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5º Seminário da Câmara Técnica de Medicina de Família CRMMG A visão do código de ética sobre o direito do médico de família de renunciar ao atendimento do paciente Cons. Ricardo do Nascimento Rodrigues

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5º Seminário da Câmara Técnica de Medicina de Família CRMMG

A visão do código de ética sobre o direito do médico de família de renunciar ao

atendimento do paciente

Cons. Ricardo do Nascimento Rodrigues

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• Situação 1 - Médico da Família atua em UBS de região considerada como de “alta periculosidade”. Os gerentes, porém, se recusam a promover quaisquer medidas de segurança.

• Situação 2 - Médico da Família atende criminoso baleado. Durante todo o tempo, precisa atendê-lo, sob a mira de um revólver.

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• Situação 3 - Médico da Família atende paciente com quadro de lombalgia, afasta-o do trabalho por 10 dias, após este período considera-o apto para retorno ao trabalho, porém paciente alega dores e insulta e ameaça o médico.

• Situação 4 - Médico da Família é injustamente acusado por pai de criança de “erro médico”. O homem passa a agredi-lo fisicamente.

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• Situação 1– Médico da Família atua em Unidade de Saúde de

região considerada como de “alta periculosidade”.– Durante o tempo em que lá trabalha solicita, junto a

gerência, que providencie medidas de segurança, com profissionais especializados e portas com detecção de metais.

– Sem sucesso, por questão de solidariedade e do que considera como “ética profissional”, continua atendendo seus pacientes normalmente, apesar de todo o risco.

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• Situação 2– Durante o trabalho na Unidade de Saúde da Família o médico

recebe paciente baleado, que vem acompanhado de seus colegas que o identifica como “chefe da quadrilha”. Pro médico “bandido bom é bandido morto”. Porém, diante da mira de revólver, decide fazer o possível pra salvar a vida do paciente.

– Depois do atendimento, vivencia uma série de dilemas éticos:• Criminosos têm o mesmo direito do que não-criminosos a todos os

cuidados disponíveis?• Depois do atendimento, deve prestar queixa à polícia sobre a

revelação de vários crimes, realizada por parte dos próprios acompanhantes do socorrido?

• Se não tivesse ameaçado, ele mesmo, de morte, teria a obrigação ética de atender sob situação de extrema pressão como aquela?

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• Exposição dos detalhes• Situação 3

– Médico da Família atende paciente de 36 anos com dor lombar, sem episódios prévios, quadro iniciado após trabalhar carregando peso. Realiza exame físico, identifica lombociatalgia. Prescreve medicamentos e faz orientações posturais, agendando retorno em 3 dias, período abonado por atestado. No retorno, faz nova avaliação clínica, considera-o apto e orienta retorno ao trabalho. Porém o paciente alega persistir com dor e solicita que continue afastado. O médico recusa novo afastamento e orienta o paciente. Enfurecido com a decisão, o paciente ameaça “esperá-lo na porta” para uma conversa e, ainda avisa: “vários de seus outros atendidos estão reclamando de sua falta de educação e comportamento injusto. Vamos fazer um abaixo-assinado para retirá-lo de seu posto”.

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• Situação 4– Médico da Família costuma realizar atendimento a determinada

criança, desde o nascimento dela. Em algumas ocasiões, além da mãe, comparece o pai (diga-se de passagem, constantemente embriagado).

– Em um dos atendimentos, faz um exame clínico e anamnese minuciosos e, sem identificar a causa da febre e mal-estar, recomenda repouso e observação em casa. Horas depois, a criança volta, desta vez, com quadro de meningite instalado.

– Apesar de atendimento adequado, inclusive com verificação de rigidez de nuca ( na ocasião da primeira consulta, ausente), o médico passa a ser acusado verbalmente pelo pai, de “erro médico”. Inconformado com as explicações do profissional, o homem passa às vias de fato, com tapas e socos.

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• Situação 4 (continuação)– Em situações como esta, deve o médico:• Revidar as agressões?• Depois do atendimento, prestar queixa contra o pai do

paciente na delegacia?• Abandonar o acompanhamento da criança, se

trabalhar em cidade pequena e for constatado que é o único médico disponível na unidade de saúde de referência?

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Eixo Central

Agressões a médicos

Pergunta-base: Como realizar um atendimento ético, quando submetido a diversos níveis de

agressão?

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Argumentos

Inciso II, Cap. I do CEM - o alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agira com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional.

Inciso XI, Cap. I do CEM – estabelece que o médico deve manter sigilo quanto às informações confidenciais de que tiver conhecimento no desempenho de suas funções. O mesmo se aplica ao trabalho em empresas, exceto casos em que seu silêncio prejudique ou ponha em risco a saúde do trabalhador.

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Artigo 36 – veda ao médico abandonar paciente sob seus cuidadosParágrafo 1º - Ocorrendo fatos que, a seu critério,

prejudiquem o bom relacionamento com o paciente ou pleno desempenho profissional, o médico tem o direito de renunciar ao atendimento, desde que comunique previamente ao paciente ou seu responsável legal, assegurando-se da continuidade dos cuidados e fornecendo todas as informações necessárias ao colega que lhe suceder.

