7º vivas palavras - 2011 · eu ainda estava espiando. naquele momento, ouvi uma sirene estranha e...

14
VII Vivas Palavras 2011

Upload: others

Post on 23-Mar-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: 7º Vivas Palavras - 2011 · eu ainda estava espiando. Naquele momento, ouvi uma sirene estranha e quando olhei para trás vi um carro de polícia vindo. Ah! Agora eu lembro que vi

VII Vivas Palavras

2011

Page 2: 7º Vivas Palavras - 2011 · eu ainda estava espiando. Naquele momento, ouvi uma sirene estranha e quando olhei para trás vi um carro de polícia vindo. Ah! Agora eu lembro que vi

Não. Não adianta mais

correr. Eu sei que as moléculas do meucorpo não irão se estabilizar mais. Culpoaquele senhor Hawking que despertou aminha curiosidade sobre o tempo. (...)

Um raio caiu bem em cima domeu experimento. Eu estava certa queaquele era o momento da minha morte,só que o raio atingiu o ventilador, quecomeçou a girar com uma velocidadeextrema e quando percebi estava emoutra era.

Não acreditava nos meusolhos. Eu havia chegado ao ano 3000.Carros flutuantes, robôs coletando lixo,hologramas por toda parte. (...) Vupt! Jánão estava no mesmo tempo.

Não entendi o que tinhaacabado de acontecer, só sei que (...)estavam correndo na minha direçãocom tochas, gritando que eu era umabruxa. Corri até não aguentar mais.Desisti, tinha certeza que seria apanhadaquando... Vupt!

(...) Não aguentava mais viajarno tempo, mas algo aconteceu cm asmoléculas do meu corpo e seriaimpossível voltar. (...)

Não. Não adianta mais correr.Eu sei que as moléculas do meu corponão irão. Vupt! Ouvi a voz da minhamãe, a ambulância, os médicos.

Page 3: 7º Vivas Palavras - 2011 · eu ainda estava espiando. Naquele momento, ouvi uma sirene estranha e quando olhei para trás vi um carro de polícia vindo. Ah! Agora eu lembro que vi

Entrei na nave, apertei uns

botões e, voilà, estava em Gizé. 3000a.C. Era tudo meio vazio. Deserto. Faziamuito calor e sol. A areia estava quente,mas por sorte meus tênis Nikeprotegiam meus pés. (...)

Um homem estava berrando eapontando em minha direção. Instantesdepois, ele e mais dezenas de homensestavam me perseguindo, gritando.Desesperado, corri para a máquina dotempo. Mas aqueles eram homensacostumados ao trabalho físico ecorriam muito rápido. Quanto mais eucorria, mais perto chegavam. (...) Estavaquase na nave quando, de repente,tropecei e perdi um tênis. Não davatempo de recuperá-lo.

Tive que correr descalço até amáquina do tempo e ligá-la imediata-mente. Naquele momento, só sentiaalívio por ter sobrevivido.

Mas cheguei a um 2011diferente. A primeira diferença quenotei foi na minha casa, onde anteshavia um retrato de Jesus Cristo haviaum homem parecido comigo, vestindoas minhas roupas. Fui à rua e percebi quemuitos carros tinham um adesivo doformato de minha nave. Via pedaços deminha viagem para todos os lados. (...)

Corri para a estante e pegueium livro sobre o Egito antigo. Na capa,estava a pirâmide de Quéops. No topodela, estava o símbolo da Nike.

Page 4: 7º Vivas Palavras - 2011 · eu ainda estava espiando. Naquele momento, ouvi uma sirene estranha e quando olhei para trás vi um carro de polícia vindo. Ah! Agora eu lembro que vi

Os cientistas haviam me

informado que eu seria mandada para oChile milhares de anos atrás. Ainda umpouco tonta, ouvi uns barulhos degalhos quebrando. (...) O povo incahabitava o Chile naquele tempo e foipor eles que fui levada como prisioneira.(...)

Todos olhavam para mim comuma expressão de medo e curiosidade.As criancinhas haviam parado de brincar.Seus rostinhos sujos olhavam para osmais velhos, em dúvida. As mulheresagachadas pararam de cozinhar paraobservar a estranha. (...)

Assim que entrei, vi umafogueira e muita fumaça. Uma voz veiode trás da fumaça e aos poucos conseguiidentificar o perfil de um homem. (...)

Comecei a ficar com sono emeus olhos lentamente se fecharam.Não sei quanto tempo fiquei dormindo.

Quando acordei, estava vestidacom um pano branco . Havia flores nomeu cabelo e muitas joias de ouro. (...)Mas infelizmente duas semanas sepassaram muito rápido e após uma festaque deram como agradecimento pelaminha visita o buraco de minhoca metrouxe de volta.

