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20 | JULHO 2012 REPORTAGEM DE CAPA Ainda falta um tempo para iniciar o cultivo da safra de verão 2012/2013, mas não é cedo para refletir sobre as atitudes que podem influenciar no resultado da lavoura. Práticas antigas, sempre recomendadas, mas que às vezes são esquecidas; outras mais modernas e ainda em evolução. A seguir, especialistas em soja e milho ouvidos pela A Granja dão orientações que podem resultar no aumento da produtividade e na melhoria de todo o sistema Denise Saueressig [email protected]

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20 | JULHO 2012

REPORTAGEM DE CAPA

Ainda falta um tempo para iniciar o cultivo da

safra de verão 2012/2013, mas não é cedo para

refletir sobre as atitudes que podem influenciar

no resultado da lavoura. Práticas antigas,

sempre recomendadas, mas que às vezes são

esquecidas; outras mais modernas e ainda em

evolução. A seguir, especialistas em soja e milho

ouvidos pela A Granja dão orientações que

podem resultar no aumento da produtividade e

na melhoria de todo o sistema

Denise Saueressig

[email protected]

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O bter aumentos na produtividadeou, pelo menos, manter uma uni-formidade nas médias, ano após

ano, é o que gostariam todos os pro-dutores rurais. Afinal, poder progra-mar as contas de acordo com o ren-dimento da lavoura, independente dascondições climáticas e das oscilaçõesdo mercado, é o ideal para manter aestabilidade financeira da atividade.Especialistas na produção e na pesqui-sa são unânimes ao afirmar que as con-dições para atingir os bons resultadostêm início no solo. Não há produçãosustentável se não houver cuidado coma terra. Foi o interesse em melhorar aqualidade do solo que modificou a re-alidade da Fazenda Ybyete Porã, emRancharia/SP. Quando resolveu inves-tir na integração lavoura-pecuária, em2005, o engenheiro agrônomo e pro-dutor Edinaldo Aure Mathias buscavaa sustentabilidade do seu sistema numaregião de argissolo e onde muitos pro-dutores desistiram do gado ou dosgrãos e decidiram arrendar suas ter-ras para o cultivo da cana.

A área da propriedade foi divididaem quatro talhões, sendo uma parcelacom soja de primeiro ano, outra comsoja de segundo ano, a terceira compastagem de primeiro ano e a quartacom pastagem de segundo ano. “Noperíodo entre a lavoura de primeiro anoe de segundo ano é cultivado o milheto

junto com uma forrageira. Esse mate-rial é oferecido ao gado na época daseca e servirá como palhada para a sojade segundo ano”, explica Mathias.

Nos últimos cinco anos, a médiade produtividade da soja foi de 55 sa-cas por hectare, mas a produção jáchegou a alcançar as 75 sacas porhectare. “Nossa meta é atingir a mé-dia de 70 sacas por hectare e, paraisso, pretendemos aumentar o volu-me de palha na terra para diminuir ain-da mais os impactos do estresse hí-drico na soja. Na pecuária, vamos in-troduzir uma leguminosa junto com opasto para fornecer mais proteína aosanimais”, conta o produtor.

Entre os resultados comemoradosna fazenda nos últimos anos, estão amaior produtividade da oleaginosa e o

Dos 51,05 milhões dehectares cultivados no

ciclo 2011/2012, omilho ocupou 15,123milhões de hectares

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rendimento tri-plicado na pe-cuária, sem ele-vação nos cus-tos. “Não temosmais erosão, aquantidade deágua nos açudes aumentou muito, osníveis de matéria orgânica no solo su-biram consideravelmente e houve di-minuição no uso de defensivos em fun-ção da quebra no ciclo das pragas edoenças pela introdução da pastagemno lugar da soja”, relata Mathias.

Conhecimento da terra — O di-agnóstico de uma nova safra começano ciclo anterior, antes mesmo da co-lheita, quando o produtor deve obtero máximo de informações a respeitodos cultivos e das áreas, ensina o pes-quisador Leandro Zancanaro, gestordo Programa de Monitoramento e Adu-bação da Fundação de Apoio à Pes-quisa Agropecuária de Mato Grosso(Fundação MT). “É nesse momentoque é possível estimar as condiçõesque a planta vai encontrar e quais osproblemas que podem existir na lavou-ra em determinados locais”, aponta.

