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OPINIÃO SALVADOR SEGUNDA-FEIRA 9/1/2017 A2 opiniao @grupoatarde.com.br Os artigos assinados publicados nas páginas A2 e A3 não expressam necessariamente a opinião de A TARDE. Participe desta página: e-mail: [email protected] Cartas: Redação de A TARDE/Opinião - R. Professor Milton Cayres de Brito, 204, Caminho das Árvores, Salvador-BA, CEP 41822-900 Mário Soares deixa o legado de um modelo de comportamento ético a ser seguido e a constatação de que a ideologia não deve se sobrepor ao Estado e à democracia ESPAÇO DO LEITOR A lição de Mário Soares No dia 07/01/17 morreu o ativista político, ex-primeiro ministro e ex-presidente por dois mandatos de Portugal, Mário Soares, considerado a pessoa mas querida do seu país, à frente até de Cristiano Ronaldo, se- gundo pesquisas de opinião. Soares teve uma vida honesta e de luta pelos ideais democráticos. Foi preso e depois exilado na França, onde não deixou de lutar pelo pen- samento progressista e contra o ditador e recluso Salazar. Voltou para o seu país, em 1974, após a Revolução dos Cravos e apesar de ter pertencido ao PCP (Partido Comunista Português) e ao PS (Partido Socialista), o ex-presidente nunca foi um sectário-leni- nista, e logo foi de encontro ao radical co- munista Álvaro Cunhal. Este tinha a ideia de transformar Portugal em uma Cuba euro- peia. Já Soares, mesmo sendo um socialista, não se identificava com aquele pensamento, mesmo porque visitara Cuba e tivera pro- blemas com Fidel Castro devido a não con- cordar com seus princípios e métodos. Para o nosso país, Mário Soares deixa o legado de um modelo de comportamento ético a ser seguido e a constatação de que a ideologia não deve se sobrepor ao Estado e muito menos à democracia. LUCIANO PEIXOTO, LU- [email protected] Esbulho Os meios de comunicação não demons- traram interesse na defesa do povo e re- bater a maliciosa informação dos senho- res do Poder Municipal, o prefeito ACM Neto, talvez secundado pelo seu secre- tário de Mobilidade Fábio Mota, que ape- sar dos tempos bicudos autorizou pela madrugada o reajuste dos transportes co- letivos em 6,5%, com base no IPCA, con- forme o contrato de concessão. O reajuste na realidade foi de 9,09%, que gerou um aumentoamaiorde0,10centavosemcada passagem. Se levarmos em consideração a estimativa atual da população em 3 mi- lhões, e em 30% deste total de usuários do transporte coletivo teríamos uma arre- cadaçãodenoventamilreaisdiariamente, 2,7 milhões de reais mensalmente e 32,4 milhões de reais anualmente, que irão encher os bolsos dos avarentos donos dos transportes coletivos. Aproveitando a dei- xa, o Excelentíssimo Governador Rui Cos- ta aplicou o mesmo remédio amargo na passagem do metrô. Imaginem se não es- [email protected] Anilton Santos Arquiteto / Urbanista [email protected] A sombra do amanhã O presente é uma sombra que ronda o ontem e o amanhã, nisso re- pousa a nossa esperança e a nossa agonia. O que somos hoje é fruto do que construímos no passado, amanhã sere- mos fruto do que construímos no pre- sente. Manifesto isso num momento em que o país é alarmado por delações que atin- gem a um amplo espectro da classe po- lítica e os governos, em diversos níveis, elegem o povo como escape para corrigir os seus erros do passado recente. A po- lítica é de entrega ao mundo empresarial sob o manto de gerar emprego e recu- perar o crescimento econômico. O custo social será alto e não temos garantia de recuperação do crescimento, diante do campo de incerteza que norteia a eco- nomia global. Ignora-se que há uma crise mundial do capitalismo que não é somente uma crise: é uma implosão, no sentido de que este sistema não é capaz de se reproduzir des- de suas próprias bases, ou seja, é vítima de suas próprias contradições internas. O sistema capitalista implode, mas por cau- sa de seu êxito, o êxito de se impor ao mundo dos negócios, o que o leva a pro- vocar um crescimento vertiginoso das de- sigualdades, inaceitável socialmente, to- davia a causa da implosão é o fato de que ele não pode se reproduzir. Não pode elevar sua capacidade produtiva, que os avanços tecnológicos permitem sem re- distribuir a renda e reduzir as desigual- dades para ampliar a capacidade de con- sumo. Além disso, desgasta o capital na- tural/ambiental impondo riscos ao futu- ro da humanidade. Não existe uma política no país para enfrentar a crise externa. Quando ela es- tourou alguns anos atrás o país ignorou, agora a marolinha virou um tsunami e o governo atual ressuscita a política neo- liberal já falida, jogando