Artigo 33 – proíbe deixar de atender paciente que procure seus cuidados profissionais em caso de urgência, quando não houver outro médico em condições de fazê-lo.

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Resolução 90/00 do CREMESP, referendada pelo CFM, considera, entre outros pontos que “o médico no o médico no exercício profissional, encontra-se exposto a numerosos exercício profissional, encontra-se exposto a numerosos riscos ocupacionaisriscos ocupacionais” e que, além de “ser o executor direto ser o executor direto das ações de saúde, deve merecer a devida atenção das ações de saúde, deve merecer a devida atenção quanto à sua saúde ocupacionalquanto à sua saúde ocupacional”, estabelece que: “em em locais de trabalho sabidamente violentos e que exponham locais de trabalho sabidamente violentos e que exponham a risco a integridade física dos médicos no atendimento a risco a integridade física dos médicos no atendimento de pronto-socorro, de pronto-socorro, deverá haver manutenção de plantão deverá haver manutenção de plantão policial ou, na impossibilidade deste, segurança privadapolicial ou, na impossibilidade deste, segurança privada””.

A mesma resolução determina que “caberá ao caberá ao respectivo diretor técnico/médico responsável respectivo diretor técnico/médico responsável e, no caso de sua inexistência, ao diretor clínicoao diretor clínico, tomar formalmente as providências necessárias.

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A Lei das Contravenções Penais, em seu Art. 66, proíbe ao médico “deixar de comunicar à autoridade competente: crime de ação pública, de que teve conhecimento no exercício da Medicina ou de outra profissão sanitária, desde que a ação penal desde que a ação penal não dependa de representação e a não dependa de representação e a comunicação não exponha o cliente a comunicação não exponha o cliente a procedimento criminalprocedimento criminal”.

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Eixos SecundáriosEixos Secundários

Direitos do MédicoDireitos do MédicoAbandono do AtendimentoAbandono do Atendimento

Relação com FamiliaresRelação com FamiliaresObrigatoriedade de TratamentoObrigatoriedade de Tratamento

SigiloSigilo(denúncia sobre dados obtidos durante as consultas)

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Situação que poderá ser levantadaSituação que poderá ser levantada

O médico é obrigado a atender, mesmo ao se O médico é obrigado a atender, mesmo ao se identificar situação de risco?identificar situação de risco?

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DiscussãoDiscussão

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Inciso I, Cap. I do CEM (Princípios Fundamentais) – A Medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade e será exercida sem discriminação de nenhuma natureza.

Inciso II, Cap. I do CEM – O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional.

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“Todo os deuses e homens devem odiar o Todo os deuses e homens devem odiar o médico em cujo íntimo falte compaixão e médico em cujo íntimo falte compaixão e

espírito de humanidadeespírito de humanidade”Scribonius Largus, 14 – 54 DC

Médico grego

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Situação 1Inciso IV, Cap. II do CEM – O médico tem o direito de se recusar a exercer sua profissão em instituição pública ou privada onde as condições de trabalho não sejam dignas ou possam prejudicar o paciente.Inciso XVII, Cap. I do CEM – Orienta como Princípio Fundamental que ele não pode se eximir de denunciar atos que contrariem os postulados éticos.

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Situação 2Inciso II, Cap. I do CEM Médico não é juiz de direitoSigilo médico

Perguntas:1 - Criminosos têm o mesmo direito do que não-criminosos a todos os cuidados disponíveis?2 - Depois do atendimento, deve prestar queixa à polícia sobre a revelação de vários crimes, realizada por parte dos próprios acompanhantes do socorrido?3 - Se não tivesse ameaçado, ele mesmo, de morte, teria a obrigação ética de atender sob situação de extrema pressão como aquela?

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Situações 3 e 4Avaliação clínicaArtigo 25 do CP – “Atua em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”.

Perguntas:1 - Revidar as agressões?2 - Depois do atendimento, prestar queixa contra o pai do paciente na delegacia ou contra o paciente que o ameaçou?3 - Abandonar o acompanhamento da criança, se trabalhar em cidade pequena e for constatado que é o único médico disponível na unidade de saúde de referência ou do outro paciente?

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Abandonar o acompanhamento da criança, se trabalhar em cidade pequena e for constatado que é o único médico disponível na unidade de saúde de referência ou do outro paciente?

Artigo 36, Cap. V do CEM – É vedado ao médico abandonar pacientes sob seus cuidados.

§ 1° Ocorrendo fatos que, a seu critério, prejudiquem o bom relacionamento com o paciente ou o pleno desempenho profissional, o médico tem o direito de renunciar ao atendimento, desde que comunique previamente ao paciente ou a seu representante legal, assegurando-se da continuidade dos cuidados e fornecendo todas as informações necessárias ao médico que lhe suceder.§ 2° Salvo por motivo justo, comunicado ao paciente ou aos seus familiares, o médico não abandonará o paciente por ser este portador de moléstia crônica ou incurável e continuará a assisti-lo ainda que para cuidados paliativos.

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Art. 33Art. 33Deixar de atender paciente que procure seus

cuidados profissionais em casos de urgência ou emergência, quando não haja outro

médico ou serviço médico em condições de fazê-lo.

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