6 jovens tentam suicidio

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JOVENS QUE TENTAM SUICÍDIO E NARCISISMO DESTRUTIVO: DOIS MODELOS COMPREENSIVOS DO FENÔMENO SUICIDA 1 YOUNGSTERS THAT ATTEMPT SUICIDE AND DESTRUCTIVE NARCISSISM: TWO COMPREHENSIVE MODELS OF THE SUICIDE BEHAVIOR Roosevelt M.S. Cassorla Docente.Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria. Faculdade de Ciências Médicas - UNICAMP; Psicanalista-International Psychoanalysis Association. CORRESPONDÊNCIA: Rua Joaquim Novais, 79/61. CEP:13015-140 Campinas-SP. E-mail: [email protected] Cassorla RMS. Jovens que tentam suicídio e narcisismo destrutivo: dois modelos compreensivos do fenômeno suicida. Medicina (Ribeirão Preto) 2005; 38 (1): 45-48 RESUMO: Modelo do Estudo: O trabalho visa apresentar resultados de investigações ante- riores do autor referentes a modelos compreensivos para o comportamento suicida. Comentá- rios: No primeiro modelo discute-se a “história natural de jovens que tentam suicídio”, que implica num mundo interno sentido como esvaziado, estimulando a busca de relações simbióticas, que quando ameaçam desfazer-se levam a risco de desestruturação e fantasias de busca da plenitude com a morte. No segundo, “narcisismo destrutivo” mostra-se como auto- exigências cruéis, quando não satisfeitas, levam a sensação de fracasso e loucura, o ato suicida parecendo ser uma saída. Finalmente discutem-se esses modelos em relação ao maior risco suicida em médicos e estudantes de medicina. Descritores: Suicídio. Jovens. Narcisismo Destrutivo. Médicos. Estudantes de Medicina. 45 Medicina (Ribeirão Preto) Simpósio: MORTE: VALORES E DIMENSÕES 2005; 38 (1): 45-48 Capítulo VI O objetivo deste trabalho é apresentar, suscin- tamente, resultados de trabalhos anteriores 1/4 visando discuti-los na Jornada do LAMS, como exemplos de modelos compreensivos referentes a comportamen- tos suicidas. Espera-se, em particular, que o debate possa desenvolver a capacidade de observação, inclu- sive de auto-observação, dos colegas médicos e estu- dantes de medicina. Lembremos que na área médica o risco suicida é maior que na população geral. Dentre as inúmeras formas como podem se apresentar os fenômenos e mecanismos suicidas, me deterei em duas, possivelmente as mais comuns em pronto-socorros, na prática do médico clínico e do pro- fissional de saúde mental. Talvez elas possam consti- tuir-se em modelos tentativos que nos inspirem na busca de outras compreensões e também em outras condutas. Esses modelos são expressos com a partir de conceitos psicanalíticos, que tentei reduzir ao má- ximo e que serão explicitados durante o debate, quan- do necessário. 1- JOVENS QUE TENTAM SUICÍDIO No primeiro modelo o médico, psicoterapeuta ou psicanalista, recebe geralmente, uma jovem que tentou suicídio e que chega com o rótulo de histérica. A disciplina do profissional de saúde o obriga a elimi- nar rótulos, preconceitos, supostos saberes e teorias, para observar o paciente, como ele se apresenta. Após as consultas iniciais, caso se permita à jovem formar um vínculo com o profissional, este percebe que a paciente se entrega ao tratamento, quase que se gru- da ao terapeuta, criando uma espécie de dependência ameaçadora para o profissional. Logo se percebe que 1 Texto discutido na Jornada do LAMS- Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – agosto 2004.

