7168534 honra-perdida

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o relato que se segue tem v rias fontes secund rias e tr s fontes principais, que s o referidas uma vez aqui, no princ pio, e n o voltam a ser mencionadas. as fontes principais s o: os autos dos interrogat rios da pol cia, o doutor hubert blorna, advogado, e o doutor peter hach, colega do liceu e da universidade de hubert blorna e agente do minist rio p blico, que # confidencialmente, entenda#se # complementou os autos dos interrogat rios e os resultados das investiga es; n o # apressamo#nos a �� acrescentar sem reserva # para fins oficiais, mas unicamente para uso privado, pois peter hach sentia#se sinceramente penalizado com o desgosto sofrido pelo seu amigo blorna, que n o conseguia encontrar explica o para o caso e, no entanto, �� quando penso nele, acho#o n o inexplic vel, mas quase l gico". uma vez que o caso de katharina blum h #de, em qualquer circunst ncia, permanecer como mais ou menos fict cio, em virtude da atitude da acusada e da posi o melindrosa do seu �� defensor, o doutor blorna, talvez que certos lapsos menores e muito humanos, como os que hach cometeu, sejam n o s compreens veis, mas at desculp veis. as fontes secund rias, umas de maior, outras de menor significado, n o carecem de ser aqui mencionadas, uma vez que o seu envolvimento, implica o, relev ncia, parcialidade, �� confus o e testemunho h o#de emergir deste mesmo relato. 2 se este relato # uma vez que se fala aqui tanto de fontes # for sentido, aqui e ali, como fluido, pedimos perd o ao leitor: era inevit vel. perante as fontes e a fluidez n o se pode falar de composi o, mas dever#se# antes introduzir o �� conceito , de reuni o, de condu o, conceito elucidativo para �� qualquer pessoa que, em crian a (ou at em adulto), tenha brincado em, junto de ou com charcos, drenando#os, ligando#os por meio de canais, esgotando#os, conduzindo#os 8 ou mudando#lhes a orienta o, at que todo o potencial de gua �� existente no charco seja reunido num canal comum, que serorientado para um n vel mais baixo ou talvez ordenada ou ordeiramente conduzido para uma sarjeta ou canal da responsabilidade das autoridades locais. o nico objectivo aqui efectuar uma esp cie de drenagem ou secagem. declaradamente um processo de ordem. por conseguinte, se esta narrativa vier, aqui e ali, a atingir o estado fluido em que desempenham algum papel as diferen as e as compensa es de �� n vel, solicitamos a indulg ncia do leitor, pois, ao cabo e ao resto, tamb m h interrup es, diques, assoreamentos, �� condu es falhadas e fontes que nunca se encontram, para n o �� falarmos de correntes subterr neas, etc. 3

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o relato que se segue tem v rias fontes secund rias e tr s� � �fontes principais, que s o referidas uma vez aqui, no�princ pio, e n o voltam a ser mencionadas.� � as fontes principais s o: os autos dos interrogat rios da� �pol cia, o doutor hubert blorna, advogado, e o doutor peter�hach, colega do liceu e da universidade de hubert blorna eagente do minist rio p blico, que # confidencialmente,� �entenda#se # complementou os autos dos interrogat rios e os�resultados das investiga es; n o # apressamo#nos a�� �acrescentar sem reserva # para fins oficiais, mas unicamentepara uso privado, pois peter hach sentia#se sinceramentepenalizado com o desgosto sofrido pelo seu amigo blorna, quen o conseguia encontrar explica o para o caso e, no entanto,� ��quando penso nele, acho#o n o inexplic vel, mas quase l gico".� � � uma vez que o caso de katharina blum h #de, em qualquer�circunst ncia, permanecer como mais ou menos fict cio, em� �virtude da atitude da acusada e da posi o melindrosa do seu��defensor, o doutor blorna, talvez que certos lapsos menores emuito humanos, como os que hach cometeu, sejam n o s� �compreens veis, mas at desculp veis.� � � as fontes secund rias, umas de maior, outras de menor�significado, n o carecem de ser aqui mencionadas, uma vez que�o seu envolvimento, implica o, relev ncia, parcialidade,�� �confus o e testemunho h o#de emergir deste mesmo relato.� �

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se este relato # uma vez que se fala aqui tanto de fontes #for sentido, aqui e ali, como fluido, pedimos perd o ao�leitor: era inevit vel. perante as fontes e a fluidez n o se� �pode falar de composi o, mas dever#se# antes introduzir o�� �conceito , de reuni o, de condu o, conceito elucidativo para� ��qualquer pessoa que, em crian a (ou at em adulto), tenha� �brincado em, junto de ou com charcos, drenando#os, ligando#ospor meio de canais, esgotando#os, conduzindo#os

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ou mudando#lhes a orienta o, at que todo o potencial de gua�� � �existente no charco seja reunido num canal comum, que ser�orientado para um n vel mais baixo ou talvez ordenada ou�ordeiramente conduzido para uma sarjeta ou canal daresponsabilidade das autoridades locais. o nico objectivo�aqui efectuar uma esp cie de drenagem ou secagem.� �declaradamente um processo de ordem. por conseguinte, se estanarrativa vier, aqui e ali, a atingir o estado fluido em quedesempenham algum papel as diferen as e as compensa es de� ��n vel, solicitamos a indulg ncia do leitor, pois, ao cabo e ao� �resto, tamb m h interrup es, diques, assoreamentos,� � ��condu es falhadas e fontes que nunca se encontram, para n o�� �falarmos de correntes subterr neas, etc.�

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os factos que devem ser apresentados em primeiro lugar s o�brutais: na quarta#feira 20 de fevereiro de 1974, v spera de�carnaval, uma jovem de 27 anos sai de sua casa, em certacidade, por volta das 18.45, para participar num baileparticular. quatro dias mais tarde, depois de uma evolu o dram tica #�� �n o podemos deixar de empregar esta palavra (e aqui temos um�exemplo dos v rios n veis que permitem o fluir do rio) #, no� �domingo noite, quase mesma hora, mais precisamente cerca� �das 19.04, a jovem toca campainha da casa de walter moeding,�comiss rio da pol cia, que est precisamente a disfar ar#se de� � � �xeque, n o por motivos particulares, mas por raz es de� �servi o, e moeding, assustado, ouve a jovem declarar que cerca�das 12.15 desse mesmo dia abatera a tiro, em sua casa, ojornalista werner t tges e que lhe solicitava que mandasse�arrombar a porta do apartamento e remover o jornalista; quantoa ela, vagueara pela cidade entre as 12.15 e as 19 horas,tentando sentir remorsos, mas em v o; al m disso,� �solicitava#lhe que a mandasse prender, pois ela gostaria de seencontrar no mesmo lugar que o seu querido ludwig". moeding, que conhecia a jovem de v rios interrogat rios e� �que experimentava uma certa simpatia por ela, nem por momentosduvidou das suas declara es, conduziu#a no seu pr prio carro�� �ao pres dio da pol cia, informou da situa o o� � ��comiss rio#chefe beizmenne, seu superior hier rquico, mandou� �meter a jovem numa cela e, um quarto de hora mais tarde,encontra#se com beizmenne diante da casa dela,

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onde um comando especializado da pol cia arromba a porta e v� �confirmadas as declara es da jovem.�� n o falemos aqui muito de sangue, uma vez que s as� �necess rias diferen as de n vel devem ser tidas como� � �inevit veis; tamb m gostar amos de remeter o leitor para a� � �televis o e para o cinema, para os musicais e para os filmes�de horror apropriados. se alguma coisa tem aqui de correr, quen o seja o sangue. talvez dev ssemos apenas apontar certos� �efeitos de cor: t tges, o assassinado, trazia um traje de�xeque, que fora improvisado com um len ol bastante usado, e�toda a gente sabe muito bem o efeito de uma quantidade desangue sobre uma superf cie branca; nestas circunst ncias, a� �pistola quase faz o efeito de uma pistola de spray e, como nocaso deste disfarce se trata de um rect ngulo de algod o,� �parece aqui mais apropriado falar de pintura moderna e efeitosde palco do que de drenagem. muito bem. s o estes os factos.�

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durante algum tempo n o pareceu improv vel que adolf� �sch nner, fot grafo de imprensa que tamb m foi encontrado� � �morto, mas s na quarta#feira de cinzas, numa zona arborizada�a oeste da cidade festiva, houvesse igualmente sido v tima da�

blum. mais tarde, por m, quando foi poss vel estabelecer uma� �certa ordem cronol gica nos acontecimentos, esta ideia provou�ser infundada". um motorista de t xi declarou posteriormente�que transportara sch nner, igualmente disfar ado de xeque e� �acompanhado de uma jovem vestida de andaluza. mas t tges fora�abatido no domingo, enquanto sch nner fora assassinado s na� �ter a#feira, ao meio#dia. embora em breve se descobrisse que a�arma encontrada ao lado de t tges de modo algum poderia ter�sido a arma que abatera sch nner, durante algumas horas a�suspeita andou volta da blum, designadamente em raz o do� �motivo. se se podia dizer que ela tinha raz es para se vingar�de t tges, tinha pelo menos os mesmos motivos para se vingar�de sch nner. mas aos investigadores parecia improv vel que ela� �tivesse duas armas. a blum cometera o seu crime com umaintelig ncia fria. quando mais tarde lhe perguntaram se tamb m� �havia assassinado sch nner, deu uma resposta cr ptica� �disfar ada de pergunta: "e ent o porque n o?"� � �

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depois, por m, a pol cia desistiu de a incriminar pelo� �assass nio de sch nner, tanto mais que ela possu a um libi� � � �que indiscutivelmente a ilibava. ningu m que conhecesse�katharina blum, ou que, no decurso das investiga es, tivesse��ficado a compreender o seu car cter, duvidava que, caso ela�tivesse assassinado sch nner, o reconheceria sem hesita o. o� ��motorista que conduzira o parzinho zona arborizada ("antes�lhe chamaria uma mata selvagem", disse ele) de modo nenhumreconheceu a blum nas fotografias. "deus do c u, estas meninas�de cabelo castanho, entre 1,63 e 1,68 de altura, esguias eentre os 24 e os 27 anos aparecem aos milhares durante ocarnaval." na resid ncia de sch nner, n o se encontraram quaisquer� � �vest gios da blum nem da andaluza. outros fot grafos de� �imprensa e amigos de sch nner s sabiam que, na ter a#feira,� � �por volta do meio#dia, ele sa ra de um bar frequentado por�jornalistas acompanhado de uma vamp.

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um dos animadores do carnaval, comerciante de vinhos echampanhes, que se orgulhava dos seus bem sucedidos esfor os�para restaurar a alegria ao carnaval, ficou bastante aliviadocom o facto de os dois acontecimentos s serem conhecidos�respectivamente na segunda e na quarta#feira. "uma coisadestas, quando as festas est o a come ar, rebenta com a boa� �disposi o e com o neg cio. se se concluir que as fantasias�� �podem ser desviadas para fins criminosos, l se vai a boa�disposi o e o neg cio fica arruinado. este g nero de coisas �� � � �um aut ntico sacril gio. a alegria e a boa disposi o requerem� � ��confian a. essa a sua base."� �

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zeitung comportou#se de uma maneira bastante bizarra depoisque o assass nio dos seus dois jornalistas foi conhecido. uma�excita o doida. t tulos garrafais. primeiras p ginas. edi es�� � � ��especiais. participa es dos bitos de propor es gigantescas.�� � ��como se # num mundo em que j h tantos tiros # o assass nio� � �de um jornalista fosse alguma coisa de especial, maisimportante, por exemplo, do que o assass nio do director de um�banco, de um empregado banc rio ou de um assaltante de um�banco.

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deve assinalar#se aqui a excessiva aten o da imprensa,��porque n o s o zeitung, mas tamb m os outros jornais,� � �trataram o assass nio de um jornalista como qualquer coisa de�mau, terr vel, quase solene, poder#se#ia quase falar de um�assass nio ritual. at falaram de "v tima da profiss o", e,� � � �evidentemente, o zeitung permaneceu teimosamente agarrado �vers o segundo a qual sch nner teria sido v tima da blum� � �tamb m e, ainda que tenhamos de admitir que, se t tges n o� � �fosse rep rter, mas, por exemplo, sapateiro ou padeiro,�provavelmente n o teria sido abatido, talvez dev ssemos tirar� �a limpo se n o seria mais apropriado falarmos aqui de uma�morte resultante de uma profiss o, pois ent o h #de surgir uma� � �explica o para o facto de uma pessoa t o inteligente como a�� �blum n o s ter planeado um assass nio, mas t #lo tamb m� � � � �levado a cabo e, no momento decisivo, por ela pr pria�engendrado, n o s ter agarrado na pistola, mas tamb m ter� � �puxado o gatilho.

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passemos agora deste n vel, que o mais baixo, para planos� �superiores. fora com o sangue! esque amos a excita o da� ��imprensa! o apartamento de katharina foi entretanto limpo, ostapetes inaproveit veis foram deitados para o lixo e os m veis� �aspirados e postos no seu lugar, tudo isto custa e por�instru es do doutor blorna, com plenos poderes dados pelo seu��amigo hach, embora se esteja ainda longe de saber se blornaser nomeado administrador dos bens.� de qualquer modo, a verdade que esta katharina blum�conseguiu, num espa o de cinco anos, investir sessenta mil�marcos numa habita o pr pria que tem o valor global de cem�� �mil marcos. por conseguinte, e para citarmos o irm o dela, que�cumpre de momento uma ligeira pena de pris o, h por l muita� � �coisa para "limpar",. mas ent o quem que se� �responsabilizaria pelos juros e amortiza o, ainda que seja de��prever que a propriedade venha a beneficiar de um consider vel�aumento de valor? que n o h s activo: tamb m h passivo.� � � � � � seja como for, t tges j h muito que foi enterrado (com uma� � �pompa excessiva, na opini o de muitos). curiosamente, a morte�e o futuro de sch nner n o foram objecto de tanta aten o e� � ��

pompa.

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mas ent o porqu , poder#se# perguntar. porque ele n o foi� � � �v tima da profiss o, mas provavelmente de um crime passional?� �o traje de xeque encontra#se no dep sito da pol cia, assim� �como a pistola. s Blorna que sabe qual a origem da pistola,� �mist rio que a pol cia e o agente do minist rio p blico� � � �tentaram em v o desvendar.�

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as investiga es sobre as actividades da blum durante os��quatro dias em quest o progrediram lindamente ao princ pio,� �mas emperraram quando se chegou a domingo. na quarta#feira tarde, o pr prio blorna tinha pago a� �katharina blum o correspondente a duas semanas de sal rio, no�montante de 280 marcos, relativo semana em curso e semana� �seguinte, uma vez que se preparava para partir de f rias com a�mulher na quarta#feira tarde. katharina n o s tinha� � �prometido aos blorna, mas tinha mesmo jurado, que desta vez iafazer f rias a valer e divertir#se no carnaval e n o fazer� �trabalho extra, como acontecera nos anos anteriores. muito bemdisposta, participara aos blorna que fora convidada pelamadrinha, amiga e confidente else woltersheim para uma pequenafesta e que era com grande satisfa o que encarava esta��oportunidade, pois havia muito que n o dan ava. e frau blorna� �dissera: # quando viermos, kathrinchen, tamb m vamos dar uma festa e�vais novamente ter oportunidade de dan ar.� desde que vivia na cidade, havia quatro ou cinco anos,katharina lamentava#se muitas vezes de n o ter oportunidade de�ir dan ar a qualquer lado,. havia, dizia ela aos blorna,�aquelas bai cas onde os estudantes sedentos de sexo procuravam�uma prostituta gr tis, depois eram aqueles lugares de tipo�bo mio que n o eram do gosto dela e, finalmente, os bailes� �organizados pela igreja, que ela abominava. na tarde de quarta#feira, como fora f cil de provar,�katharina ainda trabalhara durante duas horas em casa doshiepertz, que, por vezes, lhe pediam a colabora o. como o��casal tamb m n o passava o carnaval na cidade e ia de visita � � �filha em lemgo, katharina levou#os esta o no seu� ��volkszvagen. apesar das grandes dificuldades para arranjar umlugar onde estacionar, katharina fizera quest o em os�acompanhar gare para lhes levar a bagagem "(n o por� �dinheiro, oh n o!�

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n o h dinheiro que pague gentilezas destas e ela at ficaria� � �

muito ofendida", explicou frau hiepertz). confirmou#se que ocomboio partira s 17.30. se se quiser conceder cinco ou dez�minutos a katharina para encontrar o carro no meio dabarafunda do carnaval e mais vinte a vinte e cinco minutospara chegar a casa que ficava nos sub rbios, onde dever ter� �chegado entre as 18 e as 18.15, n o fica por explicar um nico� �minuto, admitindo que ela se dever ter lavado, mudado de�roupa e comido qualquer coisa, pois s 19.25 apareceu em casa�de frau woltersheim, n o de autom vel, mas de carro el ctrico,� � �n o vestida de bedu na ou de andaluza, mas apenas com um cravo� �vermelho na cabe a, sapatos e meias vermelhas, uma blusa de�gola alta de seda cor de mel e uma saia simples de tweed damesma cor. pode parecer sem interesse a circunst ncia de�katharina ter ido para a festa de autom vel ou de el ctrico,� �mas o facto deve ser mencionado aqui, porque, no decurso dasinvestiga es, veio a assumir consider vel import ncia.�� � �

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desde o momento em que entrou em casa de frau woltersheim,as investiga es ficaram consideravelmente facilitadas, pois,��a partir das 19, 25, katharina ficou, sem o saber, sobvigil ncia policial. toda a noite, das 19.30 at s 22, hora a� � �que saiu de casa de frau woltersheim, acompanhada de um talludwig g tten, katharina s com ele dan ou exclusiva e� � �ardentemente, como ela veio a dizer mais tarde.

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n o nos devemos esquecer aqui de pagar um tributo de�gratid o a peter hach, o agente do minist rio p blico, porque� � � a ele, e s a ele, que temos de agradecer a informa o, que� � ��toca as raias da bisbilhotice judici ria, de que, a partir do�momento em que a blum saiu de casa de frau woltersheimacompanhada de g tten, o comiss rio erwin beizmenne p s sob� � �escuta os telefones da blum e da woltersheim. o caso passou#sede uma maneira que vale a pena referir. beizmenne, como emcasos id nticos, telefonou ao superior hier rquico e disse:� �"preciso novamente das minhas tomadas. duas desta vez."

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parece que g tten, n o ter feito chamadas de casa de� � �katharina. pelo menos hach n o tinha conhecimento de nenhuma.�mas uma coisa certa: a resid ncia de katharina ficou sob� �rigorosa observa o e quando, s 10.30 da manh de�� � �quinta#feira, sem ter havido chamadas telef nicas nem g tten� �ter sa do de casa de katharina, beizmenne perdeu a paci ncia e� �a calma e, com oito agentes da pol cia rigorosamente armados,�mas tomando severas medidas de precau o, invadiu a casa, que��

passou a pente fino, n o encontrou rastos de g tten, mas� �somente katharina, que parecia extremamente calma e quasefeliz", sentada junto do balc o da cozinha a beber uma grande�ch vena de caf e a comer uma fatia de p o branco barrada de� � �manteiga e mel. katharina levantou as suspeitas da pol cia por�n o parecer surpreendida, mas calma, para n o dizer� �triunfante. vestia um roup o de algod o verde bordado com� �malmequeres e n o trazia roupa por baixo, e, quando o�comiss rio beizmenne a interrogou (muito rudemente", como ela�havia de declarar mais tarde) sobre o paradeiro de g tten, ela�disse que n o sabia quando que ludwig tinha deixado a casa.� �ela tinha acordado por volta das 9.30 e ele j tinha partido.�"sem se despedir?" "sim."

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neste momento cabe indagar acerca de uma pergunta altamentecontestada e posta pelo comiss rio beizmenne, repetida por�hach, retirada, posteriormente repetida e novamente retirada.blorna acredita que a pergunta importante porque, se�realmente foi feita, foi aqui, e em nenhum outro lugar, quecome ou a amargura, a vergonha e a f ria de katharina. uma vez� �que tanto blorna como a mulher descrevem katharina comoextremamente sens vel, quando n o menos puritana, em quest es� � �de sexo, de admitir a possibilidade de beizmenne, furioso�como estava por ver escapar#se#lhe g tten, que ele supunha ter�apanhado, ter feito a pergunta contestada. beizmenne ter�alegadamente perguntado a katharina, que se encontravacalmamente encostada ao balc o: "ele fornicou#te, n o?"� �

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ao que katharina, n o s muito corada, mas com uma express o� � �triunfante, replicou: "n o, n o o diria dessa maneira."� � pode seguramente concluir#se que, se beizmenne realmente feza pergunta, a partir desse momento n o podiam mais subsistir�quaisquer sentimentos de confian a entre ele e katharina. o�facto de realmente n o se ter estabelecido entre eles uma�rela o de confian a # embora haja provas de beizmenne, de�� �quem se diz n o ser mau tipo,, ter tentado estabelec #la # n o� � �deve ser encarado como prova conclusiva de que ele ter feito�a pergunta fat dica. a verdade que hach, que estava presente� �quando foi passada revista casa, tido entre os amigos e� �conhecidos como um doido por sexo", sendo bastante prov vel�que este pensamento cru lhe tenha ocorrido quando viu a blum,t o atraente e negligentemente vestida, encostada ao balc o e� �que lhe tenha apetecido fazer a mesma pergunta ou praticar comela o acto designado com tanta crueza.

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o apartamento foi seguidamente passado a pente fino ealgumas coisas confiscadas, designadamente pap is escritos.�katharina blum foi autorizada a vestir#se na casa de banho, napresen a de uma mulher#pol cia de nome pletzer. contudo, n o� � �foi autorizada a fechar completamente a porta da casa debanho, que ficou sob a vigil ncia rigorosa de dois pol cias� �armados. katharina foi autorizada a levar consigo a carteirae, como n o estava exclu da a possibilidade de ela ser presa,� �tamb m devia levar consigo roupa de dormir, artigos de�toilette e qualquer coisa para ler. a biblioteca dela eraconstitu da por quatro romances de amor, tr s romances� �policiais, mais uma biografia de napole o e uma biografia de�cristina da su cia. todos estes livros provinham de um clube�de livros. como ela insistisse em perguntar: "mas porqu ,�porqu ? que que eu fiz contra a lei?", pletzer, a� �mulher#pol cia, respondeu#lhe delicadamente que ludwig g tten� �era um bandido h muito procurado pela pol cia, quase� �condenado por assalto a um banco e suspeito de assass nio e�outros crimes.