Uma boa avaliação tem como eta-pa fundamental a análise do solo. A pri-meira providência é conseguir umaamostragem adequada. Esse trabalho,na opinião do especialista, deve ser fei-to por uma pessoa capacitada e com-prometida com o processo de decisãona propriedade. “Se houver diferençade tempo entre a abertura dos talhões,é importante separar as partes exami-nadas. Se uma determinada área re-cebeu uma calagem diferente em re-

lação a outra, também é preciso sepa-rar as amostras. O ideal é fazer váriassubdivisões no mesmo campo se fornecessário, conforme a heterogenei-dade da área”, aconselha Zancanaro.

Depois da coleta das amostras, épreciso buscar um laboratório de con-fiança para a análise. “A demanda cres-cente por esse serviço vem dificultan-do a qualificação da mão de obra e apadronização das metodologias adota-das. A consequência é que há umagrande oscilação nos resultados obti-dos”, ressalva o pesquisador. A análi-se tem um valor importantíssimo econsegue dar mais segurança na to-mada de decisões. No entanto, pormelhor que seja o procedimento, elerepresenta a média do que foi coleta-do e não uma uniformidade. Por isso,é importante juntar os dados técnicoscom o histórico das áreas. “Cabe aoprodutor e ao responsável técnico reu-nir essas informações e identificar seos problemas estão na parte física,química ou biológica do solo”, com-pleta Zancanaro.

Nos laboratórios do Mato Grosso,a análise básica do solo, por unidade,tem custo em torno de R$ 25. Já aavaliação completa, que inclui a pes-quisa de micronutrientes, custa entreR$ 55 e R$ 60. Em comparação comos benefícios que virão com a práti-

ca, a análise de solo tem um custobaixo, e o recomendável é que seja feitatodos os anos ou, no máximo, de doisem dois anos.

A partir dos resultados de uma efi-ciente análise, é importante que o pro-dutor não opte por “pacotes fechadosde adubação”, alerta o engenheiroagrônomo Adilson de Oliveira Junior,pesquisador da Embrapa Soja na áreade fertilidade do solo. “Isso acontecemuitas vezes nas relações de trocacom as empresas de insumos, masacreditamos que seguir uma receitapronta pode ser trágico para a produ-ção”, avisa.

Modificações propostas pela ge-nética — Inovações introduzidas pelomelhoramento genético motivam aEmbrapa a pesquisar novidades emadubação. Entre os estudos mais re-centes estão os que envolvem culti-vares de soja com hábito de cresci-mento indeterminado e que apresen-tam simultaneamente os períodos ve-getativo e reprodutivo. “São varieda-des com boa adaptabilidade à semea-dura em outubro e que vêm sendo uti-lizadas principalmente em regiões ondeexiste a possibilidade da safrinha de-pois da oleaginosa. São plantas comestabilidade de produção e que tam-bém apresentam um bom resultado emáreas que sofrem influência de vera-

O milho é cultivado emtodos os estados e

teve umaprodutividade média

de 4.483 quilos porhectare

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Milho e soja: maissustentabilidade e

rentabilidade com rotação,cobertura do solo e

tratamento de sementes

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nicos”, explica Oliveira Junior.Os desafios dessas variedades,

lembra o especialista, estão relaciona-dos às exigências nutricionais, já quealguns problemas foram diagnostica-dos, como a deficiência de potássioem folhas novas. “Estamos trabalhan-do para entender melhor essas parti-cularidades, já que essa carência nor-malmente surge em folhas mais ve-lhas”, acrescenta o pesquisador.

No momento de decidir pela for-ma de aplicação dos adubos – no sul-co ou na superfície –, é importantelevar em consideração alguns aspec-tos, retoma Zancanaro. “O produtorque pretende fazer uma aplicação cor-retiva pode pensar em realizar a ope-ração na superfície. No entanto, é pre-ciso ter muito cuidado com os teoresde fósforo. Se não houver uma incor-poração adequada desse nutriente, aeficiência será baixa. Então, se o agri-cultor precisa de fósforo no curto pra-zo, o ideal é que a adubação seja feita

no sulco”, conclui o especialista.Dedicação premiada — Quase

três décadas de investimento em açõessustentáveis renderam à SementesMutuca, em Arapoti/PR, reconheci-mento e diferenciações no mercado.Certificada com a ISO 9001:2008, afazenda foi uma das vencedoras, esteano, do Desafio Nacional de MáximaProdutividade Safra 2011/2012, pro-movido pelo Comitê Estratégico SojaBrasil (Cesb). Com um rendimento de103,11 sacas por hectare, ou 6.186quilos, numa área de 7,6 hectares, apropriedade foi a primeira colocada naRegião Sul e obteve a segunda colo-cação na classificação geral, entre1.314 participantes inscritos em todoo país.

