826753-2 respons.civil ato de terceiro - rabello.pro.br · ideia expressa no livro “o caboclo e a...
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APELAÇÃO CÍVEL N.º 826753-2 DE CURITIBA – 3.ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA RELATOR : DESEMBARGADOR Francisco Pinto RABELLO FILHO APELANTES : ASSOCIAÇÃO DE PRESERVAÇÃO DA CULTURA CIGANA – APRECI-PR E OUTRO APELADO : ESTADO DO PARANÁ
Ação de obrigação de fazer com preceito cominatório e indenização por dano moral.
1. Agravo retido – Despacho que anuncia o julgamento antecipado do mérito – Ausência de cunho decisório – Irrecorribilidade.
2. Responsabilidade civil do Estado – Aplicação do artigo 37, parágrafo 6.º, da Constituição Federal – Responsabilidade objetiva – Elementos configuradores do dever de indenizar – Não preenchimento.
2.1. Alegação de dano moral resultante do conteúdo supostamente ofensivo da obra literária “O caboclo e a cigana”, de autoria do escritor Francisco de Assis Almeida Brasil – Ausência de conduta antijurídica estatal – Fato de terceiro – Não configuração do dever de indenizar.
2.2. Aquisição e distribuição, pelo Estado-apelado, de exemplares da obra “O caboclo e a cigana” às escolas da rede pública estadual – Ausência de conduta antijurídica estatal – Pertinência da aquisição e disponibilização dos referidos exemplares – Ausência de demonstração do afirmado conteúdo discriminatório propagado pela obra literária e do modo como o acesso a ela implicará de modo negativo na formação dos valores e princípios dos leitores. Imputação ao Estado-apelado de prática de incitação ao preconceito – Impossibilidade – Motivação estatal de equipar as bibliotecas escolares e de disponibilizar aos estudantes o acesso à obra literária que se mostra evidente. Pretensão ao recolhimento dos exemplares distribuídos às escolas da rede pública estadual – Impossibilidade – CF, art. 206, inc. II – Liberdade de expressão – CF, art. 5.º, inc. IX – Acesso à cultura – CF, art. 215, caput – Determinação em tal sentido que implicaria restrição do acesso à cultura, ao ensino, à arte, ao saber – Não configuração do dever de indenizar.
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2.3. Convite dirigido ao segundo apelante para que indique obras literárias que exaltem a cultura cigana – Ausência de conduta antijurídica – Equívoco de interpretação por parte do segundo apelante – Motivação de disponibilização de tais obras às bibliotecas escolares que se mostra evidente – Ausência, ademais, de potencial lesivo da conduta estatal – Não configuração do dever de indenizar.
Agravo retido a que se nega conhecimento. Recurso de apelação desprovido.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de apelação cível n.º
826753-2, de Curitiba, 3.ª Vara da Fazenda Pública, em que são apelantes Asso-
ciação de Preservação da Cultura Cigana – APRECI-PR e Cláudio Domingos
Iovanovitchi e apelado, Estado do Paraná.
Exposição
1. Associação de Preservação da Cultura Cigana – APRECI-PR e
Cláudio Domingos Iovanovitchi ajuizaram ação de obrigação de fazer com pre-
ceito cominatório e indenização por dano moral em face de Estado do Paraná,
perante a 3.ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba.