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quando, cerca das 11.25, katharina blum foi finalmentelevada para ser interrogada, desistiram de lhe p r algemas.�beizmenne estava inclinado a insistir nas algemas, mas, depoisde uma breve conversa com a pletzer e com moeding, seuassistente, desistiu da ideia. uma vez que esse dia marcava oin cio do carnaval, muitos residentes do pr dio n o tinham ido� � �para o trabalho. tamb m ainda n o tinham come ado os cortejos� � �e festejos anuais do carnaval, por isso se viam no vest bulo�algumas pessoas trajando casacos, roup es, roupas matinais, e�sch nner, fot grafo da imprensa, estava precisamente em frente� �do ascensor quando katharina saiu de l de dentro entre�beizmenne e moeding, com pol cias armados de ambos os lados.�sch nner fotografou#a de frente, de tr s, de lado, v rias� � �vezes, e finalmente, como ela, envergonhada e confusa,procurasse esconder o rosto e se atrapalhasse com a carteira,a malinha de toilette e um saco de pl stico contendo os livros�e os objectos de escrita, sch nner apanhou#a desgrenhada e com�uma express o de f ria no rosto.� �

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meia hora mais tarde, depois de lhe terem explicado os seusdireitos e de lhe haverem dado oportunidade para ela se comporum pouco, come ou o interrogat rio na presen a de beizmenne,� � �moeding, frau pletzer, al m dos agentes do minist rio p blico,� � �doutores korten e hach. dos autos consta o seguinte: "o meunome Katharina brettloh (apelido de solteira: blum). nasci�em gemmelsbroich, na prov ncia de kuir, a 2 de mar o de 1947.� �o meu pai, peter blum, era mineiro. morreu, tinha eu 6 anos,

com a idade de 37 anos, de uma afec o pulmonar contra da na�� �guerra. depois da guerra, o meu pai voltou a trabalhar numamina de lousa, onde deve tamb m ter contra do silicose. depois� �da morte dele, a minha m e teve dificuldade em conseguir uma�pens o de sobreviv ncia devido falta de acordo entre o� � �minist rio dos assuntos sociais e o corpo dos mineiros.�comecei muito cedo a ajudar na lida dom stica, porque meu pai�estava muitas vezes doente, e por isso recebia sal rio�reduzido, e a minha m e trabalhava como mulher a dias.�

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na escola n o tive quaisquer dificuldades, embora durante o�tempo escolar tamb m tivesse de trabalhar, n o s em minha� � �casa, mas tamb m em casa de vizinhos e de outros habitantes da�aldeia, onde ajudava a fazer o p o, a cozinhar, a fazer�conservas e na matan a. tamb m fazia muito trabalho dom stico� � �e ajudava nas colheitas. quando sa da escola, em 1961, a�minha madrinha, frau else woltersheim, de kuir, arranjou#me umlugar de criada no talho gerbers, onde s vezes tamb m ajudava� �ao balc o. de 1962 a 1965, apoiada e ajudada financeiramente�pela minha madrinha, frequentei uma escola de economiadom stica em kuir, onde a minha madrinha era instrutora e onde�me formei com muito boas notas. de 1966 a 1967 trabalhei comoec noma no jardim#escola da firma koeschler, na povoa o� ��vizinha de oftersbroich, e depois em casa do m dico doutor�kluthen, tamb m em oftersbroich, onde apenas permaneci um ano,�porque o doutor me assediava constantemente, coisa de que amulher n o gostava e que a mim tamb m me desagradava e at� � �repugnava. em 1968, encontrando#me eu desempregada haviasemanas e a dar ajuda minha m e na lida dom stica, ia uma� � �vez por outra colaborar nas reuni es e noites desportivas da�banda de tambores de gemmelsbroich. foi a que, por interm dio� �do meu irm o mais velho, kurt blum, conheci wilhelm brettloh,�oper rio t xtil, com quem casei alguns meses mais tarde.� �vivemos em gemmelsboich, onde, s vezes, aos fins#de#semana,�quando havia muita aflu ncia de turistas, trabalhava na�cozinha do restaurante kloog, outras vezes como empregada demesa. ainda n o tinham passado seis meses e j eu sentia uma� �avers o insuport vel pelo meu marido. n o quero entrar em� � �pormenores. deixei o meu marido e fui para a cidade. fuiconsiderada culpada do div rcio por abandono do lar e retomei�o meu nome de solteira. comecei por ir viver com frauwoltersheim, at que, passadas semanas, arranjei um lugar de�governanta em casa do doutor fehnern, perito contabilista. odoutor fehnern facultou#me a possibilidade de frequentar umaescola nocturna para adultos, onde obtive o diploma comogovernanta. o doutor fehnern era muito simp tico e generoso,�de modo que continuei a trabalhar em casa dele depois de terobtido o diploma. nos finais de 1960, o doutor fehnern foipreso sob a acusa o de consider veis fraudes fiscais nas�� �firmas para onde trabalhava. antes de o levarem entregou#me umenvelope com tr s meses de sal rio e pediu#me que continuasse� �a olhar#lhe pelas coisas. ele n o tardaria a voltar, dizia.�

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ainda fiquei um m s, tomava#lhe conta dos empregados que�trabalhavam no escrit rio sob a vigil ncia de funcion rios� � �fiscais, mantinha a casa limpa e o jardim em ordem etratava#lhe da roupa. levava#lhe a roupa lavada pris o e� �tamb m lhe levava comida, sobretudo p t das ardenas, que me� � �acostumara a encomendar no talho gerbers, em kuir. mais tarde,o escrit rio foi encerrado, a casa confiscada e eu tive de�deixar o meu quarto. parece que tinham conseguido fazer provade que o doutor fehnern teria praticado um desfalque comfalsifica o, pelo que foi mandado para uma pris o comum, onde�� �continuei a visit #lo. quis tamb m ainda devolver#lhe os dois� �meses de ordenado que ele me pagara a mais, mas ele recusouterminantemente. depressa arranjei outro lugar em casa dodoutor blorna, que eu tinha conhecido atrav s do doutor�fehnern. os blorna habitam uma casa na nova urbaniza o lado sul.��embora eu tivesse possibilidades de ficar a viver com eles,decidi permanecer independente e, finalmente, exercerlivremente a minha profiss o. os blorna foram muito bondosos�comigo. frau blorna, que trabalha num atelier de arquitectura,ajudou#me a arranjar uma casa pr pria na cidade#sat lite do� �sul que era anunciada como resid ncias elegantes da beira#rio.� o doutor blorna e a mulher, respectivamente como advogado ecomo arquitecta, tinham colaborado no projecto. com o doutorblorna calculei o financiamento, juro e amortiza o por um��apartamento de duas divis es com cozinha e casa de banho, no�oitavo andar, e, uma vez que eu tinha conseguido poupar 7000marcos e os blorna ficaram como fiadores do empr stimo de�30.000 marcos que pedi ao banco, n o demorei muito a mudar#me�para a minha casa nova. a princ pio, os meus encargos mensais�m nimos atingiam 1100 marcos, mas como o doutor e frau blorna�n o me deduziam nada pela alimenta o e frau blorna at me� �� �dava alguma coisa de comer e beber para eu levar para casavivia muito economicamente. consegui assim amortizar oempr stimo mais depressa do que a princ pio calculara.� � h quatro anos que trato da casa dos blorna. o meu dia de�trabalho come a s 7 horas da manh e termina por volta das� � �16.30, depois de ter feito as limpezas da casa e as compras edeixado o jantar preparado. tamb m tenho a responsabilidade da�roupa. entre as 16.30 e as 17.30 trato da minha pr pria casa�e, depois disso, ainda trabalho geralmente entre uma hora emeia e duas horas em casa dos hiepertz, um casal idoso. emambas as casas recebo pagamento suplementar pelo trabalhorealizado ao s bado e ao domingo.�

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nas minhas horas livres trabalho para kloft, o aprovisionador,ou colaboro na prepara o de recep es, festas, casamentos,�� ��bailes, geralmente por minha conta e risco, de acordo com umpagamento previamente fixado, ou ent o em representa o da� ��firma kloft. fa o os c lculos, o planeamento geral, mas, por� �

vezes, tamb m trabalho como cozinheira ou como empregada de�mesa. as minhas receitas brutas atingem, em m dia, 1800 a 2300�marcos. perante a reparti o de finan as sou trabalhadora�� �independente. pago os meus pr prios impostos e seguro. todas�estas coisas, declara es de impostos, etc., s o tratadas, sem�� �encargos para mim, no escrit rio do doutor blorna. desde 1972�possuo um volkswagen de 1968, que me foi vendido por bom pre o�por werner klomer, chefe de cozinha da firma kloft. estava ater muitas dificuldades em chegar aos v rios lugares onde�trabalho nos transportes p blicos. com o carro passei a ter�mais facilidade em trabalhar em festas e recep es dadas em��hot is distantes."�

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levou das 11 horas s 12.30 e da 1.30 s 5.30, com uma hora� �de intervalo para almo o, esta parte do interrogat rio.� �durante o intervalo para almo o, katharina recusou aceitar o�caf e a sandu che de queijo que a pol cia lhe ofereceu, e nem� � �as palavras persuasivas e aparentemente bem#intencionadas defrau pletzer e do assistente moeding conseguiram demov #la.�"era#lhe obviamente imposs vel" # disse hach # "distinguir�entre as rela es oficiais e as particulares, compreender a��necessidade do interrogat rio." quando beizmenne, que, de�colarinho desabotoado e gravata solta, saboreava o caf com a�sandu che, assumiu uma atitude paternal e at pretendeu agir� �paternalmente, katharina insistiu em ser levada para uma cela. facto comprovado que os dois agentes destacados para a�acompanharem se esfor aram por a persuadir a aceitar o caf e� �as sandu ches, mas ela abanava teimosamente a cabe a,� �permaneceu sentada no catre a fumar um cigarro e, de narizfranzido e com uma express o de repugn ncia, manifestou de� �forma inconfund vel a sua avers o pelos restos de vomitado que� �se encontravam espalhados no lavabo da cela. mais tarde, apedido de frau pletzer e dos dois jovens agentes, condescendeuem que aquela lhe tomasse o pulso e, como fosse normal,

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admitiu mandar vir de um caf pr ximo um ch e uma fatia de� � �bolo areado, mas insistiu em pagar do seu pr prio bolso,�embora um dos jovens agentes, aquele que, de manh , vigiara a�porta da casa de banho enquanto ela se vestia, se preparassepara lhe pagar tudo. opini o dos dois agentes e de frau pletzer acerca deste�incidente com katharina blum: destitu da de sentido de humor.�

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das 13.30 s 17.45 continuou o interrogat rio. beizmenne bem� �

gostaria de o encurtar, mas a blum insistiu em dar todos ospormenores referentes sua pessoa, para o que deram o seu�consentimento os dois agentes do minist rio p blico. e, por� �fim, tamb m beizmenne concordou, a princ pio com relut ncia e� � �depois com ast cia, tendo em vista certos pormenores do�passado dela que se lhe afiguraram importantes. pelas 17.45 levantou#se a quest o de saber se o�interrogat rio deveria continuar ou ser suspenso, se deveriam�p r a blum em liberdade ou mand #la recolher a uma cela. cerca� �das 17 horas ela deixou#se persuadir a aceitar mais umach vena de ch com uma sandu che de presunto e declarou#se de� � �acordo em que o interrogat rio prosseguisse, depois de�beizmenne lhe ter prometido que a poria em liberdade no fim. o assunto seguinte foram as rela es dela com frau��woltersheim. katharina declarou que else woltersheim era suamadrinha, que sempre se interessara por ela e que era umaparente distante de sua m e. assim que katharina chegara � �cidade, logo se pusera em contacto com ela. "no dia 20 de fevereiro fui convidada para aquele baile,que, em princ pio, se deveria realizar no dia 21, v spera de� �carnaval, mas que foi adiado porque frau woltersheim ficouimpedida por raz es profissionais. era o primeiro baile a que�eu ia havia quatro anos. quero dizer, desejo corrigir estasdeclara es: em v rias ocasi es, talvez duas ou tr s, o m ximo�� � � � �quatro, dancei em casa dos blorna, em festas que eles deram ea que eu ajudei. no fim da noite, depois de ter lavado a loi a�e servido o caf e de o doutor blorna ter tomado conta do bar,�iam chamar#me para o sal o e eu dan ava com o doutor blorna e� �com os outros h spedes, cavalheiros da universidade, da�economia e da pol tica. mais tarde comecei a n o gostar muito� �disto e acabei por deixar completamente de aceitar estesconvites: que, muitas vezes, os cavalheiros tinham bebido de�mais e come avam com impertin ncias.� �

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para ser mais exacta: depois de comprar o meu autom vel, nunca�mais aceitei estes convites para dan ar. anteriormente estava�dependente de um deles me levar de autom vel a casa. tamb m� �dancei algumas vezes com aquele cavalheiro ali", e apontoupara hach, que corou vivamente. n o lhe perguntaram se hach fazia parte dos que lhe tinham�feito propostas impertinentes.

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o interrogat rio demorou tanto tempo porque katharina�exigiu, com extremo rigor, que lhe lessem em voz alta tudo oque ficava registado nos autos. por exemplo, no ltimo�cap tulo, quando ela referiu as impertin ncias dos� �cavalheiros, a vers o original registada falava de ternuras,�os cavalheiros tornavam#se ternos". katharina indignou#se eprotestou energicamente contra isto, e o facto deu lugar acontrov rsias de defini o entre ela e os agentes do� ��

minist rio p blico, entre ela e beizmenne, pois katharina� �sustentava que ternura era uma ac o rec proca, enquanto�� �impertin ncias implicavam uma ac o unilateral, e era esta que� ��sempre estivera em causa. como os cavalheiros achassem queisso era coisa de pouca import ncia e que era ela quem tinha a�culpa de o interrogat rio demorar mais que o habitual,�katharina declarou que n o assinaria nenhum auto em que em vez�de impertin ncias figurasse ternuras. para ela, a diferen a� �tinha um significado crucial e era uma das raz es por que ela�se tinha divorciado do marido: que ele nunca tinha sido�terno com ela, mas sempre impertinente. surgiram outras controv rsias do g nero quanto palavra� � �bondoso aplicada aos blorna. nos autos haviam registadosimp ticos para comigo. katharina insistia na palavra bondoso.�e, quando lhe sugeriram a palavra am veis em vez de bondosos,�com o argumento de que bondosos tinha um ar antiquado,katharina mostrou#se indignada e declarou que simpatia eamabilidade n o tinham nada a ver com bondade e era com�bondade que ela achava que os blorna sempre a haviam tratado.

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entretanto foram interrogados os outros habitantes doedif cio. a maior parte deles pouco ou nada sabiam de�katharina blum. haviam#na encontrado e cumprimentado algumasvezes no elevador, sabiam que lhe pertencia o volkswagenvermelho, alguns julgavam#na uma esp cie de secret ria� �particular, outros supunham#na chefe de sec o de um armaz m.�� �sempre a haviam achado jeitosa, simp tica, mas um tanto�reservada. entre os habitantes dos cinco apartamentos dooitavo andar, onde ficava o apartamento de katharina, s dois�puderam adiantar mais alguns pormenores. um era a propriet ria�de um sal o de cabeleireiro, frau schmill, e o outro era um�reformado dos servi os el ctricos, chamado ruhwiedel. o mais� �surpreendente foi a afirma o comum aos dois de que, de vez em��quando, katharina levava para casa ou recebia a visita de umcavalheiro. frau schmill asseverava que o cavalheiro vinharegularmente, a de duas em duas ou de tr s em tr s semanas,� � �era um homem dos seus 40 anos, de tipo atl tico e de um n vel� �nitidamente superior, enquanto o senhor ruhwiedel descrevia ovisitante como um tipo ainda bastante novo, que algumas vezesentrava sozinho no apartamento, outras vezes acompanhandofraulein blum. no decorrer dos ltimos dois anos teria�aparecido umas oito ou nove vezes. "e s o estas as visitas que�eu observei. sobre as que n o observei n o posso evidentemente� �dizer nada." quando, l para o fim da tarde, katharina foi confrontada�com estas afirma es e solicitada a responder#lhes, foi hach��quem, mesmo ainda antes de formular propriamente a pergunta,procurou facilitar#lhe as coisas, sugerindo que estesvisitantes poderiam ser aqueles que algumas vezes a levavam decasa dos blorna a sua casa. katharina, corando vivamente dehumilha o e ira, perguntou mordazmente se era contra a lei��

receber visitas de cavalheiros e, como ela se recusasse afazer uso ou n o reconhecesse a ponte que hach gentilmente lhe�lan ara, o pr prio hach lhe replicou tamb m com mordacidade� � �que ela devia compreender que o caso que estava aqui a serinvestigado, designadamente o de ludwig g tten, era um caso�extremamente s rio, com muitas ramifica es, e que havia j� �� �mais de um ano que ocupava as aten es da pol cia e do�� �minist rio p blico. perguntava#lhe, pois, se as visitas, que� �ela obviamente n o negava, tinham sempre sido de uma e mesma�pessoa. e aqui beizmenne interveio brutalmente para dizer:

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# conhece ent o g tten, h dois anos.� � � katharina ficou t o surpreendida com esta afirma o que n o� �� �encontrou resposta imediata. limitou#se a olhar para beizmenneabanando a cabe a e acabando por dar uma resposta�surpreendentemente suave e hesitante: # mas n o, n o. encontrei#o ontem pela primeira vez.� � resposta que soou pouco convincente. como em seguida fosse convidada a identificar o visitante,katharina abanou a cabe a quase horrorizada" e recusou#se a�dar nomes. ent o, beizmenne assumiu mais uma vez ares�paternais e tentou persuadi#la, dizendo que n o havia nada de�mal em ela ter um amigo que fosse # e aqui comet u um erro�psicol gico crucial # n o atrevido, mas terno para com ela,� �ela era divorciada e n o estava portanto obrigada a fidelidade�e nem sequer seria censur vel # terceiro erro decisivo # se�dessas rela es eventualmente lhe resultassem algumas��vantagens materiais. e aqui o passo em falso foi definitivo.katharina recusou#se terminantemente a continuar a prestardeclara es e insistiu em que a metessem numa cela ou levassem��para casa. ent o, com grande surpresa dos presentes,�beizmenne, com voz suave e exausta # eram agora 20.40 #,declarou que ia mandar um agente acompanh #la a casa. j� �katharina estava de p a reunir a carteira, a bolsa de�toilette e o saco de pl stico quando ele lhe perguntou s bita� �e incisivamente: # como que o seu doce ludwig conseguiu escapar#se de casa�a noite passada? todas as entradas e sa das estavam guardadas.�voc com certeza conhecia um caminho que lhe indicou e eu vou�descobrir como foi. adeus.

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moeding, assistente de beizmenne, que acompanhou katharina acasa, relatou mais tarde que ficara muito inquieto com oestado da jovem e at receou que ela praticasse algum acto�desesperado. estava absolutamente desfeita e, curiosamente,foi neste estado que ela revelou ou desenvolveu um certosentido de humor. iam a atravessar a cidade quando ele lheperguntou gracejando se n o seria uma boa ideia irem a�qualquer lado tomar uma bebida e dan ar, vontade e sem� �

pensamentos reservados, ao que ela replicou, acenando com acabe a, que n o seria m ideia e talvez at fosse agrad vel,� � � � �

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e mais tarde, j diante do pr dio onde ela morava, quando ele� �se ofereceu para a acompanhar at l acima, ela teria� �respondido sarcasticamente: # melhor n o. como sabe, j tenho visitas de cavalheiros� � �que cheguem. mas, de qualquer modo, obrigada. moeding tentou durante todo o ser o e metade da noite�convencer beizmenne de que deveria prender katharina para suapr pria seguran a, e quando beizmenne lhe perguntou se ele n o� � �estaria apaixonado por ela, moeding replicou que n o, que�gostava simplesmente dela, que eram os dois da mesma idade eque n o acreditava na teoria de beizmenne de uma grande�conspira o em que katharina estivesse envolvida.�� o que ele n o contou e que blorna soube atrav s de frau� �woltersheim foram os dois conselhos que deu a katharinaquando, apesar da recusa inicial dela, a acompanhou at ao�elevador, dois conselhos que lhe poderiam ter custado caro eque, al m disso, eram at perigosos para ele e para os� �colegas. disse designadamente o seguinte diante do elevador: # n o toque no telefone e amanh n o abra o jornal.� � � com isto n o se ficou a saber se ele se referia ao�zeitung(1) ou aos jornais em geral.

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eram mais ou menos 3.30 da tarde do mesmo dia (quinta#feira21#2#74) quando, pela primeira vez depois da sua chegada aolocal da vilegiatura, o doutor blorna decidiu afivelar osesquis e preparar#se para uma grande volta. a partir dessemomento, as suas t o ambicionadas f rias estavam decididamente� �estragadas. bem agrad vel tinha sido o longo passeio na noite�anterior, logo ap s a chegada. durante duas horas caminhara na�neve com a trude, depois fora a bela garrafa de vinho e o sonorepousante com a janela aberta. e, de manh , o primeiro�pequeno#almo o das f rias t o longamente adiadas e o repouso� � �no terra o, durante algumas horas, bem embrulhado na roupa�quente. eis sen o quando, precisamente quando ele se preparava�para iniciar o passeio, aparecera aquele tipo do zeitung, que,sem mais nem menos, desatara a falar de katharina.

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o doutor blorna considerava#a capaz de um crime? ao que elereplicara: # que que quer dizer com isso? sou advogado e sei que toda�a gente capaz de cometer um crime. de que crime que fala?� �de katharina? imposs vel! como que lhe veio essa ideia? de� �

onde que a conhece?� quando foi finalmente informado de que um bandido h muito�procurado pela pol cia passara a noite em casa de katharina e�que esta estava a ser interrogada desde as 11 horas da manh ,�o doutor blorna tomou logo a decis o de regressar para lhe�prestar assist ncia, mas o tipo do zeitung # ele tinha�realmente um ar assim t o sujo ou essa impress o nascera#lhe� �mais tarde? # assegurara#lhe que as coisas ainda n o tinham�chegado a esse ponto e perguntou se o doutor blorna n o�quereria dar#lhe alguns pormenores da personalidade dela. comoele recusasse, o homem achou que era mau sinal e que podia sermal#interpretado, pois o sil ncio sobre tal assunto # e�tratava#se de uma hist ria de primeira p gina # era um ind cio� � �claro de um mau car cter. ent o blorna, muito furioso e� �irritado, disse: # katharina uma pessoa muito inteligente e de cabe a fria.� � e ficou aborrecido, porque isto tamb m n o correspondia � � �verdade nem exprimia o que ele queria e devia dizer. nuncativera nada a ver com jornais e menos ainda com o zeitung.quando o tipo se foi embora no seu porsche, blorna desafivelouos esquis e percebeu que as f rias tinham terminado. foi ter�com trude, que estava deitada ao sol, na varanda,semiadormecida e bem embrulhada nos cobertores. contou#lhe oque se passava. # telefona#lhe # disse ela. ele tentou realmente telefonar#lhe, tr s, quatro, cinco�vezes, mas a resposta da funcion ria era sempre a mesma: "o�n mero que deseja n o responde." por volta das 11 horas tentou� �mais uma vez, sem xito. bebeu muito e dormiu mal.�

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na sexta#feira de manh , quando, por volta das 10 horas,�apareceu mal#humorada para tomar o pequeno#almo o, trude�estendeu#lhe o zeitung. katharina em primeira p gina, grande�fotografia, letras garrafais.

*1. jornal em alem o. (n. da t.)�

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katharina blum. namorado salteador.

katharina recusa informa es sobre visitantes masculinos��ludwig g tten, bandido e assassino h mais de ano e meio� �procurado pela pol cia, poderia ter sido capturado ontem se a�amante, katharina blum, empregada dom stica, lhe n o tivesse� �protegido a fuga e destru do a pista. a pol cia suspeita que a� �blum h muito est envolvida no caso. (mais pormenores na� �ltima p gina sob o t tulo: visitas de cavalheiros.)� � � na ltima p gina viu que o zeitung transformara a sua� �

afirma o de que katharina era uma pessoa inteligente e de��cabe a fria, em "gelada e calculista" e das suas afirma es de� ��car cter geral sobre a criminalidade deduziam que ela era�inteiramente capaz de cometer um crime. o pastor de gemmelbroich declarou o seguinte: "dela esperotudo. o pai era um comunista encapotado e a m e, a quem dei�emprego por compaix o, roubava o vinho da consagra o e� ��entregava#se a orgias na sacristia com os amantes." h dois anos que a blum recebe regularmente visitas de�cavalheiros. a casa dela ter sido centro de conspira o,� ��ponto de encontro do bando, esconderijo de armas? como que�uma empregada dom stica de 27 anos ter conseguido comprar uma� �casa pr pria com o valor aproximado de 110 mil marcos? teria�parte no saque do bando? a pol cia continua as investiga es.� ��o gabinete do minist rio p blico trabalha sem hor rio. amanh� � � �mais not cias. o zeitungh, como sempre, em cima do�acontecimento. hist ria completa na edi o semanal de amanh .� �� � nessa tarde, no aeroporto, o doutor blorna reconstruiu estasequ ncia r pida de acontecimentos:� � 10.25: telefonema de l ding, muito excitado, solicitando#me�o regresso imediato e a entrada em contacto com alois, queestaria igualmente muito excitado. alois, que, na descri o de��l ding, estaria absolutamente fora de si # coisa que me parece�improv vel, pois nunca o vi nesse estado #,�

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encontra#se presentemente a assistir a um semin rio para�homens de neg cios crist os em bad bedelig, onde ele o� � �principal orador e moderador. 10.40: telefonema de katharina a inquirir se eu tinharealmente dito o que vinha no zeitung. fiquei contente porpoder esclarecer a situa o. katharina ter dito (estou a�� �citar de mem ria) qualquer coisa deste g nero: "acredito.� �acredito realmente no que diz. agora sei como que esses�malandros trabalham. esta manh at foram descobrir a minha� �m e, que est t o doente, o brettloh e outras pessoas. quando� � �lhe perguntei onde que estava, disse#me: em casa da else. e�agora tenho de ir novamente para o interrogat rio."� 11.00: chamada de alois, a quem pela primeira vez, em vinteanos, vi num estado de grande agita o e alarme. pediu#me que��regressasse imediatamente para o representar num assunto muitodelicado. tinha de ir agora apresentar a sua comunica o,��depois ia almo ar com os homens de neg cios, em seguida ia� �dirigir os debates e noite teria de participar numa reuni o� �informal, mas teria possibilidades de aparecer em nossa casaentre as 7.30 e as 9.30 e de dar um salto reuni o informal� �mais tarde. 11.30: trude tamb m de opini o de que deveremos partir� � �imediatamente para darmos assist ncia a katharina. deduzo do�seu sorriso ir nico que ela j tem (provavelmente correcta,� �como sempre) uma teoria sobre as dificuldades de alois. 12.15: reservas feitas, malas arranjadas, conta paga. depoisde umas f rias que pouco mais duraram do que 40 horas, corrida�de t xi para o aeroporto. aqui aguardo das 14 s 15 horas que� �o nevoeiro levante. longa conversa com trude acerca de

katharina, de quem sou muito, muito amigo, como do�conhecimento de trude. discutimos o modo como encoraj mos�katharina a n o ser suscept vel, a esquecer a sua inf ncia� � �infeliz e o seu casamento mal sucedido, como tent mos vencer o�orgulho de katharina em quest es de dinheiro, levando#a a�aceitar um empr stimo da nossa pr pria conta a juros mais� �baixos do que os do banco. mesmo tendo#lhe n s explicado que,�se ela nos pagasse 9% em vez de 14% ao banco, n s n o� �ficar amos a perder nada, enquanto ela pouparia muito, n o� �pareceu muito convencida. discutimos quanto devemos akatharina: desde que ela dirige o governo da nossa casa deforma t o calma e simp tica, diminu ram as despesas e temos� � �podido dedicar#nos livremente ao trabalho profissional por umaforma que n o h dinheiro que a pague.� �

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libertou#nos do caos que durante cinco anos afectou o nossocasamento e trabalho profissional. s 16.30, como o nevoeiro ainda n o parecesse em vias de� �levantar, decidimos ir de comboio. a conselho de trude, n o�telefono ao alois str ubleder. de t xi para a esta o, onde� � ��ainda apanh mos o comboio das 17.45 para francoforte. viagem�medonha # n usea, nervos esfrangalhados. at a trude est� � �s ria e excitada. est a prever grande fatalidade. em munique� �fazemos transbordo para um outro comboio, onde conseguimos umvag o#cama. estamos ambos a antever complica es com a� ��katharina e aborrecimentos com o l ding e o str ubleder.� �

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logo no s bado de manh , ao chegarem esta o da cidade,� � � ��que continuava com as decora es do carnaval, os blorna,��esgotados e infelizes, viram logo na gare da esta o o��zeitung, de novo com katharina na primeira p gina, desta vez�acompanhada de um agente civil e a descer as escadas do�pres dio.�

noiva do assassino recusa#se a falar nenhum ind Cio do�paradeiro de g TTEn pol Cia em grande alerta� �

trude comprou o pasquim e, em sil ncio, seguiram de t xi� �para casa. ia ele para pagar, enquanto trude se preparava paraabrir a porta, quando o motorista disse, apontando para ozeitung: # o senhor tamb m vem a no jornal. conheci#o logo. o� � �advogado e patr o da tipinha.� blorna deu ao homem uma gorjeta farta e o motorista, com umsorriso menos malicioso que o tom de voz, ajudou#o a levar asmalas, sacos e esquis at ao vest bulo, onde se despediu com� �amistoso "adeusinho". trude j tinha ligado a m quina do caf e estava a lavar as� � �

m os na casa de banho. o zeitung estava na sala em cima da�mesa e, ao lado, dois telegramas, um de l ding e outro de�str ubleder. o de l ding dizia:� �

"no m nimo desapontado falta de contacto. l ding."� �

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o de str ubleder. "n o posso compreender que me abandonas� �nesta situa o. espero telefonema breve. alois."�� eram precisamente 8.15, quase a hora a que katharina lhesservia o pequeno#almo o: arranjava sempre a mesa t o bem! com� �flores, guardanapos e toalha, lavados, v rias esp cies de p o� � �e mel, ovos e caf e, para trude, torradas e marmelada�inglesa. at Trude estava quase sentimental quando trouxe o caf com� �um pouco de p o de centeio, mel e manteiga.� # as coisas nunca mais voltam a ser o que eram. v o dar cabo�daquela pobre rapariga. se n o for a pol cia, o zeitung, e,� � �quando o zeitung perder o interesse nela, ser o p blico.� �olha, l isto aqui e depois telefona l queles senhores.� � � ele leu o seguinte:

o zeitung, no seu constante esfor o para manter os seus�leitores a par dos acontecimentos, conseguiu reunir algumasinforma es que lan am nova luz sobre o car cter e o passado�� � �pouco transparente da blum. os rep rteres do zeitung�conseguiram descobrir a m e da blum, que se encontra�gravemente doente e que se lamenta de a filha n o a visitar h� �muito. seguidamente, confrontada com os factos irrefut veis,�disse: "tinha de acontecer. tinha de acabar assim." oex#marido da blum, wilhelm brettloh, um respeit vel oper rio� �t xtil (o casal divorciou#se, tendo a blum sido considerada�culpada do div rcio por abandono do lar), fez voluntariamente�as seguintes declara es ao zeitung: "agora sei porque que�� �ela me deixou", disse ele, contendo as l grimas a custo,�"porque que me repeliu. foi isso que aconteceu. agora�percebo tudo. a nossa modesta felicidade n o lhe bastava.�queria mais. e como que um modesto e honesto oper rio� �poderia arranjar um porsche? talvez", acrescentou elesensatamente, "o senhor possa transmitir o meu conselho aosseus leitores: assim que acabam as ideias erradas acerca do�socialismo. eu pergunto ao senhor e aos seus leitores: como �que uma criada p de conseguir tal fortuna? honestamente n o� �foi. agora sei porque que eu sempre temi o seu radicalismo e�dio Igreja. dou gra as a deus por n o nos ter dado filhos.� � � �e, se agora sei que ela prefere as car cias de um assassino e�ladr o minha afei o simples, esse cap tulo tamb m fica� � �� � �explicado. e, no entanto, sinto vontade de lhe dizer:

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"minha pequena katharina, se ao menos tivesses ficado ao p de�mim! com o tempo tamb m n s ter amos podido conseguir uma casa� � �e um carrinho! um porsche n o teria sido poss vel, mas uma� �felicidade modesta como pode oferecer um honesto trabalhadorque n o confia nos sindicatos. ah, katharina..."�

na ltima p gina, sob o t tulo "casal de reformados est� � � �horrorizado, mas n o surpreendido", blorna encontrou uma�coluna marcada a vermelho:

o doutor benhold hiepertz, director de um liceu,reformado, e sua mulher, frau erna hiepertz, mostraram#sehorrorizados com as actividades da blum, mas n o�particularmente surpreendidos". em lemgo, onde o doutorhiepertz, fil logo e historiador, se encontra de visita a uma�filha que dirige um hospital, uma colaboradora do zeitungobteve dele as seguintes declara es a prop sito da blum, que�� �trabalhou em sua casa durante tr s anos: "uma pessoa radical�em todos os aspectos que nos enganou muito bem!" "(hiepertz, a quem blorna telefonou mais tarde, jurou que oque dissera fora o seguinte: "se katharina uma radical,�ent o radical na sua solidariedade, capacidade de� �organiza o e intelig ncia, ou ent o estou muito enganado com�� � �ela, coisa que raramente me aconteceu na minha experi ncia de�40 anos como professor.") continua o da p gina 1:�� � o ex#marido da blum, hoje um homem completamente destro ado,�que foi procurado pelo zeitung durante um ensaio da banda detambores e p faros de gemmelsbroich, voltou#se para disfar ar� �as l grimas. tamb m os outros membros da banda, para usar as� �palavras de meffels, um velho campon s, viraram as costas de�repulsa a katharina, que sempre fora t o estranha e pretendera�passar por puritana. os inocentes divertimentos carnavalescosde um honesto trabalhador podem agora considerar#seestragados. por fim vinha uma fotografia de blorna e trude no jardim �beira da piscina. legenda: "que papel desempenha a mulheroutrora conhecida como a "trude vermelha" e o respectivomarido, que tamb m por vezes se apresenta como esquerdista? o�doutor blorna, advogado bem pago da grande ind stria, e frau�trude blorna diante da piscina da sua luxuosa mans o."�

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agora devemos empreender uma esp cie de retrospectiva,�qualquer coisa como aquilo que no cinema e na literaturacostuma designar#se como flash#back: desde a manh de s bado� �em que o casal blorna, esgotado e bastante exasperado,regressou das f rias manh de sexta#feira em que katharina� � �foi mais uma vez convocada para interrogat rio no pres dio.� �desta vez foi acompanhada por frau pletzer e por um agentemais velho, que levava apenas uma arma ligeira, e n o saiu de�sua pr pria casa, mas da resid ncia de frau woltersheim, para� �

onde katharina se dirigira pelas 5 da manh , desta vez no seu�pr prio carro. a agente n o fez segredo de que sabia que iria� �encontrar katharina, n o em sua pr pria casa, mas em casa de� �frau woltersheim. ( de justi a lembrar aqui os sacrif cios e� � �ma adas sofridos pelo casal blorna: interrup o das f rias,� �� �corrida de t xi para o aeroporto, espera por causa do�nevoeiro, t xi para a esta o, comboio para francoforte,� ��transbordo em munique, sacudidos no vag o#cama e, de manh� �cedo, mal chegaram a casa, confrontados com o zeitung! maistarde # demasiado tarde, evidentemente #, blorna arrependeu#sede n o ter telefonado ao hach em vez de telefonar a katharina,�que sabia ter sido interrogada pelo tipo do zeitung.) o que impressionou todos os que participaram no segundointerrogat rio de katharina, na sexta#feira# de novo moeding,�a pletzer, os agentes do minist rio p blico, doutores korten e� �hach e a esten grafa anna lockster, que se irritou com a�sensibilidade lingu stica da blum e lhe chamou afectada" #, a�que impressionou todos foi a boa disposi o radiosa de��beizmenne. entrou na sala a esfregar as m os, tratou katharina�com todo o respeito, pediu desculpa por certas grosserias queeram imput veis, n o fun o, mas sua pr pria personalidade� � � �� � �# que ele era um tipo pouco polido #, e depois come ou a ler� �a lista dos objectos confiscados:

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1. uma pequena agenda bastante gasta, de capa verde, queapenas continha n meros de telefone, que entretanto haviam�sido verificados e n o apresentavam nada de comprometedor.�katharina blum usava este livrinho havia quase dez anos, erabvio. um perito em caligrafia que procurava vest gios de� �g tten atrav s da letra (g tten, fora, entre outras coisas,� � �desertor do ex rcito e trabalhara num escrit rio, tendo� �deixado, por conseguinte, muitos vest gios escritos)�descrevera o desenvolvimento da letra de katharina como umexemplo cl ssico: aos 16 anos, a rapariga tomara nota do�n mero do telefone do talho gerbers, aos 17 registara o n mero� �do telefone do doutor kluthen, aos 20 o do doutor fehnern emais tarde os telefones e direc es de aprovisionadores,��restaurantes, colegas. 2. extractos da conta banc ria, em que todas as transac es� ��tinham sido meticulosamente identificadas na letra da blum.pagamentos, transfer ncias # tudo correcto, nenhum movimento�suspeito. o mesmo se aplicava s entradas e notas contidas num�pequeno arquivo onde ela registara as suas responsabilidadespara com a firma haftex, qual comprara o apartamento nas�resid ncias elegantes da beira#rio. tamb m foram� �meticulosamente examinadas e verificadas as suas declara es��de impostos, informa es e pagamentos, mas o perito em parte��nenhuma encontrou qualquer soma maior sonegada. beizmennefizera quest o em que fossem examinadas com especial cuidado�as suas transac es dos ltimos dois anos, a que ele chamava�� �por piada o per odo das visitas dos cavalheiros. nada. mas�resultou do exame que katharina todos os meses enviava m e� �150 marcos e que tinha um contrato com a firma kolter de kuirpara lhe cuidarem do t mulo do pai, em gemmelsbroich. os�

m veis que ela adquirira, utens lios dom sticos, vestu rio,� � � �roupa interior, contas de gasolina, tudo verificado e nenhumadiscrep ncia. o contabilista, ao devolver os documentos a�beizmenne, dissera: # quando ela for libertada, se andar procura de emprego,�fale comigo. de uma pessoa assim que a gente anda sempre � �procura e nunca encontra. tamb m as contas de telefone da blum n o deram qualquer� �raz o de suspeita. era bvio que fazia poucas chamadas� �interurbanas. tamb m foi observado que, de vez em quando, katharina�enviava pequenas quantias, entre 15 e 30 marcos, ao irm o, que�se encontrava a cumprir uma pena de pris o por assalto a uma�resid ncia, para lhe aumentar um pouco o dinheiro para�despesas mi das.�

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para a igreja, a blum n o pagava quaisquer taxas. via#se pelos�seus registos que abandonara a igreja cat lica com a idade de�19 anos. 3. uma outra agenda com v rios registos, sobretudo n meros,� �que continha quatro colunas: uma respeitante casa dos�blorna, com as contas da mercearia, detergentes, limpeza aseco, lavandaria. via#se por aqui que era a pr pria katharina�quem passava a ferro. a segunda coluna dizia respeito casa dos hiepertz, com os�mesmos pormenores e contas. a terceira era da sua pr pria casa, que ela claramente�governava com um or amento limitado: havia meses em que quase�n o gastava mais de 30 a 50 marcos em v veres. contudo,� �parecia que ia muitas vezes ao cinema # televis o n o tinha #� �e que de vez em quando comprava chocolate e at bombons.� a quarta coluna continha notas de receitas e despesasrespeitantes a trabalhos extra que ela fazia # compra elimpeza de uniformes e uma percentagem das despesas do seuvolkswagen. neste ponto # as contas da gasolina #, beizmenneinterveio, com uma brandura que surpreendeu toda a gente, paralhe perguntar qual a raz o das contas relativamente elevadas�da gasolina, contas que, de resto, estavam de acordo com osn meros indicados no conta#quil metros. tinha#se verificado� �que o caminho # ida e volta # para casa dos blorna era decerca de 6 quil metros, que a dist ncia da casa dos hiepertz� �era de 8 quil metros e a de frau woltersheim era de 4�quil metros. se se quisesse admitir que ela fazia um trabalho�extra por semana # isto num c lculo generoso #, para o qual se�atribu ssem 20 quil metros, com igual generosidade, isto daria� �uma m dia de 3 quil metros di rios. no total atingir#se#iam� � �21#22 quil metros di rios. e era preciso considerar que ela� �n o visitava frau woltersheim diariamente, mas com isso n o se� �entrava em considera o. por outras palavras, chegava#se a uma��estimativa de 8000 quil metros por ano. ora ela, katharina�blum, tinha adquirido o carro com 56 mil quil metros, como se�podia ver pelo contrato escrito com klomer, o chefe decozinha. fazendo agora as contas a 2 vezes 8000, oconta#quil metros deveria agora marcar 72 mil, e a verdade � �

que marcava quase 102 mil. verdade que ela fora algumas�vezes visitar a m e a gemmelsbroich e, mais tarde, ao hospital�de kuir#hochsackel,. e tamb m fora algumas vezes ver o irm o � � �pris o, mas a dist ncia de gemmelsbroich ou kuir#hochsackel� �era de cerca de 50 quil metros ida e volta e a pris o do irm o� � �ficava a 60 quil metros.�

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se agora # querendo ser generoso # se contasse com duasvisitas por m s ao irm o, que estava preso havia ano e meio� �(anteriormente vivia com a m e), chegava#se # sempre fazendo�as contas a dois anos # a mais 4000#5000 quil metros e ainda�restavam por explicar, que como quem diz por descobrir, 25�mil. por conseguinte, para onde que ela ia tantas vezes?�teria ela # ele n o queria vir de novo com sugest es� �grosseiras, mas ela devia compreender a pergunta # ido a algums tio encontrar#se com uma ou mais pessoas? e, em caso�afirmativo, onde? fascinada e tamb m chocada, ouviu katharina estes c lculos� �apresentados pela voz suave de beizmenne, e n o s Katharina,� �mas tamb m todos os outros presentes. dir#se#ia que, enquanto�beizmenne fazia as contas e as apresentava, katharina n o�sentia ira, mas simplesmente uma tens o mista de horror e�fascina o, porque, enquanto ele falou, ela n o procurou�� �encontrar explica o para os 25 mil quil metros, mas tentava�� �compreender onde, quando e porqu teria ido de carro a�qualquer lado. no come o do interrogat rio, ela mostrara#se� �surpreendentemente acess vel, quase branda, at tinha dado a� �impress o de estar com medo, tinha tomado ch e n o fizera� � �quest o de ser ela pr pria a pag #lo. e agora, quando� � �beizmenne acabara com as contas e as perguntas, reinava # nodizer de v rios, de quase todos os presentes # um sil ncio� �sepulcral, como se houvesse a sensa o de que, com base numa��descoberta que (se n o fossem as contas da gasolina) poderia�ter passado despercebida, algu m aqui penetrara num segredo�ntimo de katharina, cuja vida at quele momento parecera t o� � � �transparente. "sim" # disse katharina blum, e daqui em diante as suasdeclara es foram registadas em acta de que temos a��transcri o #, "est conforme. fiz agora as contas�� �rapidamente, de cabe a. d por dia mais de 30 quil metros.� � �nunca tinha pensado nisso nem nos custos que acarretava, masmuitas vezes metia#me no carro e sa a sem destino, por a� �fora, para onde calhava, s vezes para sul, na direc o de� ��coblen a, ou para oeste, no sentido de aachen, ou para baixo,�para o reno inferior. n o todos os dias. n o poderei dizer� �quantas vezes nem com que intervalos. na maior parte das vezesera quando chovia e eu tinha a noite livre e estava s . N o.� �desejo corrigir as minhas declara es:��

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era s quando chovia que eu sa a para estes passeios de carro.� �n o sei explicar bem porqu . os senhores devem saber que,� �muitas vezes, quando n o fazia servi o em casa da fam lia� � �hiepertz e n o tinha qualquer trabalho extra, j estava em� �casa s cinco horas e n o tinha nada que fazer. n o queria ir� � �sempre para casa da else especialmente agora, que ela tem okonrad, e ir sozinha para o cinema nem sempre muito seguro�para uma mulher. s vezes entrava numa igreja, n o por raz es� � �religiosas, mas por causa do sil ncio, mas hoje nem na igreja�se est sossegado e n o s o apenas os leigos que importunam.� � �evidentemente que tenho alguns amigos: werner klormer, porexemplo, aquele que me vendeu o carro, e a mulher dele, eoutros empregados da firma kloft, mas dif cil e� �habitualmente bastante embara oso para uma pessoa que aparece�sozinha n o aceitar automaticamente, ou, antes,�incondicionalmente, qualquer sugest o que se ofere a. por� � �isso que eu me metia no carro, ligava o r dio e ia por a� �fora, sempre por estradas secund rias, sempre chuva, de� �prefer ncia por estradas com rvores, s vezes ia at � � � � �holanda ou B lgica, bebia um caf ou uma cerveja e voltava.� � �sim. agora que me pergunta, estou a ver tudo. pois. agora seme perguntassem quantas vezes, eu diria: duas, tr s vezes por�m s, algumas vezes menos, outras mais, e geralmente conduzia�durante horas, a at s nove, dez horas, quando n o mesmo at� � � � �s onze. regressava ent o a casa morta de fadiga. era tamb m� � �por medo: conhe o tantas mulheres solit rias que passam o� �ser o a beber diante da televis o!"� � o sorriso gentil com que beizmenne ouviu esta declara o n o�� �dava qualquer ideia do que lhe ia no pensamento. acenava com acabe a e, se esfregava as m os, devia ser porque as� �declara es de katharina blum confirmavam alguma das suas��teorias. fez#se um momento de sil ncio como se os presentes�estivessem surpreendidos ou embara ados. parecia que pela�primeira vez a blum revelara qualquer coisa da sua esferantima. depois disso procedeu#se rapidamente listagem dos� �restantes objectos apreendidos. 4. um lbum de fotografias que continha apenas retratos de�pessoas facilmente identific veis: o pai de katharina blum,�que parecia doente e amargurado e muito mais velho do quedevia ser; a m e, que se sabia estar a morrer de cancro; o�irm o; a pr pria katharina com 4 e 6 anos de idade; vestida� �para fazer a primeira comunh o aos 10 anos; vestida de noiva�aos 20 anos; o marido, o padre de gemmelsbroich, vizinhos,parentes, diversas fotografias de else woltersheim,

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depois um cavalheiro mais velho, de aspecto jovial, que n o�foi logo identificado e que se veio a saber ser o doutorfehnern, perito fiscal condenado. nenhuma fotografia dequalquer pessoa que pudesse ser relacionada com as teorias debeizmenne. 5. um passaporte em nome de katharina brettloh (nome desolteira: blum). relacionadas com o passaporte, foram#lhefeitas diversas perguntas sobre viagens e ficou provado quekatharina nunca viajara propriamente, e, exceptuando uns dias

em que estivera doente, sempre trabalhara. os fehnern e osblorna pagavam#lhe realmente as f rias, mas ela ou continuava�a trabalhar ou executava trabalhos extra. 6. uma velha caixa de chocolates. conte do: cartas, a uma� �d zia # da m e, do irm o, do marido, de frau woltersheim.� � �nenhuma carta que pudesse ter rela o com a suspeita que agora��pesava sobre ela. para al m disto, a caixa continha umas�fotografias do pai fardado de cabo do ex rcito alem o e do� �marido com o uniforme da banda de tambores, umas quantasfolhas rasgadas de um calend rio com prov rbios, mais uma� �consider vel colec o de receitas manuscritas e uma brochura� ��intitulada: o uso do sherry em molhos. 7. uma pasta contendo certificados, diplomas e documentos,todos os documentos do seu div rcio e os documentos notariais�respeitantes ao condom nio.� 8. tr s molhos de chaves, que entretanto tinham sido�investigadas e se verificou serem as chaves da casa e doroupeiro da sua pr pria casa e as da casa dos hiepertz e dos�blorna. verificou#se, e ficou nos autos, que, entre os objectosacima mencionados, nada se encontrara de suspeito; adeclara o de katharina sobre os consumos de gasolina e a��quilometragem foi aceite sem coment rios. s nesta altura � � �que beizmenne tirou do bolso um anel com um rubi e diamantes,que aparentemente tinha guardado sem estojo, porque o poliucom a manga do casaco antes de o mostrar a katharina. # conhece este anel? # sim # respondeu ela sem hesita o nem embara o.�� � # pertence#lhe? # sim. # sabe que valor tem? # com rigor, n o. n o deve ser muito.� � # bom # disse beizmenne com um ar cordial. # mand mo#lo�avaliar e, como medida de precau o, n o s pelo nosso�� � �avaliador oficial, mas igualmente num joalheiro da cidade,

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para nos garantirmos e tamb m para lhe n o fazermos qualquer� �injusti a. este anel vale entre oito mil e dez mil marcos. n o� �sabia? acredito no que diz, mas tenho de lhe pedir queexplique onde que o arranjou. numa investiga o desta� ��natureza, em que est em causa um criminoso acusado de assalto�e fortemente suspeito de assassinato, um anel assim n o uma� �trivialidade e tamb m n o uma coisa privada, ntima, como� � � �umas centenas de quil metros ou umas horas a conduzir�autom vel debaixo de chuva. de quem recebeu este anel? de�g tten, ou de um visitante masculino? ou seria g tten o� �visitante masculino? e, se assim n o foi, onde que ia a� �senhora como visitante feminina,, se me permitido usar a�express o por gracejo, quando conduzia milhares de quil metros� � chuva? seria para n s coisa de nada descobrir em que� �joalharia que o anel foi comprado ou roubado, mas gostaria�de lhe dar uma possibilidade # bem v , n o a considero� �directamente envolvida numa ac o criminosa, mas apenas��ing nua e um pouquinho rom ntica. quer fazer o favor de me, de� �

nos, explicar como que a senhora, que tida como uma pessoa� �de melindres, quase pudibunda, de tal modo que os amigos econhecidos lhe deram a alcunha de a freira,, que evitadiscotecas, que se separou do seu marido porque ele eraimpertinente,, querer fazer o favor de esclarecer como que,� �a julgar pelas apar ncias, tendo conhecido g tten apenas� �ontem, logo nesse mesmo dia # poder amos dizer, sem mais nem�menos # o lev a para casa e ali se tornou, bem digamos, ntima�com ele? que nome que d a isto? amor primeira vista?� � �paix o? ternura? n o v que h certas incongru ncias que n o� � � � � �eliminam completamente a suspeita? mas h mais. # e beizmenne,�metendo a m o no bolso do casaco, tirou um envelope branco e�grande e de dentro deste um outro de dimens es normais,�bastante extravagante, cor de violeta e com forro creme. #este envelope vazio, que encontr mos na gaveta da sua�mesa#de#cabeceira ao lado do anel, foi carimbado nos correiosde dusseld rfia no dia 12 de fevereiro de 1974, s 18 horas, e� �est #lhe endere ado. meu deus # disse beizmenne a concluir #,� �se a senhora tem um amigo que de vez em quando a visitava e acasa de quem ia por vezes de autom vel, que lhe escrevia�cartas e que por vezes lhe dava presentes, n o hesite,�diga#nos, n o nenhum crime. s seria coisa para a incriminar� � �se tivesse alguma rela o com g tten.�� �

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todos os presentes tinham como certo que katharinareconhecia o anel, mas lhe ignorava o valor; que mais uma vezaqui se inseria o assunto melindroso das visitas docavalheiro. sentir#se#ia ela envergonhada por ver a suareputa o em perigo, ou via perigo para algu m que ela n o�� � �desejaria implicado no assunto? desta vez apenas corouligeiramente. n o confessaria ela ter recebido o anel de�g tten, por saber ser inveros mil apresentar assim g tten,� � �transformado num cavalheiro desta categoria? permaneceu calma,quase mansa", quando prestou as seguintes declara es, que��ficaram nos autos: # verdade que no baile em casa de frau woltersheim dancei�exclusiva e fervorosamente com ludwig g tten, que vi pela�primeira vez na minha vida e cujo apelido s ouvi no�interrogat rio policial de quinta#feira de manh . senti grande� �ternura por ele e ele por mim. sa de casa de frau woltersheim�por volta das 10 horas e fui para minha casa de autom vel com�ludwig g tten.� sobre a proveni ncia da j ia, n o posso # n o, desejo� � � �corrigir #, n o quero prestar declara es. uma vez que ela n o� �� �veio para a minha posse por meios ilegais, n o me sinto�obrigada a declarar a sua proveni ncia. o remetente do�envelope que me foi apresentado #me desconhecido. deve�tratar#se de um esp cime de material de propaganda habitual.�sou relativamente conhecida nos meios gastron micos. porque � �que me ter o enviado um an ncio num envelope de fantasia sem� �indica o de remetente, coisa que n o posso explicar.�� � �gostaria, no entanto, de chamar a aten o para o facto de��certas firmas gastron micas gostarem de projectar uma imagem�de distin o.��

quando lhe perguntaram por que motivo que, gostando ela�tanto de conduzir, como parecia e ela mesmo reconhecia, tinhadecidido naquele dia ir de el ctrico para casa de frau�woltersheim, katharina disse que n o sabia se beberia muito ou�pouco lcool e que lhe parecera mais seguro n o ir no seu� �pr prio carro. perguntada se bebia muito e se at alguma vez� �se tinha embriagado, ela disse que n o, que bebia pouco e que�nunca se tinha embriagado; s uma vez que fora levada a� �embriagar#se # designadamente na presen a e por instiga o do� ��marido, durante uma confraterniza o da banda de gemmelsbroich��# com um copo de anis que parecia limonada. mais tardetinham#lhe dito que esta bebida relativamente cara era muitousada para levar pessoas embriaguez.�

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quando lhe apontaram que esta explica o # de ter medo de��beber demasiado # n o colhia, porque ela nunca bebia muito, e�se ela n o via que tudo dava a entender que ela tinha feito�uma combina o com g tten, pela qual sabia que n o ia precisar�� � �do seu pr prio carro, porque iria para casa no carro dele, ela�abanou a cabe a e disse que as coisas se tinham passado�exactamente como dissera. verdade que lhe tinha apetecido�beber um pouco mais do que habitualmente, mas acabara por n o�o fazer. restava um ponto por explicar antes do almo o: porque que� �ela n o tinha uma caderneta ou um livro de cheques. talvez,�afinal, ela tivesse uma conta banc ria em algum s tio. n o, a� � �nica conta banc ria que possu a era a da caixa econ mica.� � � �qualquer quantia, por mais insignificante, de que pudessedispor imediatamente a utilizava para abater no empr stimo,�cujos juros eram t o elevados; por vezes, esses juros atingiam�o dobro dos das suas economias e nas contas correntes quasen o h juros. al m disso, achava demasiado dispendioso e� � �complicado usar cheques. as despesas correntes, as do governoda casa e as do autom vel pagava#as a dinheiro.�

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certas blocagens, a que tamb m se chama tens es, s o� � �inevit veis, porque nem todas podem ser desviadas ou�reorientadas de uma assentada, de modo a ficar vista o�terreno seco. no entanto, devem evitar#se as tens es�desnecess rias e vamos agora explicar porque que naquela� �sexta#feira de manh tanto beizmenne como katharina se�comportaram de maneira t o suave, para n o dizer mesmo doce ou� �at humilde. katharina at parecia receosa ou intimidada. se � � �verdade que o zeitung, que uma vizinha simp tica introduzira�em casa de frau woltersheim, suscitara nas duas mulheres ira,zanga, indigna o, vergonha, medo, a conversa telef nica com�� �blorna que imediatamente se seguira acalmara#as, e, como logoa seguir r pida leitura do zeitung e conversa telef nica� � � �com blorna aparecera frau pletzer, que confessara abertamente

que a casa de katharina estava evidentemente sob vigil ncia e�que era por isso que ela sabia que a encontraria em casa defrau woltersheim e tamb m que agora, infelizmente, katharina #�e infelizmente tamb m frau woltersheim # tinha de ir ser�ouvida em interrogat rio, o choque causado pelo zeitung cedeu�perante o ar simp tico e aberto da agente frau pletzer.�

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katharina p de ent o novamente demorar o seu pensamento numa� �coisa que ocorrera durante a noite e que a fizera muito feliz:ludwig tinha#lhe telefonado e de l .� fora t o terno que, por isso, ela n o lhe contara nada� �daquelas arrelias, para ele n o ficar com a ideia de que era�causa de qualquer infelicidade. tamb m n o tinham falado de� �amor, ela proibira#lho expressamente logo quando iam a caminhode casa no autom vel. n o, n o, estava ptima, claro que� � � �preferiria estar ao p dele e ficar com ele para sempre, ou,�pelo menos, durante muito tempo, de prefer ncia eternamente,�ia descansar durante o carnaval e nunca, nunca mais dan aria�sen o com ele e s ritmos sul#americanos, e s com ele. e como� � �iam as coisas por l ? estava muito bem instalado e muito bem�tratado, e, como ela lhe proibira falar de amor, gostaria delhe dizer que lhe queria muito, muito bem e que um dia # aindan o sabia quando, podiam ser meses ou um ano ou mesmo dois #�havia de vir busc #la para a levar, n o sabia ainda para onde.� �e assim por diante, dizendo as coisas que costumam dizer aotelefone as pessoas que sentem grande afei o uma pela outra.��nenhuma men o de intimidades e ainda menos qualquer��refer ncia quele acontecimento que beizmenne (ou, como agora� �parece mais prov vel, hach) definira de forma t o rude. e� �assim por diante. simplesmente as coisas que costumam dizer aspessoas que experimentam este g nero de sentimentos ternos.�durante bastante tempo. "uns dez minutos. talvez at mais",�disse katharina a else. talvez, no que diz respeito aovocabul rio concreto dos dois apaixonados, se devesse procurar�a refer ncia em certos filmes modernos, onde se fala muito e,�aparentemente, de forma inconsequente ao telefone # muitasvezes de grandes dist ncias.� esta conversa telef nica entre katharina e ludwig fora�tamb m a causa da normaliza o, da cordialidade e da suavidade� ��dos modos de beizmenne, e, embora ele suspeitasse de porque �que katharina tinha abandonado a sua atitude de esquivaobstina o, evidentemente que ela n o podia adivinhar que era�� �com o mesmo ponto de partida, embora n o pela mesma raz o, que� �ele estava t o satisfeito. (este acontecimento curioso e�memor vel deveria levar#nos a telefonar mais vezes, mesmo, se�necess rio, sem murm rios ternos, porque nunca se sabe a quem� � que uma tal chamada vai dar prazer.) beizmenne, por m,� �tamb m conhecia a causa da inquieta o de katharina, porque� ��tamb m tinha conhecimento de uma outra chamada, esta an nima.� �

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solicitamos ao leitor que n o procure explorar as fontes das�informa es confidenciais que est o contidas neste cap tulo:�� � �trata#se apenas de um furo aberto na parede de areiaamadoristicamente constru da numa represa cuja gua se� �pretende escoar, designadamente juntando#a num rio, antes quese d o colapso da fr gil parede e toda a tens o desapare a.� � � �

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para evitar mal#entendidos, deve aqui ficar anotado quetanto else como blorna sabiam que, ao ajudar g tten, a escapar�de sua casa sem ser notado, katharina tinha cometido umafalta; efectivamente, ao possibilitar#lhe a fuga, ela passaraa ser conivente em certos actos pun veis, ainda que n o os� �relevantes neste caso. else woltersheim disse#lho sem rodeiospouco antes da chegada de frau pletzer para as levar para ointerrogat rio. blorna aproveitou a primeira oportunidade para�lhe chamar a aten o para a natureza criminal do seu acto.��tamb m n o devemos omitir o que katharina disse a frau� �woltersheim acerca de g tten:� # mas n o v ? era ele aquele por quem eu esperava, e com� �quem teria casado, e de quem teria tido filhos, ainda que paraisso tivesse de esperar anos at ele sair da cadeia.�

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o interrogat rio de katharina blum podia agora dar#se por�terminado; tinha apenas de se manter disposi o da justi a� �� �para uma poss vel acarea o com os restantes participantes na� ��festa de frau woltersheim. que estava ainda por esclarecer�uma quest o que se apresentava como bastante importante no�contexto da teoria de beizmenne de uma combina o previamente��preparada e de uma conspira o: como que ludwig g tten�� � �entrara na festa de frau woltersheim? foi dito a katharina blum que ela podia escolher entre irpara casa e esperar num local sua escolha, mas ela recusou�ir para casa, dizendo que para ela a casa estavadefinitivamente estragada e que preferia esperar numa celapelo fim do interrogat rio de frau woltersheim, depois do que�iria para casa com ela.

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foi s nesta altura que katharina tirou da bolsa os dois�n meros do zeitung e perguntou se o estado # foi assim que ela�disse # n o poderia fazer alguma coisa para a proteger contra�esta imund cie e recuperar a sua honra perdida. ela sabia�perfeitamente que o interrogat rio se justificava, embora n o� �entendesse muito bem esta necessidade de irem at aos ltimos� �pormenores da sua vida, mas o que ela n o podia compreender�era como certos pormenores do interrogat rio # como, por�

exemplo, a quest o das visitas do cavalheiro # poderiam ter�chegado ao conhecimento do zeitung, para al m de todas aquelas�afirma es falsas e fraudulentas. neste ponto interveio hach,��o agente do minist rio p blico, para dizer que, em vista do� �enorme interesse p blico suscitado pelo caso g tten, tinha� �sido evidentemente necess rio fazer declara es imprensa;� �� �contudo, n o tinha havido uma confer ncia de imprensa, mas,� �devido excita o e apreens o causadas pela fuga de g tten #� �� � �lembrasse#se katharina de que fora ela que a tornara poss vel�#, essa confer ncia agora j n o podia ser evitada. al m� � � �disso, a circunst ncia de conhecer g tten fizera dela uma� �figura p blica e, consequentemente, objecto de justific vel� �interesse p blico. claro que poderia mover uma ac o contra� � ��o jornal por afirma es caluniosas e ofensivas e, se se viesse��a provar que tinha havido fugas de informa o em sectores��oficiais, poderia estar certa de que as autoridades policiaisdeduziriam acusa o contra pessoa ou pessoas desconhecidas e a��assistiriam na restitui o dos seus direitos. katharina blum��foi seguidamente levada para uma cela. n o foi considerado�necess rio p #la sob vigil ncia rigorosa. limitaram#se a� � �p r#lhe uma jovem agente desarmada, renate z ndach, que� �informou mais tarde que, durante todo o tempo # para a duas�horas e meia #, katharina n o fizera outra coisa sen o ler as� �duas edi es do zeitung. ch , sandu ches, tudo isso ela�� � �recusara, n o de forma agressiva, mas de uma maneira quase�cordial como que ap tica,. todas as tentativas que renate�z ndach fez para falarem de modas, cinema, dan as, com vista a� �distrair katharina, foram por esta repelidas. depois, disse a agente z ndach, para ajudar a blum, que�parecia positivamente hipnotizada pelo zeitung, pedira aocolega h ften que a substitu sse por momentos na vigil ncia e� � �foi aos arquivos buscar outros jornais em que o envolvimento eo interrogat rio da blum e o seu papel potencial vinham�relatados de forma inteiramente objectiva. apresentavamreportagens breves, na terceira ou quarta p ginas, nas quais�nem se quer o nome blum vinha impresso por inteiro;

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a refer ncia que vinha era apenas a uma tal katharina b.,�empregada dom stica. por exemplo, na revista figurava apenas�uma alus o de dez linhas, naturalmente sem fotografia, em que�se falava do infeliz envolvimento de uma pessoa totalmenteinocente. nada disto # a agente colocara quinze recortes dejornais em frente da blum # a tinha, conseguido consolar.katharina limitara#se a perguntar: # quem que l estas coisas? toda a gente que eu conhe o s� � � �l o zeitung.�

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para tirar a limpo como que g tten fora festa de frau� � �woltersheim, a primeira pessoa a ser interrogada fora apr pria frau woltersheim, e logo desde o primeiro momento se�

tornou bvio que, relativamente ao conjunto dos funcion rios� �que estavam a interrog #la, frau woltersheim se apresentava,�quando n o absolutamente hostil, pelo menos mais hostil que�katharina. declarou ter nascido em 1930, tendo portanto 44anos, era solteira, de profiss o ec noma n o diplomada. antes� � �de prestar testemunho sobre o caso em si exteriorizou a suaopini o num tom de voz objectivo, seco, que ainda conferia�mais intensidade sua indigna o do que se ela tivesse� ��gritado ou insultado, devido ao modo como o zeitung tratava ocaso de katharina blum e ao facto de terem transpirado para aimprensa pormenores do interrogat rio. era evidente que era�preciso investigar o papel desempenhado por katharina, mas oque ela se perguntava era se era leg timo destruir uma jovem�vida,, como estavam realmente a fazer. conhecia katharinadesde o dia em que nascera e j notava os sinais da destrui o� ��e da perturba o que se faziam sentir nela desde o dia��anterior. n o era psic loga, mas o facto de katharina ter� �perdido o interesse pela casa, de que tanto gostava e pelaqual tanto trabalhara, era, em seu entender, um sinalalarmante. n o era f cil interromper a torrente acusat ria de frau� � �woltersheim, nem sequer beizmenne conseguiu faz #la calar,�excepto quando a interrompeu para a censurar por ter recebidog tten em sua casa, ao que ela replicou que nem sequer sabia�como que ele se chamava, que ele n o se tinha apresentado e� �ningu m lho tinha apresentado.�

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ela apenas sabia que, na quarta#feira em quest o, ele chegara�por volta das 19.30 na companhia de hertha scheumel ejuntamente com claudia sterm, amiga desta, e, por seu lado,acompanhada de um cavalheiro vestido de xeque, do qual a nica�coisa que ela sabia que ele se chamava karl e que�posteriormente se comportara de uma forma bastante esquisita.estava fora de quest o que pudesse ter havido qualquer�combina o pr via com o tal g tten, nome que, ali s, nunca�� � � �tinha ouvido anteriormente, sendo certo que conheciaintimamente a vida de katharina. ao ser confrontada com asmisteriosas sa das de autom vel, de katharina, teve de admitir� �n o saber nada delas e, deste modo, a sua afirma o de� ��conhecer intimamente a vida de katharina sofreu um rude golpe.ao mencionarem#lhe o assunto das visitas do cavalheiro,pareceu embara ada e declarou que katharina nunca lhe falara�delas, mas recusou#se a fazer declara es. a nica coisa que�� �podia dizer a esse respeito era que uma delas fora um assuntobastante sujo e, quando digo sujo, n o me refiro a katharina,�mas ao visitante. se katharina a autorizasse, diria tudo o quesabia a esse respeito; considerava fora de quest o que as�viagens de katharina a levassem junto de tal pessoa. sim,existia um tal cavalheiro e, se hesitava em falar mais a esserespeito, era porque n o queria que ele fosse objecto de�rid culo. de qualquer modo, o papel de katharina em ambos os�casos # o de g tten e o do cavalheiro # estava acima de�qualquer censura. katharina fora sempre uma rapariga activa,

respeit vel, um pouco t mida, ou, antes, metida consigo; em� �crian a fora at bastante piedosa e dada Igreja. mas depois� � �a m e, que costumava fazer a limpeza da igreja de�gemmelsbroich, fora admoestada v rias vezes por comportamento�incorrecto e uma vez at fora apanhada na sacristia a beber o�vinho sacramental em companhia do sacrist o. isto fora�transformado numa orgia e num esc ndalo, e katharina passara�um mau bocado na escola s m os do pastor. sim, frau blum, a� �m e de katharina, era uma mulher muito inst vel e por vezes� �at alco lica, mas era preciso n o esquecer que o pai de� � �katharina era um homem muito doente, sempre a queixar#se e agemer, que voltara da guerra completamente inv lido, a mulher�tornara#se amarga e depois havia ainda o irm o, que valha a�verdade, sa ra uma m pe a. tamb m sabia a hist ria do� � � � �casamento, que resultara t o mal. desde o princ pio que� �procurara dissuadi#la, brettloh era um aut ntico lambe#botas #�desculpassem a express o #, daqueles que acenam servilmente�com a cabe a a todas as autoridades civis e religiosas.�

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al m do mais um fanfarr o repugnante. para ela, o primitivo� �casamento de katharina fora uma fuga ao meio terr vel da casa�dela, e, como depois se viu, assim que katharina se libertoudo meio familiar e do seu imprudente casamento, transformou#senuma pessoa maravilhosa. as suas qualifica es profissionais��eram indiscut veis, coisa que ela, frau woltersheim, poderia�atestar verbalmente e, se necess rio, por escrito, uma vez que�era membro da c mara dos art fices. com as novas formas que� �assumia a hospitalidade tanto de entidades privadas comop blicas, que agora come ava a designar#se como hospitalidade� �organizada, abriam#se grandes possibilidades a uma senhoracomo katharina blum, dada a sua forma o tanto no que respeita��a aspectos organizativos como a c lculo e a sua boa�apresenta o. agora, por m, se ela n o conseguisse a devida�� � �repara o do zeitung, com a perda do interesse pela casa��desaparecia tamb m o interesse de katharina pela profiss o.� � neste ponto das suas declara es, frau woltersheim foi��informada de que n o era miss o da pol cia nem do minist rio� � � �p blico deduzir acusa es para perseguir certas formas, sem� ��d vida repreens veis, de jornalismo. a liberdade de imprensa� �n o poderia ser levianamente posta em risco, mas ela poderia�ficar certa de que seria feita justi a se fosse apresentada�uma queixa particular e deduzida acusa o contra pessoa ou��pessoas desconhecidas por abuso de liberdade de imprensa. aquio doutor korten, jovem agente do minist rio p blico, fez uma� �defesa quase apaixonada da liberdade de imprensa e do direitoao sigilo profissional, acentuando expressamente que umapessoa que n o andasse em m s companhias n o poderia dar� � �ocasi o a que a imprensa fizesse descri es inconvenientes.� �� a hist ria toda, que como quem diz o aparecimento de� �g tten e da figura nebulosa de karl, o tal que ia vestido de�xeque, permitia concluir da exist ncia de uma estranha�neglig ncia nas rela es sociais. essa quest o ainda n o lhe� �� � �tinha sido convenientemente explicada e ele contava obterexplica es plaus veis durante o interrogat rio das duas�� � �

jovens em causa. a frau woltersheim ele n o poderia poupar uma�censura por ela n o ser mais exigente na selec o dos seus� ��visitantes. frau woltersheim repeliu esta li o dada por uma��pessoa essencialmente mais nova do que ela e explicou quetinha convidado as duas raparigas a trazerem os seus amigos etinha de dizer que n o era seu h bito pedir aos h spedes que� � �apresentassem o bilhete de identidade dos amigos ou umcertificado de bom comportamento passado pela pol cia.�

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nesse momento foi repreendida e chamaram#lhe a aten o para��o facto de n o ser a idade o que importava neste caso, mas sim�o alto cargo desempenhado pelo agente do minist rio p blico.� �al m do mais, o caso aqui sob investiga o e em que g tten� �� �estava provadamente envolvido era bastante s rio e grave,�embora n o dos de mais extrema gravidade. era ao representante�legal que cabia decidir quais os pormenores e advert ncias que�tinha por convenientes. novamente perguntada se g tten e o visitante masculino eram�uma e a mesma pessoa, a woltersheim disse que n o, a esse�respeito poderia ser absolutamente positiva. mas, quando lhefoi perguntado se conhecia pessoalmente o visitante masculino,designadamente se alguma vez o tinha visto, se o tinhaencontrado, teve de dizer que n o, e, uma vez que mostrou�desconhecimento de uma coisa t o ntima como as estranhas� �viagens de autom vel, o seu depoimento foi designado como�pouco satisfat rio e ela mandada retirar com um tom de�desconfian a. antes de sair da sala, visivelmente irritada,�frau woltersheim ainda declarou para os autos que o homem queapareceu disfar ado de xeque lhe parecera pelo menos t o� �suspeito como g tten. de qualquer modo, tinha#o ouvido falar�sozinho nos lavabos e desaparecera sem se despedir.

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como fora hertha scheumel, caixeira, de 17 anos, quemprovadamente levara g tten festa, foi ela a pr xima a ser� � �interrogada. era bvio que estava nervosa, dizia que nunca�tivera nada a ver com a pol cia, mas deu uma explica o� ��relativamente plaus vel para o seu conhecimento com g tten:� � # moro # disse ela # com a minha amiga claudia sterm, quetrabalha numa f brica de chocolates. ocupamos um apartamento�constitu do por uma sala, cozinha e casa de banho. somos as�duas de kuir#oftersbroich e ainda aparentadas de longe tantocom frau woltersheim como com katharina blum. (embora ascheumel pretendesse dar mais pormenores do parentesco,mencionando av s que eram primos de av s, as autoridades n o� � �se interessaram por eles, dando#se por satisfeitas com o termo"de longe".) chamamos tia a frau woltersheim e consideramos akatharina como prima.

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naquela noite, na quinta#feira 20 de fevereiro de 1974, n s�duas, a claudia e eu, est vamos muito atrapalhadas. t nhamos� �prometido tia else levar os nossos namorados festa,� �porque, de outro modo, haveria falta de pares. mas aconteceuque o meu namorado, que est a prestar servi o militar, em� �sapadores, para ser mais exacta, foi subitamente, como decostume, notificado de que ficava de servi o e, embora eu lhe�tivesse sugerido que se escapasse, ele n o quis fazer isso,�porque j o fizera mais de uma vez e tinha medo de se meter em�complica es disciplinares. quanto ao namorado da claudia,��estava t o b bedo logo ao princ pio da tarde que tivemos de o� � �meter na cama. decidimos ent o ir ao caf Polkt para ver se� �pesc vamos algu m simp tico, porque n o quer amos que a tia� � � � �else nos censurasse. no caf Polkt h sempre movimento durante� �o carnaval. as pessoas encontram#se ali antes e depois dosbailes e dos festejos do carnaval e pode#se ter a certeza deque se vai encontrar l gente jovem. quela hora do fim de� �tarde daquela quarta#feira reinava j grande anima o no caf� �� �polkt. por duas vezes fui convidada para dan ar por esse rapaz�que agora sei chamar#se ludwig g tten e ser um criminoso�pretendido pela pol cia. da segunda vez que dan mos� ��perguntei#lhe se n o queria ir a uma festa comigo. aceitou�prontamente, encantado. disse que estava de passagem, n o�tinha aonde ir e n o fazia ideia de onde que havia de passar� �o ser o. no momento em que eu estava a combinar as coisas com�ele, a claudia passou por mim a dan ar com um rapaz disfar ado� �de xeque. suponho que eles devem ter ouvido a nossa conversa,porque o xeque, que eu soube mais tarde chamar#se karl,perguntou imediatamente a claudia, com um ar muito humilde, afazer#se engra ado, se n o havia na nossa festa um cantinho� �para ele; tamb m estava sozinho e n o sabia onde que havia� � �de ir. ora bem, t nhamos conseguido o que pretend amos e pouco� �depois dirigimo#nos para casa da tia else no carro do ludwig,quero dizer, no carro do senhor g tten. era um porsche, n o� �muito confort vel para quatro pessoas, mas a dist ncia tamb m� � �n o era grande. pergunta se katharina blum sabia que n s� � �amos ao caf Polkt para vermos se ca vamos algu m, respondo� � �� �que sim. nessa manh telefonei Katharina para casa do doutor� �blorna, onde ela trabalha, e contei#lhe que a claudia e euter amos de ir sozinhas se n o descobr ssemos algu m para nos� � � �acompanhar. tamb m lhe disse que ir amos ao caf Polkt.� � �

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ela n o achou bem e disse que n s ramos demasiado cr dulas e� � � �irrespons veis. mas todos sabemos que a katharina muito� �esquisita nestas coisas. foi por isso que fiquei t o admirada�de ver a katharina agarrada ao g tten logo de princ pio e de� �ter dan ado com ele toda a noite, como se se conhecessem de�sempre.

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as declara es de hertha scheumel foram quase textualmente��confirmadas pela amiga claudia sterm. s num ponto, ali s n o� � �essencial, que n o houve concord ncia. que ela tinha� � � �dan ado n o duas, mas tr s vezes, com o karl, o tal vestido de� � �xeque, porque o karl tinha#a convidado para dan ar antes de o�g tten convidar a hertha. e tamb m ela se surpreendera com a� �rapidez com que a katharina, geralmente tida na conta depuritana, se familiarizara com o g tten, quase se diria com�intimidade.

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faltava ainda ouvir tr s participantes no baile: konrad�beiters, negociante de t xteis, de 56 anos de idade, amigo de�frau woltersheim, e o casal hedwig e georg plotten,respectivamente de 36 e de 42 anos de idade, ambosfuncion rios administrativos. os tr s descreveram o ser o da� � �mesma forma, falando da chegada de katharina, da entrada dehertha scheumel acompanhada de ludwig g tten, e da de claudia�sterm acompanhada de karl vestido de xeque. de resto, fora umser o agrad vel: tinham dan ado, conversado e o karl at se� � � �mostrara cheio de humor. a nica nota destoante # se que se� �podiam exprimir as coisas deste modo, pois os dois visados decerteza n o eram da mesma opini o #, disse georg plotten, fora� �o total monop lio de katharina por parte de ludwig g tten",� �facto que conferira ao ser o um ar s rio, quase solene, que� �n o se ajustava aos festejos carnavalescos. "tamb m a ela" #� �disse frau plotten # "dera nas vistas o comportamento de karl,que ela ouvira falar sozinho nos lavabos quando fora cozinha�buscar mais gelo, j depois de katharina ter sa do com g tten.� � �al m disso, pouco depois, o tal karl fora#se embora sem ao�menos dizer adeus.

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katharina blum, mais uma vez chamada para interrogat rio,�confirmou a conversa telef nica com hertha scheumel, mas�continuou a negar que tivesse havido qualquer combina o com��g tten, porque lhe foi sugerido, n o por beizmenne, mas por� �korten, o mais novo dos dois agentes do minist rio p blico,� �que ela faria bem em admitir que g tten lhe tinha telefonado�depois da conversa telef nica com hertha e que ela teria tido�a esperteza de o mandar ao caf Polkt meter conversa com�hertha para se poderem encontrar em casa de frau woltersheimsem darem nas vistas. tinha sido muito f cil, porque a�scheumel era uma loira vistosa, que usava roupa bastantegarrida. katharina blum, agora quase completamente ap tica,�limitava#se a abanar a cabe a, enquanto continuava sentada a�agarrar com a m o direita os dois n meros do zeitung.� �mandaram#na ent o retirar#se, e ela saiu do pres dio na� �

companhia de frau woltersheim e do amigo desta, konradbeiters.

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ao discutirem as declara es constantes dos autos em busca��de lacunas poss veis, o doutor korten p s a quest o de saber� � �se n o seria a altura de tentarem seriamente identificar o tal�xeque de nome karl e de esclarecer o seu papel pouco claro emtoda a hist ria. estava muito surpreendido por n o terem sido� �tomadas quaisquer medidas para apanhar a pista de karl. aocabo e ao resto, este karl aparecera ao mesmo tempo, quandon o mesmo juntamente com g tten, no caf Polkt, tinha#se� � �introduzido na festa, e a ele, korten, o seu papelafigurava#se bastante misterioso, quando n o mesmo suspeito.� neste ponto, os presentes desataram todos a rir e at a�agente pletzer, habitualmente t o reservada, se permitiu um�sorriso. a esten grafa, frau anna lockster, riu#se de forma�t o alvar que beizmenne teve de a chamar ordem. e, como� �korten continuasse sem compreender, o colega hach ent o�esclareceu#o. seria que korten n o tinha compreendido ou�reparado que o comiss rio beizmenne tinha deliberadamente�passado por cima ou omitido o xeque?

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era bvio que ele era um dos nossos e o aparente mon logo nos� �lavabos n o era mais do que uma comunica o # desajeitada, era� ��verdade # aos colegas, por meio de um emissor#receptor debolso, sobre a persegui o a g tten, e Blum, cuja direc o�� � � ��fora entretanto conhecida. # certamente compreender , caro colega, que, durante a�quadra carnavalesca, os trajes de xeque s o um disfarce ideal,�uma vez que, hoje em dia, por raz es bvias, os xeques s o� � �mais populares do que os cowboys. # evidentemente # acrescentou beizmenne #, compreendemosimediatamente que o carnaval daria aos bandidos facilidades dese escaparem e a n s dificultar#nos#ia seguir#lhes a pista,�pois o g tten j vinha a ser seguido a par e passo havia� �trinta e seis horas. g tten, que, diga#se de passagem, n o� �trazia disfarce, tinha passado a noite num autocarrovolkswagen estacionado num parque, de onde ele depois roubou oporsche. mais tarde tomou o pequeno#almo o num caf , fez a� �barba nos lavabos desse caf e mudou de roupa. nem um minuto o�perdemos de vista. pusemos na peugada dele uma d zia de�agentes vestidos de xeques, cowboys e espanh is, todos�equipados com transmissores de bolso e agindo como foli es bem�bebidos, mas prontos a comunicarem imediatamente quaisquertentativas de contacto. as pessoas com quem g tten contactou at chegar ao caf� � �polkt foram todas referenciadas e investigadas: um empregado de bar, que lhe serviu cerveja ao balc o; duas�raparigas com quem ele dan ou num restaurante da cidade velha;�

o empregado de uma esta o de servi o onde ele abasteceu o�� �porsche roubado; um homem num quiosque de jornais damathiasstrasse; um caixeiro de uma tabacaria; o funcion rio de�um banco onde ele trocou 700 d lares americanos, possivelmente�provenientes do assalto a um banco. todas estas pessoas foram inequivocamente identificadas comoencontros casuais, e n o como contactos planeados, e nenhuma�das palavras trocadas com qualquer destas pessoasindividualmente sugeria a exist ncia de um c digo.� �

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contudo, n o consigo convencer#me de que o encontro com a blum�fosse igualmente um encontro casual. a conversa telef nica com�a scheumel, a pontualidade com que ela apareceu em casa defrau woltersheim e at a malfadada intimidade e ternura com�que os dois dan aram desde os primeiros segundos e a pressa�com que se retiraram # tudo isso dep e contra a ideia de�casualidade. mas, acima de tudo, o facto de ela o ter deixadoaparentemente partir sem se despedir e de obviamente lhe terensinado uma sa da do edif cio que escapou nossa rigorosa� � �vigil ncia. nem por um s momento perdemos de vista o edif cio� � �de apartamentos, isto , o edif cio que fica dentro do� �complexo de apartamentos onde ela vive. evidentemente que n o�pod amos manter sob total vigil ncia toda a rea de quase 1,5� � �quil metros quadrados. ela devia conhecer uma sa da que lhe� �ensinou; al m disso, estou convencido de que arranjou um�esconderijo para ele # e possivelmente para outros. as casasdos patr es dela j foram investigadas, fizemos pesquisas na� �terra dela, pass mos mais uma vez a pente fino a casa de frau�woltersheim enquanto ela estava aqui a ser ouvida. nada. a mimparece#me melhor p #la em liberdade para ver se ela comete�qualquer erro, e prov vel que a pista para o seu actual� �paradeiro passe pelo misterioso cavalheiro das visitas. al m�disso, estou certo de que a fuga de dentro do bloco deapartamentos passa pela frau blorna, a quem agora conhecemospela trude vermelha e que colaborou no projecto do bloco.