o peso da crise nas costas do trabalhador. A história e o tempo farão justiça aos inimigos do povo. Os atos dos governantes no presente se- rão semelhantes a uma sombra a rondar o seu futuro. O amanhã não apaga os rastros de hoje. Os atos dos governantes no presente serão semelhantes a uma sombra a rondar o seu futuro tivéssemos em crise? A população seria ainda mais escorchada e esbulhada. JOSÉ HOLLY MENDES VIEIRA, JHMVIEIRA@ GMAIL.COM Exame de Paternidade Em relação à informação do leitor Carlos Alberto S. Quintela sobre a oferta de exame gratuito de DNA, custeado pela Defensoria Pública, informamos que esse serviço se dá através da Ação Cidadã Sou Pai Responsável, que já beneficiou mais de 13 mil famílias desde 2007. O projeto tem como objetivo enfrentar o triste problema das crianças que sofrem por não possuírem o nome do pai nos seus registros. Estimula-se, através de atendimento multidisciplinar, a paternida- de responsável, que inclui alimentos, edu- cação e, principalmente, presença na vida do filho. Aquelas pessoas que, após a cer- tidão de nascimento já formalizado, ali- mentem alguma suspeita sobre a veraci- dade da paternidade ali posta também re- cebem atendimento jurídico integral e gra- tuito pela Defensoria Pública, mas não se inserem naquele projeto, voltado exclusi- vamente para jovens sem o registro paterno. ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO - DPE/BA, AS- [email protected] Registro de assalto Dia 07/01/2017, sábado, a mãe de minha filha foi assaltada no estacionamento do supermercado Bompreço Imbuí, e fez o Boletim de Ocorrência na delegacia de Furtos e Roubos de Veículos, já que os bandidos levaram o Honda HRV branco de placa PAX 2020, com todos os pertences e compras realizadas naquele mercado. Ocorre que mais de 24 horas depois, a Delegacia não fez o registro no Sinesp - Sistema Nacional de Informações de Se- gurança Pública, o que significa que os bandidos podem transitar livremente que não serão importunados por qualquer for- ça policial. Retornando à Furtos Roubos, obtivemos a informação de que, como a placa era de outro estado, o registro no sistema somente poderia ser realizado no primeiro dia útil, ou seja, pelo menos 48 horas depois, tempo suficiente para os bandidos fazerem o que quiserem, mes- mo tendo de imediato acionado o 190. A SSP dá Bahia precisa corrigir isso, na ten- tativa de possibilitar a recuperação dos veículos roubados, assim entendo. EDIL- SON BARTOLOMEU, EBARTOLOMEU@ UOL.COM.BR O voto como arma A democracia no Brasil é fortemente con- substanciada pelas nocivas ações: do PCC, do PMDB, do PT, do PDT, do PSDB, do FDN, do PP, do PCdoB, PTB; coadjuvados por inte- grantes dos demais poderes desta República do compadrio. Portanto urge reação do povo brasileiro. Vamos usar a nossa arma, o voto, para desmantelar todo esse sistema maquia- vélico que quebrou o país e vitimou im- piedosamente a nossa população. Lamen- tavelmente. Rumo a 2018. MATHEUS VER- NECK, [email protected] Memória da Bahia Nelson Pretto Professor da Faculdade de Educação da UFBA [email protected] A passagem de um ano para outro é sempre oportunidade para acionar a memória, lembrar de cenas fa- miliares e momentos significativos de nossas vidas. A memória pessoal, fami- liar, é um elemento fundamental na cons- trução da história das civilizações. Essa história não é escrita apenas por meio dessas ações individuais, que dependem do cuidado que devemos ter com o nosso passado. São necessárias políticas públi- cas bem consolidadas para a garantia de que nossos arquivos e nossas memórias mais coletivas possam ser preservadas. Saber do registro do quarto conjunto documental do Arquivo Público do Estado da Bahia no Programa Memória do Mun- do da Unesco é, sem dúvida, uma notícia alvissareira. Mas ainda é muito pouco para uma terra com tão rica história. Pre- cisamos de muito mais, pois sabemos das atuais condições do nosso Arquivo Pú- blico. Na esfera privada, o Mosteiro de São Bento, que tem uma rica e impressio- nante biblioteca, fez um belo trabalho para a preservação de seu acervo, dis- ponibilizando, em acesso aberto, uma co- leção de cinco Livros do Tombo que do- cumentam importantes fatos da história da Bahia e do Brasil desde o século XVI (http://bit.ly/2hC3V82). Mas essas boas notícias são sempre acompanhadas de outras não tão boas. Nosso projeto Memória da Educação na Bahia produz vídeos-depoimentos com pessoas que marcaram a educação em nosso Estado, e todo o material fica dis- ponível na internet para ser usado livre- mente (http://bit.ly/MemoEd). Como