59748297 domingos caldas barbosa viola de lereno 1798

5/16/2018 59748297 Domingos Caldas Barbosa Viola de Lereno 1798 - slidepdf.com

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VIOLALERENO

COLLÈcqÂODAS SUAS CANTIGAS^

op i?Ekí:cít)AS

AOS SEUS AMIGOS*

J^OLUMÊ t.

í<XXX>0<XX>0<X>,>C>C>::;><X

LISBOA:iÍÀ OfFÍCINA NtJNESlAi^A.

Anno 17984

Com licença da Meza úú Desembargodo Passo,

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li«—iuiwi"'j|| " " '



»•

kO DIA DE FESTEJAR-SE O NOME

S E N H O íl A

CONBEgA DE FOMBEIRO.

CANTIGAS.

\ '

.}

A MIRA formosa,

Escuta os louvores,

Que os simples Pastores

Vera hoje entoar:

O teu Nome illustre,

Subindo ás EstreJJas,

Nos Bosques de Bellas

Já vai resôar

OíFren-

'I

Èr

1 1

?;



#: 4 :#

OíFrendás singelas

Das suas campinas^

Cheirosas boninas

Te vem oíFertar:

E o Pomo, que pende

Para ti nascido

Para ti colhido

Tc vem entregar

O Pomo da China ,^

Que cresce em teus campos' ^^

C^os figos que lampos

Eu ouço chamarOs Limões pontudos,

Esféricas LimàáCo as nozes qu'estimars

Te dão a gostan

Em



i'T^

Em honra a teu NomeContentes tiabalháô ,

N'ura louro o entalhao

Por vê-lo durar :

Em honra a teus Filhos

Seis plantas creárâo

E a outras preparão

Bastante lugar.

Teu Nome tem fçíto

Que do canto gostem

Tu fazes que apostem

Teu Nomq cantai-:

No rude Psalteire,

Na harmónica Lyra

O Nome dç AtniraSe oiive resoar. í'

Assim

\

mli



^h 6 y;^

Assim tua vida

Durar sempre possa,

Que he vida q'adoçc'|

O nosso pezar

Seremos alegres

Nâo digo mentira,

O tempo em q'AmirâBellas animar,

Moda de Tirce,

CANTIGAS.

VE 5 Lereno desgraçado

O reu destino cruel

Amar, e morrer de amores.

Por quem te não he fiel.

Vera



Vera os terríveis ciúmes

Rodear-te de tropel

Has de contínuo soíFrelIos


Dos Amantes desgraçados

Vê o terrível painel

Tanto tens que supportar


Verás as doces promessas

Converter-se amargo fel

Desvanecer-se a esperança


A mãotreme de assustada,

Cahe dos dedos o pincel

Não pinto o que has de passar


> 1..

I

Nun-



Nunca^ beJíeza , e constandoGuardarão próprio nível;

SoíFre por Lilia, mas sofFre

"Por quem te não He fiej.

Embora seja enganadoO néscio amante novel,

(X.0 tempo te desengana

Por quem te não fiel.

Mas Amor tem arte, e geitoD'espalliar seu doce melE te faz ser doce a mortePor quem te não he fiel.

Teu



^0

^m juramento.

I

'

CANTIGAS.

N.As leves azas

Do vario vento

Voou,perdeo-se

Teu juramento:

Oh que tormento!

Lilia me jura

K não conhece

Amor, ternura.

Chamas os NumesDo Ethereo assento

,

E he seu opprobrio

Teu juramento

Oh, &c.

I' :

.

i

M,

Ao



^K ^o )^

Ao teu perjúrio

Cupido attento.

Punir promette

Teu juramento:

Oh, &€•

Lá onde o Léthes

Vai somnolentoChegou voando

Teu juramento:

Oh, &ç.

Nas frias agoas

Do esquecimentoVai mergulhar-se

Teu juramento

Oh, &c.

D'arnor não tinhas

Conhecimento

Nem sahio d'alma

Teu juramento

Oh , &c. Le-

-^^



«K lí )^*

Lereno triste

No seu larnenro

Chora baldado

Teu juramento

Oh , Scc.

B^m fica.

C A N T I G A S.

:=:%>

A Deos bellas NymfgsGentil Sociedade

,

O mal da Saudade

Começo a chorar,

Ai ! que o meu pezar

Assim nâo se explica;

Vai mal o que vai

Bem fica,quem fica.

A

'I,

'1

^

.^^sr



A Deos, á Campinasj^

A Deos , arvoredos

Que d'alma os segredos

Me ouvisteis contar:

Âi ! > &ç^

Q Fado me aparta

Dos olhos, que adoro ;

Dizei-lhe o que eu choro

De assim me ausentar

Ai!, &c

Meu Coração triste,

Partido em pedassos,Só pôde os seus passos

Assim vigiar:

Ai!, &c.

Mas levo era minha almaDa ausência os temores,

E invejo os Pastores

Que podem ficar:

Ai!. &c. Amor

aniTTiU

TÉ



Amor por vingar-^se

Do livre Lereno

D'ausencia o veneno

Assim faz provar

Ai!, &c.

Recado,

oDi g3-

Ra a beos. Senhora Ulina

me , como passou;

, teve saudades?onte-me^' Não , ..V.

,

Nem de mim mais se lembrou :

nao

O amor antigo

Já lhe passou

E a fé jurada ?

Tudo gorou.

Di-

^



Diga, passou bem no Campo?Diverrio-se ! passeou í

Acaso lhe fíz ea falta ?

Não 5 não.

Nem , &c. O amor, &c,

Era bom o seu BurrinhoOu somente a pé andou?Lembrou quem lhe dava o braço?

Não y não

Nem, &c. Õ amor, &c,

Houve tnúita Contradança ?

E com quem contradançou ?

Lembrt^u-lhe este seu parceiro?

NãOj não

Nem, &c.... O amor, &€„

Can-



Cantou algumas Modinhas?E que Modinhas cantou?

Lerabrou-lhe aJguma das minhas?

ivjão, não,

Nemj &c. O amor, &c.

Ha de dizer , cjue eu lenabrava

E que por mira suspirou

Náo ha tal : bem a conheço r

Não, não.

Nem, &c..é* O amor, &c.

íi

j



«I*C t6 )4^

I

iâ dôr do meu Coraçãat

MODA.

D Isfarço no alegre ròstdMinha interior afflicção;

Porque os òlitros não conheçadA dôr do meu Coração

Tenho éiisJhacíõ á meus olho^Dos segredos a lição

Saberíi dizer era segredo

A dôr dò meu Coração:

Appareceiti fio§ ríleós olhos

Dezejos, que vem e vão;Comsigo levâo , e trazem

A dôr do meu Coração:

Taí%

«1^ mm



Talvez aquelk, que adoro^

Que he minha consolação,

Não enrenda , não conheçaA dôr do meu Coração :

Qiiando seus olhos não yejòjCresce mais minha afílição;

Seus^ lindos olhos consoJão'

A dor do meu Coração:

.

Vi hum dia , hum certo dia5

Huns^ signaes de compaixão,E dei por bera empregadaA dôr do meu Coração

i'i

\-f

Foi I. QueM



4K i8 )^

Quem dd o que tem.

E

CANTIGAS.

U tenho que dar-te,

Alzira , meu Bem ,

O meu terno Amor

Que assim . me convém

Nâo sei 5 minha amacia

Se muito m'explico

Mas dá mais qu'hum RieO

Qiiera dá o que tem.

£m



<cy. ip M^

Em vez de manadas

E largos Currais;

Serão os meus Ais

OíFreftdas rambera :

Não sei 5 &c*

Eu não te appareçoCora rico surrão;

Mas meu Coração

Maior valor tem

Não sei, &c.

Por chuva,

porcalma ,

De noite , e de dia,

Farei companhiaFiel a meu Bera

Não sei , &c.

^

t



mm

«K 20 )^5

^' dece União de Amor,

C A N Tl d A S.

D'Estinou-me a Natureza

Para éer seu Orador;

Deo-me por primeiro theraa

A doce Uitião de Amor:

1Amor da o fom

Para à Companhia

Sem elle se vive

Em sera-sabedoria.

Nem

"N^ mmm



Nem fora ditoso o Mundo,Nem tivera morador

Quando nelle se acabasse

A doce Uniáo de Amor:

Amor, &c.

Dos desgostos desta vidaPeior fora o dissabor,

Se acaso os não temperasse

A doce União de Amor

Amor , &c.

Talvezmaior qúe o das

Feras

Seria o nosso furor,

Se acaso o nâo moderasse

A doce União de Amor:

Amor, &c.

No

:.''• <>*»



No rnçmo Reina do pranto

Hum terno, ania^nte Cantor

Susteve as penus cantando

A doce União de Amor

Amor, &c.

Se entro tíé cerrado bosq^ueOuço as Aves ao redor

Que no seu gorgeio explicao

A doce Uniãd de Amor

Amor, &c.

Se d^pâetn o* fero monstroO seu natural furor

He só quando & tem domadoA doce Uniãd de Ána^r :

Amor, &c.

Sal-

íiiMilliMiM



Salta alegre ao lumed'agoa

O escamoso Nadador,

E talvez saltando explica


Amor, &c.

Huma planta abraça hum tronco,

Huma flor beija outra flor,

Mostra era tudo a Natureza


Amor, &ç.

He bom tudo o que Amor dá ^

Seja prazer, seja dor.Tem certo azedo que agrada


Amor, &c.

O que não ama não acha

A' Vida melhor sabor,

Que he o tempero da Vida

A do^e União de Amor :

Amor, &c»

í^

't



Fou marrenão de vagar^

CANTIGAS,

J2/U sei, cruel, que tu gQStas,,Sim gostas .de me matarMorro, e por dar-te mais gostoiVou morrendo de vagar

Eu gostomorrer por ti^Tu gostas vér-me espirar;

Como isto he mpçte de gostojj

Vpy morrendo (de vagar;

A^

Amoir-

\i



Amor nos unio era vida,Na morte nos quer juntar;

Eu5para ver como morres

Vou morrendo de vagar:

Perder a vida he perder-te;

Não tenho que me apressar

Como te perco morrendo,

Vou morrendo de vagar

O veneno do ciúme

Já principia a lavrar;

Entre pungentes suspeitas

Vou morrendo de vagar

Já me vai calando as veias

Teu veneno de agradar;

E gostando eu de morrer,

Vou morrendo de vagar :

Quaii-



Quando não vejo os teus olhos,Sínto-me entlo espirar

Sustentado d'esperanças,

iVou morrendo de vagar:

Os Ciúmes , e as Saudades

Cruel morte me vem dar-,

Euvou

morrendoaos pedaços

,

Vou morrendo) de vagar

He feliz entre as 'desgraças.

Quem logo pôde acabar;

Eu, por ser mais desgraçado

you morrendo de vagar:

A morte, emfira , vera prender-rae.

Já lhe não posso escapar;

Mas abrigado a teu Norae,

Vou morrendo de vagar:

Mi-

wm



<VC i? )^*

'i

Minuete,

i_Vllia , Oh Lilia,

Tu não escutas

Soar nas grutas

O meu clamor!

Nâo me appareces.

Não te éterneces.

Da minha dor?

Lilia, oh Lilia^

Morro de amor.

Lilia , oh Lilia,

Lá d'onde assistes

Ouve os ais tristes

Do teu PastorNâo

!l



1Não tardes mais,'

Vem aos meus ais,

E ao meu clamor,

Lilia , oh Lilia

Morro de amor:

]!^ada de dúvidas^

CANTIGAS.

DUvidou a minha UlinâQuiz a minha fé provar;Inda bem, desenganou-se,Ah não torne a duvidar

Porque Amor quando duvida,

Principia a vacillar.

Não

\imm



Não acreditou meus Votos ^

'Ao depois de eu lho jurar;

Veja agora ,que são puros,

Ah não torne a duvidar:

Porque, &c.

Aquiponho a mão no fogo

Que de amor arde no altar;

Eu repito o juramento;

Ah não torne a duvidar

Porque , &c.

Se em tanto tempo de ausência^

Eu pude a fé conservar

Que mais provas quer Ulina?

Ah não torne a duvidar:

Porque, &c»

'»

!lii

s»

*t



Se ,em meio das outras Bellas,O^seu Nome eu fiz soar;Não tem de que desconfie,Ah não torne a duvidar:

Forque, &c.

Haja paz, e confiança,

Qpe são delicias no aramar

Não amargure os meus dias,Ah não torne a duvidar:

Porque , &c.

^ A'

VT

"^«H



06=

^ Madrugada.li

C A N T A T A,

J A' surge a rubra Aurora

Por siraa deste Monte

E o lirapido Horizonte

O Sol já vem dourar

O concavo Saveiro

Palerao p6e em nado,

E o curvo anzol iscado

Já vai lançando ao Mar:'

Meil



iai.ry»r-r^i^^.^y-,>«.^...,.^i,^.i»»H«>^»M

Meu alvo CordeirinhdA esta parte saJta;

Só Lilia aqui tne falta.Por Lilia vou chamar:

Ah Lilia se ihe negasA tua companhia.

Que pouco importa o dia.Que fazes malograr.



VIOLA DE LERENO.

VoL 1. Num. 2,

Perdi a Ahgri:

Cjr N T I G A S.

\5^'^^^dc> eu não amara,Alegre vivia;

^gora, que eu amo,Perdi a alegria :

Tudo m'entrjsíece / '

Tudo m'ei]fastia;'

í^erdi o socego,

Pçi-cli a alegria.

(^1



#( 2 )'5>

Dos oi^trQs amantes

Zombando me ria;

Agem chorando

Pago a zombaria

Tudo^ &Ce

A lyfa tocando

Acs mais divertia

Choro hoje ao sóm delia

De noite e de dias

Tu4o,&e'

Foi bem desejada

Minha companhia;

O meu pezar hoje

A todos desvia:

Tudo ^&q

Com meu doce cantoA tudo atrahi-a

j

Afora já fogem :

Da minha agonia:

Tudo,&Ci!



^K 3 )<^

Que os olhos de Lilia,

Com tal tyrannia,

Assim me- tornassem,,

Kinguem o diria

Tudoj&C'

Amor quiz vingar-se^

Do que eu Jhe fazja;

Armou-se de Liiia,

Que só não podia :

Tudo , &c.

Cuidei que a rá7ão

A Amor venceria ;

Que elle era mais forte

Eu tal não sabia;

Tudo , &Cé

Não sou já Lercno

Qual era ajgum dia;

Pois choro cativo

Se livre me ri^t

1

|:I



mré»ií»\ri\ii\^

tH 4 ) ^*

A huns lindos olhos.

CANTIGAS.

O Lhos,que Amor anima

Com hum suave encanto

Ah ! Suspendei liieu pranto

Que eu já náo posso mais.

Compsdecei-vos ternos

Da minha saudade

Lede nos meus verdade

De Amor que não negais,

^ Pf Olhos que Amor accende^^D'huma suave chamma

Q^o peito que não ama

Fazeis depjreça anvar.



Pois me accendesres tanto

Em doce, e vivo fo?o ,

Ardei nesta alma eu rogo

Que a cJiamma lia de durar.

«G

Ao Som da Lyra. a chorar*

'- "'i iiili»

CANTIGAS... d'improviso.

L Ereno , o fiel Lerenó\

Aqui se veio encostar,

A' sombra deste alto frêxo

Ao som da Lyra a chorar.

Amor de longe o escutava ;Equilibrado no ar;

Pareceo gostar de ouvillo

Ao, &c.



m

O mesmo Deos tão cruel

Se ouvio eíitao solucir;

Que faz compaixão Lerano

Ao , &c.

Da sua Llíia traidora

Elíe Qayiq queixas formar

Lilia, que ali o trouxer i

Ao, &c.

Seu Amor, ou seu segredo

Elle nâo quer arriscar ;

E vem aonde o não o içao

Ao, &c.

Esta rápida corrente

Vio o seu pranto parar

Tanto espanta ouvir LereiíT)

Aq , &c.



o alegre canto das Aves

Em pranto se ouvio trocar;

Imitando ao qué lhe ouviaòi

Ao, &c,

O pobre manso rebanho

Não foi a herva pastar

Entretinha-sé de õtivi Io.

Ao, &c.

fâîirao da? verdes 0'rtdaà^

Os bravos Peixes ào Máf ;-

'Fóri d^guao eêcutaVa^.

Ao, &c.

A? Feras * ^"s mesmas Feras'i'

Deixâo entáo dîivrar;

Procurando aquém õ\v''4o

Ao, &c.

, . i,



i:í:

O pranto só de LerenoPodia tudo trocar;

E tudo queria ou^i-lo

Ao , &c.

Zéfiro mesmo câlado

Nâo se sen tio voltear:

Mudo o ouvia d^entre as flores

Ao 3 &C.

Só a lastimoza Eclio

O tentou arremedaf;

.Também se ouvio entre as PenhasAo , &c.

O nome que se lhe ouvira

Ali via redobrar;

í-ilía , Lilia , sé repete

Ao, &c.



Entpo raivozp Cupido

Lhe praín-^reo de o vingar^

E foi procurar a ingrata

Ao 5 &c»

Serei inste até morrer.

CANTIGAS.

X Ois assim o quer meu fado.

Pois Amor assim o quer\

Náo espero ser contente,

Serei triste até morrer :

Nem pôde fazer Amor

O que o destino não quer

Sa esta tristeza he desrino ,

Serei , &c*

^



Jl Hfltttígili

Sobre as ara$ de Cupido

Renuncio ao meu praier i

Protestando viver triste

Serei, &c.

Para tornar-me contente

Só Elfina tem poder ;

Se ella liâo quer ale^^rar^ma ,

Serei ^ &c.

Os olhos ,que me alegravão

^ Não me deixa Elfina ver;

Negada a minha alegria

Serei, &c.

Entendo o meu cor^qio »

D'está no peito a bater;

E palpitando me agfoira

Sárél,&c.

C '

^



«K II )^^

Para me fazer alegre^

Nem amor tem já poder;

Se Elfina me quer ver triste

Serei , &c.

Gostarei de vivertriste

Pois que Elfína assim o quer;

E só por dar-lhe e^^re gosto

Serei , &c«

Outras.

Podeoii feia tristeza

Meu berço logo âo nascer,

Bafejou me a triste vida ,

Serei , &c.

Ao abrir dos froxos olhos

Vi o dia escurecer ;

Foi presagio da tristeza ,

S^reij &ç.



Falia o coração batendo ;

Bateu, que me quer dizer?

(Taivê-s me diz palpitando

Serei , &c.

Nasce o dia aclia-me triste,

Ve-me a noite entristecer

iTristes horas me rodeião

Serei, &c.

Lindos olhos de Jozina

Só vós sois o meu prazer;

Se eu vos vejo hum dia tristes,

Serei , &c.

Vem essas lagrimas tristes

Minha alegria empecer j

Senão vos tornais alegres.

Serei, &c.

^__ ™—_ _____„•



« 13 )^^

i==«^

Zab::mha

CANTIGAS.

A Mor ajustou com Marte

Váos Mancebos alistar,

Hum lhes dá trabalho honroso;

Outro os faz rir e zombar:

Tan , tan , tan , tan tan Zabumbai

Bella vida Militar;

Defender o Rei e a Pátria

E depois rir , e folgar.

Toca Marte á Generala,

Vai as Armas aprestar;

Amor tem praieres doces

Com que os males temperar:

Tan. &c»

'^

^

i^^.:u.jmsr



'rfWrff.m; ,t -T. *, .^-.-.yy^jn -2-ae»?,?«|^•

«

«

.Oiço o rufo dos Tambores,

Já dníi toca a inarchar;

Os adcozes sm apreça,

Não ha tempo de esperar:

Tan , &c.

Vai passando o RegimentoE as meninas a assenar;

Vão as armas perfiladas,

Mal se pôde a furto olhar:

Tan, &c.

A mochlía, que vai fofa

Fouco kva que pezar;

Pouco pão, e pouca roupa

Mas saudades a fartar:

Tan, &c«

A Cidade que he de LonaVejo apreça

lev^antar;Poem-se as Armas em. sarilho

Vai a Tropa descançar:

Tan, &c^



Vig'lântes Sentinelas

Vejo alerta passear;

Quem vem lá ! Qiiem vai! faç^alto»

Sempre dlert^ ouço gritar

Tan, &c.

