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Ao abordarmos a presença das Transmissões Militares no Campo Militar de Santa Margarida (CMSM) ao longo da sua história, não se pode dissociar as designadas transmissões permanentes (de carater territorial) das de campanha. Estas duas áreas de apoio de comunicações encontramse intimamente ligadas entre si, disponibilizando os meios necessários ao Comandante para o exercício do Comando e Controlo da Brigada, enquanto aquartelada ou em situações operacionais. Por forma a compreendermos melhor a evolução do apoio das Transmissões, que enquadrálo na própria história das Transmissões desde o &RUSR 7HOHJUi¿FR HP DWp jV FRPXQLFDo}HV digitais de hoje passando pela Companhia de 7HOHJUD¿VWDV GH R %DWDOKmR GH 7HOHJUD¿VWDV de 1913, o Batalhão de Transmissões nº3 sedeado no Casal do Pote, a dependência das Transmissões da Arma de Engenharia e o Sistema Integrado de Telecomunicações do Exército Português (SITEP). 1. AS TRANSMISSÕES MILITARES De acordo com o Coronel Aniceto Afonso, a história das TRANSMISSÕES MILITARES começa em 1810, com a criação da primeira unidade com responsabilidades nesta área de DWXDomR R &RUSR 7HOHJUi¿FR É certo que a necessidade de comunicações SDUD ¿QV PLOLWDUHV VXUJH FRP DV RULJHQV GR SUySULR FRQÀLWR PDV R &RUSR 7HOHJUi¿FR IRL GH IDFWR HP Portugal, a primeira tentativa de estruturar uma vertente de apoio que se tornava cada vez mais necessária e mais exigente. $ FULDomR GH &RUSR 7HOHJUi¿FR REHGHFHX às necessidades de um contexto de guerra, com as tropas invasoras presentes em território português, provavelmente a caminho de Lisboa. Assim, é facilmente compreensível que a sua primeira grande ação ocorresse nas Linhas de Torres Vedras, onde se conduzia a grande operação defensiva das forças angloportuguesas em torno da capital.

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As Transmissões - revista Atoleiros comemorativa dos 60 anos do CMSM

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Ao abordarmos a presença das Transmissões Militares no Campo Militar de Santa Margarida (CMSM) ao longo da sua história, não se pode dissociar as designadas transmissões permanentes (de carater territorial) das de campanha.

Estas duas áreas de apoio de comunicações encontram-­se intimamente ligadas entre si, disponibilizando os meios necessários ao Comandante para o exercício do Comando e Controlo da Brigada, enquanto aquartelada ou em situações operacionais. Por forma a compreendermos melhor a evolução do apoio das Transmissões, há que enquadrá-­lo na própria história das Transmissões -­ desde o

digitais de hoje -­ passando pela Companhia de

de 1913, o Batalhão de Transmissões nº3 sedeado no Casal do Pote, a dependência das Transmissões da Arma de Engenharia e o Sistema Integrado de Telecomunicações do Exército Português (SITEP).

1. AS TRANSMISSÕES MILITARES

De acordo com o Coronel Aniceto Afonso, a história das TRANSMISSÕES MILITARES começa em 1810, com a criação da primeira unidade com responsabilidades nesta área de

É certo que a necessidade de comunicações

Portugal, a primeira tentativa de estruturar uma vertente de apoio que se tornava cada vez mais necessária e mais exigente.

às necessidades de um contexto de guerra, com as tropas invasoras presentes em território português, provavelmente a caminho de Lisboa. Assim, é facilmente compreensível que a sua primeira grande ação ocorresse nas Linhas de Torres Vedras, onde se conduzia a grande operação defensiva das forças anglo-­portuguesas em torno da capital.

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A transmissão de mensagens fazia-­se através de telégrafos óticos, cujos vários postos encontravam-­se instalados em duas das linhas de fortes e fortins, entre o Tejo e o mar, e que retransmitiam a mensagem desde o originador até ao destinatário. Este sistema prestou serviços de elevada importância, sabendo-­se hoje que nestes postos se usaram também telégrafos de origem portuguesa, inventados por Francisco

Depois da Guerra Peninsular, a rede de postos estendeu-­se a quase todo o país constituindo desta forma a primeira rede de comunicações à distância, infraestrutura que possibilitou a tão importante aproximação das regiões mais distantes aos centros de poder.

