69 clinica e arquetipo fabricio moraes

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Projeto Jung no Espirito Santo Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257) - Psicólogo Clínico de Orientação Junguiana, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Membro da International Association for Jungian Studies(IAJS) Atua em consultório particular em Vitória desde 2003. Contato: 27 – 9316-6985. /e-mail: [email protected]/ Twitter:@FabricioMoraes www.psicologiaanalitica.com 1 Arquétipo e Clínica (Participação em Mesa com o mesmo título no III congresso estadual de Psicologia junguiana Vitória, FAESA.) O tema de nossa mesa é arquétipo e clínica. É um temática interessante, e algumas vezes eu já me deparei questionamentos que sobre essa temática. Acredito que seja importante, nesse contexto, que relembrar um pouco sobre o conceito arquétipo ou mais propriamente a imagem arquetípica que comporta diferentes níveis de compreensão. Em sua forma mais fundamental, os arquétipos são padrões basais de organização psíquica, que possibilitam que sejamos psiquicamente humanos em toda parte do globo, independente da cultura. Esses padrões basais se manifestam, constelam ou se tornam presentes através de representações (que também chamamos de imagens arquetípicas), particularmente eu prefiro chamar de representações. Enfim, essas representações são atualizações dos arquétipos em nossa realidade. Mas, podemos citar outras representações como: - Complexos que são a atualização mais fundamental dos arquétipos, pois, organizam nossa experiência pessoal. - Símbolos pessoais e culturais especialmente percebidos em sonhos e eventos sincronísticos. Mitologias. - Representações corporais experiências no corpo, seja através de práticas como a yoga, biodanza ou mesmo analise bioenergética podemos notar constelações arquetípicas. - Atuação ou Acting-out Quando o individuo está invadido pela dinâmica arquetípica e inconscientemente passa a desempenhar o conteúdo típico deste

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  • Projeto Jung no Espirito Santo

    Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257) - Psiclogo Clnico de Orientao Junguiana, Especialista em Teoria e Prtica Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clnica e da Famlia (Saberes, ES). Membro da International Association for Jungian Studies(IAJS) Atua em consultrio particular em Vitria desde 2003. Contato: 27 9316-6985. /e-mail: [email protected]/ Twitter:@FabricioMoraes

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    Arqutipo e Clnica

    (Participao em Mesa com o mesmo ttulo no III congresso estadual de

    Psicologia junguiana Vitria, FAESA.)

    O tema de nossa mesa arqutipo e clnica. um temtica interessante, e

    algumas vezes eu j me deparei questionamentos que sobre essa temtica.

    Acredito que seja importante, nesse contexto, que relembrar um pouco sobre o

    conceito arqutipo ou mais propriamente a imagem arquetpica que comporta

    diferentes nveis de compreenso. Em sua forma mais fundamental, os

    arqutipos so padres basais de organizao psquica, que possibilitam que

    sejamos psiquicamente humanos em toda parte do globo, independente da

    cultura. Esses padres basais se manifestam, constelam ou se tornam presentes

    atravs de representaes (que tambm chamamos de imagens arquetpicas),

    particularmente eu prefiro chamar de representaes. Enfim, essas

    representaes so atualizaes dos arqutipos em nossa realidade. Mas,

    podemos citar outras representaes como:

    - Complexos que so a atualizao mais fundamental dos arqutipos, pois,

    organizam nossa experincia pessoal.

    - Smbolos pessoais e culturais especialmente percebidos em sonhos e

    eventos sincronsticos. Mitologias.

    - Representaes corporais experincias no corpo, seja atravs de prticas

    como a yoga, biodanza ou mesmo analise bioenergtica podemos notar

    constelaes arquetpicas.

    - Atuao ou Acting-out Quando o individuo est invadido pela dinmica

    arquetpica e inconscientemente passa a desempenhar o contedo tpico deste

  • Projeto Jung no Espirito Santo

    Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257) - Psiclogo Clnico de Orientao Junguiana, Especialista em Teoria e Prtica Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clnica e da Famlia (Saberes, ES). Membro da International Association for Jungian Studies(IAJS) Atua em consultrio particular em Vitria desde 2003. Contato: 27 9316-6985. /e-mail: [email protected]/ Twitter:@FabricioMoraes

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    arqutipo. Ou seja, o arqutipo se manifesta como uma dinmica psquica

    impessoal que conduz o ego.

    Devemos lembrar que tambm que Jung fez uma pequena distino entre os

    arqutipos. Haveriam os arqutipos de transformao no representavam uma

    dinmica prpria ou uma personalidade, mas, transformao. Estes no so

    personalidades, mas sim situaes tpicas, lugares, meios, caminhos, etc,

    simbolizando cada qual um tipo de transformao.( Jung, 2000a, p. 47) Por

    outro lado, temos os arqutipos que Jung chamou de personalidades por se

    comportar como personalidades autnomas, agregando a si toda uma narrativa

    tpica.

    Essas distines acerca das representaes arquetpicas so importantes para

    comearmos a pensar a relao do arqutipo com a clnica. De fato, os

    arqutipos constituem o pano de fundo de nossa realidade. No toca a clnica,

    uma representao arquetpica de transformao frequentemente compreendida

    o prprio espao da clnica, isto , o espao criado pela relao entre o

    terapeuta e o paciente - que muitas vezes, confundido com as quarto paredes

    do consultrio, mas, no restrito a uma sala. (p. ex. um ex.professor comentou

    a situao onde, ele chegou nunca clinica que ele atendia, ocorreu um problema

    com a chave, o paciente chegou, ele o levou para atende-lo na parte de cima da

    casa, junto a caixa dgua, sem maiores problemas. ) Esse espao arquetpico

    chamado de Temenos, ou o Vas vaso alqumico- um lugar protegido, onde

    a experincia do inconsciente pode ser vivida e compartilhada de forma

    protegida. Essa uma configurao arquetpica fundamental quando falamos

    em clnica.