Vejo alegres Camaradas

Os baralhos apromptar;

Parão . topão ,sujo cobre

A perder, cu a ganhar

Tan, &c.

Da.?e hum beijo na borrachaji

Lá vão brindes a virar j

E co^a publica saúde

Vai tencáo particular:

Tan, &c.

• Vem quartilho , vai Canada

Toca em 6m aemborrachar^

A cabeça bambaleia,

Ali ouço ressonar:

Tan, &c, .

í

1 ii



J»«ÍÍMlÍNMMIW«i WIIMiMi mtmrímrvr-n -

cggKi»;^|>^y^.^.,.^.^

lu''

mi

Corre o que viária o CampoVem perigo anriunciar

Peg%ij armas, peg^ás annas.

Dobra a Marcha^ e avançar:

Tan , &c.

Huma brigada em columpas

Marcha a outra a obliquar,

Os contrários fazem cara ,

Toca a morrer, e a matar:

Tan , &c.:

Já fuzila a Artilharia

Sinto ss bailas sibillar;

Nuvens já d^espesso fumoVão a luz do Sol turbar :

Tan, &c.

Oiço o bum, bum bum das Peças,

Vejo Espadas lampejar;Lá vão pernas, lá vão braços.Lá cabeças pelo ar :

Tan, Scc;



A batalha está ganiiada

.;o Campo saquear;

Vem oandeiras arrastandoToca em fim a retirar:

Tau, &c.

^Jenhaa„ds,vivaq„em vc,ceQ-Ue.x, ^morreu deixdo estar;C da Patr,a no regaço^s Heroes vem descansa,

„

Os que salvai

da peíeijaJe-:a Amor as graças d r;E em s.g„al da sua gloriaJuntao flores ao Cocar;

Tan, &eí

Osòlhos, que virlo tristesvem agoraeonsoJar;A saudade ^ «voáca, .

iornaapósseao/euJugar::

^



m'

m

Vem família , vem Vizinhos

Boa vinda festejar;

Ê da bocca gloriosa

Grandes cou?as escutar %

Tan,&CÍ

Despe a veste, mostra o peito;

Quer sizuras procurar;

Mas o tempo sarou tudo.

Nem signal se pode achar

Tan, &c.

Que affrontou sempre os perigos

Gentil Dama ha de escutar;

S^estimou guardar a vida , -

He só para lha entregar:

Tan, &:c.

Hum' merecimento n®vo

Tem de novo a apresentar ^

Vem mais rico de esperanças,

l^em despachos que esperar:

Tan, Séci

M

''4_-^



Hade ter a fita verde

De huma Ordem Militar;

Soldo,em dobro por trez mezes

Que a Senhora hade^

gastar :

Tan, &c»'

Não cròais Meninasnestes.

Não lie certo o seu amar;

Costumados sempre á marcha

Até amáo -a marchar

Tan, &c«

') \i

^âi*i i\

%n



«i^K 10 )i^

O Nome do teu Pastor,

^

^

h

C A N T I G A á

M O tronco de htxm verde Loiro

Me manda escrever Amor\Misturado com teu nome,

Onome

do teu Pastòi-:

^Mií abelhas curiosas,

Revoando deredor,

Chupão teu nome , deixando

O nome, &c.

De hum raminho pendurado /Novo emplumado Cantor,Suspirava ali defronte

Do nome, &c.



Ah! Lilía, soberba Lilia,

Donde vem tanto rancor?

Tu bem viste , mas não leste

O nome , &c.

Já nao se via o teu nome.

Bando o levou roubador;

E ficou só desgraçado

O nome, &c«

O teu nome que roubarão

A novo mel dá sabor

Sem o mixto d^amargura

Do nome dô teu Pastor»



«VC li )4»

Per estepreço quem mo será Cativo.

m

CANTIGAS.

G Raças aQ Geó ! Sou Cativo

E he feliz meu Captivçiro;

Amor me comprou por preço,

Que vale mais que odinheiro:

Huns olhos lindos »

Cabello loiro

Corpo bem feito

Pigão todos, todos digão

Seaão vale mais que o oiro ?



Vai a cubiçoza gente

Vender por oiro a vontade-,

Mas eu dou por melhor preço

Minha cara liberdade

Huns olhos, &c.

O llndisslmo semblante

Kinguem vê da minha bella,

Que nâo oíFereça a Amqr

Ser seu Escravo por ella :

Huns olhos, &c.

Eu não quero da Fortuna

Os bens,que

emseu Cofre tem,;

Qiie todos elles não valem

Ametade do meu bem

Huns olhos, &c.

Q^importa o metal luzente,

Que tanto adora a ambição ?

genão pode contentar

O meu terno coração:

Huns olhos , &c.



Com ,s riquezas de Amor

P poder da Natureza:

Kujis õJhos , 8cc.

Solãaãa 4 ^«^^^_

CANTIGAS.

pOu Soldado, sentei PraçaNa gentil Tropa de AmorJurei as suas Bandeiras

,

?íunca serei Dezertor

Eu soa Soldado

Eu sirvo Amor,Jurei Bandeiras,

íí.ilKc^ gef^i deíertqr.

jg;-Jii!n!JiÍ*- '

»iii.Mtei. Ji»»' _

i



De Cupido os Regimentos

Kão tem Zabumba , ou Tamborj

Tem hum certo mover d'oliios,

Que chama muito mèliior

Eu Sou &c.

DosAmorozQs perigosEu não tenho nunca horror;

Tenho valor de sodrelos.

Quanto mais, quanto melhor:

Eu sou, &c.

A fraquçza d^algum Chefe

Aos Soldados faz temor

Eu nâo tenho que temer-me

Sirvo a hum Nume vencedor

Eu sou, &c.

.

Em quanto Amor bem me pague

He ide servir bem AmorElfina seja meu soldo

Nunca serei dezertor

Eu scHij &c.



Se do meu Augusto Chefe

Tenho honras, e favor

Eu devo fiel servi4o

Seja o pn-igo. qual for

Eu sou, &c»

Dezertem os mais embora

Quem tem coração traidor

Jurei fé , cumpro os meus votos

Nunca serei dezertor

Eu, sou , &c.

h I

ai;



«^C V )4*

Amar nào he brinco.

CANTIGAS.V Ossê tram Amor em brinco

Amor o fará chorar

Veja lá com quem se mete

Qiie não he para zombar

EsTí^lBlLHO.

Al Amor , Amor , Amor !

Vossês zombâo com Amor

E não he para zombar.

P Amor be muito serio

Mui serio se hade tratar

São^muI sérios seus prazeres

Mui serio he seu pezar.



^:,

- Aqueílé que vive livre

E vai com Amor brincar

Vê nos pés, e vê nos pulsos

Os seus ferros apertar*

O Amor prometteprémiosOs prémios começa a dar *

Mas tudo o que trousse em rizQs

ftger em lagrimas cobrar

Amor vem manso ^ mançinlio.

No coração habitar

E depois de estar de dentro

Quer só elle as regras dar

Amor quando entra no pei^to

Parece o vai consolar

Mas travesso em pouco tempo

Faz a g€i|.te/palpitar

M



*K 29 )^^

Com Amor nada de preças

Vamos muito de vagar

Porque como eile ke criança

Se correr Jiade cancar.

Marcha depois da vinda do Reu*silhofí^

cfOrrei ás Margem do Tejo

Generozos Portuguezes

As Armas , e os Arnezes

Dos vossos vereis brilhar

E vóz adoradas Ninfas

Ide as vestes enxugar

,Vem burrifadas do Sangue

Que a honra fez derramar,

EsTREBlLHÒ,Hide apreça que os Tamborei^

Já se escutão ressoar



«K30 )^»

Nòs hotnbros do amigo rio

Os transporta a leve Barca

E do Heroe que a arêa marca

Veni 2 Onda o pé beijar

Não fez alheios costumes ]

Froprios costumes mudar

Se os VistcS partir amidos

Amigos vedes tornar

Hide,&c,

Fieis aos antigos votos

São dignos d^alíos louvores

A Seus Augustos Senhores

Sabem servir, e caiar

Se beijâo a mão Augusta'

Mio que os pode premiar

Sabendo merecer prémiosNão predzâó supplicar

Hide; 5c(k

iíi



Fieis á sua aliança

^o prazer ou nos perigos

i^cs Amigos sao Amigos

Aos mais dão que recear

Tem só por seu lucro, â honra

Sem mais pertender lucrar^

Sao poucos que valem n^uito

Em. muito se hão de estimar

Hide, &c

As respeitáveis Bandeiras

Vereis ao ar desfraldando

Elias mesmas vem mostrando

Quanto sao de respeitar

Em toda a parte estimada

Gente brloza , e Guerreira

Emtoda a parte a primeira

AíFrontando a terra , e o mar

Hide, &c.



m!J

•^K 3^ )?•

Vós que sofFresteis por elles

A terna , e justa saudade

Qtie ou Amor, ou amizade

Ternos vos fez supportar

Dai-lhe os braços recebeios

E nos mais ternos affagos

O Ceo vos torna assim paga

Do que a sorte quiz roubar .

Hide, 6cc.



VIOLA DE LERENO.

Voll Mm. 3,,

Suspirosãa coração,»

C A NT I GA S,

J\ Mor ferio o meu peito

Com pfu dourado farpão

Fsal írao pelas fendas

Sus ifòs do coração

Aos Ouvidos do meu Bem

C hef ará irinha affiicçao^

Porque nas azas a Jevão

Suspiros y ocCo



i \tl :. í

Devo ir sofrendo , e calando

^ minha infeliz paixão,

E em segredo voar devem

Suspiros^ &c«

Quando o respeito embaraçaA minha livre expressão

Servem-me então de linguajem

Suspiros, &c.

Ah meu bem , tu nao reparas;

Porque nãodás attenção^

A preça com que te buscâo

Suspiros , &c.

Se teus olhos inquietos

Dizem sim, e dizem não ,

Vão de perto percebelos

Suspiros, occi

t:



Se tu cuidas que eu te engano^

Poe sobre o meu peito a núú ,

Verás como fervem deíitro

Suspiroáj &€•

Se as vozes que soltar queroVem embargar-mé a razão ,

Nao importa;que me expliGãò

Suspiros, &Ci

Venliáo teus sJs esccnd'dcsi

Qiie CS meus escondidos vao,

E no caminho se encontrão

Suspiros , &cr

Vaj banhando lium meigo pranto

Meu duro fcrreo gnlhão,

Soprão mais a minha chama

Suspiros 3' &o

\



n

Ii

Eu nâô posso gc^mpanhar-tó

Seguir-te não posso nlo,

Mashiráo bnde tu fores

Suspiros, 8ccé

Amor tem para âs auzencias

Alguma consolaçlo ^

Excita por desafogo

- Suspiros, ScCe

Para ter mutuas noticias

tf<io faltão correios não,

Servirá6 de portadores

Suspiros , &e.

O estrondo , o Idtó dós ares

Meu Bem riãò te assuste, n?o,

Turbâo tudo ^ e estalão tantoSuspiros, &€•



*K s )i^

Se ao passear desses campos

Sentires ranger o chão

He que a teus pés vao caindo

Suspiros, &Co

Já nas azas da saudade

Chega a morre , e estenda a mão ^

Já me espreme os derradeiros

Suspiros do coração.

D.

Inda sou teu.

CANTIGAS.Esde o primeiro momento j

Fm que vine o gesto meu •,

Desde então me cativastes

Com que gosto índâ sou teu



i:

Amor assim preptrara

Este novo estado meuQuis-me escravo; terno escravo,

Dásde entád inda sou ceií.

O teu Coração batia ,

Batia também o meu ;

Tu soce^^aste , e estás livre

Eu inquieto índa sou teu.

Ah que foi mui frouxo o laço;

Com que o Amor tç--prendeo i

Foi mal se<:^uro, fugis-te;

Segurou-me, inda sou teu.

Fii3Jo diante dos outros

Calo o triste estado meu ;

Bem que pareça estar livreSou escravo , inda sou teu«



. «K 7 )^^

Nâo, já nSo pôde extinguir-se

Fogo ,que amor acendeo j

Entre as cinzas abafado

Arde ainda , inda soa teu.

A teu meigo volverd^olhos

Amor tantas forças deo

Que , desde que me prenderão

Sem soirar-me , inda sou teu.

Tapto o meu amor desfarço

Que inda ninguém o entendeo ;

Kao o entendao muito embora

Nâo importa *, inda sou teu.

Ah ! meu bem ,para mim vive

,

Q^Je para ti vivo eu;

Na presençíi , ou na distancia

Podes crcr-nie > inda sou teu.



,1

Do nosso destino a Urna

Traveço Amqr revolveo ;

Vio, que tu viyes mudando

,

E eu|morrendo, inda sou teu;

Vamos , cniel , fezer contas

De teia amor , e do meu

Eu pagando ^ nao es minha

Tu devendo ^ inda sou teu.

6^e tuvVèsy que eu te falto,"

Dize , Lereno morreo :

Mas sabendo , que inda vivo;

Saberás, que inda sou teu»

Huma nova escravidão

S?e queres, te juro eu.

Repetindo antigos votos.A^ui juro j inda sou teiie



<K 9 ) '?»

Sobre a* doce antiga chamaj

Que noiso amor accendeo ;

Jura, de quem es agora.

Vê jurar,que inda sou teuo

^ Ser teu çemt>re , ternamente

Amor mesmo o prescreveoi

Eu de amor as leis seguindo ;

Só teu fui , inds* aou teu.

A mim H nie nío pertenço;

Nem eu mesmo já sou meu ;

Amor f^z , que teu eu fosse ;

Por amor inda sou teu.

He huma vida já nova

A vida,que amor me deo •,

Fss ser tua a minlia vida,

Eu o cumpro, inda sou Çeu.



()

Debaixo da fria Campa

Existindo o corpo meu ;

Em quanto o coração dure;

AIU mesmo inia sou teu.

f=âs^^ÔO^^^^^^ss3Í)e

PRIMAFEBÂ

•J AMá vem a Pri mavera

,

Mostra o rosro animador;

Vem na sua companhia

O suave , e meigo Amor,

J4 dfrrama sobre os campos

Brando orvalho criador

E as cajnpjnas devastadas

Faz quç anime lium novo amor.



Já dos ycntos furiosos

Náo soa o rouco estridor;

Os galernos lisongeiros ,

S ó inspiráo paz , e amor*

Já das plantas nasce a planta

Jâ das flores nasce a flor ;

VMo^se os campos animando

Por hum doce , e meigo amor.

Já d'entr{f os verdes raminhos

Ouço o Implumado cantor ;

Que entoa nos seus gorgeos

Alegres hymnos de amor,

Boya sobre as ondas manjas

O escamoso nadador ,

E festeja leves pulos

Doces eficitos de amor.

I



Vejo o reb^n^o conte ata

Saltar em torno ao Pastor

E nos seus meigos balido s

Estão explicando amor.

A^ sombra deste alto freixo ,

Que nos escuda ao ealor

Elfina , formosa Eltina,

Vamos nós tratar de amor.

Vou consultar minha sorte

Nesta breve, c linda flor;

Bem me queres , mal me queres^

Ah! que náo me tens. amor,

Fssa^que trazes no peito

Talvez se explique melhor;

Era hum niilindre , imirchou-se,

/ih! qu^ dura pcuep amor.



<^K 15 )^^

Vou colher outras de acaso}

Baie o peito com tenor;

Trago martyrlos, saudades,

Tanto me destina amor.

Tenho nas flores má sorte í

Terei nas plantas melhor;

Colho a planta sensitiva

Tal eu sou por teu amor.

Elfiiia formosa Elfinâ^

Que tens que mudas de côr!

Ou feliz, ou desgraçado.

Eu te juro eterno amor.



K)l

Quando os Mortães quer renaef.

CANTIGAS.

iVX Inha Lilia , té o mundo

A teus pés todo tremer;

Porque anior de ti se vale,

Quando os Mortacs quer renden

NoS teus olhos, lindos olhos

Fos amcr todo o poder

São as armas de que ellc usa

Quando' &c.



mmmm

«K IS )^^

Amor esconde os teus olhos j

Se nos quer entristecer,

E faz que elles appsreção ,

Quanda, &c.

Deixa Amor o arco e settas

Fste pezomais não quer;

Os teus ©lhos só lhe bastão

Quando a &G»:

Sinto já de froxo susto

O meu coração bater

Movimento , que amor causa ;

Quando, &c;

A' luz viva de teus olhos

Chama de amor sinto arder.

Vivo fogo, que dle accende

Quando,&c#

Sí



Prothessas de Amor não creio

Faril sempre em prometter \

Efacoita mií venturas

Quando, &Ge"

Ninguém 'Amor acredita j

Dcu-$e muito a ccnliccer }

Já sê sabe ccmo engana

Quando, &c;

Nera 1V\? a Amcr teus olhòs^

V verh a Amcrtremer:

Dos mcnscs escarnecido

Quando, &c.

A ra7?ò tctn fe*to a muitos

Contra Afror endurecer;

M^s elle usa do teu prsrto

Quando os moriaes quer rendei*^



•^K 17 K*

^Wítfr sabido "Vai gualdido*

Aiitela, Olhos, cautela^,

Calai vossa inclinação;

Para que os mais não percebão

O que tem meu Coração

Cuidado, Olhos, cuidado,;

Porque o Amor percebido

Começa a ser maltratado.

Vol t n. 3.

^^l



I(

Há gente que nos vigia,

íôr ver onde as vistas vão j

E por vós he que adevinhâo

Òque, &c.

Cuidado, &c«

Apenas se -conhecer ^'

Que tenho alguma paixão

Começa a ralhar a Inveja

Do que , &c.Cuidado , &c«

Não pôznunca a Natureza

Ao sentir prohibiçâo

Porém o Mundo prohibc

O que ,&c, ^ . , , «^ ' Cuidado, &c.

Se he minha a minha Vontade i

Pcsso sujeitalla, ou nâo^i

A' mais gente que lhe importa

o í"'-«"-OUdad.. &c

ài^,



Tnda a mesma que adorais,'

Por natural presumpçáo

Hade enfadar-se cm sabendo

O que, &Cc

Cuidado , &c»

RAIVAS GOSTOSAS.

E U gosto muito de Armania;Que he mui dengue , he mui mimosa fQue meiga a todos agrada,

E até me agrada raivosa.

Vou enraivecer Armania,

Que tem raiva graciosa;

As mais vencem por ser meigas^

Ellá vence até raivosa-



K Gostd das suas raívinhas^

Que avivâo a côr de Rosa j

Eu gosto de a ver corada.

Por isso á quero raivosa.

Eu com quatro palavrinhas

t^e idéa artificiosa.

Vou tiralla do seu serio ,

Eu quero têlla faivosa.í

O seu terno Coração

Vigia 'tóui caprichosa ;

E , jnda que elle queira amar ,

EUa não quer de raivosa.

Tremei, amores, tremei.

Tremei, turba presumpçosa;

Jurou a vossa ruina

Armania, que está raivosa.



«í-( 21 )i^

Qiier sofFrer i sua custa

A vãlvi assini virtuosa ;

Náo hade amar, porém hade

Ser amada, assim raivosa»

Estribilho»

O Ceo taes graças lhe deo

Qu^ ainda raivosa lie bellaj

E se náo que o diga eu ,

Que gosto das raivas delia.

AO MEU PENSAMENTO.

B Asta ) Pensamento , basta,

DeÍKa-me em fim descançarjHum bem, que ser meu nao pode ^

He hum tormento lembrar.

;



^(^^y^

EsTRlBl,LHOo

Basta , sim , basta.

Meu Pensamento

fTu és agora

O meu tormento»

Que importa a minha ternura

Minha fé , minha lealdade j

Tendo a terrível mistura

Da minha iufelicidade.

Basta, &c.

\\Idéas vans, náo me finjas

Do valor de huma fé pura ;

Que ei-a m-jlhor que eu tivesse

Menos smor , mais Ventura*''^^-

Basta, &c.

h"\^



i

Pr«var da Sorte a mudança:'

Meu Pensamento bem quiz ;

Mas a que muda nos outros

Sempre me quer infeliz.,

Basta, &c«.

