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Associação para o Desenvolvimento Social de Joanópolis – Pró-Joá Programa “Bacia do Rio Jacareí”
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CÓDIGO DE OBRAS: ESSENCIAL PARA O BEM-ESTAR DA
COLETIVIDADE
Por: Diego de Toledo Lima da Silva (Técnico Ambiental da ONG Pró-Joá)
E-mail: [email protected]
O Código de Obras disciplina procedimentos administrativos e executivos e as regras
gerais e específicas que dizem respeito a obras, edificações e equipamentos, inclusive os
destinados ao funcionamento de órgãos ou serviços públicos, no âmbito da competência do
município. Trata-se de uma lei complementar que tem como objetivos orientar os projetos e as
execuções das obras e edificações do município, e assegurar a observância e promover a
melhoria dos padrões mínimos de segurança, higiene, salubridade e conforto das edificações
de interesse para a comunidade (ORTH et al., 2002).
No âmbito municipal, o Código de Obras e Edificações (COE) tem como objetivo
garantir índices mínimos aceitáveis de habitabilidade, especialmente no que se refere à
segurança e salubridade, através da regulamentação das atividades de elaboração e aprovação
de projetos, licenciamento para construir, execução de obras, utilização e manutenção das
obras e edificações públicas e privadas.
A clareza e a simplificação são itens que devem compor a Legislação, fazendo com
que a Gestão Urbana não tenha divergentes interpretações e uma administração incoerente. A
participação popular coloca o anseio do coletivo sobre o individual, tornando a população um
integrante do processo de mudança e assim responsável pelo meio em que vive (ORTH et al.,
2002).
Os códigos ou posturas municipais devem garantir a segurança e o bem-estar comum
(FERNANDES, 2009). Para Freire (1918) apud Fernandes (2009), os códigos sanitários e
municipais têm dois objetivos principais: primeiro, proporcionar um ambiente sadio e
decente, com condições de dignidade para parte da população que anseia por um espaço de
qualidade; segundo, impedir que a outra parte da população, que não se importa com os
aspectos da coletividade, venha a constituir-se como uma ameaça aos direitos da comunidade.
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Segundo Fernandes (2009), os Códigos de Obras também são instrumentos de
educação e capacitação dos projetistas e construtores, pois são usado como fontes de
parâmetros dos índices aceitáveis, tanto por profissionais, como arquitetos e engenheiros,
quanto para os auto-construtores, que não possuem formação técnica.
Buson (1998) apud Fernandes (2009) ressalta que as leis e normas influenciam não só
a vida das pessoas como a própria forma urbana. É um mecanismo usado para garantir a
segurança e bem-estar dos habitantes, para facilitar ou inibir certas atividades e usos, para
rejeitar ou acolher determinado tipo de pessoa, como para assegurar alguma posição de
autoridade e de dominação do poder público.
A própria interação do espaço construído com o ambiente natural pode ser definida
pelas normas e legislações. A quantidade de espaços verdes, a permeabilidade do solo e a
rugosidade das edificações determinam a qualidade, o conforto térmico e o bem-estar
emocional do usuário. A luz, os ventos, a radiação e a umidade serão afetados pelas
determinações da configuração do espaço urbano (FERNANDES, 2009).
Ainda segundo Fernandes (2009), o objetivo maior das legislações urbanas é garantir a
qualidade dos espaços construídos, dentro de parâmetros mínimos aceitáveis de higiene,
salubridade e conforto, além de serem ordenadores da coletividade.
Analisando a bibliografia existente, Fernandes (2009) percebeu que é um tema pouco
abordado e ainda carente de respaldo científico. Segundo a autora, as melhores iniciativas
foram do trabalho conjunto entre o poder público (prefeitura e secretarias municipais) e
pesquisadores das universidades, como no caso de Salvador e Mogi das Cruzes. É importante
a integração dos agentes para que haja um trabalho colaborativo na produção de um código
realmente aplicável, com a participação das entidades de profissionais, empreendedores,
construtoras e usuários.
