considerandocomo critério o objetivo a ser alcançado, podem-se regis-trar cinco tipos de pesquisa, que não são necessariamenteexcludentes: a exploratória, a descritiva, a experimental ea explicativa.

A pesquisa exploratória é aquela que se caracterizapelo desenvolvimento e esclarecimento de idéias, comobjetivo de oferecer uma visão panorâmica, uma pri-meira aproximação a um determinado fenômeno que épouco explorado. Esse tipo de pesquisa também édenominada "pesquisa de base", pois oferece dadoselementares que dão suporte para a realização de estudosmais aprofundados sobre o tema.

A pesquisa descritiva objetiva escrever as caracterís-ticas de um objetode estudo. Dentre esse tipo de pesquisaestão as que atualizam as características de um gruposocial, nível de atendimento do sistema educacional,como também aquelas que pretendem descobrir aexistência de relações' entre variáveis. Nesse caso, apesquisa não está interessada no porquê, nas fontes dofenômeno; preocupa-se em apresentar suas caracte-rísticas.

É muito comum encontrar uma certa resistênciaquando se trata de pesquisa descritiva. A primeiradesconfiança aparece com a seguinte pergunta: "Sódescreve? Isso é muito pouco, não descobre as origens,et... é uma pesquisa que deve ser descartada.". Prestebem atenção: o tipo de pesquisa está na dependência doseu problema. Se o seu problema pede um tipo de

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pesquisa X ou Y, você deve atendê-Io, sob pena de nãoatingir o objetivo proposto.

Além disso, lembre-se da nossa conversa sobre o"simulacro": descrever o jogo da imagem não é tarefasimples, sobretudo porque exige a descoberta de umadinâmica própria e singular, afastando discursos gerais ecirculares, que cabem em qualquer fenômeno. Buscam-seaqui as razões que existem nas coisas.

Lembro-me de um estudo no qual o autor pretendiademonstrar como grupos populares se apropriavam ereelaboravam o saber da ciência médica, enriquecendo-o.O estilo descritivo poderia cansar muitos leitores desa-visados, mas permitiu claramente a visualização desseprocesso de ressignificação por parte dos pobres. Como oobjetivo da pesquisa estava relacionado com a explici-tação desse movimento de apropriaçãojreelaboraçãopor parte dos grupos populares, eleger o tipo de pesquisadescritiva foi a opção mais acertada.

Por sua vez, a pesquisa experimental é aquela que serefere a um fenômeno que é reproduzido de formacontrolada, submetendo os fatos à experimentação (veri-ficação), buscando, a partir daí, evidenciar as relaçõesentre os fatos e as teorias. Herança do positivismo socio-lógico, esse tipo de pesquisa exige sua observação siste-mática dos resultados para estabelecer correlações entreos efeitos e suas causas.

A pesquisa explicativa pretende identificar os fatoresque contribuem para ocorrência e o desenvolvimento deum determinado fenômeno. Buscam-se aqui as fontes, asrazões das coisas. Note bem: no geral, a pesquisa expli-cativa convive muito bem com os tipos de pesquisacolocados anteriormente.

Conversas sobre Iniciação à Pesquisa Científica 67

11. Tipo~de pe~qui~a~egundoo~pro(edimento~de coletaNesse caso, o critério para classificar a pesquisa é

o tipo de procedimento metodológico utilizado. A~uipodem ser contemplados os seguintes tipos de ~es~UIs~:experimento, levantamento, estudo de caso, bibliográ-fica, documental e participativa. .

Denomina-se pesquisa de campo o tipo de pesqUIsaque pretende buscar a informa~ão diretament: com apopulação pesquisada. A pesqUIsa de campo. e a~uelaque exige do pesquisador um. en~ontro mars direto.Nesse caso, o pesquisador precIsa Ir ao espaço onde ofenômeno ocorre - ou ocorreu - e reunir um conjunto deinformações a serem documentadas. Muitas pesquisasutilizam esse procedimento, sobretudo aquelas quepossuem um caráter exploratório o,: descriti~o: .