Amor hegosto , e vontade s,

Sempre se define assim \

Fez-me a Desgraça gostar

De quem nâo gosta de m.im^

Basta, &c.

Basta , Pensamento ousado ,

Vè que ninguém te desculpa \

E vê que de hum desgraçada

Inda hum pensamento he culpa,

Basta 3 &Ce



^H 14 )^*

Cada vez querer-te eu tnaif.

IMPROVISO.

\

\y

U gostas de meus suspiros^

E de ouvir meus tristes ais\

Crostas de ver^me , morrendo.

Cada vez querer-te eu mais.

Se em qieus t)lhos reparares ,

Has de ver de Amor sinais

E verás , quando mais vires

Cada , &c.

Entrei no Templo de Anior

Com poucos a mim iguais

E foi todo o juramento



Tu ji deste a meus desejosf

Cruentos rolpcs farais ;

F a esperanja me fazia

Cada , &c.

Loucamente me fugias

Para perjuros rivais ;

Vinhas delles, e me vias

Cada , &c.

No meio dos meus enfados^

Dos meu3 ciúmes fatais

Me viste , abrazado em zelos

Cada , &c.

Quando tu p6es nosf meus olhos

Os teus olhos divinais

Fa7es com doce renovo

Cada 9 &c.

I ^1



Protesto não mais querer-te,

Quero disto dar signais;

E o meu coração me manda

Cada, &c.

Se depois de yir a Morte

Podem amar os Mortais

Nos Elisios será visto

Cada , &Cc



íbi

«K ^7 y^^

^O^^^-^-^^^^^S^g^i^^rssHB^

Puros imotos eu jureh

'\

IMPROVISO»

J\ Lmena,gentil Aímena

,

A quem a minha alma dei;

É por quem , de Amor nas Aras ;

Puros Votos eu jurei.

Por teu Nome , doce Nome ,

Sempre alegre eu chamarei;

Por elle mesmo jurando,Puros 3 &c.

J l.

I

I



f^(a8)^»^

Já de Amor tinha fugido i

Por ti a qIIq tornei;

E supplicando piedade

Ç.oguei-lbe novas cadlas^

E os novos ferros beijei;

Vós , e vista » e mãos alçândo

PijrQs, &c.

Amor não cjueria oifvir me ,

Lembrado de. que ò deixei j

E lembrado de c^uq nunqa

Puros 5 &c.

Talvez guçria punir-me

De alguns Votos ,que eu quebrei,

Fraf3 falsos, m^s agoraPuros, &c.



«K 29 )^*

Logo ao ralar deste dia

O terno Apolo invoquei;

E á Juz de seus mesmos ra'os

Puros, &c.

Que por ti a Amor serviaj

A Amor mesmo protestei

S.ndo-me o teo testemunha

Puros, &c*

Com vozes, que saliem da almaj

Pedaços da alma arranquei;

E 2ssim , desfeito de amores^

Pui os, &c.

Por ti, se for necessário^

A vida mesma eu darei;

Que de ser teu toda a. vida

Puros í &c.



Vive 5 e ^etn que sejas de outro^

Sou teu , poí- ti morrerei

Jurei-o 5 fiz os líieus votos;

Puros , &c.

Fher só para te amar*

C A NT I GA S.

V:Enlia a Morte muito embora

Meus frouxos^^ di^ cortar

Que ilida assini há de a minlia almaViver só para te amar-



mà

A vida vale de pouco;

Eu pouco a sube estimar-;

Ouero viver por que quero-,

Viver 5 &c.

Poderão teus lindos olhosMeti gosto antigo trocar

Gosto viver5porque gosto

Viver, &c.

Já suplico á cruel Morte

Queira meus dias pouparOue por mais tempo me deixe

Viver, &c.

Tu podes , se tu quizeres 5,-

Os meus dias dilatar:

Ah meu Bem ! faze que eu possa

Viver , &c.

"fi

-li (í

1



^^( 32 ^^

,Se eu morro , e por ti só itiòrrd

Tu me podes animar:

Anima-mfii que eu promettó

Viver, &c.



VIOLA DE LERENO,

f"oÍ. i. Mm. 4

ii

I«da sou teu^

Po

C A N T I GAS.

XJ Esde os nossos JuramentosVe-» meu bem, que succedeu^Tu prometteste, e faltaste.

Eu jurei, e li-ida sou teu.

f



n^smaste o Ceo testemunlia ,

E foi testemunha o Ceo;

Eiie vê ,que já és de òutrO,

Eile vê què inda sou teu.

'"IPiideste quebrar OS laços

Com que o Amor nos prendeu j

Da tua parte estás solta.

Mas da minha, inda sou teu.

Emfim a chamma apagaste

Que hum vivo AmOr accendeuj

Vejo que tu te esfriaste

Vê que eu ardo, e inda seu teu.

Amor ouvio nossos votos,

3SÍOSSOS votos recebeu;Tu os quebras não és minha

;

Eu os cumpro inda sou teu»



A teu voto, e a mcU voto

Benigno Amor attendcu;

O teu foi ser minha, e faltas,'

Eu náo ftlto, ifída sou teu.

O teu Coração mudou-se;Mas não se mudou o meu;Entra dentro, anda, vem vellò^Vê, cruel, que ainda sou teu.

/.•

Mal spou teu juramento,

Mesmo no ar se perdeu yO meu inda se conserva.

Tu bem vês que inda sou teu.

Pudeste, ingrata , deixar-me,

Deixar-te não posso cu

Tu mudaste , e foste de outro.

Eu não mudo p inda sou teu.



4K 4 )4*

Tu foste minha por fofca^

Fii so\i teu por gosto meu;

Falta a força , o gosto dura ,

Tu ès de outro, e inda sou tcúè

I

^) M

Era teu gosto matar me i

Mas Amor me defendeu

E mesmo contra ò teu gost©

Inda vivo , inda sou teu.

Sempre unidos nossos votoi

Subirão da Terra ao Ceo i

O teu decipou-o o Vento,

O meu não, inda sou leu.

Tl©ubáste»mc o Coração^

Que trocaras pelo meu

Não fica assim bem a troca

iiío és minha^ e inda sou teu.



Teu me fizerão teus olhos

Com hum brsindo mover seu %

Ah ! torna a olhar-me benigna

Vê» meu bem 3que inda sou teu»

DoenCâ , e melhora de MARÍLIA

CANTIGAS.

Jl Astôres, que he isto|

Amor assustado ,

E as Graças ao lado

Com susto tombem :

Qiie mal tem as Graças^

Amor qu© mal tem ?

' ii(



Do Deos dos Amantei

/V meiga familia

Em toríio a Mariiia

J^çus olhos iá vem.

Que he isto; que hç isto?

Não sabe ninguém?

Doença atrevida,

Que esconde o seu passo,

Ergue o duro braço

pií Geos I contra quem ?

Os olhos o TÍráOj

E ainda o nao crem.

Turbou da Saúde

A usada carreira;

E em varia maneira

Seu passo detém.

Amor , já sei dondeXeu susto provéni»

1

1



*K 7 )^*

Apressa , ó Virtude ,

Ao Ceo dirigida

Suplica esta vida

Mais Vida de alguém

O bem que troxeres

Será nisso bem.

Embora huma vez

Pareça ferina

A sã Medicina ^

Que as Parcas sustem

Fois contra os seus ferros

Temferros também.

A veia se rasga

O sangue já corre ^

Marília não morre

Oh Ceos! inda bem:

Jádar-nos podemos

Geral parabém.



*K « )i»

i

Batteu as Azas , voou.

I

II

C A N T I Ç A S.

D Os OJhos de Ulma bella'

O Dcos de Amor me espreitou;

A hum volv^er de olhos ferio-mc,

Batteu as azas , voqu.

Tinha medo 4a Razão

Qiie sempre me acompanhou;

Ferio-me, mas foi a medo,Batteu, &c.



mÊÊ

*K 9 M^

Já tinha tentado o golpe,

E nunca o golpe acertou ^

Agora feito o seu tiro,

Battcu, ôcc.

Nas leves azas libradoDe longe me vigiou

Pepois de haver-me rendido,

Ba tteu, &c.

A prendcr-me os pés , e os pulsos

Com os seus ferros tornou;Depois de cingir-me os ferros

Batteu . &c.

H

Rio-se de ver-me captivo

Dos seus estragos gostou ;

Ecantando

o seu triunfo,Batteu, &c.

A{ \

^U*J

r



N^o contente índâ com isto,

Escarneceo , e zombou ;

Entre os meus tristes suspiros

Batíeu, &c«

Lisonjeiras esperanças

Nas lindas mãos me mostrou;

Quando eu hia a segur^iilas

Batteu 5 &c.

Rio-se Amor do meu Engano

E dos meus ais motejou ,

Das minhas magoas zombando

Batteu, &c.

Que sempre me maltratasse

Muito a Uiina encomendou ^

Decretando QS weus loraientQS

Bateu j &;c.



A razão que me guiava

Contra elle em váo clamou

Porque Amor seai attendella

BâUeu, &c.

Inda assim a meus gemidosHum pouco Amor se inclinou j

E temendo condoer-se

Batteu as azas voou :^

V .

h



«K n Kí

E que culpa tenha eu. 'i

mmm

C A N T I G A S^

Oração 5 pois m quízesyte

Amar por empenho teu;

Que morras, que vivas triste,

E que culpa tenho eu ?

A' tua saudade

Nao achas desculpa,

Qae se tu a sofres

Tu só tens a culpa.

^^^:



*K 13 )^*

Coração não te lembraste

bo que já te succcdea?

Tornaste outra vez a amar,

E que , &c.

Esqueceo-te a antiga dianama^i

Óue baldadamente ardeu ;

Tornas a chegar-te ao fogo

E que &c.

Das dores, das saudades'

Na© tinhas exemplo , e teu ?

Quizeste outra Yci sofrellas,

È que,&c.

Tu não sabias que Ames

Boa vida nunca deu?

inda teimas em ser/íiío >

E que, &e.



1!^'

Sarcite com a razão.

Quando Amor te enlouqueceoj

Tornas á nova loucura,

E que culpa rènho eu?

HUM TERNO AMADOR.

CANTIGAS.

bé Scuta j Cupido

Meus ais fPagoados

Que vão desgraçados

Pedir-te favor»

Tem dó dè hum afflicto

Que triste assim morre j

Escuta 5 soccorre

Hum terno amador*



^a ly x^

Vé como revoão

Meus ternos suspiros.

Que a longos retiros

Çs faço transpor»

Nas pálidas faces

O pranto Já corre;

Fseuta 5 soccorre

Hum temo amador.

Amor , vem salvar-me

Das mãos da Ventura;

Que a íninlia ternura

Tem ódio , e rancor.

Ouve. iium desgraçado J

Que a ti só recorre;

Escuta , soccorre

ííum terfio amador.

Ik

ii



-^'^im

Lereno nâo vive

Se tu náo lhe acodes:

Ah ! salva, que podes

A afflicto Pastor*

Mortal frio gèlò ^

Nas veias discorre;

Escuta, soccorre

Hum terno amádore

é§ fS#

CRIME GOSTOSO^

€f Á N T I G A S.

C/Uem quizer saber se eu aiíio^

Kepare em meus olhos bemjQue elies náo sabem calar

A paixão que o peito tem»



inda bem ó meu cuidado;

Dizem que o amor he crimei

Eu gosíd de ser culpadOé

.

Jurei não arriar ; é tix amo ^

Foi baldada a minlia empre7a|

Mas quem pode resistir

Aos encantos da bèlleza?

íiicia, Séà

,Jurei nâo amar , e eu amo ^^

Confesso a minha fraqueza;

Mas nâò he meu todo o crime-'

He também dá Natureza,

írida , 5lc^

.Talvez sem razão me culpa

Quemô meu amor c-rimiíiá

Pode ser que elle me inveje,

Quando vir ^ue eu amo Elfinac

. ' Inda , & c;



wo que se gabar de livre;

Kâo zombe do estado meu ,

(Jiie se vir a minha Èlfina

Será cativo como eu.

inda, &à

Se hqlum crime o ser âmaiítéi

Bem criminoso sou eu ;^

Mas he tio gostoso o crime

Que. eu gosto bèm de ser reò.^^ ^

^Inda, &é-

Não cuides formosa Elfitíà;

Que Eu ímpias lições te dicte ^

Hum puro amor he virtijde^

Se cfime amar de appetite.

Ihda,&d^

Queni não souber o quesâo

Amor , saudades , e zelos ,

Veja Elfina , e tudo fazem

Os, seus liados olhos bellos.

Inàzf&cè



De adorar seus lindos cUiosj

Alguém ít^e chega a culpar

Mas que vfenha hum dia vêllos^^

E depois deixe de amar.

líidâ, &c:

Gosto de amar , vou amando

Que importa murmure a gente^

Se a gente que assim murmura ^

Talvez fião seja inilõceíitê !

inda 3 &d

Bem sei que nâò paga Élfína

Esta paixão que me estraga;

Mas hum amor que he só gosto;

Nem quer , nem precisa paga.

Inda , kct

Não se cança a Natureza

Em criar cousas em vão^E senão for para amar.

De quê Serve o coração.



^{ ao )i^

juramento de hum , é éutre^

C A N T I G A Sc

O È huma doce slmpathiá

A amar nos vem obrigar 3

Sigamos a Natureza

Para fé vamos jurar-

Vão nossos votos

Já sotee o ^ento

E amor recebe

Mêu juramento

Teu juramento^



Demos ao mundo hum exemplo

De constância singular

Veja que ha gente que pôde

Amar sem mais fim que amar/

Vão 5 fe.

Se a moda hevariedade

Vamos da moda zombar :

E amor, que a inconstância offende ;

Deve a constância vingar.

Vao, &c.

A mania dos ciúmes 9

|Tós devemos detestar

Na presença , na distancia5,

Iviutua fá vamos jurar.

Váo ^ &c.



TROPA DE mOR ,

J4<^4^ ^^ bit''»'' Solfa dt Playir.

CANTIGAS.

A:Lerta Pastores

De amor inimjgos,

Q! os justos castigos

Já vejo chega fi

Amor escoltado

De mil Cupidinhos

Nos campos visinhos

Já sinto marchar.

Os fogos terrível?

Já perto chamejâo5,

Já perto lampejão

Os ferros mortass»



K ^3 M»

Rebeldes Pastores,

Pagai-lhe o tributo

Apressa, que escuto

Do ataque os sinaes.

De enganos volante^

A tropaferina

Primeiro a campina

Vem atalaiar.

Amor os armara

De ardentes desejos ;

Com que malfazejos

Vemtudo assolar.

Fingida esperança^

01 amor tem a soldoj

Erguendo áureo toldo

Vos vem ^enganar.

Alli quer brindar-vos

Com paz afFectada

E tem de emboscada

Pe enganos milhar*



Raivoso ciúme

Lhe c©bre a direita,

Tem leve suspeita

No esquerdo lugar.

Dispostos nos flancos

Vem duros cuidados

Frenezins soldados

l/Iáqs de accommodar.

Debalde á razSp

Valer-vos deseja,

Que sempre fraqueja

Nas guerras de Amor.Será meu conselho

Render-se a partido,

Que opp6r-se a Cupido

Foi sempre o peior.

Dos tristes gemidos ,-

Que o ar vão rompendo;Estou percebendo

Que Amor já venceo^



E vós presumidosDe livres , de bravos $

Já sois hoje escravos

Cativos como eu.

Amor que castiga

Rebeldes vontades

Mandou que em saudadesLereno imiteis.

Gomo elle vos cobe

Ah tristes coitadosj^

Não ser nunca amados

Por muito que ameis.

is-



«K 26 )^*

Ammr um interess^p

^

C A NT I GA S.

Formosa IWina he d^outro^

E minha não pôde sef;

Assim mesmo a hei de amar.

Seja em fim de quem quizcr.

Estribilho,

Hei de amar sem interesse

Basta só ver que o msrece 1

Merece a merece.



Se eu a amar só sendo minha ;

Pouco faço amando assim

Que este amor , que então lhe mostro,

He mais por amor de mim.

Hei de , &c.

O tormento he todo meu

E eu trato de o mitigar

Bem que nâo pôde ser minha ^

Mc§mo assim a quero amar.

Hei de, &c.

Huma belleza divlqa ;

Não julgo critne adorar

Se he crime he d^ Natureza

Eeu ai^ão posso emendar.

Hei de, Scc.

Sendo do meu Amor ^rxm ,

Tãofirme a base em que o fundo ;

Mandâ-me a Lei da razão

Que eu o esconda a todo o mundo*

Hei de , oCz.



INao mostro a minha paixão,'

Qiie do mundo tenho medo,

D mundo ralha de tudo

QuerQ guardar-lhe segredo.

Hei de, 5çCt

Jiifou Ulina ser d'QutmE d'outro Ulina ha de ser.

Se for perjura perdeo-se

Se Q não for, que hei de eu fazer

Hei de , &c.

Nao quero que o mundo entend^

Minha mal paga paixão,

Só porque elle não me accuse

O gosto de amar em váo.

Hei de , &c«

Nao quero que Ulina saiba,

Que me fere,e me maltrata ;

Só por poupar -lhe o desgosto,

pe que deve ser-me ingrata.

Hei de í 5cc:



o meu amor sempre puro;

Kem aspira, nem se atreve

A obrigar a quem adoro >

À fazer o que não deve.

Hei de, &C

Temo as Leisescrupulosas

i

Que o vaidoso mundo tem ;

E não quero fazer mal

A quem he todo o meu bem;'

Hei de, Scci

Náò hei de quelxar-me nunca %

D'adorada formosura,

taco a ella os meus louvores;

As queixas faço á ventura.^

Hei de ; &d4

Talvez que eu dê em amores

Huma provasingular

;

Que' lie successo nunca visto.

Amar sem mais fim,que amar;

Hei de, &ci

H

rStíiris^^^í^jjpi-r'



é( 30 )#

^d mal posso respirara'« '—

CANTIGAS.

VEra Ulina s'inda queres,

Õs meus dias dilatar j

Cfeè abafado de saudades

Jâ mal possò resjpirar.

De chamar em. vão teu Nome ,Minha vòs srnto cançar

Nem cháftiáfite mais eu poiso.



«>( 31 )^*

Sinto a luz destes meus ólhoã

iPouco a pouco ir-se apagar

O coração desfalece,

Já,&c.

Mil idéâs pavorosas,

Minha mente vem turbar i

Entre sustos, e receios^

Já, &c.

Vem as liorrldas suspeitas j

JMeu tormento accrescentar

Pungem , fereni, e eu afflictò j

Já, «Éc.

Pezá tanto na minh*almá ^

O meu contínuo pezar,

Que se não me desafogas ;

Já, ícc.



>(

Cuidados sobre cuidados j

Sinto em mim amontoar.

Já não tenho aonde caibão^

Já mal posso resj^iran

I



VIOLA DE LERENO.

Voli. \Num^ \

Cumprimento do votoè

o CANTIGAS.Voto que cu fiz a Amor;Não he hum Voto indiscreto

Hei de camprlr o meu Voío^-

Eu não falto ao que promeíto.

Quando cu prometto ternuras |Èu ternuras não aíFecto^

Prometi amar, eu amo.Eu , &c.

" (\



íi

1 : ^tmis'i:rm-':mm^»^>-^^

Prometi êenão mudasses

Nâo mudar de amor , e objecto

Tu mudaste, eu mudei-níe,

Eu 3 &c.

'

Teme embora d ser julgada ^

Por Amor, que he Juiz recto,

File castiga quem falta j

Eu, &c.

Talvez líié deixas por outro

Mais gentil , e mais discreto ^

Eu igual causa rião aclio

Eu, &c.

Do juramento o sentido

A saber não interpetro

Prometi ser firme , e basta ;

Ei^ não falto ao que prometto*



«K 3 n^

Diga ó Mundo o que quizen

CANTIGAS.Fv Esistir a huns olhos lindos J

Em que amor pôz seu poder 5

Eu não posso, ou eu nao quero

Í)iga o Mundo o que quizeí»

Pagar amor com amOr,

He hum natural dever 5

Quero pagar quem me ama^

Diga ,&c»

Em quanto amar me quizereij

Também te quero querer 5

Dure entre nós a constância i

Diga^ &Cfl

H



1* í

«^( 4 )H*

O Mundo ralha de tudo,

Ora quer , ora não qtier ;

Mâs eu Vou sempre querendo ^

Diga, &c.