Patrimônio Histórico, Cultural e Preservação Ambiental
Os Códigos de Obras e Edificações também são instrumentos de preservação do
patrimônio histórico (casarões, construções antigas, prédios históricos, etc.), cultural e de
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ambiental de um município, pois devem conter limitações nos aspectos construtivos de
influência no âmbito dos itens citados acima.
Um exemplo é a manutenção da permeabilidade do solo (jardins, hortas, áreas
arborizadas, calçadas verdes, estacionamentos com pisos permeáveis, etc.) dentro do lote,
impedindo que todo o terreno seja impermeabilizado. Geralmente é estipulada uma
porcentagem do lote que deve ser mantido com condições naturais de permeabilidade,
garantindo a infiltração de água no solo nos dias de chuva e amenizando o escoamento
superficial, e, consequentemente, os efeitos das enchentes e inundações das partes baixas das
cidades e o esgotamento do sistema de drenagem de águas pluviais.
Além de amenizar o efeito das cheias urbanas, a manutenção de áreas com condições
naturais do solo mantém um micro-clima adequado e um conforto térmico na área,
diminuindo os efeitos das ilhas de calor urbano criadas pelo crescimento das cidades e pela
excessiva impermeabilização do solo.
Outro controle ambiental importante exercido pelo Código de Obras é sobre as
movimentações de terra (terraplanagens), que quando mal executadas ou sem controle, geram
um aporte de sedimentos (terra, areia, material sólido, etc.) para as redes de drenagem e cursos
d’água (rios e córregos), ocasionando o assoreamento destes recursos. Outro problema é a
geração de material particulado para a vizinhança, fonte de vários incômodos ambientais.
No caso do patrimônio histórico e cultural (tombado ou não pelo poder público), o
Código de Obras pode (e deve) impor limitações às alterações destes locais, inclusive
resgatando a característica das construções e do espaço urbano anterior. No caso de
construções históricas e culturais deterioradas, deve ser executado o restauro ou restauração,
que consiste na recuperação de edificação tombada pelo patrimônio histórico ou não, de modo
a restituir-lhe as características originais.
Áreas de risco e a importância de um Código de Obras bem elaborado
A ausência de uma legislação municipal que discipline as construções e a ocupação do
solo é um dos vetores de criação dos aglomerados urbanos de risco, ocupando margens de rios
e córregos, encostas e áreas de relativa fragilidade geológica. Além da ausência de uma
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disciplina municipal para as obras e edificações, a fiscalização municipal fica limitada pela
ausência de instrumentos que regulamentem as autuações, advertências, multas e embargos,
entre outras atividades do poder de polícia municipal.
A construção de uma cidade mais segura, sem áreas de risco e com desastres naturais
de impactos minimizados, depende fundamentalmente da existência de instrumentos na
legislação que coíbam a prática de edificação em áreas de risco, além de disciplinar a
ocupação do território. A lei é o instrumento; que combinado com uma efetiva fiscalização,
que tenha assegurada instrumentos de lei para punição dos que descumpram as normas; vão
fazer valer os valores da coletividade, de segurança, bem-estar, gestão urbana ordenada e
qualidade ambiental.
Pelos motivos abordados no artigo, convocamos a população joanopolense a reclamar
a urgente finalização da elaboração e aprovação do Código de Obras Municipal, que trará uma
infinidade de benefícios à comunidade, fazendo valer os valores da coletividade frente aos
individuais. Cobrem da Prefeitura Municipal, do secretariado e do Prefeito, cobrem dos
vereadores e das pessoas envolvidas neste processo. Participe e levante esta bandeira junto
conosco: “Queremos um Código de Obras para Joanópolis!”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ORTH, D. M.; MATTOS, K. G. S.; PETINE, J.; DUTRA, R. B. Legislação urbana no
Brasil. In: 5º Congresso Brasileiro de Cadastro Técnico Multifinalitário, 2002. Florianópolis.
Anais do 5º COBRAC. Florianópolis: Grupo de Trabalho em Cadastro, 2002.
FERNANDES, J. T. Código de Obras e Edificações do DF: inserção de conceitos
bioclimáticos, conforto térmico e eficiência energética. Brasília: Universidade de Brasília,
2009. 249p. (Tese de Mestrado)