1.1. Petição inicial (fs. 2-24) e documentos (fs. 25-53):
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i) a Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED-PR) adquiriu três mil e-
xemplares da obra literária “O caboclo e a cigana”, de autoria de Francisco de Assis Almei-
da Brasil;
i.i) tal aquisição está incluída no projeto “Venha Ler”, implementado pelo Departa-
mento de Ensino Médio da SEED-PR;
ii) os referidos exemplares foram distribuídos às escolas da rede pública estadual, e a
obra literária foi integrada como leitura obrigatória aos currículos de ensino médio dessas
escolas;
iii) ao ler o mencionado livro, o segundo autor ficou indignado com a forma precon-
ceituosa e discriminatória com que o livro faz referência ao povo cigano;
iv) o segundo autor solicitou à SEED-PR esclarecimentos a respeito da aquisição da
aludida obra, assim como que fossem recolhidos todos os exemplares distribuídos às esco-
las estaduais;
iv.i) a SEED-PR manifestou-se contrariamente ao pedido, convidando o segundo au-
tor a indicar obras literárias que contrariassem a ideia expressa na referida obra, o que au-
mentou o seu sentimento de humilhação;
v) a obra “O caboclo e a cigana” influencia de maneira negativa na formação dos lei-
tores, e sua divulgação, especialmente na forma como foi promovida pelo réu, incita o pre-
conceito, a discriminação e a marginalização do povo e da cultura cigana;
v.i) a leitura da obra implica danos irreversíveis às crianças e adolescentes, que estão
em processo de formação de seus valores e princípios;
vi) é inadmissível a distribuição em escolas públicas de obra literária com conteúdo
ofensivo à dignidade dos ciganos;
vii) o artigo 5.º, inciso XLII, da Constituição Federal recrimina a prática de racismo,
constituindo-a como crime inafiançável e imprescritível;
viii) é obrigação do Estado abolir todas as formas de preconceito;
ix) com fundamento no disposto no artigo 461 do Código de Processo Civil, deve-se
determinar que o Estado-réu suprima o livro “O caboclo e a cigana” dos currículos das es-
colas públicas, e que recolha todos os exemplares que foram distribuídos às bibliotecas es-
colares;
ix.i) é necessária a cominação de multa diária para o caso de descumprimento da de-
terminação judicial;
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x) a conduta do réu lhes causou dano moral, os quais devem ser indenizados em va-
lor a ser apurado pelo juiz da causa;
x.i) o dano moral que experimentaram resulta do conteúdo da obra literária aludida,
da negativa do Estado-réu em recolher os seus exemplares das escolas públicas e do convite
formulado pelo Estado-réu para que o segundo autor indicasse obras que contrariassem a
ideia expressa no livro “O caboclo e a cigana”;
xi) a liberdade de manifestação do pensamento é condicionada por dispositivos
constitucionais, como o artigo 5.º, inciso X, da Constituição Federal;
xii) é assegurado o direito à indenização decorrente de violação à honra, em virtude
do disposto no artigo 5.º, incisos V e X, da Constituição Federal;
xiii) a obrigação de indenizar das pessoas jurídicas de direito público é objetiva, de
acordo com o disposto no artigo 37, parágrafo 6.º, da Constituição Federal;
xiv) está demonstrada a conduta antijurídica do réu, assim como o seu nexo de cau-
salidade com os danos que experimentaram;
xv) postulam concessão dos benefícios da assistência judiciária gratuita.
1.2. Contestação do Estado do Paraná (fs. 64-74): i) não lhe é imputável o afirmado dano de caráter genérico experimentado pela co-
munidade cigana, resultante do conteúdo da obra “O caboclo e a cigana”, pois ele resulta da
publicação do livro, e não da aquisição, pelo Governo Estadual, de alguns de seus exempla-
res para fornecer às bibliotecas escolares;
ii) o indeferimento do pedido administrativo formulado pelo segundo réu não é, por
si só, passível de causar-lhe dano moral;
ii.i) o segundo autor equivocou-se ao interpretar de maneira ofensiva o convite efe-
tuado pela SEED-PR para que indicasse obras literárias que contrariassem a ideia apresen-
tada em “O caboclo e a cigana”;
ii.ii) a motivação do convite efetuado pela SEED-PR é a de incluir nas bibliotecas
escolares obras literárias que expressem a impropriedade e injustiça dos preconceitos sofri-
dos pela comunidade cigana;
iii) não está configurado o nexo de causalidade entre os danos mencionados pelos
autores e a conduta dos agentes estatais, tampouco o dano moral que dizem ter experimen-
tado;
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iv) o livro em discussão foi publicado e comercializado em escala nacional há anos;
v) o fator desencadeante dos danos alegados resulta do conteúdo da obra “O caboclo
e a cigana”, e não da aquisição de alguns de seus exemplares pelo Governo Estadual;
vi) não incide no caso o artigo 37, parágrafo 6.º, da Constituição Federal, pois não
deve ser responsabilizado por danos que não resultam da atuação estatal;
vii) a alegação de crime de racismo não é pertinente, porquanto se refere à responsa-
bilidade subjetiva criminal do autor da obra “O caboclo e a cigana”, Francisco de Assis
Almeida Brasil, e não às partes envolvidas nesta demanda;
viii) o precedente jurisprudencial citado pelos autores não se assemelha ao caso dis-
cutido nestes autos;
ix) é inviável e inócua a tutela específica postulada pelos autores, pois o livro em re-
ferência permanecerá sendo comercializado em todo o país;
ix.i) a determinação de recolhimento dos exemplares fornecidos às bibliotecas esco-
lares caracteriza censura.