No total, a Mutuca cultiva 2.450hectares com soja e milho no verão etrigo e forrageiras no inverno. Na úl-tima safra, mesmo com a escassez hí-drica, a produtividade média na sojafoi de 4,5 mil quilos por hectare e, no

milho, de 12,5 mil quilos por hectare.“Ainda que falte a chuva, oferecemosas condições necessárias para que aplanta consiga buscar água em pro-fundidades de até um metro”, salientao engenheiro agrônomo e produtor Elyde Azambuja Germano Neto.

Quando o objetivo é cultivar a ter-ra de forma sustentável e rentável, nãoexistem segredos ou fórmulas mági-cas, garante o produtor. “É a lição decasa que precisa ser bem feita, comcorreção do solo, formação de maté-ria orgânica e manutenção da palha

A soja enfrentouproblemas com a

estiagem, e aprodutividade média foi

de 2.651 quilos porhectare

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para o plantio direto. Nossa missão émanter a propriedade rentável para asfuturas gerações, sem exaurir a terra.Por isso, quando terminei a faculdadede Agronomia, há 29 anos, tive comoobjetivo principal o investimento nosolo, que sempre nos dá retorno”,declara o agrônomo, que trabalha aolado do pai, o proprietário da Mutuca,José Bento Germano.

Antes de cada semeadura, ou seja,duas vezes por ano, o produtor faz aanálise de solo e também o monitora-mento da água depositada no terrenocom o lisímetro, um equipamento es-pecífico para esse tipo de medição. Osolo recebe calcário, gesso, lama decal e cama de frango. As sementes re-cebem inoculação e tratamento, que éfeito a partir de exames patológicos.“Muitos produtores que optam por se-

mentes não certificadas acham queestão fazendo um bom negócio, mas,na minha opinião, essa é uma econo-mia que não deve nem ser considera-da. O custo de uma semente certifi-cada varia entre 7% e 8% da lavoura.No entanto, ela é carregada de quali-dade e representa o começo de umasafra exitosa”, diz o produtor, lem-brando que as médias de produtivida-de justificam os custos mais altos dalavoura. “Meus gastos foram de R$2.450 por hectare na soja e de R$ 3,2mil por hectare no milho, e a rentabi-lidade média foi de 75% na soja e en-tre 40% e 50% no milho. Aliás, na soja,chegamos a ter 110% de lucro há pou-co tempo, quando vendemos a saca aR$ 68”, enumera Germano Neto.

O plantio da lavoura de verão se-gue um esquema de rotação sempreque o cultivo entre a soja e o milho édividido igualmente. De uma safra paraa outra, a soja ocupa o lugar que foido milho e vice-versa, com pequenasvariações apenas quando as condições

do mercado exigem outrapostura. A produtividadeda oleaginosa chega a serentre 300 e 500 quilosmais alta nas áreas ondeanteriormente foi plantadoo milho. “Isso aconteceporque há menos incidên-cia de doenças e plantasdaninhas”, atesta o produ-tor paranaense.

Bom começo com se-mentes tratadas — Car-regada de tecnologia, umasemente precisa estar sadiapara poder expressar seupotencial genético na lavou-ra. Com uma relação custoX benefício vantajosa parao produtor, o tratamento desementes é importante paraprotegê-las das pragas epatógenos subterrâneos noperíodo de germinação edos que atacam as partesaéreas das plantas no iní-cio do seu desenvolvimen-to, frisa a professora Ma-

rivone Moreira dos Santos, da Escolade Agronomia e Engenharia de Alimen-tos da Universidade Federal de Goiás(UFG). “Para a soja convencional, porexemplo, a prática representa uma par-cela em torno de 0,8% do custo do hec-tare, com variações de acordo com oproduto utilizado. Também é precisolembrar que uma semente tratada vai re-duzir falhas no plantio e aumentará a pro-teção da planta no estágio inicial, favo-recendo um desenvolvimento mais rá-pido, reduzindo o crescimento de plan-tas invasoras e, portanto, diminuindo ogasto com herbicidas”, esclarece.

