6ª reuniÃo ordinÁria da cnpi - funai.gov.br · rodrigues, joão xerente, josé arão guajajara,...

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ATA DA 6ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA COMISSÃO NACIONAL DE POLÍTICA INDIGENISTA Brasília, 18 e 19 de setembro de 2008.

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  • ATA DA 6 REUNIO ORDINRIA DA

    COMISSO NACIONAL DE

    POLTICA INDIGENISTA

    Braslia, 18 e 19 de setembro de 2008.

  • ATA da 6 REUNIO ORDINRIA DA COMISSO NACIONAL DE POLTICA INDIGENISTA

    Aos 18 dias do ms de setembro do ano de dois mil e oito, no Hotel Nacional, Braslia,

    Distrito Federal, realizou-se a 6 Reunio Ordinria da Comisso Nacional de Poltica Indigenista, com

    a participao dos seguintes representantes titulares e suplentes indgenas: Ak'jabor Kayap,, Anastcio

    Peralta Guarani Kaiow, Antonio Pessoa Potiguara, Braslio Pripr, Dilson Domente Ingaric, Dod

    Reginaldo Loureno Terena, lcio Severino Manchinery, Francisca Pareci, Heliton Gavio, Ivan Bribis

    Rodrigues, Joo Xerente, Jos Aro Guajajara, Jos Ciraco Sobrinho Potiguara, Kleber Luiz dos Santos,

    Lindomar Rodrigues Xoc, Loureno Borges Milhomem, Luiz Fernando Matchua Kadiwu, Luiz Titiah

    Patax H H He, Manoel Messias da Silva Xucuru, Marcos Luidson Xucuru, Sandro Emanuel dos

    Santos Tux, Sanso Ricardo Flores, Simone Vidal da Silva Karipuna; representantes de governo:

    Mrcio Augusto Freitas de Meira, Andr Arajo Ministrio do Desenvolvimento Agrrio, Carlos

    Nogueira da Costa Junior Ministrio de Minas e Energia, Celso Loureno Correa Casa Civil, Edgard

    Dias Magalhes Funasa, Gersen dos Santos Luciano Ministrio da Educao, Heloisa Solino Evelin

    GSI, Jorge Luiz Quadros Ministrio da Justia, Cel. Jos Caixeta Ribeiro GSI, Kleber Gesteira Matos

    SG/PR, Lylia da Silva Guedes Galetti Ministrio do Meio Ambiente, Luana Lazzeri Arantes

    Ministrio do Desenvolvimento Social e do Combate Fome, Cel. Marinho Pereira Rezende Filho

    Ministrio da Defesa, Olga Cristina Novion Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto,

    Quenes Gonzaga SG/PR, Teresinha Maglia Ministrio da Justia, Wanderley Guenka Funasa;

    representantes da sociedade civil: Gilberto Azanha CTI, Ricardo Verdum Inesc, Saulo Ferreira

    Feitosa CIMI; convidados permanentes: Deborah Duprat 6 Cmara do Ministrio Pblico Federal,

    Alda Freire de Carvalho Advocacia Geral da Unio.

    A ata da 6 Reunio Ordinria da Comisso Nacional de Poltica Indigenista, realizada

    nos dias 18 e 19 de junho de 2008, consiste na transcrio, na ntegra, das falas dos membros titulares e

    suplentes da CNPI, e demais participantes desta reunio, conforme a seguir:

  • Ministrio da Justia Comisso Nacional de Poltica Indigenista

    6 Reunio Ordinria Braslia, Distrito Federal, 18 e 19 de setembro de 2008

    Dia 18 de setembro de 2008 Manh

    Mrcio Augusto Freitas de Meira Presidente da CNPI: Bom dia. Eu queria agradecer aqui a presena do Professor Nado, Chefe de Gabinete do Ministrio da Justia. A apresentao do Professor Nado o primeiro ponto da nossa pauta aqui. Normalmente, ns comeamos o nosso trabalho com a aprovao da ata da reunio passada e, em seguida, entramos na nossa pauta normal. Mas, eu queria sugerir plenria que, hoje, ns comessemos com a apresentao do Professor Nado sobre o Pronasci porque ele tem que pegar um avio e s dispe de 45 minutos para fazer aqui essa apresentao. Ento, eu queria sugerir plenria que a gente entrasse na apresentao e, em seguida a essa discusso sobre o Pronasci, retomaramos a nossa pauta, com a aprovao da reunio passada etc. Ou seja, faramos uma inverso de pauta, diante da necessidade de o Professor Nado sair.

    Eu queria s deixar um esclarecimento. Essa uma pauta que ns j tnhamos agendado, pelo menos, h umas duas ou trs reunies da CNPI e que foi sendo adiada. Finalmente, hoje, vamos ter essa discusso aqui. Qual a idia do Pronasci? O Programa Nacional de Segurana Pblica com Cidadania um programa coordenado pelo Ministrio da Justia e, dentro do Ministrio da Justia, o coordenador o Professor Nado. A idia que o Professor Nado apresente para ns o que o programa para que a Bancada Indgena, principalmente, e posteriormente a Comisso, com base na apresentao dele, possam trazer propostas para que o Pronasci possa incorporar tambm a questo indgena, dentro do seu programa. Na verdade, eu estou esclarecendo isso porque o Professor Nado no vai trazer nenhuma proposta especfica para a questo indgena, embora, estejamos todos abertos para, justamente, a partir do programa, receber a contribuio da CNPI. Eu s queria dar esse esclarecimento inicial e consultar se estamos de acordo com relao a esse encaminhamento, por conta do tempo. No estou vendo nenhuma manifestao contrria, ento, gostaria de passar a palavra ao Professor Nado para ele poder fazer a apresentao do Pronasci.

    Professor Nado Coordenador do Pronasci no Ministrio da Justia: Obrigado, Presidente Mrcio. Obrigado, Comisso Nacional de Poltica Indigenista por nos receberem neste momento. Eu estou acompanhado do Coordenador de Relaes Institucionais do Pronasci, Professor Celso Paz. Igualmente nos acompanha o Edson, que responde pelo Sistema de Monitoramento e Avaliao do Pronasci SIMAP, construdo e elaborado pela Fundao Getlio Vargas.

    Integrantes da CNPI,

    O Programa Nacional de Segurana Pblica com Cidadania Pronasci ser apresentado em trs etapas. Por qu? Primeiro, ns temos uma breve apresentao conceitual. Nessa apresentao conceitual teremos a possibilidade do entendimento do que pretendemos, de fato, com o Pronasci. Uma segunda etapa o estado da arte, como o Ministro Tarso Genro gosta de dizer, ou seja, em que nvel se encontra o Pronasci na sua execuo, efetivamente. E um terceiro momento uma brevssima

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    animao, quando ns buscamos informar, esteticamente, o que ser o Pronasci quando se tornar realidade no cotidiano das reas indicadas.

    Ento, vamos imediatamente apresentao. O primeiro ponto central a compreenso do que se tem referido como mudana de paradigma na rea da segurana pblica, a partir do segundo mandato do Presidente Lula. O que verdadeiramente pretendemos? Quando iniciamos o debate sobre o Pronasci, no seu processo de formulao, l em maro e abril de 2007, ns costumvamos escutar que segurana pblica deveria ser tratada rigorosamente, numa viso mais conservadora e mais tradicional da represso. Inclusive, ns escutamos as corporaes e ouvimos dizer que preciso mais armamento, mais viaturas, mais coletes, mais munio; preciso ter armas do mesmo nvel das armas que, invariavelmente, hoje os traficantes possuem; ou seja, preciso reprimir com mais qualidade.

    Essa viso mais conservadora vem sendo debatida por intelectuais, estudiosos, acadmicos, que tm dito o contrrio. Eles tm dito o seguinte: no se resolve a insegurana, a violncia e a criminalidade, s com represso. preciso, na verdade, termos concretamente mais sade, mais educao, mais emprego, melhores condies de vida, mais aes sociais capazes de reduzir a criminalidade.

    O que o Pronasci faz? No faz uma opo entre a primeira viso, mais conservadora, e a segunda viso, mais progressista. O Pronasci coloca um e no lugar do ou e busca aliar aes sociais, mobilizadas em nome da segurana. Ento, busca integrar e aliar a necessria preveno para evitarmos o avano do crime e da violncia com uma necessria tambm represso. Afinal, prerrogativa do Estado o uso da fora, quando se fizer necessrio. Ento, o Pronasci integra aes sociais e aes de segurana, fazendo com que tenhamos objetivos muito claros:

    1. A valorizao dos profissionais de segurana pblica.

    No possvel mudar esse paradigma sem que os policiais estejam mudando tambm, se capacitando, se qualificando, portanto, tendo uma nova viso.

    2. A ressocializao das pessoas com penas restritivas de liberdade.

    Os senhores sabem que, hoje no Brasil, a populao carcerria alcana 450.000. Dessa populao carcerria, aproximadamente 75% a 76% so jovens entre 18 e 24 anos. E desses 76%, por sua vez, h uma reincidncia que bate quase na casa de 80%. Ou seja, esses jovens, que so a imensa maioria da populao apenada, passam pela priso, voltam para a vida, mas voltam para a vida do crime. Ento, se no ressocializarmos esses jovens de fato, ns no teremos uma alterao na insegurana e na violncia, nos ndices que a esto postos hoje na sociedade brasileira.

    3. A promoo do acesso desses jovens s polticas sociais do governo.

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    Muitos desses jovens que foram cooptados pelo crime no querem mais saber da escola, no querem mais saber de um atendimento psico-social, no querem ter acesso a aes do Estado, esto definitivamente incorporados realidade do crime. 4. Promoo do acesso justia.

    Esse um outro dado estarrecedor. Dessa populao de 450.000 apenados, ns temos perto de 80.000 que no deveriam estar presos hoje. Olhem a responsabilidade para afirmar isso! Ns somos do Ministrio da Justia, temos a responsabilidade do Departamento Penitencirio Nacional e, hoje, 80.000 apenados no deveriam estar l, deveriam estar soltos, cumprindo penas alternativas, tendo outras punies menos rigorosas do que estar lotando o estabelecimento penal que, a essa altura, nem vaga mais tem. Ns estamos trabalhando nesse sentido. Isso ocorre invariavelmente. O cidado est preso, deixou de ser cidado temporariamente para ser apenado, mas continua preso l, por no ter assistncia jurdica, por desconhecer minimamente os seus direitos e no ter acesso justia. Portanto, isso fundamental.

    5. Intensificar o combate ao crime organizado e corrupo policial.

    Os senhores tm acompanhado as aes da Polcia Federal que, se necessrio, tm cortado na prpria carne, como os senhores presenciaram nesses ltimos dias, mas estamos combatendo isso com o devido rigor, sob a orientao do nosso Ministro.

    6. Recuperao de equipamentos urbanos.

    Por vezes, uma lmpada numa praa reduz o ndice de criminalidade. Ento, preciso reurbanizar tambm essas reas conflagradas.