1.3. Após a réplica (fs. 78-93), o digno juiz da causa determinou que
as partes especificassem as provas que pretendiam produzir (f. 94), oportunidade
em que o réu requereu o julgamento antecipado do mérito (f. 96) e o autor, reque-
reu produção de prova testemunhal (f. 97).
1.4. Em seguida, foi colhida a opinião do Ministério Público (fs. 99-
101) e o digno juiz da causa anunciou o julgamento antecipado do mérito (f.
103), contra o que a parte autora interpôs agravo retido (fs. 106-108), sendo man-
tida a deliberação (f. 118).
1.5. A sentença1 (fs. 121-127): i) julgou improcedentes os pedidos;
1 Juiz Roger Vinicius Pires de Camargo Oliveira.
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ii) condenou a parte autora ao pagamento das custas processuais e honorários advo-
catícios, estes fixados em R$ 2.000,00;
iii) determinou a suspensão da exigibilidade dessas verbas, por ser a parte autora be-
neficiária de assistência judiciária gratuita.
1.6. Foram opostos embargos declaratórios (fs. 129-135), os quais fo-
ram rejeitados (f. 137).
1.7. Apelação da parte autora (fs. 139-164): i) requer o conhecimento e provimento do agravo retido;
ii) ao adquirir exemplares da obra “O caboclo e a cigana” e distribuí-los às escolas
públicas estaduais, o Estado-apelado promoveu discriminação e preconceito à comunidade
cigana, violando sua honra;
iii) a obra “O caboclo e a cigana” influencia de maneira negativa a formação dos lei-
tores, e sua divulgação, especialmente entre crianças e adolescentes, incita o preconceito, a
discriminação e a marginalização do povo e da cultura ciganos;
iii.i) a leitura da obra em alusão implica danos irreversíveis às crianças e adolescen-
tes, que estão em processo de formação de seus valores e princípios;
iv) é inadmissível a distribuição em escolas públicas de obra literária com conteúdo
ofensivo à dignidade dos ciganos;
v) é obrigação do Estado coibir todas as formas de preconceito;
vi) apesar de não ser o Estado-apelado responsável pela autoria e publicação da
mencionada obra literária, está colaborando com a prática do preconceito e da discrimina-
ção ao disponibilizar alguns de seus exemplares nas bibliotecas das escolas da rede pública
estadual;
vii) deve ser determinado que o Estado-apelado suprima o livro “O caboclo e a ciga-
na” dos currículos das escolas públicas e que recolha todos os exemplares que foram distri-
buídos às bibliotecas escolares;
viii) a responsabilidade estatal resulta do fato de seus agentes terem distribuído os
exemplares do livro “O caboclo e a cigana” às escolas públicas estaduais;
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viii.i) a obrigação de indenizar das pessoas jurídicas de direito público é objetiva, de
acordo com o disposto no artigo 37, parágrafo 6.º, da Constituição Federal;
ix) está demonstrada a conduta antijurídica dos agentes estatais, assim como seu ne-
xo de causalidade com os danos que experimentaram;
ix.i) a SEED-PR adquiriu três mil exemplares do livro “O caboclo e a cigana”, de
autoria de Francisco de Assis Almeida Brasil;
ix.ii) os referidos exemplares foram distribuídos às escolas estaduais e a obra literá-
ria foi integrada como leitura obrigatória aos currículos de ensino médio dessas escolas;
ix.iii) o segundo apelante solicitou à SEED-PR esclarecimentos a respeito da aquisi-
ção da aludida obra, em virtude do seu conteúdo preconceituoso e discriminatório em refe-
rência ao povo cigano, assim como que fossem recolhidos todos os exemplares distribuídos
às escolas estaduais;