O telégrafo elétrico chegou a Portugal em meados do século XIX, substituindo o telégrafo ótico e expandindo o sistema de comunicação a quase todo o território nacional. Nesta rede, inaugurada em 1855 utilizaram-­se inicialmente os telégrafos Breguet e depois os telégrafos Morse, que acabaram por ser os dominantes.

A nova rede foi inicialmente operada pelo

1864, assumindo o Ministério das Obras Públicas

Só em 1873, o Exército voltaria a ter uma

17 de setembro, dia que hoje se mantém como o dia festivo do Regimento de Transmissões. No ano seguinte foi criada a Direção do Serviço

Francisco da Câmara Leme, as primeiras “Instruções Provisórias para o Serviço das Estações Militares”.

Em 1880 foi desenvolvida a rede de pombais militares que vinha do anterior e reintroduziu-­se a

heliógrafos), sendo desenvolvidas paralelamente as primeiras experiências para a utilização de telefones.

Com a Reorganização Fontista do Exército,

primeira Unidade de Transmissões de Campanha, integrada no Regimento de Engenharia que ocupava as instalações do Quartel dos Quatro Caminhos, hoje Regimento de Transmissões.

Durante a terceira Invasão francesa, em 1810, assistira-­se á introdução de um telégrafo ótico, o telégrafo de bolas, nas linhas de Torres Vedras. O telégrafo de bolas permitia transmitir números de quatro algarismos. Cada número correspondia a uma mensagem previamente estabelecida e incluída num código. O telégrafo compreendia dois braços e uma haste vertical. Os algarismos das dezenas e unidades são indicados pelo conjunto de bolas pendurado no braço maior. O algarismo das centenas pelo conjunto de bolas do braço menor e o dos milhares pela apresentação de bolas ou bandeiras na haste vertical.(Transmissões, 2008, pág 18).

Telégrafo de Bolas, Sistema Inglês

balões e o de “postigos” ou “persianas”, desenvolvidos por Francisco Ciera. O telégrafo

retangulares de madeira que podiam ser colocadas na posição horizontal ou vertical. Ao todo era possível fazer oito combinações diferentes em qualquer dos 3 tipos de telégrafos,

Miniatura do Telégrafo de Persianas ou Palhetas, Sistema Português

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No início do século XX as Transmissões passaram a depender da Arma de Engenharia com a criação da Inspeção dos Telégrafos

Praça. Foram continuados os trabalhos anteriores para a utilização de equipamentos telefónicos, resultando na montagem da primeira rede

adquiridas em 1909.

A evolução das Transmissões do Exército na primeira metade do século XX foi marcada pela participação de Portugal na Primeira Guerra

antes, durante e depois da guerra.

Antes da Primeira Guerra Mundial, as transmissões no Exército foram sobretudo permanentes, evoluindo relativamente pouco em relação ao sistema herdado do século XIX.

Com a reorganização republicana do Exército, em 1911, surgiu a Inspeção dos

a Companhia TSF e a Companhia Aerosteiros. A organização é completada em 1913 com

constituído essencialmente por uma Companhia

TSF, unidades que vieram a desempenhar um papel importante na participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial.

Durante a Guerra, o predomínio foi naturalmente das transmissões de campanha, com o seu emprego em três frentes: Angola, Moçambique e, em especial, a Flandres. A necessidade de pessoal e o esforço de mobilização para a componente de campanha afetaram as transmissões permanentes.

Com o envio para Flandres do Corpo Expedicionário Português, o sistema de transmissões adotado foi naturalmente o sistema inglês, recaindo na utilização dos sistemas

escalões mais elevados), pombos-­correio, foguetes de sinais, e como sempre, os mensageiros.