    Todos esses objetivos esto sustentados na promoo dos direitos humanos, respondendo questo de gnero, etnia, raa orientao sexual e ampla diversidade cultural do Brasil. As razes do crime no Rio de Janeiro no so as mesmas razes do crime em Recife. Ento, preciso observar tambm essa peculiaridade.

    De primeiro, ns j mostramos os valores. Por qu? Porque, invariavelmente, a gente raciocina com bons conceitos e, no final, muitos me indagam: Tem dinheiro para tudo isso? Temos. So 6,7 bilhes. O oramento da segurana pblica nunca ultrapassou 600 a 700 milhes/ano, no governo federal. A partir do Pronasci, ns temos a manuteno dos recursos do Fundo Nacional de Segurana Pblica e do Fundo Penitencirio Nacional, que bate na casa de 600 a 700 milhes. Alm disso, ns temos R$ 1.406.000.000/ano para investirmos na ao de segurana. Portanto, so praticamente dois bilhes/ano, o que vai totalizar quase 10 bilhes em quatro anos. Essa uma oportunidade que ns no tivemos at aqui. O Presidente Lula, a partir do Pronasci, nos oportuniza esse debate e a implementao de solues.

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    Ento, no resta nenhuma dvida que a questo indgena tem que estar igualmente contemplada pelo Pronasci, haja vista a violncia que conhecemos no campo e nessa rea. Ento, aqui temos 6,7 bilhes.

    H alguns estados prioritrios. Por qu? Porque, evidentemente, ns temos um ndice de violncia nos orientando. Ento, os estados prioritrios so: Acre, Alagoas, Bahia, Cear, o Entorno do Distrito Federal, Esprito Santo, Minas Gerais, Par, Paran, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e So Paulo. Esses so os mais violentos do pas. S para os senhores entenderem, a mdia nacional da taxa de homicdios de 29/100.000 habitantes. Isso, no Brasil. O Rio Grande do Sul, por exemplo, est rigorosamente na mdia. Agora, se apontarmos o Rio de Janeiro, a taxa de homicdios chega a 54/100.000. E, estarream-se, no Grande Recife, a taxa de homicdios vai a 78/100.000; na Grande Vitria, vai a 74/100.000. Ento, a vitrine internacional do pas o Rio de Janeiro, com uma taxa de homicdios de 54/100.000 habitantes. Agora, a Grande Recife est com uma taxa de homicdios de 78/100.000. Ento, preciso observar que, lamentavelmente, a violncia est avanando em todo o pas. Outros estados esto contemplados com algumas aes: Rio Grande do Norte, Piau, Sergipe e Tocantins.

    Qual o foco central do Pronasci? Ns queremos resgatar o jovem para a cidadania, o jovem entre 15 a 24 anos, o jovem em situao de risco, o jovem que est preso, o jovem egresso do sistema prisional e, portanto, ressocializado, na nossa perspectiva, o jovem que est em absoluto descontrole familiar ou em conflito com a lei. Ns iremos identificar esses jovens na comunidade, como irei demonstrar em seguida.

    O jovem oriundo do servio militar tambm foco do Pronasci porque este jovem, hoje, tem sido cooptado pelo crime organizado, porque ele tem talento no manuseio de armas, ele tem capacidade de estratgia e ttica e esse conhecimento, hoje, est sendo assimilado pelo crime organizado. Ento, ele se encontra ali por duas razes: para evitar que ele seja cooptado, de um lado, e para auxiliar na identificao dos demais jovens em conflito com a lei. Portanto, o jovem oriundo do servio militar importante nesse momento.

    Obviamente, no poderia afastar, como foco do programa, os profissionais de segurana pblica. A idia que tenham uma nova capacitao.

    Agora, um dado importante. Ns organizamos o Pronasci em aes estruturais e programas locais. As aes estruturais alcanam os 26 estados e o Distrito Federal, as 27 Unidades da Federao. Os programas locais esto tendo incio nas reas mais violentas do pas, que so aquelas 11 primeiras regies metropolitanas, de mais alto ndice de violncia. Ento, o que acontece? Ns temos 94 projetos e aes. Obviamente, eu no irei me debruar uma a uma, sob pena de no terminarmos este encontro hoje, mas irei listar aquelas que so fundamentais para o sucesso do Pronasci.

    1. Estruturao de estabelecimentos penais especiais para jovens e para mulheres.

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    So estabelecimentos penais com sala de aula, com um anfiteatro para cultura, com um mdulo de sade, com incluso digital. Esses estabelecimentos penais tero 421 vagas previstas para jovem. Ns vamos retirar os jovens do sistema prisional tradicional, os que esto apenados, e coloc-los nesse novo estabelecimento para, de fato, pensarmos em ressocializao. Ento, o estabelecimento penal fundamental. Para as mulheres, em separado, igualmente, para no vivermos o que presenciamos l no Par, que certamente todos tiveram a oportunidade de ter a informao.

    2. Reformulao das instituies de segurana pblica.

    Ns queremos a polcia de proximidade. No queremos mais a polcia radiopatrulha, como teoricamente chamamos. O que a polcia radiopatrulha? Todos conhecem aqui. Sentam dois policiais numa viatura e fazem a ronda. Quando escutam um barulho em determinado bairro, vila ou mesmo favela, tratam, ou de acelerar e fazem de conta que no ouviram o barulho, ou continuam a ronda normalmente, sem ter ouvido nada. Essa polcia de rdio-patrulhamento tem que ser substituda por uma polcia de proximidade. A nossa utopia , de fato, alcanarmos a Polcia Comunitria Cidad, que ser uma nova representao do Estado dentro da comunidade, um policial capaz no s de dirimir conflitos, mas um policial capaz de informar quais equipamentos do Estado esto disponveis ali naquela regio para assistir o cidado do ponto de vista da sade, do ponto de vista educacional, do ponto de vista cultural. Portanto, um novo policial, uma nova viso, um novo paradigma.

    3. Manuteno da Fora Nacional de Segurana com sede prpria.

    Ns teremos, aqui em Luzinia, 550 homens e mulheres de prontido para qualquer necessidade de todos os estados brasileiros. Agora, no dia 30, o Ministro Tarso Genro inaugura a sede e os primeiros 150 homens chegam para a capacitao e qualificao na Fora Nacional de Segurana Pblica.

    4. Construo dos Centros de Reabilitao do Agressor Lei Maria da Penha.

    Aqui temos um dado para a compreenso de todos que eu julgo igualmente decisivo. Hoje, eu tenho a responsabilidade de ser o Chefe de Gabinete do Ministro Tarso Genro e de ser o Secretrio-Executivo do Pronasci. Por que o Ministro Tarso Genro colocou o Pronasci no gabinete? O Pronasci no da Secretaria Nacional de Segurana Pblica SENASP, como no do Departamento Penitencirio Nacional DEPEN, como no da FUNAI, como no da Polcia Federal, nem da Polcia Rodoviria Federal, nem da Secretaria da Reforma do Judicirio, tampouco da Secretaria Nacional de Justia. O Pronasci mobiliza todo o Ministrio, em nome da segurana, ampliando o conceito. Para o Ministro Tarso Genro, segurana segurana econmica, segurana jurdica, segurana poltica, segurana pblica. Para que pudssemos ampliar este conceito, todas as unidades, todos os rgos, todos os departamentos do Ministrio da Justia esto mobilizados com quatro, cinco, seis projetos cada um. Os 94 projetos so responsabilidade de Secretaria a Secretaria. No mais a SENASP que tem,

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    exclusivamente, a responsabilidade sobre a segurana; no s o DEPEN que tem responsabilidade sobre a questo previdenciria. O Pronasci articula esse conjunto de aes.

    Ento, a Lei Maria da Penha, que estruturada, tocada pela Secretaria da Reforma do Judicirio uma das aes fundamentais para assistirmos a violncia contra a mulher, para podermos enfrent-la satisfatoriamente e isso demonstra a horizontalidade das aes do Pronasci. por isso que eu me encontro aqui. A FUNAI, que Ministrio da Justia, tem de imediatamente se integrar a essa mobilizao que todas as Secretarias e todos departamentos esto produzindo, em funo do Pronasci e a partir dele.

    5. Valorizao dos profissionais de segurana pblica.

    Observem bem o que estamos fazendo e que transformador, de fato. Tem um trip aqui. Para mudar a segurana pblica, tem que valorizar o profissional. Como que se valoriza o profissional? Tem que ter melhor salrio, tem que ter mais preparo, mais capacitao e mais capacidade para trabalhar, e tem que ter moradia digna. Hoje, no Brasil, tem policiais que tm que trocar de roupa para poder chegar em casa porque, seno, ele identificado imediatamente como um policial e, portanto, considerado um perigo para aquela rea em que o trfico, por exemplo, domina. Ento, ns estamos oferecendo um Plano de Financiamento Habitacional para os policiais de baixa renda. J entregamos 460 unidades no Rio Grande do Sul, perto de 20 ou 30 em Alagoas e vamos entregar agora 1.000 unidades no Rio de Janeiro. E praticamente sem juros. a mais baixa operao na Caixa Econmica Federal e os policiais podem acessar sem ter a dificuldade do cadastro. Muitos policiais no esto morando minimamente de forma digna porque, quando chegam l para pedir o financiamento, tm problema no SPC, no SERASA. Ento, haver iseno cadastral, autorizada por lei. Ns estamos conquistando isso e fazendo com que o policial resgate a sua dignidade, morando melhor, recebendo uma bolsa e estudando. Para estudar, ele recebe R$ 400,00. Muitos podem perguntar: Mas R$ 400,00 resolve?. No Rio de Janeiro, um policial militar percebe R$ 850,00 por ms; no Rio Grande do Sul, que a gente sempre diz que um estado politizado, l na ponta do Brasil, um policial militar percebe R$ 860,00. Esse o salrio de um policial da Brigada Militar do Rio Grande. Ento, R$ 400,00 um aumento efetivo de 50% no salrio. E mais. Ele vai estudar para se formar como um Policial Comunitrio, ele recebe os R$ 400,00 e, se quiser, pega os R$ 400,00 e paga a prestao da casa prpria, que no chega a R$ 400,00, fica sempre em torno de R$ 250,00 ou R$ 270,00. Ento, percebam que esse trip a que me referi seguramente a possibilidade concreta do resgate da dignidade do policial.

