75988884 sobre nietzsche mario ferreira dos santos

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  • Sobre Nietzsche

    Mrio Ferreira dos Santos

    (Trecho de uma carta)

    "... Ante a histria podemos ver no homem apenas um produto, mas tambm um

    fator. Se muitos tm sido apenas uma folha solta ao sabor dos ventos, h homens de

    vontade forte, capazes de forjarem seu prprio destino. E que maior grandeza

    podemos desejar seno a de sermos senhor de si mesmo. Olhemos a escala animal:

    proporo que nos aproximamos do homem, notamos que este revela a maior

    autonomia que um ser vivo foi capaz de manifestar. H toda uma hierarquia que, no

    homem, alcanou um grau mais elevado, mas que nossa anlise permite notar que

    poderia ser superior e poderia ser estimulada ainda mais. No discutiremos se essa

    autonomia produto de um princpio material ou espiritual. Podemos dispensar por

    ora a discusso de tal tema, mas podemos, isso sim, afirmar que o homem capaz

    do ato de liberdade, que consiste em poder julgar entre valores, e escolher o que

    julgar conveniente e de escolher entre futuros possveis. O ato livre uma realidade

    do homem, e ele representa o seu momento mais alto, a plenitude da humanidade em

    ns. o ato humano, por excelncia, o ato livre, o ato genuinamente criador porque

    s pode haver criao onde h liberdade. Mas esse ato humano no alcana a

    plenitude por ser obstaculizado por inmeros impecilhos que o viciam, desde o

    temperamento, o carter, a ignorncia vencvel, a invencvel, as paixes, a opresso

    externa, etc. Que ideal mais elevado para ns que alcanar a plenitude da

    humanidade, o ato humano em sua plenitude? Que devemos ento fazer? Estimul-

    lo e tambm lutar pelo afastamento dos obstculos, desimpedindo o caminho,

    desobstruindo-o dos entraves, combatendo os poderosos opressores que o viciam.,

    Lutamos pela mais alta virtude do homem. Ora, a virtude um hbito bom, a

    reiterada aplicao de uma atividade benfica. E que mais benfico ao homem que a

    prtica da liberdade? Pois essa a grande virtude que tornada prtica tornar prtica

    a liberdade. Por ela luto, por ela escrevo. Quero lutar contra duendes, drages, trevas

    e inimigos impiedosos. esse o meu bom combate. E no basta que erga palavras

    1

  • cheias de vontade e de amor. mister que demonstre que esse o nico e

    verdadeiro caminho da humanidade. Esta ainda no existe, ela uma promessa que

    vir um dia, quando sobrevier o heri de rugido de leo aureolado por uma nuvem

    de pombas, na frase nietzscheana. Para mim esse o ideal nietzscheano e a ponte

    que leva ao super-homem o roteiro da prtica da liberdade para torn-la finalmente

    prtica. S ento compreenderemos bem que este homem de hoje irriso..."

    .....

    (De um papel avulso sem data)

    A leitura leve que hoje se costuma fazer, passando rpida sobre as linhas dos

    livros a mais imprpria quando aplicada sua obra. H autores que nos exigem

    que assumamos a sua personalidade para fruir a essncia de sua obra.

    Nietzsche assim; exige de ns uma entrega porque ele jamais se separa de

    sua obra.

    comum afirmarem que o ideal do super-homem nietzscheano est

    representado no sonho hitlerista. Nietzsche nunca desejou discpulos e, sempre

    afirmou, que ser-se discpulo prprio dos medocres. Pregou um homem senhor de

    si mesmo. E quando elogiou os fortes no elogiou a brutalidade. Queria homens

    fortes, mas era outra fora alm da dos msculos. A altivez por ele pregada aos

    homens a altivez da dignidade. Pode ser-se digno at em andrajos. E quando

    combateu "a moral dos escravos", combateu os escravos que faziam uma moral de

    renncia. Ele s admitia grandeza no escravo quando este se rebelava.

    Aquele que aceita suas algemas e cria, para justific-las, uma filosofia de

    algema, no nietzscheano. Se Hitler prega a obedincia cega de um homem-massa,

    sem vontade, que aceita um guia, um chefe, no nietzscheano, porque Nietzsche

    combatia os guias como combatia os rebanhos. O super-homem no o dominador

    de homens, o chefe, o heri. Nestes via Nietzsche algumas das virtudes que o super-

    homem deveria possuir. O escravo para rebelar-se, para conquistar sua liberdade,

    2

  • precisa ter as virtudes dos livres e dos dominadores. Era isso que ele pregava. O

    homem deve superar-se. No queria que o homem se satisfizesse com a moeda falsa

    da felicidade da nivelao. Isso no bastaria. Sabia que se os homens atingissem

    uma poca em que todos fossem economicamente iguais, havia possibilidade da

    ditadura da igualdade. E essa ditadura poderia querer tornar os homens semelhantes

    em srie, por uma educao em srie, por "estandardizaes" que tirariam o poder

    criador o indivduo, e entregando esse poder somente massa. Nietzsche pregava

    um homem que, independente da igualizao econmica continuasse homem para

    superar-se intelectualmente, quer em seus sentimentos, como em seus gestos e em

    suas virtudes. E se do homindio primitivo, atravs de uma lenta e milenria

    evoluo, os precursores do homem chegaram at o "homo sapiens", queria e

    afirmava que o homem deveria ter a certeza que a sua evoluo no havia parado a.