ix.iv) a SEED-PR manifestou-se contrariamente ao pedido, convidando o segundo
apelante a indicar obras que contrariassem a ideia expressa no livro “O caboclo e a cigana”,
o que aumentou seu sentimento de humilhação;
x) o nexo de causalidade, em relação à primeira apelante, resulta da negativa do Es-
tado-apelado em recolher os exemplares da citada obra que foram distribuídos às bibliote-
cas escolares, incitando a difusão do preconceito e da discriminação em relação à comuni-
dade cigana entre os estudantes;
xi) em relação aos danos experimentados pelo segundo apelante, o nexo de causali-
dade da conduta estatal reside na solicitação, por parte da SEED-PR, de indicação de obras
literárias que apresentassem enfoque diverso daquele expresso no livro “O caboclo e a ci-
gana” a respeito da comunidade e da cultura ciganas;
xii) os alunos da rede pública estadual não adquiririam o livro “O caboclo e a ciga-
na” por iniciativa própria, de modo que a disponibilização de exemplares nas bibliotecas
escolares é o único meio de terem acesso a ele;
xiii) a conduta do Estado-apelado lhes causou dano moral, os quais devem ser inde-
nizados em valor a ser apurado;
xiii.i) o dano moral que experimentaram resulta do conteúdo da obra literária men-
cionada, da negativa do Estado do Paraná em recolher os seus exemplares das escolas pú-
blicas e do convite formulado pelo Estado-apelado ao segundo apelante para que indicasse
obras que contrariassem a ideia expressa no livro “O caboclo e a cigana”;
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xiv) é assegurado o direito à indenização decorrente de violação à honra, em virtude
do disposto no artigo 5.º, incisos V e X, da Constituição Federal;
xv) a determinação de recolhimento dos exemplares distribuídos pelo Governo do
Estado às bibliotecas escolares não significa censura ou desrespeito à livre manifestação de
pensamento, mas sim coibição à propagação da discriminação e do preconceito à comuni-
dade cigana;
xvi) a liberdade de manifestação do pensamento é condicionada por dispositivos
constitucionais, como o artigo 5.º, inciso X, da Constituição Federal;
xvii) o pedido formulado na petição inicial se limita à proibição de distribuição de
exemplares do livro “O caboclo e a cigana” na rede pública estadual de ensino, não se pre-
tendendo a proibição de circulação e comercialização do livro;
xviii) a obra literária em alusão foi escrita e publicada há aproximadamente trinta
anos, em época em que não vigiam os atuais princípios constitucionais que vedam todas as
formas de discriminação.
1.8. Com a resposta (fs. 168-174), subiram os autos a esta egrégia
Corte de Justiça, onde foi colhida a opinião ministerial, emitida pelo digno pro-
curador de justiça Francisco Gmyterco, que veio no sentido de ser desprovido o
recurso (fs. 184-203).
Voto
O agravo retido
2. O agravo retido foi interposto pela parte apelante contra a delibera-
ção de f. 103, que reproduzo:
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[...]
Por entender que as provas já produzidas são suficientes para o deslinde do feito,
sendo o juiz o destinatário das provas, determino o julgamento antecipado da lide, nos mol-
des do artigo 330, inciso I, do Código de Processo Civil.
[...].
2.1. Sobre isso não há o que protelar: o ato judicial que noticia que se-
rá realizado o julgamento antecipado do mérito não porta carga decisória, que só
despacho de mero expediente é. Bem por isso não está sujeito a recurso, confor-
me a disposição do artigo 504 do Código de Processo Civil2.