    6. Ampliao da Rede Nacional de Altos Estudos em Segurana Pblica RENAESP.

    A Rede Nacional de Altos Estudos em Segurana Pblica est mobilizada para assistir a esse policial. O que a RENAESP? 81 instituies de nvel superior, 81 universidades esto formando policiais. Os senhores sabem que todos aqui, para pensarem a segurana pblica e a questo indgena, tm que se desobrigar daquela idia: Eu no sou um intelectual da rea de segurana! Eu no sou um estudioso. Eu

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    no sou um policial!. Eu quero dizer aos senhores que, se ns mobilizarmos hoje a intelectualidade da segurana pblica do Brasil, ns no vamos chegar a mais que 10 ou 12 nomes. Quando eu convoco os intelectuais para fazer uma discusso, so sempre os mesmos 10 ou 12. No culpa deles! Que bom que eles esto estudando segurana pblica, mas ns no temos 20, no temos 30, no como uma outra rea do saber. Se ns chegarmos a uma biblioteca e procurarmos onde est a prateleira dos livros sobre segurana pblica, eu os desafio a encontrar uma prateleira cheia sobre o tema. No tem. Tem violncia, violncia, violncia! Agora, como enfrent-la, quais estratgias, quais programas, ns temos parcos recursos intelectuais a esse respeito. Com isso, eu estou justificando que, se tem um carter revolucionrio no Pronasci, seguramente, a Rede Nacional de Altos Estudos. Por qu? Porque ns estamos gerando uma nova inteligncia de segurana pblica, que no h no nosso pas. Portanto, essa uma oportunidade rara, com essas 81 instituies, e seguem a inmeros cursos, como cursos de tecnlogo, especialista, Mestre em Segurana pblica etc. Vocs conhecem Faculdade de Segurana Pblica no Brasil? Tem Graduao de Segurana Pblica no Brasil? Pois agora passar a ter. Invariavelmente, a rea de segurana confundida com a rea de Direito. O policial federal vai fazer um concurso e o ideal que ele seja formado em Direito. importante, mas no segurana pblica. Ento, ns estamos inovando nessa rea. Seguem inmeros cursos, como cursos de tecnologia no letal, fontica forense, medicina legal, entre outros.

    7. Enfrentamento corrupo policial e ao crime organizado.

    Estamos desenvolvendo tambm aes normativas capazes de incidir na mudana:

    A Reforma do Cdigo de Processo Penal. Ns fizemos quatro alteraes muito significativas que j foram aprovadas no Congresso Nacional. No possvel mais levar tanto tempo para resolver se o cara tem que ser condenado ou no. Eu estive no Rio de Janeiro no aniversrio dos 15 anos da chacina de Vigrio Geral. Olhem que horrvel! L, estivemos debatendo, depois de 15 anos, o que se processou. Passaram-se 15 anos e muito daqueles que foram responsveis pela chacina esto sendo processados, mas ainda esto sendo processados. Apenas um ou dois j foram punidos. Os demais esto empurrando o processo na Justia, entram com um recurso, com mais um recurso e assim vai. Agora, o novo Cdigo de Processo Penal no admite recurso interposto. Tem direito a uma instncia e, naquela instncia, pode recorrer uma vez. No fica naquela histria de entrar na Vara de crime comum, depois vai para Vara Federal, depois acessa o Supremo e cada um vai pedindo mais prazo do que o outro. Agora, no assim. Ento, a Reforma do Cdigo do Processo Penal Fundamental.

    Lei de Lavagem de Dinheiro e a Lei de Tipificao do Crime Organizado. O crime organizado no era tipificado, at ento. Quando se tipificava o crime organizado, na hora de abrir o inqurito e depois o processo todo, ficava se pensando o seguinte: E agora? Vou enquadr-lo como crime financeiro, como um crime comum, como formao de quadrilha?. Agora, tem a lei que tipifica e caracteriza o crime organizado.

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    Regulamentao do Sistema nico de Segurana Pblica SUSP. Todos conhecemos os avanos que ocorreram no pas, na rea da sade, aps a instituio do SUS. Agora, ns queremos o SUSP, que j est pactuado entre os estados, mas ainda no est regulamentado. Isso est previsto no Pargrafo 7 do Art. 144 da Constituio Cidad de 1988, mas at hoje ns no regulamentamos a segurana pblica no pas. Tem l orientaes gerais na Carta Magna, mas no tem a regulamentao. isso que pretendemos agora atravs do SUSP.

    A Lei Orgnica para a Polcia Civil e Polcia Militar. Cada polcia no nosso pas faz do jeito que acha melhor, desde a formao at orientao do seu trabalho. No Rio Grande do Norte absolutamente diferente do Rio Grande do Sul. Ento, temos que ter padres mnimos, ainda que respondam s peculiaridades locais.

    Estruturao de Ouvidorias.

    Campanha do Desarmamento.

    Enfrentamento ao Trfico de Pessoas, que seguramente pode dizer respeito a um debate nosso conjunto.

    Enfim, essas so as aes estruturais. Agora, eu quero apresentar rapidamente alguns programas locais:

    1. Programa Territrio de Paz

    Institui-se um Gabinete de Gesto Integrada Municipal, com o apoio da Polcia Federal, da Polcia Rodoviria Federal, da Polcia Civil, da Polcia Militar, a presena da Prefeitura, dos seus Secretrios da rea de Ao Social, enfim, se integra uma inteligncia local para discutir a violncia. A partir da, o Ministrio da Justia aporta recursos, contrata uma equipe multidisciplinar e comea a desenvolver um plano de comunicao comunitrio. Vai l na comunidade dizer que o Pronasci est chegando. E est chegando com qu? Est chegando com o Programa II, que pode ter a apoio da Fora Nacional de Segurana, se necessrio, mas faz a integrao do jovem e da famlia.

    Eu vou dar um exemplo que tenta sintetizar o conjunto de projetos do Programa II, que o Programa Integrao do Jovem e da Famlia.

    2. Programa Integrao do Jovem e da Famlia.

    Aquele plano de comunicao desencadeado, chegamos comunidade com a equipe multidisciplinar, sob orientao do gabinete de gesto e se identifica uma famlia. Esta famlia tem a me e trs filhos. Um no est em casa porque est preso; o segundo est na idade de seguir o caminho do irmo mais velho, substituindo-o no crime; e o terceiro novinho e est saindo para a escola naquele momento. O

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    que faremos? Identificada essa famlia, ns iremos aportar o Economia Solidria para a famlia, atravs da relao que estabelecemos com o Ministrio do Trabalho e Emprego. A Economia Solidria vai tentar retirar aquele segundo filho do crime. Esse segundo filho vir para um atendimento psico-social e imediatamente ingressar no Projeto para Jovens em Territrio de Descoeso Social PROTEJO. Ali ns teremos um resgate da sua cidadania, uma aula de direitos e deveres. No escola regular. Esse jovem ser assistido com uma bolsa de R$ 100,00. Alm do Economia Solidria, a me poder formar-se Mulher da Paz, recebendo uma bolsa de R$ 190,00, para nos auxiliar na identificao de outras famlias em risco. O que ns queremos? Queremos assistir aquela famlia, oferecer possibilidade de trabalho, oferecer uma bolsa para resgatar a cidadania do jovem. Ento, essas aes integradas, e em grande escala, porque recursos ns temos, faro com que a nossa incidncia, a nossa insero na rea conflagrada de fato comece a constranger o crime e a mudar aquela ambincia. Essa a nossa expectativa, a partir de uma srie de projetos.

    Temos aqui o representante do Ministrio da Sade, da FUNASA. No Programa de Sade da Famlia PSF, os agentes comunitrios esto sendo capacitados com uma nova atribuio, que eu tenho chamado de atribuio Pronasci. Alm de todas as atribuies que ele tem na rea da sade, ele tambm tem que nos auxiliar a identificar a famlia em risco, informar o Pronasci e, imediatamente, ns somos acionados e vamos at l famlia indicada pelo agente comunitrio do PSF. Ns temos 14 Ministrios que so nossos parceiros e que esto relacionados com todas essas aes que eu vou apresentando aqui, aos poucos.

    3. Programa Segurana e Convivncia.

    Implementao de um novo modelo de polcia.

    Na hora em que o novo modelo de polcia est institudo, esses policiais que esto estudando so levados para a rea conflagrada. So os policiais com uma nova viso, um novo paradigma, um novo modelo de polcia, que a Polcia Comunitria.

    Espaos urbanos reorganizados

    Temos que ter os espaos urbanos reorganizados, ento, nos conectamos com o Programa de Acelerao do Crescimento PAC. Um exemplo concreto o Complexo do Alemo, no Rio de Janeiro. H uma previso de 496 milhes em obras para o Complexo do Alemo. At um telefrico, um bondinho, vai ter para subir o morro. um novo sistema virio na favela. uma reurbanizao de fato. Isso est conectado com a chegada do Pronasci. O PAC e o Pronasci chegam juntos para reurbanizar, transformar a ambincia e, portanto, mud-la de forma significativa.

    Percurso Social Informativo.

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    O que o Percurso Social Informativo? a nossa interface com o Ministrio da Educao, a nossa interface com o Ministrio da Cincia e Tecnologia, a nossa interface com o Ministrio do Desenvolvimento Social. Por que essa interface com os Ministrios? Porque aquele jovem que ns resgatamos no atendimento psico-social, agora, tem que voltar para a escola regular. Se no tem vaga, o Pronasci vai l e paga a vaga. Como? Descentraliza recursos para o Ministrio da Educao. Se l na hora conflagrada houver mil jovens estudando no Programa de Educao de Jovens e Adultos EJA, e ns identificarmos que h 80 jovens do Pronasci que tm que voltar a estudar na escola regular, ns chegaremos ao Ministrio da Educao e diremos: Ns queremos pagar esses 80 que esto chegando. Nesse caso, descentralizamos recursos para o Ministrio da Educao e eles asseguram a integrao daqueles jovens identificados pelo Pronasci. E assim segue o percurso social com o EJA, o Brasil Alfabetizado, o PROUNI e Universidade Aberta do Brasil, orgulhosamente, projetos iniciados pelo Ministro Tarso Genro, quando l estivemos no Ministrio da Educao. Ento, isso tambm fundamental porque o jovem poder sair do crime e chegar universidade, desde que ele tenha essa assistncia do Pronasci.

    Na rea da cultura, temos os pontos de cultura e os museus comunitrios. Estaremos instalando pontos de cultura l dentro do Complexo do Alemo, l dentro da rea conflagrada. Isso j est pactuado. Os recursos j esto descentralizados para o Ministrio da Cultura. No esporte, da mesma maneira. J temos uma ao incisiva com o Ministro Orlando porque fundamental o resgate do jovem. Temos o programa de incluso digital e assim ns queremos acreditar que possvel essa mudana, essa transformao.

    Isso aqui s a etapa conceitual. Eu vou mostrar agora, muito rapidamente, o relatrio das aes para vocs compreenderem que tudo isso que foi dito agora, ainda que brevemente. Eu sei que, s vezes, a gente exaustivo, mas quando eu apresentei o Pronasci, diante do Presidente e do Ministro, para todo o pas, no dia 20 de agosto de 2007, eu falei vinte minutos. Hoje, para falar do Pronasci, quase impossvel faz-lo em menos de uma hora e meia a duas horas.

    Observem como boa parte do que eu disse vem se tornando realidade. Esse o relatrio das aes. Isso que eu apresentei a vocs at aqui foi apresentado para o Presidente Lula e para o Ministro l no dia 20 de agosto de 2007. De l para c, o que produzimos?