    O homem prosseguiria evoluindo fsica e mentalmente como at aqui evolura. Mas

    nessa evoluo, nesse progresso, deveria pr sua conscincia, j que adquirira a

    doena da conscincia. Deveria pr a sua vontade j que adquirira a virtude da

    vontade. A super-humanidade que ele acreditava era uma humanidade

    conscientemente desejada, forjada, realizada, cuja caracterstica no seria a de uma

    humanidade-massa hitleriana. Seria uma humanidade-fora, com um indivduo

    senhor de sua vontade, empregando, ao menos, a conscincia de sua vontade, para

    atingir superaes de si prprio. O homem buscando sempre mais longe, mais longe:

    isto Nietzsche. E isso no Hitler. Hitler aquele filho esprio que busca

    tragicamente uma paternidade. E a Nietzsche coube a grande decepo de ter sido o

    escolhido. Como ele se revoltaria se estivesse vivo, como protestaria com aquele seu

    tom alcinico e enrgico, e exigiria uma nova investigao de paternidade.

    .....

    O entusiasmo uma virtude nietzscheana. A depresso negativa, um acidente.

    Ele no nega a si mesmo e, nenhum autor talvez foi mais sincero em sua obra do que

    ele. Reponta em toda ela esses momentos de entusiasmos e de depresso. Ele os

    3

  • conhecia a cada passo. E o homem o conhece a cada passo. Seria absolutamente uma

    negativa de sua prpria doutrina se Nietzsche se preocupasse seriamente em ser, em

    absoluto, coerente. A coerncia uma cadeia, um freio, uma priso uma mentira.

    Nega a vida incoerente e vria. Nietzsche coerente no seria Nietzsche. A depresso

    um nimo, um esforo, um impulso. H na possibilidade da derrota o esforo, o

    impulso que gera a vitria. Quando, deprimido, gemia sua angstia que estava as

    bordas de reerguer-se. Isso , seus livros, refletia a sua sinceridade. Nietzsche era e

    foi o mais sincero de todos os escritores. Nisso estava em grande parte a sua

    dignidade e o seu orgulho.

    So essas contradies da alma humana que solidificam a vontade de poder.

    preciso saber-se fraco, conhecer a prpria fraqueza, para que a vitria tenha o

    sabor de felicidade. Ele sabia disso. Exclamava seus momentos de acovardamento.

    Cristo tambm pediu que lhe afastassem o clice. Mas o clice oferecido, a

    conscincia da fatalidade de seu destino, deu-lhe a coragem de suportar a afronta dos

    seus inimigos. E Cristo, ali, tambm foi sincero. Quem acusaria Cristo de haver sido

    fraco, se sua fraqueza lhe deu a conhecer a fora capaz de ergu-lo para suportar a

    infmia dos seus algozes.

    E por que acusam Nietzsche?

    .......

    (De um papel avulso sem data)

    As contradies de Nietzsche no o refutam. Devemos coloc-lo onde deve

    ser o seu lugar. Sua obra dialtica. Vamos a um exemplo: Nietzsche combate o

    homem de rebanho. E, no entanto, Nietzsche defende, s vezes, o animal de presa.

    Como se manteriam os animais de presa se o rebanho desaparecesse? Essa pergunta

    demonstra aos racionalistas a contradio nietzscheana. Mas respondamos:

    Nietzsche compreende o animal de presa, porque existe o animal de rebanho. O

    rebanho implica o pastor, o chefe, o fhrer. Combater o rebanho anular o fhrer. O

    que o homem de rebanho, o homem bovino dever ser um homem livre do rebanho.

    Tornar-se animal de presa? No porque a ausncia do rebanho torna impossvel o

    4

  • animal de presa. Mas o homem deixando de ser bovino, para se tornar animal de

    presa, assume as qualidades deste: a bravura, a heroicidade, a dignidade, a

    personalidade. O escravo precisa ter qualidades de senhor para se revoltar. a que

    est nietzscheanamente a sua grandeza. Assumindo o homem as qualidades, os

    atributos de pastor, e no havendo rebanhos, este no pode agir e proceder como

    pastor. Mas conserva para si a qualidades que impedem que se torne rebanho. S se

    pode combater o animal de presa combatendo o rebanho. Esta a lgica contraditria,

    porque dialtica de Nietzsche. ele, agora, quem fala:

    ... O homem bom, como besta de rebanho procedente do animal de presa...