Mesmo que o procedimento seja desimples execução, a professora alertapara alguns cuidados que são impres-cindíveis no momento do tratamentoquímico. “É preciso ter conhecimentotécnico, usar o EPI (Equipamento deProteção Individual) e controlar o lo-cal da aplicação, para evitar contami-nações ao ambiente”, acrescenta.

A escolha do melhor produto parao tratamento vai depender de um diag-nóstico prévio dos problemas que ocor-rem na lavoura, afirma o engenheiroagrônomo Elmar Luiz Floss, pesquisa-dor e consultor em agronegócios. “Éessencial fazer uma análise das pragase depois escolher o inseticida mais efi-ciente. Quando mais de um produtopode ser utilizado, escolher aquele demenor custo ou aquele que também forestimulador do crescimento de raízes.O mesmo vale para o fungicida, ouseja, diagnosticar qual a moléstia quepredomina e fazer uma análise de pa-tologia cerca de 30 dias antes da se-meadura”, pontua.

Segundo o pesquisador, é preciso

A soja foi plantada em25,037 milhões de

hectares, e a produção foide 66,365 milhões de

toneladas

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Consultor Elmar Floss: altorendimento da lavoura desoja depende de mais de

50 fatores

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cuidado ao tratarsementes commolibdato de só-dio ou de potás-sio, pois se ocor-rer deficiênciahídrica na fase de emergência, podehaver queima da raiz principal devidoà salinidade. Nesse caso, é preferíveloptar pelo molibdato de amônio.

De modo geral, uma cultivar é res-ponsável por 50% do rendimento finalde uma lavoura, sustenta José CarlosCruz, pesquisador da Embrapa Milhoe Sorgo. Segundo ele, mais de 60% dassementes de milho plantadas no ciclo2011/2012 são de híbridos simples dealto potencial genético.

Embora a adoção de sementes demilho Bt tenha mudado drasticamenteo manejo de lagartas na cultura do mi-lho, isto não elimina a necessidade demanejo de outras pragas, avalia o es-pecialista. “As cultivares transgênicascomercializadas no Brasil não dispen-sam o tratamento de sementes, quecontinua sendo necessário para o con-trole de insetos sugadores e pragassubterrâneas, que ocorrem principal-mente na fase de implantação da lavou-ra, quando as plantas estão em condi-ções mais frágeis. O tratamento de se-mentes pode ser feito pelo próprio agri-cultor ou por meio de tratamento in-dustrial, em que o produtor já adquirea semente tratada. A vantagem do tra-tamento industrial é a maior uniformi-dade no procedimento”, revela Cruz.

Fixação de nitrogênio — Outramedida de extrema importância, a ino-culação, deve ser realizada o mais pró-ximo possível da semeadura. “Quan-to menor o tempo de contato do inse-ticida e do fungicida com as bactéri-as, menor é o efeito tóxico, aumen-tando a viabilidade”, informa Floss. Oconsultor detalha a importância de re-alizar a inoculação nas sementes desoja. “O alto valor econômico da sojadeve-se ao seu alto teor de proteína.Um agricultor que colheu 3,6 mil qui-los por hectare também colheu, emmédia, 1.440 kg/ha de proteína. Comoa proteína é constituída por 16,5% de

nitrogênio, exporta-se 238 kg de N.Somando a necessidade de N que ficana palha (aproximadamente, 100 kg),essa lavoura necessita de, aproxima-damente, 330 kg/ha de N. Com umainoculação bem feita, a fixação bioló-gica de N contribui com 85% desseN. Os outros 15%, a soja terá que ab-sorver do solo”, indica.

Na opinião do pesquisador, a ino-culação de sementes, associada coma aplicação de cobalto e molibdênio, éa tecnologia de melhor resultado eco-nômico. “Custa aproximadamente 20kg de soja e pode aumentar no míni-mo 2,2 sacas por hectare no rendi-mento. No Cerrado, com o uso de trêsdoses, mais cobalto e molibdênio, oaumento de rendimento pode ficarentre seis e oito sacas por hectare.Com a inoculação, criamos uma ver-dadeira fábrica de fertilizante nitroge-nado na lavoura, a baixos custos. Parauma maior eficiência, além de bom ino-culante, cobalto e molibdênio, nãopode haver deficiência no solo de cál-cio, magnésio, fósforo, enxofre eboro”, prossegue Floss.