Page 5: 7º Vivas Palavras - 2011 · eu ainda estava espiando. Naquele momento, ouvi uma sirene estranha e quando olhei para trás vi um carro de polícia vindo. Ah! Agora eu lembro que vi

Participei no desenvolvi-

mento de uma nave com acelerador departículas que possibilita a viagem notempo e, infelizmente, fui um dosvoluntários. Também sou o único quesobreviveu. Erramos o cálculo: o corpohumano não aguenta a pressão devidoao movimento turbinado da nave, quesupera a velocidade da luz.

O resultado foram 17 mortes,das quais testemunhei todas. Algumasinstantâneas, outras crônicas, corroendoa saúde mental e física daquelesafetados. Agora, estou preso quase doisséculos atrás de meu tempo, sozinho einfeliz. Estou acorrentado ao passado, àespera de um milagre.

Eis o meu dilema: é arriscadodemais tentar uma segunda viagem devolta ao presente e é impossível sequertentar fazer as necessárias modificaçõessem o equipamento adequado.Portanto, fico sentado e reflito, poisestou isolado e com medo. (...)

É irônico como um homemtão futurístico e avançado estejadestinado a morrer no passado,esquecido. Vejo os meus contempo-râneos em suas vestes antiquadas efedidas, discutindo o futuro das colôniasafricanas, submersos na própria bebe-deira, e percebo como não mudamosmuito. 200 anos passaram e continu-amos os mesmos. (...)

Page 6: 7º Vivas Palavras - 2011 · eu ainda estava espiando. Naquele momento, ouvi uma sirene estranha e quando olhei para trás vi um carro de polícia vindo. Ah! Agora eu lembro que vi

(...)Fomos direto para a sala

de máquinas. Logo vi a máquina de quetantos falavam. Acompanhado de doisassistentes, entrei no cilindro metálico.Me trancaram lá dentro, sabia que nãohavia escapatória. De repente um forteflash me cegou e um estridente apitoincomodava meus ouvidos. (...)

“Funcionou!!!”, urrei. Corriem direção a uma senhora que estavasentada no ponto de ônibus. “Que anoé esse?”, perguntei.A velha arregala osolhos: “Como assim, que ano é esse? 96,ué!”. “Ah, é claro, 96.” Saí a pé mesmo,apreciando a cidade e achando graçanisso tudo. As roupas, os carros, atecnologia! Fui me distraindo com esseambiente novo, ou melhor, velho.

(...) Tinha que achar um jeitode voltar para 2011. Confie em mim,1996 é um saco. “Já sei!”, pensei, “voupegar um táxi e vou até o laboratórioconversar com o doutor Rui. (...) “Põeno GPS que deve dar uns 15 minutinhosdaqui”. O taxista me encarou nos olhos:“GPS?”. “Ah... É... Sabe... Aquele... GuiaPrático de São Paulo!”Paguei o táxi epulei fora. Estava ansioso e olhei anumeração, 431, era ali. Parecia nãoacreditar no que via. Bem na minhafrente, uma padaria!

Nada de laboratório, nada dedoutor Rui. Estou aqui até hoje,esperando o dia em que a padaria sejavendida e vire um laboratório. Alémdisso, nada posso fazer.

Page 7: 7º Vivas Palavras - 2011 · eu ainda estava espiando. Naquele momento, ouvi uma sirene estranha e quando olhei para trás vi um carro de polícia vindo. Ah! Agora eu lembro que vi

(...) Uma luz cegante e umbarulho de motor foi tudo o quepercebi quando um movimento bruscotirou a máquina do lugar. Pelo que pudelembrar do breve treinamento quetivemos, estávamos passando peloburaco de minhoca que nos levaria aoEgito durante o reinado de PtolomeuIV. (...)

De repente, tudo parou: asluzes se apagaram e a nave freoubruscamente, atirando-me contra aminúscula janela de escape. De acordocom o treinamento, aquilo não eraesperado. (...) A nave retomou o curso,tão rápido quanto parara.

(...) Assim que recuperei oequilíbrio, me perguntei se aquele seriao Egito que eu tanto aguardara. “Nãopode ser”, comentou um dos homensda equipe.

Mas não estar no lugar certoera o menor dois nossos problemas. “Amáquina quebrou. Não há conserto”,lamentou o mecânico experiente quenos acompanhava. (...)

Logo percebemos queacabamos por aterrissar na Itália, em umpequeno vilarejo a 300 quilômetros deFlorença. Não poderia ser assim tãoruim. Após o que me pareceu umasemana, conseguimos vender a máquinado tempo para um excêntrico chamadoLeonardo. Sim, aquele Leonardo. Com odinheiro da nave compramos a fazendaonde aterrissamos. Passaríamos lá oresto dos dias aguardando o resgate. (...)