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com isto cheg mos ao fim do flash#back e volt mos de novo de� �sexta#feira para s bado. envidaremos todos os esfor os para� �evitarmos mais blocagens e tens es sup rfluas. provavelmente� �ser#nos# imposs vel evit #las por completo.� � � contudo, talvez seja elucidativo fazermos notar que, ao sairdo interrogat rio na sexta#feira tarde, katharina blum pediu� �a frau woltersheim e a konrad beiters que a acompanhassemprimeiro a casa e # por favor, por favor # que subissemtamb m. confessou que tinha medo, que designadamente na�quinta#feira noite, depois da conversa telef nica com g tten� � �(qualquer pessoa de fora reconheceria a sua inoc ncia no�simples facto de ela ter falado abertamente das suas conversastelef nicas com g tten, embora n o o tivesse feito durante o� � �

interrogat rio), se tinha passado uma coisa horr vel.� �

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pouco depois de g tten lhe ter telefonado e de ela pousar o�auscultador, o telefone tocou novamente. na esperan a louca de�ser ele outra vez, imediatamente agarrou no auscultador, masn o era g tten, era, sim, uma voz de homem horrivelmente� �mel flua, que quase num murm rio, lhe disse coisas ordin rias,� � �coisas reles, e o pior foi que o fulano lhe disse que vivia nomesmo edif cio e lhe perguntou porque que ela, que queria� �ternuras, ia procur #las t o longe, quando tinha uma pessoa� �aqui mesmo m o disposta a proporcionar#lhe todo o g nero de� � �ternuras. sim, fora esta chamada que a levara a refugiar#senaquela mesma noite em casa da else. tinha medo, tinha at�medo do telefone. mas, como g tten tinha o n mero do telefone� �dela e ela n o tinha o dele, estava sempre com esperan a de� �que ele lhe telefonasse, mas temia#se ao mesmo tempo dotelefone. bom, agora aqui n o devemos esconder que estavam eminentes�novos sustos para katharina. para come ar: a caixa do correio,�que at agora desempenhara um papel t o insignificante na sua� �vida e que ela abria quase sempre em v o, mas o que toda a� �gente faz". naquela sexta#feira estava cheia a deitar porfora, mas nada que pudesse dar alegria a katharina. porque,embora frau woltersheim fizesse o poss vel por lhe interceptar�a correspond ncia, katharina n o se deixou iludir e, por certo� �na esperan a de lhe chegar algum sinal de vida do seu querido�ludwig, percorreu toda a correspond ncia # ao todo cerca de�vinte cartas e impressos # sem, evidentemente, encontrar nadade ludwig e meteu tudo na carteira. j a subida no elevador�fora um tormento, porque iam mais dois ocupantes dosapartamentos. um ( preciso diz #lo, embora pare a incr vel)� � � �vestido de xeque, que se meteu todo a um canto, num esfor o�vis vel por afastar a associa o de ideias, mas que,� ��felizmente, saiu no quarto andar, e o outro, uma mulher (at�parece uma coisa de loucura, mas o que verdade verdade)� �vestida de andaluza, que levava o rosto coberto com umamascarilha. sem se afastar de ao p de katharina, n o tirava� �de cima dela os olhos impudentes, castanhos, duros,, medindo#ade alto a baixo com uma curiosidade atrevida. continuou noelevador depois do oitavo andar. um aviso: "ainda v o acontecer coisas piores". ao entrar�finalmente em casa agarrada a frau woltersheim e a beiters,katharina ouviu o telefone a tocar, mas aqui frau woltersheimfoi mais r pida do que ela.�

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correndo para o telefone, agarrou no auscultador e ouviram#namurmurar: "seu ordin rio, seu ordin rio cobarde." depois, em� �vez de pousar o auscultador no descanso, frau woltersheim teveo bom senso de o colocar ao lado. frau woltersheim e beiters tentaram em v o convencer�

katharina a largar a correspond ncia. agarrada ao ma o das� �cartas e aos pap is impressos, katharina tamb m n o largava da� � �m o as duas edi es do zeitung, que tinha igualmente tirado de� ��dentro da carteira, e insistia em abrir a correspond ncia. n o� �havia nada a fazer. leu#a toda. nem tudo era an nimo. a carta mais pormenorizada # e n o� �an nima # vinha de uma firma intitulada encomendas postais�ntimas e oferecia#lhe todo o g nero de artigos de sexo. para� �uma pessoa com a sensibilidade de katharina, isto j seria�mais do que suficiente, mas o pior era que algu m tinha�acrescentado m o: "estas que s o as verdadeiras ternuras."� � � � resumindo, ou, melhor, em termos estat sticos, as outras�dezoito cartas eram: sete postais an nimos, manuscritos, com�propostas sexuais grosseiras, que, de um modo ou de outro,inclu am a express o "cabra comunista"; mais quatro postais� �an nimos que continham insultos pol ticos, sem propostas� �sexuais, que iam de "agitadora vermelha" a "lacaia dokremlin"; cinco cartas que continham recortes do zeitung eque, na sua maioria, a umas tr s ou quatro, traziam� �coment rios margem, a vermelho, do g nero seguinte: "o que� � �estaline n o conseguiu tamb m tu n o conseguir s"; duas cartas� � � �que continham exorta es religiosas. nas folhas volantes que��vinham inclusas, em ambos os casos, estava escrito m o:� �deves reaprender a rezar, pobre filha perdida e ajoelha#te econfessa#te. deus ainda n o te abandonou.� s neste momento que else woltersheim descobriu um peda o� � �de papel que algu m tinha metido debaixo da porta e que, por�felicidade, conseguiu esconder de katharina: "porque que n o� �fazes uso do meu cat logo de do uras? ser que terei de te� � �obrigar a ser feliz? o teu vizinho que tu repeliste com tantasoberba. estou a avisar#te."

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estas palavras estavam escritas em caracteres de imprensa,em que else w. julgou reconhecer uma forma o acad mica ou�� �mesmo m dica.�

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j surpreendente que nem frau w. nem konrad b. ficassem� �admirados quando, sem o menor gesto para intervirem,observaram katharina dirigir#se ao barzinho da sala de estar,tirar, uma por uma, uma garrafa de sherry, uma de u sque, uma�de vinho tinto e uma, encetada, de xarope de kirsch e, semevidenciar qualquer sinal especial de emo o, atir #las contra�� �as paredes imaculadas, onde se estilha aram derramando os�conte dos.� depois fez o mesmo na cozinha, utilizando para o mesmoefeito ketchup de tomate, molho de salada, vinagre e molho deworcester. ser preciso acrescentar que fez o mesmo na casa de�

banho, com bisnagas e frascos de creme, p de talco, sais de�banho, e no quarto de dormir, com um frasco degua#de#col nia?� � durante todo o tempo deu a impress o de agir�sistematicamente, de modo nenhum excitada, mas antesconvencida e convincente, de modo que else w e konrad b. nemlevantaram um dedo.

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naturalmente que apareceram muitas teorias a tentar explicaro momento exacto em que katharina formou a inten o ou tra ou�� �o plano de cometer um crime. muitos pensam que logo o primeiroartigo de quinta#feira no zeitung foi suficiente, outrospensam que o dia decisivo foi sexta#feira, porque nesse dia ozeitung continuou sem lhe dar tr guas, destruindo#lhe�(subjectivamente, pelo menos) as rela es de vizinhan a e o�� �apartamento de que ela tanto gostava; o telefonema an nimo, as�cartas an nimas # e, para c mulo, o zeitung de s bado e (aqui� � �estamos a antecipar#nos) o de domingo. estas especula es n o�� �s o sup rfluas: ela planeou e levou por diante o assass nio #� � �essa que a verdade!� �

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sem d vida que alguma coisa lhe subiu cabe a, que as� � �declara es do ex#marido a incomodaram especialmente, e��podemos estar igualmente certos de que tudo o que veio nozeitung de domingo, se n o foi desencadeante, pelo menos est� �longe de ter tido um efeito tranquilizante sobre ela.

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antes que o flash#back possa ser considerado completo parade novo focarmos o s bado, continua a ser necess rio descrever� �o ser o e a noite de sexta#feira em casa de frau woltersheim.�conclus o geral: bastante pac ficos. konrad beiters p s discos� � �de m sica moderna e at sul#americana para tentar distrair� �katharina e at a convidou para dan ar, mas as suas tentativas� �n o resultaram nem t o#pouco os esfor os para a levar a largar� � �o zeitung e as cartas an nimas; igualmente v s as tentativas� �para a convencer de que toda aquela hist ria tinha pouca�import ncia e em breve estaria esquecida. ela j tinha passado� �por coisas piores, n o verdade?: a inf ncia miser vel, o� � � �casamento com aquele patife do brettloh, o alcoolismo e,usando uma linguagem suave, a deprava o da m e, que, a falar�� �verdade, respons vel pelas faltas de kurt. n o estava g tten� � � �em seguran a e n o era de tomar a s rio as suas promessas de a� � �vir buscar? n o era carnaval e n o tinha ela uma boa situa o� � ��econ mica? n o verdade que havia ainda tanta gente simp tica� � � �

como os blorna e os hiepertz e que "aquele janota"(continuavam a hesitar em nomear o visitante masculino) nofundo n o era uma personagem sinistra, mas at divertida?� � katharina n o concordou com isto e lembrou#lhes o anel�est pido e o envelope de fantasia t o imbecil que os poderia� �ter metido aos dois em complica es e que poderia at ter�� �feito recair suspeitas sobre o ludwig. mas como que ela�poderia ter adivinhado que aquele idiota ia gastar tantodinheiro s por vaidade? n o, n o, l divertido n o o achava� � � � �ela. n o.� voltando a falar de coisas pr ticas # como, por exemplo, se�katharina havia de procurar outro apartamento e se n o seria�altura de pensar onde que havia de ser #, katharina�respondeu com evasivas e disse que a nica coisa pr tica que� �tinha em vista era fazer um disfarce de carnaval e pediu aelse que lhe emprestasse um len ol grande, porque, j que os� �xeques estavam em moda, tencionava mascarar#se de bedu na e�juntar#se multid o no s bado ou no domingo.� � �

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realmente, que coisa assim t o m que tinha acontecido?� � �quase nada, bem vistas as coisas, ou, melhor, quase s coisas�positivas: katharina tinha encontrado aquele que havia devir", tinha passado uma noite de amor" com ele, verdade que�fora interrogada, isto , ouvida em interrogat rio, e� �realmente o ludwig estava longe de ser um simples ca ador de�borboletas. depois fora aquela porcaria usual no zeitung e unssafados fizeram chamadas an nimas e outros escreveram cartas�an nimas. e da ? a vida n o vai acabar por isso. o ludwig n o� � � �est bem instalado # e at confortavelmente, como s ela sabe?� � �agora vamos costurar um disfarce de carnaval com que akatharina vai ficar linda; com o albornoz branco vai pareceruma beleza quando se juntar multid o.� � ao cabo e ao resto, at a natureza exige os seus direitos e�uma pessoa adormece, cabeceia, acorda, volta a cabecear. quetal bebermos um copinho? porque n o? reina a paz e a�tranquilidade: uma mulher jovem adormecida sobre a costura,enquanto uma mulher e um homem mais velhos andam em bicos dep s para que a natureza recupere os seus direitos. e a�natureza recuperou t o bem os seus direitos que katharina nem�sequer ouviu o telefone que tocou por volta das 2.30. porque �que come am a tremer subitamente as m os de frau woltersheim,� �uma mulher t o s bria, quando pega no auscultador? estar � � � �espera de ouvir do uras an nimas como as que ouviu umas horas� �antes? claro que 2.30 da manh uma hora inquietante para� �telefonemas, mas pega no auscultador que beiters lhe tira logoda m o, e, quando ele diz "sim", imediatamente desligam.� o telefone volta a tocar e de novo, quando ele atende,voltam a desligar. claro que h pessoas que, ao lerem no�zeitung como que uma pessoa se chama e onde que mora, s o� � �que querem destro ar#lhe os nervos, e o melhor n o pousar� � � �o telefone no descanso. nessa altura decidem, pelo menos, poupar katharina edi o� ��de s bado do zeitung. mas katharina aproveita uns momentos em�que else est a dormir e o konrad b. est na casa de banho a� �

fazer a barba e escapa#se para a rua, onde, luz escassa da�madrugada, abre o primeiro ma o de n meros do zeitung e abusa� �da confian a do vendedor do zeitung tirando um n mero sem� �pagar!

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neste momento, o nosso flash#back pode dar#se por completotemporariamente, porque precisamente a hora a que os blorna,�esgotados, irritados e deprimidos, se apeiam do comboio,naquele mesmo s bado, e adquirem a mesma edi o do zeitung,� ��que h o#de estudar com vagar, mais tarde, em casa.�

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em casa dos blorna come a uma manh de s bado depressiva,� � �extremamente depressiva at , n o s por causa de uma noite� � �passada em claro, sacudidos e balou ados no vag o#cama, n o s� � � �por causa do zeitung, que, no dizer de frau blorna, persegueuma pessoa pelo mundo inteiro como uma peste: uma pessoa n o�est segura em parte nenhuma; depressiva n o s por causa dos� � �telegramas de censura enviados por amigos e conhecidosinfluentes e da "l stra" (l ding 8r str ubleder� � �investimentos), mas tamb m por causa do hach, a quem�telefonaram de manh cedo, demasiado cedo (e tamb m demasiado� �tarde quando se pensa que teria sido melhor telefonar#lhe logona quinta#feira). o hach n o foi muito cordial, disse que o�interrogat rio de katharina estava encerrado, n o podia dizer� �se ia ser aberto procedimento contra ela, de momento elaprecisava com certeza de assist ncia, mas n o ainda de� �assist ncia legal. ser que se tinha esquecido de que era� �carnaval e de que os agentes do minist rio p blico tamb m t m� � � �direito a uma noite livre e a uma celebra o uma vez por��outra? bom, enfim, a verdade que se conheciam havia vinte e�quatro anos, que tinham andado juntos na universidade, tinhamtocado tambor, cantado e at dado passeios a p juntamente e� �n o iam agora consentir que uns momentos de mau humor pusessem�em risco as suas rela es de tantos anos; tanto mais quando��uma pessoa se sente deprimida, mas depois veio o pedido # e deum agente do minist rio p blico! # para continuarem a conversa� �pessoalmente, e n o pelo telefone. sim, havia mat ria a� �incrimin #la, havia muita coisa pouco clara, mas falar mais�disso agora, n o, talvez tarde, pessoalmente. onde? na� �cidade. o melhor seria a andarem. na entrada do museu, s�16.30. nada de chamadas telef nicas para casa de katharina,�nem para frau woltersheim, nem para os hiepertz. tamb m contribu a para a atmosfera depressiva verificar que� �se fazia sentir t o depressa e claramente a falta da m o de� �katharina.

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como que era poss vel que, no espa o de meia hora em que� � �apenas tinham feito caf , tirado do arm rio umas tostas,� �manteiga e mel e posto a bagagem no vest bulo, j se tivesse� �instalado o caos e a trude acabasse por se irritar porque eleinsistia em lhe perguntar que rela o via ela entre o caso de��katharina e o alois str ubleder ou at o l ding. entretanto, a� � �trude n o lhe dava a m nima ajuda e limitava#se a apontar#lhe� �as duas edi es do zeitung e a perguntar#lhe, naquele seu��jeito semi#ing nuo, semi#ir nico, de que ele habitualmente at� � �gostava, mas a que n o achava gra a nenhuma naquela manh , se� � �n o lhe tinha dado nas vistas uma determinada palavra. quando�ele lhe perguntou qual, recusou#se a responder#lhe, observandosarcasticamente que queria p r prova a perspic cia dele, e� � �ele leu aquela maldita porcaria que persegue uma pessoa pelomundo inteiro, leu e voltou a ler sem conseguir concentrar#se,porque era mais forte do que ele a ira que lhe causava adistor o das suas declara es e a trude vermelha. finalmente�� ��capitulou e humildemente pediu a trude que o ajudasse. estavat o fora de si que a perspic cia o abandonara; al m disso,� � �havia anos que apenas trabalhava para a ind stria e pouco como�criminalista, ao que ela respondeu secamente: " lament vel",� �mas depois sentiu pena e disse: # n o reparaste na express o visitas de um cavalheiro e que� �eu relacionei essa express o com os telegramas? achas que�algu m se referiria ao tal g tting # n o G tting, G tten� � � � � � �#, olha bem para as fotografias, como um cavalheiro? n o, pois�n o? uma pessoa assim seria referida na linguagem dos vizinhos�informadores como um homem que a visitou, e, transformando#meem profeta, prevejo que dentro de uma hora, o mais tardar,tamb m n s vamos receber a visita de um cavalheiro e prevejo� �mais: aborrecimentos, conflitos e, possivelmente, o fim de umavelha amizade, aborrecimentos tamb m com a tua trude vermelha�e pior do que aborrecimentos com a katharina, que tem duasqualidades fatais: lealdade e orgulho, e que nunca, nuncaconfessar que ensinou ao rapaz uma sa da que n s, ela e eu,� � �estud mos juntamente. calma, meu querido, calma! ningu m vai� �saber nada, mas, bem vistas as coisas, sou eu quem tem a culpade esse tal g tting, n o, g tten, se ter escapado da casa dela� � �sem ningu m dar por ele: com certeza j n o te lembras de que� � �tive pendurado na parede do quarto um diagrama do sistema deaquecimento, canaliza o e instala o el ctrica das�� �� �resid ncias elegantes da beira#rio? as condutas do�aquecimento estavam tra adas a vermelho, as da ventila o a� ��azul, as da electricidade a verde e as da canaliza o a��amarelo. katharina ficou t o fascinada com este diagrama # e�tu bem sabes que ela quase genial quando se trata de ordenar�e planificar # que passou horas diante do diagrama a fazer#meperguntas sobre as rela es e significados desta pintura��abstracta, como ela dizia, e fui quase ao ponto de lhefornecer uma c pia. estou bastante aliviada por n o o ter� �feito. imagina s que tinham encontrado em casa dela uma c pia� �do diagrama! ficava perfeita a teoria da conspira o, do��dep sito de armas, da liga o trude vermelha#bandidos e� ��katharina#cavalheiro das visitas. evidentemente que umdiagrama assim seria o ideal para todo o g nero de intrusos #�assaltantes, amantes #, que n o desejam ser vistos, que querem�entrar e sair sem ningu m dar por eles. eu mesma ainda lhe�

expliquei a altura das v rias passagens: onde que se pode� �caminhar de p , curvado, onde que preciso rastejar quando� � �os tubos rebentam ou os cabos se partem. ora bem, s assim � �que p de escapar Pol cia o nosso jovem cavalheiro, com cujas� � �car cias ela deve estar agora a sonhar, e, se ele realmente� �assaltante banc rio, deve ter percebido o sistema sem demora.�talvez tamb m o tal cavalheiro das visitas tenha entrado e�sa do pelo mesmo processo. estes modernos blocos de�apartamentos requerem m todos de vigil ncia completamente� �diferentes dos dos antigos edif cios de apartamentos. mais�cedo ou mais tarde vais ter de informar disso a pol cia e o�minist rio p blico. eles vigiam as entradas principais, talvez� �o vest bulo e o elevador, mas, para al m disso, h um elevador� � �de servi o que d directamente para a cave e aqui uma pessoa� �rasteja durante umas centenas de metros, levanta uma tampa edesaparece. acredita#me! agora n o h nada a fazer sen o� � �rezar, porque a ltima coisa que o alois quer s o t tulos no� � �zeitung de qualquer forma ou feitio. aquilo de que ele agoraprecisa de uma manipula o firme e directa da descobertas e� ��informa es da pol cia e, se h uma coisa que ele teme tanto�� � �como os t tulos dos jornais, a express o amarga e azeda do� � �rosto da sua bem#amada maud, que, para al m de ser sua esposa� face da lei e da igreja, tem ainda quatro filhos dele. nunca�reparaste no modo juvenil e feliz,, quase divertido e # devorealmente dizer # mesmo simp tico como ele dan ou com a� �katharina aquela meia d zia de vezes e como insistia em a�levar a casa? que desapontado ele ficou # enternecedor o seudesapontamento! # quando ela comprou o carro!

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era de uma pessoa assim que ele carecia, era por uma pessoaassim que o seu cora o ansiava, por um ser assim como��katharina que, sem ser leviana, tinha # como que se h #de� �dizer? # capacidade de amor, que era s ria e, contudo, jovem e�t o bela sem se dar ela pr pria conta disso! o teu cora o de� � ��homem n o se sentiu algumas vezes tamb m enternecido?� � claro que sim: o seu cora o de homem sentira#se enternecido��e confessava, confessava tamb m que sentia por ela mais, muito�mais do que uma simples estima, e ela, trude, devia saber quetoda a gente, n o s os homens, por vezes experimenta� �estranhos impulsos de tomar uma pessoa nos bra os e talvez at� �mais # mas com katharina n o, havia nela qualquer coisa que�nunca, nunca teria permitido que ele lhe fizesse visitas decavalheiro, ou, melhor dizendo, nem sequer tentasse # e n o�era, e ela devia saber o que ele queria significar com estaspalavras, por respeito e considera o por ela, trude, mas por��respeito por katharina, sim, respeito, quase se podia dizerrever ncia, rever ncia terna perante a sua # raios partam! #� �inoc ncia! e mais, mais do que inoc ncia, qualquer coisa para� �a qual ele n o conseguia encontrar a palavra pr pria. era� �aquela reserva estranha e cordial de katharina e # embora elefosse quinze anos mais velho do que katharina e sabia deuscomo ele tinha feito carreira! # o modo como ela metera ombros tarefa de reorganizar e planificar a sua vida desfeita�bastaria, se alguma vez ele se tivesse dado a pensamentos do

g nero, para o deter, porque ele teria medo de a destruir ou�de lhe destruir a vida # porque ela era t o vulner vel, t o� � �vulner vel! # e, se realmente se viesse a verificar que o�alois era o tal cavalheiro, o que ele ia fazer era, para n o�estar com rodeios, esmurrar#lhe o nariz. sim, precisavam de aajudar. ela n o estava habituada a estas artimanhas,�interrogat rios, perguntas, e agora era demasiado tarde; de�qualquer modo, precisava de descobrir o paradeiro de katharinaantes do fim do dia... mas aqui foi interrompido nas suaslucubra es reveladoras pela voz de trude, que dizia com a sua��inimit vel secura:� # o cavalheiro visitante acaba de chegar.

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deve frizar#se desde j que blorna n o esmurrou o nariz a� �str ubleder, que apareceu num imponente carro de aluguer.�

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n o s se pretende que corra o m nimo de sangue poss vel,� � � �como se deseja reduzir ao m nimo exig vel pelos nossos deveres� �de cronista, quando n o seja poss vel evit #la por completo, a� � �exibi o de for a f sica. isto n o significa que a atmosfera�� � � �de casa dos blorna se tornasse menos depressiva. pelocontr rio: at se tornou mais depressiva, porque a trude b.� �n o resistiu tenta o de saudar o seu velho amigo, ao mesmo� � ��tempo que continuava a mexer o caf , com as seguintes�palavras: # ora viva, cavalheiro visitante! # palpita#me # disse blorna embara ado # que a trude mais�uma vez acertou no alvo. # sim # disse str ubleder. # mas o que pergunto se isso� �ser uma atitude de grande tacto.� deve agora fazer#se notar que em tempos se chegara a umasitua o de tens o quase insustent vel entre frau blorna e�� � �alois str ubleder, quando ele tentara, se n o propriamente� �seduzi#la, pelo menos um flirt com ela, ao que ela puseratermo dando#lhe a perceber, na sua maneira seca, que, emboraele se supusesse irresist vel, ela n o era da mesma opini o.� � �nestas circunst ncias, compreens vel que blorna� � �imediatamente levasse str ubleder para o seu gabinete de�trabalho e pedisse mulher que os deixasse s s e no intervalo� �("intervalo entre o qu ?", perguntou frau blorna) fizesse todo�o poss vel por localizar katharina.�

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porque ser que, de repente, uma pessoa acha o seu gabinete�de trabalho t o desagrad vel, quase desarrumado e sujo, embora� �n o se descubra um gr ozinho de p e tudo esteja no devido� � �

lugar? que ser que faz que as poltronas forradas de couro�vermelho, onde uma pessoa fez t o bons neg cios e teve tantas� �conversas confidenciais, onde realmente se pode sentarconfortavelmente a ouvir m sica, agora se lhe afigurem�repelentes, as estantes nojentas e at o chagall assinado que�est pendurado na parede lhe pare a suspeito, como se se� �tratasse de uma falsifica o feita pelo pr prio artista?�� �cinzeiros, isqueiros, garrafa de u sque, que ter uma pessoa� �contra estes objectos inocentes, embora dispendiosos? que ser�que torna t o intoler vel este dia depressivo depois de uma� �noite extremamente depressiva e que a tens o entre velhos�amigos atinja tal intensidade que fa a saltar fa scas?� �

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porque ser que uma pessoa embirra com as paredes granitadas,�pintadas de um amarelo#suave e decoradas com gravurasmodernas? # sim, sim # disse o alois str ubleder. #, eu s c vim para� � �te dizer que j n o preciso da tua assist ncia neste caso.� � �perdeste a cabe a no aeroporto quando estava nevoeiro. uma�hora depois de tu teres perdido a paci ncia, o nevoeiro�levantou e voc s podiam da mesma maneira ter chegado aqui por�volta das 18.30. se tivessem pensado um pouco, poderiam tertelefonado para o aeroporto de munique, de onde os teriaminformado de que os avi es j estavam a levantar normalmente.� �mas deixemos isso. para ser completamente franco contigo,mesmo que n o tivesse havido nevoeiro e o avi o tivesse� �descolado tabela, voc s teriam chegado demasiado tarde,� �porque a parte crucial do interrogat rio havia muito que�terminara e tu j n o podias evitar nada.� � # de qualquer modo, j n o posso empreender nada contra o� �zeitung. # o zeitung # disse str ubleder. # n o representa grande� �perigo. o l ding j se encarregou dele, mas h outros jornais.� � �n o me importo com quaisquer t tulos, excepto com os que� �associam o meu nome a bandidos. se uma liga o rom ntica me�� �h #de meter em complica es, h o#de ser complica es de ordem� �� � ��privada, e n o de natureza p blica. at mesmo uma fotografia� � �que me mostrasse com uma mulher t o atraente como a katharina�blum me n o faria diferen a nenhuma. e, a prop sito, eles� � �est o a desinteressar#se da teoria do visitante masculino e�nem as cartas # sim, verdade, ofereci#lhe um anel valioso e�escrevi#lhe meia d zia de cartas, de que s encontraram o� �envelope # s o suscept veis de levantar quaisquer� �dificuldades. o pior que o t tges escreve sob outro nome� �para outros jornais, onde poder publicar aquilo que n o� �conv m publicar no zeitung, e que a katharina lhe tenha�prometido uma entrevista em exclusivo. soube isto pelo l ding�ainda h poucos minutos. o l ding, de resto, acha bem que o� �t tges aproveite a entrevista, porque a gente tem o zeitung�sob controlo, mas nenhuma influ ncia sobre as outras�actividades jornal sticas do t tges, que as exerce sob um nome� �suposto. parece que n o est s muito ao corrente da situa o?� � �� # n o fa o a menor ideia # disse blorna.� � # ora a est uma situa o muito estranha para um advogado� � ��

de quem sou cliente.

