6811238 apostila de comercio exterior

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Universidade Santa rsula

ADM 435

Comrcio Exterior

Paulo Werneck

Maro 2005

2 - Paulo Werneck - Comrcio Exterior

Werneck, Paulo Comrcio Exterior / Paulo de Lacerda Werneck. 1. ed. - Rio de Janeiro : [s. n.], 2005. 84 p. Reprogrfico. 1. Comrcio Exterior. I. Ttulo CDD - 346 CDU - 347

Paulo Werneck - Comrcio Exterior - 3

SumrioTeoria de Comrcio Exterior .............................................................................................................................. 5 1 Conceitos Bsicos ......................................................................................................................... 5 2 Balano de Pagamentos e Sistemas Cambiais............................................................................. 7 3 Barreiras tarifrias e no tarifrias................................................................................................. 9 4 Blocos Econmicos & Organizaes Internacionais ................................................................... 11 5 Estrutura governamental ............................................................................................................. 13 6 Marketing Internacional ............................................................................................................... 15 7 Gesto do Mercado & Planejamento ........................................................................................... 17 8 Contratos de compra e venda ..................................................................................................... 19 9 Incoterms ..................................................................................................................................... 21 10 Transporte Internacional, logstica e modais de transporte......................................................... 23 11 Embalagem & Seguro .................................................................................................................. 25 12 Pagamento e cmbio ................................................................................................................... 27 13 Modalidades de Financiamento ................................................................................................... 29 14 Direito Tributrio .......................................................................................................................... 31 15 Tributos ........................................................................................................................................ 33 16 Legislao aduaneira ................................................................................................................... 35 17 Valor aduaneiro............................................................................................................................ 37 18 Classificao fiscal....................................................................................................................... 39 19 Trmites de exportao ............................................................................................................... 41 20 Trmites de importao ............................................................................................................... 43 21 Bagagem, Correios & Outras Situaes ...................................................................................... 45 22 Regimes aduaneiros especiais .................................................................................................... 47 23 Infraes e penalidades ............................................................................................................... 49 24 Processo fiscal ............................................................................................................................. 51 Atividades Prticas ........................................................................................................................................... 53 25 Exerccios .................................................................................................................................... 53 26 Formulrios .................................................................................................................................. 55 Leituras ..................................................................................................................................................... 63 27 O canto da sereia......................................................................................................................... 63 28 Transgnicos & estratgia ........................................................................................................... 64 29 Responsabilidade socioambiental ............................................................................................... 65 30 Responsabilidade frente o consumidor ....................................................................................... 66 Anexos ..................................................................................................................................................... 67 31 Modelos ....................................................................................................................................... 67 Internet ..................................................................................................................................................... 77 Siglas ..................................................................................................................................................... 78 Glossrio ..................................................................................................................................................... 79 Bibliografia ..................................................................................................................................................... 84

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ProfessorAuditor fiscal aduaneiro, mestre em Administrao Pblica pela Fundao Getulio Vargas, autor do livro Comrcio Exterior e Despacho Aduaneiro, publicado pela Editora Juru, de Curitiba, j em 3 edio. Escreve semanalmente no Sem Fronteiras, boletim da Aduaneiras, assim como no Jornal Indstria e Comrcio, do Paran. Email: [email protected] Pgina: www.mercadores.com.br Mala direta: [email protected]

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Teoria de Comrcio Exterior 11.1

Conceitos BsicosComrcio internacional

Que comrcio? a compra e venda de mercadorias entre pessoas, isto , o vendedor entrega a mercadoria ao comprador, em troca o comprador paga o preo combinado ao vendedor. No comrcio interno, vendedor e comprador esto situados num mesmo pas. A operao sujeita-se cobrana de tributos internos, sobre a circulao de mercadorias, tais como Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios (ICMS). Se vendedor e comprador esto situados em diferentes pases, trata-se de comrcio internacional. A operao sujeita-se aos tributos internos e tambm aos gravames aduaneiros, tributos como Imposto de Importao (II) e Imposto de Exportao (IE). Operar no comrcio internacional mais complexo em funo de diversos fatores, como diferenas de lngua, de costumes, de moeda, de legislao, maiores distncias. Adicionalmente, os pases, em decorrncia de sua soberania, podem autorizar ou proibir a importao ou exportao de mercadorias. O comrcio internacional tambm abrange o comrcio de servios, mas como a Aduana s controla mercadorias tangveis, esse tema no ser abordado neste curso. Os pases importam mercadorias que no podem (ou no querem) produzir, por falta de tecnologia ou mesmo de condies naturais, assim como mercadorias objeto de desejo, em funo de design, qualidade, hbitos. Plato, filsofo grego que viveu entre 427 e 347 a.C., afirmou em A Repblica que fundar uma cidade ideal, num lugar tal que no seja preciso importar nada, quase impossvel: a cidade precisar de comerciantes, marinheiros, mercado e moeda. Os motivos para exportar so simples e poderosos: aumenta o mercado, logo as vendas, diminui o risco do negcio, obriga constante evoluo da tecnologia de produo, permite o recebimento de divisas. O Brasil exportou por muito tempo "produtos de sobremesa" - caf, acar, cacau - mas hoje a pauta est mais diversificada, incluindo at avies. 1.2 Panorama do Comrcio Internacional

O comrcio internacional de mercadorias composto por todas as operaes de importao e de exportao, sejam quais forem os pases de importao e exportao. A soma de todos os valores exportados e importados denominada corrente de comrcio global, que conta cada operao duas vezes, como exportao e como importao. A corrente de comrcio brasileira a soma de todas as exportaes e importaes, representando menos de um por cento da corrente global, enquanto nossa populao representa cerca de trs por cento da mundial, o que mostra que estamos bem aqum de nossas possibilidades. Por outro lado, comparando o comrcio exterior brasileiro com a nossa produo, fica claro que apesar de o pas estar legalmente aberto a essas operaes, sua importncia interna bem pequena, o Pas estando voltado para dentro, o que tambm demonstra grandes possibilidades de crescimento. Na origem de cada operao temos um vendedor, um comprador ou uma empresa multinacional. As operaes determinadas pelos vendedores so aquelas em que os produtores ou comerciantes levam suas mercadorias ao exterior, procuram compradores, participam de feiras internacionais, enviam amostras, em resumo, oferecem ativamente suas mercadorias, executando em plenitude as atividades de propaganda e marketing, usualmente com marcas prprias, que procuram valorizar. J naquelas determinadas pelos compradores, o movimento inverso: so eles que procuram produtos para adquirir, so eles os "donos da bola". Salvo honrosas excees, o Brasil mais comprado que vendido. Esta situao reduz o volume exportado e fragiliza o exportador, pois o comprador estrangeiro fica dono das informaes do mercado e pode procurar outro fornecedor sempre que entender adequado, ficando o fornecedor a ver navios. Finalmente, as operaes determinadas pelas empresas multi ou transnacionais so determinadas centralmente, levando em considerao o ambiente interno de cada pas, procurando reduzir ao mximo os custos de matria-prima e de mo-de-obra, com pouca ou nenhuma preocupao com os efeitos de suas decises aos pases afetados.

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Fruto das polticas econmicas de Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso, assim como do movimento mais geral de globalizao da economia mundial, houve grande desnacionalizao da economia brasileira, com venda de empresas pblicas e privadas brasileiras a compradores estrangeiros, retirando do Pas seus centros de deciso, o que prejudica a competitividade internacional do nosso pas, fruto da perda do poder decisivo. Abordando outro aspecto, o comrcio internacional pode ser dividido em commodities, produtos indistintos, de soja a partes de computador, e produtos de marca, seja em funo da tecnologia neles contida, seja de particularidades exclusivas associadas marca. A concorrncia entre os vendedores de commodities feita por preo, vende mais quem em princpio tem preo mais baixo, embora outros fatores tambm pesem, por certo, como a credibilidade do vendedor. Os vendedores de produtos com marca, ao contrrio, dispem de mercados monopolizados, pois s quem pode fabricar os produtos em questo so os respectivos detentores. Essas "reservas de mercado" beneficiam tanto os donos de marcas, como Zippo, Channel, Bombril, quanto os produtores de regies demarcadas, como champagne. Um fabricante brasileiro de um vinho idntico ao champagne francs, no pode usar esse termo no rtulo, podendo descrev-lo prosaicamente como espumante. O monoplio das marcas no absoluto, pois se um consumidor entender que um produto com aquela marca est muito caro em relao a outro semelhante, sem marca ou com marca menos prestigiada, esse consumidor poder deixar de adquirir o primeiro em favor do segundo. Mesmo assim a rentabilidade dos produtos com marca estabelecida no mercado supera bastante os sem marca, pois uns concorrem dentro do imaginrio, do desejo, enquanto os outros tm que oferecer preos menores, reduzindo as respectivas margens de lucro. O Brasil tambm carente de produtos de marca para exportar, salvo as excees de praxe, havendo atualmente um movimento forte por parte do governo para auxiliar as empresas a desenvolverem suas marcas, ou pelo menos adotarem selos comuns a outras empresas semelhantes, passando todas por processos de controle de qualidade, criando assim algo equivalente a regies demarcadas. 1.3 Operao de comrcio exterior

Em uma operao de comrcio exterior, diversos aspectos, na verdade completamente interligados, podem ser analisados separadamente para melhor a compreenso da operao: aspectos negocial, logstico, cambial, tributrio, administrativo-fiscal. O aspecto negocial envolve as questes relativas compra e venda em si. Abrange a definio de preo, prazo de pagamento, garantia do bem, prazo e local de entrega. Nessa discusso em princpio participam o comprador e o vendedor, eventualmente com intermedirios. Usualmente vendedor e comprador fazem contacto entre si, expem quais os interesses mtuos, ou seja, o que o vendedor tem para oferecer e o que o comprador deseja comprar. Em algum momento as negociaes so formalizadas pelo envio, pelo vendedor, de uma fatura pro-forma (pro-forma invoice), que caracteriza uma oferta firme do produto. Se o comprador concorda, envia uma mensagem confirmando o pedido. Eventualmente pode ser elaborado um contrato de compra e venda, mas na maioria das vezes simplesmente emitida uma fatura (invoice) e enviada a mercadoria. O aspecto logstico compreende as questes referentes ao transporte da mercadoria, do domiclio do vendedor at o domicilio do comprador, e inclui os aspectos de armazenagem durante o percurso e embalagem da mercadoria. Vendedor e comprador em pases diferentes podem ter moedas diferentes, obrigando troca de moedas. O aspecto cambial trata da permuta entre as moedas, o que se denomina cmbio. No Brasil o cmbio s pode ser feito em bancos e casa de cmbio autorizadas a operar com cmbio pelo Banco Central. A operao descrita sob o ponto de vista do banco: ser compra quando o banco compra divisas, pagando em reais, e ser venda quando o banco vende divisas, recebendo reais. No aspecto tributrio so analisadas as questes referentes ao pagamento de impostos e taxas referentes operao de comrcio exterior. O aspecto administrativo-fiscal diz respeito autorizao do governo para que haja a operao de comrcio exterior e a verificao da conformidade da mercadoria s normas e regulamentos nacionais. 1.4 Questes para fixao

1) Qual a diferena entre comrcio internacional e comrcio exterior? 2) Qual a diferena entre a comercializao de commodity e produto de marca? 3) Porque dividimos a anlise de uma operao de comrcio exterior em vrios aspectos?

