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SEGURANÇA PRIVADA:RESPOSTA ÀS NECESSIDADES DE SEGURANÇA PÚBLICAEM CONGLOMERADOS URBANOS?

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SEGURANÇA PRIVADA: RESPOSTA ÀS NECESSIDADES DE SEGURANÇA PÚBLICA

EM CONGLOMERADOS URBANOS?1/

LUCIA DAMMERT

Março de 2008

                                                        

1. Documento elaborado para o Departamento de Segurança Pública da Organização dos Estados Americanos.

Departamento de Segurança Pública 1

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As opiniões expressadas neste documento no refletem necessariamente a posição oficial da OEA ou de seus países membros.

Departamento de Segurança Pública 2

 

Resumo Executivo

O aumento da sensação de insegurança dos latino-americanos, assim como a generalizada percepção de ineficácia por parte das instituições encarregadas do controle e da prevenção dos delitos, gerou uma explosiva demanda de segurança privada. Assim, a indústria da segurança apresenta um crescimento alto e sustentado na última década em todos os países da região, crescimento que não foi acompanhado de uma regulação eficiente por parte do Estado. Muito pelo contrário, na maioria dos países nos encontramos com limitadas capacidades governamentais para monitorar a capacitação do pessoal, sua adequada contratação e os resultados de suas ações. Em alguns contextos a presença da segurança privada constitui um aumento potencial da demanda policial para casos vinculados inclusive a falsos alarmes. A multiplicidade de áreas onde se registra um aumento da presença de guardas, vigilantes, guarda-costas e monitores, entre outras figuras criadas pela indústria, é evidente. Mas não só os sujeitos privados contratam este tipo de segurança. Paradoxalmente, em muitos contextos é o Estado o principal demandante deste tipo de vigilância para seus diversos estabelecimentos.

Assim, o número aproximado de quatro milhões de cidadãos que trabalham nesse setor na região conta com limitada formação para a resolução pacífica de conflitos e ainda menor para a utilização efetiva de armas de fogo. A informalidade nesta indústria é também preocupante, já que se calcula que a metade deste pessoal não se encontra trabalhando com a proteção social que a lei reconhece. Muito pelo contrário, recebem salário mínimo e não contam com nenhuma proteção pessoal ou cobertura de saúde, doença ou morte.

Tudo isso permite afirmar que, embora a segurança privada possa colaborar na busca de melhores condições de vida nas principais cidades da região, é necessário avançar com mecanismos de regulação nacional e regional. As mesmas estabelecerão regras do jogo claras para todos os atores envolvidos, buscando proteger efetivamente a cidadania.

Neste sentido se destacam alguns passos urgentes nos quais a participação e colaboração da Organização dos Estados Americanos poderia ser crucial para enfrentar esta problemática:

Estabelecer com clareza a necessidade de quadros jurídicos regulamentados que estabeleçam processos e responsabilidades claras por parte da indústria e do setor governamental.

Avançar na consolidação de espaços governamentais (como superintendências) que regulem o investimento público em segurança.

Estabelecer um procedimento ou quadro normativo hemisférico que permita monitorar as atividades das indústrias transnacionais.

Ampliar requisitos de renda, capacitação e proteção social para os trabalhadores do setor.

Definir políticas públicas modelo que incorporem os avanços e práticas positivas desenvolvidas na região.

Estabelecer indicadores de acompanhamento e impacto das iniciativas desenvolvidas pelo setor.

Departamento de Segurança Pública 3

Introdução

O crescimento explosivo e pouco regulado da indústria de segurança privada é um fato que atravessa toda a região. O aumento do número de agentes privados em muitos países supera a dotação a cargo da segurança pública e inclusive ocorrem situações nas quais os agentes de segurança privada portam armas de maior calibre e melhor tecnologia que a polícia. A indústria cresceu de forma permanente, gerando enormes lucros que crescem exponencialmente. Isso per se não é um problema, mas os níveis efetivos de regulação, controle e avaliação da segurança privada são mínimos e até inexistentes. Em muitos países foram aprovadas recentemente leis que buscam gerar níveis de regulação da indústria, mas uma constante encontrada no estudo é a carência de mecanismos para realizar as tarefas e ferramentas definidas por lei. Mais grave ainda, em alguns países não há leis que indiquem os quadros jurídicos de ação da segurança privada.

As estimativas mais recentes consideram que há 4 milhões de pessoas contratadas pela indústria da segurança privada na região. Menos da metade deste pessoal estaria contratado legalmente,2/ cumprindo não só as normas do trabalho, mas também os seguros e prevenções necessárias para o pessoal que exerce este tipo de atividades. Embora a existência de múltiplas empresas de tamanho pequeno e médio seja uma constante nos diversos países da região, é também relevante a presença de empresas multinacionais com controle de segmentos especializados do mercado (transporte de valores, blindagem de veículos, guarda pessoal de alto nível) que se movem com aberta falta de controle governamental.

Mas não só de guardas particulares é feita a indústria da segurança. Um recente relatório das Nações Unidas enfatiza as “novas modalidades que apontam para uma indústria emergente e muito florescente de empresas militares e de segurança privada: a privatização da guerra”.3/ Desta forma, o relatório enfatiza sua preocupação com os "empreiteiros privados ou independentes" que teriam se convertido no primeiro produto de exportação de alguns países industrializados para zonas de conflito armado, entre as quais se destaca a América Latina.4/

A gravidade desta situação é reconhecida pelo Departamento de Segurança Pública da Secretaria de Segurança Multidimensional da Organização dos Estados Americanos (OEA), motivo pelo qual, auspiciado pelo Governo do Canadá, desenvolveu o presente primeiro estudo sobre esse tema para descrever a situação em diversos países da região, selecionando inicialmente um grupo de países representativo das distintas sub-regiões. Um segundo objetivo é contribuir para a definição de uma agenda que atribua especial ênfase à necessidade de Estados fortes que possam regular efetivamente indústrias cujo crescimento foi exponencial nos últimos anos. Neste esforço contou-se com a colaboração importante de diversos consultores que contribuem com sua própria experiência em seus respectivos âmbitos de trabalho sub-regional, assim como no olhar transversal da segurança pública e privada nas Américas. Para os casos centro-americanos (El Salvador, Guatemala, Honduras) incluídos neste estudo se contou com a colaboração de Armando Carballido. Nos países andinos (Peru, Equador e Colômbia) o trabalho de coleta de informação nacional esteve a cargo de Daniel Pontón. Os relatórios nacionais dos países do Cone Sul (Argentina, Brasil e Chile) foram

fferata. Finalmente, a colaboração de Sheridon Hill, de Trinidad e desenvolvidos por Fernando Ca

                                                        

2. Como se menciona em diversos documentos, é importante comparar este número com os 690 mil guardas registrados na Europa

4. http://www2.ohchr.org/spanish/issues/mercenaries/annual_reports.htm

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Tobago, foi vital para a consolidação de informação comparada para os casos do Caribe (Trinidad e Tobago, Jamaica e Barbados), onde não se elaboraram relatórios, mas se privilegiou a recuperação de informação regional.

A multiplicidade de situações encontradas em cada contexto nacional, especialmente a limitada presença de informação oficial, limita a realização de análises comparadas que permitam delinear a problemática no nível regional e mesmo sub-regional. Assim, a seguir se apresentam os principais resultados dos estudos de caso, enfatizando aquela informação que reveste maior urgência para ser levada em conta na definição de políticas hemisféricas que fortaleçam o papel do Estado na regulação da indústria e gerem âmbitos de trabalho que possibilitem o fortalecimento da indústria no contexto do Estado de direito. I. Análises nacionais Argentina

O marco regulatório da segurança privada tem as complexidades inerentes a toda legislação própria de um país federal. Na República Argentina existem 24 províncias e a cidade autônoma de Buenos Aires; cada uma destas jurisdições possui um ordenamento específico na matéria. Sua importância estratégica radica em que a atividade pode ser considerada privada, mas de interesse público. Ao não ser depositária de nenhuma delegação por parte das autoridades públicas, as empresas em geral entendem que seu contexto passa a ser um negócio privado, embora também entendam que se geram obrigações de colaborar com a autoridade pública. Na Argentina há cerca de 2 agentes de segurança privada para cada policial, motivo pelo qual o setor não tem o tamanho desproporcional que alcança em outros países. A importância do setor se vincula ao seu tamanho e crescimento; no entanto, não há políticas ativas a esse respeito.