Page 8: 7º Vivas Palavras - 2011 · eu ainda estava espiando. Naquele momento, ouvi uma sirene estranha e quando olhei para trás vi um carro de polícia vindo. Ah! Agora eu lembro que vi

Estação espacial 34021315 de Abril de 5.324.433.200Diário de bordo no 3

(...) Só sei que o dia é hoje e

faltam uns cinco minutos para o planetaespatifar-se de vez (...).

Acharam que ia acontecer navirada do milênio e quando essa teoriase desintegrou adiaram o término doplaneta Terra para dezembro de 2012.

(...) A ideia de tornar aautodestruição da Terra um espetáculofoi de nossos vizinhos próximos, osUranianos. (...) É claro que ninguém irámorrer com esse apocalipse, pois oplaneta Terra já está deserto há muitotempo. (...)

Nossa espécie conseguiurefúgio em Saturno, morando comnossos aliados Saturnianos nos anéis atéque um novo planeta fosse encontrado.Em 30441 acharam um bastanteparecido com a Terra, batizaram-no deNova Terra (humanos nunca forammuito criativos) e levaram todos oshumanos para lá (menos alguns, quepreferiram ficar vivendo nos anéis deSaturno). (...)

Cinco, quatro, três, dois, um...Uma luz forte me cega por algunssegundos. Ao abrir os olhos, vejo umaexplosão magnífica. Estou triste por sermeu planeta morrendo, mas feliz por tera oportunidade de ver como a minhaespécie evoluiu. (...)

Page 9: 7º Vivas Palavras - 2011 · eu ainda estava espiando. Naquele momento, ouvi uma sirene estranha e quando olhei para trás vi um carro de polícia vindo. Ah! Agora eu lembro que vi

(...) Estou no futuro! É

muito diferente do que eu haviaimaginado. Os carros se dirigemsozinhos, são de cores fortes e metálicas,há grandes, pequenos, médios, de todosos tamanhos. E o que mais meimpressiona é que existe uma lei que dizque se houver muito trânsito omotorista pode acionar o modo “voar”(que todos os carros têm).

As pessoas têm celulares comimagens 3D, muitas andam na rua deSegway, se vestem de cores mais escurase sérias. (...)

Não consegui ver muitodentro da casa, só uma mesa de vidrocom base de madeira, onde eu e minhafamília estávamos jantando.

Uns 10 minutos se passaram eeu ainda estava espiando. Naquelemomento, ouvi uma sirene estranha equando olhei para trás vi um carro depolícia vindo. Ah! Agora eu lembro quevi eu do futuro ligando para alguém; ela(eu) deve ter me visto e ficado commedo. Corri, corri, corri o mais rápidoque pude, mas me pegaram!

Me algemaram e me enfiaramdentro do maldito carro de polícia. Adelegacia era muito high-tech. Ospoliciais usavam as digitais para entrar, secomunicavam pelos relógios de pulso eos computadores eram 3D. (...)

Depois desse tremendo susto,resolvi voltar para o buraco de minhoca,para 2011 (....). Decidi que o futuro deveser uma surpresa.

Page 10: 7º Vivas Palavras - 2011 · eu ainda estava espiando. Naquele momento, ouvi uma sirene estranha e quando olhei para trás vi um carro de polícia vindo. Ah! Agora eu lembro que vi

Cadê as cores, os sons?

Minha voz ecoa, seca, cansada; não háresposta nenhuma. (...)

Onde é mesmo que eu estou?Ou melhor – quando. (...) Minha vistanão se ajusta ainda com a falta de luz, eque frio! (...)

Acabei de chegar e pretendodescobrir onde é que essa viagenzinhano tempo foi me mandar. Sob umacamada de pó, o desenho de umteclado. Bendito teclado! “Sim”, aceitarconexão. (...)

Quase cem anos de viagem notempo, e acabo presa num quartinhosem vida com o computador 0353-124,no dia do meu aniversário. (...)

Tenho dois anos de viagemantes que possa sonhar em voltar, e fuiavisada. (...) Preciso saber o que mais hálá fora. (...)

“Inglaterra 2020, enchentesafogam esperanças da população; África2021, falta de água potável ameaçaexterminar população; México 2021,guerra contra tráfico de drogas perdida,população sob regime comandado porcriminosos. Nova Zelândia 2025, doisquilômetros da costa desaparecemdevido ao degelo no pólo sul; Canadá2026, declara-se a extinção de 70% dasespécies animais e vegetais devido àmudança de clima e a ocupação humanado território”. (...) Mundo 2107, semescapatória. (...) Dois anos aqui, sendo aúnica que sabe do mundo queestragamos.