con- sideramos importante para a educação resgatar a história do IRDEB (Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia), come- çamos a localizar educadores para, com eles, realizar gravações. Precisávamos, desse modo, de imagens e entrevistas da professora Aristocléa Macedo, fundadora do IRDEB, na década de 1970. Nada foi encontrado nas mais de 7.500 horas-fitas do acervo da TVEBahia. Ficamos sabendo que esse rico arquivo é composto de fitas que, em alguns casos, já não são mais lidas pelos equipamentos disponíveis no mercado. Urgente se faz, portanto, que recursos sejam destinados para a ime- diata digitalização desse pedaço de nossa história. Fui informado que, entre tantas outras preciosidades ali guardadas e com risco de serem definitivamente perdidas, estão as imagens da posse de todos os governadores da Bahia, desde a criação da TVE, nos anos 70 do século passado. O IRDEB é hoje integrante da Secretaria de Educação, de modo que nada mais pertinente para essa pasta do que cuidar da sua própria memória. O secretário Walter Pinheiro e o governador Rui Costa deixariam uma significativa marca em suas gestões se, de forma imediata, pro- videnciassem que todo esse material fos- se digitalizado e colocado na internet, disponível para todos. Cuidar da memória é uma das nobres tarefas de um país que almeja ser uma Nação. A memória pessoal, familiar, é um elemento fundamental na construção da história das civilizações Violência: quando a palavra falta Claudio Souza de Carvalho Psicanalista [email protected] A recente tragédia de Campinas na noite do Réveillon, quando um pai invadiu a residência da família de sua ex-mulher e executou pessoas ino- centes, dentre elas a mãe do seu filho e a própria criança, e em seguida se sui- cidou, traz elementos que exigem uma reflexão mais profunda e distante da su- perfície dos acalorados debates de calou- ros das redes sociais. O assassino deixou mensagens carre- gadas de ódio misógino em cartas e áu- dios atribuindo a insanidade do seu ato às injustiças sofridas numa disputa de guarda com a sua ex-companheira. A mi- soginia e a insana passagem ao ato não encontrarão justificativa, por elas não existirem. Uma passagem ao ato é uma ação desprovida de qualquer sentido. Tentar dar sentido à violência e ao ódio é o que a sociedade busca quando de- manda justiça. Ao bater às portas do ju- diciário, os jurisdicionados esperam a mediação de um terceiro, investido de poder pelo Estado como árbitro, para so- lucionar conflitos. A produção do ato ju- risdicional deve ter o alcance de restaurar o poder civilizatório de regenerar o valor da palavra desidratada pelo litígio. O pa- pel atribuído aos operadores do direito é o de reconstituir o frágil tecido do vínculo social esgarçado pelas animosidades. Nos litígios nas varas de família, so- bretudo, quando envolvem crianças e adolescentes, o trabalho exigido do ma- gistrado e do representante do ministério público é maior por envolver menores incapazes de responder imediatamente pelos seus atos, impossibilitados que es- tão, pela idade da vida e pela disputa entre os pais, de encontrar um lugar e uma palavra justa no redemoinho de afe- tos intensos e misturados. A alienação parental é uma impossi- bilidade de se fazer o luto de uma história de amor que chegou ao fim. Os atos de alienação são tentativas de dar sequência a uma história de amor ao avesso, pela via do ódio e da violência covarde pelo uso perverso de menor vulnerável. Mas o ins- tituto da alienação parental só se fecha quando o complexo alienante encontra a ausência do ato jurisdicional por parte dos representantes do Estado. Quando is- so ocorre, toda a rede protetiva em torno da infância e juventude fica comprome- tida e os ódios são intensificados. A chacina de Campinas nos convoca a uma reflexão para além do óbvio. Os inú- meros casos que se arrastam nas varas de família não encontram a celeridade e efe- tividade necessárias. Cabe ao poder ju- diciário e à sociedade civil organizada articular interesses com humildade ao empenhar esforços no sentido de buscar auxílio mútuo no trabalho interdiscipli- nar para lidar com as questões da sub- jetividade. Porque quando a palavra falta é a violência com suas várias faces mons- truosas que se faz presente. A alienação parental é uma impossibilidade de se fazer o luto de uma história de amor que chegou ao fim. É tentativa de dar sequência à história de amor pela via do ódio Devido às férias do colunista Levi Vasconcelos, a coluna Tempo Presente não será veiculada às segundas-feiras do mês de janeiro.