Os serviços de segurança privada nas últimas décadas mostram um marcado aumento em todos os segmentos, sobressaindo o da segurança eletrônica, com uma taxa de cerca de 20-25% ao ano. A oferta de segurança privada vem de empresas que raras vezes superam os 10 anos de antiguidade. Em sua maioria são pequenas e médias empresas (PME) de aproximadamente 100 empregados ou menos, sendo muito poucas as empresas que têm entre 1.000 e 5.000 empregados.5 Segundo dados da Câmara Argentina de Empresas de Segurança e Investigações (CAESI), existem cerca de 1.200 empresas de segurança no país.6/ Estas empresas empregam aproximadamente 110.000 guardas de segurança (2006); estima-se que em 2008 há 140.000 guardas privados de forma legal (80% se encontram entre a Capital Federal e a província de Buenos Aires) e aproximadamente entre 75.000 e 110.000 guardas empregados de forma ilegal.

Todo este cenário marca, além disso, a necessidade de contemplar formas devidamente reguladas de capacitação deste pessoal. O anexo II do Decreto 1002/99 estabelece que os cursos de capacitação devem durar um total de 100 horas; segundo essa norma, o currículo deve incluir noções legais, primeiros socorros e armas e tiro. A capacitação só pode ser ministrada por Centros de

                                                        

5. Frigo, Edgardo. Seguridad Privada en Latinoamérica: Situación y Perspectivas. Mimeografado. 2006. Pág. 7

6. A distribuição das mesmas é de aproximadamente 350 na Cidade de Buenos Aires e 430 na Província de Buenos Aires. No resto das províncias, a quantidade de empresas é menor.

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Capacitação para Vigilantes, ainda que a Secretaria de Interior do Ministério do Interior, o RENAR e as autoridades jurisdicionais designadas possam organizar cursos.7/

Os guardas de segurança são civis regidos pela lei nacional de porte de armas (Lei 20.429). A lei nacional discrimina três tipos de armas de fogo: as armas de guerra, armas de uso civil condicional e as armas de uso civil. Cada uma destas tem um “legítimo usuário”. As armas de guerra têm como legítimo usuário majoritariamente as polícias de segurança e membros das forças armadas. No entanto, sendo um legítimo usuário das armas de uso civil condicional, pode-se ter acesso às armas de guerra. Os usuários de armas de uso civil condicional são os habitantes de regiões com escassa vigilância e outros habitantes, aqueles dedicados à caça, associações de tiro, membros de associações de tiro, embarcações e aeródromos, instituições (jurídicas, bancárias e comerciais) que têm um material classificado como de “uso especial” e “uso civil condicional.” A informação oficial mais recente8/ data do final de 2004: 626.000 eram legítimos usuários, dos quais 11.087 usuários de armas registrados no RENAR eram usuários coletivos (agências de segurança, empresas de segurança, bancos, etc.). Os números da CAESI indicam que cerca de 5% a 6% dos 140.000 guardas realiza serviços armados, fundamentalmente ligados à custódia de valores ou mercadorias e custódias pessoais.9/

O organismo encarregado de levar adiante a tarefa de coordenação e supervisão da atividade de segurança privada no nível nacional é a Secretaria de Segurança Interior e o RENAR.10/ Por sua vez, esta entidade faz um registro das pessoas físicas e jurídicas que tenham obtido a habilitação outorgada pelas autoridades de jurisdições locais para a prestação de serviços de segurança privada. As autoridades locais designadas nas respectivas jurisdições têm a responsabilidade primária de habilitar, fiscalizar e controlar as pessoas físicas ou jurídicas que prestam serviços de segurança privada.11/ O RENAR, através de seu Banco Nacional Informatizado de Dados, é o organismo encarregado de fazer o registro da totalidade das pessoas físicas ou jurídicas que tenham obtido a habilitação para prestar serviços privados de segurança e custódia, bem como da totalidade de suas armas de fogo, veículos blindados, coletes à prova de bala e demais materiais controlados pela Lei 20.429.12/ A norma nacional presente no Decreto 1002/99, artigo 4, estabelece: “as pessoas que prestam serviços de segurança privada e custódia estarão obrigadas a colaborar com as forças de segurança e demais forças policiais da Nação e dos Estados provinciais, não podendo em nenhum caso substituí-las nem interferir em suas funções específicas, devendo prestar-lhe auxílio e seguir suas instruções com relação às pessoas e/ou bens de cuja segurança estiverem encarregadas.” Por sua vez, esta norma,

devem levar ao conhecimento da autoridade policial ou judicial em seu artigo 5, estabelece que

                                                        

7. Para poder funcionar como Centro de Capacitação de Vigilantes, a regulamentação contempla que se deve possuir inscrição no RENAR de usuários coletivos ou associações de tiro, espaço físico para administrar classes teóricas e polígono de tiro habilitado. Podem aspirar a este tipo de funcionamento as empresas de segurança (transporte de valores ou de vigilância), as associações de tiro e os institutos de ensino cujo objetivo social contemple atividades de capacitação

8. DNPC, Ministério de Justiça e Direitos Humanos. Relatório Preliminar sobre dados oficiais existentes em matérias de armas de fogo.

9. Documento redigido pela CAESI para esta pesquisa. 10. Decreto 1002/99. 1999. Boletim Oficial da República Argentina. Art. 2. 11. Decreto 1002/99. 1999. Boletim Oficial da República Argentina. Art. 2. 12. Decreto 1002/99. 1999. Boletim Oficial da República Argentina. Art. 2.

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correspondente, de forma imediata, todo ato delituoso do qual tomem conhecimento. Em termos reais não existem mecanismos de coordenação com as forças de segurança no momento.

Entre os requisitos para obter um certificado de habilitação para operar como funcionário de segurança privada de acordo com o artigo 7 da lei 1002/99, é necessário: “Não constar como pessoal em atividade em alguma força armada, policial, de segurança, organismos de informação e inteligência e/ou dos serviços penitenciários.” Portanto, os funcionários policiais em atividade estão proibidos de exercer atividades de segurança privada.13/ No caso de policiais e militares aposentados, 25%14/ dedicam-se especialmente a atividades de supervisão e custódia.15 Em algumas províncias, como a de Buenos Aires, se proíbe a contratação de policiais e militares aposentados ligados às tarefas de repressão da última ditadura militar.

Com relação às sanções, as mesmas devem ser analisadas em detalhe conforme as províncias, já que variam muito em tipos e montantes. Em termos gerais, a maioria dos atores relevantes entrevistados mencionaram que a regra em termos das sanções é legislar multas “impagáveis” e, portanto, “inaplicáveis.” Brasil

A Lei 7.102 sobre segurança privada, sancionada em junho de 1983 – quando ainda estava em vigência o governo militar – regula aspectos correspondentes ao funcionamento formal da vigilância privada em estabelecimentos financeiros e em empresas de transporte de valores; enumera as empresas autorizadas a prestar serviços de vigilância privada; os requisitos que devem cumprir para ser habilitadas; os requisitos para converter-se em vigilante; a capacidade de porte de armas dos guardas; sanções para empresas que não cumprem esta regulação, etc. Vários destes postulados foram resultado das modificações introduzidas pelas leis 8.863 e 9.107 (de 1995).

Atividades de segurança privada consideradas: (1) a vigilância patrimonial de instituições financeiras ou de outros estabelecimentos, assim como a segurança de pessoas físicas; (2) realizar o transporte de valores ou garantir o transporte de qualquer tipo de carga. Estas duas são as modalidades cuja regulação está mais desenvolvida na legislação vigente. Os requisitos que uma empresa deve cumprir para entrar em funcionamento estão especificados no artigo 20 desta lei. A autorização deve ser outorgada pelo Ministério da Justiça ou por convênio deste com as Secretarias de Segurança Pública dos Estados da União. Finalmente, o artigo 23 menciona uma variedade de atos de sanção possíveis para as empresas que não cumprirem a legislação citada, mas não especifica qual corresponderia a que tipo de infração, somente que devem ser aplicadas “de acordo com a gravidade do caso.” A legislação não menciona especificamente se os vigilantes de empresas privadas podem ser contratados por instituições públicas, fato que se tornou muito comum.

Dados da Federação Nacional de Empresas de Segurança e Transporte de Valores (FENAVIST) revelam que o setor faturou cerca de US$3 milhões em 2005, marcando um crescimento de 12% com respeito aos valores do ano anterior. O crescimento deste setor não se

os seus ramos. As atividades de vigilância experimentaram uma produziu igualmente em todos

                                                        

13. Decreto 1002/99. 1999. Boletim Oficial da República Argentina. Art. 2. 14. Relatório escrito da Câmara Argentina de Empresas de Segurança Privada e Investigação. (CAESI) 15. Relatório escrito da Câmara Argentina de Empresas de Segurança Privada e Investigação. (CAESI)

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diminuição no ritmo de crescimento, passando de 6% em 2002 e 3% em 2003 a uma redução do crescimento em 2004.

Durante 2006 havia no Brasil 2.538 empresas de segurança privada registradas e autorizadas pelo Ministério da Justiça. Também constava a habilitação de 5.045 automóveis blindados preparados para o transporte de valores ou cargas. Duplicou o número de vigilantes registrados entre 2000 e 2004, enquanto o número de empresas também cresceu significativamente.