    A est o verdadeiro sentido anti-nazi da obra nietzscheana. O homem bom. O

    homem bovino, o homem que obedece, o homem que segue, o homem que pensa

    por slogans, o homem que aceita os pontos de vista de outros o que combate

    Krishnamurti, num ngulo mstico e oriental uma decorrncia do homem de

    presa. Onde h desses homens, aparecem os chefes. A libertao do homem est em

    pairar acima do rebanho, mais alm da obedincia cega, da obedincia que renuncia

    a anlise, da obedincia que no critica. E isso supinamente nazi. E isso

    supinamente no nietzscheano. Afirmamos mais uma vez: Nietzsche contra Hitler!

    .....

    (De um papel avulso sem data)

    ECCE HOMO o livro confisso. Jamais homem algum, em tempo

    algum, conseguiu despir-se de todos os preconceitos, para, de pblico, fazer a mais

    sincera das confisses.

    Somos todos filhos de nossas atitudes - e nossos preconceitos, muitas vezes,

    so meras atitudes sedimentadas somos filhos de nossos preconceitos e nossas

    atitudes, muitas vezes, so nossos preconceitos sedimentados.

    Filhos do preconceito e das atitudes falta-nos, na vida, a necessria coragem

    moral para dizermos aos outros o que ns sentimos.

    Nietzsche irrita o medocre e o vulgar com a clareza pica de suas afirmaes.

    Traduzem-nas por megalomania. fcil, sempre, esquematizar-se os pensamentos,

    5

  • em perspectivas, quando os homens constroem os paralepipedos de suas idias

    prvias, de seus prvios conceitos.

    Porque sou to sbio, porque sou to sagaz, porque escrevo bons

    livros, porque sou uma fatalidade?, tudo isso oprime, irrita o medocre, pelo

    simples fato que o medocre no teria, nem poderia, ter a coragem moral de fazer

    essas afirmativas de si mesmo.

    Nietzsche despindo-se da falsa modstia ps, tambm, de lado, a pretensiosa

    convico de si mesmo. O gnio sabe o que . E o elogio prprio, se na boca do

    medocre uma infmia, na boca de Nietzsche um direito sagrado.

    Se seus contemporneos no o sentiram, se aqueles mesmos que o cercavam

    no o percebiam, ele que foi capaz de sofrer a conspirao do silncio, que soube

    afrontar at o desinteresse, podia, quando fez de si mesmo sua prpria confisso

    que ECCE HOMO tinha o direito e at o dever de ser sincero. Resta saber agora

    se os medocres ainda lhe negam o direito de fazer sua auto-apologia, quando ele

    tinha conscincia de que era imenso.

    Que proclamasse para seu espelho! Que dissesse para os seus botes,

    somente. Os medocres no gostam das excees. A r odeia sempre o pirilampo...

    ....

    No! A vida no me falhou! Achou-se, pelo contrrio, de ano em ano, mais

    rica, mais desejvel, mais misteriosa, desde o dia em que se me ocorreu a grande

    idia liberadora que a vida poderia ser uma experincia para quem busca o

    conhecimento. Que seja para outros qualquer coisa, um leito de repouso, ou bem um

    caminho que leva ao lugar de descanso, ou uma diverso ou uma flnerie ... para

    mim um mundo de perigos e de vitrias em que os sentimentos hericos tem

    tambm seu lugar de danas e de jogos. A vida um meio de conhecimento; com

    este princpio no corao se pode no somente viver com bravura, seno viver com

    alegria, rir com verdadeira alegria!

    Quando Nietzsche teve essas palavras havia j passado a depresso que

    precederia feitura de Gaya Scientia. Seu otimismo estuava. Seus olhos sorriam

    6

  • para a vida. Reconhecido a ela alumiava-se de sol. Esse homem das brumas do norte

    conhecia a doura tpida do mediterrneo que adorava. Gaya Scientia, depois de

    Zaratustra seja talvez sua maior obra. Maior ainda que Vontade de poderio1. H

    nela tais acentos latinos que pareceria nascida na Frana. H um gosto to subtil e

    to meigo que contrasta com a sua aspereza que por vezes o acometia. Perde aquele

    sentido polmico que teria depois no fim da vida, quando desvanecido dos seus

    semelhantes, atira-se como um guerreiro no Anticritsto, no Crepsculo dos

    deuses e em certas passagens da Vontade de poderio.

    Nietzsche, ali tinha f. F em sua afirmao de que a busca de uma verdade

    absoluta era uma mentira que os homens haviam embriagado suas nsias; f em sua

    crena na utilidade do erro, no valor moral dos instintos, nos limites da razo, na sua

    crena da transmutao de todos os valores que permitira ao homem poder

    transcender as fronteiras que lhe prendiam, que o cerceavam por dois milnios...

    ....