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Page 1: 9/1/2017 OPINIÃO - Ufbablog.ufba.br/nlpretto/files/2017/01/2017_01_09atarde...é a violência com suas várias faces mons-truosas que se faz presente. A alienação parental é uma

OPINIÃOSALVADOR SEGUNDA-FEIRA 9/1/2017A2

[email protected]

Os artigos assinados publicados nas páginas A2 e A3 não expressam necessariamente a opinião de A TARDE.Participe desta página: e-mail: [email protected]: Redação de A TARDE/Opinião - R. Professor Milton Cayres de Brito, 204, Caminho das Árvores, Salvador-BA, CEP 41822-900

Mário Soares deixa olegado de um modelode comportamentoético a ser seguido e aconstatação de que aideologia não deve sesobrepor ao Estadoe à democracia

ESPAÇO DO LEITOR

A lição de Mário SoaresNo dia 07/01/17 morreu o ativista político,ex-primeiro ministro e ex-presidente pordois mandatos de Portugal, Mário Soares,considerado a pessoa mas querida do seupaís, à frente até de Cristiano Ronaldo, se-gundo pesquisas de opinião. Soares teveuma vida honesta e de luta pelos ideaisdemocráticos. Foi preso e depois exilado naFrança, onde não deixou de lutar pelo pen-samento progressista e contra o ditador erecluso Salazar. Voltou para o seu país, em1974, após a Revolução dos Cravos e apesarde ter pertencido ao PCP (Partido ComunistaPortuguês) e ao PS (Partido Socialista), oex-presidente nunca foi um sectário-leni-nista, e logo foi de encontro ao radical co-munista Álvaro Cunhal. Este tinha a ideia detransformar Portugal em uma Cuba euro-peia. Já Soares, mesmo sendo um socialista,nãoseidentificavacomaquelepensamento,mesmo porque visitara Cuba e tivera pro-blemas com Fidel Castro devido a não con-cordar com seus princípios e métodos. Parao nosso país, Mário Soares deixa o legado deum modelo de comportamento ético a serseguido e a constatação de que a ideologianão deve se sobrepor ao Estado e muitomenos à democracia. LUCIANO PEIXOTO, [email protected]