Desta mesma fonte se extrai que em 2006 havia mais de um milhão e trezentos mil vigilantes registrados, dos quais só 333.720 estavam trabalhando. De toda maneira, deve-se esclarecer que o número de guardas privados difere em várias análises, já que depende da fonte que difunde o dado. Por exemplo, o Fórum de Segurança Latino-Americana sustenta que há 570.000 guardas registrados no Brasil. Estes dados são similares aos divulgados pelo Ministério do Trabalho do Brasil, contidos no Relatório Anual de Informações Sociais, que propõe um número de 576.600 trabalhadores deste setor – com empregos formais, claro –, dos quais 5,6% são mulheres e 94,4%, homens. Deste contingente, a região Sudeste reúne aproximadamente 80% da força de trabalho do segmento. São Paulo é o estado com a maior porcentagem de guardas privados do país: 46,2%.16/

No Brasil se proíbe a atuação de policiais civis e militares como agentes de segurança privada. Igualmente, é um fato conhecido que vários trabalham desta forma em empresas de vigilância clandestinas, que não transitaram pelo processo necessário para obter o registro como empresa por parte do Ministério da Justiça.17/ Chile

A regulação chilena entende por segurança privada “o conjunto de ações realizadas por pessoas ou organismos que têm por objetivo a proteção de pessoas ou bens, próprios ou entregues à sua custódia dentro do âmbito em que desenvolvam sua atividade, conforme as normas legais e regulamentadoras. Também são consideradas dentro do campo da segurança privada as atividades de vigilância, supervisão, capacitação ou comercialização, sempre se adequando às normas que regulam a matéria.”18/ A norma que estabelece as bases da segurança privada no Chile é o Decreto-Lei 3.067,19/ de 1981;20/ no entanto, atualmente não existe uma “lei” de segurança privada, mas uma de “vigilantes privados.”21/ Este decreto-lei estabeleceu as bases para o funcionamento dos vigilantes

lificação das empresas de segurança privada. As deficiências da rivada são múltiplas, entre as quais se destaca em primeiro lugar que

privados no Chile e para a quanorma no âmbito da segurança p

                                                        

16. Melo, Jorge. Op.cit. P.38. 17. Jorge Melo conta que, em São Paulo, a maioria das agências bancárias com alto risco de ser assaltada

possui um serviço clandestino de vigilância denominado “mão branca”, que consiste na colocação de policiais fora de serviço nas imediações do local, portando rádio e armamentos e vigiando a ocorrência de qualquer episódio suspeito. Isto constitui uma dupla violação da legislação vigente, já que não só se contrata um policial para atividades de vigilância privada, mas ele exerce a atividade na via pública e não dentro do estabelecimento que o contrata, como deveria ser.

18. Directiva de Organización y Funcionamiento de la Subdisepricar. Pág. 1 19. Existem várias leis laterais relevantes; entre elas, duas se destacam. A primeira delas é a Lei N° 19.329,

que outorga autoridade fiscalizadora aos Carabineros do Chile. A segunda das leis tem a ver com os direitos humanos dos consumidores dos serviços de segurança privada (Lei N°19.496).

20. As normas que regulam a segurança privada estão no Anexo 3 deste trabalho. 21. Entrevista com Jorge Lee.

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a norma é obsoleta, já que a realidade difere consideravelmente da realidade para a qual foi criada. A segunda deficiência é a quantidade de normas que devem ser levadas em conta. Como conseqüência, existe um conjunto de atividades não reguladas, por exemplo, os investigadores privados, as escoltas (guarda-costas), os motoristas de segurança e os serviços de proteção de pessoas importantes, entre outras. A força da norma vigente é a capacidade de alinhar incentivos e distribuir os custos no âmbito da segurança privada. No Chile as empresas de segurança privada estão proibidas de ter ou oferecer vigilantes de segurança privada armados.

A norma contempla uma infração penal severa por oferecer esse tipo de serviço (Art. 5 Bis da Lei 3.067). Desta forma, alinha os incentivos dos agentes privados para dissuadi-los de oferecer ou fornecer serviços que não estão permitidos. Por causa desta proibição, o pessoal armado deve ser contratado diretamente pela empresa que o solicita, ou deve tê-lo obrigatoriamente por lei (como as instituições bancárias ou financeiras de qualquer natureza, as entidades públicas, as empresas de transporte de valores, as empresas estratégicas e alguns serviços de utilidade pública22/). Como resultado, o pessoal armado (vigilante) é empregado da empresa na qual presta serviços. Isto outorga uma responsabilidade muito maior à empresa que necessita do serviço a respeito das ações do vigilante privado.

Os Carabineros autorizam o serviço, dependendo do trabalho que devam desenvolver. Estes vigilantes devem ser contratados diretamente pela empresa que solicita o serviço. Esta norma também sanciona de maneira severa, tanto economicamente como penalmente, o oferecimento de serviços de segurança privada armada. Por outro lado, a Lei 19.303 obriga as empresas comerciais que tenham mais de 500 Unidades de Fomento (US$20 mil) e os estabelecimentos de vendas de combustível ao público a contratar no mínimo serviços de “guarda privado”. Os guardas de segurança realizam os trabalhos de vigilância, geralmente para terceiros por parte de uma empresa de recursos humanos que presta o serviço. Também podem ser pessoal próprio da mesma empresa que necessita do serviço. Estes agentes não estão autorizados a portar nenhum tipo de arma e devem vestir uniforme se a autoridade fiscalizadora solicitar.23 Esta lei obriga os encarregados das medidas de segurança a colaborar com a prevenção de delitos e com a segurança dos usuários e clientes. Além disso, a norma é explícita com respeito à proibição de oferecer serviços de vigilância armada sob pena de reclusão e fortes sanções econômicas.

O mercado da segurança privada nos últimos 10 anos teve um crescimento explosivo, mas em termos comparativos o tamanho do mercado é menor que na maioria dos países da região, com um faturamento de US$716 milhões em 2006; 70% da demanda se compõem de empresas industriais, comércio e particulares. Apesar disso, deve-se assinalar que um grande consumidor de serviços de segurança privada são os lacres oficiais.

Em 2005 existiam mais de 1000 empresas24/ e estima-se que na atualidade existam cerca de 1.400. Em sua grande maioria (75%) estas empresas são de recursos humanos (guardas de segurança). Em sua maioria são microempresas ou pequenas empresas. As empresas de segurança com um

                                                        

22. Artigo 3º do Decreto Lei 3.067 23. Entrevista com Óscar Gutiérrez, Chefe da Unidade de Segurança Privada, Ministério do Interior do

Chile. 24. Leemira Consultores. 2006. P. 83.

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quadro de pessoal que varia entre 5.000 e 1.000 empregados são muito poucas. De fato, em 2005, 40% das empresas de guardas de segurança privada tinham menos de 100 empregados.25/

As estimativas oficiais26/ indicam que atualmente há cerca de 73.000 guardas de segurança; assim, a tendência de crescimento na prestação deste serviço continua sendo de aproximadamente 20% ao ano. Deve-se levar em conta que também existe uma grande quantidade de guardas de segurança que prestam serviços diretamente, não por meio de empresas de recursos humanos. No início de 2004, os guardas contratados diretamente eram cerca de 10.769,27/ enquanto em 2005 eram em torno de 16.660.28/ Se também levamos em conta que aproximadamente 10% dos guardas não estão credenciados na OS-10, no total pode-se afirmar que existem aproximadamente 2,5 guardas por carabinero.

A possibilidade de portar armas no âmbito da segurança privada está reservada somente ao âmbito dos vigilantes privados. A Lei 17.798 regula esta matéria. As armas autorizadas são revólveres até o calibre 38, pistolas 9 mm (geralmente usadas pelas transportadoras de valores) e espingarda calibre 12. Também se restringem as cargas por arma; normalmente são duas cargas por arma.29/ O uso da arma somente é regulado no lugar de trabalho. Os Carabineros, como autoridade fiscalizadora, outorgam permissão para ter pessoal armado ou não armado, dependendo do trabalho específico que devam desenvolver.