    Os homens sobre os quais Nietzsche exerce uma inegvel influncia so

    todos aqueles escapados ao domnio do cristianismo, quer dizer, independentizados

    de todos os dogmas que representam na vida contempornea o triunfo de princpios

    de f, de sujeio e de obedincia mentais. Seu nmero cresce cada dia nossa

    volta. So so homens inumerveis e ignorados que amam o saber e sua obras,

    quando no esto guiadas por alguma idealidade superior ao que no exerccio de

    suas atividades no buscam o til nem sequer o necessrio, contra o que supem os

    mais flamantes moralistas; que aspiram to somente, e com todas as foras do seu

    ser, atingir a independncia interior, a liberdade, no poltica e cidad, que a forma

    mais subtil e lastimosa da escravido, e sim a liberdade moral, a afirmao rotunda e

    absoluta de seu ser interior que aspiram unicamente o direito de afirmar-se, de viver

    plenamente segundo as leis de sua prpria natureza, de ser algo mesmo, antes que

    nada, at louco a seu prprio talante e no cordato segundo a razo dos demais; que

    1 Pelo fato de estar escrito Vontade de poderio achamos que este texto anterior a 1945, pois nesta data foi editado Vontade de Potncia com seus comentrios.

    7

  • buscam em si mesmos o ideal e tendem logo a realiza-lo, e que sobretudo amam as

    inexplicveis foras do mundo, tais como se manifestam. Amam a alegria sem fugir

    da dor e a vida sem temer a morte!

    Bela definio de Mariano Antonio Barrenecea sobre o esprito dos

    nietzscheanos, daqueles que seguem as lies que o mestre sem discpulos porque

    para ser nietscheano deve-se negar a ao do mestre buscam esse sentido que ele

    desejou dar ao homem : o de reconciliao do homem para com a natureza, e de

    conquista da verdadeira liberdade que conquista pelo conhecimento de suas

    fatalidades e de seus destinos, amando o mundo e compreendendo-o , sem caluni-

    lo.

    ....

    Kant era um crebro cientfico, um perfeito tipo de funcionrio prussiano,

    como o definiu Nietzsche, vivendo no abstrato. Nietzsche foi transformar em

    sensibilidade, em paixo, em vida, misturando com instintos, com impulsos,

    rebuscando no mago das vsceras humanas, o homem-csmico. No trazia s

    propriamente somente argumentos, quando combatia , quando refutava. Expressava,

    tambm, sentimentos. Era o gosto que decidia..., dizia. Nietzsche procurava libertar

    a filosofia da cadeia do racionalismo. Libertava os impulsos, os apetites intelectuais.

    Justificava as variantes. Aceitava as coordenadas, as divergncias. Enfim, tudo que

    no negasse a vida, que no negasse o movimento, a contradio, o choque, a luta.

    Via em Kant um carcereiro, um construtor de algemas, para prender o esprito na

    secura da razo. Um continuador, sem brilho, de Scrates.

    Um cntico de cisne, nevoento, koegnigsberguiano, plido como as manhs

    frias do norte, penumbroso como as tardes de crepsculos esmaecidos. Queria

    afirmar que o homem no o limite. O homem deve ultrapassar. O homem , como

    o afirmam os dialticos marxistas, precisamente o que ultrapassa. Nietzsche s

    admitia o ultrapassamento para depois. Para depois... de Nietzsche. No havia, a,

    contradio entre as duas afirmativas. O homem ultrapassaria depois que libertasse

    outra vez a fantasia. O sonho constri e a loucura como a doena, mais

    8

  • interessante e instrutiva que a razo e a sade, afirmava. Determinar fronteiras para

    o esprito, algema-lo. O homem uma forma animal em evoluo. Avana. Assim

    como cada sensao cada dia mais rica, porque traz, atrs de si, a histria da

    prpria conscincia e a filiao da memria, o homem transcede nos descendentes.

    O perigo estava, precisamente, naqueles que buscam criar limites. So os invejosos

    da sabedoria de amanh, os que temem que o homem conhea novas terras

    inexploradas. Invejam a sabedoria do futuro. Pregam o limite para que ningum

    possa, depois, atingir os pontos que eles jamais atingiram. Crendo, como cria,

    firmemente numa super-humanidade, numa sensibilidade nova, odiava os que

    buscavam arrastar o homem ao pntano das mesmas idias. Era implacvel para os

    que se consagravam em firmar os mesmos rumos, estabelecer os mesmos caminhos.

    Fez de uma frase hindu uma bandeira: H muitas auroras que ainda no luziram...

    E o homem ainda no tinha assistido a todas as auroras. Por isso atirou-se

    intemeradamente a anlise de todas as verdades. Destruiu dolos. Que aprendam

    depois de mim, os dolos, o que ter s de barro... A destruio da conscincia,

    essa servial da razo, impunha-se a ele como uma libertao. Via no domnio dela

    as formas reacionrias que os limitavam. Ultrapassamo-la. Fugir da censura que

    exercia sobre seus instintos. Ir alm de si mesmo. Realizar, em fim, o sonho de se

    ultrapassar. Fundir-se ao cosmos, em busca do prprios cosmos, procurando o

    homem alm da prpria humanidade.