EsbulhoOs meios de comunicação não demons-traram interesse na defesa do povo e re-bater a maliciosa informação dos senho-res do Poder Municipal, o prefeito ACM

Neto, talvez secundado pelo seu secre-tário de Mobilidade Fábio Mota, que ape-sar dos tempos bicudos autorizou pelamadrugada o reajuste dos transportes co-letivos em 6,5%, com base no IPCA, con-forme o contrato de concessão. O reajustena realidade foi de 9,09%, que gerou umaumento a maior de 0,10 centavos em cadapassagem. Se levarmos em consideração aestimativa atual da população em 3 mi-lhões, e em 30% deste total de usuários dotransporte coletivo teríamos uma arre-cadação de noventa mil reais diariamente,2,7 milhões de reais mensalmente e 32,4milhões de reais anualmente, que irãoencher os bolsos dos avarentos donos dostransportes coletivos. Aproveitando a dei-xa, o Excelentíssimo Governador Rui Cos-ta aplicou o mesmo remédio amargo napassagem do metrô. Imaginem se não es-

[email protected]

Anilton SantosArquiteto / [email protected]

A sombra do amanhã

O presente é uma sombra que rondao ontem e o amanhã, nisso re-pousa a nossa esperança e a nossa

agonia. O que somos hoje é fruto do queconstruímos no passado, amanhã sere-mos fruto do que construímos no pre-sente.

Manifesto isso num momento em queo país é alarmado por delações que atin-gem a um amplo espectro da classe po-lítica e os governos, em diversos níveis,

elegem o povo como escape para corrigiros seus erros do passado recente. A po-lítica é de entrega ao mundo empresarialsob o manto de gerar emprego e recu-perar o crescimento econômico. O custosocial será alto e não temos garantia derecuperação do crescimento, diante do

campo de incerteza que norteia a eco-nomia global.

Ignora-se que há uma crise mundial docapitalismo que não é somente uma crise:é uma implosão, no sentido de que estesistema não é capaz de se reproduzir des-de suas próprias bases, ou seja, é vítimade suas próprias contradições internas. Osistema capitalista implode, mas por cau-sa de seu êxito, o êxito de se impor aomundo dos negócios, o que o leva a pro-vocar um crescimento vertiginoso das de-sigualdades, inaceitável socialmente, to-davia a causa da implosão é o fato de queele não pode se reproduzir. Não podeelevar sua capacidade produtiva, que osavanços tecnológicos permitem sem re-

distribuir a renda e reduzir as desigual-dades para ampliar a capacidade de con-sumo. Além disso, desgasta o capital na-tural/ambiental impondo riscos ao futu-ro da humanidade.

Não existe uma política no país paraenfrentar a crise externa. Quando ela es-tourou alguns anos atrás o país ignorou,agora a marolinha virou um tsunami e ogoverno atual ressuscita a política neo-liberal já falida, jogando o peso da crisenas costas do trabalhador. A história e otempo farão justiça aos inimigos do povo.Os atos dos governantes no presente se-rão semelhantes a uma sombra a rondaro seu futuro. O amanhã não apaga osrastros de hoje.

Os atos dos governantesno presente serãosemelhantes auma sombra arondar o seu futuro

tivéssemos em crise? A população seriaainda mais escorchada e esbulhada. JOSÉHOLLY MENDES VIEIRA, [email protected]

Exame de PaternidadeEm relação à informação do leitor CarlosAlberto S. Quintela sobre a oferta de examegratuito de DNA, custeado pela DefensoriaPública, informamos que esse serviço se dáatravés da Ação Cidadã Sou Pai Responsável,que já beneficiou mais de 13 mil famíliasdesde 2007. O projeto tem como objetivoenfrentar o triste problema das crianças quesofrem por não possuírem o nome do painos seus registros. Estimula-se, através deatendimento multidisciplinar, a paternida-de responsável, que inclui alimentos, edu-cação e, principalmente, presença na vidado filho. Aquelas pessoas que, após a cer-tidão de nascimento já formalizado, ali-mentem alguma suspeita sobre a veraci-dade da paternidade ali posta também re-cebem atendimento jurídico integral e gra-tuito pela Defensoria Pública, mas não seinserem naquele projeto, voltado exclusi-vamente para jovens sem o registro paterno.ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO - DPE/BA, [email protected]