Amar sem que ralhe o mundo ^'

Meniila , nao pôde ser ;

Mas isso o que importa , amemos

Diga, &c.

Pobre do mundo , sé acaso

O terno amor se perder;

Por amor he que ellc existe f

Diga, &c.

Râlháo de vós os que amarás;

E chamão crime ao querer

He crime de que gostarão.

Diga , &c.

,_iiiL_Ír-^'^'



*K ? )^^

Andar em bocas do niundo^

Só tu 11)e podes fazer 5

Eu porém não me arrependo,

Diga 3 &c.

Teus olhos a amar me enslaão^

Os rncus gostao de aprender^

A lição continuemos,

Diga , &c.

Esta doGe Lei de Amor '

Recebi logo ao nascer;

Vou cumprindoa Lei, que hc doccjDiga , &c.

1 1-,



*K ^ )i^

I:;í

8#

Coração mo gostes delia,

Que ella não gosta de tL

Ç A NTI G4S«

Oração ,que tens ^qrn í-iHa "i

Desde que seus olhos vi,

Pulas , e bates no peito

3;ape tape , tipe ti:

Coração não gostes delia^

C^ie ella não gosta de ti.

í /



Qiiando anda, quandofalia

Quando chora ,quando ri i

Coração , tu nao socegas ,

Tape tape 3 tipe ti:

\ Coração j&c.

Já te disse, que' era d^outro ;

Coração , nâo te menti

Mas tu, coitado! te assustas,

Tape tape, tipe ti:

Coração, &Co

Aquelle modo risonho

Náo he , nem foi parati

v

Basta , louco , e nlo estejas

Tape tape, tipe ti-^

Coração, &c;

Hum dia que me aíFagara;

Zombava , eu bem percebi

Era por gostar de ver-te

Tape tape , tipe ti.

Coração j &c»



Coração, tu não me enganes,'Todo o teu mal vem daJIi

Tu palpitando te explicas.

Tape tape , tipe ti

Coração, &c.

He amável , mas não ama

Eu já mesmo to adverti;

E tu mui nesçio teimando

Tape tape, t}ps ti:

Coração, Scc%

Se tu leres nos seus olhos

O que eu com meus olhos ii;

Talvez te não cances tanto

Tspe tape, tipe ti:

Coração* $co



*K 9 )i*

O meu livre coração^

CANTIGAS,

J A' de todo abandonei

De amor a cruel paixão

Tenho em socego no peito

O meu livre coração

Mostro a todos em pedaços

O antigo , c duro grilhão

Tenho cm doce liberdade

O meu , &c.

Amor nao torna a pr^nder-meiQue me defínde a razão

A razão he quem amparaO meu , &c.



Oujo os gemidos dos outros

Vejo d'outros a afflicçáo ;

Tenlio dó , mas tenho livre

Q meu, &ç.

Gosto 4a bslla,que he bella

;

Quer sz]z ingrata, quer nao^Das ingratas ri, e zomba

O meu , &c.

Escapei das mios de Amor,

Dos seus golpes estou sâo j

Vivo livre , e em f%i- res^a

Q raeui &CU

i



«K II )•?»

A Illuttre Amira,

m

CANTIGAS.

N,A fresca Bellas

Ao som da lyraj

A Illustre AmiraQiiero eu cantar

Amira, Amira, Amira

Ouja o Cep , a Terra , e o Mar*

Com ella as graçis

Sempre passeião \

Sempre a rodeião

§e a vêm parar

Amira, &c*

1

(&



K 12 )4»

Vão ás virtudes

Dados os braços

Guiando os paços

5Íue ella ha de dar :

Viçosos camposDe que he Senhora

;

Lhe mandou Flora

Alcatifar :

Lindas boninas

Pfantas viçosas;

Ficâo vaidosas

De ella as pi?ar i

/V mole relva

Que isto entapiza;O pé que a piza

Gosta beijar:

Amira , &c.

Amira, &c.

Amira. &c<

Amira * &c*



Vejo dobrar-se

Troncos hirsutos;

Porque ella os frutos

Lhe vá tomar:

Freixos erguidos

A*coma estendem

Tanto a defendem

De ao Sol crestar <

As Aves itiesmo

Tal gosto inspira ,

Que o neme Amira

Lhe ouço cantar :

Todos em honra

Da Natureza

Sua belleza

Devem honrar %

Amira , &cj

Âmlra ) &C^

Amira , &c«

Amlra y Sitíi

ff I'

f

(^y

a.



^

\\

#( ^)4t

^A Armania.

CANTIGAS.

JL/ Izei humanos

Se a Natureza , *

Melhor belleza

Pôde formar?Armania linda j

Vinde louvar.

Notai a graça

Dos seus cabellos,

E os olhos beilos

Vêd^ raiar:.

^\'> A Armania 3 ecc.



*K if )-í»

A côr das faces

tíe a da Aurora,

Que hum dia cora

Dá luz ao ar *

Armanla, &c«

Das graças cofre

A boca linda

Onde Amor inda

Se vai fartar

Armânia, &c;

Orfeo esqueça

Que com o seu canto.

As pedras tanto

Fez abalar

Armania, &c.

Sahe de huma boca

Tãoperegrina

,

Voz mais Divina ,

Voz singular :

Armanja; &c.



Ií

I

*( lá )4*

Maravilhoso

fí« seu effcito^

Penetra o peito

Sem o rasgar

Torna contente

Quem está triste ,

Nâo lhe resiste

Nenhum pezar:

Os seus felizes

Preciosos dias

Mil alegrias

Tem de nos dar:

Pois he à nossa

Felicidade,A sua idade

Vamos cantar;

Armania, &c«

Armânia , &c.

Armania , &c-

Armaííia , &g.



«K 17 k^

Ltreno melaneolieo»

CANTIGAS;Astoras não tne chameis

Para vossa companhia,

Que onde eu vou comigo Jevo

A mortal melancolia.

Goube»me por triste sorte

Eclipsada estreila impia.

Que em meus dias sempre influ©


Logo ao dia de eu nascer

Nesse mesmo infausto diaVeio bafejar-me o berço


Vol L N. 5.

-is^i

1

íS'1



«V( 18 )"?

Por cima da infeliz choça

Gralha agoreira se ouvia,

Que a meus dias agourara ,


1.;' /

No meu innocente rosto

Quem o notava bem via

Q;^ em triste côr se marcava

A mortal melancoliaé

Que fiz eu á Natureza

A fortuna eu que faria

Para inspirar-me tão cedo

A mortal melancolia!

1De alegria

ouço eu fallar

Não sei o que he alegria 2

Nunca me deixou sabello




*K 19 )•?*

Se hiim anno tfkte se acaba

Triste o outro principia

Marca as horas, dias , mezcj


Sou forçado a aíégré canto;Faço esforços de alegria ,

E occulto no fundo d'a]mâi


Enchugo ó pranto nos olhos;

Obrigo a que a boca ria,

Para disfarçar comvosco

A mortal melancolia*

Kão quero com meus pe7are^Funestar acompanhiaj

Que he huma pesre que lavra




tK 20 )#

Se os seus bens me mostra a sorte

Mostramos! por zombaria

Porque para mim só guarda

A moÀai melaíicolia.

ém

Sonhei que huma Augusta mão

Venturoso me fazia;

Foi sonho, e fica em verdade


Fui abranger as venturas

Que ó sonho me ofFereciaj

E despertei abraçando


Se humprazer se me dirige

Occulta força o desvia ;

Só de mim se nao separa

A mortal melanGoliâe



EIÍ3 me vai consumindo

De hora a hora , dia a diâ J

Sinto-me ir desfalecendo

Da mortai melancolia.

O sangue vai-se gelando;

O coração se me esfria^

Fica em paz Arménia , eu morro

Da mortal melancoliae

Inda quando o frio corpo

Se envolver na terra fria;

Ha de corroer meus ossos

A mortal melancolia»

Se acaso dura a tristeza

Dos Numes na compan ia;

Alli mesmo hei de ter na alma


m



Sabre a minha sq>uítufa

Que escrevessem queria

Hum lEpiraSo em triunfo


m^

Lerenp alegrou os outros,

E nunca teve alegria ;

Viveo, e morreô nos braços

Da mortal melancoli?..



<%•( a 9 H*

Não se resiste a Amor.

CANTIGAS.,

E Mprehendeo Amor ^eíicôr^ine

O meu livre coração^

E eu que tanto resistia

Resistir não pude não»

Estribilho.

Quem terá forças

Terá valor

Com que resistao

Ao Deos de Amor.

Não se resiste,

Ali' nãoj naos ntoí



i\)

i

Resistir ao Deos Cupido

He huma vã presumpçâo ^]

Eu mesmo que o presumia

Resistir nao pude nãp:

Quem , &c.

Chamo a razão em soccorro

Desampararme a razãoj

Da razão desamparado

Resistir não pude não :

Quem 5 &c;

Mais não me venceo Cupido

Co' as settas qus traz na mao;Mostrou-me huns olhos mui meigos

Resistir não puie não :

Quem , &c.

Vejo o Heroe que larga a Clava 9

E tom^a o fuzo na mão ;

A quem Hercules se dera

Resistir não pude não :

Quem , &q»



«K ^S )

Vi Amor ferir a Jo\^eVi tremer delle Platão ;

Ào vencedor de altos Numes

Resistir não pude não.

Quem , &c.

Lisongeiras esperanças

Mostra amor na esquerda mâoCom seus prémios seduzida

Resistir não pude nao :

Quemj^&c.

Clamor de Lereno,

j\ Serra de Cintra

Lereno trepava

E a sua Corila

Vãmente chamava t

Corila, Corila

Vãmente chamava^



Descia dos montes,

Or Valles buscava;

E os gritos saudosos;

E os ais redobrava :

Gorila, &c.

A voz de Lerena

Cos ecos tornava;

Em vão que a Pastora

O não escutava

Corilâj Ikc,

O Zefyro brando

Q!alli

suçurrava;No mesmo suçurro

Lereno assustava :

Gorila > &c.

A fonte vizinha

Ql então murmurava

A voz de Gorila

5e lhe assemelhava:

Gorila ; &c.



<V( 17 )4>

O triste Serrano

EíTi vao se cançava;

Perdia o seu tempo

Seus gritos baldava :

CoriUí &c.

Qui? ver se a fortuna

S^ lhe apiedava;

E a Deosa traveça

Mais delle zombava i

Gorila 3 fece

Tornava a subirA descer tornava i

Se infeliz subia ,

Eu infeliz baixava :



<K 28 )4^

AHerta qtie Amor faz guerra»f

CANTIGAS.

li

Lerta liares Pastores

Q! o Deos de Amor vos Taz guerra;

E vos chama a desafio

Nos Campos de Salvaterra :

Nos lindos CamposDe Salvaterra

Anda Cupido

Fazendo guerra»

Já solta o Pendão aos arss

O traveço, o cego Nume,

E traz por cruéis divisas

A Saudade ^ e o ciúme:

iNos lindos , &c*



íl

Marclião dianre as suspeitas^

Oiie são a guarda avançada ;

Qije explorao toda o caitiinhd

Sem darem quartel a nada

Nos lindos , Scc^i

Vâ©os havidos desejos

Os Rufos amiudando;

Seguem a marcha os amores

Sempre as scttas apontando

Nos lindos, &c,

A quanto os Campos passeiâo

Deixão de morte feridos

Sexo,qualidade , estado ,

Nâo attendem os Cupidos :

Nos lindos , &c;

Vem Armania , a linda Armanía

(X arrasta troféos de gloria ;

Prostao se a seus olhos todosj

He delia toda a vicroria

Nos lindos 3 &c^

fl



I

11:

*!( 30 )^*

P A R T I D A

Tradiícção , e Ghsa da FcOrttnza ãe

METASTAZIO.

CANTIGAS.

PArto 6 Nize, e este adeos

Não sei S€ ultimo será;

Ah ! quem sabe Se Lereno

Inda a ver-te tornará.



«K 31 M*

Níze , ó Nize, adeos, adeos^

Teu Lcreno parte já ;

Quem lhe diz por piedade

S'inda a ver-te toriíaráo

O meu coraçSo presagô

Nao sei que annúncio me dá 5

Vai Lereno, mas *quem sabe

S'inda a ver-te tornará.

Frio siustõ prende o sangue

Sem que o triste peito vá j

Teu Lereno desconfia

S'inda a ver-te tornará*

Ah ! quem sabe se o ciúme

Os meus dias turbará ;

E se em braços de outro amante

Inda a ver-te tornará.



Ah! quem sabe linda Nize

Se â saudade ò acabaráj

Ou se a ella resistindo

Inda a veMô tornará.

I

•V



VIOLA DE LERENO.

hl I. Num..4

Sêbre as Azas dos Amores^

G L O S A,

Cantigas dè improviso*1

X^Ois quereis^ amigos Vatesj

Escutar os meus clamores j

Reparai , como elles gyrâo

S^bre as azas dos Amores^^



«^( t )4*

Aproveito o privilegio

Dos Pindaricos Cantores;

Já começo a erguer-me ás nuvens

Sobre 3 &c.

Como a venenosa Serpe

Se esconde entre as lindas flores ^^

Vôa o engano escondido

Sobre , &c.

II Pôe Lesbina os lindos olhos

Nos dos meus competidores,

E as desfeitas vem pungir-me

Sobre, &c.

Reparai na linda face

Como aviva , ou perde as cores^

Quando os remorsos a buscâo

Sobre, &c.



5W

«K 3 )4*

Deixo em fim na baixa terra

Os receios , e os temores;

Vou soltar irerdades ternas

Sobre , &c.

Lereno 5 que efa o mais lirteJ

E o mais terno dos Pastores^

Vio fugir a liberdade

Sobre , &c«

Lesbina ^ a gentil Lesbínt J

Dos olhos encantadores 9

Fez voar vivos desejos

Sobre, &c-

Ah! que em torno aos

olhos lindoijQue não tem competidores j

Voava a meiga esperança

Sobre ) Ikc,



De iúem inales ésquecidé^

E minhas antigas dores ^

Os prazeres me cercavâo

Sobre 5 &c.

Fugiâo meus dias tristes

Trazia ò tempo os melhores

O tempo que só marehàra

Sobre, &c.

II

Ji:

i

i^

Ái que rrteus Fados cruéis j

Sempre meus perseguidores,

Fazem voar as desgraças

Sobre, &€•

Por meus suspiros ardente^í

Que levão meus dissabores í

Tornão frios desenganos

Sobre, &c.



'Ah ! de Amor não tos fieis

Os innocentes Pastores ,^

Ql ás vezes manda os ciúmes

Sobre , &c.

Lesbina chamou-seminh^i

Deo disto as provas melhores.

Seus votos aos Ccos subião

Sobre 5&Co

Mas oCeo que reconhece ;

Que seus votos são traidores

Pôde mandar-lhe o castigo

Sobre , &c.

I

Onde hirás meu coração.

Se aonde quer que tu fores

Acharás sempre a desgraça

Sobre , &c.



. ^'vsum-T^ímãmsÊam

f}íDispara sim bella ingrata

Teus cruentos passadores

Fâze sahir a minha almaSobre, &c.

Venturosos meus suspirosMeus suspiros voadores

Se encontrão es^es que tornão

S obre , &c.

Quando não vejo a teus olhos;

Teus olhos triunfadores,

O teu nomç isolto âos ares

Sobre, Sce,

Vôa sobre as negras azas

Dos zelos decoradores

Em quanto outros vSq tranquillos

Sobre , &c.



E a traidora que assim zombaDe meus sentidos clamores

Manda a outro os seus affagos

Sobre, &c.

Pastores,morreo Lereno,

O melhor dos amadores,

Amor o leva em triunfo

Sobre as azas dos Amores.



•vfíi-rii

''

í(

Iii

d

íbíhííÉííIe.

fS^

*K 8 )i^

í^-SíftSjaffiKt'^^^

jí/j-.

CANTIGAS.A Mor , ai Arnor eu morrpEu não posso viver mais |

Vão«me consumindo a vida

P^ meus repetidos ais

/ Amor basta , basta,

Não me firas rnais;

Se meus ais desejas,

Aqui tens meus ais:

A minha ingrata despreza,

Da minha dor os sinais.

Meus ai§ lhe dizem que eu amopila não ouve meus ais

Amor, &c.



A minha paixão occulto

Com medo dos meus rivais j

E solto por desafogo

Medrosos aflictos ais

Amorj &c.

Por mais que busco em seu rosto

Pa compaixão os sinais ',

Nem se turba, nem se inclina

Ao triste sqm dos meus ais :

Amor j&Ce

Olhos cruéis ,porém lindos ,

Que os meus olhos cativais j

Recebei o meu tributo,

O meu tributo sto aiss

Amor, &c.

Quando por minha desdita.

Em outros vos empregais;Corre dos meus triste pranto

yoáo do peito meus ais

Amor 3 &c.



fá|

d

«^C IO )^^

Se de ver-me padecer;Olhos cruéis vós gostais

;

Unindo.me a vosso gosto,

Darei por gosto meus ais :

Amor, &c.

Ah! poupai-me, olhos cruéis,

Que a minha vida gastaisj

Eu a sinto pouco a pouco

Dcsfazer-se nos meus ais

Amor 5 &c.

Se por soberba cruéis

Teimosos me maltratais ;

P(^de amor aiada hum dia

Vingar desprezados ais:

Amor, &c.

Basta cruel , não me queixo

Não quero afíligir-me

mais jHirei para muito longe

Esconder meus tristes ais;

Amor. &c;

fl^<

^^l8K^S2â5ii^-



K II )^*

A Ttrquela.

CANTIGAS.

V^Uando solta a voz suave

A iindissima Tirqueia ;

Na miúda , e branca areia

Vejo o Rio espreguiçar-se ;

Como quem quer deaiorarse

Paraa ver

,

para a escutar :

Tírqueia , Gentil Pastora;

Solta a vós doce , e canora ,

Se nos queres consolar.

1

n-À



;l\)i

'i I

Quando solta a voz suave

54 lindíssima Tirqueia ;

Desasombra a noite feia,

E a triste ave,que gemia

Cala os gritos de agonia.

Nem se escuta mais piar :

Tirqueia , &ç.

Quando soíta a voz suave

"A lindissima Tirqueia

Mudo o Zéfiro passeia

Entre as plantas , entre as flores

Nem co' os voos rugidores

Quer seu canto perturbar :

Tirqueia , í^c


A lindissima Tirqueia

Lindo enxame alli zumbela

Eno ar, que ella adoçara,

Bebe a essência , que prepara

F^râ novo mel formar

Tirqueia, &c.



Qiiândo solta a voz suave

A lindissima Tirqueia

Triste Nynfa, que vozeia

Dos cavados montes secos

Torna alegres os seus ecos ,

(X essa voz faz adoçar

Tirqueia, &c;

Quando soíta a voz suave

A lindissima Tirqueia,

Filomela não gorgeia

Mas absorta em meigo pranto

Ouve muda o raro canto.

Que ao depois quer imitar

Tirqueia, &à


A lindíssima Tirqueia

Terno Amor ,que alU volteia

^

Larga as settas , tanto usadas

E CO* as vozes delicadas

Vai o mundo sujeitar.

Tirqueia í &c.



ii

li

*K 14


A lindíssima Tirqueia,

Desce á nossa triste Aldêa

A suavíssima alegria.

Que nas azas da harmonia

yem a todos consolar:

Tirqueia , &c.

I

*/Ã%^^



«K i; )?»

•«==:

^ mmba amante paixãi.

CANTIGAS.'

H Ei de oíFerecer a AmorMinha humilde petição

Esperando hum como pede

A minha amante paixSo.

Hei de pedir-lhe que veja

A quem dei meu coração

Q^ em a vendo , logo apprúva

A minha amante paixão.