    Fora Nacional de Segurana Pblica com 8.000 homens formados. H 8.000 homens que esto prontos, no pas, com uma nova viso para qualquer interveno. Destes, 696 j esto atuando no Rio de Janeiro, no Maranho, no Distrito Federal, em Roraima enfim, tem homens espalhados por todo o pas. A sede, como eu disse, est por ser inaugurada.

    Gabinete de Gesto Integrada Municipal. Dos 84 municpios indicados como os mais violentos, 73 j instalaram o Gabinete de Gesto Integrada, por lei municipal. E 55 deles j receberam um aporte de recursos para instituir a inteligncia local, com vdeo monitoramento, cmeras, um pequeno centro

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    de inteligncia, informtica, para que tambm eles possam estar efetivamente observando o que ocorre na violncia local. Foram disponibilizados 51 milhes.

    A Rede Nacional de Altos Estudos. So quatro ciclos, sendo que, 51.000 policiais estudaram no primeiro ciclo, 85.000 no segundo ciclo, 125.000 no terceiro e este total aqui est em amarelo porque, ontem, j fechamos em 135.000. Portanto, j alcanamos praticamente 1/3 do efetivo nacional do pas. Ns temos hoje 650.000 a 700.000 policiais no pas, sendo que 1/3, praticamente, j est se capacitando, se qualificando, estudando e, portanto, se tornando um policial comunitrio.

    Bolsa Formao. Desses que esto estudando, quantos esto recebendo bolsa? 27.912. Na verdade, ontem j fechamos em 34.000. Tem 34.000 policiais recebendo a bolsa de R$ 400,00.

    Plano Habitacional. J so 14 unidades no Acre, 309 na Bahia, 471 no Cear e ali segue. J estamos entregando as casas, os policiais j esto recebendo as chaves, morando com dignidade. Isso, conectado com a bolsa e com a formao, h de mudar rigorosamente a concepo desse policial.

    Departamento Penitencirio. So 11 estabelecimentos penais especiais para jovens. As obras j esto iniciadas em sete estados. Por qu? Porque tem a relao federativa. Naturalmente, o estado tem de responder s nossas reivindicaes, tem que disponibilizar o terreno, tem a licena ambiental, enfim, tem todas as exigncias legais. So mais de 120 milhes para essa rea.

    Secretaria do Direito Econmico Canal Comunidade, Gerao Consciente e Monitoramento do Cidado. a reduo da rea de conflito na rea do consumidor. Tem muitos conflitos pequenos que se do porque um comprou um tnis do outro. Ento, ns vamos incidir tambm na comunidade, atravs da ao do consumidor.

    Laboratrio de Combate Lavagem do Dinheiro. O Distrito Federal, Gois, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Bahia, alm do prprio Departamento da Polcia Federal, j tm a instalao de uma nova inteligncia para identificao da lavagem de dinheiro.

    Ncleo de Enfrentamento ao Trfico de Pessoas. H dois postos sendo instalados em Pernambuco, no aeroporto e no terminal rodovirio; no Par, no Aeroporto de Belm; no Rio de Janeiro, h discusso se ser ou no no aeroporto; em So Paulo, j tem em Guarulhos; em Gois, est na sede do Ministrio Pblico. Estamos instituindo rigorosamente todas as aes.

    Mulheres da Paz. Esto sendo capacitadas 12.025 Mulheres da Paz, num oramento de 25 milhes. So mulheres que esto sendo preparadas para serem agentes de segurana pblica na comunidade.

    Jovens resgatados do itinerrio do crime. No final do ano, sero 20.825 jovens.

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    Ncleo de Justia Comunitria.

    Lei Maria da Penha.

    Assistncia Jurdica ao preso. Estamos articulados j com diversos estados para que possamos mobilizar essa assistncia jurdica ao preso.

    Ministrio da Sade. Descentralizamos nove milhes para a formao do PSF na atribuio Pronasci.

    Economia Solidria. So 12 milhes para o Trabalho e Emprego.

    Ministrio do Esporte. So 32 milhes em quatro aes.

    Ministrio da Educao. So 80 milhes para a formao de educadores para o sistema prisional.

    Ministrio da Cincia e Tecnologia. So 11 milhes em telecentros. Todas essas regies conflagradas tero incluso digital. O jovem vai ter acesso ao computador, informtica.

    Secretaria Nacional Antidrogas. Programa F na Preveno. Sem olhar para qual religio, estamos mobilizando a todas as religies para que possam interagir na capacitao e incidncia sobre as drogas.

    Ministrio da Cultura. So 24 milhes.

    E ali segue uma proposta de agenda que est sendo implementada. Isso aqui uma referncia Fundao Getlio Vargas, que estar monitorando e avaliando o tempo inteiro. Por ltimo, quero me referir ao oramento. Daquele 1bilho quatrocentos e seis milhes, ns temos 793 milhes empenhados e comprometidos outros 276 milhes. Portanto, ns ainda temos 103 milhes. Por a, a CNPI pode pensar em alguma ao, mesmo para este ano porque ainda dispomos de recursos para cumprirmos todo o oramento do Pronasci.

    Rapidamente, Edson, vamos mostrar a nossa utopia. curioso o que eu vou mostrar, mas uma forma de sintetizar o que ns queremos alcanar rigorosamente com o Pronasci. Observem isso aqui. Esta a rea conflagrada. Imaginem que isso aqui o Complexo do Alemo, ou que a Favela da Mar, ou a Vila Restinga, l do Rio Grande do Sul. Aqui uma rea conflagrada. Nessa rea conflagrada se instala o Gabinete de Gesto Integrada Municipal. uma concertao que se d entre o Ministrio da Justia, o estado e o municpio. Representantes das trs esferas organizam o Gabinete de Gesto Integrada, com o apoio da Polcia Federal. L vem o policial federal e a sua inteligncia altamente tecnolgica. Nesse momento, a Fora Nacional chega rea conflagrada para dar uma primeira sensao de segurana e mostrar que o Estado Brasileiro est chegando onde ele nunca apareceu. E a, est a Fora Nacional se

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    mobilizando. Instalamos o Gabinete de Gesto e chega o Plano de Comunicao. Ns vamos sim colar cartazes nos bares e nos botecos, para informar que o Pronasci est chegando. No a grande mdia que vai dizer isso. um Plano Comunitrio de Comunicao. Na seqncia, as casas so construdas, no Plano Habitacional para assistir o policial de baixa renda. O estabelecimento especial penal para jovens igualmente comea a ser estruturado. Os policiais que recebem a casa deslocam-se para a universidade mais prxima para receberem a bolsa e comearem a estudar como Policiais Comunitrios Cidados. Eles vo para a comunidade e instalam o Posto Comunitrio da Polcia Cidad. A partir da, comeamos a identificar os jovens. Alguns jovens so presos sim e levados para a ressocializao no estabelecimento penal especial. Simultaneamente, acionamos a assistncia jurdica para, obviamente, acompanhar aquele jovem.

    No que diz respeito ao conflito na rea do consumidor, ns teremos uma espcie de nibus, um Pronasci Mvel, que ser a presena do Estado na rea conflagrada.

    Essa Polcia Comunitria, que est interagindo, vai tambm interagir com as mulheres da paz que, a essa altura, esto formadas e comeam a visitar as casas, a identificar famlias e alcanam um nmero de jovens que so trazidos para o PROTEJO. Esses jovens vo resgatar a sua cidadania num curso de direitos e deveres, para, depois, seguirem para a ao tradicional. Essas Mulheres da Paz tambm servem como mediadoras de conflitos na comunidade e esses jovens so deslocados para a escola. Agora, eles seguem o percurso social e formativo e voltam comunidade, depois de um, dois ou trs anos, dependendo do que julgarmos na avaliao. Aqueles jovens que foram presos, tiveram assistncia jurdica, se ressocializaram e voltaram para a vida comunitria.

    Resta a ao da Polcia Rodoviria Federal, que vocs tm acompanhado, com a Lei Seca e com a Reduo extraordinria de vtimas no trnsito.

    Esse exemplo aqui apenas para tentar sintetizar uma tese. Ns temos 94 projetos e aes do Pronasci. Se um a um obtiver xito, isso ainda no ser o Pronasci. Se todos os policiais estudarem, isso no ser o Pronasci. Se todos os policiais receberem casa, isso ainda no o Pronasci. O Pronasci surgir com fora se estas aes estiverem conectadas. Ou seja, o policial recebe a casa, estuda, est ganhando melhor e vai atuar como um policial comunitrio, no posto comunitrio da rea conflagrada. As Mulheres da Paz recebem a bolsa e vo para a mesma rea conflagrada para constranger o crime e mudar essa ambincia. Ento, o Pronasci a integrao desses projetos e esse o desejo do Presidente Lula, essa a orientao do Ministro Tarso Genro.

    por isso que reiteramos aqui a nossa expectativa que a Comisso Nacional de Poltica Indigenista seja capaz, a partir de hoje, de formular projetos capazes de se integrarem ao Pronasci e, igualmente, serem capazes de um aporte de recursos do mesmo Pronasci. Por isso, agradeo aqui a oportunidade que tive, cumprimentando a Dra. Dbora que acaba de chegar e nos contemplar com a sua presena. S lamento, Presidente Mrcio, a limitao da agenda. A expectativa era que comessemos um pouco mais cedo,

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    mas eu viajo agora s 11h50min para o Rio de Janeiro, onde participo de um debate organizado pelo Centro da ONU, na PUC do Rio de Janeiro, para que possamos seguir interagindo com as mudanas necessrias, a partir do Pronasci. Mais uma vez, muito obrigado, e espero que a CNPI se integre definitivamente ao Programa Nacional de Segurana Pblica com Cidadania. Muito obrigado.

    Mrcio Augusto Freitas de Meira Presidente da CNPI: Eu gostaria de agradecer a apresentao do Professor Nado e gostaria de lhe perguntar se ele teria pelo menos uns cinco ou dez minutos porque acho que importante que a gente possa agora ouvir alguns companheiros da Bancada Indgena sobre essa questo.

    Eu quero s lembrar e o Professor Nado j fez referncia a isso que existe uma abertura ampla do Pronasci, inclusive, com recursos carimbados, para que a CNPI possa apresentar uma proposta. A idia a FUNAI se integrar ao Pronasci e eu sugeri que fosse feita aqui a discusso na CNPI. Ento, eu queria ver se poderamos ouvir alguns companheiros, sobretudo, os da Subcomisso de Justia, Segurana e Cidadania. Aqui temos o Anastcio, o Saulo, o Sandro, que so da Subcomisso, alm de outros representantes. Esto inscritos o Caboquinho, o Saulo e a Chiquinha.