    A loucura foi essa libertao, Foi esse salto misterioso ao abismo. Eu olhei

    demoradamente o abismo, agora ele quem olha dentro de mim... Antes, dias

    antes, do colapso que lhe roubou a razo ou que libertou-o dela, talvez ele o

    dissesse disse que era o novo Cristo que havia salvo o mundo pela segunda vez. Os

    inimigos de Nietzsche e de sua filosofia tripudiaram sobre sua loucura. Criavam-na

    de gargalhadas. Mas, imperturbavelmente sereno, Remy de Goncourt teve essas

    palavras: Quem pode sabe-lo? Talvez seja verdade!

    Demorar muito a ser dada a resposta aos cticos?

    ....

    9

  • Kant estava muito orgulhoso de sua tbua de categorias e soia dizer com ela

    nas mos: Esta a coisa mais difcil que se pode intentar na metafsica.

    Note-se bem este pode-se intentar; o orgulho de Kant era ter descoberto no

    homem uma faculdade nova, a faculdade dos juzos sintticos a priori. Embora

    admitindo que se tenha enganado, o desenvolvimento e rpido florescimento na

    filosofia alem so devidos a este descobrimento, filho do orgulho e porfia de

    todos os jovens na busca do descobrimentos todavia mais magnficos, quer dizer, de

    novas faculdades no homem. Mas sejamos cordatos, que j tempo. De que modo

    so possveis os juzos sintticos a priori? Perguntou-se Kant: e que respondeu no

    fundo? Pela faculdade de uma faculdade; no o disse com essas palavras, seno,

    antes melhor, com uma exposio detalhada e to venervel, com tanto mpeto de

    contornos e de profundidade, que de boas a primeiras no se conheceu a inanidade

    germnica que se ocultava em tal resposta. Ficaram os homens loucos de

    contentamento pelo achado da nova faculdade, e no reconheceram limites o

    universal jbilo quando ajuntou Kant um novo descobrimento, a faculdade moral,

    pois naquele tempo os alemes eram todavia moralistas, e no como agora, realistas

    polticos.

    A crtica nietzscheana da obra kantiana tem assim momentos profundamente

    destrutivos. Avassalante, coloca num ponto profundamente lgico, dentro da prpria

    lgica a crtica da descoberta que tanto prazer causou em Kant e que provocou a

    lua de mel da filosofia alem. Porque so necessrios os juzos sintticos a priori?

    Porque necessrio crer em tais juzos? Nietzsche responde: esses juzos devem ser

    tidos como verdadeiros porque so necessrios a conservao dos seres da nossa

    espcie. Mas essa razo, prossegue ele, no impede que sejam falsos e nem

    tampouco que sejam to necessrios. Justificam-se como uma necessidade que a

    filosofia crist buscou da Alemanha para fazer frente, como contraveneno, contra o

    sensualismo que o sculo dezoito instalara no mundo. Kant foi, assim, melhor

    compreendido e exaltado em pleno sculo dezenove.

    10

  • -Para um homem ntegro e retilneo um mundo to condicionado e

    enclausurado como o de Kant um labirinto. Temos necessidade de uma verdade

    robusta, e se no a encontramos, buscamos a aventura e nos lanamos ao mar.

    Minha misso demonstrar que as conseqncias da cincia so perigosas,

    bem e o mal j passaram...

    Na filosofia alem tem abundado o filitesmo. O prprio Kant no foge a essa

    norma. Sua tentativa de tornar a filosofia uma cincia tpico do filitesmo alemo.

    Que foi Schopenhauer seno um filisteu entre os filsofos e um filsofo entre os

    filisteus, como o definiu um pensador? H muita fachada sempre na filosofia alem.

    O simples foi sempre substitudo pelo mais complexo. Uma idia s encerra

    profundidade, quando possua cores penumbrosas, pastosas. preciso, para efeito da

    inteligncia alem que as coisas simples apresentem-se complexas. A filosofia

    hegeliana poderia ter explanaes acessveis. Buscou-se, no entanto, o nebuloso.

    isso o que distingue, por exemplo, da filosofia francesa, onde encontramos, nos

    positivistas uma simplicidade serena e convincente. Isso explica-se em parte pela

    prpria fisionomia geogrfica e racial. Nos povos meridionais h mais luz, mais

    clareza. Por isso a sua filosofia encerra os contornos que os olhos acostumam

    lobrigar. Na penumbra nrdica h rarefao de luz. H sombras que se fundem com

    os corpo. Haja vista a pintura do norte, tortuosa, em regra geral, ilimitada.

    ....

    Deus morreu...