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22.1

Balano de Pagamentos e Sistemas CambiaisBalano de Pagamentos

O balano de pagamentos o registro sistemtico de todas as transaes econmicas realizadas entre os residentes em determinado pas e os residentes no resto do mundo, durante um perodo, usualmente um ano. Por residentes entenda-se no s as pessoas naturais, mas tambm - e principalmente - as empresas. O registro sistemtico no feito mo, mas utilizando-se os diversos sistemas informatizados do governo, em especial o Siscomex, Sistema Integrado de Comrcio Exterior, onde so registradas as declaraes de importao e exportao, e o Sisbacen, Sistema do Banco Central, onde so registrados os contratos de cmbio. Esses registros utilizam cdigos para classificar as operaes, o que facilita a produo de estatsticas e a elaborao do balano. Com os dados do balano pode ser avaliada a sade internacional do pas, o resultado das aes de poltica econmica, diagnosticados os problemas. A estrutura do balano de pagamentos, conforme estabelecido pelo Fundo Monetrio Internacional (FMI) a seguinte, tendo como exemplo o balano brasileiro de 1999, em milhes de dlares americanos: TRANSAES CORRENTES 24.379Balana Comercial (FOB) 1.206Exportaes 48.011 Importaes 49.218Balana de Servios 25.212Juros 15.168Viagens internacionais 1.437Fretes 2.804Seguros 127Lucros e dividendos 4.058Outros servios 1.618Transferncias Unilaterais 2.040 Receitas 2.335 Despesas 295MOVIMENTO DE CAPITAIS 13.804 Investimentos 30.122 Financiamentos 16.033 Amortizaes 51.905Emprstimos 19.554 Curto Prazo 8.409Mdio e Longo Prazo 27.963 Ouro Monetrio ... ERROS E OMISSES 165SALDO 10.740A balana comercial melhorou bastante, tendo registrado superavits expressivos, mas a balana de servios continua sendo um sorvedouro de recursos. Os dados preliminares de 2003 indicam grande melhoria nas transaes correntes: TRANSAES CORRENTES 4.051 Balana Comercial (FOB) 24.831 Exportaes 73.085 Importaes 48.254Balana de Servios 23.640Viagens internacionais 218 Fretes 1.746Seguros 436Juros 13.020Lucros e dividendos 5.640Governo 151Transferncias Unilaterais 2.867 Tanto no expressivo endividamento pblico e privado do Pas, como por diversos outros servios: fretes, seguros, royalties, dividendos, lucro). Desde o quase desaparecimento da marinha mercante brasileira, passando pela fluxo turstico exportador, notadamente para Disney, at a desnacionalizao progressiva da economia, com venda de estatais e privadas para empresas estrangeiras, tudo motivo para termos balana de servios muito negativa.

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As transferncias unilaterais registram doaes e remessas de imigrantes. Costuma ser favorvel ao Brasil, pois somos exportador de mo-de-obra, pessoas que trabalham at ilegalmente no estrangeiro e remetem dinheiro para suas famlias. Alm disso temos inmeras ONGs no exterior que patrocinam atividades no Pas. Na parte de movimento de capitais, h que se registrar o significado especfico de investimento, financiamento e emprstimo. Investimento capital de risco, no exigvel, enquanto emprstimo exigvel e deve retornar quando do vencimento. Financiamento refere-se a financiamento de exportao ou importao, ou seja, o movimento inicial ocorreu em mercadoria; semelhante ao emprstimo, exigvel no vencimento. 2.2 Sistemas Cambiais

Cmbio a troca de uma moeda por outra, necessria para o funcionamento do comrcio internacional. Se importamos algo e temos que pagar a mercadoria em euros, necessrio trocarmos nossos reais pela moeda europia. O inverso ocorre nas exportaes, ou quando um turista estrangeiro vem ao Brasil: sua moeda no deve ser utilizada nos pagamentos no nosso Pas, de modo que ele deve troc-la, isto , cambi-la. Taxa de cmbio o preo, em moeda nacional, de uma unidade de moeda estrangeira. Por sistema cambial entendemos o modo de evoluo das taxas de cmbio. Existem dois modelos principais e opostos: o sistema de cmbio fixo, em que o governo define a taxa, e o de cmbio flutuante, em que ela flutua ao sabor da oferta e da procura. Entre esses sistemas, diversos outros, como de bandas cambiais, em que o cmbio pode flutuar entre dois valores fixados pelo governo, podem ser empregues. Cada sistema oferece vantagens e desvantagens. O cmbio fixo oferece credibilidade, pois os exportadores, importadores, investidores podem planejar com segurana e previsibilidade suas operaes, o que incentivaria o comrcio e o investimento internacionais. Tambm daria credibilidade poltica antiinflacionria, ao subordinar as polticas monetria e fiscal ao objetivo de manter a estabilidade cambial. Quando a taxa oficial afasta-se da que seria determinada pela oferta e procura, o regime de taxas fixas obriga o governo a queimar divisas para manter a oferta de moeda de moeda estrangeira ou instala-se o pernicioso cmbio "negro". Alm disso, se a taxa for fixada de modo a sobrevalorizar a moeda nacional, os recursos governamentais podem ser dilapidados no fornecimento de divisas para honrar importaes, que crescem em prejuzo da indstria nacional. O cmbio flutuante, pelo contrrio, oferece flexibilidade; sua contrapartida a falta de credibilidade do pas que o utiliza, notadamente quando sob processos altamente inflacionrios. Funciona de modo auto-regulatrio. Se aumentam as exportaes, entram divisas, o que diminui o preo das moedas estrangeiras, incentivando as importaes. Aumentando estas, h mais necessidade de divisas, o preo destas sobe, o que incentiva as exportaes, num processo cclico. Alm disso, o mercado de cmbio pode ser afetado por ataques especulativos, que podem ser minimizados pela adoo de controles sobre a movimentao de capitais. O governo tambm pode intervir no cmbio, comprando ou vendendo moeda, de modo a evitar oscilaes excessivas do mercado. A exacerbao da taxa de cmbio fixa a "dolarizao", onde a moeda nacional substituda pela moeda norte-americana. Para fazer isso o pas tem que possuir reservas suficientes para comprar toda a moeda em circulao. Existe a vantagem inicial de eliminar o risco cambial, uma vez que a moeda em circulao passar a ser a moeda mais aceita no mundo, mas no elimina os outros riscos, pois a moeda apenas um dos elementos da sade financeira de um pas. 2.3 Questes para fixao

1) Qual a funo do balano de pagamentos? 2) Quais foram os sistemas cambiais adotados no primeiro e no segundo governos de Fernando Henrique Cardoso? 3) Quais os efeitos desses sistemas sobre o balano de pagamentos?

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33.1

Barreiras tarifrias e no tarifriasAcordos, benefcios & barreiras

Os acordos internacionais referentes ao comrcio cumprem diversos papis. Aqui veremos trs: estabelecimento de preferncias comerciais, delimitao das abrangncia das normatizaes tcnicas internas e combate a prticas comerciais desleais. 3.2 Preferncias comerciais

As preferncias comerciais so estabelecidas tanto em termo de vantagens recprocas quanto para fortalecer o comrcio como um todo, facilitando o acesso de pases menos desenvolvidos. Como exemplo da primeira situao temos a tarifa interna nula dentro do Mercosul, ou seja, o Brasil no cobra tarifa aduaneira na importao de produtos argentinos e em contrapartida a Argentina no a cobra na importao de produtos brasileiros. A segunda situao pode ser visualizada pelo SGP (Sistema Geral de Preferncias) pelo qual os pases centrais oferecem redues unilaterais na tributao das importaes de alguns pases, ditos pases em desenvolvimento, sem que estes devam retribuir na mesma moeda. Na hora do despacho aduaneiro ser necessrio, para receber o benefcio, que o importador comprove a origem da mercadoria. Uma mercadoria vinda da Argentina no necessariamente ter sido produzida naquele pas, podendo ter sido importada de um terceiro. Essa comprovao feita por meio de certificado de origem, emitido segundo o formato estabelecido no tratado. 3.3 Barreiras tcnicas

A liberalizao do comrcio, visualizada pela reduo das tarifas, freqentemente esconde outros mecanismos de proteo dos mercados nacionais, entre os quais as barreiras tcnicas. A proteo da sade da populao, a defesa do ambiente, pode ser efetivada por meio de regulamentos tcnicos, isto , regras, de carter compulsrio, determinadas pelos governos, que os produtos precisam obedecer para poderem ser comercializados. Normas tcnicas so semelhantes aos regulamentos, porm de carter voluntrio, de modo que a no observncia da norma no constitui um ilcito. A Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT) publica regras desse tipo, como a que recomenda o uso de papel A4. No vedada a utilizao de papel ofcio, embora possamos verificar visualmente, em qualquer papelaria, que a sociedade segue majoritariamente a indicao da ABNT quanto ao formato do papel. Barreira tcnica, conforme conceituado pelo Acordo sobre Barreiras Tcnicas (TBT) da Organizao Mundial do Comrcio (OMC), o regulamento tcnico que contrarie uma norma tcnica internacional ou que adote procedimentos de verificao de conformidade ou inspees no-transparentes, excessivamente dispendiosos ou ainda demasiadamente rigorosos. Ou seja, lcito aos pases estabelecerem regulamentos tcnicos no intuito de impedir a comercializao de produtos nocivos ou prejudiciais, mas no lcito utilizarem tais regulamentos como barreiras no-tarifrias s importaes, seja estabelecendo requisitos diferenciados para os produtos estrangeiros, seja exorbitando nos requisitos. No intuito de evitar esse efeito, foi firmado o Acordo Internacional sobre Barreiras Tcnicas (TBT Agreement on Technical Barriers to Trade), no mbito da Organizao Mundial do Comrcio, que probe o estabelecimento de normas, regulamentos e procedimentos de avaliao de conformidade que configurem obstculos para o comrcio internacional. Na mesma direo est o Acordo sobre Medidas Sanitrias e Fitossanitrias (SPS). Para dificultar o estabelecimento de barreiras tcnicas foram estabelecidos os "pontos focais", um em cada pas, centros de informao capazes de responder s consultas dos demais pases e de outros interessados, e de divulgar, para os demais, os documentos referentes aos novos procedimentos. O Inmetro, Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial, exerce, no Brasil, o papel de "Ponto Focal de Barreiras Tcnicas s Exportaes". Nesse papel ele oferece diversos servios s empresas brasileiras, pela Internet (www.inmetro.gov.br/barreirastecnicas), na divulgao das normas estrangeiras e no questionamento dessas normas, quando excessivas. O Brasil, se quiser ser um pas grande, desenvolvido, no pode enfrentar os problemas na base do jeitinho, do bom-mocismo, mas tem que se preparar para discutir nas arenas internacionais com firmeza, sem precisar perder as caractersticas de "homem cordial".