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o resultado de uma pessoa perder tempo a ser sacudido em�comboios em vez de telefonar para o boletim meteorol gico, de�onde lhe diriam que o nevoeiro n o tardava a levantar. parece�que ainda n o entraste em contacto com ela?� # n o, de facto. e tu?� # n o, directamente n o. s sei que aqui h uma hora ela� � � �telefonou para o zeitung e prometeu uma entrevista emexclusivo ao t tges. ele aceitou. e h uma coisa que me� �preocupa mais, muito mais do que tudo isto e que me d�aut nticas c hcas de est mago (aqui, o rosto de str ubleder� � � �mostrou uma certa emo o e a sua voz revelou inquieta o): a�� ��partir de amanh poder s dizer de mim o que quiseres e quando� �quiseres, porque verdade que abusei da tua confian a e da de� �trude, mas, por outro lado, vivemos num pa s livre, onde � �permitido fazer uma vida amorosa livre, e voc s devem�acreditar#me se eu lhes disser que faria tudo por ajud #la,�at poria em jogo a minha reputa o, porque, v , riam#se l ,� �� � �eu amo essa mulher, mas n o h nada a fazer por ela, eu ainda� �podia tentar qualquer coisa, mas ela que n o deixa...� � # e tamb m n o h nada que possas fazer para a proteger� � �contra o zeitung, contra esses bandidos? # deus do c u, n o leves demasiado a s rio esse caso do� � �zeitung, ainda que eles vos tenham lan ado as garras, a ti e � �trude. pelo amor de deus, n o nos vamos agora p r a discutir� �por causa da imprensa sensacionalista e da liberdade deimprensa. em resumo, gostaria que estivesses presente �entrevista como meu advogado e dela. o pior nisto tudo aindan o veio tona, nem nos interrogat rios nem na imprensa: � � � �que aqui h meio ano a induzi a aceitar uma chave da nossa�casa de campo de kohlforstenheim. n o encontraram a chave nem�quando passaram revista casa nem Katharina, mas ela� �tem#na, ou, pelo menos, tinha#a, se n o a deitou fora.�foisentimentalismo puro, chama#lhe o que quiseres, mas eu quisque ela tivesse uma chave da casa, porque n o tinha perdido a�esperan a de alguma vez ela ir ter comigo. acredita que eu�faria tudo por ajud #la, por lhe dar apoio, que at me� �apresentaria a confessar tudo: sim,, diria, sou eu ocavalheiro das visitas." simplesmente, sei que ela a mim menegaria, mas nunca ao seu querido ludwig. havia algo de novo e inesperado na express o de str ubleder,� �qualquer coisa que despertou em blorna, se n o piedade, pelo�menos curiosidade. era uma esp cie de humildade, ou seria�ci me?�

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# que hist ria essa da j ia, das cartas e agora de uma� � �chave? # pelo amor de deus, hubert, ser que ainda n o percebeste?� � uma coisa que n o posso confessar nem ao l ding, nem ao� � �hach, nem Pol cia: que tenho a certeza de que ela deu a� � �

chave ao seu querido ludwig e que o tipo est l escondido h� � �dois dias. estou com medo, hubert, com medo pela katharina,com medo por causa da pol cia e com medo tamb m por causa� �daquele idiota, que est talvez escondido na minha casa em�kohlforstenheim. quem me dera que ele fugisse antes que oapanhassem, mas, ao mesmo tempo, desejaria que lhe deitassem am o, para ver se punham fim hist ria. est s a perceber? e� � � �que que me aconselhas?� # podias telefonar para kohlforstenheim, acho eu. # e tu achas que, se ele l estiver, vai atender o telefone?� # ent o telefona Pol cia. n o vejo outra alternativa.� � � �quanto mais n o seja, para prevenir um desastre. se for�necess rio, faz um telefonema an nimo. ainda que haja uma� �probabilidade m nima de o g tten estar em tua casa, tens o� �dever de informar imediatamente disso a pol cia. se n o o� �fizeres tu, fa o#o eu.� # para que a minha casa e o meu nome apare am em grandes�t tulos ligados a esse bandido? estava a pensar noutra�coisa... estava a pensar que talvez tu pudesses l ir, quero�dizer, a kohlforstenheim, como meu advogado, para ver se est�tudo em ordem. # neste momento? em dia de carnaval, quando o zeitung sabeque interrompi bruscamente as f rias? e interrompi#as para ver�se estava tudo em ordem na tua casa de campo? ou para ver se ofrigor fico est a funcionar bem? ou se o termostato do� �aquecimento de leo est na posi o devida, se n o h vidros� � �� � �partidos, se o bar est suficientemente abastecido e se os�len is n o est o h midos? e seria para isso que um advogado�� � � �de nome, ligado ind stria, que possui uma resid ncia luxuosa� � �com piscina e que casado com a trude vermelha interromperia�as f rias? parece#te uma ideia inteligente quando os senhores�rep rteres do zeitung devem ter sob observa o todos os� ��movimentos que fa o? ora v , mal des o da carruagem#cama,� � �corro tua resid ncia de campo para me certificar se os� �crocos est o a despontar ou se as camp nulas brancas j� � �nasceram. parece#te realmente uma boa ideia, isto para n o�falarmos do facto de o nosso estimado amigo ludwig j ter dado�provas de ter boa pontaria?

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# diabos te levem, n o me parece que a tua ironia ou os teus�sarcasmos venham agora muito a prop sito. como meu amigo e meu�advogado, pe o#te um favor que nem sequer de natureza� �propriamente pessoal, mas mais de car cter c vico # e tu� �respondes#me com camp nulas brancas. desde ontem que as coisas�est o a ser conduzidas de forma t o secreta que j desde esta� � �manh que n o temos quaisquer informa es. tudo quanto sabemos� � �� pelo zeitung, porque felizmente o l ding tem boas rela es� � ��com eles. o minist rio p blico e a pol cia nem sequer� � �telefonaram para o minist rio do interior, onde o l ding tem� �igualmente boas rela es. isto uma quest o de vida ou de�� � �morte, hubert. neste momento, trude, que entrou com um trans stor na m o� �sem bater porta, anunciou calmamente:� # de morte j n o . agora s de vida, gra as a deus.� � � � �

apanharam o rapaz, que estupidamente disparou. eles replicarame feriram#no, mas sem gravidade. no teu jardim, alois, emkohlforstenheim, entre a piscina e a p rgola. descrevem a casa�como a resid ncia superluxuosa de um dos s cios de l ding. a� � �prop sito, olhem que ainda h verdadeiros cavalheiros: a� �primeira coisa que o nosso amigo ludwig disse foi que akatharina n o tinha nada a ver com o caso, que a rela o deles� ��era um assunto puramente particular, um caso de amor, que nadatinha a ver com ac es pun veis como aquelas de que ele era�� �acusado e que ele ali s repudiava. provavelmente vais ter de�mandar substituir alguns vidros, alois, porque andaram por l�aos tiros. o teu nome ainda n o foi mencionado, mas talvez�fosse melhor tu telefonares Maud; que deve estar inquieta e�a precisar que a consolem. a pol cia apanhou mais tr s� �alegados c mplices de g tten mesma hora e em outros locais.� � �parece que a opera o se apresenta como um xito triunfal de�� �um tal comiss rio beizmenne. e agora, meu querido alois,�p e#te a andar e, para variar, faz uma visita tua estimada� �esposa. n o dif cil imaginar que, nesta altura, o gabinete de� � �trabalho de blorna esteve a ponto de ser teatro deconfronta es f sicas nada de acordo com o mobili rio e a�� � �decora o da sala. alois ter alegadamente tentado apertar o�� �pesco o a trude blorna, mas foi impedido pelo mando dela, que�lhe lembrou que ele certamente n o tencionava atacar uma�senhora. str ubleder ter alegadamente dito que n o estava� � �muito seguro de que a defini o de senhora se aplicasse a uma��mulher de l ngua t o acerada, que havia certas palavras que� �n o deviam ser usadas ironicamente em certos contextos,�

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sobretudo quando se estava beira de acontecimentos tr gicos,� �e que, se mais alguma vez, uma vez que fosse, ele voltasse aouvir aquela express o agoirenta, ent o, bom, seria o fim. mal� �ele sa ra de casa, e ainda blorna n o tivera ocasi o de dizer� � �a trude que ela fora realmente demasiado longe, quando ela ointerrompeu com a seguinte observa o:�� # a m e de katharina morreu ontem. consegui localiz #la.� �est em kuir#hochsackel.�

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antes de principiarmos as manobras finais de desvio,encaminhamento e reordenamento, seja#nos permitido abrir umpar ntese para uma observa o de natureza t cnica. nesta� �� �hist ria acontecem demasiadas coisas. uma hist ria prenhe de� � �ac o, de uma forma penosa, quase ingovern vel: com�� �desvantagem. evidentemente que lament vel que uma governanta� �a trabalhar em regime de profiss o liberal abata a tiro um�jornalista e um caso desses deve ser esclarecido, ou, pelomenos, deve tentar#se explic #lo. mas que que se h #de fazer� � �com ilustres advogados que interrompem as suas f rias de�

esqui, t o duramente conquistadas, por causa de uma�governanta? com industriais que s o acessoriamente professores�e dirigentes partid rios e que, com um ataque de�sentimentalismo ser dio, pretendem for ar a dita governanta a� �aceitar a chave de uma resid ncia secund ria e a si pr prios� � �(sem xito, verdade); que, por um lado, querem publicidade,� �mas s de um g nero especial; com uma por o de gente e de� � ��coisas que n o s o sincroniz veis e que continuamente afectam� � �o fluir (isto , o curso normal) dos acontecimentos, porque�eles est o, por assim dizer, imunes? que que se h #de fazer� � �com funcion rios dos servi os criminais que est o� � �constantemente a pedir tomadas e que as conseguem? em resumo: tudo demasiado perme vel, mas n o o suficiente quando se� � �chega ao momento crucial para o narrador, porque, se �poss vel saber uma coisa aqui, outra ali (pelo hach, por�exemplo, e por agentes da pol cia, homens e mulheres), a�verdade que nada, absolutamente nada, do que eles dizem tem�for a de prova, nem sequer indiciariamente, porque nunca seria�confirmado nem sequer afirmado perante um tribunal. n o um� �testemunho conclusivo.

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nem tem o menor valor para ser levado a p blico. por exemplo,�a hist ria das tomadas. claro que, se interceptarmos liga es� ��telef nicas, obtemos informa es, mas o seu resultado n o pode� �� �ser utilizado nem t o#pouco mencionado por pessoas diferentes�das autoridades que procedem investiga o. sobretudo, que se� ��passar na psique do funcion rio que instala as tomadas? que� �passar pelo esp rito de um funcion rio p blico inocente, que� � � �nada mais faz do que cumprir o seu dever, que, por assimdizer, cumpre um dever (que talvez lhe repugne) porque recebeordens, ou por necessidade de ganhar o p o, que pensar ele� �quando tiver de ouvir uma conversa telef nica entre aquele�desconhecido habitante do pr dio, que designaremos aqui, por�economia, como o ofertante de car cias, e uma pessoa t o� �simp tica, jeitosa, virtualmente inocente como katharina blum?�sentir#se# num estado de excita o moral ou sexual, ou em� ��ambos? indigna#se, sente compaix o ou sente um estranho prazer�por perceber que uma pessoa a quem d o a alcunha de a freira � �ferida no mais profundo da sua alma pelas propostas ciciadaspor uma voz que ao mesmo tempo amea adora?� � bom, muita coisa acontece no primeiro plano, mas mais aindano plano de fundo. que pensar um inocente funcion rio cuja� �fun o instalar tomadas, e que se limita a cumprir o seu�� �dever, quando surpreende um tal l ding, que s foi aqui� �mencionado acidentalmente, a telefonar para o chefe deredac o do zeitung, a quem diz qualquer coisa deste g nero:�� � # imediatamente s. fora e b. dentro. claro que o telefone do l ding n o est sob escuta porque� � �ele esteja sob observa o, mas porque subsiste o perigo de��chantagistas, gangsters pol ticos, etc., lhe telefonarem. como� que o ouvinte inocente pode adivinhar que s. significa�str ubleder e b. blorna e que o leitor da edi o de domingo do� ��zeitung j n o vai encontrar nada sobre s., mas muita coisa� �sobre b.? e, contudo, quem que poderia saber ou sequer�

intuir que blorna um advogado extremamente apreciado por�l ding, advogado que muitas vezes provou a sua compet ncia� �tanto nacional como internacionalmente? se noutro lugarfalarmos de fontes que nunca se encontram, estamos apenas areferir#nos can o em que a falsa freira apaga a vela aos� ��filhos do rei e algu m cai em guas profundas e morre afogado.� � e frau l ding diz cozinheira que telefone secret ria do� � � �marido a perguntar que que ele quer para sobremesa no�domingo: crepes com sementes de papoila?

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ou morangos com sorvete e natas batidas, ou apenas com natasou apenas com sorvete? ao que a secret ria, que n o quis� �incomodar o chefe, mas que lhe conhece os gostos e que, poroutro lado, talvez tenha simplesmente querido causarproblemas, respondeu com uma voz bastante spera que estava�convencida de que o senhor l ding preferiria pudim flan com�molho de caramelo. a cozinheira, que, evidentemente, conheceos gostos do senhor l ding, recusa#se a aceitar esta sugest o� �e diz que isso novidade para ela e se a secret ria n o� � �estar a confundir os seus pr prios gostos com os do senhor� �l ding. o melhor ser fazer o favor de a p r em contacto com o� � �senhor l ding para ela saber directamente por ele que que� �ele prefere para a sobremesa. a isto, a secret ria, que, por�vezes, viaja com o senhor l ding para confer ncias e que� �almo a e janta com ele em hot is palace e inter, objecta que,� �quando ela viaja com ele, ele escolhe invariavelmente pudimflan. a cozinheira: "mas no pr ximo domingo ele n o vai viajar� �com ela, secret ria, e n o seria poss vel que o senhor l ding� � � �escolhesse a sobremesa de acordo com a companhia em que seencontrasse? etc." finalmente, uma longa discuss o sobre�crepes com sementes de papoila, tudo gravado em fita magn tica� custa do contribuinte. e o funcion rio encarregado do� �gravador tem de p r a hip tese de estar perante um c digo� � �anarquista em que crepes poder o significar granadas de m o e� �morangos com sorvete bombas e pensa: "os problemas que estagente tem!" ou: "quem me dera ter problemas destes!" porque afilha acaba de fugir de casa ou o filho est viciado em�haxixe, ou est preocupado porque as rendas de casa poder o� �subir novamente, e agora toda esta complica o de grava es,�� ��porque uma vez algu m amea ou fazer explodir uma bomba contra� �o l ding. e assim que um inocente funcion rio p blico chega� � � �finalmente a saber o que s o crepes com sementes de papoila,�ele para quem um crepe, um nico, j chegava para fazer uma� �refei o.�� passam#se demasiadas coisas no primeiro plano e n o sabemos�nada do que se passa no segundo plano. se ao menos se pudessemouvir de novo as fitas magn ticas! para finalmente�descobrirmos o grau de intimidade, se que existe alguma,�entre frau woltersheim e konrad beiters. que significado tem apalavra "amigo" referida rela o entre estas duas pessoas?� ��ela chamar#lhe# "amor", "querido", ou dir simplesmente� �"konrad ou conny?" que esp cie de intimidades verbais que� �eles trocam, se que trocam algumas?�

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ele cantar#lhe# ao telefone, sabendo#se, como se sabe, que�tem uma boa voz de bar tono, se n o para concerto, pelo menos� �com qualidade coral? can es? serenatas? can es pop? rias?�� �� �ou ser que ele refere de maneira grosseira intimidades�passadas ou futuras? era uma coisa que gost vamos de saber,�porque, uma vez que a maior parte das pessoas n o disp e de� �comunica es telep ticas de confian a, agarra#se ao telefone,�� � �que lhe parece de mais confian a. ser que as autoridades t m� � �a no o do que exigem aos funcion rios em termos da psique"?�� �admitamos que uma pessoa de natureza comum temporariamentesuspeita cujo telefone foi posto oficialmente sob escuta fazuma liga o telef nica ao amante, pessoa igualmente de�� �natureza comum. como vivemos num pa s livre e podemos falar�livre e abertamente uns com os outros, incluindo ao telefone,que esp cie de coisas, independentemente do sexo, sibilar o� �aos ouvidos do funcion rio, que poder ser uma pessoa moral ou� �mesmo moralista, ou ecoar o do gravador? isto ser� �justificado? est previsto tratamento psiqui trico? que diz a� �isto o sindicato dos servi os p blicos, transportes e� �comunica es? h quem se preocupe com os industriais,�� �anarquistas, directores de banco, assaltantes e funcion rios�de banco, mas quem que se preocupa com as nossas for as� �nacionais de seguran a dos gravadores? a igreja n o tem uma� �palavra a dizer sobre o assunto? e a confer ncia episcopal de�fulda e a comiss o central dos cat licos alem es n o t m� � � � �opini o sobre o assunto? porque que o papa faz sil ncio� � �sobre o caso? ser que ningu m faz ideia daquilo a que est o� � �sujeitos ouvidos inocentes e que pode ir desde o pudim flanat mais desbragada pornografia? pretende#se encorajar os� �jovens a entrarem para a fun o p blica # e a que que eles�� � �ficam expostos? a marginais dos telefones. temos finalmente umcampo em que a igreja e os sindicatos podem cooperar. pelomenos deveriam poder planificar uma esp cie de programa de�forma o para monitores dos telefones. n o devia ficar muito�� �caro.

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vamos agora voltar contritamente ao primeiro plano,regressar ao inevit vel trabalho de ordenamento dos canais e�mais uma vez tentar uma explica o.��

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prometemos aqui n o fazer correr mais sangue e gostar amos� �de acentuar que, com a morte de frau blum, m e de katharina, a�promessa n o foi quebrada. porque esta morte, ainda que,�evidentemente, n o fosse um caso normal, n o foi um assass nio� � �sangrento. a morte de frau blum foi, certo, um acto de�

viol ncia, mas viol ncia n o intencional. de qualquer modo # e� � �isso deve ser tido em considera o #, o agente causador da��morte n o tinha a inten o de cometer um crime, nem um� ��homic dio, nem sequer ofensas corporais. trata#se neste caso,�conforme as provas e o pr prio agente envolvido admitiu, do�tal t tges, que veio a ter, ele pr prio, um fim sangrento e� �resultante de viol ncia deliberada.� logo na quinta#feira t tges indagara em gemmelsbroich do�endere o de frau blum. obtivera#o, mas tentara em v o chegar� �junto dela no hospital. foi informado pelo porteiro, pelaenfermeira edelgard do servi o e pelo m dico#chefe, o doutor� �heinen, que frau blum fora submetida a uma melindrosa e bemsucedida opera o a um cancro e carecia urgentemente de��repouso, que a sua cura dependia de n o ser exposta a qualquer�g nero de excita o e que estava fora de quest o qualquer� �� �hip tese de uma entrevista. quando lhe foi observado que frau�blum era, por for a da liga o da filha com g tten, uma figura� �� �p blica", o m dico objectou que as figuras p blicas, eram para� � �ele antes do mais, e sobretudo, doentes. ora, durante esta conversa, t tges reparara que havia�pintores a trabalharem no edif cio. mais tarde gabara#se aos�colegas de que, na sexta#feira de manh , conseguira chegar�junto de frau blum socorrendo#se do mais simples dosestratagemas, designadamente o disfarce de oper rio,, isto ,� �vestira um fato#macaco e pegara num balde de tinta e numpincel, e valera a pena porque uma m e sempre uma mina de� �informa es, mesmo quando est doente. confrontara frau blum�� �com os factos, mas n o tinha a certeza de que ela tivesse�percebido tudo, porque, aparentemente, o nome g tten, nada lhe�dizia. frau blum dissera: "porque que havia de acabar desta�maneira? porque que isto havia de acontecer?" destas�palavras o zeitung fizera as seguintes declara es: "isto��tinha de acontecer. tinha de acabar assim." t tges explicara esta altera o das palavras de frau blum� ��dizendo que, como rep rter, estava habituado a ajudar as�pessoas simples a exprimirem#se com mais clareza".

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nem sequer se conseguiu estabelecer sem margem de d vida se�t tges ter realmente chegado junto de frau blum, ou se, para� �apresentar as palavras citadas pelo zeitung como proferidaspela m e de katharina, n o ter mentido ou mesmo inventado a� � �visita para provar a sua efici ncia jornal stica e ter� �qualquer coisa de que se vangloriar. o doutor heinen, aenfermeira edelgard, uma enfermeira espanhola de nome huelva euma empregada de limpeza portuguesa chamada puelco afirmamtodos que consideram imposs vel que aquele sujeito realmente�tivesse o descaramento de fazer tal coisa, (doutor heinen).ora n o h d vida de que a visita m e de katharina, ainda� � � � �que possivelmente inventada, foi de import ncia capital, e a�quest o que se levanta se o pessoal do hospital est� � �simplesmente a negar uma coisa que n o devia ter acontecido ou�se t tges, para autenticar as palavras atribu das m e de� � � �katharina, ter inventado a entrevista. temos de ser�escrupulosamente justos neste ponto. fora de d vida que foi� �

depois de katharina ter combinado a entrevista com t tges e de�este ter publicado mais uma reportagem na edi o de domingo��que katharina se disfar ou de bedu na para fazer as suas� �investiga es naquele mesmo bar de onde o infeliz sch nner�� �sa ra com uma vamp. temos portanto de aguardar. uma coisa � �certa e provada: o doutor heinen ficou surpreendido com amorte s bita da sua doente maria blum e n o podia excluir a� �possibilidade de se terem verificado interfer ncias�imprevistas, ainda que n o houvesse provas,. aos pintores�inocentes n o podia ser assacada a responsabilidade do caso. a�honra do operariado alem o n o devia ser assoalhada: nem a� �enfermeira edelgard nem as estrangeiras huelva e puelco podemgarantir que todos os pintores fossem realmente pintores #eram quatro fornecidos pela firma merkens, do kuir # e, comoos quatro trabalhavam em locais diferentes, ningu m pode saber�ao certo se n o se ter introduzido no edif cio uma pessoa� � �estranha vestindo um fato#macaco e equipada com um balde detinta e pinc is. uma coisa certa: t tges afirmou (n o se� � � �pode falar aqui de reconhecer, porque a visita realmente n o�ficou provada) ter estado junto de maria blum e t #la�entrevistado, e katharina soube desta afirma o. o senhor��merkens admitiu que, evidentemente, os quatro pintores n o�estiveram sempre presentes ao mesmo tempo e que, se algu m�tivesse querido introduzir#se no edif cio, teria sido a coisa�mais f cil da vida.�

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o doutor heinen disse mais tarde que ia propor uma ac o��judicial contra o zeitung por ter publicado as alegadasdeclara es da m e de katharina e, deste modo, ter dado lugar�� �a um esc ndalo, porque uma coisa destas era, se verdadeira,�uma ac o monstruosa mas esta amea a foi t o pouco executada�� � �como a amea a que blorna fez de dar um murro nos queixos" de�str ubleder.�

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por volta do meio#dia daquele s bado 23 de fevereiro de 1974�reuniram#se no caf Kloog, do kuir (de que era gerente um�sobrinho do estalajadeiro para quem katharina trabalhou comocozinheira e como criada de mesa), os blorna, frauwoltersheim, konrad beiters e katharina. trocaram abra os e�derramaram l grimas, at mesmo frau blorna. n o ser preciso� � � �dizer que a disposi o que reinava no caf era a pr pria do�� � �carnaval, mas o propriet rio, erwin kloog, que conhecia�katharina, a quem tratava por tu e apreciava, pusera �disposi o dos h spedes a sua pr pria sala. foi dali que�� � �blorna telefonou logo a hach a cancelar o encontro marcadopara a entrada do museu e a participar#lhe que a m e de�katharina tinha morrido, provavelmente em consequ ncia da�visita de t tges, jornalista do zeitung. hach estava menos�

spero que de manh e pediu a blorna que transmitisse a� �express o do seu pesar a katharina, que certamente lhe n o� �guardava nenhum ressentimento, para o que realmente n o havia�raz o. de resto, ele estava sempre disposi o para o que� � ��fosse preciso. verdade que, de momento, estava muito ocupado�com o interrogat rio de g tten, mas conseguiria libertar#se,� �se fosse necess rio. incidentalmente informava que, at ver,� �n o surgira nada no interrogat rio de g tten, que fosse� � �desfavor vel a katharina. g tten falara dela e acerca dela com� �grande afei o e correc o. agora n o era natural que fosse�� �� �autorizada qualquer visita, uma vez que eles n o eram parentes�e a classifica o de noiva se afigurava demasiado vaga e��inconsistente. parecia que katharina n o tinha ficado muito abatida com a�not cia da morte da m e. at dava ideia de que tinha ficado� � �aliviada. claro que katharina mostrou ao doutor heinen aedi o do zeitung que trazia a entrevista de t tges e as�� �alegadas declara es da m e, mas sem partilhar da indigna o�� � ��do doutor heinen relativamente entrevista, e, pensando�

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embora que pessoas deste g nero eram assassinas e assassinas�de caracteres a quem ela evidentemente desprezava, achava, poroutro lado, que parecia ser dever desta gente dos jornaisprivar os inocentes da sua honra, reputa o e sa de. o doutor�� �heinen, que, laborando num erro, a supunha marxista(provavelmente tamb m ele tinha lido no zeitung as insinua es� ��de brettloh, o ex#marido de katharina), estava um poucochocado com a frieza dela e perguntou#lhe se considerava estaquest o # a trama do zeitung # um problema de estrutura.�katharina, que n o sabia o que ele queria dizer, abanou a�cabe a.� depois pediu enfermeira edelgard que lhe mostrasse o�caminho para a c mara mortu ria, onde entrou acompanhada de� �frau woltersheim. katharina levantou o len ol que cobria o�rosto da m e, disse "sim", e beijou#a na testa. quando a irm� �edelgard lhe sugeriu que dissesse uma pequena prece, abanou acabe a e disse "n o". cobriu de novo o rosto da m e com o� � �len ol, agradeceu freira e s quando sa ram da c mara� � � � �mortu ria come ou a chorar, primeiro baixinho, depois mais� �alto e, finalmente, j de forma incontrolada. possivelmente�estava a lembrar#se do pai falecido, a quem ela, na altura com6 anos de idade, vira igualmente na c mara mortu ria de um� �hospital. else woltersheim lembrou#se, ou, antes, reparou, quenunca vira katharina chorar anteriormente, nem sequer emcrian a, quando era infeliz na escola ou em virtude do seu�meio desgra ado. muito delicadamente, quase com gentileza,�katharina fez quest o de agradecer a toda a gente, incluindo�s duas senhoras estrangeiras, huelva e puelco, o que tinham�feito pela m e. saiu do hospital muito contida e nem mesmo se�esqueceu de pedir respectiva administra o que mandasse um� ��telegrama para o irm o que estava preso.� e assim permaneceu toda a tarde e toda a noite: contida.embora constantemente pegasse nas duas edi es do zeitung e��confrontasse os blorna, else w e konrad beiters com todos os

pormenores e com a sua interpreta o deles, at mesmo a sua�� �rela o com o zeitung parecia ter mudado. em linguagem actual:��menos emocional, mais anal tica. neste c rculo de amigos� �familiar e compreensivo, aqui, na sala de estar de erwinkloog, falou tamb m abertamente da sua rela o com� ��str ubleder: ele acompanhara#a a casa, uma vez, depois de um�ser o em casa dos blorna, e, embora ela tivesse expressamente�dito, e at quase com repulsa, que o n o fizesse, insistira em� �a acompanhar at porta e for ara mesmo a entrada na casa,� � �

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pondo um p na porta. e era verdade que ele tinha tentado�cortej #la e at tinha ficado ofendido por ela n o o ter� � �achado irresist vel. finalmente # passava j da meia#noite #� �fora#se embora. a partir desse dia come ara a persegui#la,�aparecia#lhe, mandava#lhe flores, escrevia#lhe cartas ealgumas vezes tinha conseguido entrar em casa dela. fora numadestas vezes que a for ara a aceitar o anel. fora tudo. n o� �confessara as visitas dele nem revelara o nome do visitanteporque lhe parecera que teria sido imposs vel explicar aos�funcion rios do interrogat rio que n o houvera nada,� � �absolutamente nada, entre eles, nem sequer um simples beijo.quem que acreditaria que ela tivesse resistido a um homem�como str ubleder, que era n o s possuidor de fortuna, como� � �conhecido nos meios pol ticos, econ micos e acad micos como um� � �homem de charme irresist vel, quase como se fosse um actor de�cinema, e quem que acreditaria que uma empregada dom stica� �como ela resistisse a um actor de cinema e nem sequer ofizesse por raz es de ordem moral, mas por uma quest o de� �gosto? ele n o exercia sobre ela a menor atrac o e ela� ��considerava esta hist ria do cavalheiro visitante como a mais�horr vel intromiss o numa esfera que n o designaria� � �propriamente como ntima para evitar mal#entendidos, j que� �ela nem de longe nem de perto tinha sido ntima de�str ubleder, mas porque ele a tinha colocado numa situa o que� ��ela n o explicaria a ningu m, sobretudo tratando#se de uma� �equipa de investigadores. em ltima an lise, por m (e aqui ela� � �riu#se), sentia por ele uma certa gratid o, porque a chave da�casa dele fora uma grande ajuda para ludwig ou, pelo menos, oendere o (e aqui ela riu outra vez), porque mesmo sem chave�ele teria entrado, mas a chave sempre tinha facilitado,evidentemente, e ela tamb m sabia que a vivenda estaria�desabitada, porque ainda dois dias antes o str ubleder a tinha�ma ado ao m ximo, atirando#se#lhe positivamente cara e� � �convidando#a a passar ali com ele o fim#de#semana do carnaval,antes da sua partida para o semin rio em bad b., em que ele�acedera a participar. sim, o ludwig contara#lhe que eraprocurado pela pol cia, mas s lhe dissera que era desertor do� �ex rcito e que estava em vias de sair do pa s (aqui ela riu#se� �pela terceira vez), tendo#a divertido um bocado despach #lo�sozinha pela conduta do aquecimento, indicando#lhe a sa da de�emerg ncia no extremo das resid ncias elegantes da beira#rio,� � esquina da hochkeppelstrasse, pela qual ele saiu para a luz�do dia.

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n o, ela realmente n o imaginara que a pol cia estivesse a� � �vigi #la e a g tten, e encarara a quest o como uma esp cie de� � � �hist ria rom ntica de pol cias e ladr es, e s de manh # na� � � � � �realidade, ludwig sa ra pelas seis horas da manh # ela� �come ara a perceber como era s ria a situa o. mostrou#se� � ��aliviada ao saber g tten na pris o, porque assim, disse ela,� �n o poderia fazer tolices. tinha estado aterrada durante todo�o tempo, porque beizmenne tinha qualquer coisa de sinistro.

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neste ponto deve ficar registado que katharina passou atarde e a noite de s bado quase agradavelmente, t o� �agradavelmente que toda a gente # os blorna, else woltersheim,o estranhamente silencioso konrad beiters # se sentiu bastantetranquilizada. havia finalmente uma sensa o geral #��partilhada at por katharina # de que a situa o estava menos� ��tensa. g tten, preso, o interrogat rio de katharina encerrado,� �a m e de katharina libertada, embora prematuramente, de uma�dolorosa doen a, as formalidades f nebres j em vias de� � �prepara o (do kuir tinham prometido os documentos necess rios�� �para a segunda#feira antes da quaresma, tendo um funcion rio�declarado amavelmente estar disposto a pass #los apesar de ser�dia feriado). e, finalmente, davam certo consolo as palavrasde erwin kloog, o propriet rio do caf , que se recusou a� �aceitar qualquer pagamento pelas coisas que tinham consumido(caf , licores, salada de batata, salsichas e bolo) e disse,�quando o grupo se despediu: # levanta o queixo, kathrinchen! nem todos aqui pensam malde ti! a consola o inerente a estas palavras era talvez s�� �relativa, porque qual o valor de nem todos? mas, de qualquer�modo, subsistia o facto de n o serem todos.� concordaram em ir para casa dos blorna, para passarem l o�resto do ser o. chegada proibiram expressamente katharina de� �fazer fosse o que fosse: estava de f rias e devia�descontrair#se. foi frau woltersheim quem foi para a cozinhafazer as sandu ches, enquanto blorna e beiters se encarregaram�de acender o fog o de sala. e, na verdade, katharina deixou�que a estragassem com mimos", uma vez sem exemplo. tudodecorreu muito bem e, se n o fosse ter havido uma morte,�

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e a pris o de uma pessoa muito querida, com certeza teriam�organizado um bailezinho l para tarde, porque, enfim, sempre�era carnaval. blorna n o conseguiu dissuadir katharina da planeada�entrevista a t tges. permaneceu calma e gentil e mais tarde,�

depois da entrevista # que entrevista! # blorna sentiuarrepios s de se lembrar da fria determina o com que� ��katharina fizera quest o da entrevista e firmemente recusara a�oferta dele de estar presente ao encontro. e, contudo, maistarde, ele pr prio n o estava muito seguro de que naquela� �noite katharina estivesse j decidida a cometer o assass nio.� �parecia#lhe at muito mais prov vel que o golpe desencadeante� �tivesse sido desferido pelo zeitung de domingo. despediram#se pacificamente de novo com abra os, desta vez�sem l grimas, depois de terem estado a ouvir m sica s ria e� � �ligeira e de katharina e frau woltersheim terem falado umpouco da vida em gemmelsbroich e no kuir. pouco passava das22.30 quando se despediram dos blorna com grandes afirma es��de amizade e simpatia e os blorna se congratularam por afinalterem regressado a tempo # a tempo de salvarem katharina.junto do fog o a apagar#se e com uma garrafa de vinho, os�blorna fizeram novos planos de f rias e discutiram o car cter� �do seu amigo str ubleder e de maud, mulher dele. quando blorna�pediu mulher que de futuro n o voltasse a falar do� �cavalheiro das visitas, # com certeza ela via que se tratavade uma express o melindrosa #, trude blorna disse:� # n o vamos v #lo t o depressa!� � �

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garantido que katharina passou agradavelmente o resto do�ser o. voltou a provar o traje de bedu na, refor ou as� � �costuras e decidiu usar um len o maneira de v u. ouviram� � �r dio durante mais algum tempo, comeram biscoitos e foram�deitar#se. pela primeira vez, konrad beiters e frauwoltersheim foram sem disfarces para o quarto de dormir,enquanto katharina se deitou no sof da sala.�

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quando else woltersheim e konrad beiters se levantaram nodomingo de manh , encontraram a mesa do pequeno#almo o muito� �bem arranjada, o caf metido numa cafeteira#termo e katharina,�que j estava a tomar o pequeno#almo o e nitidamente com� �satisfa o, estava sentada mesa a ler o zeitung de domingo.�� �o que se segue n o um coment rio, mas uma cita o. verdade� � � �� �que a hist ria de katharina j n o vinha na primeira p gina� � � �com fotografia. desta vez, na primeira p gina o que vinha era�a fotografia de ludwig g tten, com o seguinte t tulo: "o terno� �amante de katharina blum refugia#se na vivenda de umindustrial." a hist ria propriamente dita vinha ainda com mais�pormenores do que anteriormente nas p ginas 7 a 9, acompanhada�de numerosas fotografias: katharina vestida de primeiracomunh o, o pai com o uniforme de soldado regressado da�

guerra, a igreja de gemmelsbroich, mais uma vez a vivenda dosblorna, a m e de katharina com cerca de 40 anos, com um ar�amargurado, quase decadente, porta da min scula casa de� �gemmelsbroich onde eles moravam e, finalmente, uma fotografiado hospital onde a m e de katharina morrera na noite de�sexta#feira para s bado. o texto:�

a primeira v tima de katharina blum, tida na conta de�pessoa sens vel, uma figura nebulosa ainda em liberdade, foi,�podemos diz #lo, a sua pr pria m e, que n o sobreviveu ao� � � �choque que recebeu ao saber das actividades da filha. j seria�bastante estranho que, com a m e moribunda, a filha dan asse� �num baile com um assaltante e assassino, mas toca as raias daextrema perversidade que, ao saber a not cia da morte da m e,� �a filha nem uma l grima derramasse. ser que esta mulher � � �apenas fria como o gelo e calculista? a mulher de um dos seusex#patr es, um respeit vel m dico de prov ncia, descreve#a do� � � �seguinte modo: "ela comportava#se realmente maneira de uma�prostituta. fui obrigada a despedi#la por causa dos meusfilhos, que estavam a crescer, dos nossos doentes e dareputa o do meu marido." ser poss vel que katharina�� � �estivesse envolvida nas actividades do famigerado doutorfehnern? (o zeitung publicou uma reportagem completa destecaso na altura.)

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o pai dela seria um simulador? porque que o irm o se ter� � �dedicado ao crime? permanece por explicar a sua r pida�ascens o e os seus altos proventos. uma coisa indiscut vel:� � �foi katharina quem proporcionou a g tten, um homem com as m os� �tintas de sangue, os meios de escapar vigil ncia da pol cia,� � �abusou desavergonhadamente da afectuosa confian a e espont nea� �generosidade de um reputado cientista e industrial. o zeitungpossui agora informa es que provam saciedade que as suas�� �actividades consistiam n o s em receber visitas de� �cavalheiros, mas em fazer ela pr pria as suas visitas, sem ser�convidada, para descobrir a vivenda em quest o. as misteriosas�viagens de autom vel da blum j n o s o misteriosas. sem o� � � �menor escr pulo, p s em jogo a reputa o de um homem digno, a� � ��felicidade da fam lia deste e a sua carreira pol tica # sobre� �a qual o zeitung tem publicado frequentes reportagens #,indiferente aos sentimentos de uma esposa leal e aos seusquatro filhos. parece que a blum estava industriada por umgrupo esquerdista para destruir a carreira pol tica de s.� tencionar a pol cia, tencionar o minist rio p blico� � � � �realmente acreditar nas palavras do infame g tten, que�protesta a inoc ncia da blum em toda a hist ria? como tantas� �vezes no passado, o zeitung levanta mais uma vez a pergunta:"n o verdade que os nossos m todos de interrogat rio s o� � � � �demasiado suaves? ser que devemos continuar a tratar com�humanidade quem comete actos desumanos?"

por baixo das fotografias de blorna, de frau blorna e da

vivenda: era nesta casa que katharina blum trabalhava das 7 s 18.30� vontade, independente, gozando da total confian a do doutor� �blorna e de frau blorna. que se ter desenrolado aqui enquanto�os blorna prosseguiam as suas actividades profissionais semsuspeitarem de nada? e ser que realmente eles n o suspeitavam� �de nada? a sua rela o com a blum descrita como muito�� �cordial, quase familiar. os vizinhos disseram aos rep rteres�do zeitung que quase se poderia falar de uma rela o de��amizade. passaremos sobre certas insinua es que n o s o�� � �relevantes. ou ser o? que papel ter desempenhado frau� �gertrud blorna, que conhecida ainda hoje nos anais de um�conceituado instituto t cnico como a trude vermelha? como � �que g tten, ter escapado de casa da blum com a pol cia no� � �encal o? quem que conhecia os planos da constru o das� � ��resid ncias elegantes da beira#rio at aos ltimos pormenores?� � �frau blorna. hertha sch., caixeira, e claudia st., oper ria,�fizeram id nticas declara es ao zeitung: aqueles dois� ��[referiam#se Blum e ao bandido g tten] dan aram um com o� � �outro como se se conhecessem de sempre. n o foi um encontro�casual, foi um encontro combinado.

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quando, mais tarde, beizemenne foi criticado por ter deixadog tten solta durante quase quarenta e oito horas, sabendo� �embora, j desde quinta#feira noite, que ele se encontrava� �na vivenda de str ubleder e arriscando#se, portanto, a que ele�mais uma vez se escapasse, beizmenne riu#se e disse que desdequinta#feira noite que g tten deixara de ter qualquer� �hip tese de se escapar. a casa ficava no meio da floresta,�mas, por sorte, estava rodeada de pontos altos, queconstitu am aut nticas torres de observa o, o ministro do� � ��interior estava ao corrente e de acordo com todas as medidastomadas. um helic ptero, que, evidentemente, n o aterrou perto� �para n o ser ouvido, transportou um destacamento especial, que�foi espalhado pelos pontos elevados, e na manh seguinte os�efectivos locais da pol cia foram muito discretamente�refor ados com mais duas d zias de agentes. o mais importante� �tinha sido manter sob vigil ncia as tentativas de contacto de�g tten, e o xito da opera o justificara o risco. ele fizera� � ��cinco tentativas de contacto. e evidentemente que foranecess rio identificar estes contactos e fazer buscas s� �respectivas casas antes de se proceder pris o de g tten. a� � �pol cia s tinha deitado a m o a g tten, quando ele deixou de� � � �fazer contactos e se sentiu t o seguro que, por bravata ou�atrevimento, at se deixou observar de fora.� diga#se a prop sito que houve um certo n mero de pormenores� �que se ficaram a dever aos rep rteres do zeitung e editorial� �e associados, que dispunham de meios mais flex veis e nem�sempre convencionais para descobrir pormenores que estavamvedados aos investigadores oficiais.

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assim, por exemplo, descobriram que frau woltersheim era, talcomo frau blorna, o que se pode chamar uma folha em branco.woltersheim nascera em 1930, filha ileg tima de uma oper ria.� �a m e ainda era viva, e onde que imaginam que vivia? na� �alemanha oriental, para onde fora, n o contrariada, mas de�livre vontade. muitas vezes fora convidada a regressar terra�natal, ao kuir, onde possu a uma pequena casa e uma parcela de�terreno # a primeira vez em 1945, novamente em 1952 e mais umavez em 1961, pouco antes da constru o do muro de berlim. mas��ela recusara por tr s vezes e das tr s vezes categoricamente.� �mas ainda mais interessante era o pai da woltersheim, um tallumm, igualmente oper rio, para al m de membro do partido� �comunista. em 1932 emigrara para a uni o sovi tica, onde teria� �desaparecido sem deixar rasto. ele, beizmenne, supunha queesta esp cie de desaparecido n o figurava na lista de� �desaparecidos do ex rcito alem o.� �

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como nunca se pode ter a certeza de que certos indicadoresque apontam para uma rela o entre os v rios acontecimentos e�� �ac es n o correm o risco de ser mal interpretados ou,�� �possivelmente, de se perder como simples sugest es, deve#nos�ser permitido apresentar aqui mais um indicador: o zeitung,que indiscutivelmente provocou, atrav s da pessoa do seu�rep rter t tges a morte prematura da m e de katharina,� � �apresentava agora no zeitung de domingo a pr pria katharina�como culpada # da morte da m e e at a acusava, mais ou menos� �abertamente, de ter roubado a str ubleder a chave da casa de�campo. um ponto que deve ser sublinhado, porque uma pessoa�nunca tem a certeza absoluta, e tamb m nunca se pode ter a�certeza de se ter compreendido todas as mentiras, cal nias e�distor es do zeitung.�� tomemos como exemplo os blorna, para vermos at que ponto o�zeitung at afectou pessoas relativamente sensatas.�evidentemente que na zona residencial dos blorna se n o�comprava o zeitung de domingo. as pessoas dedicavam#se aleituras mais nobres. de modo que s pelo meio#dia, quando�telefonou a frau woltersheim, que blorna, que aguardava com�certa expectativa a entrevista de katharina com t tges, soube�do artigo do zeitung de domingo.

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por seu lado, a woltersheim tinha como evidente que o doutorblorna tivesse lido o zeitung de domingo. ora blorna era,esperemos que tenha ficado entendido, um bom amigo,sinceramente preocupado com katharina, mas tamb m um homem�sensato. quando frau woltersheim lhe leu ao telefone aspassagens mais significativas do zeitung de domingo, ele nemquis acreditar nos seus pr prios ouvidos, como se costuma�dizer. pediu#lhe que lesse outra vez e agora n o teve outro�

rem dio sen o acreditar. parecia#lhe que, como se costuma� �dizer, sentia o ar a faltar#lhe. gritou, urrou, correu �cozinha procura de uma garrafa vazia que achou e�precipitou#se para a garagem, onde, felizmente, foiinterceptado pela mulher, que o impediu de fabricar umcocktail molotov que ele projectava arremessar contra asinstala es do zeitung e outro, mais tarde, contra a vivenda��do str ubleder. imagine#se a cena: um homem culto, com�forma o acad mica, de 42 anos, que durante sete anos gozou da�� �considera o de l ding e do respeito de str ubleder em virtude�� � �das suas s brias e l cidas capacidades de negocia o, e at ao� � �� �n vel internacional, nomeadamente no brasil, bem como na�ar bia saudita e na irlanda do norte # n o se tratava pois de� �um provinciano, mas de um homem experiente do mundo #, aquerer fabricar um cocktail molotov! frau blorna imediatamente classificou a atitude como umanarquismo espont neo, pequeno#burgu s e rom ntico, falou#lhe� � �de forma calmante, como quando se pretende suavizar uma zonado corpo ferida ou doente, foi para o telefone e pediu a frauwoltersheim que lhe lesse as passagens em quest o. e agora h� �uma coisa que se deve dizer: ela fez#se muito p lida # at� �ela! # e fez uma coisa talvez bastante pior do que um cocktailmolotov: agarrou no telefone, ligou para o l ding, que quela� �hora devia estar a saborear os seus morangos com natas esorvete de baunilha, e disse#lhe simplesmente: "seu porco, seuporco miser vel!" nem sequer disse quem falava, mas fora de� �d vidas que todos os que conheciam os blorna reconheciam a voz�da mulher que era famosa pelas suas observa es speras e�� �aceradas. na opini o do marido, que supunha que ela teria�telefonado ao str ubleder, ela mais uma vez fora demasiado�longe. bem, o resultado foi uma disputa atr s da outra,�disputa entre os blorna, entre os blorna e outros, mas, comon o morreu ningu m, podemos passar sobre estas quest es.� � �mencionamos aqui estas consequ ncias, em si insignificantes,�

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embora deliberadas, da reportagem do zeitung de domingo paraque se saiba que at pessoas educadas e bem instaladas na vida�podem ser levadas pela indigna o a recorrer a actos de��viol ncia da maior grosseria.� est provado que, por esta hora # cerca do meio#dia #,�katharina, depois de passar hora e meia inc gnita no�restaurante o pato dourado frequentado por jornalistas,provavelmente a reunir informa es sobre t tges, fora para sua�� �casa esperar por t tges, que apareceu um quarto de hora�depois. sobre a entrevista, n o ser preciso dizer mais nada.� �sabe#se como ela decorreu. (vide p.13.)

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a fim de confirmar a veracidade das declara es do pastor de��gemmelsbroich # declara es que tinham surpreendido todas as��pessoas envolvidas #, que dava o pai de katharina como um

comunista encapotado, blorna decidiu passar um dia na aldeia.primeiro que tudo, o pastor confirmou as suas declara es,��admitiu que o zeitung o citara textual e correctamente, provaspara a sua afirma o n o podia apresentar nem queria, disse�� �at que n o precisava, confiava no seu olfacto, o blum� �cheirava#lhe a comunista. convidado a definir o que era paraele o seu olfacto,, recusou#se, e tamb m n o foi muito� �sol cito quando blorna lhe pediu delicadamente que, j que n o� � �queria definir o seu olfacto, explicasse como era o cheiro deum comunista, como que cheira um comunista. neste ponto # � �preciso diz #lo #, o pastor foi bastante rude, perguntou a�blorna se era cat lico e, como este dissesse que sim,�lembrou#lhe o seu dever de obedi ncia, coisa que blorna n o� �entendeu. claro que de a em diante teve dificuldades nas�investiga es respeitantes aos blum, que parecia n o terem�� �sido particularmente benquistos. ouviu coisas desagrad veis�acerca da falecida m e de katharina, que, de facto, uma vez,�na sacristia, esvaziara uma garrafa de vinho da consagra o na��companhia de um sacrist o, que foi despedido entretanto. ouviu�coisas desagrad veis acerca do irm o de katharina, que devia� �ter sido uma verdadeira peste, mas, quanto ao alegadocomunismo do pai de katharina, a nica coisa que parecia�justific #lo era um desabafo que tivera um dia, numa das sete�tabernas da aldeia, para scheumel, um agricultor a quem teriadito o seguinte:

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"o socialismo n o deve ser das piores coisas." foi tudo o que�conseguiu obter. o nico resultado das indaga es de blorna� ��foi ser ele pr prio, se n o insultado, pelo menos descrito� �como comunista, designadamente (coisa que bastante o magoou)por uma senhora que lhe fora at ent o bastante til e at lhe� � � �demonstrara uma certa simpatia: a professora reformada elmazubringer, que, quando ele se despediu, lhe sorriuironicamente e at lhe piscou o olho dizendo:� # porque que n o admite que tamb m um deles, e sobretudo� � � �a sua mulher?

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infelizmente n o se pode ignorar aqui um ou dois actos de�viol ncia que ocorreram enquanto blorna se preparava para o�julgamento de katharina. o seu maior erro foi aceder ao pedidode katharina para tomar conta tamb m da defesa de g tten, e em� �insistir repetidamente em obter permiss o para que os dois se�visitassem um ao outro, sob a alega o de que eram noivos.��sustentava ele que o noivado ocorrera precisamente naqueleser o de 20 de fevereiro e na noite seguinte. etc., etc. n o � � �dif cil imaginar o g nero de coisas que o zeitung escreveu� �sobre ele, sobre g tten, sobre katharina e sobre frau blorna.�n o tencionamos mencionar ou citar nada disso aqui. certas�infrac es ou desvios de n vel n o devem ser empreendidos a�� � �

n o ser que necess rios, o que n o o caso aqui, porque nesta� � � �altura o leitor j deve saber o que esperar do zeitung.�espalhou#se o boato de que blorna se queria divorciar, boatoque n o tinha nada, mas absolutamente nada, de verdadeiro, mas�que, no entanto, semeou entre o casal uma certa desconfian a.�afirmava#se que eles tinham dificuldades financeiras, o queera mau, porque era verdade. o facto que blorna tinha�realmente ido um pouco longe demais ao assumir uma esp cie de�cust dia relativamente ao apartamento de katharina, que era�agora imposs vel de vender ou alugar, porque era considerado�tinto de sangue. de qualquer modo, desceu de valor e blornacontinuo a pagar amortiza es, juros, etc., sem qualquer� ��redu o. at j havia sinais de que a haftex estava a�� � �considerar a hip tese de propor contra katharina uma ac o por� ��perdas e danos relativamente ao seu complexo habitacionalresid ncias elegantes da beira#rio,�

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alegando que katharina afectara o valor comercial e social docomplexo. estamos a ver: aborrecimentos e mais aborrecimentos. a firma de arquitectura onde trabalhava frau blorna recorreua tribunal para tentar obter permiss o para a despedir sob a�alega o de quebra de contrato por ter posto katharina ao��corrente da subestrutura do complexo, mas o pedido foi negadona primeira inst ncia. no entanto, nunca se pode ter a certeza�de como que a segunda e a terceira inst ncias ir o decidir.� � �ainda mais uma coisa: os blorna j se desfizeram do seu�segundo carro e recentemente o zeitung publicou uma fotografiado espada bastante elegante dos blorna com a legenda: "quandoser que o advogado vermelho ter de mudar para o carro do� �homem comum?"