As autoridades encarregadas de monitorar as empresas de segurança privada são as autoridades fiscalizadoras segundo a norma vigente; são quatro. A principal autoridade fiscalizadora são os Carabineros, que têm uma subdireção de área para a segurança privada (o que é um nível institucional bastante alto).30/ Esta subdireção, também conhecida como OS10, realiza a fiscalização de 95% das atividades e empresas de segurança privada realizadas no Chile. No entanto, algumas empresas de segurança privada prestam seus serviços em territórios que são jurisdição de outras instituições, motivo pelo qual corresponde às mesmas serem as autoridades fiscalizadoras. Se uma empresa presta serviços na jurisdição da Marinha Chilena, estas empresas são fiscalizadas por um organismo da Marinha chamado “DIRECTEMAR” (Direção Geral de Território Marítimo e Mercante). Geralmente estas empresas privadas de segurança oferecem atividades fundamentalmente nos portos. Por outro lado, se prestam serviços na Jurisdição da Força Aérea, o organismo encarregado da fiscalização é a Direção Geral da Aeronáutica Civil (DGAC). Isto ocorre com as empresas cujas atividades de segurança privada se desenvolvem nos aeroportos. Podemos dizer que a Direção Geral de Mobilização Nacional (DGMN) realiza funções de fiscalização. A DGMN é um organismo pertencente ao Exército, que é o único autorizado a outorgar permissões para portar armas.

A avaliação das empresas de segurança privada também é feita em sua maioria pelos ituras de Carabineros autorizam os “estudos de segurança”Carabineros do Chile. As Prefe 31/ e as

                                                        

25. Leemira Consultores. P.19. 26. Estão presentes num Relatório do Ministério do Interior, mas não são públicas devido ao fato de que

estão sendo utilizadas para a redação da norma. 153 Leemira Consultores. P. 6. 28. Leemira Consultores. P. 17. 29. Entrevista com Óscar Gutiérrez, Chefe da Unidade de Segurança Privada, Ministério do Interior do

Chile. 30. Entrevista com o Dr. Fernando Martínez, Investigador do CESC. 31. Decreto-Lei 3.607. Art. 3

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diretrizes de funcionamento das empresas e periodicamente fazem visitas aos locais onde se realizam as atividades da empresa de segurança privada. Os Carabineros produziram o “Manual de Organização e Funcionamento do Sistema de Segurança Privada,” que outorga a autorização para o funcionamento dos consultores. Os Carabineros também outorgam a aprovação dos programas, planos e matérias de cada um dos cursos para ser vigilante privado, aprovam as diretrizes de funcionamento de guardas de segurança e outorgam credenciais de guardas de segurança e vigilantes.32/ Na atualidade, os Carabineros estão avançando na fiscalização em forma de auditoria. Mediante este mecanismo, os Carabineros se instalam na empresa e verificam num lapso de tempo todas as atividades que ali se realizam em matéria de segurança, complementando com o controle de outros serviços públicos que devem estar em dia, como os encargos trabalhistas e tributários.

A capacitação dos guardas é realizada com base num Manual de Capacitação formulada pelos Carabineros do Chile;33/ no entanto, esta capacitação é fornecida por empresas privadas de capacitação com uma duração de 90 horas para os guardas de segurança e 100 horas para os vigilantes. A diferença é produto da capacitação para o manejo de armas. O currículo de capacitação é padrão e a cada dois ou três anos os guardas devem fazer um retreinamento e uma capacitação em segurança.

As denúncias em caso de sanção são realizadas pelos Carabineros principalmente (ainda que qualquer das outras três autoridades fiscalizadoras possa fazê-lo) e dirigidas ao Tribunal da Polícia Local.34/ Esta judicatura se encarrega de questões que “não são estritamente delitos,” mas que poderiam sê-lo (faltas, acidentes de trânsito, etc.). O Tribunal da Polícia aplica as sanções contempladas nas normas, que são muito onerosas em termos monetários. No entanto, estes juizados estão ultrapassados e não têm nenhum tipo de especialização no tema. Em conseqüência, a proporção de ações contra a segurança privada que termina em sanções é baixa. Com a atual lei, se a empresa cumpriu a infração, o Juiz pode inclusive deixar sem efeito a sanção. Equador

No Equador, o número de vigilantes registrados oficialmente em 2005 era de 40.368, que se iguala aos 42.610 policiais nacionais existentes neste mesmo ano (não se leva em conta o setor informal, sobre o qual não se tem dados quantificáveis, ainda que segundo algumas estimativas o número chegue a 80.000 efetivos). Por outro lado, a taxa de crescimento das empresas de segurança privada teve uma variação considerável desde 1995. O número acumulado de entidades registradas na Superintendência de Companhias em 1990 era de 54, número que corresponde a uma taxa de 0,56 empresa por cada cem mil habitantes. Em 1995, o número cresceu para 163 companhias e a taxa praticamente triplicou, chegando a 1,52. Entre 1995 e 2000 a medida duplicou para 3,28 e, a partir desse período, o número de empresas cresceu em 117% pelos seguintes seis anos, até chegar a 849 empresas registradas em 2006. A taxa aumentou de 3,28 companhias em 2000 para 6,29 em 2006.

A segurança privada no Equador compreende não somente os guardas privados, mas uma que têm a ver com a segurança eletrônica mediante alarmes, série de atividades ou serviços

                                                        

32. Decreto Supremo Nº 93. 33. Entrevista com Óscar Gutiérrez, Chefe da Unidade de Segurança Privada, Ministério do Interior do

Chile. 34. Entrevista com Óscar Gutiérrez, Chefe da Unidade de Segurança Privada, Ministério do Interior do

Chile.

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monitoramento de alarmes e sistemas de videovigilância, transporte de valores e mercadorias, blindagem de edifícios, consultorias e auditorias de segurança, transporte de valores, segurança industrial, saúde ocupacional, capacitação em segurança, condutores de segurança, protetores e escoltas, comercialização de armamento, munições e equipamentos de segurança, investigações, segurança de cães adestrados, entre outras. Todas estas modalidades estão dirigidas a um amplo mercado que inclui empresas, instituições públicas, bairros, condomínios, casas, indivíduos, etc.

Cabe destacar que o Equador não dispõe de uma entidade única de controle que regule esta atividade. Em 2003 o Congresso Nacional aprovou a Lei de Segurança Privada, a qual estabelece que o controle do funcionamento destas companhias estará dividido entre várias instituições; porém, até esta data não se dispõe de um regulamento sobre companhias de segurança privada, pois este encontra-se ainda no Congresso Nacional para sua aprovação. O regulamento existente caiu em desuso a partir da aprovação da Lei de Segurança Privada em 2003. Tudo isto dificultou a delimitação das competências e responsabilidades das instituições que controlam esta atividade, o regulamento de seleção e características do pessoal e as entidades encarregadas da capacitação de funcionários.

Segundo dados da Superintendência de Companhias sobre 2006, as 444 empresas que notificaram atividade a esta instituição obtiveram rendimentos de cerca de US$4 milhões com ativos superiores a US$55 milhões. Uma boa forma de ver também o crescimento econômico é através da arrecadação fiscal. Segundo os Serviços de Receita Interna (SRI), esta atividade registrou arrecadações de impostos diretos e indiretos de US$3 milhões em 2000, enquanto que em 2006 subiu para US$11 milhões.35/ Isto implica um incremento de 249,4% em cinco anos e uma taxa de crescimento anual de 28,4 %.

Frigo (2003) nos diz que muitas destas companhias se iniciaram de modo semelhante; isto é, começaram como negócios familiares a partir de que um ou mais funcionários provenientes das forças públicas de segurança (Forças Armadas e Polícia Nacional) se aposentaram (às vezes antes disto) e iniciaram suas empresas. Embora não existam dados que ratifiquem esta afirmação no caso equatoriano, o Regulamento das Organizações de Segurança Privada emitido em 1998 estipula que na ata constitutiva das companhias deve constar ao menos um ex-membro das forças da ordem pública entre os sócios fundadores.36/ Por outro lado, este mesmo regulamento estabelecia que 25% do pessoal contratado por estas companhias deviam ser ex-integrantes da força pública. É difícil também corroborar quantitativamente esta afirmação; no entanto, entre os requisitos indispensáveis para a contratação do pessoal, está o de haver cumprido o serviço militar obrigatório. Este requisito, sem dúvida alguma, além de garantir a presença de pessoal mais preparado nas companhias (no manejo e uso de armas, conhecimento de estratégias de dissuasão, etc.), é um fator que reduz os custos de

final do produto.capacitação que incidem no preço 37/

                                                        

35. Ainda que não se possa inferir o tamanho real do mercado dos guardas privados com os dados do SRI, estes nos dão uma amostra do crescimento geral existente, pois os impostos são considerados um termômetro da realidade comercial do país. Tampouco se pode dizer que as empresas declaram por si sós essa quantia de dinheiro, pois este item envolve impostos indiretos. No entanto, este valor nos dá uma perspectiva do mercado em geral dos guardas privados no Equador.

36. Embora este regulamento esteja em desuso atualmente, o Congresso Nacional ainda não aprovou um novo. Isto faz com que o velho regulamento esteja vigente mais por costume que por direito próprio.