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3.4

Direitos antidumping, direitos compensatrios e medidas de salvaguarda

Compete Cmara de Comrcio Exterior (CAMEX) fixar direitos antidumping, direitos compensatrios e medidas de salvaguarda, provisrios ou definitivos, a serem cobrados, pela Secretaria da Receita Federal, independentemente de quaisquer obrigaes de natureza tributria relativas importao dos produtos afetados. Direito antidumping um montante em dinheiro, exigido com o fim de neutralizar os efeitos danosos das importaes objeto de dumping, isto , a importao de um bem a preo inferior ao efetivamente praticado para o produto nas operaes mercantis normais que o destinem a consumo interno no prprio pas exportador. Direito compensatrio o direito especial exigido para contrabalanar subsdios concedidos direta ou indiretamente fabricao, produo ou exportao da mercadoria importada. Medidas de salvaguardas consistem na elevao do imposto de importao nos casos em que a importao de determinado produto aumente de modo a causar, ou ameaar causar, prejuzo grave indstria domstica de bens similares ou diretamente concorrentes. O cumprimento das obrigaes resultantes da aplicao de direitos antidumping ou compensatrios, definitivos ou provisrios, ser condio para o desembarao das importaes de produtos objeto de dumping ou de subsdios. A CAMEX poder suspender a exigibilidade dos direitos provisrios, permitindo o desembarao aduaneiro dos bens mediante prestao de garantia equivalente ao valor integral da obrigao e demais encargos, por depsito em dinheiro ou fiana bancria 3.5 Questes para fixao

1) A empresa canadense Star fabrica baldes de plstico e os exporta para o Brasil pelo preo de 10 reais a unidade. A empresa brasileira Estrela fabrica baldes idnticos e os vende no Brasil por 20 reais. Isso caracteriza dumping da empresa canadense? 2) Qual a diferena entre norma tcnica e regulamento tcnico? 3) Quando um regulamento tcnico configura uma barreira tcnica?

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44.1

Blocos Econmicos & Organizaes InternacionaisOrganismos internacionais

O mundo tm feito esforos no sentido de organizar o comrcio internacional, de modo a increment-lo e a evitar riscos desnecessrios por parte de seus operadores. Assim, regras tm sido estabelecidas, para padronizar certas atividades, para facilitar o entendimento, para limitar a interveno estatal ou torn-la previsvel. Alguns princpios do comrcio internacional esto mantidos, soberania e defesa, mas tm sido suavizados por acordos internacionais. A Organizao Mundial do Comrcio (OMC) certamente a entidade mais ativa na regulao do comrcio internacional, desenvolvendo novas regras e aperfeioando as oriundas do GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comrcio). Outra entidade importante, embora menos conhecida, a Organizao Mundial das Aduanas (OMA), que tem como objetivo auxiliar as aduanas nacionais a cumprirem bem seus papis, desenvolvendo programas de treinamento, de intercmbio e de aperfeioamento das tcnicas aduaneiras. 4.2 Blocos Econmicos

Outro movimento o de integrao de alguns pases. Podemos ver esse movimento tanto como um aprofundamento localizado da tendncia mais geral de integrao, como uma fuga da uniformizao pela criao de regras locais distintas. De qualquer forma, os modelos de integrao buscam o desenvolvimento pela colaborao entre pases prximos geogrfica ou culturalmente, aproveitando sinergias. Esses modelos se apresentam num crescente de integrao, em funo dos graus de integrao econmica. Na zona de preferncia, dois ou mais pases se concedem vantagens recprocas em relao a terceiros pases, em alguns produtos sensveis. A zona de livre comrcio aprofunda essa concesso, generalizando-a para todos ou para a maioria das mercadorias, eliminando ou reduzindo drasticamente os tributos aduaneiros e as restries no-tarifrias. A unio aduaneira uma zona de livre comrcio com tarifa externa comum, alquota zero no comrcio entre os pases membros, legislao aduaneira comum e poltica comercial comum. Tarifa externa comum significa que todos os pases da unio cobram a mesma alquota quando importam um dado produto de terceiros pases. A unio aduaneira torna-se mercado comum quando incorpora a livre circulao de pessoas, bens, servios e fatores de produo, e acaba com todas as formas de discriminao internas. Unio econmica um mercado comum mais aprofundado, com sistema monetrio, defesa e de poltica externa comuns. Com a unificao das legislaes (civil, comercial, trabalhista, tributria, administrativa) a unio econmica torna-se unio total. O prximo passo a abdicao soberania externa, com a criao de um poder central que representa todos perante as demais naes, sem alienao da soberania interna. Temos ento a confederao. 4.3 Regulao e Mediao de Disputas Comerciais Internacionais

As operaes comerciais internacionais de bens e de servios devem seguir as normas acordadas pelo GATT e depois pela OMC, para os pases signatrios do primeiro ou filiados segunda; quando as operaes se do dentro de um bloco econmico, devem tambm seguir as regras nele previstas. Entretanto, e como no poderia deixar de ser, as regras tm de ser interpretadas, e no necessariamente as interpretaes dos agentes direta ou indiretamente interessados so semelhantes, gerando assim disputas comerciais internacionais. As disputas podem se dar entre os contratantes do negcio, que interpretam de modo distinto a legislao aplicvel, ou por terceiros, que se sentem prejudicados pela forma como o negcio est sendo feito, como no caso da disputa entre a brasileira Embraer e a canadense Bombardier. As duas empresas no mantiveram negcios entre elas, mas ambas entenderam que o governo da outra oferecia condies de financiamento no autorizadas pela legislao internacional, configurando concorrncia desleal. Como as diferenas de interpretao so esperadas - cada cabea uma sentena - e alm disso tambm podem ocorrer comportamentos maliciosos, ou seja, desrespeitando pura e simplesmente as normas existentes, cada acordo costuma prever as formas de soluo de divergncias, de modo que os problemas possam ser resolvidos.

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O modelo usual o acordo prever uma espcie de tribunal que analisa a divergncia e determina a soluo, seja aclarando o contedo da norma, seja determinando a ao a ser tomada na questo concreta. Esse "tribunal" pode ter ou no poder de aplicar penalidades, dependendo do estabelecido no tratado internacional que o criou. A Secretaria de Comrcio Exterior o rgo brasileiro que representa as empresas brasileiras nessas disputas internacionais ou que as pode assessorar nos casos em que as empresas agem em seu prprio nome. 4.4 ALADI e Mercosul

A ALALC (Associao Latino-Americana de Livre Comrcio), criada pelo Tratado de Montevidu, em 1960, se propunha a estabelecer uma zona de livre comrcio, iniciando o processo por redues tarifrias entre os pases do acordo. Em 1980, buscando reverter o esvaziamento da ALALC, foi celebrado novo tratado, que deu origem ALADI (Associao Latino-Americana de Integrao), com liberdade para que os pases celebrassem acordos bilaterais de complementao econmica. Hoje tem 12 membros: Argentina, Bolvia, Brasil, Chile, Colmbia, Cuba, Equador, Mxico, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. O Mercosul foi institudo pelo Tratado de Assuno, firmado em 26 de maro de 1991, entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, dentro do arcabouo jurdico da ALADI. O tratado s entrou em vigor em novembro, quando foi protocolizado na ALADI o Acordo de Complementao Econmica n 18, que conferiu ao Mercosul a cobertura jurdica para a instituio das preferncias regionais negociadas entre os quatro pases. A estrutura institucional do Mercosul (Mercado Comum do Sul) foi estabelecida pelo Protocolo de Ouro Preto, assinado em 17 de dezembro de 1994, que dotou esse bloco de personalidade jurdica de direito internacional, possibilitando sua relao com outros pases, blocos econmicos e organismos internacionais. Embora o objetivo da criao do Mercosul tenha sido a criao de um mercado comum, at agora s existe uma unio aduaneira imperfeita. Alm dos quatro pases membros, o Mercosul conta com outros dois associados: Bolvia e Chile. A criao de um mercado comum tambm objetivo da Comunidade Andina (CAN), tambm na Amrica do Sul, composta por Bolvia, Colmbia, Equador, Peru e Venezuela. O Chile j fez parte do bloco, mas saiu quando da ditadura Pinochet. 4.5 Outros blocos

No mundo inteiro os pases tm criado blocos econmicos para atender a seus objetivos comerciais e polticos. A Unio Europia (UE) representa o estgio mais avanado do processo de formao de blocos econmicos no contexto da globalizao, que dispe at moeda nica, o Euro. Possua 15 pases membros: Alemanha, ustria, Blgica, Dinamarca, Espanha, Finlndia, Frana, Grcia, Irlanda, Itlia, Luxemburgo, Holanda (Pases Baixos), Portugal, Reino Unido (Inglaterra, Esccia, Pas de Gales e Irlanda do Norte) e Sucia, dos quais s Reino Unido, Sucia e Dinamarca ainda no aderiram ao Euro. Recentemente foram incorporados mais dez: Chipre, Eslovquia, Eslovnia, Estnia, Hungria, Letnia, Litunia, Malta, Polnia e Repblica Tcheca. Na Amrica do Norte o NAFTA, Acordo de Livre Comrcio da Amrica do Norte, congrega Estados Unidos, Canad e Mxico, busca apenas eliminar as barreiras alfandegrias entre esses pases. Est em discusso, com muita polmica, a possvel criao da ALCA, rea de Livre Comrcio das Amricas, englobando todos os pases das trs amricas, com exceo de Cuba, a saber: Antigua e Barbuda, Argentina, Bahamas, Barbados, Belize, Bolvia, Brasil, Canad, Chile, Colmbia, Costa Rica, Dominica, El Salvador, Equador, Estados Unidos da Amrica, Granada, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Jamaica, Mxico, Nicargua, Panam, Paraguai, Peru, Repblica Dominicana, Santa Lcia, So Cristvo e Neves, So Vicente e Granadinas, Suriname, Trinidad e Tobago, Uruguai e Venezuela. 4.6 Questes para fixao

1) Por que no se faz de uma vez um bloco econmico mundial? 3) Quais as diferenas entre Unio Aduaneira e Mercado Comum? 10) Uma empresa brasileira importa da Argentina um produto com certificado de origem atestando que foi fabricado na Frana. Dever sofrer a imposio de gravames aduaneiros, j que os dois pases pertencem ao Mercosul, que uma unio aduaneira?