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JOVENS QUE TENTAM SUICDIO E NARCISISMO DESTRUTIVO:DOIS MODELOS COMPREENSIVOS DO FENMENO SUICIDA1YOUNGSTERSTHATATTEMPTSUICIDEANDDESTRUCTIVENARCISSISM:TWOCOMPREHENSIVEMODELSOFTHESUICIDEBEHAVIORRooseveltM.S. CassorlaDocente.DepartamentodePsicologiaMdicaePsiquiatria.FaculdadedeCinciasMdicas-UNICAMP;Psicanalista-InternationalPsychoanalysisAssociation.CORRESPONDNCIA:Rua Joaquim Novais, 79/61. CEP:13015-140 Campinas-SP. E-mail: [email protected] RMS. Jovens que tentam suicdio e narcisismo destrutivo: dois modelos compreensivos do fenmenosuicida. Medicina (Ribeiro Preto) 2005; 38 (1): 45-48RESUMO: Modelo do Estudo: O trabalho visa apresentar resultados de investigaes ante-rioresdoautorreferentesamodeloscompreensivosparaocomportamentosuicida.Coment-rios:Noprimeiromodelodiscute-seahistrianaturaldejovensquetentamsuicdio,queimplicanummundointernosentidocomoesvaziado,estimulandoabuscaderelaessimbiticas,quequandoameaamdesfazer-selevamariscodedesestruturaoefantasiasdebuscadaplenitudecomamorte.Nosegundo,narcisismodestrutivomostra-secomoauto-exigncias cruis, quando no satisfeitas, levam a sensao de fracasso e loucura, o ato suicidaparecendoserumasada.Finalmentediscutem-seessesmodelosemrelaoaomaiorriscosuicidaemmdicoseestudantesdemedicina.Descritores: Suicdio. Jovens. Narcisismo Destrutivo. Mdicos. Estudantes de Medicina.45Medicina(RibeiroPreto) Simpsio: MORTE:VALORESEDIMENSES2005;38(1):45-48 CaptuloVIO objetivo deste trabalho apresentar, suscin-tamente, resultados de trabalhos anteriores1/4 visandodiscuti-los na Jornada do LAMS, como exemplos demodeloscompreensivosreferentesacomportamen-tossuicidas.Espera-se,emparticular,queodebatepossa desenvolver a capacidade de observao, inclu-sive de auto-observao, dos colegas mdicos e estu-dantes de medicina. Lembremos que na rea mdicao risco suicida maior que na populao geral.Dentreasinmerasformascomopodemseapresentar os fenmenos e mecanismos suicidas, medeterei em duas, possivelmente as mais comuns empronto-socorros, na prtica do mdico clnico e do pro-fissional de sade mental.Talvez elas possam consti-tuir-seemmodelostentativosquenosinspiremnabuscadeoutrascompreensesetambmemoutrascondutas. Esses modelos so expressos com a partirde conceitos psicanalticos, que tentei reduzir ao m-ximo e que sero explicitados durante o debate, quan-donecessrio.1- JOVENSQUETENTAMSUICDIONo primeiro modelo o mdico, psicoterapeutaoupsicanalista,recebegeralmente,umajovemquetentou suicdio e que chega com o rtulo de histrica.A disciplina do profissional de sade o obriga a elimi-nar rtulos, preconceitos, supostos saberes e teorias,para observar o paciente, como ele se apresenta. Apsas consultas iniciais, caso se permita jovem formarumvnculocomoprofissional,estepercebequeapaciente se entrega ao tratamento, quase que se gru-da ao terapeuta, criando uma espcie de dependnciaameaadora para o profissional.Logo se percebe que1Texto discutido na Jornada do LAMS- Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto agosto 2004.46Cassorla RMSa qualidade desse vnculo encobreameaas terrveisde desestruturao, de estilhaamento, de liquefaodo ser, na falta de palavras que pontuem o indizvel. Ogrude, a simbiose, melhor ainda o parasitismo, en-cobrem e tentam colar, unir, esse ser ameaado. Quan-do se consegue verbalizar o terror, ele pode ser com-parado ao desespero de perder-se no espao infinito.Caso estejamos trabalhando em forma psicanaltica,entraremos em contato com as peculiariedades da di-nmica do mundo interno, individual, nunca similar depaciente para paciente. Mas, a somatria de observa-es e o trabalho interdisciplinar, em que solicitamos aajuda de outras reas do conhecimento, nos permitedescrever a histria natural da tentativa de suicdionessas jovens, diferente para cada uma, mas com ele-mentos comuns, na maioria.No relato e na realidade de quase todas as pa-ciente se encontramindcios de que essas jovens fo-rambebezinhasnodesejadas,sentidascomoumacarga e havia outros seres filicidas no ambiente, obje-tivamente. A figura paterna comumente era ausente.Noentanto,algopermitiuqueessascrianasnopsicotizassemmanifestamente.Graasaotrabalhopsicanaltico, pelareconstruo hipottica, supus queoprocessodeindividuaoprocessou-sedeformaproblemtica, as