    Antonio Pessoa Gomes Caboquinho povo Potiguara: Bom dia a todos. Escutando aqui atentamente o pronunciamento do nosso companheiro. Eu fiquei com algumas dvidas e gostaria que fossem esclarecidas. A primeira coisa que eu levanto aqui : Qual foi o critrio do Pronasci para se trabalhar, principalmente, nas questes dos casos indgenas? Essa uma das coisas que eu queria saber por que para mim no ficou claro. Hoje, ns temos vrios ndios em situaes complicadas e queria saber como se est tratando essa questo do Pronasci.

    A outra coisa que eu queria saber tambm como foi pensado esse projeto, uma vez que, nos maiores centros urbanos, e em outros locais do pas, a violncia continua, at porque, faltam alternativas para os chamados meliantes. Eu sou vtima disso porque foi assaltado vrias vezes e muitos assaltantes falavam que no tinham alternativa de vida, a nica alternativa era assaltar. Ento, eu queria saber como que est se tratando essa questo dessas pessoas.

    Uma outra coisa que eu fiquei pensando tambm so essas faces que tem hoje, principalmente, no Rio de Janeiro e So Paulo, e ns vemos na mdia televisada que pessoas dessas faces esto sendo soltas porque o Judicirio no est cumprindo com o seu dever. Como que se prende um meliante desses e depois de um ms, dois meses, anos, o Judicirio no consegue resolver esse problema?

    Uma coisa tambm que eu fiquei pensando foi sobre a questo dos Conselhos Tutelares. Na maioria das vezes, esses Conselheiros so indicados pelo prprio gestor municipal. No existe uma poltica para indicao de pessoas para trabalharem com questes relativas criana e ao adolescente.

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    A outra coisa que eu queria ressaltar como est sendo feita essa discusso do Judicirio com todas essas colocaes que foram feitas. Na maioria das vezes, o Judicirio fica muito a dever com as situaes que lhe so apresentadas, principalmente, na questo da violncia no Brasil. Obrigado.

    Saulo Ferreira Feitosa Conselho Indigenista Missionrio: Bom dia. Eu queria agradecer a apresentao do Professor Nado e lamentar a sua sada imediata. Realmente, como o Presidente da CNPI informou, a Subcomisso de Segurana, Justia e Cidadania j vem trabalhando h um ano as questo que tm relao direta com o Pronasci e ns no temos recebido, por parte do governo, da Secretaria Nacional de Segurana Pblica, nenhuma resposta das nossas preocupaes, desde a questo da identificao de todos os indgenas que se encontram hoje no presdio. Ento, para ns, essa questo prisional uma preocupao. Como tambm, as questes da localizao desses indgenas nos respectivos presdios. Quando o senhor tratou das aes estruturais, apareceram aqueles presdios especiais para mulheres e jovens e ns ficamos refletindo a questo dos indgenas. O ideal que o cumprimento da pena, quando isso se fizer necessrio, acontea na comunidade indgena ou o local mais prximo. Mas, s vezes, a prpria comunidade no quer que a pessoa cumpra a pena no local. Essas pessoas ficam aonde? Nos presdios em que ns temos feito algumas visitas, a situao desses indgenas bastante complicada. Ns sempre nos referimos aqui ao Estado do Mato Grosso do Sul, embora no seja o nico estado onde isso acontece, mas l tem uma populao indgena carcerria grande e, de fato, h indgenas que esto presos por questes polticas, por conta da disputa fundiria; outros por questo de discriminao mesmo; e outros que esto envolvidos em crimes vrios. S que, todos eles ao serem presos so tratados como ndios bandidos e, dentro dos presdios, eles ficam numa situao de segregao bastante complicada. H um nmero grande. Ento, espero que haja outra oportunidade em que o senhor possa se reunir com a Subcomisso que trata esses assuntos especficos porque ns temos interesse em aprofundar essa discusso e apresentar algumas propostas.

    Francisca Navantino Chiquinha povo Pareci: Bom dia a todos e a todas. Eu sou Francisca Pareci, da regio amaznica, Mato Grosso. Eu achei interessante a exposio do senhor. Pelo que a gente est vendo, o governo de fato est criando e implementando uma poltica de segurana pblica. Eu gostaria de saber, por exemplo, se dentro de toda essa implementao, essa construo, a nossa responsabilidade como CNPI tambm ser de propor uma poltica de atendimento dentro da realidade scio-econmica e cultural das comunidades indgenas. Assim como est tendo toda essa violncia fora das terras indgenas, muita dessa violncia est adentrando as terras indgenas e h uma preocupao muito grande quanto a isso. Hoje, por exemplo, o prprio crime organizado j est prximo em algumas comunidades. Ns temos indgenas jovens ainda que esto envolvidos com drogas e outras coisas mais. Eu at gostaria de aproveitar a oportunidade para parabenizar pela Lei Seca. Ela foi muito importante, principalmente, nas fronteiras. Por outro lado, temos comunidades em que h uma grande incidncia de alcoolismo e ns vemos que ainda h muito pouca ao em relao a essa situao. E, s vezes, quando pretendemos fazer algo, no h um incentivo que possa de fato conduzir a uma ao efetiva de melhoria.

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    Nesse caso, eu coloco tambm a questo da integrao do jovem e famlia. No caso das comunidades indgenas, tambm importante a integrao desse jovem dentro da sua prpria comunidade. H tambm a questo da valorizao da cultura. Ento, mais ou menos sobre isso que eu queria que o senhor pudesse falar um pouquinho. Obrigado.

    Professor Nado Coordenador do Pronasci no Ministrio da Justia: As questes, mais objetivamente, esto respondidas. No que diz respeito a quais critrios o Pronasci empregou para a questo indgena, a resposta exatamente o que ns estamos buscando aqui. Esses critrios sero definidos pela Comisso Nacional de Poltica Indigenista. A questo indgena no foi colocada no Pronasci num primeiro momento, por isso, no est contemplada at ento. Mas temos ordem expressa do Ministro j h alguns meses nesse sentido. S que, diante de idas e vindas, a presena do Presidente Lula na CNPI e outras questes mais urgentes, ns no conseguimos ter, antes, esse momento que estamos vivenciando aqui agora. Ento, preciso deixar claro que esse critrio tem que ser construdo pelos senhores. Quando a Chiquinha pergunta qual a responsabilidade que ns vamos ter, a responsabilidade a que os senhores estabelecerem que querem ter, ou seja, o que realmente ns podemos fazer no que diz respeito violncia na questo indgena.

    No que diz respeito especificamente ao DEPEN e SENASP, ns podemos deliberar aqui, os senhores podem deliberar sobre uma imediata audincia com o Diretor-Geral do DEPEN, como com o Secretrio Nacional de Segurana Pblica, tratando dessas questes que j esto postas. Ns temos um grupo de indgenas presos, temos que verificar onde se encontram e que tipo de diagnstico ns podemos fazer, que tipo de levantamento. Ento, eu tenho convico que todas as aes aqui sero as melhores possveis para que possamos ter uma resposta.

    Em relao aos Conselhos Tutelares, que tambm foram pontuados aqui, de fato, isso uma preocupao nossa. A Secretaria Especial de Direitos Humanos, que uma das parceiras do Pronasci, so 14 Ministrios envolvidos, tem tido esta preocupao. Ns queremos incidir, inclusive, sobre o Estatuto da Criana e do Adolescente ECA porque no est claro l o que verdadeiramente organiza, estrutura, ordena e normatiza o Conselho Tutelar. Ns temos municpios em que h eleies para Conselheiros Tutelares atravs de entidades representativas, que tm poder de voto. Por outro lado, tem lugares em que a eleio direta, como se fosse uma eleio para vereador. E tem casos em que por nomeao do prefeito. Igualmente, h uma disparidade salarial. Em algumas cidades, o salrio digno, bom, importante para o Conselheiro Titular se mobilizar, se mexer e trabalhar. Mas, tem outros locais em que eles no recebem salrio, quase que uma ao voluntria. Ento, eu j pactuei com a Secretaria Especial de Direitos Humanos porque, afinal, h uma interface direta com a Secretaria Especial de Direitos Humanos, para que nos apresentem rigorosamente uma proposta. Estamos nessa expectativa. So 76.000 Conselheiros Tutelares no Brasil. Se ns conseguirmos engajar os Conselheiros Tutelares, as Mulheres da Paz, a Polcia Comunitria, numa mobilizao forte, ns poderemos mudar essa ambincia, mais rapidamente.

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    Vou pedir licena para sair agora, Mrcio. Um abrao.

    Dbora Duprat Ministrio Pblico: Deixe-me s aproveitar aqui rapidamente a sugesto. Eu acho que essa sugesto de chamarmos aqui o Diretor Geral do DEPEN fundamental porque ns j identificamos a situao de invisibilidade dos ndios presos, exatamente, porque a classificao externa e aquele que classifica se recusa a admitir a identidade indgena, principalmente, em determinadas regies, notadamente, no nordeste, centro-oeste e sudeste. Ento, eu acho que essa sugesto de pensarmos como tornar o ndio visvel no sistema penitencirio fundamental. s uma sugesto.

    Professor Nado Coordenador do Pronasci no Ministrio da Justia: Doutora Dbora, eu vou pensar alto. No h nenhuma responsabilidade do Ministro em relao ao que eu vou dizer. Ns institumos as quotas no Ministrio da Educao. Foi travado um debate muito duro, quela poca, e eu participei diretamente dessa implementao, quando o Ministro Tarso Genro determinou a implementao das quotas na universidade. No seria impensado afirmar aqui que pudssemos ter quotas nos estabelecimentos penais para jovens, ou para mulheres, no que diz respeito ao ndio. Ento, eu s fiz aqui uma reflexo apressada e rpida, mas que tambm pode contribuir. Muito obrigado.

    Mrcio Augusto Freitas de Meira Presidente da CNPI: Boa viagem, Professor Nado. Eu vou fazer um encaminhamento. A Subcomisso de Segurana, Justia e Cidadania, que composta por seis membros, trs indgenas e trs do governo, e que tem tambm a participao do Ministrio Pblico, da AGU, da Secretaria Especial de Direitos Humanos e da SEPPIR. Ento, a idia que a gente possa marcar uma reunio especfica com o Pronasci para a gente j dar o encaminhamento tcnico a partir dessa apresentao e discusso. Certo? Obrigado, Professor Nado.

    Eu fiz esse encaminhamento meio corrido porque o Professor Nado estava saindo, mas eu gostaria de consultar ao plenrio sobre isso. Eu fiz esse encaminhamento at a partir da fala do Saulo e acho importante que essa questo no fique aqui, que esse processo continue.

    Pierlngela Nascimento Cunha povo Wapichana : Eu sou da regio amaznica, Roraima. Eu acho que o encaminhamento pertinente e, como o Pronasci tem aes articuladas com outros Ministrios, todos ns temos interesse em continuar porque, tanto na nossa Subcomisso de Educao, como na Subcomisso de Gnero Infncia e Juventude, essas questes esto muito relacionadas com o que foi colocado aqui. Ento, no s a Subcomisso de Segurana, Justia e Cidadania, mas acho que as demais Subcomisses tambm tm interesse justamente por serem aes articuladas. Portanto, a gente precisa se apropriar melhor disso e colocar o que tem que ser colocado. Ento, a participao das outras Subcomisses para ns fundamental, principalmente, a Subcomisso de Educao e de Gnero, Infncia e Juventude.