    Palavras terrveis que ressoam hoje pelo mundo. Palavras de Zaratrusta que

    abalam todas as almas dos crentes. Deus morreu..., Morreu no corao dos

    prprios crentes. Quando Zaratustra as pronunciou e compreendeu o imenso

    significado que elas possuam ningum compreendeu quo grande era o seu alcance.

    Pois eu repito a mim mesmo: Deus morreu...

    Esse Deus no mais ressoa no corao dos homens e os prprios religiosos

    procuram descobrir Deus onde ainda no haviam encontrado. Abandonaram os

    velhos caminhos, procuram novas terras procura de Deus. Buscam-no dentro de si

    11

  • mesmo, cansados de olhar para as nuvens e para os espaos. Procuram-no agora no

    mais profundo do seu ser e descobrem-no de vez enquanto. Mas a nuvem e no

    Juno. E tornam a procurar e a procurar e a procurar. Mas no pode negar que a sua

    natureza era profundamente religiosa, interrompi-lhe eu. Permita-me que argumento

    em favor das minhas afirmaes?

    A tenso silenciosa dos seus olhos era a resposta. Prossegui assim:

    -Uma vez escreveu Quero te conhecer, Deus desconhecido, tu que me

    penetras e laboras a minha vida como um furaco destri uma floresta, s tu

    inalcanvel, tu que me s aparentado! Quem Dioniso?

    No foi o Crucificado um grande smbolo para voc? E o seu Eterno

    Retorno, esse desejo de dar um valor de ser ao devir , de eternizar o instante, no

    um divinizar?

    Ele interrompeu-me energicamente para afirmar:

    -Leia o meu Zaratustra, l disse tudo. O meu desejo de devir e de criar me

    afastou profundamente de Deus. Como admitir que no fosse eu um Deus se Deus

    existisse? Acaso poderia eu criar, ser livre, ter a liberdade criadora, se admitir Deus?

    Poderia eu criar ainda alguma coisa se os deuses... (No encontramos o

    prosseguimento do texto).

    ....

    H trechos que merecem anlise especial. Um cuidado fora do comum, uma

    grande perspectiva nietzscheana, para que se possa gozar, em toda a sua plenitude, a

    profundidade humana dessa confisso. (J dissemos que preciso ser-se Nietzsche

    para se entender e sentir Nietzsche.) O que ele tinha de sobre-humano exigia

    qualidades, tambm sobre-humanas. Compreender Nietzsche dentro de uma

    perspectiva histrica, fix-lo num esquema tambm nietzscheano, o que podemos

    tentar neste livro.

    Nietzsche sempre foi um solitrio. Vivia na ausncia dos outros homens. A

    sua humanidade no consistia em simpatizar com os outros homens, em suportar a

    12

  • sua proximidade... A minha humanidade uma contnua vitria sobre mim mesmo

    Acusam-no por isso. Buscam na psiquiatria classific-lo, porque ele no sentia o

    prazer da proximidade dos outros. Sua ausncia, esse desejo de solido, o homem de

    rebanho no perdoa, porque no compreende. O homem do rebanho precisa do

    rebanho. H muita gente que se julga supinamente normal e que se no aventura

    percorrer sozinha uma rua escura de deserta. H muito normal que tem medo das

    trevas, do silncio, da solido. Nietzsche teria dito aos seus acusadores que a

    normalidade precisamente a priso da conscincia e da censura e a ditadura da

    razo. No combatia ele a razo e a censura da conscincia? Ele reconhece que seu

    nojo aos homens, laia, foi sempre seu maior perigo...

    E afirmou que toda a sua superioridade estava precisamente em sua

    anormalidade, porque ele nunca refletiu acerca de problemas que no so problemas,

    nunca havia se dissipado, a expresso dele. Nunca conhecera problemas religiosos.

    Desde criana, embora a educao de seus pais procurasse desvia-lo para

    interrogaes religiosas, passou sempre indiferente a Deus, imortalidade da alma,

    redeno, ao alm, aos conceitos que nunca levei em conta. Sentia-se um atesta

    por instinto,e, no entanto, ningum melhor que ele soube sentir tanto a Deus, como

    ainda o veremos.

    Os crticos honestos, os cultores da lngua alem, reconhecem que Nietzsche

    tinha razo. Mas o fato dele ser sincero e leal para consigo mesmo, irritou os

    medocres que procuraram classific-lo na psiquiatria.

    Se Nietzsche sentisse isso tudo, mas calasse, ento seria um homem

    absolutamente normal. Seu crime foi duplo: primeiro ter atingido essas mil milhas

    elevadas e, segundo, ter tido conscincia dessa altura. Nunca os pigmeus perdoaro

    esse crime. Ele mesmo dizia que preciso uma certa permisso para se ter talento.

    A megalomania nietzscheana um fenmeno comum aos homens superiores.

    Schopenhauer tambm se julgava um gnio, quando ainda se lhe fazia o cerco do

    silncio. Goethe, Kant, Napoleo, Epicuro, Alexandre, Aristarco de Samos... a

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  • histria est cheia desses homens que jamais usaram da modstia, a famosa falsa

    modstia to do agrados dos vulgares...