37. Com esta afirmação não se quer dizer que os membros da força pública no Equador façam trabalhos de segurança privada como atividades complementares a seu trabalho cotidiano, pois as leis e

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Segundo Lalama (2007), no Equador os setores que majoritariamente contratam segurança privada são os organismos públicos, seguidos das grandes corporações. Depois se encontram as médias e pequenas empresas e pessoas em particular. Por sua vez, estes clientes são cada vez mais exigentes quanto aos serviços profissionais demandados; isso implica inclusive sua terceirização (companhias de treinamento de pessoal, monitoramento de armas e certos dispositivos tecnológicos), com o objetivo de cumprir as exigências. Por esta razão, unicamente as grandes companhias de segurança transnacionais e algumas empresas nacionais fortes estão em condições de competir neste ramo, devido ao alto investimento necessário para proporcionar tais serviços.

A política de barateamento de custos gerou um aumento no número de companhias ou pessoal não regularizado oficialmente. O SRI notifica que até 2005 havia 2.310 RUC (Registro Único de Contribuintes) abertos a título desta atividade,38/ dos quais 892 empresas e 1.418 pessoas físicas que poderiam oferecer os serviços deliberadamente e sem controle algum. Neste sentido, no país são freqüentes as denúncias pelos precários equipamentos que muitas empresas utilizam (armas, coletes à prova de balas, entre outros), assim como são recorrentes as denúncias por negligência no uso dos mesmos, as quais se realizam pelos abusos, cumplicidade com a delinqüência, etc. Isto de certa forma pode ser causado pela tendência do barateamento de preços e informalidade do serviço existente.

Este precário serviço oferecido por muitas empresas formais e informais se complementa com o fato de que existe uma escola de treinamento e capacitação para guardas privados denominada Instituto de Capacitação em Segurança Integral (INCASI) a cargo da Associação Nacional de Empresas de Segurança Integral (ANESI). No entanto, a Lei de Segurança Privada não exige que as empresas que prestam este serviço capacitem seu pessoal previamente numa instituição de formação. Isto também se deve à ausência de regulamento. Da maioria das empresas registradas somente um número muito pequeno realiza esta atividade que está dirigida claramente a supervisores.

Por último, as empresas de segurança privada são as que registram o maior número de permissões outorgadas para o porte de armas por parte do COMACO depois dos civis. No entanto, o ritmo de crescimento (160% em média de crescimento anual) deste tipo de permissões entre 2002 e 2005 é mais elevado que de outras atividades. Isto demonstra sua importante influência na introdução e uso de armas de fogo no Equador, o que constitui um elemento importante a ser levado em conta nas políticas públicas de segurança cidadã e pública no Equador. Colômbia

A história da segurança privada na Colômbia teve suas bases no negócio de transporte de valores em décadas passadas. Até 15 anos atrás esta atividade permaneceu mais ou menos regulada por parte da Polícia Nacional da Colômbia. Em 1993 foi criada a Superintendência de Segurança e Vigilância Privada como entidade de controle desta atividade econômica.

                                                                                                                                                                            

regulamentos policiais não o permitem. Tampouco se viram contratos institucionais da Polícia Nacional com empresas privadas para prestar serviços de segurança privada. O que sim se viu é que a polícia manteve contratos com instituições públicas para prestar serviços de segurança a essas instituições.

38. Atividades de vigilância e proteção que são realizadas por pessoal empregado para proteger pessoas ou propriedades, através da patrulha de ruas, ou como guarda-costas, guardiões e vigias noturnos para edifícios de apartamentos, escritórios, fábricas e obras.

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Segundo o artigo 3 do mesmo estatuto, os serviços de vigilância e segurança privada de que trata o artigo anterior somente poderão ser prestados mediante a obtenção de licença ou credencial expedida pela Superintendência de Segurança Privada (Supervigilância), com base em poder discricionário, orientada a proteger a segurança cidadã. Também terá o poder para cancelar a licença ou credencial definida.39/ Organicamente, a Superintendência está subordinada diretamente à Presidência da República, mas adscrita ao Ministério de Defesa. Esta instituição realiza ações compartilhadas com a Polícia Nacional para o controle das empresas de vigilância e segurança.

A partir de 1994 começa a aumentar o número de empresas de vigilância e segurança privada registradas, passando de um total de 763 empresas a 3.813 no ano 2001; isto é, um crescimento de 400%. Nos anos seguintes o número de empresas tem uma ligeira queda; no entanto, em 2007 foram registradas 3.511 empresas.40/

Este crescimento também se refletiu no pessoal empregado nas empresas de vigilância e segurança privada. Em 2007, conforme estimativas da Supervigilância, superou-se a cifra de 170.000; isto é, excede em 30 mil homens os efetivos da Polícia Nacional.41/

No que diz respeito ao mercado, o setor de vigilância e segurança privada na Colômbia notificou em 2006 uma receita de mais de um bilhão de dólares. Deste total, as empresas armadas recebem 76%, seguidas muito abaixo das empresas de valores com 11,75% .42/

A permissão de porte de armas das empresas de vigilância e segurança privada é dada pelo Departamento de Controle, Comércio de Armas, Explosivos e Munições do Ministério da Defesa sob o aval da Superintendência de Vigilância e Segurança Privada. Esta permissão de armas é dada às empresas diretamente e não ao pessoal. O número de armas a que pode ter acesso uma empresa de vigilância e segurança privada varia de acordo com o número de guardas que cada empresa registra. Os guardas e as empresas comuns podem usar somente as armas pessoais, com exceção das empresas de transporte de valores, departamentos de segurança, escoltas e blindadoras, que podem ter acesso a armas restringidas com permissão e em situações especiais.

Na Colômbia os policiais comuns ou públicos estão proibidos de oferecer serviços de vigilância e segurança privada. No entanto, a instituição tem alguns contratos com empresas públicas

para prestação de serviços pelos quais cobra uma taxa. e privadas em nível institucional

                                                        

39. Como requisitos para essa licença a Superintendência de Vigilância e Segurança Privada requer: sede principal ou agências que pretende estabelecer, modalidade de serviço que pretende oferecer, meios que pretende utilizar para realizar esse serviço, cópia autenticada da constituição da companhia, certificado vigente de existência e representação legal da empresa, licença de empresa expedida pela correspondente prefeitura, apólice de seguros de responsabilidade, solicitação de aprovação das instalações por parte da Superintendência de Vigilância. Dentro de 60 dias após a outorga da licença, a empresa deve apresentar certidões de registro do pessoal na seguridade social, cópia autenticada da aprovação do regulamento interno por parte do Ministério do Trabalho, regulamento de higiene devidamente aprovado pelo Ministério do Trabalho e Seguridade Colombiano de Bem-Estar Familiar, resolução sobre a aprovação de horas extras por parte do Ministério do Trabalho e Seguridade Social.

40. Segundo a Superintendência de Segurança Privada, a maioria destas empresas está funcionando. 41. Segundo a Supervigilância a informalidade apenas chega a 10%. 42. Apesar disso, nem todas as empresas apresentaram relatórios em 2006; no entanto, este é o dado mais

confiável que nos permite quantificar a atividade comercial destas empresas.

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No total, existem 52 escolas de capacitação reguladas pela Superintendência de Vigilância e Segurança Privada. Estas escolas oferecem programas acadêmicos básicos e de especialidade que são um requisito fundamental para a obtenção da habilitação de funcionamento das empresas. Peru

A segurança privada é regulada pelo Ministério do Interior através da “Diretoria Geral de controle de serviços de segurança, controle de armas, munição e explosivos de uso civil – DICSCAMEC.”43/ Como entidade reguladora da segurança privada, a DICSCAMEC propõe e aplica as diretrizes relativas ao controle dos serviços de segurança privada. Para isso, expede, amplia, renova e/ou cancela licenças de funcionamento; aplica as sanções correspondentes pelas infrações à legislação vigente e estabelece os requisitos para a contratação do pessoal que presta serviços de segurança privada, definindo o perfil ocupacional para sua formação, capacitação e retreinamento.

Também verifica e controla os requisitos mínimos de segurança de que devem contar as entidades do sistema financeiro.

Para o controle de armas e munições, a DICSCAMEC expede, amplia, renova e/ou cancela licenças para a fabricação, comercialização, importação, exportação, armazenamento e traslado de armas e munições de uso civil e artigos conexos, bem como exerce o controle respectivo e sanciona as infrações à legislação vigente. A DISCAMEC também regula o uso de explosivos civis e artefatos pirotécnicos e expede, amplia, renova e/ou cancela autorizações e/ou licenças para a fabricação, comercialização, importação, exportação, armazenamento, uso, manipulação, traslado, destruição e destino final de produtos pirotécnicos detonantes ou deflagrantes.

Segundo o Coronel Hernán García, Diretor da Diretoria de Controle de Serviços de Segurança Privada da DICSCAMEC, o Peru carece de uma Lei de Segurança Privada. Embora o Congresso do Peru tenha promulgado em 2006 uma Lei de Segurança Privada para o país, esta não se encontra vigente devido ao fato de que não foi elaborado ainda seu respectivo Regulamento.