Nunca Amor vio iguais olhos

Rosto igual nunca vío não

Nem verá paixão que iguale


M

i li

Vi

Que os meus suspiros guiando

Lhe penetra o coração j

De modo ,que a interneça

Á minha amante paixão,

Mosíre-lhe os vivos desejos

Que com meus suspiros vãoj

E com minha saudade


O meu bem compadecida'

Da minhar^ernaafflicçãoi

Com igual paixãa me^pague




Aos que vão de Amor ao Templo

Serei exemplo , e lição;

Sirva aos outros de modelo


Muitos amao com loucura ^

Eu de amar tenho razãoj

Que tem mil razdes amáveis


Não terás nas tuasarasHuma mais digna oblação;

Se unes á sua constância


Coroa a minha fé pura

Nãodeixes

que eu ame em vão ;

Que bem merece os teus prémios


VqI.L N.6.



!

Ú III

^ 18 )4*

ir

, Em torno dos teus altares

Os meus Hymnos voarão;

Ternos Hymnos, que te enyi|

4 minha amaníç paixão.

tor honra do teu poderNáo me desampares aâo

,

Olha, Amor, que te acredita




*K 19 )^^

Nada de saudades.

CANTIGAS.

j\ Mor , eu venlio ti^dir-te

Hum favor nor piedade

Dá-me dos teus males todos5

Mas nunca me dês saudade.

Amor , eu vir^fr n^o posso

Dividido em ametid-;

Junto a meu ben so^r^ tudo

Mas nunca me dês saudade.



II Amor, se 'provar quizeref

Minha fé, minha lealdade;

Da-me suspeitas, ciúmes,

âs nunca m^ dés saudade»

1 ^

í

Anôr; jdos teus males todos

Constante soffro a maldade

Mas com saudades desmaio;^

£ nunca me dê$ saudade.

Amor, os olhos que eu amo

Tem de meus olhos piedade

Se os não vej© não me acodem

Ai- nunc^ me dâo saudade.

Amor ,~ ajustemos hoje ;

Gumpre em mim tua vontade $

Mas não me negueç ver Lilíí^ j

Ejiûnca me dê§ sau4adc»



M

4V( 21 )4ji

Àfflòr os teus males juntos ^

São de huma ausência metade j

Alli ha suspeitas i 'ielos,

Ah! nunca medes saudade,"

Amor, eu te sirvo a muntoí

Sempre de boa vorytade;

Não te fallo em pagamento ^

Mas nunca nss dês saudade»



<^( ii )4»

96 &•

E EtttSo.

:\

CANTIGAS.

/\ Lzira formosa

Desgraça foi ver-te^

Seguio-se o render-te

O meu coração.

Amor de render-me

Achou o motivo ,

Eu já sou cativo,

Eu^ amo y e então ?

Então í



Ao ver os teus ©Iliog

Tão vivos, e bellosj

Eu tenho de vêllos

Maior ambiçâoc

Por líials que eu os vcjá^

Náo farto á vontade j

Eu tenho saudade j

Eu amo ; e então ?

Então ?

Se a outrem voltada

Tu fazes carinhos^

Ciúmes daninhos

Ferindo-me estão s

Mais triste me síníd

Do que se presume 5

Já tenho ciúme j

Eu áinoj c então?

Entãa?

í



*H H )^*

il^l

A's vezes eu fíájo

Os bens que eu mais quero

Fingindo eu espero.

Que os bens chegaráfié

Vendo á tempestade

Espero a bonança;

Já tenho esperança

Eu amo: e então?

Entáo?

Eu sinto nesta alma(

Huma cousa no^ra,

Nâo tinha inda prova

Da doce paixão.

Do que outros àmi^Eu provo a verdade

^

Isto he novidade

Eu amo: e então?Então?



RUPBi

<K ^s D-i*

Apanhe para seu ensino{

T,CANTIGAS,^

Enho ainda hum coraçãoj

Qual já não devera ter 5

Pois não querendo ó que eu quero

Qiier só tudo o que elle quer

Hei de castígallof

Ha de lhe doer;

Dar-lhei pancadas

Para a prender:

Apenas vê lindos rostos

Logo se lhe vai render;ííáo quer o que a razão manda |

Quer só tudo o que elle quer:

Hei de \ Scc^



íf

i

"^Tê á*s barbas doTvisinho

Do dume em fogo arder;

As suas nãò píòm de molho ,

Quer só tudo o que ejle quer:

Hei de , &C»

Não qlier, qúahdo líc necessário^

Occultar o seu prazer;

Diz nos oíhos quanto sente,

Qucf só tudo o que eile quer :

Hei de , &cV

Digo ás vezes que não ame ,

Qué náo ha de amado ser

O teimoso não mé escuta,

Quer só tudo o qué elle quer

Hei de , &c/

Se he preciso' contcntar-se

Com metade do prazer;

Não ^ còntentáo mefadés,

Quer só tudo o que elle quer:

Hei de, &c*^



Ha mil destes corações;

Diga o mundo o que disser;

Quem ama nãó quer conselhos;

Quer só tudo o que clle quer:

Hei de 5 &c:

Chero a mínha desi^entura^

GLOSA,

D CANTIGAS;O meu triste aitiârgo pranto t

Quem razão saber procura.

Saiba, que sou desgraçado,

Choro, &c.

Desgraçado de^de o berçoSerei té á sepultura*,

Pois assim o quiz meu Fadei

Choro 9 &;c.

H



iA minha alma desgraçada,

Êm vão socorros procura;

Ninguém pôde socorrer-me.

Choro, &cí

Tenho, por máíor ãesgráçâ^

Huma alma dada á ternura j

Serei infeliz amando,

Choro, &c.

Náo posso eépèrar favor

Da adorada formosura;

Devp áínar sem ser amado ^

Choro, &ç.

A qíie me jurou amar,

Por força ba de ser perjurí^j^

Assim o quer o me^ Fada#Choro, &e.



Não posso lisongear-me

De esperar huma figura;

Negáo-me até a esperança 9

Choro, &c.

A torrente do meu prantpTem huma horrível mistura

|

Entre saudades , e zelos

Choro, &c.

Deve durar meu tormento

Em quanto a vida nje duraSaibâo que onde quer que eu viva

Choro, 5;c»

%i



if

*K 30 )4>

Queixas a Amor,

4

V,

CANTIGAS.

Enho Amor de ti queixar-me','

Ouve que eu ten\}Q razão^

Principio por mostrar-te

Qual eu tenho o coração.

Isto Amor não he Bem feito

Não, não he bena feito, não.

As doçuras promettidas

Esnerei, traidor , em vão ;1

Diz? , se acaso estes golpes

As tuas doçuras são?

IstOí &c-

ri,



Minha doce liberdade

Puzeste em alheia ^mâo

E a preço dç vãs promessas,

Cativaste o cpr^ção :

Isto , &Co

Onde estáo 'os teus prazeres>.

jHize , cruel , onde estão ?

Sobre ciúmes , saudades;

Astes vem,quando essas vão t

Isto, &Co

De prazeres assaltado

Não tenho socego, não;

E apenas vem , logo foge

A escaca consolação :

Isto, &c»

Fazes da cruel Ullna

Travessa repartiçãoEu tenho as doce-s promessas

Outro goza o coração

Isto 5 &c«

5-



fíli''

Eu tão prezo, cila tão solta;

Ouve á rainha petição

Eu me une mais a Olina

Ou me quebra este grilhiõ :



VIOLA DE LERENO.

Foi. L Num. 7«

Aofíde esta o meu hem.

C A N T I G A S^^

KJ Meu coração palpita

Contínuos pulos mé dáj

Elle pergunta inquieto

Aonde o meu bem está

E onde está o meu bem í

Ao depois que eu não sei delia

Também de

mim não sei já jVoa amor, evai saber

Aonde o meu bem está

E oiíie , etc.



•í

í''[

o caininliô que èlía piza

A^pro caminho será ;

Vai amor espalhar flores

Aonde o raeti bem está :

E onde, &Cé

O Sol c'os ardentes raios

A terra alli queimará ;

Vai amor cobrir c'o as azas

Aonde meu bem está

£ onde, Scú4

Pelas deseríâs campinas

O meu bem se assustará ;

Leva esta alma destemida

Aonde meu bem está•'

E onde , ÍCCd

De quem pôr ella suspira

Talvez não se lembrará j

Leva amor os meut suspiroá

Aonde meu bem está :

E onde , &c.



! -^

<K 3 )^

A triste Melancolia

Tristemente a seguirá;

Leva amor doces prazeres

Aonde meu bem está

E onde , écc;

Que tempo estarei sem vélaJ

Dize, amor, quanto será;

Traze o meu bem , ou nié leva

Aonde o meu bem está :

E Oíide^ áfCo

y

i



Bemjícaé

VCANTIGAS.

Içôsa Bemfica >

Fez-te a natureza ;

Abrigo á saúde

Morada á belleza

Mão ha não íiâ

Terra mais rica

Todos te invejâo

Viçosa BemfiGa.

As outras Aldêâs

Já clatnio raivosas;

Que tu lhes roubaste

As Ninfas formosas:

Nâo> &c.



m

«K 5 )?

Elias te enriquecem

Quem te honra são ellas

E rodas te chamão

O Paiz das bellas

Não, &a.

Já deixa Cythera ,

E Pafos 5 e Gnido;

E faz em Bem fiou

Morada CupidoNao, &c.

Pastoras , cautella

Cautella Pastores

Que está nestes campos

O Deos dos Amore? ;

Não, &c»

D' hum lado a outro lado

Traveço elle gyra;Mas reina nos olhos

Pa minha Belmira.

Náo, &c.

,'

Ni>iaHr. Ss;



I<

Quando ella passeU

Passeia com ella

Rendendo aos qua encontr*,

QijLQ chegap a vela:

Náo, &€•

D^llí nos sujeitg

% livre yoatade ;

E a preço de gostos

Compra a liberdade

Nâo, &c.

Ferindo nâo poupa

Pastora , ou Pastor ;

Çiume , e Esperança

Sâo armas de Aniors

Não, &c.

B^etinem cointínuos

Os sons das cadêas

Por estas Aldêas

Qi|e esíão de redor :



*K 7 )^^

O Numem terrível

Vaidoso se explica ;

Que funda em Bemfica

Seu Templo melhor:

Não, &c<

Mas esses despojosTriunfo de amor

Aos pés de Belmira

)re elle os vem pôr:

Náo , &ç,



..—'«^fetlft

/

lK 8 )^*,

HAos annos da linda Maríia.

q A N T I G A S.

V,Inde Graças , vinde Amores

Cortejar a Mareia linda;

Amor chama, Amor vos brinda

A Seus annos festejar.

Estribilho.

Nasceu Mareia linda Marcí^

Seu nome vanios Cantar.

Traz os Rizos , e os Prazeres^

Companheiro? da alegriaE ^ memoria deste dia

Qiier cantando eternisar.

Estribilho , &ç;



mmmmmmBmÊm

^K 9 )^* '

Não tem setas , laáo tem arco,

Nem 90S Jiombros tem aljava,

Nem a gente, sua escrava

Quer gemidos escurar.

Estribilíio, &c.

Tristes ais, suspiros tristes

Nos seus antros aferrolha;- ^

Sò de gostos nova escolha

Vem aq mundo hoje espalhar.

Estriibilho, &c.

Nâo quer hoje ouvirCupido,

Tristes magoas rouco prantoy

E ensaiou hum novo canto

Para JVIarcia celebrar.

Estribilho , (Src.

Dqs seus olhos engraçados

Sempre vivos, sempre belios

Vãs suspeitas , duros zellos

Elle çiiida de afastar.

Estribilho, Scc.



^^"mmmm

i,

I s

1

Tem na sua luz suave

Lisonjeiras esperanças

Mostra a paz , mostra as bonanças

Para a terra , e para o mar.

Estribilho , &c.

Este dia, alegre dia

Deve ser por nós cantado ,

Sempre assim por nós lembrada

Ha de o Tejo , e o mundo honrar.

Estribilho, &c.

Venturosos os PastoresDe quem Mareia he linda filha

8e lhe coube isto em partilha

Não tem mais que deseiar.

Estribilho, &c.

Guarde o Geo seus bellos dias ;

E vigie a sua idade ^

Sem haver felicidade

Que precise suppliear.

Estribilho, &c.



,. fruarde amor sua alma bella

rara quem mereça tanto

Que no laço us-o, e saatQv

Hymineu a venhi -At^r,

Estribilho ,^ &C«

Dos viço-os tenros annos

Sopre amor fogo de idade

E ajudado da amizade

Sa^ba os restos bafejar.

Estribilho , &c«



«K li )•?»

•e

^j«»í como ftti fai.

C À íí X I G A S.

H Ei de amar-te se me amares l

Querer-te se me quizeres,

Deixar-te-hei se me deixares ^

Parei o que tu fizeres.

Estribilho.

Farei farei. . . que hei de fazer ?

Farei o que tu fizeres.

Se gostares dos mais homens

Gostarei das mais mulheres \

Hei de seguir o teu gosto

pgrqi o que tu fizeres.

Estr* &c* ,,

1 •»



J«p mm

4Y( 13 )i^

Se ternura npo mostrarei

í^ais ternura nao esperes,

Serei cruel se tu fores ,

Farei o que tu íízcrés.

Estr. &a

Se os meus prazeres tu fazes

Eu farei os teus prazeres,

Se te enfadas, eu me enfado^


Estr. &c.

Este amor íie hum contratei

Quero em quanto tu me queresj

Se me deixas também deixo,

Fâfei o que tu fizeres.

Estr. &e.

Mas , menina ? eu serei firitie

Se tu firme ser souberes ,

Seguirei sempre os teus passos ,


Estr. &c.

l\^



i^( H )•»

N^e se morri de saudade.

Cantigas.

o Uvi Pastoras óuví-me

Que eu declaro liiiniâ verdade:

Os vossos amantes mentem,

Não se morre dê saudade.

Fétribilho.

Se de saudade alguém morrera

Pobre tereuô j^ náo vivera;

He Yerdade que se ^ive

t)ividído em ametade;Mas vivendo mtia vida,

Não se more de saudaJe,

Estr.^

% i



Gizem que a saudade màtàPela sua crueldade;

Mas como a esperança anima5

Kâo se morre de saudade.

Estr.

Vive-se quasi morrendo ,

Nem ha de viver vontade;

Mais quasi morto vivendo.Não se morre de saudade.

Estr*^

Ameaça á crua morte

Com muita variedade,

Vive-se sempfe em perigo

Não se more de saudade.

Estr.

Em contínuo sofrimento

Ha contínuararidade.

Vivendo em quem se deseja;

Não se morre de saudade.

Estr.



Me pof própria experiência |

CXiie eu conheço esta verdade j

Se eu vivo sem ver Belmira ,

iSIâo se moirre de èaudade^

Esti^.

Não tem mais que pergmtan

C A N T 1 G A Si

%^ Uéttt me ouvir a suspirar

Jíão me pergunte o porque;

Se o meu bem aqui não vê ,'

Kão tem mais que perguntar.

Estribilho.

Ah ! quem me ouvir à suspirar

Saiba qué eu amo,

Náo tem mais qUe perguntaro



.Quem acaso

me encontrarCaminhando ao meu retiro,

Oiça o nome que eu suspiro.

Não tem mais que perguntar.

Eítribilíio, &Cd

Se alguém quer advinhar.

Quem meu coi;açao governa,gxe a vista enfi Mareia terna.Não tem mais que perguntar.

Estribilho^ &c.

.

Se a í^ilomeíla parar

O seu suave reclamo,

He que canta, quem eu amo^Não tem mais que perguntar/

Estribilho 3 &c/

Quem nossas Ninfas notarEntre as bellas, a mais beliaNao duvide

, he ella, he ella ,iNao tem mais que perguntar,

rr , , ,Estribiliio, &c.



(!

Quem ítie vir sempre afastar

Dos meus amigos Pastores,

He que busco os meus amores

Não tem mais que perguntar.

Estribilho ,&c*

Triste Lerem,

CANTIGAS.

X R-iste Lereno

Perde o seu gado ,

Soffre esta perda

Firme , e callado.

Estribííha.

Porém não pode

Softrer , coitado

O perder Lilia ,

Seu bem amado.



«K 19 )'i^

Tem-lhe a seara

O Sol crestado,

E a nova perda

Vio sem enfado.

Porémj &c:

Ventos lhearrancãoO olmo estimado ,

Elle em soccego

O tem notado.

Porém , &c.

Quantas desgraças

Lhe manda o Fado;SoíFre sem nunca

Ter murmurado.

Porém;, &c.

Era prudente,

Era callado,

Nem hum gemido

Tiuha soltado.

Porém y^&e*^

i' I

V/'



li

í

i<

^( 20 K^

Hoje com vozesSobresaltado

Grita Lereno

Dezassizado.

Estribilho,

íorque náo pódc

Soffrer callado , &g.

Sâibâo os outros

Quem tem amado >

Elie o confessa

Que íie desgraçado.

Porque , &c.

Bosques , SearasChoupana , e Gado

Davão-lhe sempre

Menos cuidado.

Porque, &Ce

Pode hum menino

Cego 5 e vendado ,

O seu segredo

Toraar baldada?Porque , &Ce



HÉIIMI —-

Seja o exemplo

De hum desgraçado,

Lição aos outros

Do mesmo estado.

Porque, &c.

Toca a recolher para a Cidade ^ Bando

de Amor»

CANTIGAS,

O Entido, ternos Amantes 3

Ou^^i 03 rufos de Amorj

Escutai seu novo bando,

Segui-o\ lie vosso senhor.

Estribilho-

Agora que os Campos perderaSua alegre amenidade

,

Correi todos á Cidade,

Qye alli se recolhe Amor.



I Ajunta os ferros perdidos

l?as desperdiçadas settas

E faz das hastes vaqueta»

Com que bate o seu tarpbor»

Estribilho.

Agora que os Campos perdem , &c.

Ferio brincando nos Campos

Doces feridas ligeiras,

Agora accende as fogueiras,

Que lhe aproveitem melhor;

Estribilho.

Agora que os Campos perdem , &c,

Entre a viva lavareda

Seu fogo occulto mistura,

Fogo, que inspira ternura

A' bella y e seu amador»

Estribilho;

Agora qm <?§. Campos perdem l &c.



mmmm

He huma salva a belleza,

Qiiando nas brazas estoira,

A liza reborda loira,

Qpe a seus pés se lhes vai pôr.

Estribilho.

Agora que os Campos perdem , &c.

Bacco espumante appareee

Ajudante de Cupido,

E alli nos tem prevenido

O seu magico licor*

Estribilho.

Agora que os Campos perdem , &c

Gom a devinal bebida

Faz voar rizos galantes,

E afugenta dos Amantes

O incomodo pudor.

Estribilho,

lAgora que qs Campos perdem , &c ;

V?



^^w^mmm

Vem travessas Contradanças^

Precedidas d'alegria

Zombar da Estação, que fria

A' Campiaa faz; horror.

Estribilho,,/

Âgorã que os Campos perdem , Scç

Suas voltas estudadas

Qílando alli vos baralhais

Yos aperta muito mais

Em cadeias só de Arnor.

Estribilho.

Agots. que os Campos perdem^ &c

Não sintais perder por ora

Bosque ameno^ e callador ,

¥inde ao tempo accomodar-vo$^

Que isto foi sempre p melhor.

Estribilho.

Agora que os Campos perdcn::^ » &c.



«K 2? )-?>

MOTE.

27^1? hd remédio senão morrer.

Gloza imjirovízo.

E U venho aqhar os pezares ,

Ondeos mais aehao

prazer;Amor que dá vida a rodos,

Si a mim me faz morrer.

Estribilho

Amor, que póieNâo quer valer.

Na o Iiá remédio

Senão morrer*

fMi .

*-p^'-^'



II

Mostrou-me os olhos de Lilía

Fez-me o lindo rosto ver;

Bebi nesta vista a mone

Bíorft^ porque Amor o quer.

Estribilha»

Amor que pôde j &c.

Ao volver dos olhos bellos,

Sinto o coração bater ;

São mortaes anciãs que eu sinto ^

Eu já me sinto morrer.

Estribilho.

Amor que pode , &c,

Tyranna , mata com magoas

Meiga, mata com prazer

Morro de amores por ella

Até gosto de morrer.

Estribilho.