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5

Estrutura governamental

O governo brasileiro est presente no comrcio exterior por meio de diversos rgos. Cabe Cmara de Comrcio Exterior (CAMEX) formular, decidir e coordenar polticas e atividades relativas ao comrcio exterior de bens e servios, incluindo turismo. Objetiva, tambm, servir de instrumento de dilogo e articulao junto ao setor produtivo, para que a poltica de comrcio exterior reflita as necessidades dos agentes econmicos. Na implementao das polticas sobressaem trs rgos distintos e independentes: SECEX, SRF e BACEN. A Secretaria de Comrcio Exterior (SECEX) faz parte da estrutura do Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior (MDIC) e est concentrada em Braslia e no Rio de Janeiro. Atua exclusivamente no comrcio exterior e tem como objetivos: 1) formular propostas de polticas e programas de comrcio exterior e estabelecer normas necessrias sua implementao; 2) propor medidas, no mbito das polticas fiscal e cambial, de financiamento, de recuperao de crditos exportao, de seguro, de transportes e fretes e de promoo comercial; 3) propor diretrizes que articulem o emprego do instrumento aduaneiro com os objetivos gerais de poltica de comrcio exterior; 4) propor alquotas para o imposto de importao; 5) participar das negociaes em acordos ou convnios internacionais relacionados com o comrcio exterior; 6) implementar os mecanismos de defesa comercial; e 7) apoiar o exportador submetido a investigaes de defesa comercial no exterior. As empresas tm mais contato com a SECEX na obteno de autorizaes para exportar ou importar produtos sensveis, quando precisam abrir processos para se protegerem de prticas comerciais desleais de empresas estrangeiras (dumping, subsdios) e ainda quando so alvo de processos desse tipo no exterior. A SECEX tambm analisa pedidos de estabelecimento de ex-tarifrios. A Secretaria da Receita Federal (SRF) pertence estrutura do Ministrio da Fazenda. Diferentemente da SECEX, atua em duas frentes: arrecadao de tributos federais e controle aduaneiro. Outra diferena: atua em todo o territrio nacional, com diversas unidades em cada estado da federao. No municpio do Rio de Janeiro, por exemplo, existe uma superintendncia, quatro delegacias, duas alfndegas, uma inspetoria e diversas agncias. Em relao ao comrcio exterior, seu papel relevante o controle aduaneiro de veculos e mercadorias, no s nas fronteiras, mas em todo o territrio nacional, para arrecadar tributos e proteger a vida, o meioambiente, o patrimnio histrico e as prticas leais de comrcio. No controla a entrada e sada de pessoas, pois no so mercadorias. O Banco Central do Brasil (BACEN) tambm faz parte do Ministrio da Fazenda, tendo como misso assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda e a solidez do sistema financeiro nacional, o que inclui a formulao e gesto da poltica cambial, na qual se inclui a fiscalizao da movimentao de valores (divisas). Est presente nos estados, mas no tem estrutura capilar, pois sua fiscalizao muito concentrada nos bancos. O controle sobre movimentao de divisas em espcie nas fronteiras foi delegada SRF. 5.1 Outros rgos e instituies

Outros rgos governamentais tambm atuam no comrcio exterior complementando as atividades da SECEX, como anuentes, analisando e concedendo (ou no) de licenas de importao ou exportao, ou mesmo verificando a mercadoria aps desembarcada. O Ministrio da Agricultura, por meio de seu Servio de Vigilncia Sanitria, fiscaliza a qualidade das mercadorias importadas, como alimentos e sementes, para evitar o consumo de produtos danosos sade ou e a transmisso de pragas que possam prejudicar a nossa lavoura. O Ministrio da Sade tem servio semelhante. Outros ministrios tambm participam em suas reas de atuao. O Ministrio dos Transportes tambm tem papel importante, agora no controle dos veculos transportadores. O Instituto Nacional de Metrologia (INMETRO), por exemplo, executa as polticas nacionais de metrologia e da qualidade, verifica a observncia das normas tcnicas e legais, no que se refere s unidades de medida, mtodos de medio, medidas materializadas, instrumentos de medio e produtos pr-medidos; mantm e conserva os padres das unidades de medida, de forma a torn-las harmnicas internamente e compatveis no plano internacional. o INMETRO quem responde pelo acompanhamento internacional de normas tcnicas, de modo a evitar que sejam estabelecidas barreiras tcnicas s nossas exportaes.

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O Banco do Brasil atua agressivamente no comrcio exterior como banco comercial, e tambm presta servios para a SECEX, na anlise de licenas de importao, por exemplo. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social) atua no comrcio exterior principalmente por meio de financiamentos exportao. A APEX (Agncia de Promoo das Exportaes) atua na formao das empresas exportadoras, oferecendo treinamentos e assessoria, assim como na divulgao de nossos produtos no exterior, at mesmo desenvolvendo marcas brasileiras. 5.2 Controle Aduaneiro

A Organizao Mundial das Aduanas (World Customs Organization - WCO) uma organizao internacional, qual o Brasil filiado, que tem como objetivos harmonizar as prticas aduaneiras dos pases membros, propiciar apoio tcnico s aduanas nacionais menos desenvolvidas, coordenar aes entre as aduanas, de modo a desenvolver o controle aduaneiro das naes. Segundo a entidade, as aduanas tm as seguintes responsabilidades: arrecadao de direitos aduaneiros e impostos; proteo da sociedade; proteo do meio-ambiente; coleta de informaes estatsticas; imposio das regras comerciais; facilitao do comrcio; proteo da herana cultural. Arrecadar tributos continua sendo objetivo aduaneiro, mas tem que conviver com outros de importncia equivalente. Arrecadao de tributos e proteo da sociedade, do meio-ambiente e da herana cultural indicam controles que podem dificultar o comrcio, o que exige inteligncia na ao e compromisso entre controle e liberalizao. No Brasil as funes aduaneiras esto, como vimos, distribudas entre diversos rgos, principalmente Secretaria da Receita Federal e Secretaria de Comrcio Exterior, mas no s. O IPHAN tem um papel importante na proteo da herana cultural, o IBAMA na proteo do meio-ambiente, e assim por diante. Como quem cuida da fronteira o sistema de controle aduaneiro da Secretaria da Receita Federal, todos os demais rgos com ela se integram nesse mister. 5.3 Despachante

As pessoas fsicas, por si mesmas, e as empresas, por meio de seus funcionrios (com carteira assinada) ou dirigentes, podem cuidar dos trmites aduaneiros de suas mercadorias. Se desejarem nomear algum para fazer isso por elas, suas escolhas tm que recair em despachante aduaneiro, profissional credenciado pela Secretaria da Receita Federal para representar pessoas e empresas perante a Aduana, nas atividades referentes a despacho aduaneiro. Ajudante de despachante aduaneiro profissional, tambm credenciado pela Receita, que pode auxiliar despachantes aduaneiros em algumas de suas tarefas. As comissrias de despacho so empresas que prestam esse servio, por meio de seus prprios despachantes. 5.4 Questes para fixao

1) Suponha que o BACEN permite exportaes contra pagamento em ienes mas h uma norma de 1980 da SECEX que as probe. Podemos exportar contra ienes? 2) Existe alguma contradio entre as funes das aduanas? 3) A Aduana brasileira pode proibir a importao de mercadorias usadas?

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66.1

Marketing InternacionalAmbiente Global: diferenas culturais, polticas e legais

Uma das diferenas marcantes entre o comrcio interno e o comrcio internacional, que no primeiro o ambiente bastante familiar e no segundo ocorre exatamente o contrrio. No comrcio interno tanto o vendedor como o comprador compartilham lngua, hbitos e crenas, utilizam a mesma moeda e esto submetidos mesma legislao. No comrcio internacional tudo isso muda, cada um tem seus costumes, sua moeda, suas leis, que podem ter pouco ou nada em comum com os do parceiro comercial. verdade que no Brasil, com sua extenso territorial e sua histria, apesar da lngua ser a mesma, regionalismos podem dificultar a compreenso, com palavras sendo utilizadas com significados distintos e at mesmo opostos em regies distintas; outras s so usadas em determinados locais, sendo desconhecidas fora deles. Mesmo pases pequenos podem sofrer de problemas semelhantes. So quatro as lnguas oficiais na Sua, na Espanha esto ressurgindo lnguas perseguidas durante a ditadura franquista, no vizinho Paraguai h pessoas que s falam guarani. Por outro lado, com a constituio e aprofundamento dos blocos econmicos, j temos uma moeda comum, o euro, sendo utilizadas em muitos pases europeus, cujas legislaes e tribunais particulares j esto subordinadas legislao e tribunais comunitrios. Vemos coexistirem dois movimentos, a princpio antagnicos: por um lado a globalizao, com a uniformizao das regras de comrcio, pela constituio de blocos econmicos e pela instituio de tratados comerciais cada vez mais amplos e detalhados; por outro a exacerbao das caractersticas locais, com a afirmao de nacionalidades e tradies. O interessado em comerciar com o resto do mundo deve ter esse ambiente em mente e procurar compreender as diferenas culturais, polticas e legais que existem entre ele e seu parceiro internacional, de modo a que o negcio possa ser bom para ambos (seno no h negcio) e que surpresas desagradveis no venham a acontecer. Exemplo clssico o da estrela de seis pontas tradicionalmente presente no rtulo de uma bebida nacional, que foi exportada para um pas muulmano, onde essa estrela tinha a conotao da Estrela de Davi, representativa de Israel, pas adversrio. bvio que o rtulo teve que ser mudado, mas com um pouco mais de compreenso dos hbitos do comprador no teria sido devolvida a primeira remessa, com os custos de frete envolvidos. As normas tcnicas internas tambm podem ser diferentes das utilizadas em nosso pas, a legislao pode impor requisitos aos rtulos, enfim, so muitos detalhes a serem pensados com antecedncia. Os exportadores tm como apoio a Secretaria de Comrcio Exterior, o Ministrio das Relaes Exteriores, as cmaras de comrcio binacionais e outras empresas atuantes no comrcio exterior, como bancos. Alm disso sempre bom enviar amostras do produto final, isto , incluindo embalagem, para avaliao pelo comprador em perspectiva. No sentido inverso, um importador brasileiro deve solicitar amostras e procurar conhecer as normas brasileiras, para verificar se a mercadoria em questo pode ser importada sem problemas. 6.2 Estratgia global e seleo de mercados