    A megalomania netzscheana tem servido de repasto aos psiclogos

    deserdados. fcil buscar-se na sua obra, sobretudo em Ecce Homo, os sintomas de

    sua loucura. A loucura de Nietzsche foi em grande parte sua libertao. A loucura

    no sempre um argumento contra suas doutrinas. A obra de um autor vive por si

    mesma. Independe das circunstncias em que se geraram. A loucura sempre um

    estigma para os medocres, e o gnio esse instante que precede a loucura. Pelo

    menos conhece essa fronteira, e viceja sempre nesse estreito lugar. A megalomania

    de Nietzsche seria intolervel se ele no merecesse nenhum daqueles ttulos. Um

    superficial que se julgasse gnio mereceria sorrisos. Mas um gnio que se proclama

    e tem conscincia de sua genialidade, merece respeito.

    A obra de Nietzsche esparsa em seus livros, nem sempre devidamente

    entendido pelos que as leram. Nietzsche no possui realmente discpulos, nem nunca

    os teve. Se Spengler foi colher na obra do grande mestre muitos ensinamentos, que

    lhe deram uma viso mais lata dos fenmenos sociais e uma compreenso mais

    ntida da vida, dos ciclos da cultura, bem como da psicologia humana, no porm,

    um discpulo do grande mestre que tem sido na vida, o mais odiado e o mais

    incompreendido de todos os filsofos.

    A sua obra prepara-se mais para a nova cultura que h muito se forma e que

    substitura essa civilizao decadente, cujo ltimo ato o socialismo sob o ponto de

    vista totalitrio, que luta em suas diversas orientaes pelo domnio do mundo ou

    melhor por ser o ltimo personagem do ltimo ato.

    A obra de Nietzsche esparsa em seus livros, nem sempre devidamente

    entendida pelos que os leram. Nietzsche no possui realmente discpulos, nem nunca

    os teve.

    Na obra de Nietzsche encontram-se esparsos os seus aforismos. Apesar de

    sua aparente diversidade, de sua falta de unidade, pode-se, no entanto, atravs do seu

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  • trabalho coligir os elementos necessrios para a formao de uma sntese mais ntida

    de sua doutrina.

    A finalidade de sua obra a luta contra toda a espcie de farisesmo, de

    saduceismo, de filisteismo. Luta pela vitria da natureza contra todas as foras que

    se impuseram para desmerecer os seus direitos. Luta pela valorizao dos nossos

    instintos caluniados pelos predicadores da moral de todos os tempos. A luta de

    Nietzsche contra a hipocrisia. Analisando a moral, mostra toda a sua etiologia, e

    pe de manifesto a auto-sugesto exercida pelas nossas prprias paixes na

    conscincia, mostrar o perturbador influxo exercido no esprito pelo vrus fatal da

    m conscincia, esse envenenamento milenrio, esse pessimismo moral, que

    corrompeu as fontes da vida.

    Fillogo, estudou a influncia das palavras na metafsica do homem. Este

    acreditou que dando um nome s coisas, havia determinado a sua essncia e

    pensando haver realizado uma cincia mais elevadas dos seres, nada mais fez que

    um sistema convencional de termos. E assim acabou por definir a metafsica como

    a cincia dos erros humanos elevados categoria de verdades fundamentais.

    Assim como se observa na arte moderna uma tendncia a deshumaniz-la,

    Nietzsche estabeleceu um critrio, uma orientao na sua filosofia de

    deshumanizao da mesmo, procurando liberta-la do antropomorfismo, que fala

    mais aos apetites e interesses humanos que verdadeira e desinteressada sede de

    verdade, de que tanto o homem afirma possuir.

    O alcance dessa deshumanizao dissipar as sombras que o homem

    projetou ao redor de si por efeito de suas paixes, de seus sentimentos, de sua

    sensibilidade.

    Por essas paixes, por esses sentimentos e por essa sensibilidade, o homem

    carregou-se de cadeias. Formou as suas algemas, criou limites para sua viso,

    estreitou horizontes aprisionando-se na plancie de um falso objetivismo.

    Nietzsche combate ferozmernte esse homem objetivo, que ele situa encarnado

    historicamente em Scrates, esse homem objetivo que procura, que luta para tornar

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  • o mundo auxiliado pelos telogos, pelos moralistas e pelos metafsicos, numa

    imensa escola, num laboratrio ou num crcere.

    E nesse momento de limitao para a cincia, quando assistimos que para ele

    se estabelece uma nova fronteira, uma fronteira mais sria que todas as que j se

    estabeleceram, a opinio de Nietzsche avulta de valor, quando nega essa cincia a

    possibilidade de explicar o sentido da vida. No a aceita na objetividade e sim na

    unio das duas metades do homem: o objetivo e o subjetivo.