2.2. Nesse sentido, entre inúmeras decisões a respeito, ponho uma ou
outra, exemplificativamente:
AGRAVO RETIDO - DESPACHO QUE ANUNCIA O JULGAMENTO ANTECI-
PADO DA LIDE - AUSÊNCIA DE CUNHO DECISÓRIO OU DE PREJUÍZO À PARTE
- IRRECORRIBILIDADE - NÃO CONHECIMENTO. - É de mero expediente o despacho
que anuncia julgamento antecipado da lide, pois apenas impulsiona o processo, sem qual-
quer conteúdo decisório, sendo, portanto, irrecorrível.
[...].3
AGRAVO INOMINADO - NEGATIVA DE SEGUIMENTO DE AGRAVO DE
INSTRUMENTO - FALTA DE INTERESSE RECURSAL - DESPACHO DE MERO EX-
PEDIENTE DE JULGAMENTO ANTECIPADO - IRRECORRIBILIDADE - RECURSO
DESPROVIDO. - É de mero expediente o despacho que anuncia julgamento antecipado da
lide, pois apenas impulsiona o processo, sem qualquer conteúdo decisório, sendo, portanto,
2 “Art. 504. Dos despachos não cabe recurso”. 3 TJPR, 11.ª Câmara Cível, AC 379992-6, de Curitiba, 4.ª Vara Cível, acórdão n.º 6.559, unânime, rel. des. Cunha Ribas, j. 13/6/2007.
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irrecorrível.4
AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE COBRANÇA - DECISÃO QUE
ANUNCIA O JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE - DESPACHO SEM CUNHO
DECISÓRIO - IRRECORRIBILIDADE - AGRAVO NÃO CONHECIDO. Segundo nota
de Theotonio Negrão (in Código de Processo Civil Anotado, 36ª ed., pág. 575): "É irrecor-
rível o ato do juiz, se dele não resulta lesividade à parte (RT 570/137)".5
2.2.1. No mesmo sentido: Ag 362565-8/01 (Barry); AI 307163-6 (Vi-
cente); Ag 309815-3/01 (Mário Helton); AI 150899-4 (Messias); AI 248114-7/01
(Pugliese); AC 235420-5 (Rabello), etc.
2.3. Destarte, não pode ser conhecido o agravo retido.
A apelação
3. O recurso merece conhecimento, na medida em que estão presentes
os pressupostos de admissibilidade recursal, assim os intrínsecos (cabimento,
legitimação e interesse em recorrer), como os extrínsecos (tempestividade, regu-
laridade formal, inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer
e preparo dispensado).
4 TJPR, 11.ª Câmara Cível, AgRg 362946-3/02, de Curitiba, 4.ª Vara da Fazenda Pública, acórdão n.º 4.292, unânime, rel. des. Luiz Antônio Barry, j. 4/10/2006. 5 TJPR, 18.ª Câmara Cível, AI 290112-6, de Curitiba, 18.ª Vara Cível, acórdão n.º 4.019, maioria, rel. des. Antonio Renato Strapas-son, j. 10/5/2005.
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4. Conforme se extrai do caderno processual, o pedido de indenização
por dano moral formulado pela parte apelante se baseia em três causas de pedir
distintas: (i) o conteúdo da obra literária “O caboclo e a cigana”, de autoria de
Francisco de Assis Almeida Brasil; (ii) a aquisição e distribuição de exemplares
da citada obra, pelo Estado do Paraná, às escolas da rede pública estadual, assim
como sua negativa em recolher os exemplares distribuídos; e (iii) o convite for-
mulado pelo Estado-apelado ao segundo apelante para que indicasse obras literá-
rias que contrariassem a ideia expressa no livro “O caboclo e a cigana”.
4.1. Pois bem. Conforme disposto no artigo 37, parágrafo 6.º, da
Constituição Federal, as pessoas jurídicas de direito público e as de direito priva-
do prestadoras de serviços públicos respondem pelos danos que seus agentes,
nessa qualidade, causarem a terceiros.
4.2. Desse modo, é imperioso afirmar que o Estado responde objeti-
vamente pelos danos causados por seus agentes, razão pela qual eventual dever
de indenizar prescinde da configuração do elemento culpa.