Na atualidade existem 1.932 empresas de serviços de segurança, das quais 20,7% oferecem serviço de vigilância privada, 48,3% se dedicam à segurança pessoal e 27% ao serviço de segurança pessoal. No âmbito nacional os serviços de vigilância privada registram 501 ampliações de âmbito de funcionamentos (isto é, solicitam permissão para trabalhar em outras zonas geográficas do país). Isso quer dizer que existem 401 companhias e 501 ampliações. Segundo algumas estimativas, existem aproximadamente 45.000 vigilantes registrados na DICSCAMEC. Os guardas que têm aprovação para portar armas podem usar calibres até 9 mm em revólveres e também podem usar rifles.

Os guardas privados devem ser instruídos antes de se registrar na DICSCAMEC, especialmente os que vão portar armas, motivo pelo qual se estabeleceram regimes de estudo. Os guardas que portam armas recebem uma instrução teórica de manejo de armas, uma instrução no campo e por último um exame realizado na DICSCAMEC. No entanto, esta Diretoria não tem uma escola própria, pois as próprias empresas capacitam seus respectivos guardas. A DICSCAMEC se limita a controlar essa capacitação por meio de uma carteira de registro. A DISCAMEC exige da

e 38 horas. Uma vez que o vigilante tem sua carteira, pode solicitar Controle de Armas, Munição e Explosivos. Todos os vigilantes

empresa uma instrução inicial do porte de armas à Diretoria de

                                                        

43. DICSCAMEC 2008. Disponível em: http://www.dicscamec.gob.pe/index.html

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devem receber anualmente um retreinamento de 28 horas no mínimo. A carteira dura dois anos e a instrução tem validade de um ano. Nesta matéria existe um controle estrito, já que, ao estarem todos os vigilantes formais registrados no sistema, se está alerta para a pessoa que teve vencida sua instrução de um ano e se procede a uma inspeção. Os guardas poderão ter sua carteira, mas, se não receberem instrução, a empresa recebe uma multa.

O Peru é um dos poucos países da região em que se evidencia que os policiais públicos prestam serviços de segurança privada. Isto se deve ao fato de que em meados dos anos 80, produto da crise econômica e da hiperinflação, a renda ou salário policial no Peru se reduziu substancialmente. Como conseqüência disto, o governo, depois de uma greve policial, decidiu modificar o regime trabalhista44/ com a finalidade de autorizar que os policiais pudessem vender seus serviços a particulares em suas horas de descanso, usando uniforme e a arma policial, como uma forma de complementar e melhorar a escassa renda que recebem do Estado. Com o passar do tempo e ao avaliar esta medida, pode-se concluir que este sistema gerou mais problemas para a segurança pública e cidadã que benefícios. O problema é que, em alguns casos, os policiais dão o melhor de si no dia que estão descansando para a instituição e trabalhando para contrato de terceiros, o que diminui o rendimento nas Unidades Policiais nos dias de trabalho para o Estado. El Salvador

Os serviços de segurança privada em El Salvador se desenvolveram significativamente após o fim do conflito armado. A lei de 1994, que regulava estas empresas, foi revogada pela atual (Decreto 227 de 24 de janeiro de 2001) Lei dos Serviços de Segurança Privada. Esta nova norma estipula que corresponderá ao Ministério de Segurança Pública e Justiça, através da Polícia Nacional Civil, o registro e controle das atividades destas empresas. Para isso, a lei cria a Divisão de Registro e Controle de Serviços Privados de Segurança da PNC, que é a encarregada de supervisar e controlar o funcionamento das empresas autorizadas a prestar serviços privados de segurança. A autorização de funcionamento dura três anos e pode ser renovada por períodos iguais.

Quanto à supervisão e controle das empresas, a PNC, antes da coordenação com as empresas ou agências de serviços privados de segurança, realiza uma inspeção anual e inspeções eventuais sem prévio aviso. A lei estipula uma série de sanções às empresas que cometam infrações. As infrações se dividem em (Art. 47): (i) faltas leves, sancionadas com multa equivalente de dois a dez salários mínimos mensais; (ii) faltas graves, sancionadas com multa equivalente de onze a sessenta salários mínimos mensais; (iii) faltas muito graves, sancionadas com o cancelamento definitivo da autorização para operar como serviço privado de segurança.

A norma também detalha que não poderão ser proprietários, acionistas ou empreiteiros de agências ou empresas privadas de segurança os membros ativos da Polícia Nacional Civil, o Ministro de Segurança Pública e Justiça, o Diretor Geral da Polícia Nacional Civil, o Subdiretor de Gestões e Operações e o Chefe da Divisão de Registro das Empresas Privadas de Segurança, nem seus familiares em primeiro grau de consangüinidade ou afinidade. Além disso, estarão inibidos durante os três anos posteriores de haver cessado em suas funções.

Embora a legislação impprivada, desde 2002 funciona na

                                                       

eça os policiais em atividade de exercer trabalhos de segurança PNC o programa Bolsa de Trabalho Policial. A participação neste

 

44. Mudou para uma jornada de 24 horas de trabalho e 24 horas de descanso.

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programa é voluntária, deve-se ter um expediente disciplinar limpo e justificar necessidades econômicas. Os policiais inscritos são chamados para exercer funções de segurança de segurança em espetáculos e eventos de massa. Os contratos são realizados por meio da Fundação de Bem-Estar Policial, entidade que se encarrega de entregar ao policial o pagamento pela segurança prestada a determinado estabelecimento ou espetáculo. Da contribuição total, são retidos 10% para o imposto de renda. A fundação não recebe nenhuma remuneração econômica. Atualmente, 10% do quadro de pessoal da PNC (cerca de 1.700 policiais) está inscrito neste programa.

A tendência dos serviços de segurança privada mostra um crescimento pronunciado na década de 90, ao passar de 14 empresas registradas em 1994 para 295 empresas registradas em 2000, com um total de 20.643 agentes. Desde então ocorreu uma redução progressiva até chegar às 274 empresas legalmente registradas na atualidade, que contam com um total de 19.200 agentes e uma capacidade de porte de 25.000 armas de fogo. Muitas empresas são administradas por ex-militares ou ex-policiais, assim como, segundo algumas informações jornalísticas, por políticos em atividade, principalmente do partido do governo, seja diretamente ou por intermediação de terceiros.

Finalmente, um estudo do PNUD45/ estimou que os gastos totais das famílias salvadorenhas em segurança privada ao longo de 2003 ascenderam a 89,9 milhões de dólares, com um gasto médio anual por família de US$161. Por sua vez, as empresas gastaram 317,6 milhões em segurança privada, enquanto o investimento em segurança estaria em torno de 3,2 milhões. No total, o custo da segurança privada para os lares e empresas salvadorenhas ascendeu a 410,7 milhões de dólares, 2,7% do PIB. Honduras As empresas de segurança privada nascem em Honduras em 1980 e o fazem muito ligadas à polícia e às Forças Armadas. Os empresários em geral e o setor financeiro em particular recorreram à Força de Segurança Pública, através da Unidade de Forças Especiais, para contratar serviços de segurança. Nessa época as Forças Armadas exerciam o controle e outorgavam as permissões de funcionamento. Assim, a segurança privada surgiu das próprias estruturas do Estado. Em suas origens e ainda na atualidade, muitas das empresas privadas de segurança surgem como propriedade de militares e policiais em situação de aposentadoria. A aposentadoria antecipada dos militares e dos policiais (50 anos de idade) poderia contribuir para esta situação.46/ Em 1988, foi fundada a Associação de Empresas de Segurança e Investigação Privada de Honduras (Asemsiph), associação que faz parte do Conselho Hondurenho da Empresa Privada (COHEP) e conta com mais de trinta associados. Honduras não conta com uma legislação específica em matéria de empresas de segurança privada, mas estas são reguladas através da Lei Orgânica da Polícia Nacional, a qual estabelece que a Diretoria Geral de Serviços Preventivos deve regular os serviços de segurança privada e a Diretoria de Serviços Especiais de Investigação deve regular as agências privadas de investigação. Não obstante, no final de 2005 foi criada na polícia a Unidade de Registro e Controle das Empresas de Segurança. A lei outorga à Secretaria de Segurança a faculdade para autorizar o funcionamento das empresas de segurança, que podem solicitar licença para os serviços de vigilância

e capacitação de seus membros. preventiva, investigação privada

                                                        