    Essa ltima vive oculta, silenciada pelas imposies morais do ambiente,

    pelas cadeias que os homens construram para ela. Sem a unio dessas duas metades

    no teremos o homem integral, a totalidade do indivduo. Toda a histria humana,

    para ele, no tem sido mais que a luta dessa outra metade para a sua libertao, para

    se impor, conquistando os campos que os deuses interdizeram.

    O homem tem disputado palmo a palmo aos deuses a posse do mundo e quer

    agora ser dono dos seus destinos.

    A cincia nunca passar de nos proporcionar uma cultura dos meios e no

    dos fins. E com isso fica afastado o erros dos que crem que a filosofia nasceu da

    cincia e ter, afinal, de converter-se e reduzir-se cincia.

    E ele ainda vai na histria para descobrir os seus grandes fatos, como este:

    ... as culturas se explicam, em grande parte, pelo sentimento que ilumina ou

    obscurece sua vida, e se transformam pelas grandes metamorfoses desse mesmo

    sentimento. No isso Spengler? Para ele o conceito de cultura compreende fatos

    espirituais, subjetivos, dos quais a cincia uma pequena parte, uma disciplina

    intelectual, para fins prticos, a qual no absorve de maneira alguma a atividade

    intelectual e subjetiva do homem.

    A cultura a plenitude da vida espiritual coletiva. A autoridade no basta

    para lograr esta unidade,; impe-se um pensamento latente, a ao radiante de uma

    vida interior, qual ajustamos nossos passos, pela qual esto condicionados as

    nossas instituies.

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  • E quanto arte, ele pela arte como exaltao, pela arte como

    potencializao do homem, quando diz que ela no pode pretender encerrar em seus

    quadros o contedo total de uma cultura. Apesar do seu carter sinttico, a arte se

    alimenta de estados contemplativos, desinteressados (ser a arte sem transcendncia

    dos modernos?), estados esses que depuram, que selecionam e que raramente

    debilitam a vida. S raramente ele admite a debilitao da vida. Em regra geral ela

    uma potencializao da vida, uma interpretao, um tom de voz mais alto nesses

    estados contemplativos da vida, quer objetiva quer subjetiva, em que o espectador

    fala sobre a vida, potencializando-a.

    A unidade do mundo objetivo e subjetivo no existe na natureza, onde

    Nietzsche no aceita a causao sob o ponto de vista cientfico, mas no sentido de

    protofenmeno de Goethe, e de Spengler, depois a unificao da vida um ato

    pessoal, subjetivo. o homem que unifica o disperso, o homem que faz a cincia,

    a arte, a filosofia. Por isso, na natureza h esttica, mas no homem h arte, porque

    esta criao do homem, que v com olhos mais profundos as coisas do mundo ou

    as ouve com um ouvido mais apurado, que percebe ciclos que os ouvidos comuns

    no so aptos a perceber. S essa interpretao capaz de elevar o homem alm da

    prpria humanidade. S essa maneira de perceber as coisas do mundo, com olhos

    mais vivos e ouvidos mais apurados, onde exista uma supertenso, uma hiperstesia

    capaz de elevar o homem acima da sua pequenez. a arte como fora de

    potencializao humana. a arte, no mais com a gide e o destino infeliz que lhe

    querem marcar as escolas modernas de simples arte, como arte, sem outra

    finalidade, mas a arte como um fim mais nobre e mais elevado, a arte como fora,

    como criadora de potencialidades, como progresso afetivo, como meio de

    exarcebao de instintos e de virtudes naturais, como magia e como mstica.

    A cincia nos faz pesados, como ele diz, nos faz limitados, estreitos, a

    morte subjetiva do homem, pelo limite, pelo contorno. Na nova cultura ecumnica

    que vem de um longo filete na histria e que se atualiza aos poucos, teremos a

    formao de filosofias pessoais isentas de sistematizao livres de proseitilismo. A

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  • libertao do homem ser conquistada pela superao de si mesmo. A nova cultura

    revelar o homem impondo-se natureza, como intrprete e como reformador. o

    homem dando cores onde elas existem parcas e esmaecidas, o homem

    emprestando sons onde eles no se ouvem mais, criando, e fugindo objetividade

    unilateral, conquistando o mundo e, construindo dentro de si uma nova imagem.

    Difcil a caminhada dessa cultura, difcil e trgica. A viso concreta

    atualizando os contrrios, para vive-los e supera-los, superior s foras de muitos,

    que entre os extremos no aspiram aos extremos para venc-los mas desejam o meio

    termo que os d a passividade pastoril das longas e mansas plancie,s levemente

    perturbada em sua tranqilidade por alguma brisa suave e generosa de vergar demais

    as hastes finas dos arbustos que mal se emergem da flor da terra.

    Amar este mundo, salv-lo para salvar-se, este ser o lema desse homem que

    h de vir, o novo Prometeu libertado.

    ....

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