crianas procurando uma fuso sim-biotizada, mas que no era possvel. Poderamos su-por que a relao primitiva continente-contido, a rela-o me-beb (onde me mais do que a me bio-lgica) teria fracassado, comtentativas de parasitismo,essas configuraes sendo mais comuns que momen-tosderelaosimbiticaadequada.Dessaformaobeb sentir-se-ia aterrorizado, procurando agarrar-sea um continente rejeitante.Na adolescncia isso revivido, a moa procu-rando desesperadamente um objeto (ser humano) su-posto continente. Esse objeto, geralmente o namora-do,costumapermaneceridealizado(comoproteocontraasansiedadespersecutrias),mas,emltimainstncia, assume as mesmas caractersticas frgeis eno confiveis do mundo interno. Se este rapaz meaceita, a mim, to sem valor, porque ele tem menosvalor ainda. Essa a fantasia predominante e nessejogo de cises e identificaes a jovem se v enreda-da,potencializandosuabaixaauto-estimaeameaadedesestruturao.Por outro lado o parceiro, objeto que tem que sercontrolado, tende a ser exogmico, mas as fantasiasedpicas mal elaboradas (j que o desprendimento ina-dequado impediu a relao triangular satisfatria) com-plicam o processo. Fenomenologicamente observamosuma fuso sujeito-objeto, repetida na relao com oterapeuta (transferncia).E, nela sero revividas desdea dessimbiotizao ou desprendimento inadequados, atas fantasias edpicas,mal elaboradas. Ser, portanto,uma relao narcsica, de fuso indiscriminada, em queo objeto oscila rapidamente de idealizado a persecutrio,mas sempre de uma forma confusional.Quandoexisteumaameaaouumperigodeperder-se o objeto com o qual est confundida, a ado-lescente se sente aterrorizada. Todos seus objetos fo-ram projetados identificativamente no depositrio, eali mantidos, idealizados. Ele sero reintrojetados, vi-olentamente, mas agora como frustrantes, persecut-rios, carregados de maldade. Devido s cises e con-fuses entre bom e mau objeto, concomitantemente, ajovem se sente esvaziada, tendo perdido seus objetosbondosos, que tambm foram expelidos, ficando per-seguida tambm pela fantasia de que eles se foram esoirrecuperveis.A idia suicida e a tentativa ocorrem como umaformadesesperadadevoltaraumestadodefusoidealizada primitiva. Ao mesmo tempo, como vimosacima, os contedos confusos e persecutrios que aassolam,seroexpelidos,emparticularparadentrodo namorado e da famlia. Aqui aparece o componen-te agressivo do ato suicida. Dessa forma, a jovem selivra, novamente, dos objetos maus. Desta vez, parasempre,aomesmotempoque,emsuafantasia,re-encontra o objeto idealizado, intra-uterino, nirvnico,namorte.Destaveznofalhar,poisdamorte(oudesse mundo sem necessidades) no se volta, aindaque isto seja vivenciado de forma confusa.Outrasmaneirasqueestasjovensencontrampara retomar as fantasias de fuso so o uso de dro-gas, a gravidez (identificando-se com o beb), a adi-o a seitas religiosas e a grupos com ideologias fan-ticas. As fantasias so similares s descritas acima, massem o risco objetivo da no reverso, como na morte.Mais raramente as jovens se defendem da dependn-ciafusional,criandoumacarapaaprotetoraqueastorna, aparentemente, auto-suficientes e independentes.Mas, essa defesa pode desabar a qualquer momento.Verifica-se tambm que as mes destas crian-as haviam passado por vicissitudes similares em suainfncia e adolescncia e pde-se suporque os seusbebs tenham sido utilizados como depositrios de suasansiedades e fantasias, identificando-se com elas. Arelao continente-contido seria, possivelmente, pa-rasitria, agora do lado da me.A preponderncia de jovens do sexo femininono implica que o mesmo processo no ocorra no sexomasculino. Mais recentemente, tenho observado es-tes mesmos mecanismos em rapazes. A diferena com47Jovens que tentam suicdio e narcisismo destrutivo: dois modelos compreensivos do fenmeno suicidaas moas que, quando ocorre a ameaa de perda doobjeto fusionado, os rapazes tendem a reagir hetero-agressivamente; as moas, como vimos, se atacam asimesmas.possvelqueaquiencontremospistaspara alguns tipos de violnciadomstica e para mui-tos dos chamados crimes passionais.Isto no querdizer que rapazes, com essas caractersticas, no ten-tem suicdio, e que moas no reajam preponderante-mentedeformahetero-agressiva.Pensoqueaindaexistemmaisdvidasquecertezas,emrelaoaocomportamento