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evidentemente que a associa o de blorna L stra foi�� � �afectada, se n o mesmo dissolvida. os nicos assuntos agora� �ainda em discuss o s o liquida es,. no entanto, ainda h� � �� �pouco blorna recebeu um telefonema de str ubleder, que lhe�disse sucintamente: # n o vamos deixar#vos morrer fome.� � e blorna ficou surpreendido por str ubleder dizer "vos", e�n o "te".� claro que ele continua a trabalhar para a l stra e para a�haftex, mas j n o ao n vel internacional e t o#pouco ao n vel� � � � �nacional, mas apenas esporadicamente e ao n vel regional, na�maior parte das vezes local, o que significa que ele tem de sehaver com pequenos infractores e queixosos que reclamam porqueas paredes n o foram revestidas de m rmore, conforme o� �combinado, mas apenas com placas de ard sia, ou tipos que, ao�rasparem com uma faca a pintura das portas da casa de banho,verificam que, em vez das tr s camadas de tinta de esmalte que�lhes prometeram, s foram aplicadas duas camadas, como lhes � �

confirmado por peritos que contratam para o efeito, torneiras,que pingam ou condutas de lixo defeituosas que servem depretexto para os clientes se recusarem a pagar as quantiasacordadas # s o os casos que agora lhe entregam, quando�antigamente ele andava, se n o constantemente, pelo menos com�bastante frequ ncia, entre buenos aires e pers polis, para� �colaborar na elabora o de grandes projectos.��

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no servi o militar chamam a isto despromo o, processo� ��habitualmente associado a um certo grau de humilha o.��resultado: n o s o ainda lceras, mas o est mago de blorna j� � � � �come a a dar sinal.� pior ainda foi ele ter empreendido investiga es pr prias em�� �kohlforstenheim para descobrir pelo chefe da pol cia local se�a chave estava na parte de dentro ou de fora da porta naaltura da pris o de g tten, ou se tinham encontrado sinais de� �g tten ter for ado a entrada na casa. para qu preocupar#se� � �com isso, agora que as investiga es estavam encerradas?��coisas destas # preciso diz #lo # n o curam lceras de� � � �est mago e, embora o chefe da pol cia hermanns tenha sido� �muito simp tico com ele e n o o tenha acusado de comunista,� �insistiu vivamente com ele para n o se intrometer. h uma� �coisa que consola blorna: a mulher tem sido muito gentil comele e, se certo que mant m uma l ngua acerada, n o a usa� � � �contra ele, mas contra outros, embora n o contra toda a gente.�at agora o nico obst culo ao seu plano de vender a vivenda e� � �resgatar o apartamento de katharina e mudar para l o� �tamanho do apartamento, que demasiado pequeno, porque blorna�pretende desfazer#se do escrit rio da cidade e tratar dos�assuntos pendentes em casa. blorna, que era conhecido como umbon#vivant de esp rito liberal, um colega popular e jovial que�dava festas animadas, come a a revelar tend ncias asc ticas e� � �a tornar#se negligente com a sua apar ncia, a que ele sempre�deu t o grande import ncia, e, como n o se trata apenas de um� � �capricho e ele est realmente a negligenci #la, afirmam at� � �muitos colegas que ele desleixa a higiene b sica e come a a� �cheirar mal. consequentemente, h pouca raz o para esperar que� �o aguarde uma nova carreira, porque a verdade # nada, masabsolutamente nada, deve ser aqui omitido que o seu odor�corporal j n o o que era: o de um homem que toma logo o seu� � �duche pela manh e usa abundantemente sabonete, desodorizante�e gua de toilette. em resumo: est a sofrer uma consider vel� � �transforma o. os amigos # ainda tem alguns, entre os quais��hach, com quem tem contactos profissionais nos casos dekatharina blum e ludwig g tten # est o seriamente preocupados,� �especialmente desde que as suas agress es # designadamente�contra o zeitung, que de vez em quando ainda se lhe refere #j n o explodem, mas s o nitidamente engolidas. a preocupa o� � � ��dos amigos vai ao ponto de terem pedido a trude blorna quecontrole discretamente se blorna n o est a adquirir armas� �

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ou a preparar explosivos, porque o falecido t tges, tem um�sucessor que, sob o nome de eginhard templer, leva a efeitouma esp cie de continua o de t tges: esse tal templer� �� �conseguiu fotografar blorna a entrar numa casa de penhores,depois, fotografando#o atrav s da montra, conseguiu fornecer�aos leitores do zeitung uma imagem de blorna a negociar com oprestamista: em discuss o o valor de penhor de um anel que o�prestamista examinava com uma lupa. legenda da fotografia: asfontes vermelhas ter o realmente secado, ou estar algu m a� � �simular dificuldades financeiras?

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a principal preocupa o de blorna persuadir katharina a�� �declarar no julgamento que s no domingo de manh tomou a� �decis o de se vingar de t tges e que a sua inten o n o era de� � �� �maneira nenhuma mat #lo, mas apenas assust #lo. na verdade,� �quando, no s bado, prop s a entrevista a t tges era sua� � �inten o dizer#lhe o que pensava dele e fazer#lhe ver o que��fizera da vida dela e da da m e, mas l matar n o fora� � �prop sito que ela concebesse, nem sequer no domingo depois da�leitura do zeitung de domingo. ele considera imperativoarredar a ideia de que katharina pudesse ter andado v rios�dias a planear o assassinato para depois agir de acordo com oplano. embora ela afirme que logo depois da leitura doprimeiro artigo, na quarta#feira, lhe tivessem ocorridopensamentos homicidas, blorna tentou fazer#lhe compreender quea muita gente, incluindo ele pr prio, ocorrem muitas vezes�ideias homicidas, mas que necess rio distinguir entre� �pensamentos homicidas e um plano homicida. uma outra coisa que inquieta blorna o facto de katharina�continuar a n o evidenciar qualquer sinal de arrependimento, o�que significa que ela tamb m n o ser capaz de mostrar� � �arrependimento perante o tribunal. n o est de modo algum� �deprimida, mas at de certo modo feliz por estar a viver nas�mesmas condi es que o querido ludwig,. tida na conta de uma�� �detida modelar, trabalha na cozinha, mas, se o come o do�julgamento continuar a ser adiado, deve ser transferida para oeconomato, onde, segundo consta, n o aguardada com grande� �entusiasmo: que as pessoas # tanto do lado da administra o� ��como dos detidos # receiam a reputa o de integridade��

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que a precede, e a perspectiva de katharina passar todo otempo da senten a # admite#se que venha a ser pedida uma pena�de quinze anos e que ela apanhe sete ou oito # a trabalhar noeconomato causa o p nico em todas as pris es. repare#se que� �integridade combinada com intelig ncia organizada n o coisa� � �desejada em parte nenhuma, nem sequer nas pris es e nem�t o#pouco pela administra o.� ��

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tal como hach informou blorna, a acusa o de homic dio�� �deduzida contra g tten n o deve vingar e dever , portanto, ser� � �retirada. dado como provado ele ter desertado do ex rcito e� �ter afectado esta sagrada institui o tanto material como��moralmente. o seu crime n o foi assalto a banco, mas o roubo�de todo o dinheiro de um cofre que continha o soldo de doisregimentos, al m de importantes reservas em dinheiro, para�al m disto, acusado de falsifica o de contas e roubo de uma� � ��arma. enfim, tamb m se conta com uma senten a de oito a dez� �anos para ele. quer dizer que, quando for libertado, ter 34�anos e katharina ter 35 e ela faz realmente planos de futuro:�calcula que, quando for libertada, o seu capital ter�aumentado consideravelmente com os juros, e nessa alturaabrir em qualquer lado, aqui n o, evidentemente, um� �restaurante com refei es para levar para casa. a autoriza o�� ��para ser agora considerada como noiva de g tten, vai ser�considerada pelo supremo, e n o apenas por uma inst ncia� �superior. j foram entregues os requerimentos, que seguem�agora os seus tr mites atrav s das v rias inst ncias. diga#se� � � �de passagem que os contactos telef nicos feitos por g tten, a� �partir da vivenda de str ubleder, foram para membros das�for as armadas ou para as respectivas mulheres, incluindo�oficiais e mulheres de oficiais. prev #se um esc ndalo de� �propor es m dias.�� �

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enquanto katharina, apenas restringida na sua liberdade,encara o futuro quase sem apreens es, else woltersheim est a� �caminho de uma crescente amargura. incomodou#a muito quetivessem difamado a m e e o falecido pai, que considerado� �uma v tima do estalinismo.�

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distinguem#se em else woltersheim ind cios de acentuadas�tend ncias anti#sociais que nem mesmo konrad beiters consegue�atenuar. como else se tem vindo a especializar cada vez maisem banquetes frios, nomeadamente na respectiva organiza o,��fornecimento e supervis o, a sua agressividade dirige#se cada�vez mais contra os convidados, sejam eles jornalistasnacionais ou estrangeiros, industriais, funcion rios�sindicais, banqueiros ou funcion rios superiores. por vezes,,�disse ela a blorna recentemente, "tenho de me conter para n o�atirar com uma ta a de salada de batata para cima da casaca de�um imbecil qualquer ou com uma travessa de salm o fumado para�o decote de uma dessas lambisg ias, para, ao menos uma vez na�

vida, os ver estremecer. veja o quadro do outro lado, do nossolado: ali est o eles de bocas abertas # ou dever amos antes� �dizer fauces? #, ou a correr para as sandu ches de caviar! e�h tipos destes, que eu sei serem milion rios ou mulheres de� �milion rios, que enchem os bolsos com cigarros, f sforos e� �petit fours. s falta trazerem recipientes de pl stico para� �levarem o caf . e tudo isso, tudo, pago, de um modo ou de�outro, com os nossos impostos. h fulanos que n o tomam o� �pequeno#almo o ou o almo o para se atirarem que nem abutres� �sobre o banquete # sem ofensa para os abutres."

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at agora s temos conhecimento de um acto de viol ncia� � �evidente, que, infelizmente, despertou consider vel aten o do� ��p blico. por ocasi o da abertura de uma exposi o do pintor� � ��frederick la boche, de quem blorna tido como mecenas, blorna�e str ubleder encontraram#se pela primeira vez pessoalmente�depois dos acontecimentos. str ubleder aproximou#se de blorna�com um ar radioso, mas este n o lhe estendeu a m o.� �str ubleder, por m, conseguiu agarrar na m o de blorna, ao� � �mesmo tempo que lhe dizia a meia voz: "pelo amor de deus, n o�tomes as coisas t o a peito. n s n o tencionamos lan ar#vos s� � � � �feras. s tu quem infelizmente o est a fazer."� � agora, infelizmente, se quisermos ser honestos, temos dereconhecer que foi blorna quem neste momento deu um murro noqueixo de str ubleder. diga#se rapidamente, para que o�incidente tamb m seja rapidamente esquecido: correu sangue do�nariz de str ubleder, a umas quatro a sete gotas,� �

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segundo estimativas particulares, mas houve uma coisa pior:str ubleder recuou, mas disse: "perdoo#te, perdoo#te tudo em�virtude do teu estado emocional." e foi esta observa o que��pareceu levar blorna ao rubro. aconteceu ent o algo que as�testemunhas descreveram como uma briga,. e, como sempre quepessoas como blorna e str ubleder se mostram em p blico, n o� � �podia deixar de estar perto um fot grafo do zeitung, um tal�kottensehl, sucessor do falecido sch nner. ora n o podemos� �levar a mal que o zeitung # agora, que j conhecemos a sua�natureza # tivesse publicado a fotografia desta briga com aseguinte legenda: "pol tico conservador agredido por advogado�esquerdista." s na manh seguinte, evidentemente.� � durante a exposi o deu#se ainda um encontro entre maud��str ubleder e trude blorna. maud str ubleder disse a trude� �blorna: "dou#te os meus sentimentos, minha querida trude." aoque trude b. replicou: "podes meter esses teus sentimentos nofrigor fico, que onde guardas todos os outros." maud ent o� � �ofereceu#lhe perd o, indulg ncia, compaix o, at mesmo quase� � � �amor, com estas palavras: "nada, absolutamente nada, nem mesmoas tuas observa es destrutivas, pode fazer diminuir a minha��pena." a isto trude b. respondeu com palavras que n o podem�

ser aqui reproduzidas sen o de forma indirecta. de senhora n o� �eram as palavras com que trude b. insinuou as in meras�tentativas de abordagem feitas por str ubleder. entre outras�coisas, e isto com quebra do sigilo profissional a que amulher de um advogado tamb m est obrigada, aludiu hist ria� � � �do anel, s cartas e chave que o teu conquistador, sempre� �repelido, deixou numa cexta casa,. aqui, as duas damas embriga foram separadas por frederick la boche, que, com grandepresen a de esp rito, tinha secado o sangue de str ubleder com� � �um peda o de mata#borr o, obtendo aquilo a que chamou "one� �minute piece of art(1)", a que deu o t tulo de fim de uma�longa amizade. assinou e ofereceu, n o a str ubleder, mas a� �blorna, dizendo: "aqui tens uma coisa que poder s negociar�para dar um jeito s tuas finan as." deste facto, bem como das� �ac es de viol ncia anteriormente descritas, se pode deduzir�� �que a arte ainda tem uma fun o social.��

*1. em ingl s no original. (n. da t.)�

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claro que extremamente lament vel que agora, que nos� �estamos a aproximar do fim, haja t o pouca harmonia a relatar�no presente e t o pouca esperan a de que venha a haver mais no� �futuro. o resultado n o foi integra o, mas confronta o.� �� ��claro que h uma pergunta que se pode p r: "porqu ,� � �realmente?" temos uma mulher jovem, bem disposta, que vaiquase alegremente para uma festa inocente, e quatro dias maistarde ela torna#se # como isto meramente um relato, e n o um� �julgamento, confinar#nos#emos aos factos assassina, e isto, seexaminarmos os factos com aten o, por for a de not cias de�� � �jornais. vemos surgirem disputas e tens es e, por fim, brigas�entre dois homens que foram amigos durante muito tempo.observa es aceradas da parte das respectivas mulheres.��compaix o rejeitada, amor, sim, amor rejeitado. uma evolu o� ��muito desagrad vel. um homem alegre, de esp rito aberto, que� �ama a vida, as viagens, o luxo, torna#se t o negligente com a�sua pessoa que chega a cheirar mal. parece que at cheiraria�mal da boca. p e a casa venda, vai loja de penhores. a� � �mulher anda procura de outro emprego, porque tem a certeza�de que vai perder na 2 inst ncia. est at disposta, esta� � � �mulher talentosa, a trabalhar como pouco mais do que caixeira,com o t tulo de consultora de decora o interior, numa grande� ��firma de m veis, mas aqui dizem#lhe que os c rculos em que� �costumamos negociar, minha senhora, s o aqueles onde arranjou�inimizades,. em resumo: as coisas apresentam#se de mau cariz.o doutor hach j disse confidencialmente a amigos uma coisa�que ainda n o teve coragem de dizer a blorna: que blorna�poder ser recusado como defensor em virtude do seu not rio� �envolvimento. que acontecer ? como que as coisas ir o� � �acabar? que vai ser de blorna quando j n o puder visitar� �katharina e # agora tem de se dizer! # j n o puder� �

agarrar#lhe nas m ozinhas? fora de d vida: ele ama#a, mas� � �ela n o o ama e ele n o tem a menor esperan a, porque tudo,� � �tudo pertence ao seu querido ludwig. e preciso acrescentar�que aquilo de agarrar nas m ozinhas, uma ac o puramente� � ��unilateral, que n o passa do seguinte: quando katharina lhe�entrega documentos, ou notas, ou pap is, ele deixa sobre as�m os dela as suas durante mais tempo do que o habitual, a uns� �tr s, quatro, quando muito, cinco d cimos de segundo.� �maldi o! como que poderemos ter aqui harmonia quando nem�� �mesmo a sua forte inclina o por katharina o leva # digamo#lo��sem rodeios! # a lavar#se mais frequentemente?

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nem sequer o consola o facto de ele, ele apenas, terconseguido descobrir a proveni ncia da arma, coisa que nem�beizmenne, nem moeding, nem os ajudantes conseguiram! talvezdescobrir seja uma palavra forte demais. foi uma confiss o�espont nea de konrad beiters, que, nesta circunst ncia,� �confessou ser um ex#nazi, facto que expli ca por que motivoat agora lhe foi dada t o pouca aten o. verdade, ele foi� � �� �dirigente pol tico no kuir e na altura p de interceder pela� �m e de frau woltersheim e a pistola era, pois, uma velha�pistola de servi o que ele tinha escondido, mas que,�estupidamente, mostrara casualmente a katharina e frauwoltersheim. uma vez os tr s at tinham feito tiro na� �floresta. katharina mostrara ser uma boa atiradora edissera#lhe que, quando era rapariga, trabalhara no clube detiro, onde algumas vezes fora autorizada a atirar. bom, nos bado noite katharina pedira#lhe a chave da casa dele com o� �fundamento de que, ele devia compreender, lhe apetecia estarsozinha, a sua pr pria casa estava morta, morta para ela... no�entanto, ela passara a noite de s bado em casa de frau�woltersheim. s no domingo, ap s o pequeno#almo o e depois de� � �ter lido o zeitung de domingo e de ter estado no tal caf dos�jornalistas vestida de bedu na, que ela devia ter ido buscar� �a pistola.

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finalmente, temos qualquer coisa de semialegre a relatar:katharina contou toda a hist ria a blorna, tamb m lhe contou� �como que passou as seis ou sete horas que mediaram entre o�assass nio e a ida a casa de moeding. estamos na posi o feliz� ��de poder fazer um relato textual: katharina escreveu tudo eautorizou blorna a usar o relato no julgamento: "a nica raz o por que fui ao caf dos jornalistas foi para� � �o ver. queria saber que esp cie de homem que ele aparentava� �ser, como eram os seus movimentos, como que falava, bebia,�dan ava, o homem que destruiu a minha vida. sim, primeiro fui�ao apartamento de konrad buscar a pistola e eu pr pria a�carreguei. foi ele, konrad, quem me explicou como que se�carregava a pistola na altura em que fizemos tiro ao alvo na

floresta.

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esperei hora e meia a duas horas no caf , mas ele n o� �apareceu. tinha resolvido que, se ele me fosse muitodesagrad vel, n o iria entrevista, e realmente, se o tivesse� � �visto antes, n o teria ido. mas ele n o apareceu no� �restaurante. para evitar que me assediassem, pedi ao dono docaf , que se chama peter kraffluhn e que eu conhe o dos� �trabalhos extra que fa o e em que ele s vezes tamb m trabalha� � �como chefe dos criados, que me deixasse dar#lhe uma ajuda aobalc o. peter sabia evidentemente o que o zeitung andava a�publicar a meu respeito e prometeu fazer#me sinal quando ot tges aparecesse. como era carnaval, n o me importei de� �aceitar alguns convites para dan ar, mas, como o tempo�come asse a passar sem o t tges aparecer, pus#me nervosa,� �porque n o queria encontrar#me com ele sem estar preparada.�bom, por volta do meio#dia fui para casa e senti#mehorrivelmente no apartamento todo sujo e desarrumado. s tive�de esperar alguns minutos at a campainha tocar, o tempo de�puxar a seguran a da pistola e de a esconder na malinha ao�alcance da m o. e ent o tocaram campainha, e ali estava ele� � �diante da porta quando eu a abri. julgava que ele tinha tocadol em baixo e que ainda ia demorar alguns minutos, mas n o,� �ali estava j ele, diante de mim. assustei#me. bom, vi logo o�malandro que ele era, um verdadeiro malandro. e, ainda porcima, bem#parecido. aquilo a que as pessoas chamam geralmentebem#parecido. bem, conhecem as fotografias. ele disse: ent o,�"blumzinha, que que vamos fazer agora os dois?" sem�responder uma palavra, recuei para a sala de estar e eleseguiu#me, dizendo: "porque que est s a olhar para mim t o� � �aterrada, blumzinha? que tal irmos arrulhar um bocadinho?"bom, neste momento j eu estava a agarrar na mala de m o e,� �quando ele foi para me puxar o vestido, pensei: se arrulhar�que queres..., e puxei a pistola e disparei. duas, tr s,�quatro vezes. j n o me lembro bem. no relat rio da pol cia� � � �pode ver quantas vezes exactamente que foram. mas n o� �imagine que foi a primeira vez que um homem me quis despir.quando uma pessoa trabalha em casas estranhas desde os 14anos, e at mesmo j antes, uma coisa a que est habituada.� � � �mas aquele tipo e depois ainda mais aquele arrulhar... pensei:"agora que vai haver arrulho."�

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claro que ele n o estava a contar com isto e ainda olhou�para mim durante meio segundo, como acontece no cinema quandoum tipo apanha um tiro vindo n o sabe de onde. depois caiu�sobre si e penso que estava morto. atirei a pistola para o p�dele, desci no elevador e corri ao restaurante. o peter ficoupasmado porque nem meia hora tinha passado. voltei para obalc o, j n o dancei e todo o tempo dizia para mim pr pria:� � � �n o pode ser verdade., mas sabia que era verdade. o peter veio�

v rias vezes ao p de mim para me dizer: "o tipo hoje n o vem,� � �esse teu amigo n o vem." eu respondia: "assim parece." e�fazia#me indiferente. at s 4 horas fui servindo aguardentes� �e tirando cervejas, abrindo garrafas de espumante, servindorefei es. depois, sem me despedir do peter, fui at igreja�� � �mais pr xima, onde fiquei sentada uma meia hora a pensar na�minha m e, na maldita vida miser vel que ela teve, e tamb m no� � �meu pai, que estava sempre a resmungar, sempre, e a amaldi oar�igreja e estado, autoridades e funcion rios, oficiais e tudo,�mas, quando tinha de tratar com qualquer deles, rastejava,quase gania de humildade. e no meu marido, o brettloh, e nasmentiras miser veis que ele contara ao t tges, no meu irm o� � �tamb m, evidentemente, sempre, sempre atr s do meu dinheiro� �logo que eu ganhava meia d zia de marcos, que ele lograva�extorquir#me para uma loucura qualquer # roupas, motorizadas,jogo #, e tamb m, claro, no pastor que na escola se referia� �sempre a mim como "a nossa kathrinchen vermelha". eu n o sabia�o que ele queria dizer e toda a classe ria, porque eu ficavamesmo vermelha. e naturalmente tamb m no ludwig. depois sa da� �igreja e entrei no cinema mais pr ximo, para depois sair do�cinema e voltar a entrar numa igreja, porque era o nico s tio� �em que uma pessoa podia ter um pouco de sossego no domingo decarnaval. claro que tamb m pensava no assassinado que estava�em minha casa. sem remorso, sem pena. ele queria arrulhar e eutinha#lhe feito a vontade. e, de repente, ocorreu#me que eraele o fulano que me telefonava de noite e que tinha tamb m�massacrado a pobre da else. pensei: " a voz dele, sim." e desejei t #lo deixado falar� �mais um pouco, para ter a certeza, mas de que que isso me�teria servido?

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de repente apeteceu#me um caf forte e fui ao caf� �beckering, n o sala, mas cozinha, porque conhe o a kathe� � � �beckering, mulher do dono, da escola de economia dom stica. a�kathe foi muito simp tica comigo, embora tivesse bastante que�fazer. deu#me uma ch vena do seu pr prio caf , que ela faz� � �como a av fazia, deitando a gua a ferver por cima do caf� � �mo do. mas depois come ou a falar daquela porcaria do zeitung,� �com gentileza, certo, mas de modo que me deu ideia de que�acreditava pelo menos parcialmente na hist ria. e como que� �as pessoas haviam de saber que tudo mentira? tentei�explicar#lhe, mas ela n o entendeu. piscou#me o olho e disse:�"amas ent o o rapaz?" e eu disse que sim. depois agradeci#lhe�o caf , chamei um t xi e fui a casa do moeding, o agente que� �foi t o simp tico para mim.� �

nota biobibliogr Fica�

heinrich b lL nasceu em col nia em 1917. tolerante e� �democrata, conseguiu livrar#se do uniforme da juventudehitleriana, mas n o de ir guerra e defender o autoritarismo� �racista nazi (1938#1945). intelectual comprometido com a

esquerda, foi a consci ncia social de uma alemanha que amava,�mas cuja hipocrisia se julgava no dever de denunciar.testemunho cr tico de uma poca em que das mis rias da derrota� � �e do p s#guerra se passou prosperidade do milagre econ mico,� � �quando foi anunciado o rearmamento op s#se ao militarismo e�apoiou as causas a favor dos direitos humanos. com a sua vastaobra liter ria # relatos, romances, ensaios, colabora es� ��dispersas em jornais, pe as de teatro e radiof nicas # obteve� �numerosos pr mios e inclusivamente o t tulo de filho� �predilecto da sua cidade natal, facto que gerou algumapol mica. em 1972 foi galardoado com o pr mio nobel da� �literatura. o cen rio dos seus primeiros livros foi a guerra e o�p s#guerra, com o nazismo como fundo: der zug war p nktlzch� �(1947), wanderer kommst du nach spa (1950), wo warst du, adam?(1951), und sgate kein einziges wort (e n o disse nem mais uma�palavra, 1953), haus ohne h ter (casa indefesa, 1954),�unberechenbare g ste (os h spedes inesperados, 1956).� � depois, denuncia os v cios sociais do seu tempo: so war�abend und morgen (1955), billiard um halb zehn (bilhar s nove�e meia, 1959), ende eine dienstfaht (1966), gruppenbild mitdame (retrato de grupo com senhora, 1971), die verlorene ehreder katharina blum (a honra perdida de katharina blum, 1974),was soll aus dem jungen bloss werden? oder irgende was mitb chern (o que vai ser do rapaz?: ou qualquer coisa com�livros, 1981), die verzvundlung (1983), frauen vorflusslanschaft (romance p stumo,1985).� heinrich b ll morreu em bornheim#merten em 1985. �

data da digitaliza o��

amadora setembro de 2000