Amor que pádí &c.



m

HK ^7 )^*

Só temo na minha morte

O desgosto de a perder

Fique-lhe ao menos minha alma »

Qjâlma não pode morrer.

Estribilho,

Amor que pôde, &e.

Se eom desgostos me mata

Com gosto faz reviver,

Por não perder este gosto , ,

Gosto mesmo de morrer.

Estribilho.

Amor que pôde , &c.

Zombem os livres morta es

Do meu triste padecer

Queeu nao troco a sua vida

Por tão gostoso morrer.

Estribilho.

Amor que póde^ &c.



Ah! Lilia formosa Liiíâ ^

Cnmpra-se epi mim teu prazer^

Se queres rnatar-me . mata-me

Que eu ppr ti quero morrer»

• Estribilho.

Amor que {>6de, &c.

^m<?r ^í^e pôde , ;;!(? 5/^/25 -y^/^fr.

C A N T í Q A Se

/a. Teus olhos, lindos olhos.

Eu me sinto reviver

Elles me dáo vida nova

Se me fizerãp morrer.

Estribilho.

Amor que p6de ^

Me quiz valer ,

Já n|o sou morto ^

Tojrno a viver.



wm

^K 19 )^^

Meu coração já quieto

Torna de novo a bater ,

Tinha de todo esfriado.

Sinto de íiovo aquecer.

Estribilho.

Air.or que pode , Scc^

A« luz viva dos teUS olhos

Se aviva antigo prazer j

Vejo fugir à s^âudâde 5

Que me fez àrcfecer.

Estribilho.

' Amor que pode , &c»

As murchas fíores do campo

Já vejo reverdecer,

Dâo-ilie outra vida teus olhos ^

Que a mim me fâzem viver.

Estribilho.

Amor i &C9



I

Hum Amante morre > e vive

Como o piedoso Amor querj

Quiz-me morto, morri logo;

Quer*me vivo , eu vou viver»

Estribilho.

Amor , &c«

Esta vida he de teus olhos ^

De teus olhos devo eu ser

tm quanto elles me aftagarem^

Eu já não devo morrer.

Estribilho*

Amor , &c.

Nâo tornes mais á mâtar-mejí

Deixa o teu cruel pra'ler

Porque duas vezes morto

I^ão poderei reviver.

Estribilho.

Amor , &c^



«K 31 )•?*

ÍJe para ti minha vida ;

Em quanto eu vida tiver;

Náo queiras que a vida eu perca;

Que também veíis a perder.

Estribilho.

Amor, &c.

Este milagre de AmorDeixa em mim aparecer;

He prodígio, que te honra

Também mostra o teu poder»

Estribilho.

Amor, &Go

Talvez não entendâo outros ,

O que me ouvirem dizer3

He linguagem da minha alma

Qiie tu só deves saber.

Estribilho.

Amor 3 &c.



"ff

Ajusta ser sempre minha 5

Que eu sempre teu hei dô ser5

Unê à tua á minha vida,

Custe dobrado o morrer»

Estribilho.Amor , Stc.

Mas , meu bem, haja âilencio,

Nao possa alguém perceber

Que até faz inveja aos outros

fer-me fjòr ti reviver.

Estribilho;

Aitior^ &C8

:i



VIOLA DE LERENO.

Foi. 1. Nufíh

A. B. C. de Amor.

Jl X Uma Menina

Quer, (jue eu lhe dê

Lições de Amores

Por A. B. aÀ. — He amante j

ííáo ardilosa s

B. — He benigna

Não boiícosa:

'C,»-He constante,

Nâo curiosa

^úme 5 ^'Meíiina,

Lição gostosa.

% (í w .',



4^( i J#

D. — Delicada

Náo desdenhosa f

E*— Engraçada3

Não enganosa' &-

F.-Piel,

Não furiosa.

Tome ^ Menind ^Lição gostosas

Huma, &c*

1 #

G. — He galante

Mas nãcy golosa i

L — He ser justa.

Não invejosa:

L. — Leal5

Não lacrimosa.

Túme^ Menina^

Lição gostosGi

Huiiia , &e»



M.-He ser rtieigà ^

Nâo nierítircsaí

N.- Andar nédias

Não nojosa i

0. -Obediente'^ /

Nunca brgulhosâíTome, Menina j

Lição gostosa.

Húína, Scc.

ti i* He prudente ^

Nâo perguiçòsa

'Qt-tíe quieta,

Nada qudxosa;

R, — kizònha,

Não rigorosa j

Tome, Menina

Lição gostosa.

Hunia, &C(ii



li

i

)

¥

Sv*- He sincera ,

Nao suspeitosa í

T.>- He ser terna

. Nunéa teimosa:

V. -- Verdadeira,,

Nadavaidosa:í^ne y Menina^

Lição goòtosa.

Huma, &c«

X.— Xòcarreíra

^ Pv uco xorosa :

Z. — Zombadeira-'

-Pouco zeJosa :

Túme y Menka^Lnão gostosa.

Huaia , &c.



Depois d'as Letras

Bem decorar,

|: Quer ,que eu lli^eRcIne

A soletrar?

Tome sentido

Vá de vagar

A . m , a , r,

Soletre amar.

Quero ensin^la

Tim por tim tini;

E Tções dar-lhe

Até ati fim :

Olhe, Menina,

Bem para mim,

S i , m ,

Diga-me sim.

•;•»



*^i 6 )4|

Mas se lhe falia

Hum maganão;

Então he outra

Nova lição:

A mão levante

Dê bofetão j

N , a , g, ^

piga-lhe naÕ,

)\'

Teramor não hf deffeho^

DCANTIGAS,

Esafoga pelas vozes

A paixão, que opprime o peito \

Não te envergonhe a verdade

%^t amor não he deífeito.



5Í- 7 )^^

Acceiía de amor cadeias,

Do modo que eu as acceiro

Os ferros de amor dâo honra,

Ter amor nâo he defteito.

Comamor nâo ha fugir-lhe,

Nem por força , nem por pleito^

Que importa amar , e servilo ?

Ter amor não he deífeito.

He Gloria amar bum semblante^

Tão gentil , e tão perfeito ',

Se he sem deffeitp o motivo ^

Ter amor não he defeito.

Belisa ,gentil Belisa ,

gu te adoro, eu te respeito,

]S5ão me castigues por isso

Ter amornâo hç deíFeito.



Ém conremplar os teus olhos

O dia , e noite approveito

Contemplar he acção d'alma,

Ter amor não he deíFeito.

Eu acordo em ti cuidando,

Emti cuidando me deito ,

Nto he dçíFeito o cuidado,

.Ter amor não he deíFeito.

Aos homens a natureza,

Impo/ de amor o preceito,

O deíFeito está no modo,Ter amor não he deffèito.



<^VC 9 )^^

'Declaração de Lereno.

^^ Ueres , que eu diga ,

Chara , o meu nome

Chara inimiga ,

Eu to direi.

Eu sou Lereno

Debaixo estado,

Cliossa nem gado

Dar poderei.

Mas se tu queres

Melhor morada ,

Vem, minha amada.

Que eu ta darei.



<K 10 )^*

Entra em minha alm^ ,

Entra em segredo.

Contente, e ledo

Tf adorarei.

Moda das Ca/das^

ÂI de mim, que est<>u perdido

De mim mesmo, tenho hopror;

Curei o meu mal anti§o

pprém temo hum m^l maior.

Que sinto nas aguas ?

Tão grande calor !

He que Aèor he fogo^

^ gqui yi^e 4inQr<j''



ginto dentro do meu pçito

Hum motim perturbador

Sem sabfr o seu motivo

Gada vez se faz maior.

Que sinto > ècçn

Vai lavrando veia em veia

Hum fogo devorador

Nunca ergue viva chamma ^

Mas consonie em §eu calor.

Quesinto

,

&c.

De hum mal que eu não conheço,

^luma dôr que não he dôr,

ps signaes não são de morte

Seu eíFeitp ind' he peior.

Que sinto ^ &c«



I

)

I

He hum certo frenezl

^qi o motivo qual for.

Que me faz perder o ciso,E a razão me faz transpor.'

Qlíe sinto 5 &c.

F^z, que og^sro de MariiiaCom poder encantador.

Me torne de Imm homem livreSw*u Escravo Adulador.

Quesinto

, &c.

Agora já sei por prova,O de que eu fiii/ zombador

Já sei que Amor pode muito,O meu mal he todo Amor.

Que sinto, &c.



*K 13 )^^

Amor Generoso.

C A N T I G A S.

O E mais venturora,

Meu bem , chego a ver-te ,

O mal de perder- te ^ ,

Se torna cm Inim bem.A Amor agradeço

Que assim te í focura

Em outro a ventura

Que em mim nao a tem.

.

7 'Tfí

O mal de perder-té

Se toraa ein< iaiín beiíi*

.:^yj



f

•1

^ lalvez me não adis

Amor companheiro;

Serei ò primeiro

Que saiba amaf hetn.

Os outros ió qtiéfení

Do seú

Êem á pòèeEu acho íilais dòce

O bem do meu bem/

O malj^ês

Cõmtlgo raidòso

De Amor vou ao Témptó ^^

Servií de hum exemploQue o mundo não tem.

Abraço sem raiva

Meu próprio rival,

E estimo ó meu mal

Porque he ô teu bem*

O mal, &c;



Nao sigo dos zelos

A triste loucura

E he ttia ventura

A que ine convém*

He minha paixão

Mais justa, e mais forte.

Que faz tua sorte

A minha também;

O maí, &Cr

Mas leva a mính'almas

Não ma restituas,

Pois qu' inda a possuas

Assim nos convém.

Não só porque o gosto'

Tem dè acompanhar-te.

Mas para insinar-te

A amares maisbem*

O mal ^ 8cQé



«Í-Ç r6 )>?*

^Outras a mesma solfa*

'!

C A íí T I G A S.

l5 E ainda Xito sabes ,

Meu bem , 'que és meu bem ,

Pergunta aos teys olhos

O que nos meus vem.Eu guardo segredo

Segredo convém , ,% .cri

Dorila, o que eu sinto ,^^ ^ .

Náo digo a ninguém.

Ah ! sabe Dorlla

Que és íodo o iiieu-bem^'



«V( 17 )^^

Razáo e respeito

A voz me sustem ^

E os ais receosos

Vão mudos, e vem*

Mas podem teus olhos^

Que a elies' convêm,Kos meus achar quanto

Meu coração tem.

'^ Ah!

us..

Stc.

>>.^*>.

Os ternos Amores

Meu pranto escutando,Em torno voando

Aqui Se úètérri.

E os ais 5 'que se tjuebrâo

Nestes troncos secos,

Os levão aos eccos

Que os tornáo também .'

. .

'

Ah ! &c;

VoLl N. i.

:i Íí;V

.li Á



i^- iS •)•(*

'4Guerra dè Amof^i

CANTIGAS,

Á,S Ariíias, Ámoir,

Amorj haja guerra

,

Que já do teu nomeSe zomba na terra.

É se já tens gasto

Os teus passadores,

Êlfína te empreste

OUios vencedores.

NSo Baja mais livre

í^mn só coração5

Vai banir do tiiundo

A fria izenção.

E^seji, ác^^"^

a



Do sangue dos ímpios

Ô chão seja tinto ,

E sintão os outros^

O mesmo que eu siiito.

Ese, &c.

Os que blasfemarão

Q^expiem seuá erros,

Humildes rojartdo

Os teus duros ferros.

E se , &cj

Ressoem seus áis

Nas concavas grutas J

Nem tenhão rebeldes

As faces enchutas.E se ,

&c^



y

Seus pés, e seus pulsos

Teus laços enleiem

E as frias entranhas

Por ti se afogueiem.

E se, &c.

Confessem serltindo^

Arder o teu lume.,

Que devem guardar-tc

Respeitos de Nume.

E se, &c»

Pois zombao de ver»mc

Escravo de Elfína-,

Povoa de Escravos

A vâsta campina.

^A--»5 3gH

E se, &C,



Náo haja Pastora,

Mão haja Pastor,

Q,,e zoa.be hum momento

Do nome de Amor.

E se ,&c.

De Elfina o triunfo

De Amor gloria seja ,

E huns morrão de amores ,

E outrcs de inveja.

E se ,

&c.

J



«K 2? )^|»

Nãa o saibf ninguém maiSi

^A NT IG A S,

findos olhos engraçados^

Que a ter amor me ensinais

Isto, que de vós aprendo ,

'

Nâo o saiba ninguém mais.

Lindos olhos engraçados^Se eu vos vejo entre rivaes

,

O^ciume que então sintoNão o saiba ninguém mafe

Lindos olhos engraçadosQue os meus oJhos captivaisí^ste novo captiveiro

Náo o saiba ninguém mais.



Lindos olhos engraçados ,

Quando vós me desprezais,_

Vou calando , o mal que sinto

Não o saiba ninguém mais,

Lindos oUiosengraçados ,

Que ciúme a outros dais

Basta que me contenteis ,

Não G saiba ninguém mais.

Lindos olhos engraçados

Lindos olhos devinaes

Sabei só que eu vos adoro,

Nâo o saiba ninguém mais.


Sois vós só quem me matais.

Morrerei , mas em segredo ,

Não o saiba ninguém mais.




Muitas vezes me assustais.

Mas a causa do meu susto

Não a saiba ninguém mais.

Retrato da minha linda Pastora.

Y^Erdes campos,

fonte fria j

Fundo valle, altos rochedos.

De quem amantes segredos

Lereno afflicto confia.

Troncos duros , e frondosos

Tenras plantas , c florentes,Vede as lagrimas pendentes

D'was tristes olhos saudosos;



Vós nodosas carvalheiras ,

Murtas desta densa mata ,

Que no mal que me maltrata

Tendes sido companheiras.

Se algum dia conhecêsseis

A minha linda Pastora ,

Da minha saudade agora^

Talvez vos compadecêsseis.

Lá no valleque ella habita,

Qiie he daqui muito distante,

^Tao ha outra mais galante,

Mais dis.reta , e mais bonita.

Seus cabellos enlaçados

]Síos lindíssimos listões ,

Tem prezo mais corações ,

\)q que fios tem atados.

\



São seus olhos matadores,Depois da testa engrajada

A beíissirna morad^

Das graças,e dos Amores.

Engraçada côrmorena ,

Tem redonda a face belJa

Náo ha bocca como aquella,

Nem melhor, nem mais pequena,

Mostra em riso moderadoBellos

, lizos , e alvos dentes , ^D^ que as frechas são que as GentQsvem vibrar o Deos vendado.

Da lindíssima garganta

Columna qu'isto segura,

Sahe a vós suave , e pura,Que recreia, e qqe, m*encanta.



No seu seio ,que o pudor

Encobre sempre excessivo,^

Eu bem vejo cheio o archivo

Dos mimosos bens de Amor,

Dos fornidos hombros pendemLizos braços torneados ,

Onde os meus terno? cuidados

Achar seu premio pertendeip.

São as mãos também morenas

As que a graça augmento dão j

As validas de Amor são ,

Podem tanto tão pequenas.

A cintura delicada

PÔe mil graças em aperto,

E o amante mais experto

Pára alli, não vê mais nada^



«K 28 ){^

Se ella deve ser julgada

Só pelo que se deviza,

O que mostra a guardapiza

Pouco he, ou quasi nada.

São huns pés à proporçãoDo seu corpo delicado

,

Que não tem inda provadoDe Amor o duro grilhão.

'

)

Tal he essa, que retrata

Meu amor , que ver desejo;

Do melhor valle do TejoA mais bella , a mais ingrata.

Chorando intento fazela

Compassiv.i a minha oiagoa,

Dura 3. pedra he, e a agua

Chega hum dia a amolecela.

1'^^SSIW^s?'"'



^VC ^9 )^^

Adeoses a LMa.

Ouvi , ó campos

Ouvi , ó Cecs

Quanto me custa

Dizer Adeos.

Eu vou-me, eu parto

Dizendo Adeos.

Bosques ,que ouvisteis

Segredos meus^

De vós me aparto ,

Adeos, Adeos.

Eu 5 &c.



'\

"^s meus gemidosSubão aos Ceos,

Oiçâo os NumesMeu terno Ádeos.

Eu, &c.

Rottos do pejoOs densos véos

,

Mostro o fheu pranto

Dizendo Adeos.

Eu, &c.'

Olhos ^eiihores

Dos olhos meus /

Vede que eii triste

yos digo Adeos.

Eu y Sca

Molha a saudade

Os olhos

meus,Em quanto a bocca

Repete Adeosj

Eú, &c.

II'



m 31 x^

Cortão soluços

Os gritos meus,

E sabe partido

Meu triste Adeos.

Eu ; &c.

Ajunta Livia

Clamores seus ,

E sahe d'entre ambos

Hum terno Adeos.

Eu 5 &c-

Custa a ver triste

Os olhos seus ,

E a boGca linda

Dizendo Adeos^

.0; Eu, &c:

Bosque amoroso.

Nos ti'oncos teus

Fique o meu nome

É o meu Adeos.

Eu , &c;



A triste Ecco

Nos gritos seus

Repita sempre,

Àdeos, Adeos.

Eu , &G-

Lembro Lereno

E estes ais seus ,

Que triste solta

Dizendo Adeos.

Eu , &c.

São derradeiros

Suspiros meus.

Basta , não posso

Dizer Adeos.

Eu vou-me , eu pafto ^

Adeos , Adeos l

iiÍíK<^--Vv*>.



índiceDAS CANTIGAS DESTE PRI-

MEIRO VOLUME.

NUMERO I.

%yZt o nome da Senhora Condeça

de Pombeiro. Caniigcis, p^g» 3

Moda da Tirce, ....••• ^

Teu Juramento , • ^

Bem fica J^Recado * • • • ^ \^.

A dòr do meu coração í»

Quem dá o que tem a^^

A^ doce União de Amor .... 20

Viril morrendo de vagar . . . . «24

Minuete •

^^Nadn de dúvidas ...•••• ^o

A^ Madrugada ^^

NUMERO II.

Ferdi a Alegria ...*.•>!A huns lindos olhos .•.••• i

Ao Som da Lyra a chorar . . . • ã

Serei triste até morrer , . . . • ^

Zabumba ^^

O Nome de teu Fastor . . . . .20



I

1 I

VI >i '»^..

Z I N D I G E.

Por este preço quem não será Captivo 22Soldado de Amor 24Amar não he brinco .

. , , , .27Marcha depois da vinda do Rousi.

Ihon , , 9Q

NUMERO HLSuspiros do corapõo -, , . . .

Inda sou teu , ,

Trimavera^ ^

Quando os mortaes quer render .

Amor sabido vai gualdido . . .

Raivas gostosas . , ,

Ao meu pensamento , . . , ,*

21Cada vez querer^te eu mais . . ! ! 24

Turos Votos eu jurei , , , . , , 27Viver só para te amar . , ,* * ,'30

NUMERO ir.

1

5

10

)4

17

]9

JwfZa sou teu ••..,;Doença, e melhora de Marilià^ateo as Azas , e voou . . -

J$ queculpa te7iho eu , ,

Mmn térnô Amador . ,

Crirne gostoso . , , . , ^Juramento de hum

, e outro .

TrÊí^â! de Amor: Moda'emhuma Sol/a de Player , ,

1

5

8

}Z]4

16

20

23'



índice.

u^mnr sem inferesse ,

Já mal posso respirar

26

30

NUMERO V.

Cumprimento do voto • , : , . . 1

l)iga o Mundo o que quizer ... 3

Cornçõo não gostes deliaQue ella não gosta de h* • • . • 6

O meu livre coração .,•••. 9

jú iílustre Amira .••...• HA Armania ,....,.•• 14

hereno melancólico ...... 17

Não se resiste a Amor . • . • . 23

Clamor de Lereno. . . . . . .25ji leria que Amor faz guerra , . 28

Tartida : Traducção , e Glosa

da Partenza de Metastasio . . .30

N U M E R O VI.

Solre as Azas dos AmoresAis ..•>.•A Tirqueia . . . . •

A minha amante paiceãoNada de saudades . .

E EntãoApanhe para seu ensino .

Choro a minha desventura

Queiooas a Amor . . .