Plantas mais fortes — O alto ren-dimento de uma lavoura de soja depen-de de mais de 50 fatores, observa opesquisador. “Uma lavoura de alta pro-

dutividade é aquela onde se usa a culti-var de maior potencial de rendimento,adaptada a cada região ou época de se-meadura, nas melhores condições desolo, com o uso de modernas tecnolo-gias de manejo e em condições ade-quadas de clima. Lavoura produtiva éaquela em que as plantas apresentamequilíbrio nutricional, equilíbrio hormo-nal e adequada proteção sanitária quantoa moléstias, pragas e plantas daninhas”,ratifica. Em localidades acostumadasà ocorrência de veranicos, uma das es-tratégias que podem ser adotadas pe-los produtores é o enraizamento dasplantas. Como o crescimento de raí-zes no milho e na soja ocorre predomi-nantemente até os estágios V5-V6, é apartir da emergência que o crescimen-to deve ser estimulado.

Entre os fatores que influenciam ocrescimento das raízes, estão as se-guintes: a melhor estrutura física dosolo; a correção adequada da acidez,maior teor de cálcio e ausência de alu-mínio tóxico; disponibilidade, na faseinicial, de nitrogênio, enxofre, fósfo-ro, cálcio e boro; o uso de bioativado-res, porque as citocininas estimulama formação de maior número de raí-zes e as auxinas promovem o aumen-to do comprimento de raízes; e o tra-

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Pesquisador José Carlos Cruz:de modo geral, uma cultivar é

responsável por 50% dorendimento de uma lavoura

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tamento das sementes com inseticidae fungicida, para evitar os danos depragas e patógenos. “Essas estratégi-as são uma espécie de seguro contraa deficiência hídrica”, resume Floss.

Quando o cultivo da soja é realiza-do sobre abundante palhada de gramí-neas (milho, trigo, aveia branca, bra-quiária, arroz, etc.) e buscando-se ren-dimentos acima de 50 sacas/ha, é defundamental importância colocar entre12 e16 quilos por hectare de N na se-meadura. “Isso porque os microrga-nismos do solo promovem uma imobi-lização de aproximadamente 5 kg de Npor tonelada de palha, por um períodode 30 a 45 dias, que é justamente operíodo inicial de formação de raízesna soja. A função desse N é formar ra-ízes e com maior aporte de açúcarespela parta aérea, atrair mais bactérias eaumentar o número de nódulos. Quan-do o plantio da oleaginosa for sobrepalhada de nabo forrageiro, crotalária,ervilhaca, aveia dessecada no estádiovegetativo ou resteva de leguminosas,essa adubação nitrogenada é dispensa-da”, assinala o agrônomo.

Rendimento variado — Presenteem todo o país e cultivado sob dife-rentes condições, o milho tem comouma das suas características a gran-de variação de produtividade de acor-do com os sistemas de produção ado-tados. Considerando a primeira e asegunda safras, o rendimento médioda temporada 2011/2012 é de 4.483quilos por hectare. “Em todas as regi-ões, entretanto, existem produtoresque obtêm rendimentos superiores a12 toneladas por hectare, não sendoraros aqueles que produzem mais doque 14 toneladas por hectare”, ressal-ta o pesquisador da Embrapa Milho eSorgo José Carlos Cruz.

Ele comenta que um fator comumentre os agricultores detentores de re-cordes de produtividade é justamentea habilidade em identificar e manterum ambiente altamente produtivo nosolo. “Áreas de alto rendimento têmem comum o manejo que prioriza aprodução de material orgânico e a boaqualidade operacional de todas as ati-

vidades. O produtor deverá procurarsempre aumentar o potencial produti-vo de sua lavoura com técnicas comoo sistema de plantio direto, com ade-quado programa de rotação e suces-são de culturas, envolvendo inclusiveo consórcio de milho com forrageirasno sistema de integração lavoura-pe-cuária”, recomenda.

Dados sobre o consumo de fertili-zantes na cultura do milho no Brasilmostram que, normalmente, os níveismédios de fósforo e, em algumas si-tuações, os de potássio, são adequa-dos, mas os baixos níveis de nitrogê-nio aplicados em cobertura têm limi-tado o rendimento da cultura. E umlevantamento realizado pela Embrapamostra que, entre as lavouras com ren-dimentos superiores a 8 toneladas porhectare, ocorre a predominância(91%) do uso do sistema de semea-dura direta e da rotação do milho coma soja. No Rio Grande do Sul e emSanta Catarina, esta porcentagem sobepara 99%.

