67204723 o capitalismo tardio joao manoel cardoso de mello

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7/22/2019 67204723 O Capitalismo Tardio Joao Manoel Cardoso de Mello http://slidepdf.com/reader/full/67204723-o-capitalismo-tardio-joao-manoel-cardoso-de-mello 1/5 O capitalismo Tardio – João Manoel Cardoso de Mello A dinâmica e a crise da economia mercantil escravista cafeeira nacional (1808-1888) Periodização do texto:  1500 – 1808: período colonial  1808 – 1888: economia escravista cafeeira  1888 – 1956: industrialização restringida  1956 – 1961: industrialização pesada Entraves à economia: (1) trabalho escravo, (2) terra, (3) realização da produção. 1. Trabalho escravo: constitui-se um problema para o funcionamento da economia escravista nacional. No início do século 19 não existia o problema da oferta de mão-de-obra, pois existia o tráfico interno e a disponibilidade interna de regiões decadentes. Ex: da economia mineira - a extração de ouro estava em decadência nessa época. No meio do século começam as fortes pressões por parte da Inglaterra para a liberação dessa mão-de-obra escrava. Essa pressão era tão expressiva que poderia até haver uma invasão para forçar a abolição do trabalho escravo. Em 1850 o Brasil aboliu o tráfico negreiro, o que representou um grande problema para a economia cafeeira. Como manter a demanda externa? - reprodução interna = igualar a taxa de mortalidade com a taxa de natalidade. Para isso era necessário reduzir a taxa de exploração (carga horária de trabalho) (condições de trabalho e vida precárias). Porém a redução na taxa de exploração implicava diretamente em uma redução na taxa de lucro porque, com as elevações dos custos diminuía a oferta interna e assim aumentava os preços dos escravos 2. Disponibilidade de terras: a oferta não era um problema. Mas a oferta de terra acabou por se tornar um problema em relação à disponibilidade. A expansão da fronteira agrícola foi a principal causa desse problema de disponibilidade de terras = interiorização da produção = maiores distâncias dos lugares de embarque. Isso significava maiores custos com transporte. Esse transporte era realizado através do trabalho escravo e também da força animal. O aumento desse custo também afetava na redução da margem de lucro. O trabalho escravo chegaria aos limites de sua exploração, isto representaria uma dificuldade a mais para o fazendeiro. 3. Demanda (realização da produção): a realização se deu de forma cíclica e primeiramente dependia da demanda externa. Ex: dinâmica: ↑ nos preços externos = ↑nos investimentos na produção de café = ↑ na produção = ↑ na oferta = ↓ no preço do café = diminuía a taxa de lucro dos produtores em um cenário de alta dos custos.

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O capitalismo Tardio – João Manoel Cardoso de Mello

A dinâmica e a crise da economia mercantil escravista cafeeira nacional (1808-1888)

Periodização do texto:

  1500 – 1808: período colonial

  1808 – 1888: economia escravista cafeeira

  1888 – 1956: industrialização restringida

  1956 – 1961: industrialização pesada

Entraves à economia: (1) trabalho escravo, (2) terra, (3) realização da produção.

1.  Trabalho escravo: constitui-se um problema para o funcionamento da economia

escravista nacional.

No início do século 19 não existia o problema da oferta de mão-de-obra, pois existia otráfico interno e a disponibilidade interna de regiões decadentes. Ex: da economia mineira

- a extração de ouro estava em decadência nessa época. No meio do século começam as

fortes pressões por parte da Inglaterra para a liberação dessa mão-de-obra escrava. Essa

pressão era tão expressiva que poderia até haver uma invasão para forçar a abolição do

trabalho escravo. Em 1850 o Brasil aboliu o tráfico negreiro, o que representou um grande

problema para a economia cafeeira.

Como manter a demanda externa?

- reprodução interna = igualar a taxa de mortalidade com a taxa de natalidade. Para isso

era necessário reduzir a taxa de exploração (carga horária de trabalho) (condições de

trabalho e vida precárias). Porém a redução na taxa de exploração implicava diretamente

em uma redução na taxa de lucro porque, com as elevações dos custos diminuía a oferta

interna e assim aumentava os preços dos escravos

2. Disponibilidade de terras: a oferta não era um problema. Mas a oferta de terra acabou

por se tornar um problema em relação à disponibilidade. A expansão da fronteira agrícola

foi a principal causa desse problema de disponibilidade de terras = interiorização da

produção = maiores distâncias dos lugares de embarque. Isso significava maiores custos

com transporte. Esse transporte era realizado através do trabalho escravo e também da

força animal. O aumento desse custo também afetava na redução da margem de lucro. O

trabalho escravo chegaria aos limites de sua exploração, isto representaria uma

dificuldade a mais para o fazendeiro.