11

1519

22

25

27

30



1- 9õ-

índice,

JV U M E R o Vlh

Aonde está o meu hem , .

BemficaAos annos da linda MareiaAssim como fai fai . . .

Não se morre de saudade .

"Não tem mais que 'perguntarTriste Lereno , . - , . ,

Toca a recolher para a CidadeBando de Amor . . .

Não ha remédio senão morrer

.

Amor que pôde , me quiz valer

NUMERO VIII.

A. B, C. de Amor , ,

Ter amor não he defeito .

Declaração de Lereno ,

Moda das Caldas . . ,

Amor generoso , .

Outras á mesma solfa

Guerra de Amor , , .

Não o saiba ninguém mais

Retrato da minha linda PastoraAdeoses a Livia \ • • . •

1

48

12

]4

1618

21

25

28

. 1

. 6

. 9

. 10

. 13

. 16

. 18

. 22

, 24. 29

xfe^. ¥>

#lai,:*^'m;c



VIOLAD E

LERMNO:COLLEGÇlO

DAS SUAS CANTIGAS,OFFERECIDAS

AOS SEUS AMIGOS.

V LUM E IL

\

LISBOA:NA TYPOGRAFIA LACERDINA. 1826.

Com Licença.



mi

y I Y

te



c5i'^^3Í>aí.

iI É

VIOLA DÊ ÈÉrWÔ..

NÃO ENTENDO O CORAÇÃO.

M,.or:^r"

.Èu coração aèsustadoTem prazer /tem aíflicção

;

Tudo gofíre de miistura

Nâo entendo o coraçâd.

Vendo hiins Olhos engraçadtisBate e]le aèsustado então;

'

Quando não os vê suspiraNâo entendo o coração.

Agora em amor se embebe,

Mal diz agora a paixão;

Ora quer, ora não quer,Nâo entendo o coração.

m

I



(4)

Beija ás vezes satisfeito

O seu dourado grilhão;

Outras diz, que peza muito,

Não entendo o coração.

^ Zomba agora de Cupido,

E vâi oppor-lhe a razãoLogo acha razão amar,


Diz que os olhos engraçados

Do seu bem o seu bem são;

Depois dos olhos se «Jueixa


Diz que o seu bem lhe dá vida,

Por isso lhe beija a mão;

Diz que o mata a mão que beija,

Não entendo o coração..

Chora a sua liberdade

Prantea-lhe a perdição

Vai entrega-la por gosto,




( 5

Diz que a razão bempodia

Vencer toda a inclinação;

E acha razão d' inclinar-se


Pede-me elle o seu socego

Nutrindo a própria paixão;

Quer amando socegar-se.


Sem acabar de morrer.

C A N T I G AS.

JlJIe a minha triste vida

Sempre penar, e sofFrer;

Vou morrendoa todo o instante

Sem acabar de morrer.



((' ^

Sabes- meu bem o q' eu sof^-^

Quando nâo te posso vejr? yr

He m.orrer de saudades -y

Sem acabar de ^kOi;r(^r,J

Pronietteo-me Amor doçuras>Contentou-se em prometter;E me faz viver morrendo . ^

Sem acabar de morrer. /[

Lisongeiras esperançasVem minha morte èmpécêf • ^

Vâo-me sustentando a vidaSem acabar de morrer.

Em mim tome hum triste exemploQuem amando quer viver;Saiba que he viver morrendoSem acabar de morrer. -^

Quando p^nho a: i?ião iio p^tito :

Sinto hum languido bater;He o coração que espixâi i_ .i

Sem acabar de moj-íer.ijsd^Dij

&f9mm



C7>

J^l uo moD• GÍ); :;

•,0"-'': ^:•^^. 1

Marília Brasileira na5 Ca/íla^.

.^>.jò ^o;r^À

MODINHA.ASTORES que affictos aíov soT

Saúde buscais

Em vão esperais

A Amor escapar.

.. Off e^fl''-

ESTRIBlÍLíHdCí| -,- ^^Lí^^

Amor tem Marilia

Por elle ensinada,

E quando lhe agrada j I

Vos sabe matar. boQ

Fugi de se^is Olhos ! 3 êy lii 15 [í

Tão vivos 5 e bellos,

Se a Amores, e a Zellos

Quereis escapar.

Amor &c.

1

;!'.!



CoiB outras pastorasEu nâo a confundo,Que de hum novo mundoVem neste brilhar.

Amor &e.

Em vão presumisDe ter liberdade,

Que a livre vontadeVos vem cativar.

Amor &c.

Temei dos seus olhos

O doce veneno,Que ao pobre Lereno

Já fez palpitar.

Amor &c.

Fugi do seu riso

Que mata brincando,Que zomba matandoE a rir vê chorar.

Amor &c.



( 9 )

RETRATO DE LUCINDA.

V^UERO Lucind^Bem retratar-te.

Se acaso a arte

Tanto puder.

Finos cabellos

Em trança grossa.

Temo que possa

Pintalos bem.

Dos lindos olhos

A luz tão viva,

Côr expressiva

Nunca eu darei.

Não tens nas facesJasmins e rosa,

Côr mais graciosa

Nas faces tens.



(10 )

Todas ta, ixivejâo ^

E ha quem ser queira,Assim trigueira

t3omo tu és.

Tâo linda bocaGraciosa, e breveNinguém a teve

Nem pode t6r.

Quando tu mostrasOs alvos dentes,

Causas ás gentesDoce prazer.

Vem por entre elles

Vozes discretas,

Sâo de Amor settas

Que ferem bem.

Risos e graçasNão tem pintura

Tanta ídcíçuraCopia nâo tem.

iiyl

MEU



C 1-1 \

Guardas no seioDe Amojc o encanto.Mas cobres tanto

C^ue não se vê.

Se o gentil corpo

Quero imitar-te

Desmaia a arte

Tu bem o vê^,

Pobre LerenoVê que he loucura.Deixa a pintura

Beija^-4Ue os pés.

Neste RetratoSe acaso eu minto

,

He porque pinto

Menos do que és.

:{



mtmmmmm «Nmm

(12 )

RETRATO DA MI^HA AMADA.

N.Ão digo o nomeDa minha amadaQue nâo tem nadaQue conhecer.

Com tanta graçaNâo ha ninguém.

Amor nos fios

Da loura trança^

Quantos alcança

Vai enlaçar.

Mais prezo qu' eu

Ninguém está.

j,j..,.UI I'W—iP—>wii



( 13)

A luz dos olhos

Nunca se eclipsa,

Alli atiça

Seu fogo Amor.

Não he tâo bella

A luz do Sol.

A côr das faces

Lindas formosas,

He a das rosas

Com os jasmins.

Outra nenhuma

Tem côr assim.

Guarda na bocaAs mais graciosas

Perlas preciosas

Entre rubins.

Que voz tão ricaSe fóriuâ aili

\ •



%l«l»,l.....

He cofre rico

O niveo peitoDo mais perfeito

Mais puro Amor.

Ouard' a minh' almaQue eti M fui pôr.

Os pés mimososCom graças tantas,Sâo tenras plantasSão pés de flor.

Eu voa Bèijat-Ihos

Seja õ que o fôr.

Se acaso viremA Ninfa bella>

Que como elia

Nâo ha ninguém.

JSÈt^rírJ

He essa mesmaQue he o meu bem.



ARAPiM eu bem estavaAtegre nest' aJleluia

,

Mas para fazer-me triste

Veio Amor dar-me na cuya.

Nâo sabe meu XarapimO que amor me faz passarAnda por dentro de mimDe noite, e dia a ralar.

Meu Xarapim já nâo possoAturar mais tanta arenga

,

O meu génio deo á cascaMettido nesta moenga.



1'»

( 16)

Amor comigo he tyrannoMostra-me hum modo bem cm,Tem-me mexido as entranhas

Qu' estou todo feito angu.

Se visse o meu coração

Por força havia ter dó,

Por que o Amor o tem postoMais mole que quingombó.

Tem nhanhá certo nhóiihó,

Nao temo que me desbanque,

Porque eu sou calda de assucar

E elle apenas mel do tanque.

Nhanhá cheia de cholices

Que tantos quindins aíFecta,

Queima tanto a quem a adora

Como queima a malagueta.

Xarapim tome o exemplo

Dos casos que vê em mira

Que se amar ha de lembrar-se

Do que diz seu Xarapim.

"^^"wmmt



ESTRIBILHO.

Tenha compaixãoTenha do de mim

>

Porqu' eu lho mereçoSou seu Xarapim.

rtHMi

LiLiA o UNICO BEM DE LeRENO.

Que mais quero eu.

C A N T I G A.g,^

iVE tíontraria a Fortuna,

Nada a Fortuna me deo;

Mas do seu rico thesouroTerno Amor me enriqueceo.

Se Amor me deo LiliaQue mais quero eu.

VoL. IL Ti

'i

vi

i I



IHi

(18)

Eu não tenho inveja aos ricos

Por mais que tenhâo de seu;

Satisfeito estou contente

Com hum i^em que Amor me deo.

Se AmtDr &C.

Digão que fugio meu gado.

Que a ceara se perdeo^Basta só que me restasse

O meu bem que Amor me deo.

Se Amor &c.

Se Amor premeia os escravos

Bastará que o diga eu;

Ninguém sabe os ricos prémios

Que Amor em Lilia me deo.

Se Amor Sct.

Promettéo-me tan tas vezes

Cumprio quanto prometteo

Prometteo dar-me hum thesòuro

Em Lilia hum thesouro deo.

Se Amor &c.



m

Ellé nao íeiíi iifiais que dar-me,E se tem nâo qíieró eu;Por dàr-me o melhor que tinhaHe qué Aíilor Lilia me deo.

Se Amor &c.

Quando fita nos meus olhos

Os seus olhos côr do Ceo ;A minha alma então conheceQue riqueza Amor me deo.

Se Amor &c.

Não he Lilfá; áâo do mundoHe viva porção do Ceo;

A terra exultou de gostoQuando Lilia recebeo.

Se Amor &c»

Esmerou-se a NaturezaE quebrou o molde seu;Que ao depois de nascer LiliâOutra igual nunca nasceo.

Se Amor &€.



C 20 )

Em vâo querem conhecê-laNem sabem , nem digo euCom temor de que me roubemGuardo hum bem que Amor me deo.

Se Amor &c.

MO T E.

Quero dizer-te

Mas tenho medoDe que não saibas

Guardar segredo.

GLOSA.

CANTIGAS.ENHO mil cousas

Que revelar-te5

Cousas que podem

Muito agradar-te.Quero &c.



^( 21 )

O que dirias

Se tu soubesses

Meus bens , e males.

Que não conheces.

Quero &c.

De isento e livre

Mais não me gabes ^

Tenho cadeias

Que tu não sabes.

Quero &c.

Triste, e saudoso

Neste retiro,

Tu não presumesPor quem suspiro.

Quero &c.

Lagrimas tristes

Banhão meu rosto,

E calo a causaDo meu desgosto.

Quero &c.



Entre estes bosque»Saudoso exclamoE ninguém sabe

Por quem eu chamo.

Quero l^c.

O coração

Terno se agita,

E ninguém sabePor quem palpita.

Quero $ce.

Choro huma^ vezesE algumas canto,

E a causa occulto

Do riso , e pranto.

Quero &a.

Tu és só quemSaber devia

Os meus pesares

Minha alegria.

Quero 4^c,



^( 23 )

Sabe5

sim, sabe

Que estes meus ais. . .

Tu bem me entendes?

Nâo posso mais.

Quera &c-

RETRATO DE MARItlA.

X-ViNDA Marilia

O teu semblanteFaz ser amanteQuem o não he.

Se acaso eu mintoNisto que digo.

Mentem comiga

Quatttos te vem.

:^M~



r ^^ 'Ê^mí

( 2:4 )

Do teu cabelJo

Assim atadoO Deos vendadoSeus grilhões fez.

Se &a

São cg teus olhos.

Duas estrellas

Luzes mais bellasNâo pôde haver.

Se &c.

Tens de açucenasFaces formadas,E misturadas

Deros' as

tens.Se &c,

He tua bocaDe perlas mina,Perlas que a ChinaIguaes nâo tem.

Se &c.



( 25 )

Também nevadaHe a garganta.

Nenhuma tanta

Doçura tem.

Se &c.

Honesto ornato

Teu peitoencobreE a alm' a mais nobre

Tu ahi tens.

Se &c.

E's engraçadaDe corpo airoso.

Todo mimoso

Teu todo he.

Se &c.

Se amar-te lie culpaSe não te agrada,Também culpadaNisso tu és.

Se &c.

'^

íã



-,^ ^L.ímmmm^~

'

( 26 )

Ou os meus votosMarília acceita

Ou tão perfeita

Deixa de ser.

Se &.c«

RETRATO PE MARÍLIA.

Nlo cuides gentil Marilia

Qu eu me atrevo a retratar-te

Qu eu muito bem $ei que ^ ^vie

Nâo pôde a tanto chegíir.

Ah! Marilia! Ah M^riU^I

Tu és rara. é§ gipgular.

-fc.



li

X Í37 >)^

Ou sejao prezos ou soltos

Teus lindissiinos çabello$,

Pasiua-se a gente de vê-los

Sem os poder retratar.

Ah ! &c.

A luz viva dos teus olhos

Eu nâq pinto os resplandores ^

Nem podem humanafLçòresAs estreitas imitar.

Ah ! &c.

qu' eu dê ás tuas faces

A côr de jagmins e rosas,

Tens cores mais graciosas

Que nâo se podem pintar.

Ah!&c.

Podiâo fingir teus beiços

Vermelho rubim partido,

Dentes de marfim bornido

Mas era só comparar.

Ah ! &c.



i

f 'f^g^.C» ^MiMP Mfei

C 28)

Ao rico mimoso seioChamo só mimoso e rico.

Assim decente me explicoSem o poder desenhar.

Ah! &c.

Pasmado do gentil garboDo corpo airoso

e perfeito.Eu vou cheio de respeito

Seus mimosos pés beijar.

Ah ! &c-

Se és Marília hum chefe d'obraD' apurada Natureza,Pebalde tua belleza.

Eu queria copiar.

Ah! &c.



(29 )

If

Ame se quer ser feliz.

EM desgraçada isempçãoClamo a Amor, e Amor me diz,

Quem nâo ama Jie desgraçadoAme se quer ser feliz.

Que me diz?Tenho dito,


Amor seus laços armavaDe qu' escapei por hum triz,

E elle de longe bradavaAme se quer ser feliz.

Que &c.

I



r ^«^w^^piiPiP «»

( 30 )i

Qu' eu nâo me sug-eite a amarSevera razão me diz

Mas grita-me a NaturezaAme se quer ser feliz.

Que &c.

Se eu rogo a Amor que me cure

De horriveis zellos subtizClama, como quem receita.


Que &e.

Quem nâo for afortunadoSendo de Amor aprendizSuas lições continue


Qu€ &Ce

Quem se vir assaUeadòDe horríveis ciúmes vis,

Amando vencerá tudo.


Que &c.



(31 )

LUNDUM.

imMmiÊáÊmÈÊÊím

Elu tenho huma Nhanh&inhâA quem tiro o meu chapéo;He tâo bella tão galante,Parece cousa do Ceo.

AiCeo!

. Elia he minha yâyáO seu moleque sou eu.

Eu tenko huma NhanhásinhàQu eu nâo a posso entender;Depois de me vêr penarSó então diz que me quer.

Ai &c.

J



mmm

(32)

Eu tenho huma Nhanhásinhâ

A melhor que ha nesta rua;

Nâo ha dengue como o seu,

Nem chulice como a suá.

Ai &c.

Eu tenho huma Nhanhásinha

Muito guapa muito rica;

O ser fermosa me agrada

O ser ingrata me pica.

Ai &c.


De quem sou sempre moleque;

EUa vê-me estar ardendo,E nâo me abana c' o leque.

Ai &c.


Por quem chora o coração;

E tanto chorei por ella

Que fiquei sendo chorão.

Ai &c.

':«»»1%»^-



VIOLA DE LERENO.

Vol. 11 Num. â.

EETRATO DE AMÁLIA.

D,EscEi CantoresDesde a Castalia

l-ouvai AmáliaNinfa gentil.

Não nos con^ndaEste portento

O esquecimentoInerte e vil.

VoL. II.



( 2 )

Vedeoseu rostoI^indo jengraçádo,

Todo formado

Por mãos de Amor.

E o melhor garboGraça e lindeza.

Que a Natureza

Pode compor.

•B*'^rea madeixaQue atada vedes

Amor as redes

Subtil teceo.

Elle he que pl-endeO terno esposo

Nó tâo ditoso

Nunca mais deo.

Os lindos olhos

Com luzes bellas

Mais do que estrellas

Vede brilhar.



(?)

E falt^ emboraPhebo jocundoQue Amali^ ao mundoLuz pôde d^r.

A cor purpuriaDas frescas ros^s

Nas graciosasFaces se vê.

Com viva neveFazem mistura

^

Da formosura

Esta a côr he.

Formâo-lhe a bocatoas graças centro.

Pérolas dentro

Fora coraes.

De alegres risos

Voz delicada.

Linda moradaQue honra os mortaes.

/ 1'



(OHonras ao inundo

Gentil Amália,

Honra a Castalia

Também assim.

Venhâo as MusasVenhâo louvar-te,

OE eternisar-te'Que he o meu fim.



"^

( 5

DOÇURA DE AMOR.

uiDEi que o gosto de AmorSempre o mesmo gosto fosse

Mas hum Amor Brasileiro

Eu não sei porque he mais doce.

Gentes como isto

Cá he temperado.

Que sempre o favor

Me sabe a salgado

Nós lá no Brasil

A nossa ternura

A assucar nos sabe,

Tem muita doçura,

Oh ! se tem ! tem.

Tem hum mel mui saborosoHe bem bom he bem gostoso.

=^



As ternuras desta teric*

SaÇém sempre a pão e queijo

JNTâo são como no Brasil

Que até he doce o desejo.

Gentes &c.

Ah níianhá venKa escutar

Amor puro e verdadeiro.Com preguiçosa doçuraQue he Amor de Brasileiro;

Gentes &c.

Os respeitos cá do ReinoDão a Amor muita nobreza^

Porém tirão-lhe a doçura

Que lhe deo a Natureza.

Gentes &c.

Quando a gente tem nhanháQue lhe seja bem fiel,

He como no Reino dizemCahio a sopa no mel.

Gentes &c»



(-7)

Se tu queres qu' eu te adore;

A' Brasil ira hei de amar-te,

Eu sou teu, ,e tu es minha,

Não Jaa íaais tir-te nem guar-te.

Gentes &c.

Para o mesmo Esíribilho,

ai

O AMOR que he cá do ReinoHe hum Amor caprichoso,

O do Brasil todo he doceHe bem bom he bem gostoso.

Gentes &c.

Eu tremo se o meu bem vejo

Enfadadinho e raivoso;

Mas o momento das pazes

He bem bom he bem g-o^toso.

Gentes &c.

fe-TS;ípNtor



y, Í0,,tl,,^j^)tí,íif,0lgj^^

"•"•"imBaimmmstmm.

C 8 )

Hum certo rolver dos olhos

Inda hum tanto desdenhoso,No meio disto hum suspiro

He bem bom he bem gostoso.

Gentes &c.

Hum dizer-me vá-se embora

Com hum adeos cicioso,E hum apertinho de mãoHe bem bom he bem gostoso.

Gentes &c.

Hum ir vêr-me da janella

Com hum modo curioso,

E então assoar-se a tempoHe bem bom he bem gostoso»

Gentes &c.

Hum temer hum ladrâosinho

Que me assaltasse aleivoso,

Batèr-lhe por isso o peito


Gentes &c.

I

^ ^4



Ao moço que me acompanhaHum perguntar cuidadoso,

Hum ai de desasustar-se


Gentes &c.

Quando triste estou em casa

A recordar-me saudoso.Hum recadinho que chegaHe bem bom he bem gostoso.

Gentes &c.

Hum escripto em duas regras

D' um modo mui amoroso,

Hum misturado de letrasHe bem bom he bem gostoso.

Gentes &c.

Vir a gente rebolindo

Ao chamado imperioso

Ouvir-lhe apre inda não chega


Gentes &c.