    Mrcio Augusto Freitas de Meira Presidente da CNPI: Eu acho que a proposta da Pierlngela complementa o encaminhamento, sugerindo que no s a Subcomisso de Segurana, Justia e

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    Cidadania, mas os membros das outras Subcomisses, principalmente a de Gnero, Infncia e Juventude e a de Educao possam tambm participar deste encaminhamento. Eu queria saber se a plenria concorda com esse encaminhamento. Acho que estamos de acordo, ento, est aprovado esse encaminhamento em relao questo do Pronasci, daqui para frente. uma questo de definir a agenda e fazer as reunies necessrias.

    Na nossa pauta est previsto agora, na seqncia, a discusso sobre a sade, com uma apresentao do Ministrio da Sade. Antes disso, eu queria apenas consultar o plenrio porque houve uma solicitao de dois representantes do Conselho de Sade Indgena CONDISI, o Nelson e o Fernando, de que eles possam participar aqui da nossa reunio. Ento, eu gostaria de consultar o plenrio se estamos de acordo em relao a isso. De acordo? Ento, est autorizada a presena tambm do Nelson e do Fernando aqui na nossa reunio. Eles so representantes da rea da sade. Tambm temos uma solicitao por parte dos servidores do CONDISEF, e aqui esto alguns representantes do CONDISEF que so funcionrios da FUNAI, no sentido de que eu, publicamente, nesse momento, transmitisse Bancada Indgena presente na CNP, um agradecimento formal dos servidores da FUNAI e do CONDISEF em geral, especialmente, ao representante AkJabor Kaiap pelo posicionamento que foi feito pelos indgenas na reunio passada da CNPI, com a presena do Presidente Lula, a respeito da questo dos servidores da FUNAI. Como o Presidente Lula deu resposta a essa questo, publicando uma Medida Provisria, que atendeu, de forma muito importante reivindicao dos servidores, eu estou transmitindo essa solicitao porque os representantes do CONDISEF me pediram para fazer esse agradecimento especial Bancada Indgena. Vale a pena at uma salva de palmas em nome dos servidores. O agradecimento seria principalmente para o AkJabor Kaiap, que no chegou ainda. No estou vendo o AkJabor Kaiap aqui. Mas, assim que o AkJabor Kaiap chegar, vamos transmitir a ele essa mensagem dos servidores. Os servidores esto aqui presentes representando mais de 2000 servidores da FUNAI que me pediram que transmitisse esse agradecimento.

    Dando seqncia, como eu disse no incio, normalmente, ns temos aquela tarefa de aprovao da ata da reunio passada. Ento, por uma questo de agilidade na nossa pauta, eu queria propor que os membros da CNPI possam fazer a leitura do resumo da ata e, ao longo do dia de hoje e amanh, no momento adequado, faramos a votao e aprovao dessa ata, ou correo da ata. A idia que passemos imediatamente para o prximo ponto, que a apresentao da Representante do Ministrio da Sade, a Doutora Cleonara, sobre uma proposta do Ministrio da Sade, que decorrente do que ocorreu na reunio passada da CNPI, quando foram colocadas pela bancada indgena, de forma muito enftica, as dificuldades e problemas de gesto na rea da sade indgena. Ento, por uma determinao do Presidente da Repblica e do prprio Ministro da Sade, foram tomadas decises em resposta a essas reivindicaes. Quando eu fui procurado pelo Ministro da Sade, me informando dessas decises, eu sugeri ao Ministro da Sade que o prprio Ministrio da Sade pudesse vir a esta reunio da CNPI hoje para trazer as explicaes necessrias para que a plenria pudesse ter o pleno conhecimento dessas medidas. Ento, eu gostaria de passar a palavra Doutora Cleonara para que ela possa fazer essa apresentao.

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    Cleonara Maria Schwartz Ministrio da Sade: Bom dia a todos. Primeiro, eu gostaria de agradecer o convite da CNPI para estar aqui. A minha fala uma delegao do Ministro Temporo que, a pedido do Presidente Lula, solicitou que a sade respondesse s demandas desta Comisso. Ento, a idia atualizar cada uma das aes previstas por esta Comisso, informando em que p elas esto no Ministrio da Sade para, em seguida, discutirmos um pouco essa questo da criao da nova Secretaria, enfim.

    A primeira questo que uma demanda antiga do Movimento Indigenista e da prpria FUNASA, a questo da autonomia administrativa, oramentria e financeira dos Distritos Sanitrios Indgenas. Isso j foi aprovado pelo Ministrio do Planejamento, e, muito provavelmente, num prazo de 10 dias, embora seja complicado se colocar prazos de dias, esse decreto de alterao do Regimento Interno da FUNASA vai ocorrer. Mesmo que, numa perspectiva de mdio prazo, as atribuies da Sade Indgena, que hoje esto a cargo da FUNASA, possam passar para outro rgo do Ministrio da Sade, essa uma demanda que vai ocorrer porque, independente de para quem os Distritos vo estar sendo referenciados na sua gesto, a proposta de sua autonomia um consenso entre todos. Isso est sendo encaminhado.

    A questo da recomposio da Fora de Trabalho talvez seja um ponto um pouco mais complicado porque a questo dos contratos temporrios, com a previso de 802 cargos para justamente darem conta desse processo administrativo nos DSEIs, ainda est em anlise pelo Ministrio do Planejamento, por conta de que no so s esses contratos temporrios que esto previstos. H tambm previso de contratos temporrios de outras Secretarias e outros rgos do governo. Tem todo um cuidado do Ministrio do Planejamento nesse sentido, at por conta dos controles externos, do Ministrio Pblico etc., nessa criao dos contratos temporrios. Mas, sem dvida, no tem como se implementar a proposta da descentralizao e da autonomia sem recursos humanos, sem pessoas para responderem a isso. Ento, esse um processo que est ocorrendo concomitantemente.

    Tem uma proposta de um Comit da Poltica de Recursos Humanos para o Subsistema. Essa proposta foi colocada numa Portaria que est a cargo da Secretaria de Gesto do Trabalho e da Educao, do Ministrio da Sade. Os membros dessa Comisso j foram indicados. Ainda no foi convocada nenhuma reunio nesse sentido, mas est dentro do prazo porque a Portaria de junho e so 180 dias para se propor um estudo de como seria essa questo dos recursos humanos.

    Por ltimo, tem a questo da recomposio oramentria. Era uma demanda de 64 milhes e, na proposta oramentria do Ministrio da Sade, j foi adequada essa solicitao de 64 milhes para dar conta do custeio das aes de servios da sade.

    Eu acho que uma questo importante que a criao da nova Portaria independe da questo do ordenamento da sade indgena. uma deciso poltica do Ministro Temporo, por conta de que, hoje, ns temos no SUS um modelo de ateno primria sade, que so as equipes de Sade da Famlia. O

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    prprio Pronasci colocou isso como uma das articulaes que essa poltica vem fazendo. Ns j atuamos com quase 26.000 equipes no Brasil. Metade da populao brasileira j atendida no SUS por esse modelo de ateno e a meta do Ministrio da Sade universalizar a sade da famlia at 2011. Ento, a meta que todo o brasileiro tenha uma equipe que o cuide, mesmo no setor privado. A Agncia Suplementar tambm tem trabalhado nessa lgica dos Mdicos Generalistas, os enfermeiros e odontlogos que cuidem, ao longo do tempo, trabalhem de uma forma integral etc. Nessa perspectiva que se cria essa Secretaria de Ateno Primria e promoo da sade. Dentro do Ministrio, ns temos dito que, finalmente, ns estamos trabalhando a questo da sade e no da doena. Historicamente, o modelo do SUS muito baseado nos procedimentos, nos leitos hospitalares e esse modelo mdico centrado e hospitalar. Ns estamos invertendo porque os melhores modelos de sistemas de sades universais do mundo so orientados pela ateno primria. Ento, a criao da Secretaria de Ateno Primria e Promoo da Sade vem nesse contexto.

    Portanto, h uma reforma administrativa interna do Ministrio da Sade, uma prerrogativa, inclusive, do Ministro de fazer isso. Aproveitando esse Projeto de lei, porque a Secretaria de Ateno Primria e Promoo da Sade um Projeto de Lei, o Ministro Temporo entendeu que trazer para dentro dessa Secretaria o Departamento de Sade Indgena seria uma das respostas a essas demandas de toda a questo das dificuldades da gesto da FUNASA em executar as aes e servios da sade tanto que 90% dessas aes no so feitas diretamente pela FUNASA como pelo prprio modelo de ateno. Trazer para dentro de uma Secretaria de Ateno Primria, que tem uma proposta de um modelo para toda a populao brasileira, no nosso ponto de vista, seria muito importante para se conquistar a melhora dos indicadores de sade da populao indgena. Quando a gente compara com o restante da populao brasileira, ns temos indicadores que so de 40 a 60 anos atrs. Mesmo nos melhores modelos de alguns Distritos Sanitrios Indgenas, que j tm uma ao muito importante de melhoria dos indicadores, ainda assim, esse resultado muito pior do que o restante da populao brasileira.

    Eu acho que era isso, basicamente, e fico disposio para o nosso debate porque penso que essa a idia dessa apresentao aqui. Uma coisa muito importante que essa proposta uma proposta, um Projeto de Lei, no tem Decreto, no tem nada colocado. Acho que, no debate, poderemos entrar em mais detalhes nesse sentido. Por exemplo, a morbimortalidade da populao indgena, ou seja, do que as etnias esto adoecendo e morrendo, e de como ns imaginamos que, dentro da estrutura do Ministrio da Sade, fica mais fcil de resolver essas questes especficas, ns temos uma defesa de que na Secretaria, ns temos mais condies de melhorar essas questes do que hoje o design da FUNASA. O que eu acho mais importante que fique claro que essa uma proposta. O Ministro Temporo, se valendo da criao da nova Secretaria, coloca a questo de trazer para dentro dessa Secretaria a gesto do Departamento de Sade Indgena. Mas, a idia a gente discutir isso. Talvez, no sendo suficiente no debate aqui hoje, em todas as Oficinas Regionais da CNPI, ns estamos nos organizando para estar fazendo essa discusso, inclusive, no nvel local.

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    Mrcio Augusto Freitas de Meira Presidente da CNPI: Esto abertas as inscries. A Doutora Dbora foi a primeira a se inscrever. Depois, a Francisca, o Sanso, o Aro, Marquinho, Coboquinho. Ento, vamos seguir essa ordem. Primeiro, a Dra. Dbora.