Depois da Primeira Guerra Mundial ocorreu uma progressiva desvalorização das transmissões de campanha, com o seu pessoal e material sistematicamente a ser direcionado para os sistemas permanentes, principalmente nas

2. AS TRANSMISSÕES DE CAMPANHA EM SANTA MARGARIDA E TANCOS

TRANSMISSÕES DE CAMPANHA em Santa Margarida/Tancos surge na sequência da entrada de Portugal na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e da constituição nos inícios da década de 50, da 3ª Divisão (Divisão SHAPE) designada de Divisão Nun’Álvares. A motorização da Divisão com o auxílio americano deu lugar a uma dotação de material de transmissões em todas as Armas e Serviços, em especial na quantidade e qualidade dos equipamentos rádio, que se traduziu no aumento

mas em todo o Exército.

Na orgânica Americana, a Divisão era apoiada por uma Companhia de Transmissões, que foi formada no Porto tendo, em 1953, atuado em manobras em Santa Margarida. Contudo, em 1956 surge a necessidade de alterar o escalão da Unidade de transmissões pela constatação das necessidades de apoio de comunicações que o exercício do Comando e Controlo numa Unidade Lançamento de Pombos na I Guerra Mundial

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de escalão divisionário realmente requeria.

Uma vez que as transmissões constituíam um ramo especial dentro da Arma de Engenharia, a sua Escola Prática recebeu o encargo de mobilizar um Batalhão de Transmissões em substituição da Companhia que anteriormente mobilizava. Surge assim o BATALHÃO DE TRANSMISSÕES Nº 3 (BTm3) que ocupa um aquartelamento no Casal do Pote e que materializa as importantes mudanças nas transmissões de campanha ocorridas entre a entrada de Portugal na OTAN e o início da Guerra Colonial.

Com o BTm3 apareceram novos meios de transmissões, em substituição dos rudimentares,

do Comando e Controlo, existentes até à data.

Assim aparecem:

-­ Os primeiros feixes hertzianos de campanha, os terminais AN/TRC 3, com terminais

quatro canais de voz simultâneos e constituíam um progresso indiscutível em relação ao lançamento de linhas;;

-­ Os primeiros teleimpressores de campanha que permitiam maior capacidade no escoamento de tráfego;;

-­ Os primeiros Rádios FM de campanha, que

em fonia a qualquer hora do dia, nomeadamente nas comunicações dos carros de combate, com os excelentes rádios SCR 508 e 528 e SCR 608 e 628, controlados a cristal.

Enquanto a Divisão Nun’Álvares e o CMSM orientavam esforços para o aprontamento dos contingentes para os Teatros Ultramarinos, é criada a Arma de Transmissões através do Decreto Nº364/70, publicado na Ordem do Exército Nº8 (1ª Serie) de 31 de Agosto de 1970.

Posteriormente, com os ajustamentos que a Arma de Transmissões sofre e a criação da 1ª Brigada Mista Independente (1ª BMI) com a extinção da 3ª Divisão, é criada a COMPANHIA DE TRANSMISSÕES (CTm) da 1ª BMI, constituindo-­se como parte integrante da sua estrutura orgânica.

Em setembro de 1976 foram colocados

os primeiros militares de Transmissões na

instalados no Quartel-­General da 1ª BMI. No ano seguinte é colocado um segundo grupo de militares, constituído por 6 Sargentos, 12 Praças operadores de transmissões, 5 Praças condutores auto e respetivo equipamento, 4 viaturas pesadas Berliet com cabinas equipadas com rádios TR15 e TR28, assim como uma central telefónica manual BL10.

Podemos considerar que este foi o primeiro núcleo de Transmissões com capacidade de operar como tal, ainda que essa capacidade fosse limitada. O primeiro apoio efetivo a exercícios da Brigada ocorreu logo nesse ano, com a participação no Exercício “ORION 77”.

Foi a partir deste núcleo que a CTm foi

e publicada a primeira Ordem de Serviço, datada de 02 de novembro de 1978, pelo então Comandante da Companhia de Transmissões, Major Tm (Eng.º) Pedro Rocha Pena Madeira, adotando-­se este dia para celebração do aniversário da Unidade.

Em Agosto de 1979, a CTm foi instalada provisoriamente no aquartelamento do Batalhão de Apoio de Serviços da 1ªBMI e posteriormente na 4ª Bateria do Grupo de Artilharia de Campanha,

instalações em 1988. Em 10MAR98 é aprovado o seu primeiro Quadro Orgânico (QO 6.8.651).