Estudo de caso é o tipo de pesqUIsa que privilegia umcaso particular, uma unidade significativa, /c~nsideradasuficiente para análise de um fenômeno. E Importantedestacar que, no geral, o estudo de caso, ao realizar umexame minucioso de uma experiência, objetiva colaborarna tomada de decisões sobre o problema estudado, indi-cando as possibilidades para sua modific~ç~o ..

Compreende-se como pesquisa partlclpatlV~, nestetrabalho, os tipos de pesquisa que propõem a efetiva par-ticipação da população pesquisada no processo de gera-ção de conhecimento, que é considerado um processo ~or-mativo. Nessa modalidade estão incluídas pesqUIsasparticipantes, a investigação-ação e a sociopoética.

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1J Tipo~de pe~Qui~a~egundoa~fonte~de informaçãoNessa classificação, os tipos de pesquisa são agru-

pados segundo a natureza das fontes utilizadas. No geral,são contemplados quatro tipos de pesquisa, que já trata-mos anteriormente: de campo, experimental, bibliográ-fica e documental.

1.4. Tipo~de pe~Qui~a~egundoa natureza do~dado~Durante muito tempo, autores trataram os tipos de

pesquisa quantitativa e qualitativa como paradigmas. Deum lado, a pesquisa quantitativa remeteu para uma expla-nação das causas, por meio de medidas objetivas, testandohipóteses, utilizando-se basicamente da estatística.Nesses termos, transformou-se a vida social em números.

Por sua vez, a pesquisa qualitativa preocupou-se coma compreensão, com a interpretação do fenômeno, consi-derando o significado que os outros dão às suas práticas, oque impõe ao pesquisador uma abordagem hermenêutica.

Atualmente, coloc,a-se como necessidade a supe-ração desse dualismo. E necessário distinguir níveis deintensidades presentes em cada pesquisa quando se tratada natureza dos dados. Cabe ao pesquisador corrigirdesequilíbrios, esforçar-se para ampliar o conjunto demateriais disponíveis para dar conta de um entendi-mento amplo sobre o seu problema.

Nessa perspectiva, não se trata de fazer uma1/ salada epistemológica", trata-se de pontuar, com muitaclareza, que utilizar um dado quantitativo não significanecessariamente mergulhar nos pressupostos teóricos dopositivismo. Assim como a utilização de um dado quali-tativo não indica que você estará mergulhando em pes-quisas de caráter etnográfico, que remontam às origensda abordagem qualitativa.

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2. O~mjeito~ da pe~Qui~a

Neste item você deverá explicitar a sua popu-lação-alvo e, se for o caso, indicar a amostra, justificandoos critérios adotados e as suas características.

Alguns alunos perguntam: a população que preten-do estudar é sujeito da pesquisa ou é objeto da minha pes-quisa?

Questões como essa evidenciam o quanto o espíritopositivista ainda se faz presente no meio acadêmico. Pormuito tempo, esse espírito impediu o devido reconhe-cimento do papel do sujeito - aquele que entrevistamos,por exemplo -, no processo de investigação científica. Osujeito ficou reduzido a uma coisa, a um objeto de conhe-cimento.

Coloco para você uma questão que é anterior: quaissão as razões ocultas para destituir das pessoas a condi-ção de sujeitos, de atores e autores das relações que esta-belecem umas com as outras?

Se você responder à questão acima, possivelmenteterá compreendido que o objeto da sua pesquisa é otema/ questão que você elegeu para a sua investigação.Os 1/ sujeitos da pesquisa" se referem ao universo popula-cional que você privilegiará, as pessoas que fazem partedo fenômeno que você pretende desvelar.

No processo de investigação social, você estará sedeparando, portanto, com dois tipos de sujeitos: o sujeitoinvestigador e o sujeito investigado, este último imersoem uma situação-problema que é objeto de investigaçãodo primeiro.