45. Cuánto cuesta la violencia a El Salvador?, PNUD 2005 46. Castellanos, Julieta., Las empresas de seguridad privada y las amenazas a la seguridad, Redes, Santiago

do Chile, 2003, p. 9

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Para que uma empresa de segurança possa constituir-se e operar legalmente deve seguir o seguinte procedimento: 1) Inscrição no Registro Mercantil; 2) Registrar-se na Unidade de Registro e Controle das Empresas de Segurança da polícia; 3) Solicitar e receber a Permissão de Operações após o pagamento de 100.000 lempiras (cerca de US$5.300). Anualmente, cada empresa fará, além disso, um pagamento de 10.000 lempiras (US$530) mais 20 lempiras (pouco mais de um dólar) adicionais por cada guarda contratado na empresa.47/ De acordo com a atual legislação, as empresas privadas podem prestar os seguintes serviços de segurança: (1) vigilância e proteção de bens, estabelecimentos, instalações, campos de processamento ou cultivos, espetáculos, certames ou convenções; (2) proteção de pessoas; (3) custódia, contagem e classificação de moedas e bilhetes, títulos de valores; (4) transporte e distribuição de objetos ou produtos ou custódia ou escolta dos mesmos; (5) instalação e manutenção de aparelhos, dispositivos e sistemas de segurança, mecânicos, elétricos ou eletrônicos; (6) patrulha ou monitoramento de alarmes ou exploração de centrais para a recepção, verificação e transmissão dos sinais de alarmes e a prestação de serviço de resposta ou de reação imediata; (7) planejamento e assessoria das atividades de segurança; (8) formação e atualização de seu pessoal de segurança, podendo criar centros de formação de seus membros; (9) venda de produtos de segurança que não sejam armas de fogo, munições e explosivos; (10) funções de investigação privada. Estudos assinalam que em 1999 havia 15 empresas associadas à ASEMSIPH, número que aumentou para 28 em 2003. Nos mesmos anos, a Secretaria de Segurança tinha um registro de 64 e 114 empresas, respectivamente.48/ Na atualidade, a ASEMSIPH conta com um total de 35 associados. Informações da imprensa49/ assinalam que em 2006 operavam cerca de 400 agências de segurança, das quais a unidade policial encarregada do controle e supervisão só registrava 189 (incluindo 36 organizações criadas por empresas para sua segurança interna, 32 que exercem vigilância em bairros e colônias e 5 detetives privados). Estima-se que todas as agências podem chegar a ter 60.000 efetivos. A ASEMSIPH conta com cerca de 18.000 agentes contratados. As empresas de segurança privada podem contar com as armas e munições legais contempladas na Lei de Controle de Armas de Fogo, Munições, Explosivos e Similares. Tendo em vista o deficiente registro e a escassa informação, é impossível fazer uma estimativa da capacidade de porte de armas em mãos de agentes privados. Não obstante, a ASENSIPH assegura que suas empresas afiliadas dispõem de cerca de um terço de armas em relação ao número total de agentes (aproximadamente 6.000).

                                                        

47. O projeto de reforma da lei de polícia contempla mudanças neste aspecto. No Art. 127 se prevêem diferentes tipos de licença em função do tipo de empresa (de A a D, ainda que não se especifique quais critérios serão seguidos para classificar as empresas de segurança) com pagamentos que oscilam entre 4 salários mínimos e 30 salários mínimos. As licenças devem ser renovadas a cada dois anos e se aumenta de 20 para 25 lempiras o pagamento por agente contratado. O salário mínimo em Honduras é de cerca de US$181, que, em média, costuma ser o salário mensal de um guarda de segurança privada.

48. Castellanos, Julieta, p. 10 49. “Además de la policía y el ejército,” La Tribuna 11-10-2006. As empresas de segurança informais

costumam ser chamadas de “maletín” ou “garagem”, por não dispor de um espaço físico no qual realizam suas operações.

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As empresas de segurança privada prestam seus serviços tanto a clientes privados como públicos (especialmente a órgãos descentralizados da Administração do Estado e hospitais). Os serviços costumam se concentrar em instituições bancárias e financeiras, centros comerciais, companhias de seguros, bolsas de valores, casas de câmbio e proteção de pessoas (executivos e VIP), além da vigilância em colônias, bairros e edifícios de distintas organizações, entre elas organizações internacionais de cooperação. A LOPN faculta à Secretaria de Segurança exercer o registro e controle das empresas de segurança privada. No entanto, não se mantém um registro de todas as empresas que funcionam, no âmbito nacional, do pessoal que empregam nem do tipo de armas com que contam. Tampouco existe capacidade de verificação da informação notificada pelas empresas de segurança; por isso, a informação é recebida pela unidade policial encarregada do controle, mas não verificada. Segundo o Art. 97 da LOPN, para ingressar no serviço privado os agentes deverão ser aprovados nos exames estabelecidos pela Diretoria Geral de Educação Policial. No entanto, a Diretoria de Educação Policial não exerce o controle nem a supervisão sobre a capacidade e formação dos empregados e agentes que trabalham nestas empresas.50/ A ASEMSIPH indica que as empresas afiliadas capacitam seu pessoal nos seguintes campos: atenção ao cliente; aspectos legais; manejo de armas de fogo; técnicas de detenção; proteção do local do delito; relações públicas; segurança bancária; segurança eletrônica básica e transporte de valores, entre outros. O Art. 99 da LOPN estabelece três tipos de infrações nas quais podem incorrer as empresas de segurança privada: leves, graves e muito graves. As sanções vão desde 5.000 lempiras (cerca de US$250) de multa para as primeiras até 100.000 lempiras (US$5.300) de multa e a suspensão da Licença de Operações por um período de dois anos. A lei não define as infrações. Guatemala Os dois decretos que regulam a Lei de Polícias Particulares (Decreto 73-70) e a Lei de Corpos de Segurança das Entidades Bancárias, Estatais e Privadas (Decreto 19-79) datam de meados dos anos 70. A Divisão de Supervisão e Controle de Empresas, Entidades e Pessoas Individuais de Segurança Privada (SCEPSP) da PNC é responsável por supervisar, coordenar e controlar o funcionamento legal e devidamente autorizado das empresas, entidades e pessoas que prestam serviços privados de segurança e seu pessoal. As empresas privadas de segurança se dividem em dois grupos, segundo o setor de atividade. As mais numerosas são as que oferecem proteção a entidades bancárias e transporte de valores para instalações industriais e comerciais. Também estas empresas dão proteção domiciliar individual ou coletiva, serviço que abrange clientes de alta renda e da alta classe média e serviço pessoal de guarda-costas. A proteção anti-seqüestros é uma das mais solicitadas, bem como o serviço de apoio e intermediação às vítimas desse delito, serviço de alta especialidade que poucas empresas proporcionam. As empresas variam muito quanto à disposição de recursos humanos e materiais. Em alguns casos, contam com helicópteros, visores noturnos, interceptores de chamadas telefônicas, serviço

ônicas para comunicação com seus clientes, polígrafos, tecnologia próprio de patrulhas, redes eletrGPS, etc.

                                                        

50. Castellanos, Julieta, p. 10-11

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O setor mostra um aumento significativo tanto no número de empresas como no de agentes. Em 2006, operavam no país 127 empresas legalizadas, enquanto que 99 tramitavam a correspondente autorização do Ministério de Governação. O número de agentes das empresas legalizadas ascendia a 60.000, que aumentaria para 106.000 ao serem autorizadas as que estão em trâmite.51/ Se somamos o número de empresas clandestinas (aprox. 31), o total de agentes privados de segurança se situaria entre 120 e 150 mil. Segundo o Art. 70 da Lei de Armas e Munições, os agentes de segurança privada poderão portar armas defensivas,52/ que deverão estar devidamente registradas no DECAM. Cabe destacar que 75% das empresas de segurança privada são dirigidas ou administradas por ex-militares, enquanto as 25% restantes o são por ex-policiais.53/ O AFPC (Art.32) estipula o compromisso do Governo em promover uma lei que regule o funcionamento e os alcances das empresas privadas de segurança, com o objetivo de supervisar sua atuação e o profissionalismo de seu pessoal, e assegurar que as empresas e seus empregados se limitem ao âmbito de atuação que lhes corresponde, sob o estrito controle da PNC. Entre 1996 e junho de 2005 foram apresentados seis projetos de lei ao Congresso para regular este tema, sem que até o momento haja avanços concretos. Sobre este aspecto, o Procurador dos Direitos Humanos fez um apelo ao Gabinete de Segurança em fevereiro de 2006 para que se cumprisse o compromisso contraído nos Acordos de Paz. Atualmente, continua em discussão no Congresso a proposta de Lei de Empresas Privadas de Segurança e Investigação. O Procurador também assinalava que “há fundadas suspeitas de que algumas dessas empresas são utilizadas como fachada para atividades ilegais, incluída a prática de limpeza social.” Além disso, como foi assinalado anteriormente, existe uma penetração significativa de algumas destas empresas nos aparelhos de inteligência do Estado. Em outro relatório,54/ o Procurador afirmava que “a PNC não conta com equipamento de logística, pessoal, recursos nem veículos suficientes para controlar as registradas e menos ainda as que operam de forma ilegal. Os registros com que conta a PNC são insuficientes e só são controladas 10% das empresas registradas. Tampouco existem sanções efetivas para as empresas que não preenchem os requisitos estabelecidos pela lei.” Segundo declarações de Carlos Maldonado,55/ presidente da Câmara de Segurança da Guatemala, só as empresas legalizadas estariam faturando um total de 1,2 bilhão de quetzais (cerca de 160 milhões de dólares). Um estudo do PNUD56/ indicava, num cálculo conservador, que o gasto

                                                        

51. Prensa Libre 20-01-06 52. O artigo 5 da Lei de Armas e Munições assinala como armas defensivas os revólveres e pistolas semi-

automáticas, de qualquer calibre, assim como os rifles semi-automáticos de retrocarga e antecarga, desde que o comprimento do cano não exceda cinqüenta e seis (56) centímetros ou vinte e duas (22) polegadas.