A CTm constitui assim uma das subunidades da Brigada Mecanizada (BrigMec), ocupando as suas instalações no Campo Militar de Santa Margarida e sendo responsável pelo funcionamento da infraestrutura de comunicações e sistemas de informação em apoio ao exercício do Comando e Controlo da Brigada, graças aos seus equipamentos rádio, telefone, teletipo e sistemas multicanal.

A CTm apresenta como missão “prepara-­se para executar operações em todo o espectro das operações militares, no âmbito nacional ou internacional, de acordo com a sua natureza”, tendo o seu atual Quadro Orgânico sido aprovado em 29FEV09. Encontra-­se articulada funcionalmente

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tipologia de sistema a implementar em apoio aos diferentes Postos de Comando (PC).

A CTm/BrigMec encontra-­se assim organizada em 4 Pelotões, com possibilidades diversas e distintas, por razões relacionadas com a instrução e treino do seu pessoal e para efeitos de Comando e Controlo. O Destacamento de Guerra Eletrónica é a única componente que não se constitui à custa dos efetivos da Companhia, sendo responsabilidade da Escola Prática de Transmissões.

Para implementar um Sistema de Comunicações de apoio ao Comando e Controlo das Operações da BrigMec, cada Pelotão

constituírem um Centro de Comunicações (CCom) autónomo para apoio ao Posto de Comando da Grande Unidade (BrigMec), ou de uma Unidade de Escalão Batalhão. Para isso, cada CCom é constituído, normalmente, por uma secção

de Feixes Hertzianos, uma Central Telefónica e uma RAPC (transmissão de dados por rádio utilizando o programa STM3). Deste modo, o CCom é constituído por diferentes meios cuja responsabilidade de implementação e operação se encontra distribuída pelos diferentes Pelotões.

Doutrinariamente, o Sistema de Comunicações da Brigada assenta, basicamente, na montagem de dois CCom de apoio aos PC Principal e Tático da BrigMec, e Núcleos de Comunicações de apoio aos PC das Unidades, permitindo o exercício do Comando e Controlo da BrigMec. São disponibilizados serviços de voz e de dados, embora esta última seja de alguma forma limitada uma vez que a transmissão de dados é efetuada através de centrais telefónicas PCD 132 (por chamada RDIS), tendo uma largura de banda

para a tipologia de sistemas de informação que atualmente são fornecidos aos utilizadores (tais como o Sistema de Informação para o Comando e Controlo do Exército – SICCE, portais web de partilha de informação, videoconferência, email, etc).

O Comando e Controlo à voz é exercido através das várias redes rádio e circuitos

necessários para determinada situação tática.

A CTm/BrigMec é totalmente motorizada e os seus meios de comunicações estão instalados em Cabinas de Transmissões, conferindo condições de acondicionamento que permitem a sua operação e o transporte adequado, assim

que integram. Os grupos geradores existentes permitem que o apoio de comunicações seja garantido 24 sobre 24 horas.

Por forma a garantir o apoio mencionado, a CTm/BrigMec dispõe de uma Estrutura Orgânica de Material que contempla uma grande variedade de equipamentos de comunicações, a maioria com anos consideráveis de utilização e características técnicas que os tornam desajustados face às exigências operacionais, táticas e de segurança dos atuais cenários. Destacam-­se os seguintes:

Módulo Feixes Hertzianos (Rádio multicanal FM 200) em apoio ao Posto Comando da BrigMec

E/R 425 (VHF)(de origem portuguesa)

AN/VRC 12 (VHF)(de origem americana)

P/VRC 301 (HF)(de origem portuguesa)

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simultaneamente em ambiente de treino operacional com forças no terreno e aquarteladas, a CTm/BrigMec efetua a interligação entre as duas redes socorrendo-­se do sistema multicanal FM200 e do nodo existente no Destacamento de Comunicações e Sistemas de Informação Centro (DestCSI Centro).

P/IC – 425 (de origem Portuguesa).

Routers Cisco e Switch D-­Link.

cabines de comunicações)

Mercedes Unimog 1750;; Mercedes Unimog 1300;; Toyota Land Cruise (instalados apenas

meios rádio).