Uma empresa que queira exportar seus produtos precisa, antes de mais nada, selecionar os mercados que o possam consumir, eliminando os demais. Depois dever refinar a pesquisa, verificando a concorrncia existente nos mercados selecionados na primeira passagem, de modo a identificar os com melhor potencial. Finalmente passar a desenhar as estratgias de conquista dos mercados selecionados, de modo a fazer com que os possveis compradores se interessem em adquirir os seus produtos. A primeira seleo razoavelmente simples, dependendo de uma boa dose de bom-senso e de cultura geral. Neste momento devero ser considerados cultura, clima, relevo, poder aquisitivo dos pases, assim como as caractersticas das mercadorias. Exportar esquis de neve para Cuba, iate para o Paraguai ou barracas de praia para o Tibet no parece ser bom negcio, embora os moradores desses locais possam viajar e utilizar esses bens em outros lugares. Escolhidos os pases mais promissores podem ser feitas pesquisas de mercado com base em informaes disponibilizadas por diversas instituies, at mesmo na internet, nas pginas do Ministrio das Relaes Exteriores, da Indstria, Comrcio e Turismo, assim como podem ser consultadas as cmaras de comrcio binacionais dos pases em questo.

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verdade que pesquisas de mercado so instrumentos falhos, como bem ilustra uma histria contada por Amaury Temporal, diretor do Centro Internacional de Negcios do Rio de Janeiro, acontecida numa das primeiras feiras internacionais em que participou. L havia um candidato a exportador de limes, limes lindos, perfeitos, e um candidato a exportador de cachaa. Ambos desanimadssimos, sem receber uma proposta, sem ningum se interessar pelos seus produtos. Resolveram se unir e promover um kit-cachaa. Sucesso total. Mesmo assim, terminada a pesquisa inicial e selecionados os pases alvo, resta saber como alcanar seus compradores. As estratgias dependero de diversos fatores, inclusive do prprio produto a ser vendido. Patrocnio de eventos, participao em feiras, exposies e misses comerciais tambm podem ser alternativas interessantes. Tintas especiais para pintura artstica podero indicar a focalizao de escolas de belas artes e outros centros artsticos, enquanto moda praia poder sugerir contacto com cadeias de lojas de vesturio. Essas alternativas devem levar em conta os futuros canais de distribuio, a capacidade de produo da empresa, os modais de transporte passveis de serem utilizados, a distribuio geogrfica do comprador final. 6.3 Questes para fixao

1) Entre Alemanha e Arbia Saudita, qual o melhor pas para exportar cachaa? 2) Entre Israel e Lbano, qual o melhor pas para exportar carne de porco? 3) Que pases selecionar inicialmente como potenciais para exportao de trem eltrico miniatura? Que ao de marketing poderia ser tentada?

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77.1

Gesto do Mercado & PlanejamentoTcnicas de gesto de mercado (direta, indireta e mista)

As empresas podem gerir o mercador por meio de duas estratgias bsicas, a direta e a indireta, bem como por combinao das duas. A gesto direta do mercado, a prpria empresa contacta os seus clientes, por meio de estrutura montada para isso, utilizando filiais, escritrios, agentes, representantes, distribuidores no exterior. Tem como vantagem a eliminao de intermedirios e o domnio de todo o processo mercadolgico. A desvantagem o custo de manuteno dessa estrutura. A gesto indireta do mercado se d por meio de outras empresas, que intermediam as vendas. Podem ser tradings, agentes de compra e venda. A vantagem a diminuio dos custos, pois a remunerao dos intermedirios ser proporcional ao volume dos negcios, sem a necessidade de despesas fixas. A desvantagem a perda ou no obteno do controle do processo. Gesto mista inclui ambas, por exemplo pela manuteno de escritrios em alguns pases, cujo volume ou potencial de comrcio o justifique, e contratao de terceiros para os outros mercados. Com o desenvolvimento da Internet j pode ser feita a gesto direta sem qualquer estrutura no exterior, com venda direta ao consumidor, que acessa a pgina da empresa e nela faz seu pedido. No devemos confundir gesto direta ou indireta com exportao direta ou indireta. A exportao direta aquela em que a compra e venda se d entre o produtor e o consumidor: produtor exportador mercadoria pagamento

importador

Na exportao indireta o produtor vende a mercadoria para um intermedirio, uma trading company, por exemplo, ou uma cooperativa, que por sua vez a exporta para o importador. mercadoria pagamento mercadoria pagamento

produtor

exportador

importador

7.2

Anlise SWOT, por James Manktelow

Por que usar a matriz SWOT? A anlise SWOT uma maneira muito eficaz de identificar suas foras e fraquezas, de examinar as oportunidades e as ameaas que voc enfrenta. A estrutura SWOT ajuda a focar suas atividades nas reas onde voc forte e onde esto as melhores oportunidades. Para usar a ferramenta responda s perguntas abaixo. Onde apropriado, use perguntas similares. Foras: Quais so suas vantagens? O que voc faz bem? De que recursos relevantes voc dispe? Responda de seu prprio ponto da vista e do ponto da vista das pessoas com as quais voc lida. No seja modesto - seja realista. Se estiver tendo qualquer dificuldade, procure escrever uma lista das suas caractersticas. Afortunadamente algumas delas sero foras! Ao olhar suas foras, pense nelas com relao aos seus concorrentes. Por exemplo, se todos fornecem produtos de qualidade elevada, ento um processo de produo de qualidade elevada no uma fora no mercado, uma necessidade. Fraquezas: O que voc poderia melhorar? O que voc faz mal? O que voc deve evitar? Outra vez, responda de seu ponto da vista e do dos outros. Outras pessoas parecem perceber fraquezas que voc no v? Seus concorrentes esto fazendo melhor que voc? melhor ser realista agora e enfrentar todas as verdades desagradveis o mais cedo possvel. Oportunidades: Onde esto as boas oportunidades? Quais as tendncias interessantes que voc conhece? As oportunidades teis podem vir de coisas como: Mudanas na tecnologia e nos mercados em grande ou pequena escala; Mudanas nas polticas governamentais relacionadas sua rea; Mudanas em padres sociais, perfis da populao, estilos de vida, etc.; Eventos Locais.

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Uma abordagem til para encontrar oportunidades observar suas foras e perguntar se elas abrem possibilidades. Alternativamente, analisar suas fraquezas e perguntar se eliminando-as encontraria novas oportunidades. Ameaas: Que obstculos voc enfrenta? O que sua competio est fazendo? As especificaes requeridas para seus trabalho, produtos ou servios esto mudando? Mudanas na tecnologia esto ameaando sua posio? Voc tem problemas de maus pagadores ou de fluxo de caixa? Algumas de suas fraquezas podem ameaar seriamente seu negcio? Esta anlise freqentemente indica o que necessita ser feito, e pe os problemas em perspectiva. Voc tambm pode aplicar a anlise SWOT a seus concorrentes - o que pode produzir algumas vises interessantes! Exemplo Um pequeno negcio de consultoria pode fazer a seguinte anlise SWOT. Foras: Podemos responder rapidamente porque no temos; Nosso principal consultor tem forte reputao no mercado; Temos custos pequenos, assim podemos oferecer preos baixos. Fraquezas: Nossa companhia no tem presena nem reputao no mercado; Somos vulnerveis a pessoas vitais que podem adoecer, sair; Nosso fluxo de dinheiro ser pouco confivel nos estgios iniciais. Oportunidades Nosso setor de negcios est em expanso, com muitas oportunidades futuras de sucesso; A prefeitura quer incentivar empresas locais com trabalho onde possvel; Nossos concorrentes podem ser lentos em adotar tecnologias novas. Ameaas: Os desenvolvimentos da tecnologia podem mudar o mercado alm de nossa habilidade de adaptao; Pequena mudana no foco de um concorrente grande pode nos alijar de qualquer posio que tenhamos conseguido; Em funo dessa anlise, a consultoria pode decidir se especializar em resposta rpida, com boa relao custo-benefcio para as empresas locais. O marketing seria centrado em publicaes locais selecionadas, para obter a maior presena possvel no mercado para um dado oramento publicitrio. A consultoria deve manter-se atualizada em mudanas na tecnologia onde possvel. Pontos chave A anlise SWOT uma estrutura para analisar suas foras e fraquezas, e as oportunidades e as ameaas que voc enfrenta. Isto ajudar-lhe- a focalizar suas foras, minimizar fraquezas, e tirar a maior a vantagem possvel das oportunidades disponveis. A anlise SWOT apenas uma de muitas tcnicas que podem ajudar a alcanar uma posio original e bem sucedida para seu negcio. 7.3 Questes para fixao

1) Como uma grande empresa produtora de equipamentos de terraplenagem deveria gerir seu mercado externo? 2) Como uma micro empresa produtora de ganchos de alpinismo deveria gerir seu mercado externo? 3) Fazendo uma auto-anlise, quais os seus pontos fracos e o que fazer para remedi-los?