Está cada vez mais evidente que, num processo depesquisa, o investigador interage com o sujeito e é dessa

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interação que os dados são produzidos. Nessa perspec-tiva, descobre-se o sujeito-investigado como sujeitoprodutor de realidade e de conhecimento.

A realidade investigada seria, portanto, construídapela interação entre os sujeitos, pelas trocas que conferemsignificados às mutantes configurações sociais.

~. Oe~paçoda pe~Qui~a

,.

Possivelmente, a primeira impressão que você podeter tido ao ler" espaço da pesquisa" é a de que, aqui, vocêdeverá registrar o lugar, a cidade, o bairro onde será reali-zada a pesquisa.

Este ponto precisa de uma equação melhor. É neces-sário refletir um pouco mais sobre a noção de espaço e delocal da pesquisa.

Lembro-me de um projeto de dissertação demestrado da PUC-SP, sobre a prostituição sob o olharde adolescentes prostituídas. A mestranda optou porconhecer a história. de vida daquelas adolescentes quevivem em São Vicente. A questão que coloquei para elafoi a seguinte: a história de vida das meninas, possivel-mente, remeteria para muitos locais, muitos municípiosonde nasceram, por onde andaram, onde e com quem serelacionaram ... nesse sentido, quais seriam os elementosestruturantes, que conferem uma identidade ao local? Éapenas o aspecto geográfico?

Isso coloca em outro patamar a discussão poisextrapola a noção de lugar geograficamente delimitado.Ela não estava fazendo um trabalho sobre a históriadaquele município; ela estava querendo conhecer a

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história daquelas meninas, que ajudavam a construir ahistória daquele município e de tantos outros, por ondetinham passado, por onde tinham se relacionado dealguma maneira. . .

Ora, o "lugar" é o familiar, o concreto, o delimitado.A noção de "lugar" indica o ponto de práticas sociaisespecíficas que são dominadas pela presença.

No entanto, a dinâmica social atual tende a separar,cada vez mais, o "espaço" do "lugar": o espaço remetepara relações entre outros que estão ausentes, distar:tesem termos do lugar. A noção de espaço contempla muitoslocais. Assim, o espaço transcende o objeto geográfico -São Vicente é uma paisagem e um pretexto.

N as palavras de Giddens (1990)O que estrutura o local não é simplesmente aquilo que

está presente na cena; a 'forma visível' do local oculta asrelações distanciadas que determinam sua natureza.(Giddens, 1990, p.18).

4. A produção do~dado~

É muito comum encontrarmos nos projetos de pes-quisa o momento da "coleta de dados" .Vamos conversarum pouco sobre isso.

Pense um pouco no que significa" coletar" dados. Odado estaria ali, pronto. Caberia ao pesquisador o únicoesforço de buscá-lo. Será isso mesmo?

Este é o momento em que você deverá indicar osinstrumentos a serem utilizados na pesquisa. A indicaçãonão deve ser entendida com uma simples citação do tipo"pretendo utilizar o questionário". É importante deixar

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claro os critérios de escolha do instrumento assim comoque informações você pretende obter a partir da utili-zação deles. É interessante destacar também como seráaplicado o instrumento escolhido.

Nesta etapa você deverá ter o recurso metodológicomais adequado para a sua investigação e até mesmo fazeruma combinação entre dois ou mais recursos.

Lembre-se que estamos no campo da ciência, quetem suas regras! Evidentemente que a ciência também éconstituída da criação, de elementos inovadores. Mas oavanço só pode ser realizado apartir do conhecimento doque lhe é anterior: o novo surge do velho.

5. Cronograma

Após a escolha do caminho a ser percorrido, éimportante que você delimite o tempo que será utilizadopara fazer a pesquisa, épreciso organizar um cronograma.