A CTm/BrigMec espera que os novos módulos de comunicações destinados à implementação do Sistema de Informação e Comunicações Tático (SIC-­T), capazes de disponibilizar maiores larguras de banda e desta forma satisfazer as

aos novos campos de batalha, sejam entregues de modo a possibilitar um apoio de comunicações

Por forma a disponibilizar aos utilizadores do SIC-­T os serviços existentes no Sistema de Informação e Comunicações Operacional (SIC-­Op), nomeadamente o portal da intranet e email, bem como explorar outros sistemas de informação

P/PRC 501(de origem portuguesa)

Rádio Multicanal FM 200(de origem alemã)

P/CD 132(de origem portuguesa)

Telefones de CampanhaP/BLC 101 e P/BLC 101A(de origem portuguesa)

Módulo Repetidor Feixes Hertzianos (Rádio multicanal FM 200)

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3. TRANSMISSÕES PERMANENTES EM SANTA MARGARIDA

O DestCSI Centro é efetivamente um órgão que, apesar de se encontrar nas instalações da BrigMec, depende do Regimento de Transmissões e tem atribuída a responsabilidade de garantir o apoio regional às TRANSMISSÕES DE CARÁTER TERRITORIAL do Exército. A sua área de responsabilidade estende-­se desde Coimbra até à Serra de São Mamede, passando por Tomar, Entroncamento, Tancos, Abrantes e Estremoz.

Mas o apoio de comunicações de caráter territorial, ou Permanentes, no CMSM tem vindo a sofrer evoluções ao longo do tempo, paralelamente com o apoio de comunicações de campanha, sendo implementadas novas infraestruturas e tecnologias.

Até ao início da década de 80 encontravam-­se instaladas centrais PPC no Entroncamento, Tancos, Abrantes e Santa Margarida assim como implementadas ligações de feixes analógicos garantindo a interligação destas Unidades com um nodo de repetição no CHORAFOME (próximo de Tancos). Nos anos seguintes foram iniciados os trabalhos de instalação dos PPCA eletrónicos, em substituição dos PPC e CROSSBAR, de tal modo que, em 1987, o número de correspondentes da Rede Regional da Brigada ascendia a 384.

As transmissões Permanentes em Santa Margarida nesse período eram as internas ao próprio Campo, acrescendo a existência de ligações com alguns canais telefónicos a Lisboa, de onde se ganhava acesso às outras Regiões

O tráfego entre o Comando da Brigada e as suas Unidades que se encontravam fora do CMSM tinha de passar forçosamente por Lisboa e daqui para o CHORAFOME, de onde radiava para Tomar, Entroncamento, Tancos e Abrantes, por quatro canais cedidos pela Força Aérea na ligação analógica Lisboa-­Porto. Nestas condições, para estabelecer ligação entre o Comando e as Unidades ligadas ao CHORAFOME, tinha de ser efetuada uma chamada para Lisboa, de Lisboa para o CHORAFOME e daí para a Unidade respetiva.

O primeiro passo na evolução do sistema dá-­se com a libertação dos canais Lisboa-­Porto e a instalação dos repetidores analógicos no CHORAFOME, por não existir linha de vista direta entre cada uma das Unidades e o CMSM. A partir daí, uma ligação entre o Comando da Brigada e cada uma das suas Unidades exteriores ao CMSM era repetida no CHORAFOME, fazendo o percurso CMSM – CHORAFOME -­ Unidade e vice-­versa.

Na segunda metade da década de 80 foi implementado o Sistema Integrado de Telecomunicações do Exército Português (SITEP) que introduzia a digitalização das transmissões, promovendo a comutação de mensagens por

hertzianos digitais como meio de transporte de informação.

O SITEP é um sistema que obedece aos três critérios base: respeita o cenário tecnológico envolvente;; tem em conta os requisitos operacionais do Exército;; e incorpora tecnologias emergentes de valor provado. Considerou-­se como cenário envolvente o teatro de operações estendido a todo o território nacional, os meios e estruturas militares de transmissões existentes, as infraestruturas de transmissões dos Ramos das Forças Armadas, das Forças de Segurança, da OTAN, infraestruturas civis (Marconi e CTT/TLP) e, interligado a estas, os meios de transmissões de campanha do Exército.