    Dbora Duprat Ministrio Pblico: Bom dia. Eu tenho algumas dvidas. Quero deixar muito claro que, para mim, no se coloca em discusso o fato de a sade indgena estar sendo transferida para o Ministrio da Sade. Acho que essa uma questo de gesto administrativa e no nos cabe contestar. Agora, h algumas preocupaes. Primeiro, como que ficaria a questo da autonomia dos DSEIs? A autonomia dos DSEIs uma conseqncia do prprio modelo do subsistema do SUS. Nunca foi implementada, por equvoco, j de incio. Para corrigir essa distoro, depois de quatro conferncias, a idia foi de mexer no Decreto de Organizao da FUNASA, para transformar os DSEIs em unidades gestoras. Saindo a sade indgena da FUNASA e indo para o Ministrio da Sade, como que fica a questo do DSEI? Essa uma pergunta.

    A segunda pergunta o seguinte: eu acompanhei o processo da sada da Sade Indgena da FUNAI para a FUNASA e o impacto que isso representou para as populaes indgenas, principalmente, no que diz respeito questo cultural. a questo de voc ter um pessoal absolutamente despreparado para tratar dessa especificidade, com uma arrogncia de um modelo de sade ocidental, sem ateno s prticas tradicionais, sem respeito ao paj, enfim, uma situao que se prolongou por muito tempo e que ainda tem atualidade. Eu perguntaria se essa Secretaria teria como se capacitar para ter esse cuidado de manter essa interlocuo permanente e ateno a uma situao que de interculturalidade, mais do que qualquer outra.

    H uma terceira coisa, ainda na mesma linha. H algum tempo, foi baixada uma Portaria em conjunto FUNASA e SAS no me recordo do nmero, que foi muito debatida, cheia de problemas, mas com seus mritos tambm, com uma pretenso de um controle maior dos recursos da SAS. Mas, nesses debates com a SAS, ns verificamos que, no mbito do Ministrio da Sade, havia muito desconhecimento a respeito do subsistema. Ou seja, o modelo o modelo do SUS e a idia trabalhar com esse modelo, ignorando que o subsistema um subsistema. Se ele no tivesse essas especificidades, no seria um subsistema, desconhecendo que a descentralizao se d entre Unio/Distrito. O municpio no integrante desse subsistema. Ele pode at ser um parceiro em aes complementares, mas ele no um integrante do subsistema indgena. Eu no sei se me fiz entender, mas, basicamente, so essas as minhas preocupaes, de incio.

    Mrcio Augusto Freitas de Meira Presidente da CNPI: O prximo inscrito a Chiquinha. Ento, seguindo, o Sanso. Eu vou sugerir que a gente faa uma seqncia de trs perguntas e depois passamos resposta. No sei se vocs concordam. Seriam blocos de trs perguntas, est bem?

    Sanso Ricardo Flores povo Tikuna: Bom dia. Primeiramente, eu queria fazer um tipo de agradecimento ao governo pela deciso do prprio governo, pela proposta de definio de uma sade

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    indgena. J foi contemplado pela fala da Dra. Dbora, com relao a esse modelo, mas a minha grande preocupao com relao a um novo modelo de sade hoje porque as competncias tambm foram transferidas. Foram transferidas atribuies, principalmente, aos municpios. Vai haver algum tipo de seminrio nos municpios para que haja um trabalho adequado s populaes indgenas das regies? Se criarmos uma nova Secretaria e no fizermos um tipo de trabalho nos municpios, evidente que ainda continuaremos nos esquecendo da sade indgena. A minha grande questo sair de um seminrio na regio do Alto Solimes, do Estado do Amazonas, onde a preocupao muito grande. Tivemos 300 lideranas reunidas e a situao l no est fcil. Ento, a minha pergunta : Como que vai ser feita essa transferncia de responsabilidade tambm para os municpios, principalmente, na parte do convnio? Eu estou de acordo com a criao dessa nova Secretaria porque todas as lideranas realmente pedem a mudana. Obrigado.

    Mrcio Augusto Freitas de Meira Presidente da CNPI: Quem falou foi o Sanso, que da povo Tikuna, do Alto Solimes e agora vai falar a Professora Francisca, que da povo Pareci, do Mato Grosso.

    Francisca Navantino (Chiquinha) povo Pareci: Eu tambm quero compartilhar as mesmas preocupaes dos meus antecessores. Eu j estou bastante preocupada com algumas questes. Toda a vez que as polticas so criadas, a partir de um nivelamento de atendimento, por exemplo, dentro da universalidade, geralmente, ns indgenas somos penalizados. Ns no somos atendidos dentro das nossas especificidades. Uma outra questo tambm que, na minha viso, a sade indgena no igual sade de qualquer um outro cidado brasileiro. A sade indgena completamente diferente. Por exemplo, vo ser passadas algumas competncias para o municpio. Ns temos receio disso. H os convnios e ns sabemos que boa parte dos municpios no tem uma boa relao com as comunidades indgenas, com exceo de alguns, que a gente conta nos dedos. Eles no tm uma boa relao, os ndios so tratados com indiferena, so discriminados etc. Eu estou sabendo que l no meu estado, por exemplo, j est havendo um movimento contrrio forma como as coisas esto sendo encaminhadas. A mudana positiva sim; precisamos mudar esse modelo que est a. Mas, tambm, para sair desse modelo e entrar num outro modelo para nivelar todo mundo igual, eu fico preocupada com essa proposio.

    H uma outra questo tambm. De que forma o movimento indgena, o segmento da sade indgena, que so primeiramente os ndios, suas lideranas e depois os profissionais no-ndios, que so to importantes, vo participar desse processo? A mudana para ns importante, desde que ns participemos desse processo. Tambm tem que haver o reconhecimento dos profissionais indgenas nesse processo. De que forma isso est sendo trabalhado? com isso que ns ficamos preocupados. claro que essa mudana pegou todo mundo de surpresa, de uma certa forma. Todo mundo estava esperando alguma coisa que ia acontecer. Essas respostas precisam ser dadas para o movimento indgena, para as comunidades, porque isso gera muita insegurana. O pessoal est muito preocupado com essa situao. Ento, eu gostaria que a senhora pudesse adentrar nessa questo e esmiuar para ns aqui como que est sendo isso. Eu estou vendo que j esto postas aqui algumas questes. Por exemplo,

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    j esto sendo feitas nomeaes. De uma certa forma, o gestor tem direito de indicar aquela pessoa que de sua confiana, mas, eu penso que, no caso da sade indgena, isso tem que passar pelo crivo do segmento da sade indgena. Os seus verdadeiros beneficirios tm que saber quem que vai trabalhar com eles. Nomear as pessoas, tudo bem. S que, de repente, nomeiam um que o maior inimigo dos ndios! A gente sabe disso. E tem tambm a questo da concepo do atendimento com os povo s indgenas. Ns sabemos que a sade no meramente a questo assistencial; ela tem outras implicaes interna. Como fica isso dentro das aldeias, das comunidades? Eu j estou muito preocupada com tudo isso e gostaria que voc abordasse essa questo do reconhecimento dos profissionais; de que forma o movimento indgena vai participar; de que forma os profissionais da sade indgena, os ndios primeiramente, e os demais profissionais aliados causa, estaro participando dessa construo. Essa a nossa cobrana. A questo de que maneira eles estaro tendo acesso s informaes, para no ficar uma coisa muito politiqueira. Se voc sai de uma politicagem e entra na outra, para ns no compensa. Toda a mudana importante, desde que ela venha acompanhada de um processo de participao efetiva. por isso que ns brigamos. E tem a questo realmente de que a sade indgena no uma sade como a de qualquer outro cidado. Ela muito diferenciada e voc vai esbarrar com algumas concepes de sade indgena, dentro das prprias comunidades. com isso que ns estamos preocupados. Eu li esse documento, achei interessante, mas no vi nenhuma explicao dizendo que os ndios sero respeitados dentro da sua diversidade. Vocs colocam todo mundo aqui dentro do mesmo saco e isso ns no vamos aceitar! Ento, eu gostaria que voc pudesse esclarecer isso. Eu posso at estar equivocada na minha fala. Mas, eu gostaria de me inteirar, primeiramente, de compreender esse processo e assegurar a participao indgena em todos os encaminhamentos. Era isso. Obrigado.

    Mrcio Augusto Freitas de Meira Presidente da CNPI: Vou passar a agora a palavra Doutora Cleonara para responder a esse bloco de trs perguntas. Em seguida, esto inscritos o Aro, o Marquinhos, o Caboquinho e o lcio.

    Cleonara Maria Schwartz Ministrio da Sade: A primeira coisa importante de ser colocada que o que est na lei est garantido. uma responsabilidade de o ente federal executar as aes e coordenar a poltica da sade indgena. Num determinado momento, em 1999, o ente federal delegou isso FUNASA. Ento, isso permanece como uma responsabilidade federal. Todo o desenho da poltica e do subsistema no est alterado. Ns no estamos discutindo a poltica nem o subsistema; isso est mantido. Isso no est de forma nenhuma sendo alterado; no estamos alterando as formas de participao, nem o fato de que o DSEI que a unidade. Eu acho que uma coisa importante seria esclarecer que a Portaria 2656 trata dos recursos que vo para os municpios, e eles j existem desde 1999. uma parte dos recursos do custeio da sade indgena. Isso que a gente est falando aqui do Departamento de Sade Indgena vir para uma nova Secretaria no est tratando de passar recursos para municpios. A responsabilidade pela sade indgena permanece no DSEI e, na verdade, ns estamos dando autonomia para que isso seja executado da melhor forma possvel. Em determinados momentos, em determinados territrios, o municpio vai ser complementar, ou o estado, porque o subsistema de sade indgena est dentro do Sistema nico de Sade e as pessoas so atendidas valorizando todo o processo da medicina

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    tradicional etc., mas, quando se precisar da medicina aloptica, as pessoas vo ser atendidas dentro do que hoje o Sistema nico de Sade. No existe um outro sistema que vai atender, vai internar ou vai fazer um procedimento para a populao indgena. Inclusive, nesse aspecto do respeito medicina tradicional, no Ministrio da Sade, ns temos uma poltica das prticas integrativas e complementares, onde ns justamente queremos evoluir para a prpria medicina tradicional dos povo s indgenas, inclusive, como uma forma de trazer isso para o restante do sistema. A idia que a gente evolua nesse sentido e eu acho que o Ministrio da Sade est muito moderno nesse sentido. Ns tivemos um evento, em abril deste ano, inclusive, com a representao da Organizao Mundial da Sade, nesse sentido do respeito s prticas tradicionais na ateno.