    Mas, eu gostaria de focar uma outra perspectiva. Dentre as possibilidades de

    pensar as representaes arquetpicas na clnica junguiana, eu gostaria de

    pensar acerca das dinmicas arquetpicas que esto relacionadas atuao

    (acting out) do paciente no contexto clinico. De forma geral, atuao no muito

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    Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257) - Psiclogo Clnico de Orientao Junguiana, Especialista em Teoria e Prtica Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clnica e da Famlia (Saberes, ES). Membro da International Association for Jungian Studies(IAJS) Atua em consultrio particular em Vitria desde 2003. Contato: 27 9316-6985. /e-mail: [email protected]/ Twitter:@FabricioMoraes

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    comentada no contexto clinico junguiano, mas, ela nos apresenta como uma

    possibilidade no s diagnstica, mas, tambm de manejo clinico.

    Por no ser to comum, pouco se tem na literatura acerca desse dinamismo,

    mas, para pensarmos a atuao, podemos comear tangenciando as discusses

    de autores como Guggenbhul-Craig e Groesbeck sobre a dinmica arquetpica

    do curador-ferido. A concepo de Guggenbhul-Craig particularmente

    interessante pois, ele sugere que a dinmica arquetpica polar e, deveramos

    compreender os arqutipos a partir da relao de seus polos. Por exemplo, o

    curador ferido os polos seriam por um lado o ferido constelado no paciente

    que procura a terapia; e por outro o polo curador geralmente, fica inconsciente

    e passa a ser projetado no terapeuta. De fato, a dinmica do curador ferido, por

    trazer a dinmica da sade-doena, apresenta um pano de fundo tpico para o

    contexto clnico. Mas, o curador feriado, uma das dinmicas arquetpicas que

    podem ser consteladas. Arqutipos baseados sobretudo em relaes humanas,

    Me- Filho(a); Pai-filho(a); Mestre Aluno; Irmo-Irm; Homem-Mulher; Velho

    Jovem, dentre outros produzem a mesma situao na psicoterapia.

    importante percebermos que essas dinmicas ou representaes arquetpicas

    nos do pistas sobre a necessidade psquica do paciente. Vamos imaginar numa

    situao, em que um paciente que chega a fragilizado, despontencializado (sem

    vitalidade), com excesso de cobranas, relatando fracassos em suas relaes

    pessoais e afetivas, relatando episdios de agressividade e episdios de

    ansiedade e medo de se relacionar com as pessoas, sem cuidados consigo

    mesmo. Se formos por uma categoria diagnstica possvel chegarmos a uma

    hiptese de depresso. Mas, se tomarmos essas caractersticas por um lado,

    frente a postura do paciente, a forma como ele fala, o olhar, a sensao ou

    sentimento que surgem em ns mesmos, podemos chegar a uma imagem, isto

    , uma configurao impessoal do que o paciente em apresenta. Na situao

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    que eu citei, a imagem poderia ser de um heri que fracassou, de uma criana

    abandonada, de um velho. So inmeras as possibilidades.

    Cada uma dessas imagens que eu citei geram uma projeo especifica sobre o

    analista, isto , o polo complementar da dinmica. Caso o terapeuta no se

    aperceba disso, ficando inconsciente, ele pode ou atuar desempenhando

    contratransferencialmente esse polo, o que no positivo, pois, se o terapeuta

    esta inconsciente ele fica imobilizado pela inconscincia contratransferencial,

    no percebendo o desenvolvimento necessrio para o paciente. Pois, no caso

    de um dinamismo da criana abandonada, seria necessrio o acolhimento de

    uma grande me nutridora, mas, precisaria passar ao dinamismo do heri, e

    enfrentar sua individuao.

    Uma vez que o terapeuta tem conscincia da dinmica trazida pelo paciente ele

    pode aceitar ou NO o lugar que o paciente lhe coloca, assumindo uma postura

    mais adequada ou dinamismo arquetpico saudvel. Nesse caso, o terapeuta

    conscientemente encena o dinamismo arquetpico, possibilitando um dilogo

    saudvel com o inconsciente do paciente. Nesse sentido, que Jung fala que o

    terapeuta adequadamente treinado que faz de funo transcendente para o

    paciente, isto , ajuda o paciente a unir a conscincia e o inconsciente e, assim,

    chegar a uma nova atitude (JUNG, 2000b, p.6)

    Por outro lado, a compreenso dos dinamismos arquetpicos constelados, nos

    oferece um direcionamento para explorar a histria pessoal, pois, toda essa

    atuao do paciente vai nos remeter a um complexo, isto , a histria pessoal do

    paciente.

    Acredito que a compreenso da dinmica arquetpica fundamental para o

    terapeuta junguiano. Como no possvel esgotar o assunto com o nosso

    tempo, espero que sirva para reflexo futura. Bem, o tema de nossa mesa

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    arqutipo e Clinica um tema provocador, que levaramos um congresso para

    discuti-lo em toda sua amplitude.

    Obrigado.

    Referencias Bibliografias

    JUNG, C.G. Os Arqutipos e o Inconsciente Coletivo, Vozes, Petrpolis, RJ,

    2000b.

    JUNG, C.G.Natureza da Psique, Vozes, Petrpolis, RJ, 2000c