Assim, o SITEP foi idealizado por forma a garantir um sistema de transmissões privativo do Exército, com cobertura nacional, constituído por uma estrutura que engloba os recursos humanos, meios de transmissão e infraestruturas de apoio, capazes de veicular de forma apropriada toda a informação de natureza eletrónica resultante da

Arquitetura do Nodo-­tipo do SITEP durante o período de transição, mostrando os três níveis hierarquicos

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atividade do Exército e da sua relação com o exterior.

Sendo um sistema destinado a servir o Exército, foi concebido em hierarquias ou patamares destinados a replicar uma “imagem” da própria estrutura do Comando, dispondo de uma hierarquia Primária (ou subsistema nacional), uma hierarquia Intermédia (ou subsistema regional) e uma hierarquia Básica ou de Pequena Unidade (PU).

A hierarquia Primária espalha-­se por todo o território nacional e é através dela que o Exército estabelece ralações com sistemas exteriores e

um sistema malhado de feixes digitais e centrais nodais, onde os feixes primários passam pelos Quarteis Generais (QG) das RM e se interligam

assim ligada por duas vias ao resto do sistema, garantindo a capacidade de estabelecimento de ligações alternativas em caso de falha da ligação principal.

A hierarquia Intermédia compreende o subsistema regional e em alguns casos a rede

de guarnição, como em Santa Margarida onde o subsistema regional inclui parte do nodo regional, torre de transmissão, e sistema de feixes para as unidades fora do Campo e a rede de guarnição inclui a central digital de comutação de serviços, as centrais digitais das unidades do Campo e a rede enterrada de cabos.

A hierarquia Básica ou de PU corresponde ao nível básico do sistema privativo do Exército e é constituída pela rede interna da unidade, pela sua central eletrónica digital de comutação, pelos terminais de feixes hertzianos de acesso ao subsistema regional e pelo acesso à rede civil externa, garantindo que qualquer correspondente de qualquer Unidade tenha acesso a qualquer corresponde da rede do Exército, onde quer que este esteja.

Para a implementação do SITEP, tornou-­se necessário libertar o nodo em CHORAFOME para aí serem instalados os repetidores do anel da hierarquia Primária, colocando uma torre em Santa Margarida de onde fosse obtida linha de vista direta para as Unidades da então 1ª Brigada Mista Independente situadas fora do Campo e, simultaneamente garantisse o apoio ao SITEP e servisse o nodo de Santa Margarida.

Nos estudos desenvolvidos, foi considerada como melhor solução a instalação de uma torre de 94 m no CMSM. No seu patamar intermédio, aos 45 m, seriam instalados os equipamentos de interligação à hierarquia Primária (o feixe primário liga para um lado a São Mamede e Évora e por outro ao CHORAFOME, onde abre para Lisboa e para norte para Coimbra) e no patamar superior seriam colocados os emissores/recetores para as Unidades, uma vez que a infraestrutura de suporte dos equipamentos existentes no CHORAFOME iria ser ocupada pelos futuros repetidores dos feixes primários.

Os trabalhos de transferência dos equipamentos e de implementação do Link Sul (São Mamede, Arraiolos, Évora, Mendro, Arrábida, Lisboa), que garantiria a existência de trajetos alternativos e a interligação a novas localidades, deveria decorrer sem que houvesse interrupção nos serviços disponibilizados. Por outro lado, tornava-­se também necessário proceder a melhorias na infraestrutura de comunicações interna do CMSM e nas Unidades ali existentes.Torre de Comunicações do SITEP

(CMSM, 2003)

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da infraestrutura de comunicações com a implementação do Link Sul, servindo Santa Margarida através de um nodo no QG da Brigada, iniciaram-­se os trabalhos de projeto e construção da torre de comunicações que iria suportar o equipamento de transmissão necessário à implementação do link da hierarquia Primária e ligação à hierarquia Intermédia que servia as Unidades fora do Campo Militar. Foram também conduzidos trabalhos de construção das instalações para acomodar a central nodal e lançada uma rede local em tecnologia digital.