4.3. O excurso que ora faço tem, então, esta finalidade: destacar que
para a configuração do dever de indenizar do Estado (no caso Estado do Paraná)
devem estar presentes três elementos: (i) ocorrência de dano, moral ou material,
sofrido por alguém; (ii) conduta antijurídica; (iii) nexo de causalidade entre a
conduta e o dano6.
6 Por todos, q. cfr. JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito administrativo. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 1.077.
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5. A análise da situação não revela a presença de tais elementos.
5.1. Compulsando os autos, é possível verificar que não há elementos
capazes de demonstrar a prática de qualquer conduta antijurídica estatal que en-
seje o dever de indenizar.
5.2. É que não há como se responsabilizar o Estado do Paraná pelo a-
firmado dano resultado do alegado conteúdo discriminatório e preconceituoso da
obra literária “O caboclo e a cigana”, porquanto tal dano – se houver – tem ori-
gem na publicação da referida obra, e não em conduta imputável aos agentes es-
tatais.
5.3. Note-se que na situação específica dos autos, o Estado-apelado
estava impossibilitado de evitar o resultado supostamente danoso ocorrido, até
mesmo porque o infortúnio ocorreu por fato de terceiro.
5.3.1. É evidente que se há alguma conduta antijurídica – o que não se
pode afirmar –, constante no conteúdo da obra “O caboclo e a cigana”, e eventu-
almente capaz de dar ensejo aos danos afirmados pela parte apelante, foi ela pra-
ticada por um terceiro, que é o autor da referida obra, e não pelo Estado-
apelado.
5.4. Portanto, diante das peculiaridades que envolveram o fato, certo é
que o Estado-apelado em nada contribuiu para a ocorrência do afirmado dano.
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6. Por outro lado, também não se vislumbra antijuridicidade na condu-
ta estatal de adquirir e distribuir exemplares da obra em alusão às escolas da
rede pública estadual, tampouco há como se reconhecer nessa conjuntura qual-
quer prática de incitação à discriminação ou ao preconceito. Explico:
6.1. Trata-se, “O caboclo e a cigana”, de obra literária de autoria de
Francisco de Assis Almeida Brasil, renomado escritor que possui extensa obra
publicada, tendo recebido diversos prêmios literários, consagrando-se na literatu-
ra brasileira. Desse modo, mostra-se plausível a aquisição, pelo Estado-apelado,
de obras para seu acervo bibliográfico, para disponibilizá-las às bibliotecas esco-
lares.
6.2. Além disso, o parecer emitido pelo Departamento de Educação
Básica da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED-PR) (fs.40-41) foi
esclarecedor quanto à propriedade da aquisição dos exemplares da obra “O cabo-
clo e a cigana” para as escolas da rede pública estadual:
Em resposta aos questionamentos do Sr. Cláudio Domingos Ivanovicth, em relação
ao livro O Caboclo e a Cigana de Francisco de Assis Almeida Brasil, a equipe de Língua
Portuguesa considera: a escolha do livro, deve-se ao fato de ser, o autor, um romancista e
crítico literário piauiense consagrado na Literatura Brasileira com extensa obra publicada,
entre contos, romances, novelas e teatro.
O livro em questão tem a intenção de trazer à discussão o movimento literário do
modernismo e levar à reflexão, na literatura, conceitos e princípios que vão além da pala-
vra. O foco do estudo da obra é a oralidade, marcada por uma galeria de tipos característi-
cos da sociedade cabocla da época, bem como dos ciganos ali apresentados, segundo o crí-
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tico literário Antônio Cândido, pelo senso comum da representação do povo cigano na lite-
ratura ocidental.
O escritor dá voz às personagens criando situações que podem conter histórias de
profunda amargura e violência condizente com o cotidiano retratado, porém absolutamente
destoantes diante da sociedade.
Salientamos que a indicação dos livros que integram o acervo da Biblioteca do En-
sino Médio, no Programa Expansão, Melhoria e Inovação do Ensino Médio do Paraná –
PROEM, partiu, primeiramente, de professores dos Núcleos Regionais de Ensino e, para a
efetivação da compra, formou-se uma comissão com técnicos pedagógicos e professores
doutores em Língua Portuguesa e Literatura, de Instituições de Ensino Superior, os quais
validaram a escolha dos livros inclusive da obra de Francisco de Almeida Assis Brasil.