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88.1

Contratos de compra e vendaContratos de compra e venda

Os contratos internacionais de compra e venda podem ser extremamente detalhados ou resumirem-se a um mero pedido por telefone ou e-mail. O que determina o formato , por exemplo, a complexidade do negcio sendo feito e a histria anterior entre vendedor e comprador. A encomenda de uma turbina para uma hidreltrica poder exigir negociao demorada e contrato detalhadssimo. A compra de um livro pela internet usualmente feita com um mero clicar em opes na pgina da internet do vendedor. Um distribuidor tradicional de bebidas finas importadas pode estar fazendo negcios com um determinado fornecedor h dezenas de anos, na verdade a primeira negociao se deu entre os pais ou avs dos atuais comprador e vendedor, de modo que um telefonema basta. No entanto, como regra geral, os contratos de compra e venda internacionais se resumem a um pedido, uma fatura pr forma, uma confirmao e o envio da mercadoria junto com a fatura. De alguma forma o vendedor e o comprador se comunicam e o vendedor fica sabendo do interesse do comprador por uma certa mercadoria em determinada quantidade. De posse desses dados o vendedor envia para o comprador uma proposta formal, a fatura pro forma (pro forma invoice), que configura uma oferta firme dentro de um determinado prazo de validade. Neste momento o comprador no tem nenhuma obrigao, mas o vendedor tem a de cumprir o proposto se receber o de acordo do comprador. Se o comprador no concordar com a proposta, informar ao vendedor seu descontentamento com as condies ofertadas, desistindo do negcio ou indicando as alteraes que deseja sejam feitas. Recebida a resposta negativa do comprador, o negcio deixou de existir. Se condicional, mas no do interesse do vendedor, este poder fazer nova proposta, enviando nova pro forma, e o processo continua. Caso o comprador tenha concordado com a proposta, o negcio est feito, e a o comprador no mais poder desistir. Se o comprador tiver concordado em termos, propondo alteraes, e estas forem aceitas pelo vendedor, o negcio tambm est fechado. Basta agora o vendedor enviar a mercadoria e a fatura comercial (invoice), incluindo as alteraes exigidas pelo vendedor. Quanto fatura um documento relativamente simples e padro, embora no tenha formato definido por nenhum acordo internacional. Dever descrever a mercadoria, seu preo e condies de pagamento, identificar o vendedor e o comprador, especificar por conta de quem ficam as despesas de frete e seguro. recomendado que a fatura utilize um Incoterm, visto a seguir, como meio de tornar mais claros e compreensveis seus termos, mesmo que os costumes comerciais do vendedor e comprador sejam muito distintos. 8.2 Formao de preos

A formao de preos para exportao no , em sua essncia, distinta da formao de preos para o mercado interno. Da mesma forma, o preo deve permitir cobrir os custos e resultar em algum lucro para o vendedor. Da mesma forma, o preo sofre os constrangimentos da concorrncia. Da mesma forma, o lucro pode ser sacrificado, o vendedor at mesmo pode incorrer em prejuzos em certas operaes, seja no processo de aprendizado, seja para abrir um mercado, prejuzos esses que podem ser entendidos como investimentos. O primeiro procedimento ser avaliar os custos especficos da exportao, diferentes dos associados s vendas no mercado interno. Um ponto fundamental a considerar a embalagem, que usualmente deve ser mais resistente, tanto para enfrentar temperaturas extremadas, abaixo de zero nos pores das aeronaves, bastante altas dentro de cofres de carga nos navios, expostos dias ao sol inclemente. Alm disso as embalagens so mais manipuladas, e necessitam conter mais informaes, para permitir a compreenso de seus dizeres em outras lnguas. Assim h que especificar as embalagens de exportao e verificar o custo associado. O frete internacional tambm ter seu preo especfico, que pode ser maior ou menor do que o frete interno, dependendo claro da distncia e modal de transporte. Certamente o frete de exportao de Porto Alegre para Montevidu deve ser mais baixo que o de Porto Alegre para Manaus... Alm do frete devem ser consideradas as demais despesas com o despacho de exportao, desde a obteno de documentos, tais como certificados de origem e Forms A, at ao prprio despacho, com a contratao de despachantes ou a criao de um setor na empresa para lidar com essa atividade. Algumas dessas despesas podem correr por conta do importador, e consequentemente no faro parte do preo de exportao, conforme o Incoterm acordado entre as partes, mas o exportador deve procurar dominar todo o processo, buscando se possvel entregar a mercadoria no depsito do importador.

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Finalmente, devem ser recalculados os tributos incidentes, pois no s h isenes, no sendo pagos o IPI nem ICMS, como tambm gerando crditos presumidos para desonerar as exportaes do PIS e da Cofins. Feitos esses ajustes em relao ao preo interno, obtido o preo internacional, que variar conforme o destino, em funo das diferenas de frete. O preo efetivamente cobrado poder ser bastante diferente. Se a empresa nacional for muito competitiva, ela poder tanto cobrar o preo final calculado pelos ajustes, como um preo superior e mesmo assim ainda inferior ao do mercado internacional, aumentando assim sua rentabilidade, que poder ser reinvestida de modo a melhorar a qualidade e a eficincia do processo produtivo, antecipando os movimentos dos concorrentes. Poder tambm optar por iniciar as operaes com um preo mais atraente que o que pretende aplicar a longo prazo, para oferecer um atrativo adicional em mercado onde desconhecida. De qualquer forma a empresa deve estar preparada para assumir despesas imprevistas, decorrente de decises equivocadas, fruto da inexperincia, ou mesmo de fatores imponderveis, de modo a no permitir que sua credibilidade possa ser arranhada em funo de problemas na entrega. 8.3 Servios para o comrcio exterior

Nas exportaes e importaes as empresas podem utilizar pessoal prprio, verticalizando as operaes, ou terceirizar algumas funes, contratando servios especializados de terceiros. Quanto menor a empresa mais terceirizar, para evitar incorrer investimentos muito altos com treinamento especializado. Mesmo empresas grandes optam por terceirizar servios que poderiam assumir, para no perder o foco da atividade principal. Diversos so os profissionais ou empresas que prestam servios para o comrcio exterior. Veremos alguns. O agente de comrcio exterior procura criar os negcios, trabalhando para o exportador, em busca de compradores, ou para o importador, em busca de fornecedores. usualmente remunerado por comisso sobre os negcios firmados. O agente de cargas quem angaria cargas para as empresas de transporte internacional. Em particular o agente consolidador de cargas contrata transportes de pequenas cargas de vrios interessados, consolidando-as em uma nica para o transportador. Assim um cofre de carga pode ser partilhado por diversos exportadores, viabilizando transportes que de outra forma poderiam ser excessivamente caros. Na operao de transporte propriamente dita temos vrios profissionais que manipulam a carga, que podem ser estivadores, que movimentam a carga dentro dos navios, conferentes, que verificam a carga. Antes e aps o transporte da mercadoria ela pode ficar depositada em algum ptio ou armazm, sob a responsabilidade do depositrio, empresa de depsito, que cobrar pelo servio de armazenagem. O fiel do armazm a pessoa fsica responsvel pela integridade da mercadoria durante a estadia no depsito. Alm dessas empresas e desses profissionais, as empresas de comrcio exterior tambm contam com bancos e corretores de cmbio, com corretores de seguro e a Seguradora Brasileira de Crdito Exportao, com empresas de transporte areo, martimo e terrestre, com os Correios e empresas de remessas expressas, com consultores em geral. 8.4 Questes para fixao

1) A fixao do preo de exportao uma atividade exata? 2) Quais as diferenas bsicas entre o preo interno e o preo de exportao? 5) Porque contratar um agente consolidador de cargas?

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9

Incoterms

Incoterms so siglas definidas pela Cmara de Comrcio Internacional, que representam as condies de venda, definindo os direitos e obrigaes mnimas do vendedor e do comprador quanto a fretes, seguros, movimentao em terminais, liberaes em alfndegas e obteno de documentos de um contrato internacional de venda de mercadorias. 9.1 Grupo "E": Partida

EXW - Ex Works | No Local de Produo (...local designado) O exportador acondiciona a mercadoria na embalagem de transporte (caixa, saco) e a disponibiliza em seu prprio estabelecimento. Cabe ao importador estrangeiro adotar todos as providncias para retirada da mercadoria do estabelecimento do exportador, transporte interno, embarque para o exterior, licenciamentos, contrataes de frete e de seguro internacionais, etc. No deve ser utilizado quando o importador no est apto para, direta ou indiretamente, obter os documentos necessrios exportao da mercadoria. 9.2 Grupo "F": Transporte internacional no pago

FCA Free Carrier | Transportador Livre (...local designado) O exportador entrega a mercadoria, desembaraada para exportao, aos cuidados do transportador internacional indicado pelo importador, no local designado do pas de origem. Se a entrega ocorrer na propriedade do exportador, o exportador responsvel pelo embarque. Se a entrega ocorrer em qualquer outro lugar, o exportador no responsvel pelo desembarque. Cabe ao importador (importador) contratar frete e o seguro internacional. FAS Free Alongside Ship | Livre no Costado do Navio (...porto de embarque) O exportador coloca a mercadoria ao longo do costado do navio transportador, no porto de embarque. O importador contrata o frete e o seguro internacionais. O exportador o responsvel pelo desembarao das mercadorias para exportao. FOB Free on Board (... named por of shipment) | Livre a Bordo (...porto de embarque designado) A responsabilidade do exportador, sobre a mercadoria, vai at a transposio da amurada do navio, no porto de embarque, embora a colocao da mercadoria a bordo do navio seja tambm, em princpio, tarefa a cargo do exportador. O exportador o responsvel pelo desembarao das mercadorias para exportao. O importador contrata o frete internacional. O exportador precisa conhecer qual o termo martimo acordado entre o importador e o armador, a fim de verificar quem dever cobrir as despesas de embarque da mercadoria. 9.3 Grupo "C": Transporte internacional pago

CFR Cost and Freight | Custo e Frete (...porto de destino designado) O exportador assume todos os custos anteriores ao embarque internacional, bem como a contratao do frete internacional, para transportar a mercadoria at o porto de destino indicado. Os riscos por perdas e danos na mercadoria so transferidos do exportador para o importador ainda no porto de carga (como no FOB). A venda propriamente dita est ocorrendo no pas do exportador. O exportador desembaraa as mercadorias para exportao. CIF Cost, Insurance and Freight | Custo, Seguro e Frete (...porto de destino designado) O exportador tem as obrigaes do "CFR" e, adicionalmente, que contratar o seguro martimo contra riscos de perdas e danos durante o transporte. Como a negociao ainda est ocorrendo no pas do exportador (a amurada do navio, no porto de embarque, o ponto de transferncia de responsabilidade sobre a mercadoria), o importador deve observar que no termo "CIF" o exportador somente obrigado a contratar seguro com cobertura mnima. O exportador desembaraa as mercadorias para exportao. CPT Carriage Paid to | Transporte Pago at (...local de destino designado) O exportador contrata o frete pelo transporte da mercadoria at o local designado. Os riscos de perdas e danos na mercadoria, bem como quaisquer custos adicionais devidos a eventos ocorridos aps a entrega da mercadoria ao transportador, so transferidos pelo exportador ao importador, quando a mercadoria entregue custdia do transportador. O exportador desembaraa as mercadorias para exportao. CIP Carriage and Insurance Paid to | Transporte e Seguros Pagos at (...local de destino) O exportador tem as obrigaes definidas no "CPT" e, adicionalmente, arca com o seguro contra riscos de perdas e danos da mercadoria durante o transporte internacional. O importador deve observar que no termo "CIP" o exportador obrigado apenas a contratar seguro com cobertura mnima, posto que a venda