Page 11: 7º Vivas Palavras - 2011 · eu ainda estava espiando. Naquele momento, ouvi uma sirene estranha e quando olhei para trás vi um carro de polícia vindo. Ah! Agora eu lembro que vi

(...) Eu fechei meus olhos e

pulei na minha máquina do tempo.Durante a curta viagem de 10 segundoshouve muita turbulência, mas eu nãotive coragem de abrir meus olhos.Quando a turbulência parou, eu abri osolhos e estava em um lugar como eununca havia visto antes. (...)

Por dias e dias eu vaguei poresse mundo deserto sem achar nenhumapessoa. “Onde eu estava?” Esta era umadúvida inquietante que não queria calardesde que eu tinha chegado naquelelugar. Até que, como se fosse ummilagre, eu encontrei um velho jornaljogado no chão.

A data indicada no topo dojornal: 21 de outubro de 2013.

Agora eu estava sozinhonaquele mundo, desamparado, o únicoser humano naquele mundo destruído ecaótico. Porém, no horizonte eucomecei a ver um homem seaproximando cada vez mais. Meucoração começou a bater mais forte.Aquele homem tinha uma figuraconhecida. (...)

Ao aproximar-se, minha bocaficou muda. Na frente estava umhomem velho, de cabelos brancos. Eunão conseguia acreditar no que euestava vendo: aquele homem, semnenhuma dúvida, era eu...

Page 12: 7º Vivas Palavras - 2011 · eu ainda estava espiando. Naquele momento, ouvi uma sirene estranha e quando olhei para trás vi um carro de polícia vindo. Ah! Agora eu lembro que vi

O coração acelerava, as

mãos tremiam e podia sentir o suorlentamente deslizando sobre a minhacara. Nunca havia pensado que acabariadaquele jeito. A multidão lentamentecrescia e os olhares de desprezo seintensificavam. A fibra apertava,dificultando a respiração. Um homemrobusto, de meia-idade abria opergaminho e começava a ler. (...)

A esperança se esgotava e amultidão enlouquecia. À distância,podia ver uma garota. Seu rosto eramagro e pálido, e tinha uma r sinistronela. Seus olhos fixados nos meusindicavam satisfação. Somente se eupudesse alcançar meu bolso dianteiro eupoderia voltar para casa. Somente umaperto necessário para a liberdade...

(...) Eu desesperadamentetentava me livrar das cordas, minha mãoparecia cada vez mais próxima daesperança. Após grande esforço e gotasde suor, pude alcançar meu bolsotraseiro e agarrei dentro dele a chavepara a salvação. Dei um último suspiro eliguei meu celular. Imediatamente,apertei o “play” e o mais belo som vistopela humanidade havia tomado lugar.

Silêncio. Todos haviam ficadoparalisados, comovidos pela inovação.

(...) Joguei o aparelho no ar edei um tapa no meu bolso dianteiro,acionando o mecanismo que me levariade volta para casa. De volta para umfuturo alterado e desconhecido. Umpreço que eu havia de pagar pela vida.

Page 13: 7º Vivas Palavras - 2011 · eu ainda estava espiando. Naquele momento, ouvi uma sirene estranha e quando olhei para trás vi um carro de polícia vindo. Ah! Agora eu lembro que vi

(...) Sou Luís, tenho 25 anose trabalho no Hawking’s Entreprise(HE), o mais avançado laboratório deFísica do mundo; quer dizer, trabalhava.Creio que nunca voltarei a trabalhar lá,melhor dizendo, acho que nunca maisvoltarei. (...)

Caí no Japão, no ano de 2011.Foi extremamente difícil me adaptar,primeiro porque eu não falo japonês;segundo, eu sou do ano de 2121 eparece que estou vivendo na Pré-História: a água tem um gosto estranhoe custa tão pouco, eles ainda usamcelulares e dirigem carros. (...)Eu não existo legalmente, pois quandoatravessei, cheguei no outro lado semnada, nem minha roupa espacial.

Yuri (minha amiga) adoraouvir minhas histórias do futuro ,mesmo que eu ache que ela nãoacredita. Acho que nem eu acreditaria.

Tentei convencê-la de queParis Hilton será a 53ª presidente dosEstados Unidos e que a Finlândia vaivirar o país mais rico do mundo quandodescobrir petróleo, e também queportuguês virará a língua oficial domundo, mas ela só ri dos fatos. Estoutentando lembrar de um dos fatos queaconteceram no Japão. Não sei se foineste ano ou no ano que vem. Algumacoisa envolvendo Fukushima, a cidadeonde estou. (...)

Este trecho foi encontrado em uma cápsula do tempo no dia 12 de abril

de 2011, na cidade de Fukushima.

Documento de propriedade dos Estados Unidos da América

Page 14: 7º Vivas Palavras - 2011 · eu ainda estava espiando. Naquele momento, ouvi uma sirene estranha e quando olhei para trás vi um carro de polícia vindo. Ah! Agora eu lembro que vi

FIM