diferencial entre os sexos.Para alguns autores, os pacientes descritos cor-respondemaoschamadosborderlines. Adespeitodeconcordarcomsuasemelhana,meparecequeso pacientes menos indiscriminados, mais integrados,no correspondendo aos quadros tpicos borderline.Quando surgem os aspectos psicticos, com cises,indiscriminaes e confuses, elas so mais limitadasque nos borderlines tpicos, persistindo uma parteintegrada razovel. E por isso que os componentestriangulares podem tambm emergir.2-UMSEGUNDOMODELO:NARCISISMODESTRUTIVOQuanto aos melanclicos e psicticos, infeliz-mente,estesnemsempresoencaminhadospelospsiquiatras para psicoterapias.Ao mesmo tempo, soessespacientesosquesematamantesdeprocurarajuda, ou quando ela lenta ou no adequada. Muitosse assemelham ao que se segue.Srgio*, com 45 anos, apresentou-se entre-vista, fenomenologicamente, como um melanclico,aindaqueprocurandomascarar-se.Tentoumatar-senum quarto de hotel, com uma overdose de psico-trpicos, e sobreviveu porque foi descoberto por meroacaso.Noqueriaumpsiquiatra,estandocertoquesomente a psicanlise resolveria seu problema. Tentavaseduzir-me, num momento manaco, logo aps a ten-tativa, para que eu o aceitasse para anlise, estimulan-do-me a efetuar um conluio perverso, e assim certa-mente ele acabaria se matando. No me foi difcil per-ceber isso e consegui convenc-lo a procurar um co-lega psiquiatra, onde j chegou como melanclico tpi-co, com fortes idias suicidas, tendo sido internado.Sado do hospital, chegou-me como um pacien-te deprimido, mas principalmente com uma estruturanarcsica, um executivo, que antes vivia na onipotn-cia, mas a havia perdido ao terfracassado em seusnegciosarriscados. Aspectossuperegicossdicosdecorriam da identificao arcaica com objetos mor-tos-vivos, que o perseguiam exigindo-lhe atingir a per-feio total, para repar-los maniacamente. Uma vezque no a conseguira, obedecias ordens desses ob-jetos, punindo-se e ao mesmo tempo buscando outraperfeio,semnecessidades,namorte.Narelaotransferencial me atacava, exigindo que eu encenas-se seus objetos sdicos, que eu lhe exigisse uma per-feio absoluta, ao mesmo tempo que me acusava porisso. Fugia de qualquer ansiedade depressiva atravsde atos, como o uso de bebidas, drogas e velocidade,com o que tentava maniacamente sentir-se onipoten-te, ao mesmo tempo que buscava a morte.Concomitantemente tentava fazer-me viver seusterrores e culpas, mas tinha tambm a esperana queeunosucumbisseasuasansiedadesprojetadas.Otrabalho de disseco dessas fantasias, permitiu queintrojetasse alguns aspectos de objeto continente, sufi-cientes para recomear sua vida, com alguma humil-dade e discriminao. Conseguiu trabalho, e saiu-serelativamente bem, ainda que seus objetos sdicos conti-nuassem ativos. Com o tempo pde diminuir a intensi-dade de suas identificaes projetivas, dentro do ana-lista, cuja funo primordial era negar sua dependn-cia, no tomar contato com a inveja doprofissional, etentarmanter-senummundonarcsico.Noentanto,frente a algum desenvolvimento mais evidente, os com-ponentes destrutivos e invejosos re-apareciam.O caso relatado, de Srgio, teorizado (lembroqueteoriasnosofatosnemfenmenos)noslevaapensaremestruturas(palavrabastanteruim,porqueno h estruturas que dem conta da mente humana),estruturas narcsicas, em que em vez da pulso de vida, a de morte que atinge o indivduo. No chamado nar-cisismo destrutivo ocorreria uma fuso patolgica daspulses de vida e de morte, e a teoria da inveja nos expli-ca a confuso. A impossibilidade de sentir-se depen-dente do analista, como antes no aceitou ser dos pais,numa revivescncia, faz com que o paciente prefira noser, morrer, negar o fato de seu nascimento, e tambmdestruir seu progresso e insight analticos, represen-tantes da criana dentro dele, que ele sente que o ana-lista, enquanto representante dos pais, gerou. Agora opaciente quer desistir da anlise, ou mais frequente-mente atua de maneira autodestrutiva, destruindo seusucesso profissional e suas relaes pessoais. O suicidio,o desaparecer no esquecimento, se expressa muito aber-tamente, sendo a morte idealizada como uma soluoTrata-se de um compsito de material clnico, visando no identificao e manuteno de sigilo tico.48Cassorla RMSpara