    Toda a questo do respeito interculturalidade e aos profissionais de sade que fazem a ateno, tambm no estamos alterando isso. Na verdade, ns imaginamos que todos os profissionais que esto hoje envolvidos, de alguma forma, devero estar mantidos nesse processo de ateno sade indgena. claro que essa uma mudana que no est pronta. Acho que ns temos que construir, por exemplo, qual o limite da autonomia oramentria, financeira dos DSEIs na contratao dos recursos humanos. Isso no est claro. Ns vamos construir isso ao longo do tempo. Por qu? Porque o Decreto que est l no Ministrio do Planejamento trata somente dessa questo administrativa, da possibilidade de termos mais capacidade de gesto na compra dos insumos, nessa questo administrativa. Ele no trata da contratao dos recursos humanos, que o grande problema hoje, com a terceirizao e tal. Nessa perspectiva, eu imagino que vamos ter vrios modelos. Acho que no vai ser um modelo nico, mas sempre respeitando quem j faz isso, quem j tem um histrico conhecimento disso. Essas aes que so paralelas a todo esse processo, como por exemplo, esse Comit que trata da formao e da educao permanente dos recursos humanos, fazem parte desse processo. A nvel nacional, ns precisamos proporcionar, inclusive, uma cooperao horizontal, que entre profissionais de sade porque, muitas vezes, eles vm com conhecimento tradicional, aloptico e aprendem, no processo de trabalho. Ento, importante que isso seja constantemente trocado entre os profissionais, entre os agentes indgenas etc. Quer dizer, a capacidade que o nvel nacional tem de proporcionar essa discusso e essa troca de experincias muito grande. Inclusive, acho que esse um papel do nvel nacional nesse sentido.

    No tem nenhuma nomeao sendo feita. No existe nem a criao da Secretaria. H um Projeto de Lei da Secretaria e a proposta de que essa Secretaria tenha um Departamento de Sade Indgena, que hoje j existe. Portanto, esse Departamento de Sade Indgena viria para a nova Secretaria com os seus cargos, e com os novos cargos que sero criados no bojo da nova Secretaria, mas ainda no tem nenhuma nomeao, em hiptese nenhuma. Isso ainda um projeto de lei. Foi apresentado como um projeto de lei.

    Na questo da participao, ela mantida nos fruns que j existem. Talvez uma questo importante que eu no falei na minha fala inicial que, junto com essa discusso da criao da nova Secretaria, se criou um GT no Ministrio da Sade para discutir essa prpria mudana interna, regimental. Acho que tem que ficar claro que, assim como h coisas que no esto claras para vocs, esse GT tambm uma

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    coisa nova e recente no Ministrio da Sade. Ns estamos com esse GT tambm fazendo a discusso interna da nova Secretaria, das novas atribuies e das recomposies dentro do prprio Ministrio porque tem algumas reas que vm de uma outra Secretaria para essa nova Secretaria e esse GT vai fazer isso. Ento, quando a gente for discutir especificamente, por exemplo, qual o entendimento que se tem dessa autonomia dos DSEIs, tanto do ponto de vista administrativo, como da prpria possibilidade de contratao, que vai ter que estar vinculada com o concurso e vrias outras aes, claro que ns vamos ter que fazer isso dentro da representao que existe no Conselho Nacional de Sade, nesse espao da CNPI e nos espaos regionais da CNPI, como o Frum Permanente etc. Eu acho que no tem, em nenhum momento, um desrespeito ao que foi conquistado e isso est dado e garantido.

    Jos Aro Marize Lopes povo Guajajara: Bom dia. A minha fala no vai ser diferente da fala dos parentes que me antecederam. Eu queria dizer que, de fato, o desenho do modelo de atendimento s comunidades indgenas um modelo que, se existisse na prtica, seria um modelo perfeito, com atendimento bsico l na aldeia, desenvolvido pelos Agentes Indgenas de Sade, mas, a verdade que isso no acontece na prtica e acaba trazendo toda essa demanda para as cidades mais prximas, at no caso do atendimento primrio. Eu no estou aqui querendo fazer um histrico da situao, mas preciso a gente lembrar um pouco disso tambm para chegar no ponto em que estamos hoje. Tem a questo da falta de apoio logstico l na ponta para os profissionais de sade; tem a questo do transporte; tem a questo de um termmetro que, s vezes, o profissional no dispe para executar suas aes bsicas l na comunidade; um anestsico para o dentista desenvolver suas aes l na comunidade; a questo da prpria comunicao, meios de transporte, insuficincia de medicamentos controlados e medicamentos de uso contnuo. Tem parentes morrendo no Brasil afora por falta de remdios para presso, medicamentos do dia-a-dia, medicamentos para doidos etc. L na regio do Graja do Arame, por exemplo, tem um ndio de 12 ou 13 anos que est amarrado direto porque no tem controle. um absurdo isso, mas real, est acontecendo l. Ento, que tipo de modelo o modelo perfeito para atendimento das nossas comunidades indgenas? Ns precisamos participar desse processo. Ns falamos isso sempre aqui e, s vezes, isso se torna at chato. Muitas vezes, o modelo feito pelos intelectuais talvez no seja o modelo ideal para atendimento das nossas comunidades indgenas. A Chiquinha foi feliz na sua fala ao ressaltar que a gente precisa sim participar desse processo.

    Como que fica o subsistema de sade nesse processo de mudana, indo l para o Ministrio da sade? Ele continua subsistema de sade? Os 34 Distritos Sanitrios Especiais Indgenas vo permanecer com a sua autonomia, que j foi prometida h muito tempo e que, alis, uma conquista do movimento indgena durante esse processo? Essa conquista vai ser respeitada?

    Na municipalizao das aes, ns temos muito medo que essas aes primrias, essas aes bsicas e outras aes sejam de fato repassadas para os municpios. Ns temos prefeitos pelo Brasil afora que recebem recursos da SAS para atendimento das comunidades indgenas e nunca os utilizaram. Temos governadores que so anti-ndios; temos prefeitos que, por questes fundirios e at por questes pessoais, no gostam dos ndios, no gostam de ver nossos parentes. Como que vai ficar esse

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    atendimento uma vez que essas aes forem municipalizadas? por isso que ns gostaramos de ter uma garantia de que essas aes no vo ser municipalizadas, que elas vo acontecer. Como que fica a relao da SAS com os municpios e a contratao desses profissionais com recursos da SAS. At agora, pelo menos no Estado do Maranho, eu desconheo que exista um contrato de profissionais, seja ele agente indgena de sade ou mdico. No tem contrato firmado nenhum. Como que ficam essas garantias? Agora, o profissional est contratado, amanh, ele no mais contratado porque o contrato s de forma oral, no existe nada no papel. Qual a prtica que ns vamos estabelecer para que isso acontea?

    Tem a questo do reconhecimento da categoria dos Agentes Indgenas de Sade e Agentes Indgenas de Saneamento. Ns temos os Agentes do PAC. Eles j tm a categoria reconhecida, mas nossos agentes indgenas de sade e agentes indgenas de saneamento no tm a categoria reconhecida. Ento, nessa mudana que vai ser feita, preciso que se pense um tratamento especfico para os Agentes Indgenas de Sade e Agentes Indgenas de Saneamento, para que ele de fato possa ter uma formao e capacitao adequada, para serem reconhecidos como profissionais na sua categoria. Hoje isso no existe. Assim como, a capacitao e qualificao de todo o profissional que for trabalhar na sade das comunidades indgenas, para eles terem um pouco de conhecimento de como lidar com a sade indgena, que diferente dessa loucura que a gente tem visto nos hospitais.

    Tem tambm a questo de qual o pensamento que o Ministrio da Sade tem em relao aos prprios Secretrios de Estado. Ns temos aes descentralizadas nos estados, como a questo da vacina, por exemplo. Como que o Ministrio da Sade pensa em lidar com os Secretrios Estaduais e Municipais da Sade? Como que isso visto dentro do Ministrio da Sade hoje? Precisamos de uma resposta. Temos povo s indgenas no Brasil em que as crianas ainda no foram vacinadas e quando a vacina chega, j com muito tempo de atraso.

    A ltima pergunta que eu fao a seguinte: Ser que daqui a 30 dias, dois meses, ou daqui a um ano, a nova proposta do governo, atravs de uma Minuta de uma Medida Provisria, no vai chegar na CNPI, mesmo que eu no esteja mais aqui, como uma proposta surpresa de municipalizao das aes de sade indgena? Essa a minha ltima pergunta. Ns temos muito medo disso. O nosso medo no de confrontar com o prefeito, mas porque est em jogo a sade de nossos filhos, de nossas mulheres, de nossos avs, de todo mundo. essa a pergunta que eu fao. Muito obrigado.

    Marcos Luidson de Arajo povo Xucuru: Bom dia a todos e a todas. Primeiro, eu queria dizer que a deciso tomada por parte do governo uma questo que, de fato, foge da nossa competncia em relao a esse Projeto de Lei. Como j foi dito pelos companheiros, so essas preocupaes que ns temos. Eu no vou repetir o que os companheiros j falaram, mas nesse processo de transio, de fato, ns precisamos acompanhar de perto, at porque, se trata de Projeto de Lei e ns no sabemos quanto tempo isso vai demorar dentro do Congresso Nacional. H toda uma correlao de foras contrrias. Pode ser que isso ocorra. Mas, quando isso vier a se concretizar, de fato, ns precisamos acompanhar

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    todas essas mudanas de transio. por isso que, quando ns colocamos a questo desse GT que foi pensado, porque ns precisamos compartilhar com isso. Da mesma maneira que compartilhamos a criao do Projeto de Lei da criao do Conselho Nacional de Poltica Indigenista. Ns dialogamos juntos governo, movimento indgena, bancada indgena e isso foi construdo coletivamente. Ento, por que no trabalhar isso tambm coletivamente? Essa uma pergunta que eu fao tambm.

    Quando o Aro fala da questo dos municpios, isso muito preocupante. A gente tem tratado dessa questo j h muito tempo, inclusive, dizendo no municipalizao, mas h algumas questo que fogem do nosso controle, at porque, os hospitais que atendem os povo s indgenas esto localizados nos municpios e eles recebem um incentivo fundo a fundo, que repassado do Ministrio. Agora, em relao questo da contratao de pessoal, dos profissionais, esse um questionamento que ns fazemos e temos trabalhado isso ao longo desses anos todos. H muitas situaes complexas. Por exemplo, em Pernambuco, especificamente em Jatob e Petrolndia, onde atendem o povo Pancararu, os prefeitos simplesmente chegaram para a FUNASA e disseram: A gente no quer atender ndio aqui no. A gente no quer contratar esses profissionais. A gente no quer saber desse negcio no. Ento, se tem um prefeito que sensvel causa, at que acontece a contratao de agentes de sade. Mas, e quando isso no acontece? Sem contar, que a gente estava discutindo na reunio passada a questo dos Termos de Pactuao que est ocorrendo nos municpios. Ns falamos sobre essa questo aqui na Comisso Nacional e as coisas vo acontecendo de tal maneira que, muitas vezes, a gente fica sem saber onde vamos parar. Ns temos muita clareza em relao a essa situao dessa proposta. Ns temos que participar efetivamente dela. Quando a gente trabalha a questo do fortalecimento dos DSEIs justamente na perspectiva que essas contrataes sejam feitas pelos prprios DSEIs, para que isso no fique merc das Secretarias Municipais, em que no temos garantia nenhuma dos profissionais. essa situao que ns temos batalhado e temos ten