Com base no cronograma, você poderá organizar otempo disponível para cada parte da investigação, deforma seqüencial e de acordo com as etapas de realizaçãoda pesquisa. Lembre-se também que o cronograma devecontemplar tanto o seu efetivo tempo disponível pararealizar a pesquisa como o prazo legal que você dispõepara concluir o curso.

Sugerimos que no cronograma sejam contempladasas seguintes fases:

• revisão bibliográfica;• elaboração dos instrumentos de pesquisa;• coleta de dados;

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• análise do material coletado;• preparação do relatório da pesquisa;• redação do trabalho final.

A forma mais comum de se apresentar o crono-grama é por meio do gráfico em que são cruzado~ asatividades da investigação e o tempo, como o segumteexemplo:

Atividade/Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul

1. Revisão bibliográfica i». ,"

'!:,

2. Elaboração dos instrumentos de pesquisa

3. Coleta de dados 1< ,,,4. Análise do material coletado ,5. Preparação do relatório de pesquisa

6. Redação do trabalho final I,·,:, I,~ ' :;r

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Encerrando a no~~aconvena

A questão de pesquisa consiste em uma criação,uma interpretação às situações. Muitos afirmam, certa-mente, que a alma de um bom projeto é a elaboração deuma boa pergunta.

Talvez a palavra problema não dê conta de significartodas as questões que estão postas no processo de inves-tigação social. Um dos motivos é que nem sempre asperguntas que formulamos - ou que nos são formuladas- realmente são aceitas por nós. Como diz HumbertoMaturana: "Aceitar uma pergunta significa mergulhar-se naprocura de sua resposta".

E todo mergulho exige inteireza.Por outro lado, é preciso romper com a idéia de

ciência como "prática da suspeição", como "busca dooculto". Há de se resgatar "uma sabedoria de vida querepouse sobre a consideração do sensível, da aparência,daquilo que convida a ser visto; de certo modo, um pen-samento da forma" (Maffesoli, 1998,p.115).

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Ao final desta leitura espero que você tenha encon-trado pistas que lhe permitam dar os primeiros passos nocaminho da investigação científica. Ainda há muito paraser dito, ainda há muito para ser aprofundado.

No entanto, possibilitar a realização desse diálogo,espero que você tenha se deparado com novas exigências,com novas questões que remetam você para novasleituras. Ao criar novas dificuldades, novos mistérios aserem desvelados você estará atento para a sua formação,para a sua forma de aprender.

Encerro a nossa conversa com a sensação de que aforma de expor também indica o desejo de acolhimento. Estetalvez seja o elemento mais forte e presente no livro.

Encerro também, com a esperança de que, aospoucos, você adquira uma postura que contemple aincerteza, que é condição para o acolhimento de novasperguntas e que também é a passagem que permite darvisibilidade aos erros:

Mas então, ousei comentar, estais ainda longe dasolução ...

o Estou pertíssimo, disse Guillaume, mas não sei dequal.

o Então não tendes uma única resposta para vossasperguntas?

o Adso, se a tivesse ensinaria teologia em Paris.o Em Paris eles têm sempre a resposta verdadeira?o Nunca, disse Guillaume, mas são muitos seguros de

seus erros.

Umberto Eco - O Nome da Rosa

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Elisa Pereira Gonsalves

Licenciada em Pedagogia,especialização em Pesquisa Educa-cional e Mestre em Educação pelaUniversidade Federal da Paraíba -UFPB. Doutora em Educação pelaUniversidade Metodista de Piracicaba -UNIMEP.

Atualmente, é professora adjun-ta do Departamento de Educação daUniversidade Federal de São Caríos -UFSCar, atuando na graduação e noprograma de pós-graduação emEducação.

Participa do Grupo de TrabalhoEducação Popular da Associação Na-cional de Pesquisa e Pós-Graduaçãoem Educação - ANPEd e da diretoria daAssociação Nacional de Política eAdministração da Educação - ANPAE,Seção São Paulo.