3. Demanda (realização da produção): a realização se deu de forma cíclica e

primeiramente dependia da demanda externa.

Ex: dinâmica: ↑ nos preços externos = ↑nos investimentos na produção de café = ↑ na

produção = ↑ na oferta = ↓ no preço do café = diminuía a taxa de lucro dos produtores

em um cenário de alta dos custos.

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Até 1930 – isso foi muito comum. No final do século 19 e início do século 20 a economia

cafeeira no Brasil passou por muitas crises.

A demanda por café era totalmente dependente da demanda externa. O problema se dava

quando ocorria uma redução na demanda externa, pois isso resultava no encarecimento

da produção e no detrimento dos lucros.

Houve também no Brasil o período conhecido como o período de superprodução em que

havia diversas leis de proteção ao café. Isso deixava a economia brasileira ainda mais

sujeita às crises internacionais.

Para contornar o problema, o governo adotou algumas medidas de redução de custos.

  Trabalho assalariado: mão-de-obra imigrante

  Transporte: redução de custos para o transporte = a partir da constrição de

ferrovias – com o capital privado, mas com a participação do capital estatal e

externo.

  Máquinas: para o beneficiamento do café – aumentava a produção e melhorava a

qualidade do café.

A produção cafeeira refletia as grandes economias centrais!!!

Financiamento das produções (expansão das fazendas) - feito a partir do capital mercantil.

O capital mercantil controlava tudo. Os principais agentes desse capital eram os comissários,

que eram comerciantes, principalmente de escravos e mulas, e que tinhas a função de um

banqueiro. Eram eles quem controlava o financiamento agrícola. Os comissários, além definanciarem a produção agrícola, compravam a produção, a partir de um preço estipulado por

ele mesmo, e exportavam na, tomando para si todos os lucros dessa atividade.

Capítulo 2 – O complexo exportador cafeeiro.

A problemática da industrialização retardatária: a economia cafeeira capitalista exportadora =

transformação da mão-de-obra em mercadoria.

Apesar de a economia cafeeira ser capitalista, não se constitui forças reprodutivas capitalistas

que permitiriam a reprodução ampliada do capital.

Forças produtivas: base material do capital (máquinas e equipamentos: instrumentos de

trabalho que produz). “O que diferencia as épocas econômicas não é o que se produz, mas

como se produz, e com quais instrumentos de trabalho se produz.” – O CAPITAL.

Neste período existe o crescimento industrial.

Produção ampliada – consiste na transformação da mais valia em capital constante.

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O que permitiu a acumulação do capital?

As forças reprodutivas no Brasil não eram suficientes para reproduzir a ampliação de capital.

Faltava no país o departamento 1 (D1) – Bens de produção (bens de capital + bens

intermediários). Não ocorre internamente a autodeterminação do capital.

Então como reproduzir o capital?

Isso vai depender da capacidade de importações da economia para a reprodução interna das

indústrias.

Qual é o principal motivo de não termos a D1 no Brasil? A industrialização da América Latina é

específica e duplamente determinada.

1.  Ponto de partida: economia agroexportadora - bens de produção

2.  Seu momento: o capitalismo monopolista (nenhum empresário vai tomar os riscos de

fomentar esse tipo de indústria, por isso retardatária)

A Gênese do capital industrial.

Como nasce o capital industrial? Ler página 81

1º.  Problema: desdobramento do capital cafeeiro – O lucro advindo da exportação

cafeeira se concentrava nas mãos de comerciantes/ fazendeiros/ Estado/ Bancos.

“surge exatamente em um momento de auge, em que a rentabilidade do capital

cafeeiro deve ter atingido níveis verdadeiramente elevados”. Ocorre um acúmulo demassa de capital nas mãos de comerciantes e bancos. 1890 -1894: a taxa de

acumulação financeira sobre passa a taxa de acumulação produtiva = geração de

excedente de capital cafeeiro. Não era possível aplicar todo esse excedente só em

produção cafeeira. Com esse excedente surge a possibilidade de investir em outras

atividades (ver pág. 100 e 101). P.e: indústrias.

2º.  Problema: como o capital cafeeiro excedente se converte em capital industrial? Qual

foi o estímulo? Através da expansão do mercado interno ocorreu a reprodução da

força de trabalho tanto no campo quanto na cidade. A massa de salários se destinava à

importação de bens no mercado externo. Desta forma, foi criada apequena empresa

que visava atender à demanda interna. Houve também um importante crescimento da

demanda interna com a introdução do trabalho remunerado.