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(transferncia de responsabilidade sobre a mercadoria) se processa no pas do exportador. O exportador desembaraa as mercadorias para exportao. 9.4 Grupo "D": Chegada

DAF - Delivered at Frontier | Entregue na Fronteira (...local designado) O exportador completa entrega a mercadoria, desembaraada para a exportao, em um ponto da fronteira indicado e definido de maneira mais precisa possvel. A entrega da mercadoria ao importador ocorre em um ponto anterior ao posto alfandegrio do pas limtrofe. Usualmente empregado quando a modalidade de transporte terrestre (rodoviria ou ferroviria). DES - Delivered Ex Ship | Entregue a Partir do Navio (...porto de destino designado) O exportador entrega a mercadoria a bordo do navio no porto de descarga, assumido todos os custos e riscos durante a viagem internacional. O importador providencia a retirada da mercadoria do navio e o desembarao para importao. DEQ Delivered Ex Quay | Entregue a Partir do Cais (...porto de destino designado) O exportador entrega a mercadoria no cais do porto de destino nomeado. O exportador tem obrigao de levar a mercadoria at o porto de destino e desembarcar as mercadorias no cais. Os riscos e os custos so transferidos do exportador para o importador a partir da "entrega" no cais do porto de destino. As mercadorias devem ser entregues por transporte martimo ou hidrovirio interior ou multimodal, no desembarque do navio no cais (atracadouro) no porto de destino. DDU - Delivered Duty Unpaid | Entregue Direitos No Pagos (...local de destino designado) O exportador entrega a mercadoria tiver no local designado do Pas de destino final, no desembaraada para importao. Todos os riscos de perdas e danos so assumidos pelo exportador at a entrega no local designado, exceo de impostos, taxas e demais encargos oficiais incidentes na importao e dos custos e riscos do desembarao de formalidades alfandegrias. DDP Delivered Duty Paid | Entregue Direitos Pagos (...local de destino designado) O exportador entrega a mercadoria no local designado do Pas de destino final, desembaraada para importao. O exportador assume todos os riscos e custos, inclusive impostos, taxas e outros encargos incidentes na importao. O termo "DDP" no deve ser utilizado quando o exportador no est apto para, direta ou indiretamente, obter os documentos necessrios importao da mercadoria. 9.5 Cuidados

As condies esto divididas nas modalidades qualquer e aquavirio. Um Incoterm da modalidade qualquer pode ser utilizado para transporte martimo, mas o inverso no verdadeiro. Modalidade Sigla Descrio Qualquer EXW Ex Works (... local) FCA Free Carrier (...local) CPT Carriage Paid To (... destino) CIP Carriage and Insurance Paid To (... destino) DAF Delivered At Frontier (... local) DDU Delivered Duty Unpaid (... destino) DDP Delivered Duty Paid (... destino) Aqutico FAS Free Alongside Ship (... porto de embarque) FOB Free On Board (... porto de embarque) CFR Cost and Freight (... porto de destino) CIF Cost, Insurance and Freight (... porto de destino) DES Delivered Ex Ship (... porto de destino) DEQ Delivered Ex Quay (... porto de destino) Alm de se dever tomar o cuidado ao especificar o Incoterm na negociao - e na fatura, claro - no devemos esquecer de adaptar as declaraes. Assim, uma exportao ficta no pode ser FOB, pois no haver transporte martimo. 9.6 Questes para fixao

1) Paulo, comerciante brasileiro, adquire de Paul, famoso produtor francs de champagnes, com a clusula CFR, uma grande quantidade da bebida. Durante a viagem martima grande parte dela estraga, devido s grandes temperaturas, em funo de pane no sistema de ventilao. De quem o prejuzo? 2) Qual a diferena entre FCA e FAS no transporte martimo? 3) Quais as diferenas, com relao ao risco das mercadorias e ao pagamento do frete, entre FOB e CFR?

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1010.1

Transporte Internacional, logstica e modais de transporteTransporte

As mercadorias podem ser transportadas por diversos modais, a saber areo, terrestre (rodovirio, ferrovirio) e aqutico (martimo, fluvial e lacustre). Quando so usados vrios modais, denomina-se transporte intermodal, a menos que um transportador se responsabilize pelo transporte total, emitindo um nico conhecimento que amparar os diversos modais: neste caso trata-se de transporte multimodal. As mercadorias tambm podem ser transportadas por outros meios: pelos correios, por empresa de remessa expressa (courier), como bagagem pelo viajante ou pelo prprio importador. Nesses casos o meio de transporte ser respectivamente correios, courier, bagagem e meios prprios, mesmo que os correios enviem as malas postais por via area, ou que a bagagem seja de algum que esteja fazendo um cruzeiro martimo. Existe tambm o transporte por dutos, como o que permite o gs boliviano chegar ao Brasil. Cada meio de transporte oferece vantagens e limitaes. O transporte areo apresenta como vantagens a rapidez e a segurana, mas o mais caro de todos. O rodovirio o mais flexvel, pois o nico que pode ir porta dos estabelecimentos do importador e do exportador, mas tambm caro e oferece maiores riscos de roubo de carga e acidentes. O ferrovirio j oferece preos muito mais em conta, mas no Brasil est pouco desenvolvido. O aquavirio o mais econmico, mas ainda mais restrito em termos de locais de embarque: com o crescimento e encarecimento dos navios, so necessrios portos mais profundos e bem aparelhados, o que est reduzindo ainda mais a quantidade de portos e linhas de navegao internacionais. 10.2 Conhecimento de carga

O conhecimento de transporte tem duas funes bsicas: 1) contrato de transporte, estabelecendo o preo do servio (frete), descrevendo mercadoria e trajeto (origem e destino) e 2) prova de propriedade da mercadoria. O conhecimento de transporte tambm conhecido como conhecimento de carga, ou ainda pelas siglas em ingls BL (bill of lading) e AWB (air way bill), respectivamente para os conhecimentos martimo e areo. Se houver necessidade de correo em algum conhecimento, seu emitente dever fazer uma carta de correo dirigida autoridade aduaneira do local de descarga, e apresent-la at trinta dias aps a formalizao da entrada do veculo, acompanhada do conhecimento corrigido, desde que ainda no iniciado o despacho aduaneiro. Se aceita a carta de correo, o que depende da deciso da autoridade aduaneira, isso implicar em correo do manifesto. O conhecimento de carga dever identificar a unidade de carga em que a mercadoria por ele amparada esteja contida. 10.3 Frete

Frete (freight) o valor cobrado pelo transporte da mercadoria. calculado em funo de diversos fatores, tais como peso, volume, valor da mercadoria e a natureza desta (perecvel, frgil,...), tipo da embalagem, natureza do transporte. O frete pode ser pago na origem, antes do incio do transporte da mercadoria iniciar o transporte (frete prpago ou prepaid): a modalidade mais econmica. O frete tambm pode ser pago no destino, aps o trmino da operao (frete a cobrar, collect freight). O frete pode ainda ser pago parte na origem, parte no destino. O valor do frete vai depender de diversos fatores: meio de transporte, distncia, volume, peso, preo da mercadoria, e, claro, da poltica de preos do transportador e das relaes comerciais dele com o embarcador (quem contrata o transporte da mercadoria). 10.4 Controles sobre a carga

Inicialmente o transportador deve informar Aduana quais cargas est transportando, assim como comunicar a existncia, no veculo, de mercadorias ou volumes de fcil extravio. Para isso utiliza os seguintes documentos: conhecimentos de transporte, que descrevem cada carga e indica remetentes e destinatrios; manifestos de carga, que relacionam os conhecimentos; declaraes de bagagem dos viajantes, se exigidas por normas especficas; lista dos pertences da tripulao;

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lista de sobressalentes; lista de provises de bordo; relao das unidades de carga vazias existentes a bordo; declarao de acrscimo de volume ou mercadoria em relao ao manifesto; e outras declaraes ou documentos de seu interesse.

Em caso de embarcao procedente do exterior, a autoridade aduaneira do primeiro porto de atracao no Pas dever ser informada antecipadamente, por escrito, da hora estimada da chegada, procedncia, destino e, se for o caso, quantidade de passageiros. Depois da chegada do veculo ao Pas e da prestao das informaes sobre a carga, a Aduana emitir o termo de entrada, somente aps o que podero ser efetuadas operaes de carga e descarga. As mercadorias descarregadas devero ser registradas pelo transportador e pelo depositrio. Aps concludos os procedimentos fiscais, a autoridade aduaneira autorizar a sada da embarcao do porto, emitindo o passe de sada. Se for do interesse do transportador, mediante termo de responsabilidade, a autorizao poder ser feita antes de concludos esses procedimentos. Nos portos seguintes ser exigido o passe de sada do porto da escala anterior. 10.5 Manifesto de carga

O manifesto de carga um documento que relaciona todos os conhecimentos com mesmo local de carga e de descarga. Cada manifesto deve conter a identificao do veculo e sua nacionalidade; o local de embarque e de destino das cargas; nmero de cada conhecimento; quantidade, espcie, marcas, nmero e peso dos volumes; natureza das mercadorias; consignatrio de cada partida; data do seu encerramento; e nome e assinatura do responsvel pelo veculo. Carga embarcadas aps encerrado o manifesto devero ser includas em manifesto complementar, com as mesmas informaes. Para cada porto de descarga no territrio aduaneiro o navio dever trazer tantos manifestos quantos forem os portos, no exterior, em que tiver recebido carga. A no-apresentao de manifesto ou declarao de efeito equivalente, em relao a qualquer ponto de escala no exterior, ser considerada declarao negativa de carga. Omisso de volume em manifesto de carga, constante de conhecimento regularmente emitido, poder ser suprida mediante apresentao da mercadoria sob declarao escrita do responsvel pelo veculo, antes que a autoridade aduaneira tome conhecimento da irregularidade. A Aduana pode efetuar buscas no veculo, para verificar a correo das informaes, e aplicar lacres nos compartimentos (cambusa, por exemplo) que contenham mercadorias de fcil extravio ou sobressalentes e provises que excedam as necessidades do servio de manuteno do veculo e de uso ou consumo da tripulao e dos passageiros. Os lacres sero retirados pela prpria Aduana ou pela tripulao do veculo aps sua sada do porto. Em princpio, a carga deve ser desembarcada no porto para qual est manifestada. Se houver necessidade de desembarc-la em outro porto, deve ser solicitada autorizao autoridade aduaneira do novo destino, que dever comunicar o fato unidade com jurisdio sobre o local para onde a mercadoria estava originalmente manifestada. Se houver divergncia entre manifesto e conhecimento, prevalecer o indicado no conhecimento, podendo a correo do manifesto ser feita de ofcio. 10.6 Abastecimento de veculos

Os veculos em viagem internacional podem necessitar de combustvel, lubrificantes, peas de reposio, alimentos para a tripulao e passageiros. Existem procedimentos especiais para atender s necessidades especiais dos veculos, permitindo que as empresas de transporte armazenem materiais estrangeiros (ver outros regimes aduaneiros), mas as empresas tambm podem atender s suas necessidades comprando no mercado externo, o que pode ser considerado exportao para consumo de bordo, quando pago em moeda estrangeira. 10.7 Questes para fixao

1) Que documentos so emitidos pela Aduana com relao a navios? 2) Uma mercadoria transportada pelo ar via area? 3) Que fatores principais devem ser levados em conta na escolha do modal de transporte?