O SITEP foi estruturado por forma a permitir que, em locais como Santa Margarida, enquanto se implementavam projetos completamente digitais continuassem em serviço sistemas analógicos. Assim, o CMSM e a Brigada passaram a estar ligados ao SITEP através de tecnologia digital, suportada por dois links do sistema de hierarquia Primária, enquanto as restantes Unidades vizinhas passaram a estar ligadas por links individuais de tecnologia analógica, através do nodo em Santa Margarida.

Com a evolução do SITEP, tecnologias emergentes de valor provado foram sendo introduzidas em substituição de tecnologias analógicas, únicas existentes até então no Serviço de Telecomunicações Militares (STM) e

incapazes de responder às exigências modernas. Realçamos a introdução da comutação digital de serviços integrados por pacotes (essencial à linguagem entre computadores), a transmissão

do comando e o controlo remoto da infraestrutura de transmissão.Os utilizadores da infraestrutura de

comunicações do CMSM passaram a ter acesso direto a todos os subscritores do Exército onde

implementação dum conjunto de tecnologias que permitem aceder aos vários serviços disponibilizados pelo SIC-­Op através de terminais com características puramente comerciais, valências disponíveis num sistema integrado de comunicações onde diferentes equipamentos terminais “falam” entre si.

Durante as duas últimas décadas os sistemas foram sendo melhorados, foram sendo implementadas novas tecnologias e ligações analógicas substituídas por digitais. As ligações com as unidades vizinhas de Entroncamento, Tomar, Tancos e Abrantes sofreram aumentos na largura de banda possibilitando um incremento na qualidade de serviço prestado. A infraestrutura

aumentada a capacidade de processamento dos servidores que agora constituem o Centro de Dados Regional. Num futuro próximo, as velhinhas centrais telefónicas que ainda perduram vão ser substituídas por call manager, passando a disponibilizar serviço de voz sobre protocolo IP (VoIP).

Foi um longo caminho percorrido desde os

à tecnologia digital. Não se pode antever como estarão as TRANSMISSÕES NO CAMPO MILITAR DE SANTA MARGARIDA daqui a 60 anos, mas é certo que farão jus ao lema da Brigada “Feitos farão tão dignos de memória” e perpetuarão o grito das Transmissões “Na vanguarda avançamos”.

Arquitetura do Nodo de Santa Margarida, tecnologia digital, mostrando os três níveis hierarquicos

BIBLIOGRAFIA

AFONSO, Coronel Aniceto – História das Tm. [em linha]. [Consult. 07 out 2012]. Disponível na WWW: <URL: http://historiadastransmissoes.wordpress.com/historia-­das-­tm/>

BORGES, Coronel Infª Armando, coord. (2002) – 50 Anos do Campo Militar de Santa Margarida. Santa Margarida. Edição QG/CMSM, 2002.

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MADEIRA, Major Tm (Engº) Pedro Miguel Pena (2010) – Companhia de Transmissões da Brigada Mecanizada, A Mensagem, Boletim Informativo da Escola Prática de Transmissões. Março 2010, 12 – 13.

RIBEIRO, Tenente Coronel Tm (Engº) Carlos, coord. (2007) – Regimento de Transmissões, 30 anos de serviços distintos, Lisboa. Regimento de Transmissões, 2007.

TRANSMISSÕES, Comissão da História das (2008) -­ As Transmissões Militares da Guerra Peninsular ao 25 de Abril. Lisboa. Edição da Comissão Portuguesa de História Militar, 2008. ISBN nº 978-­989-­95946-­0-­9.

2010. Lisboa. Edição da Comissão Portuguesa de História Militar, 2010. ISBN nº 978-­989-­ 95946-­3-­0.

Agradecimentos Comissão da História das Transmissões

Exmo. Sr. Coronel Tm (Engº) Ref. Manuel da Cruz Fernandes Exmo. Sr Coronel Tm (Engº) Ref João Martins Alves

Brigada Mecanizada Exmo. Sr.TCor Tm Quaresma Rosa Exmo. Sr SAj TM João José Moreira Fernandes