Tecnologia a favor do campo —Introduzida no Brasil em meados da dé-cada de 90, a agricultura de precisão

(AP) superou o conceito inicial de tec-nologia cara e supérflua. Hoje, a fer-ramenta está ligada a um melhor ge-renciamento das atividades na propri-edade, auxiliando na redução dos cus-tos e no aumento da produtividade. E,como ajuda a racionalizar o uso de in-sumos, também colabora para a me-lhoria da sustentabilidade do sistema.

Há aproximadamente sete anos, afamília Kossatz, no Paraná, decidiu ini-ciar os investimentos em AP com a co-

A área e a produção demilho foram recordes, e

a colheita somou67,793 milhões de

toneladas

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Professora Marivone dosSantos: tratamento desementes representa

menos de 1% do custode produção

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leta das primeirasamostras georrefe-renciadas em grade.Em seguida, foramadquiridos equipa-mentos e sensorespara coletar os da-dos de colheitas, ou mapas de produti-vidade, e um sistema para aplicação deinsumos sólidos em taxa variável. Daíem diante, a evolução não parou mais,com pilotos automáticos e sistemas detaxa variável nas plantadeiras.

Desde o início, o retorno mais sig-nificativo gerado pela tecnologia foi aredução na aplicação de adubos, querepresentam em torno de 40% doscustos totais de produção. “No início,pagamos em uma safra os primeirosequipamentos apenas com a economiaem fertilizantes. Percebemos, em al-guns talhões, economia de até 60% naquantidade de adubo aplicada. Mais re-centemente, com a aquisição dos pi-lotos automáticos, taxa variável de fer-tilizante na linha e cortes de seção paratodas as aplicações, acreditamos que,

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com a economia de insumos, a agili-dade de operações e o incremento deprodutividade, o retorno deste inves-timento, que foi bem expressivo,aconteça no máximo, em dois anos”,destaca o engenheiro agrônomo e pro-dutor Cássio de Oliveira Kossatz.

Segundo ele, a diminuição no usode calcário chegou a 60% no início e,agora, comparando a aplicação deuma taxa média com uma aplicação em

Produtor Cássio Kossatz:agricultura de precisão

é a ferramenta modernaaliada às boas práticas

tradicionais

taxa variável, o recuo é de até 30%em alguns casos. “A aplicação deagroquímicos também teve queda.Antes observávamos sobreposiçõesentre 9% e 12% nos nossos talhões,mas, atualmente, estamos trabalhan-do com sobreposições de 3% a 5%.Isso é um corte significativo e, alémda economia, vai resultar em meno-res riscos ambientais”, constata.

Com propriedades em Ponta Gros-sa, Ipiranga e Tibagi, a família cultivaum total de 2,7 mil hectares. No ve-rão, soja e milho. No inverno, trigo,cevada e aveia preta para cobertura. Aprodutividade média da soja é de 4 milquilos por hectare, enquanto a do mi-lho alcançou 9,5 mil quilos por hecta-re na última safra. A meta, para a pró-xima temporada, é chegar a 4,5 milquilos na soja e a 12 mil quilos no mi-lho. “Acho importante lembrar que, seo agricultor não fizer a lição de casabem feita, o que inclui manejo do solo,escolha correta de cultivares, rotaçãoe controle de pragas e doenças, a agri-cultura de precisão não vai fazer nolugar dele. Rotação de culturas e co-bertura integral do solo são práticasconsolidadas para nós”, sustenta.

Avanços e desafios da técnica —Responsável pela área de agricultura deprecisão na Fundação ABC, o pesqui-

Pesquisador Fabrício Povh:nacionalização de

equipamentos é um dosavanços da agricultura de

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Rotação de culturas para combatermuitos problemas

A pesquisadora Graziela Barbosa (foto), do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar),menciona que no plantio direto há uma tendência de aumento da matéria orgânica do solo emfunção da redução da sua taxa de decomposição e pelo acúmulo de resíduos. “A taxa dedecomposição está relacionada com o tempo de implantação do sistema e com o clima,sendo que a decomposição do carbono é menor em climas mais frios. Em contrapartida, orevolvimento da terra ocasiona a quebra dos agregados do solo e expõe a matéria orgânica àatividade microbiana, aumentando a taxa de mineralização do carbono e acelerando a perdade CO2