Registro de assaltoDia 07/01/2017, sábado, a mãe de minhafilha foi assaltada no estacionamento dosupermercado Bompreço Imbuí, e fez oBoletim de Ocorrência na delegacia deFurtos e Roubos de Veículos, já que os

bandidos levaram o Honda HRV branco deplaca PAX 2020, com todos os pertences ecompras realizadas naquele mercado.Ocorre que mais de 24 horas depois, aDelegacia não fez o registro no Sinesp -Sistema Nacional de Informações de Se-gurança Pública, o que significa que osbandidos podem transitar livremente quenão serão importunados por qualquer for-ça policial. Retornando à Furtos Roubos,obtivemos a informação de que, como aplaca era de outro estado, o registro nosistema somente poderia ser realizado noprimeiro dia útil, ou seja, pelo menos 48horas depois, tempo suficiente para osbandidos fazerem o que quiserem, mes-mo tendo de imediato acionado o 190. ASSP dá Bahia precisa corrigir isso, na ten-tativa de possibilitar a recuperação dosveículos roubados, assim entendo. EDIL-SON BARTOLOMEU, [email protected]

O voto como armaA democracia no Brasil é fortemente con-substanciada pelas nocivas ações: do PCC, doPMDB, do PT, do PDT, do PSDB, do FDN, doPP, do PCdoB, PTB; coadjuvados por inte-grantes dos demais poderes desta Repúblicado compadrio. Portanto urge reação do povobrasileiro. Vamos usar a nossa arma, o voto,para desmantelar todo esse sistema maquia-vélico que quebrou o país e vitimou im-piedosamente a nossa população. Lamen-tavelmente. Rumo a 2018. MATHEUS VER-NECK, [email protected]

Memóriada Bahia

Nelson PrettoProfessor da Faculdade de Educação da [email protected]

A passagem de um ano para outro ésempre oportunidade para acionara memória, lembrar de cenas fa-

miliares e momentos significativos denossas vidas. A memória pessoal, fami-liar, é um elemento fundamental na cons-trução da história das civilizações. Essahistória não é escrita apenas por meiodessas ações individuais, que dependemdo cuidado que devemos ter com o nossopassado. São necessárias políticas públi-cas bem consolidadas para a garantia deque nossos arquivos e nossas memóriasmais coletivas possam ser preservadas.

Saber do registro do quarto conjuntodocumental do Arquivo Público do Estadoda Bahia no Programa Memória do Mun-do da Unesco é, sem dúvida, uma notíciaalvissareira. Mas ainda é muito poucopara uma terra com tão rica história. Pre-cisamos de muito mais, pois sabemos dasatuais condições do nosso Arquivo Pú-blico. Na esfera privada, o Mosteiro de SãoBento, que tem uma rica e impressio-nante biblioteca, fez um belo trabalhopara a preservação de seu acervo, dis-ponibilizando, em acesso aberto, uma co-leção de cinco Livros do Tombo que do-cumentam importantes fatos da históriada Bahia e do Brasil desde o século XVI(http://bit.ly/2hC3V82). Mas essas boasnotícias são sempre acompanhadas deoutras não tão boas.

Nosso projeto Memória da Educação naBahia produz vídeos-depoimentos compessoas que marcaram a educação emnosso Estado, e todo o material fica dis-ponível na internet para ser usado livre-mente (http://bit.ly/MemoEd). Como con-sideramos importante para a educação

resgatar a história do IRDEB (Instituto deRadiodifusão Educativa da Bahia), come-çamos a localizar educadores para, comeles, realizar gravações. Precisávamos,desse modo, de imagens e entrevistas daprofessora Aristocléa Macedo, fundadorado IRDEB, na década de 1970. Nada foiencontrado nas mais de 7.500 horas-fitasdo acervo da TVEBahia. Ficamos sabendoque esse rico arquivo é composto de fitasque, em alguns casos, já não são maislidas pelos equipamentos disponíveis nomercado. Urgente se faz, portanto, querecursos sejam destinados para a ime-diata digitalização desse pedaço de nossahistória. Fui informado que, entre tantasoutras preciosidades ali guardadas e comrisco de serem definitivamente perdidas,estão as imagens da posse de todos osgovernadores da Bahia, desde a criação daTVE, nos anos 70 do século passado.