53. Seguridad privada en Centroamérica, Minugua, 2002 54. Em “Feminicidio en Guatemala: Crímenes contra la humanidad”, URGN, 2006 55. Albedrío.org, 6 de abril de 2007 56. Costos violencia, p. 39

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anual das empresas com a contratação de serviços de segurança girava em torno de 2,6 bilhões de quetzais (cerca de 346 milhões de dólares). II. Análise comparada A percepção de insegurança em que vive a maioria dos latino-americanos e a sensação de que os governos não conseguem reverter a tendência ao aumento da delinqüência tiveram como conseqüência o aumento da segurança privada. Em todos os casos estudados se apresenta um crescimento médio da indústria de 8% ao ano nos últimos anos. Crescimento da indústria de segurança privada por região (valores de mercado)

Região Mercado (bilhões dólares)

Crescimento de (%)

América do Norte 49,2 7 – 8

Europa 37,8 6 – 10

Japão 7,4 7 – 9

América Latina 6,5 9 – 11

Resto do Mundo 16,2 10 – 12

TOTAL 117,1 7 – 8

Fonte: Frigo, Edgardo (2006). Assim, por exemplo, no Brasil em 2005 o setor teve um faturamento de 3 bilhões de dólares, o que mostra um crescimento anual de 12%. Em 2006 havia no Brasil 2.538 empresas de segurança registradas e mais de 5 mil automóveis blindados. Na Argentina, o crescimento é também relevante, especialmente na área da segurança eletrônica, que se expandiu entre 20% e 25% anuais nos últimos anos. Como se pode observar na seguinte tabela, as empresas de segurança privada do Estado do Rio de Janeiro se concentram principalmente na cobertura de segurança pessoal, com a variante mais recente de blindagem de veículos. Empresas de segurança privada discriminadas por serviço principal oferecido no Estado do Rio de Janeiro Empresas de vigilância

Empresas de transporte de valores

Automóveis blindados Cursos de formação de vigilantes

177 12 374 19

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Fonte: Fernando da Cruz Coelho - com base em dados do SISVIP/DPF – (2006:24). De igual forma no Equador é notável o aumento na quantidade de guardas privados e empresas encarregadas do tema.

Fonte: Superintendência de Companhias do Equador, 2007.

Número de empresas de segurança privada acumuladas por ano e taxa por cem mil hab.

0

200

400

600

800

1000

1200

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

7,00

Número  1 15 54 163 390 435 487 562 648 758 849

taxa 0,02 0,18 0,56 1,52 3,28 3,58 3,92 4,43 5,00 5,73 6,29

1968 1982 1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

A forte presença de guardas privados muitas vezes supera substancialmente a dotação de segurança pública em toda a região. Embora o número de guardas que trabalham legalmente seja estimado pelas entidades privadas que reúnem as empresas do setor, em todos os casos estudados se enfatiza a presença de dotações ainda maiores no setor informal. No Brasil há mais de um milhão de vigilantes, dos quais no final de 2006 só 330 mil estavam trabalhando no setor formal, o que pode implicar o tamanho da força de trabalho que está envolvida no setor informal. Na Argentina, atualmente há mais de 110 mil vigilantes registrados e legalmente trabalhando. No entanto, estimativas conservadoras indicam que há entre 75 e 110 mil trabalhadores informais vinculados à indústria em todo o país. A mesma situação se repete em todos os casos nacionais estudados.

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Segurança Privada: Organismo fiscalizador e possibilidade do pessoal policial de desenvolver atividades de segurança privada

Organismo fiscalizador Policiais podem exercer trabalhos de segurança privada Civil Policial Sim Equador

México Panamá Peru Uruguai

Bolívia El Salvador República Dominicana

Não Argentina Colômbia* Costa Rica

Brasil Chile Guatemala Honduras Nicarágua

Fonte: FLACSO Chile, 2007 No caso da Colômbia, a Superintendência de Vigilância e Segurança Privada está adscrita ao

Ministério da Defesa, mas mantém autonomia financeira e administrativa. Em muitos países a participação de pessoal militar ou policial aposentado é um fato inegável. No Equador o atual regulamento estabelece que na ata constitutiva das companhias deve constar ao menos um ex-membro das forças da ordem pública, assim como se estabelecia que 25% do pessoal contratado devia ser ex-integrante da força pública. Na Guatemala, por sua vez, atualmente 75% das empresas são dirigidas por ex-militares e os 25% restantes por ex-policiais. Mas, além da propriedade das empresas por parte de pessoal vinculado às forças da ordem, pode-se mencionar que em todos os países estudados existem proibições para a participação de policiais da ativa em ações privadas. No entanto, em alguns países a precariedade do salário policial tratou de ser aliviada com mecanismos de financiamento paralelo chamados adicionais na Argentina ou bolsa de trabalho em El Salvador. Neste último caso, em 2001 aprovou-se um decreto para regular a indústria privada de segurança, o qual estipula que as pessoas vinculadas às forças armadas ou polícias só podem participar das empresas pelo menos três anos depois de haver cessado suas funções. No entanto, em 2002 foi criada a bolsa de trabalho policial, na qual os policiais inscritos podem ser contratados para eventos de massa ou espetáculos; atualmente 10% da força policial pertence a esse programa. No Brasil, a lei promulgada em 1983 (durante o governo militar) não contempla se é possível a contratação de vigilantes privados por parte das empresas estatais, prática que se tornou cada vez mais cotidiana em todo o país no governo estadual, local e mesmo federal. De fato, um dos principais déficits a respeito da indústria da segurança privada é sua limitada ou nula regulação. No caso brasileiro, o controle destas empresas está nas mãos da Delegacia de Controle da Segurança Privada subordinada à Polícia Federal. Esta instituição está a cargo de acompanhar as ações das empresas privadas e adicionalmente proporciona a capacitação dos guardas privados. Como no caso brasileiro, na Argentina existe regulação no âmbito federal e estadual com diversos níveis que vão de leis a decretos e convênios. No Equador, por sua vez, não existe uma única entidade que regule suas ações; a lei de segurança privada aprovada em 2003 estabelece que a regulação se divide em múltiplas instituições de acordo com sua especificidade funcional. Adicionalmente, essa lei não foi ainda regulamentada. No Chile, Carabineros é a instituição

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DPASP00008P07

encarregada de entregar permissões para o funcionamento dessas empresas, mas se está legislando sobre uma possível superintendência de segurança privada que aumente os níveis de monitoramento das ações desenvolvidas por essas empresas. Em Honduras não se conta com regulação específica na matéria; as empresas de segurança são reguladas através da lei orgânica da Polícia Nacional. Um dos elementos permitidos é que cada empresa pode fornecer sua própria segurança sem necessidade de licença se tem menos de 100 empregados. Na prática, a Polícia não exerce o controle nem a supervisão sobre a capacidade e formação dos empregados e agentes que trabalham nestas empresas. A situação salvadorenha descrita previamente não é um caso excepcional; pelo contrário, é uma constante numa região que dispõe de limitados recursos humanos e financeiros para regular e monitorar o desenvolvimento e trabalho dos serviços de segurança privada. A capacitação dos guardas privados é uma área ainda mais precária. Na Argentina, por exemplo, estipula-se que são necessárias 100 horas de formação para ter acesso ao título de vigilante privado. A capacitação pode ser feita por Centros de Capacitação para Vigilantes, ainda que instituições públicas como a Secretaria do Interior possam organizar cursos. Os desafios em termos da capacitação dos guardas privados são múltiplos; em primeiro lugar, em muitos casos se solicita um nível educacional de primário completo; em segundo, não existem sistemas de revisão das matérias e ferramentas práticas entregues a cada um dos guardas. Esta situação é especialmente complexa porque em muitos países da região se permite o porte de armas de alto calibre para guardas que não receberam a preparação necessária.

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