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11

Embalagem & Seguro

As mercadorias podem ser embarcadas a granel ou embaladas. As primeiras, como soja em gro, petrleo, gs, so colocadas em depsitos prprios dos veculos transportadores, tais como tanques e pores. As demais so embaladas, para proteg-las e at como meio de venda. Perfumes, azeites, camisas, lpis de cor: so colocados em vidros, latas, caixas litografadas. As embalagens devem obedecer aos hbitos culturais do importador. Um pas islmico em discrdia com Israel no ver com bons olhos uma estrela de seis pontas numa garrafa de cerveja brasileira, mesmo que essa estrela nada tenha a ver com a estrela de Davi. No devemos confundir embalagem com unitizao. 11.1 Unitizao e consolidao de carga

Ainda vemos, em quadros antigos, carregadores com sacos e caixas s costas, subindo e descendo dos navios. Hoje o processo muito diferente: contentores so iados, gros so carregados por correias trasportadoras. Unitizao a reunio de vrios volumes em um volume s, como quando 20 caixas de liquidificadores so agrupados sobre um pallet. Se essas caixas contm caixas de lpis de cor, ento j houve uma operao de unitizao anterior. Desunitizao a operao inversa, de separar as mercadorias. Possvelmente as mercadorias sero unitizadas sucessivamente, em volumes cada vez maiores, de modo a atender as necessidades da cadeia de distribuio: volumes para atacadistas e para retalhistas. Ovar ou estufar um contentor carreg-lo com mercadorias. Desovar a operao inversa. O contentor serve para unitizar as mercadorias, para que sejam carregadas de uma s vez, para proteg-las, e, principalmente, para facilitar a operao do navio. Quando no h carga suficiente para um contentor, a carga pode ser, a critrio do transportador, colocada dentro de um contentor de convenincia, juntamente com cargas de outros interessados. No se deve confundir essa operao com a de consolidao de cargas, operada por NVOCC (Non-Vessel Operating Common Carrier), transportador comum no proprietrio de navio. Neste caso o transporte contratado com um NVOCC, que emite o conhecimento de transporte, dito filhote (BL house), e o entrega para o embarcador. O NVOCC reune diversas cargas e as entrega a outro transportador, que emite um conhecimento master (BL master), onde o NVOCC figura como embarcador e seu correspondente no outro pas como consignatrio. O correspondente recebe o conhecimento master e o desmembra, no destino, em novos filhotes. Observe-se que o master no deve servir como prova da propriedade da mercadoria. 11.2 Armazenagem

A logstica tambm deve se preocupar com a armazenagem da mercadoria nas diversas fases do transporte, e com os custos dessa armazenagem, cobrado em funo do volume, do peso, do preo e de outras caractersticas das mercadorias, mas cobrado tambm em funo do tempo de armazenagem. O responsvel pela mercadorias em um armazm o fiel do armazm, pessoa da confiana do depositrio. 11.3 Seguro

O mundo oferece riscos de muitas naturezas: acidentes, furtos, faltas de pagamentos, incndios, prejuzos que podem onerar muito os prejudicados, colocando em perigo at mesmo as possibilidades de sobrevivncia de empresas. Uma alternativa pode ser a troca de prejuzos incertos e vultosos por despesas certas comparativamente pequenas. Contrato de seguro aquele pelo qual o segurado paga um prmio ao segurador, para que este assuma determinados riscos sobre o objeto, com a obrigao de indenizar o beneficirio, at o valor da cobertura, quanto aos danos advindos de um sinistro. Segurado quem contrata o segurador, negocia com este as clusulas do negcio, tais como quais riscos sero cobertos e qual o valor da cobertura, e paga o prmio estipulado pelo segurador. Objeto o bem protegido. Os riscos so as situaes danosas, incertas ou certas mais de data incerta, previstas no contrato. Prmio o preo do seguro, diretamente proporcional ao valor do objeto e inversamente proporcional probabilidade de ocorrncia dos riscos. mais provvel a perda de uma carga por causa de um acidente que por queda de raio, o que tornaria o prmio do primeiro menor que do segundo. Tambm mais provvel a perda de uma carga por causa acidental que por guerra, mas neste caso as seguradoras podem

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colocar dificuldades contratao do seguro, no pelo risco em si, mas devido ao fato que ocorrendo uma guerra, poderia ter que indenizar muitas cargas ao mesmo tempo, colocando em risco a prpria sobrevivncia. Cobertura o valor segurado, devendo guardar estreita relao com o valor do objeto. A cobertura no deve ser maior, pois o recebimento da indenizao no deve configurar um lucro para o beneficirio, mas repor o dano. Se for menor, cobrir parcialmente o objeto. Sinistro a ocorrncia de um ou mais dos riscos previstos, dando causa ao dano, perda total ou parcial do valor do objeto. Beneficirio quem deve receber a indenizao, podendo ser o segurado (seguro direto) ou outra pessoa (seguro indireto). O contrato de seguro pode prever uma franquia, valor no indenizvel pelo segurador, para evitar que este seja acionado para indenizar pequenos valores (com custos administrativos no necessariamente pequenos) e para incentivar a tomar as precaues adequadas para evitar a ocorrncia de sinistros. O contrato de seguro provado por uma aplice de seguro, que poder cobrir uma operao ou vrias durante certo tempo. No primeiro caso a aplice ser dita simples ou avulsa, no segundo flutuante, se o prazo for determinado e aberta se indeterminado. Se a aplice contempla diversas operaes ou objetos, o segurado dever informar o segurador de cada ocorrncia, fazendo a averbao dos dados de cada uma. O segurador por sua vez emitir um certificado de seguro, comprobatrio de cada operao, e calcular o prmio a ser pago no perodo. No se deve confundir o parcelamento em prestaes de prmio nico com as parcelas variveis da aplice flutuante ou aberta. 11.4 Seguro da Mercadoria

O seguro da mercadoria objetiva indenizar o interessado por perdas e danos que possam ocorrer com as mercadorias durante o transporte. Na negociao, exportador e importador devero definir em que momento os riscos sobre a mercadoria sero transferidos de um para outro e se o vendedor dever contratar algum seguro. Mas qualquer das partes, por sua conta, poder contratar o seguro que desejar para se proteger de algum dano. 11.5 Seguro do Pagamento

Outro risco no comrcio internacional o comprador no pagar a mercadoria: pode ser reduzido com a exigncia de pagamento antecipado ou de carta de crdito, mas os compradores podem no se interessar por negcios feitos nessas bases. Uma alternativa a contratao de seguro contra a falta de pagamento. No Brasil quem oferece esse tipo de seguro a SBCE (Seguradora Brasileira de Crdito Exportao), podendo cobrir riscos comerciais e polticos. Por risco comercial entende-se o risco de o importador no pagar o que deve, por falncia ou simples mora. Risco poltico compreende os "fatos do prncipe", atos governamentais do pas do importador que impeam a transferncia do pagamento, como moratrias, confiscos, guerras. A seguradora avalia a capacidade financeira do importador honrar seus compromissos (risco comercial) e de venham a acontecer problemas poltico-econmicos que o impeam de fazer o pagamento (risco poltico). Com base nessa anlise de risco define o prmio do seguro ou desaconselha a venda, se o negcio for muito arriscado. O seguro de crdito exportao oferecido pela SBCE inclui trs servios interligados: a anlise da capacidade financeira do importador, a cobrana e o seguro propriamente dito em caso se sinistro (falta de pagamento). Total segurado o valor total das exportaes cujo seguro foi contratado. Cobertura a parcela, do valor segurado, que ser indenizada, pela seguradora, em caso de sinistro. A cobertura de 85% do valor segurado, para riscos comerciais (falncia ou mora), e de 90%, para riscos polticos e extraordinrios (moratria, guerra, confisco etc), ou seja, a franquia de 15% no primeiro caso e de 10% no segundo, sobre o que o importador deixar de pagar. Alm do prmio, seguradora cobrar as anlises cadastrais que visam avaliar o risco de cada importador. 11.6 Questes para fixao

1) Um exportador que faz dezenas de exportaes de mesmo valor; dever contratar seguro? 2) Qual a diferena entre ovar e unitizar? 3) Que vantagens o NVOCC oferece para o armador?

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Pagamento e cmbio

Na negociao da compra e venda internacional devero ser definidos no s o preo como tambm o prazo de pagamento, a forma de remessa do numerrio, a forma de cobrana e previsto o cmbio. 12.1 Prazos de pagamento

O pagamento pode ser pago antecipadamente, vista, a prazo. O pagamento costuma ser antecipado nos casos em que o comprador no tem credibilidade perante o vendedor, quando o comprador financia o vendedor e quando a mercadoria fabricada sob encomenda com grande prazo de fabricao (por exemplo, navios, turbinas hidreltricas). No pagamento a prazo o vendedor da mercadoria financia o importador, o que pode ser um diferencial de vendas, mas aumenta o risco do exportador. 12.2 Formas de pagamento e cobrana

So muitas as modalidades, que devero ser escolhidas tendo em vista o grau de confiana mtua existente entre exportador e importador. A remessa simples consiste no envio, pelo importador, de uma ordem de pagamento favorecendo o exportador. a modalidade bancria mais econmica, mas o exportador depende totalmente da iniciativa do importador. mercadoria pagamento