3º.  Problema: como se deu a transformação do capital monetário em meios de produção?

A exportação cafeeira gera um acúmulo de divisas, o qual serve para a importação de

máquinas para a indústria nascente.

Porque o capital cafeeiro tem alta rentabilidade?

1º. Salários baixos – mão-de-obra abundante – grande oferta e menos possibilidade de

organizações sindicais.

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2º. Protecionismo – através da desvalorização cambial que valorizava as exportações e

tornavam mais caras as importações.

3º. Inserções para importações de máquinas.

Por qual motivo não nasce a indústria de bens de produção?

(ler pág. 83 e 84)

O investimento na indústria de bens de salário era muito menos insegura e muito mais

rentável do que o investimento na indústria de base. Os riscos de investimento nessas

indústrias eram incalculáveis, demandava uma taxa de investimento altíssima e de uma escala

de produção adaptada aos países de industrialização nascente.

A mútua dependência entre o capital cafeeiro e o capital industrial

Por um lado o capital cafeeiro depende do capital industrial, ou seja, dos bens que este produzpara reproduzir a força de trabalho na cafeicultura. O capital industrial produzia os bens

necessários à subsistência do trabalhador na cafeicultura.

Por outro lado havia a dupla dependência do capital industrial ao capital cafeeiro: primeiro a

função de repor e ampliar a capacidade reprodutiva da indústria através da geração de divisas

suficientes para importar máquinas e equipamentos; e segundo, o capital industrial não é

capaz de gerar seus próprios mercados. O principal mercado para os produtos industrializados

está na massa de salários gerada pelo capital cafeeiro, que era o setor que mais empregava e

gerava renda.

Dupla dependência da economia brasileira em relação à economia mundial

1º.  Realização do capital cafeeiro – a produção era controlada pelo mercado externo, ou

seja, dependia da demanda do mercado externo.

2º.  Acumulação industrial – importação de máquinas através das divisas provenientes das

exportações de café.

1933 a 1956 – industrialização restringida – não existe mais a possibilidade de reprodução

ampliada do capital. Existe industrialização, mas a reprodução do capital é parcial.

Já se reproduzia uma pequena parte do capital constante – máquinas. Era porém, apenas um

desenvolvimento embrionário.

Em 1929 representação da produção de bens

Bens de consumo – 84%

Bens intermediários – 10%

Bens de capital – 6%

Porque a industrialização era restringida? (ver na pág. 90)

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A industrialização restringida. 1933 a 1955

A indústria a partir de 33 ocorre porque há reprodução de capital, mas é apenas uma parte

dele que era reproduzida e é por isso que a industrialização nesta época é considerada

restringida.

Faltava à industrialização brasileira desenvolver o D1.

Porque a industrialização permanece restringida?( Ver pág.91)

  Q uestão tecnológica: o Brasil só era “desenvolvido” em agricultura e café. 

  As tecnologias não estavam disponíveis ao nosso nível de desenvolvimento – eram

incompatíveis

  O Brasil não tinha condições financeiras para importar a industrialização

Saídas para o capital industrial

Desta forma o capital industrial foi utilizado na expansão da indústria já existente e na

promoção da indústria de bens de consumo. O Brasil é um país de industrialização

retardatária, por assim, os riscos de investimentos aqui eram extremamente altos. O Brasil

investia então nas indústrias de bens de consumo na qual os riscos eram mais baixos.

Neste âmbito, o papel do Estado era garantir proteção ás indústrias, impedir o fortalecimento

do poder de barganha dos trabalhadores (para não aumentar insumo de proteção e aumentar

o poder de acumulação), e por último realizar investimento em infra-estrutura.

Industrialização pesada. 1956 a 1961

Internalização da indústria de bens de capital e bens de consumo duráveis.

Grandes indústrias (automóveis leves e pesados, eletrodomésticos) a realização da

industrialização pesada ocorreu, sobretudo, devido ao capital estrangeiro.

A idéia de produzir para exportar muda radicalmente no período pós 2ª guerra mundial, pois,

devido à concorrência oligopolista entre grandes empresas européias e norte-americanas, o

Brasil passa a ser alvo de investimentos e concorrência dessas empresas. Além disso, o

contexto socioeconômico brasileira favorecia a entrada do capital estrangeiro. G V e JK

realizaram grandes investimentos na infra-estrutura e indústria de base, alem da concessão de

subsídios.