[...].
6.3. Assim, o Estado-apelado demonstrou satisfatoriamente a razoabi-
lidade da aquisição e disponibilização dos exemplares da referida obra às escolas
da rede pública estadual.
6.4. A parte apelante, por sua vez, não demonstrou em que consistiria
o afirmado conteúdo discriminatório ou preconceituoso propagado pela obra em
alusão, tampouco a forma como o acesso ao livro poderia influenciar de modo
negativo na formação dos valores e princípios dos leitores, em especial das crian-
ças e adolescentes.
6.5. Os trechos transcritos pela parte apelante com o fim de sustentar
o conteúdo discriminatório da obra são fragmentos de frases proferidas por al-
gumas personagens do livro, que nem de longe traduzem a idéia central da obra
ou a mensagem por ela transmitida, tampouco a concepção particular do escritor.
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7. E mesmo que se entendesse haver conteúdo discriminatório na obra
“O caboclo e a cigana” (o que, como exposto, não ficou demonstrado), não há
como se identificar na aquisição e distribuição de seus exemplares, pelo Estado-
apelado, qualquer finalidade de incitação ao preconceito ou à discriminação.
7.1. Isso porque a intenção do Estado-apelado foi, evidentemente, a
de equipar as bibliotecas escolares, disponibilizando a obra do autor Francisco de
Assis Almeida Brasil aos alunos da rede pública estadual, assim como fez com
outras obras literárias, no intuito de possibilitar o projeto “Venha Ler”, imple-
mentado pelo Departamento de Ensino Médio da SEED-PR (fs. 46-52).
7.2. A propósito, elucidativas são as palavras do digno procurador de
justiça Francisco Gmyterco, ao manifestar-se (fs. 184-203) a respeito do recurso
interposto pela parte apelante (fs. 196-197):
[...]
Se a situação fosse diferente, notadamente aquela contada pelos autores, poderia até
caracterizar a responsabilidade do Estado do Paraná, inclusive o nexo causal, mas para tan-
to, seria imprescindível que fosse provado que o réu/apelado, mesmo sabendo do teor ou
conteúdo do livro, se de fato tivesse cunho preconceituoso ou racista, mesmo assim, propo-
sitalmente fizesse a compra e distribuição nas escolas, com a finalidade de incitar o pre-
conceito e a discriminação contra a cultura e etnia cigana pela classe estudantil, mais preci-
samente aqueles que fizessem a leitura e análise da obra, pois aí sim a pretensão poderia ter
outro desfecho.
[...].
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7.3. De mais a mais, conforme consta no parecer emitido pelo Depar-
tamento de Educação Básica da SEED-PR (fs. 40-41), o segundo apelante foi
convidado a indicar livros que exaltem a cultura cigana, a fim de disponibilizar
também essas obras às bibliotecas escolares, e assim, ao acesso dos estudantes da
rede pública estadual, e não o fez.
7.4. Não se pode olvidar que se trata de obra literária cuja publicação
primeira ocorreu no ano de 1968, circulando pelo país há décadas, não sendo
razoável entender-se como antijurídica a conduta estatal de equipar as bibliotecas
das escolas estaduais com alguns de seus exemplares.
7.5. Não se pode imputar, então, ao Estado-apelado, a prática de qual-
quer conduta antijurídica.
8. Outrossim, “a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o
pensamento, a arte e o saber” (CF, art. 206, inc. II), assim como a liberdade de
expressão (CF, art. 5.º, inc. IX) são garantias constitucionais.
8.1. Igualmente, o acesso à cultura é expressamente assegurado cons-
titucionalmente, prevendo o artigo 215, caput, da Constituição Federal que “O
Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes
da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifes-
tações culturais”.
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8.2. No caso específico dos autos, não há negar que o recolhimento
dos exemplares da obra “O caboclo e a cigana” distribuídos às escolas da rede
pública estadual implicaria restringir o acesso dos estudantes ao aprendizado, à
arte, ao ensino, ao saber, à cultura. Ademais, ao contrário do que afirma a parte
apelante, qualquer determinação nesse sentido configuraria autêntica censura.