O IRDEB é hoje integrante da Secretariade Educação, de modo que nada maispertinente para essa pasta do que cuidarda sua própria memória. O secretárioWalter Pinheiro e o governador Rui Costadeixariam uma significativa marca emsuas gestões se, de forma imediata, pro-videnciassem que todo esse material fos-se digitalizado e colocado na internet,disponível para todos. Cuidar da memóriaé uma das nobres tarefas de um país quealmeja ser uma Nação.

A memória pessoal,familiar, é umelemento fundamentalna construçãoda históriadas civilizações

Violência: quandoa palavra falta

Claudio Souza de [email protected]

A recente tragédia de Campinas nanoite do Réveillon, quando um paiinvadiu a residência da família de

sua ex-mulher e executou pessoas ino-centes, dentre elas a mãe do seu filho ea própria criança, e em seguida se sui-cidou, traz elementos que exigem umareflexão mais profunda e distante da su-perfície dos acalorados debates de calou-ros das redes sociais.

O assassino deixou mensagens carre-gadas de ódio misógino em cartas e áu-dios atribuindo a insanidade do seu atoàs injustiças sofridas numa disputa deguarda com a sua ex-companheira. A mi-soginia e a insana passagem ao ato nãoencontrarão justificativa, por elas nãoexistirem. Uma passagem ao ato é umaação desprovida de qualquer sentido.

Tentar dar sentido à violência e ao ódioé o que a sociedade busca quando de-manda justiça. Ao bater às portas do ju-diciário, os jurisdicionados esperam amediação de um terceiro, investido depoder pelo Estado como árbitro, para so-lucionar conflitos. A produção do ato ju-risdicional deve ter o alcance de restauraro poder civilizatório de regenerar o valorda palavra desidratada pelo litígio. O pa-pel atribuído aos operadores do direito éo de reconstituir o frágil tecido do vínculosocial esgarçado pelas animosidades.

Nos litígios nas varas de família, so-bretudo, quando envolvem crianças eadolescentes, o trabalho exigido do ma-gistrado e do representante do ministériopúblico é maior por envolver menoresincapazes de responder imediatamentepelos seus atos, impossibilitados que es-tão, pela idade da vida e pela disputa

entre os pais, de encontrar um lugar euma palavra justa no redemoinho de afe-tos intensos e misturados.

A alienação parental é uma impossi-bilidade de se fazer o luto de uma históriade amor que chegou ao fim. Os atos dealienação são tentativas de dar sequênciaa uma história de amor ao avesso, pela viado ódio e da violência covarde pelo usoperverso de menor vulnerável. Mas o ins-tituto da alienação parental só se fechaquando o complexo alienante encontra aausência do ato jurisdicional por partedos representantes do Estado. Quando is-so ocorre, toda a rede protetiva em tornoda infância e juventude fica comprome-tida e os ódios são intensificados.

A chacina de Campinas nos convoca auma reflexão para além do óbvio. Os inú-meros casos que se arrastam nas varas defamília não encontram a celeridade e efe-tividade necessárias. Cabe ao poder ju-diciário e à sociedade civil organizadaarticular interesses com humildade aoempenhar esforços no sentido de buscarauxílio mútuo no trabalho interdiscipli-nar para lidar com as questões da sub-jetividade. Porque quando a palavra faltaé a violência com suas várias faces mons-truosas que se faz presente.

A alienação parental éuma impossibilidade dese fazer o luto de umahistória de amor quechegou ao fim. Étentativa de darsequência à história deamor pela via do ódio

Devido às férias do colunista Levi Vasconcelos, a coluna Tempo Presente não será veiculada às segundas-feiras do mês de janeiro.