(dióxido de carbono) para a atmosfera”, descreve.A especialista também destaca a importância de adotar um esquema efetivo de rotação de

culturas. A sucessão soja-trigo ou soja-milho safrinha tende a reduzir a matéria orgânica dosolo e favorece a ocorrência de pragas, doenças e plantas daninhas. “O processo de rotaçãopode incluir plantas forrageiras, gramíneas, leguminosas, anuais ou semiperenes. O uso deplantas fixadoras de nitrogênio, com sistema radicular profundo e abundante, promove areciclagem de nutrientes e proporciona a produção diversificada de alimentos”, examina.

A rotação de culturas, tanto no inverno como no verão, deve ter flexibilidade para atenderos objetivos do planejamento para a área e as perspectivas futuras de comercialização dosprodutos. Em solos degradados, devem ser cultivadas espécies que produzam grande quan-tidade de massa verde e sistema radicular abundante. Nesse caso, pode-se utilizar consórciode plantas, como, por exemplo, milho + guandu ou braquiária + milheto. No inverno oagricultor poderá implantar culturas como tremoço, aveia, nabo, ervilhaca e trigo. “A escolhada cultura deverá estar de acordo com o planejamento feito para as áreas da propriedade,sempre considerando o objetivo da rotação, se para comercialização ou recuperação do solo,pois essa escolha deverá ser exequível e economicamente viável”, defende Graziela. Paraaqueles produtores que ainda não implementaram um esquema de rotação, a pesquisadorasugere um planejamento gradativo, dividindo a propriedade em glebas ou piquetes, obede-cendo as condições locais.

O pesquisador Claudinei Kappes, da Fundação MT, argumenta que os principais benefí-cios agronômicos da rotação estão relacionados às melhorias das características física, quí-mica e biológica do solo, à quebra do ciclo de vida de insetos-praga, patógenos e plantasdaninhas, à manutenção ou incremento no teor de matéria orgânica do solo, à maximizaçãona utilização de implementos agrícolas na propriedade e ao considerável aumento de produ-tividade das culturas. “O milho, por exemplo, pode ter sua produtividade incrementada quan-do semeado após o cultivo de soja ou crotalária, em razão do aproveitamento do nitrogêniointroduzido biologicamente no sistema e da rápida liberação dos nutrientes contidos em seusresíduos. A soja, quando semeada após milho, milheto ou Brachiaria ruziziensis, por exem-plo, pode ter sua produtividade incrementada, principalmente, em função da reciclagem denutrientes, por se tratar de uma cultura com sistema radicular pouco profundo”, assinala.

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sador Fabrício Pinheiro Povhanalisa que, assim como todosos equipamentos eletrônicosde uso comum entre a popula-ção, as ferramentas dedicadasà AP vêm passando por me-lhorias, como mais opções deuso e maior facilidade de ope-ração. O avanço dos equipa-mentos conta também com anacionalização de alguns deles,sendo desenvolvidos por bra-sileiros e para condições bra-sileiras. “Muita coisa nova ain-da está por vir, principalmenteno que diz respeito à automa-tização de operações agrícolas,como pilotos automáticos quenecessitam cada vez menos daintervenção do operador. Sen-sores ópticos para mensuraçãode biomassa e recomendaçãode nitrogênio com base no de-senvolvimento das culturas jáestão em desenvolvimento noBrasil”, cita.

A evolução das ferramen-tas e o aumento da concorrên-cia entre as empresas tambémajudaram a reduzir o custo datecnologia. “Isso tem levado aum alto grau de adoção deequipamentos, principalmenteaqueles com conhecimento in-corporado, como barras deluz, pilotos automáticos e con-troladores de seção dos pulve-rizadores”, complementaPovh. Na opinião do especia-lista, o fator que mais limita oavanço da adoção das ferra-mentas é a qualificação, tantodos agricultores, quanto dostécnicos. “Ainda não é comumencontrar o tema agricultura deprecisão em todas as univer-sidades brasileiras, assimcomo uma grande oferta decursos de capacitação especí-ficos para agricultores. Devi-do à grande área agricultávele à quantidade de agricultores,essa qualificação deveria exis-tir muito mais”, sustenta.