8.3. E mesmo considerando-se a necessidade de ponderação de tais
garantias com os demais princípios constitucionais, por todas as razões acima
expostas, no caso sob análise, a garantia da liberdade não pode ceder, e assim,
prevalece no caso.
8.4. Daí porque também neste ponto – a aquisição e distribuição, pelo
Estado-apelado, de exemplares da obra “O caboclo e a cigana” às bibliotecas es-
colares – não se vislumbra a prática de qualquer conduta antijurídica por parte
dos agentes estatais. De igual modo, forçoso é reconhecer a legitimidade da ne-
gativa do Estado-apelado em recolher os exemplares distribuídos às bibliotecas
escolares.
8.5. Por essas mesmas razões, improcede o pedido da parte apelante
no sentido de que se determine que o Estado-apelado suprima o livro “O caboclo
e a cigana” dos currículos das escolas públicas e de que recolha os exemplares
que foram distribuídos às escolas da rede pública estadual, não merecendo qual-
quer retoque a sentença, por conseguinte.
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9. Por fim, cumpre analisar o pedido de indenização por dano moral
fundamentado em ofício remetido pelo Estado-apelado solicitando ao segundo
apelante que indicasse obras literárias que contrariem a ideia expressa no livro
“O caboclo e a cigana”.
9.1. No que aqui importa, o teor do ofício em alusão é o seguinte (f.
40):
[...]
Outrossim, aproveitamo-nos deste parecer para solicitar ao Sr. Claudio Ivanovitch
indicação de livros que apresentem o povo cigano em contraposição à obra citada, para que
o departamento possa completar as bibliotecas das escolas da rede estadual de ensino.
[...].
9.2. Defende o apelante que “[...] Ao ler o parecer do Departamento
de Educação Básica solicitado pela Ré, os sentimentos de revolta e humilhação
afloraram no Requerente, pois não bastava para a Ré a humilhação da divulgação
do livro, ainda seria necessária a humilhação por ter que justificar que o povo
cigano não se assemelhava com a obra escolhida por ela, através da indicação de
outros livros” (f. 12).
9.3. Razão, contudo, não lhe assiste. Do mesmo modo, aqui não estão
presentes os requisitos para a responsabilidade civil estatal.
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9.4. Não se vislumbra, nem de longe, antijuridicidade na conduta esta-
tal. De igual modo, não há como se extrair qualquer potencial lesivo dos termos
do ofício supratranscrito.
9.5. O que se percebe da análise dos autos é, no máximo, a ocorrência
de um – lamentável – equívoco de interpretação por parte da parte apelante, que
se sentiu ofendida pelos termos do convite que lhe foi dirigido.
9.6. Isso porque se mostra evidente que a motivação da solicitação e-
fetuada pelo Estado-apelado foi estritamente a de incluir nas bibliotecas escolares
obras literárias que exaltem a cultura cigana, e nem de longe demonstra anuência
ao preconceito histórico a que se diz ter sido submetida a comunidade cigana.
9.7. Daí porque não há imputar ao apelado a prática de qualquer con-
duta antijurídica, tampouco responsabilidade pelos dissabores alegados pela parte
apelante, devendo ser mantida a sentença na sua integralidade.
10. Conclusão
10.1. Passando-se as coisas dessa maneira, meu voto é no sentido de
que se negue conhecimento ao agravo retido e se negue provimento à apelação.
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Decisão
11. À face do exposto, ACORDAM os integrantes da 3.ª Câmara Cí-
vel do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em
negar conhecimento ao agravo retido e negar provimento à apelação, nos termos
do voto do relator.
11.1. O julgamento foi presidido pelo Senhor Desembargador Paulo
Habith, sem voto, e dele participaram, além do signatário (relator), os Senhores
Desembargadores Paulo Roberto Vasconcelos e Dimas Ortêncio de Melo.
Curitiba, 28 de fevereiro de 2012 (data do julgamento).
Desembargador Rabello Filho RELATOR