todos os problemas. Estaramos aqui praticamentecom a pulso de morte quase emestado puro. A teo-rizaoapresentadaseaproximadoqueosautoresmodernos tm chamado organizaes patolgicas, emque aspectos destrutivos, sedutores e enganadores fun-cionam como uma mfia interna, prometendo prote-o mafiosa se o indivduo se sujeitar a conluios perver-sos.Nadamuitodiferentedoqueocorreemnossasociedade narcsica atual, com seus aspectos corruptos,mafiosos e mentirosos. Mas, este outro assunto...Entre mdicos e estudantes de medicina no rarooscomportamentossuicidastmcaractersticasqueseassemelhamaosdoismodelosdescritos. Trata-sedepessoasexigentesconsigomesmas,comu-mentecomsucessoescolar,profissionaloucientfico.Noentanto, tm dificuldades em lidar com as frustraesdo mundo real, e quando se defrontam com elas incli-nam-seatom-lascomofracassopessoal.Suavidaafetivapobre,difciledesvalorizadafrentereaintelectual. Em algum momento, quando as pessoas sedefrontam com um vazio intenso, estimulado por su-postosfracassosdependentesdeauto-exignciassdicas, e sem apio afetivo, o terror inconsciente deno existncia os faz pensar em morrer. A idia sui-cida se articula com fantasias inconscientes de buscade outra vida sem necessidades, de agresso ao ambi-ente frustrante, auto-punio pelo fracasso, e/ou ou-tras fantasias altamente sofisticadas que dependeroda constituio peculiar de seus mundos internos.Asociedade, por outro lado, estimula a competio e oorgulhoprofissional,quepodetornar-searrogncia.Quandoestadesabaomdicosedefrontacomumvazio, uma vida sem objetivos, uma sensao de fra-casso e um questionamento sobre o viver. Isso podeseracompanhadodedoenasfsicas,somatizaes,tristeza, atuaes sociais (abandono da Faculdade, deprofisso, separaes conjugais, etc.), depresso (quechamamos narcsica), uso de substncias psicoativas,e, como vimos, idias suicidas. O risco de acidentes(suicdios inconsciente) aumenta.A facilidade em ob-ter produtos mortferos por parte de mdicos, e o co-nhecimento pormenorizado de sua ao, implica emmaiores riscos de vida. Relaes simbiticas podemcoexistir com a dinmica apresentada, ao lado do iso-lamento afetivo, oscilando entra os dois extremos.necessrioqueaclassemdicaeosestu-dantes de medicina questionem sua qualidade de vida,e a forma como convivem numa sociedade narcsica,estimulantedacompetioedosucessoperversos,inibindoaafetividade.Noentanto,verificamosquecomumenta personalidades como as descritas, procu-ram a Medicina, justamente porque a seleo (vesti-bulares, por exemplo), facilita o ingresso de pessoascomessestiposdeconflitonaprofisso. AEscolaMdica pode ser o lugar privilegiado para que ocorrapreveno, diagnstico precoce e tratamento adequa-do, possibilitando que os excessos sejam dirigidos deforma produtiva, para a vida e no para a morte.CassorlaRMS. Youngstersthatattemptsuicideanddestructivenarcissism:twocomprehensivemodelsofthe suicide behavior.Medicina (Ribeiro Preto) 2005; 38(1): 45-48.ABSTRACT:Modelofthestudy:Thepaperpresentstheresultsoftheauthorspreviousinvestigations referred to comprehensive models of suicidal behavior. Comments:The first modelshows the natural history of the suicide attempt in youngsters. In this model is identified an emptyinternal world that stimulate the search of symbiotic relationships. When these relationships threattofinishappeartheriskofbreakdown.Thenemergephantasiesofsearchprimeindeath.Inthesecond, destructive narcissism its explained how cruel self demands, when not satisfied, takes tothefeelingoffailorinsanity.Thesuicidalactseemstobeasolution.Finallythesemodelsarediscussedbringingintorelationwiththehighersuicideriskofphysiciansandmedicinestudents.Keywords:Suicide. Youngsters.DestructiveNarcissim.Physicians.MedicineStudents.REFERNCIASBIBLIOGRFICAS1 - CASSORLA RMS. Depression and suicide in adolescence. In:ThehealthofadolescentsandyouthsintheAmeri-cas. Washington ,DC.:Word Health Organization, Pan Ameri-canHealth Association;1985.p.156-69.(ScientificPublica-tion,489).2 - CASSORLA RMS. Do suicdio: estudos brasileiros. 2a.ed.Campinas:Papirus; 1998.3 - CASSORLARMS.Suicdioeautodestruiohumana.In:WerlangBG,BotegaNJ.Comportamentosuicida.PortoAlegre: Artmed; 2004.p.21-33.4 - CASSORLA RMS.O que suicdio. 5a. ed. So Paulo:Ed.Brasiliense; 2004. (No prelo).