«imi^ gmÊm i

C 10 )

Chegar aos pés de nhanháOuvir chamar preguiçoso

Levar hum bofetãosinho


Gentes &c.

^ í j if

CHUCHAR NO DEDO.

AI de mim que Amor me mandaSoffrer seu cruel brinquedo

Aos outros faz doces mimosE cá eu chucho no dedo.

Pobre de mimAi coitadinho?

Fico chuchando

Ho meu dedinho.



m(M

)

' Tôclõs òsmais que Amor servem

Tem seu premio, ou tarde ou cedo;

Gostão das suas doçuras

E cá eu chucho no dedo.

Pobre &c.

Hei de me poupar amando

Ir servindo sempre a medoPorque os outros lambem tudoE cá eu chucho no dedo.

Pobre &c.

Tomara ser venturoso

Ao menos em arremedoPorque os outros

andão fartosE cá eu chucho no dedo.

Pí)bre &c.

Am'or o inquieto AmorNunfca mais pôde estar quedoMas aos outros accommodaE cá eu chucho no dedo.

Pobre &c.



C 12 )

Quem vir qii' eu já fujo a AmorE que de Amor já me arredo

He que trata bem a todos


Pobre &c.

Ando de Amor esfaimado

Já o digo sem segredo;Que dá aos outros ração


Pobre &c.

Adeos eu me vou embora,

Até hum dia bem cedo

Ficai-vos de Amor fartando


Pobre &c.

Nâo quero de Amor fallar

Porque de Amor tenho medo;Poz-me o seu dedo na boca


Pobre &c.



(13)

RETRATO DE ANARDA.

EiNTRE as pastoras

A mais galharda,

A terna AnardaVemos que he.

Feliz o esposo

Que nos seus braços

Lhe tece os laços

De Amor, e fé.

As grossas tranças

Graciosas pendem

E alli se prendemOs corações.



( Í4

Feliz aquelleQue o Deos vendadoTem enlaçado

Nessas prizôes.

tláisgados olhos

De luz bem clara

Donde tiraraRaios Amor.

Alli conserva

O cego NumeO voraz lumeConsolador.

As lind^as faces

Ornar de alvura

A formosura

Não escolheo.

Mas côr diviíi^

Nellas se adora

Com* a que a aurairaMostra no Ceq.



< 15 )

A linda bocaVede pastores.

Graças e AmoresAlJi vereis.

Vede a branduraCom que vos falia

Ide adora-la

Não vos pasmeis.

O gentil corpo

Airoso e bello.

Para modello

Deve servir.

Dai ao Ceo graçasEm honra delJa

Que hum' alma bella

Lhe foi unir.



.

.

": .

11111 iiijijWBpgii^^^

( 16)

RETRATO DE ANARDA.

X ASTORES acompanhai-me

Cada hum sua flauta tome>

E de Anarda o doce nomeVinde todos festejar.

Anarda gentil AnardaVem nossos hymnos honrar^

Aquellas formosas tranças

De finíssimos cabellos,

A luz viva de olhos bellos

São dignas de se louvar.

Anarda &c.

V^^



C 17)

O rosto que a NaturezaEngraçadameute cora,As faces da côr d' auroraTeiu muito que celebrar.

Anarda &c.

Eugraçada boca, e linda.

Que só voz discreta solta,N'um divino aroma envoltaQue perfuma a todo o ar.

Anarda &c.

A lindíssima gargantaO corpo gentil, e airoso,

O engraçado pé mimosoTudo he raro , he singular.

Anarda &c.

Mas desta pastora illustreNão se louve só bellezaTens mais dons da NaturezaDigno assumpto

de cantar.Anarda &c.

VOL. 11.



w^vwai

( i« )

Ostentom o Ceò ftiostraí-sé

Sempre liberai com eUa

Deo-lhe eiii bello corpo, a bèlla

Alma illustrê j e singular.

Anarda &c.

LUNDUM.

m

Eu nasci sem coração

Sendo com elle geradoPorqu inda antes de nascer

Amor too tinha roubado.

R È s p o s T A,

Meu bem, o meu nascimento

Nâo foi como elle nasceo;

Qu' eu nasci com coração,

Aqui stá que todo he teu.

%..



(19)

Apenas a minha vista

De ti noticia lhe dedLogo elle quiz pertencer-te


Bebendo a l^z dos teus olhosNella hum veneno bebeo;

He veneno que cativa


Elle em signal do seu gostoPulou no peito, e bateo;Vem vê-lo como palpita


Para ser teu NhanhásinhaNão deixei nada de meu.Té o próprio coração

Aqui slá que todo he teu.

Se não tens mais quem te sirvaO teu moleque sou

eu,Chegadinho do Brasil

Aqui stá que todo lie teu.



wmm m

( 20 )

Eu era da Natureza

lElla o Amor me vendeo;

Foi pára dar-te hum escravo


Quando Amor me vio rendido

Logo o coração te deo;

Disse menina recebeAqui stá que todo he teu.

Unidos os corações

Deve andar o meu c' o teu

Dá-me o teu , o meu stá prompto


Mx



(21 )

Meu bem está mal com. eu.

V^UEM terá de mim piedade

^^Eu peço soccorro aoCeo;

Que para tudo me ir mal

Meu bem está mal com eu.

Nâo he preciso que o digâo

Eu bem vejo o rosto seu

Todo o carinho he disfarce


Logo que hoje entrei a vê-la

O coração me bateo

Palpitando me dizia,




Ml

( ^^ )

Como foi esta mudança ?

Isto como snccedeo ?

Bó para estar bem com outroMeu bem está mal com eu.

Ai de mim que triste vidaQue cruel fado he o meu

Que mesmo asgini nâo sei comoMeu bem está mal com eu.

Que suspeitou o meu bem ?

O meu bem o qu' entendeo?Eu nâo sei porque motivoMeu bem está mal com eu.

Eli não me soffro a mim mesmoMinha paz já se perdeoNâo posso estar bem comigoMeu bem está mal com eu.

A siia vista algum dia

Ternuras me prometteo;

Agora nâo me diz nadaMeu bem está mal cora eu.

iv-.

mil



( 23 )

A alegria que me davaA outro feliz a deo;

Já se tem mudado a scena


Quem me vir chorar aíRicto

Não cuide que alguém me deo;

HeAmor que me castiga


mm



.>0^mmmmm

(24)

RETRATO DE MÁRCIA.

V>/h! Mareia bella

Teu lindo rosto

Inspira gosto

Causa prazer.

Dizem-no todos

Quantos te vem.

Os teus cabellos

Que prendem flores

Prendem de AmoresA alma também.

Dizem-no &c.

Quem vê teus olhosBem sente log-o

O amante fogoNo peito arder.

Dizem-no &c.



(25 )

Tens alii os arcos

Com que CupidoDeixa ferido

A quem te vê.

Dizem-no &c.

As lindas faces

Assim coradasEnvergonhadasAs rosas tem.

Dizem-no &c.

He breve a bocaD' immensas graças

Por mais que faças

Muita mais tem.

Dizem-no &c.

Essa g-arg-anta

De neve puraCom que doçuraCanta também.

Dizem-no &c, ^h^



mmÊmmmmmmmmmm

(26 )

Tâo delicadaDesce a centura

Gentil figura

Como ninguém.

Di?5em-no &:c.

Dirá que és rai^

Quem te conheçaDesde a cabeça

Até aos pés.

Digem-iio &c,

He bem feito torne a amar.

LJe dos males qu' eu padeço

Aos outros me vou queixar;

Todos rindo me respondem


Com meu próprio coraçãoTenho razão de ralhar;

Quiz amar sendo infeliz

He bem feito torne a amaf.



( 27 )

Suas antigas desgraças

Como podem não lembrar?

Se tem outra he sua culpa


Devia fugir das bellas

E de onde as podesse achar;

Foi metter-se no perigoHe be;ii feito torne a amar.

Foi fiar-sie em olhos lindos

Que ha em olhos que fiar?

Será outra vez cativo

He bem feito torne a amar»

Elle estava em seu socego

Quiz-se mesmo inquietar;

Assim o quiz assim o tenha;


Bem sabia o que Amor custa

E quanto o faz suspirar;

SoíFra, padeça, suspire,


K

^



( 28 )

Bem sabe que he do geu fado

O padecer , e callar

Mudamente vá soíFrendo


Sua antiga liberdade

Já lhe ha de em vâo lembrar;

Tem huns ferros que o segurâaHe bem feito torne a amar.

Dos que vi ainda estar prazos

Eu o vi livre zombar;Zombâo delle agora os outros


Jactava-se mui vaidoso

De poder grilhões quebrar;

Soflfra agora grilhões novos


Não sabia que o meninoNunca Ih' esquece o vingar

Supporte a sua vingança




(29 )

Lundum em louvor de hum^a Bra-

sileira adojJtiva:

E CANTIGAS.u vi correndo hoje o Tejo

Vinha soberbo e vaidoso

Só por ter nas suas margensO meigo Lundum gostoso.

^ue lindas voltas que fezEstendido pela praia

Queria beijar-lhe os pés.

Se o Lundum bem conhecera

Quem o havia cá dançar;

De gosto mesmo morrera

Sem poder nunca chegar.

Ai rum rumVence fandangos e gigas

A chulice do Lundum.



-^'^mgmmmm

( 30)

Quem me havia de dizer

Mas a cousa he verdadeira

Que Lisboa produzio

Huma linda Brasileira.

Ai belleza

As outras são pela pátria

Esta pela Natureza»

Tomara que visse a genteComo nhanliá dança aqui;

Talvez que o seu coração

Tivesse mestre da li.

Ai companheiroNão será ou sim será

O geitinho he Brasileiro.

Huns olhos assim voltados

Cabeça inclinada assim

Os passinhos assim dados

Que vem entender com mim.

Ai affecto

Lundum entendeo com eu

A gente esta bem quieto.



(31 )

Hum lavar em seco a roupa

Hum saltinho cahe náo cahe;

O coração Brasileiro

A seus pés câhindo vai.

Ai esperanças

He nas chúlices di lá

Mas he de cá nas mudanças.

Este Lundum me dá vida

Quando o vejo assim dançar;

Mas temo se continua

Que Lundum me ha de matar.

Ai lembrançaAmor me trouxe o LundumPara metter-me na dança.

Nhanhá faz hum pé de banco

Com seus quindins, seus popôs.

Tinha lançado os seus laços

Aperta assim mais os nós.

Oh! doçura

As lobedas de nhanhá

Apertão minha ternura»



•aai

( 32 )

Logo que nhanliá saliio

Logo que nhanhá dançou,

O cravo que tinha ao peito

Envergonhado murchou.

Ai que peito

Se quizer flores bem novas

Aqui tem Amor perfeito.

Pois segue as danças di lá

Os di lá deve querer

E se tem di lá melindres

Nunca tenha malmequer,

Ai deliri

oElla semêa saudades

De encherto no meu martyrio.



VIOLA DE LERENO.

rol. 11. Num. 3.

Choro contínuo.

CANTIGAS.AkMt)R tu podesteMeus dias mudarDepois que te sirvo

Eu vivo a chorar.

Segredo e aleg-riaEm vâo quero achar,Com sustos com mágoasEu vivo a chorar.

VOL. 11.



f

Da chossa e do gadoNão Sei já cuidar

De tudo esquecido

Eu vivo a chorar.

Os meus pobres campos

Não cuido em lavrar

Sobre os seus abrolhos

Eu vivo a chorar.

Vai pobre regato

Meu pranto augmentâf

Sobre as suas margens

Eu vivo âr ehoratr.

Vem tempo etti que as av0s

Costumão cantar,

Eu não as escuto

Eu vivo a chorar.

Vem lobo esfaimado

Meu gado roubar5

Eu nunca lhe acudo

Eu vivo a chorar.

íWi.^^-rW>



(3)Chorando me deixâo

Ê tprnâo a achar,

A noite e o dia

Eu vivo a chorar.

Nâo sei já meus olhos

Ao pranto cerrar.Em mágoar^tenneEu vivo a chorar.

Vem tristes fantasmas

Meu somno turbar

E ainda sonhando

Eu vivo áchorar.

E nâo te con^dóes

De tanto pezar!

Por ti Amor fero

Eu vivo a chdràr.

Aò menos hum dia

Me vèm consolar

E paga-me o tempo

Que vivo a chorar.



(4)

Aviso ás Saudadosas.

C A N T I GA S.

RISTES bellas que saudosas

Desgrenhaes lindos cabellos,

E chorais c' os olhos bellos

Doce bem que se ausentou.

ESTRIBILHO.

Nâo pagueis a tanto preço

Lisongeiros vãos signaes,Que talvez nâo lembre maisFalso Amor que se jurou.



(

Esse prantoafflicto pranto

Ao momento da partida

He saudade já sabida

Que mil vezes se estudou.

A ternura se evapora

Nos soluços e nos ais,

E depois não lembra mais

Falso Amor que se jurou.

Ao momento q' em seus olhos

Falsas lagrimas pararão

Logo em outro se alegrarão

Outra vista os consolou.

Torna a pôr em uso as artesQue depressa acreditais,

E depois não lembra mais


Para prova de firmeza

E signal de que iie constante,

Diz quefoi leal amante

Que por vós muito chorou.



(OTalvez diz que se lhe

mtidaHe depois que vós mudais,E depois uâo le^ibra mais

Falso Amm que se jurou.

]Vova fé e Amor prometteComo pjometter lhe ouvistes

Horas doces , e horas tristes

Vai passar eomo passou.

Dallí quando ^e despedeAs tristezas sâo iguaes,

E depois nâo lembra maias^


wM



< n

Os impulsos da paixão.

Cantigas de improviso.

^iNTO neste frouxo peito

Agitar-se o coração

Tanto podem,podem tanto


Força occnlta me desliga

Das cadeias da razão

E deixa que sejâo livres

Os impulsos ésL paixão.

Se tu cuidas que eu te mjnto

Põe sobr€ o meu peito a mão^

E sentirás nos seus baques

Os impulsos dn paixão.



mmm

(8)A teus olhos meigos olhos

Que dizem ou sim ou nâoEu bem sinto regular-se


Tu senhora da minha almaQue reges meu coração.Ou enfreias ou desatasOs impulsos da paixão.

Eu sou já o teu cativoE gosto da escravidãoComo senhora governasOs impulsos da paixão.

Nenhum outro tem poder

Ninguém outro pode náo,Empecer-^me ou impedir-meOs impulsos da paixão.

Nem podia a mesma morteAlçando a fouce na mâo,C o terror embaraçar-me


^^^^^^WSH



(9)

Eu da hórrida doença

E das dores na punçãoConfesso que nâo retive


Em quanto o Geo me <Já vida

Toda está na tua mâa,Tu a reges , como reges


Temo que inda sobterrado

Debaixo do frio cliâo.

Se alli chegas que despertes


Amor velando os meus restos.

Que leve pó já serão,

Mostrará a quanto chegão


> li



mmm

( 10 )

SUSTOS DO CORAçio.

s7INT0 em mim vários effeitos

Ha bem pouco para cá,E o meu coração no peito

Está fazendo ta , ta , ta.

Eu não sei o quelle senteQue tamanhos pulos dá.Só sei que sempre inquieta

Está fazendo ta, ta, ta.

Meu coração escapouD' Amor ás cadeias já,

E talvez com medo aoutrasEstá fazendo ta, ta, ta.

linl



( n )

Inda de antigas feridas

Vertendo al^m sangue está,

E para fugir das setas^

Bate as í^zj*s tá , tá , tá.

Sinto a força de Cupido,

*E as pancadas que alli dá

O martelío de ciúme

Está batendo tá , tá , t4

Pobre do mçu coraçSo

Que Amor despedaçou já

Hum pedaço, e outro ped^ç<»

Vai cahindo tá , tá , tá.

(i.



^*:

( 12)

Asseverações baldadas.

XT OR mais que me digaQue pouco me crê

,

Eu digo o que sinto

Morro por você.

RESPOSTA»

Morra embora.

As minhas palavrasSâo dignas de fé,

Basta q' eu lhe digaMorro por você.

Morra ^c.



(13)Você d'Amor mata

A todo o que a vê

E eu porque a vi

Morro por você.

Morra ^c.

Você dá em todosCom o bico do pé,

E assim machucadoMorro por você.

Morra Scc.

No mar dos desejos

Jánâo tomo

pé,E mesmo ao som d'agua

Morro por você.

Morra Scc,

Amor nâo prometteQ' eu tenha maré.Sem chegar ao porto

Morro por você.

Morra Scc,

f



C 14 >

Do que os mais lhe dlzeiíí

Pouco se lhe dê

Creia o que lhe digo

Morro por você.

Morra S^c.

Em nâo digo tudoPor mor de quem vê,

Mas cá em segredo

Morro por você.

Morra 3cc.

Desta minha morte

Você causa heSó você me mata

Morro por você.

Morra Src^



(

iO

o INFELIZ.

ham1o-me ingrato

Mente o que o diz

Não o sei ser

Nem nunca eu quiz.

Sabe o que sou?

. Sou infeliz.

Negras lisonjas

Mentiras vis

Não sei dize-las

Nem nunxía eu quiz.

Sabe &c.

!

^

í



( le )

Usar de enganosTraças subtis,

Nâo he meu génioNem nunca eu quiz.

Sabe &e.

Se Arminda he varia

Diz 5 e desdiz

Tomar-lhe a modaNunca eu tal quiz.

Sabe &c.

Quiz merece-la

Quiz ser feliz

Mas constrange-la

Nunca eu tal quiz.

Sabe &c.

Só de adora-la

Me satisfiz,

Premio forçadoNunca eu tal quiz.

Sabe &c.



( 17 )

Ella deixoii-me^

Seu modo o diz.

Eu nâo a deixo

Nunca eu taJ quiz.

^abe &Co

Forças, e manhas do Amor,

fl;

II

i

A MOR he fogo

Que o mundo abrasa

Destróe arrasa

Quanto elle quer.

Palácios, choças

De Imm modo queima-,Quando elle teimaMostra poder.

VoL. IL

/ >



(

4ICorações duros

Vence affagando.

Com doce mandoOs faz render.

Amor ao fraco

Faz ser valenteTransforma a gente

No qu elle quer.

Ninguém lhe escapa.

Ninguém lhe foge ^

Ninguém se arroja

Tanto a emprehender.

Pois duando cremos

Ter-lhe escapado

Atraiçoayo

Nos faz morrer.

Das su^ forças

Eu não s^bia.

Fiz zombaria

Do seu poder.

pM m



( 19 )

Porém vingoii-se

O Deos vendado,

Grilhão pezadoMe faz soffrer.

^ O industrioso

Menino cego.Meu socego

Me fez perder.

Trouxe o seu laçoNo agrado envolto

5

Vendo-me solto

Quiz-meprender.

Quiz ver cativa

Minha vontade5

Nem liberdade

Pode soífrer.

Já sou escravo

Já sou cativo.

Eu como vivo

Nâo sei dizer.

1



(20)

Em lindos olhos

Vejo escondido,

O beos CupidoMeu mal fazer.

Inda assim gosto

Do Deos frecheiro.

No cativeiro

Acho prazer.

Elle valeo-se

De Arminda bella,

E só com ella

Pode vçncer.

Da mais formosa

Gentil pastora.

Escravo agora

Fiel serei.

S II

m



(21 )

DESEJOS.

OH quem poderá jdizer-te

Quanto sente o coraçãoSem que o respeito posesse

A voz em dura prizão.

Oh quem poderá dizer-te

Oh quem mil vez , oh quem I

Tu nâo sabes o que seja

Ter Amor, nem guardar fé.

Oh quem podéra ensinar-te

Fé, e Amor que cousa he.

Oh &c.

Tu fizeste no meu peito

Hum estrag-o que não crês,

Oh ^uem podéra mostrar-teEste mal que tu não vês.

Oh &c.



Tu porque tens liberdade

Tratas tudo com rigor.

Oh quem poderá obrigar-t^e

Ao cativeiro de Amor.Oh &c.

Tu zombas porque não soffres

De Amor o duro grilhão,Oh quem podéra enlear-te

Na sua eterna prizâo.

Oh quem podéra enlear^te^

Oh &c.

^uemmil corações tivera

Que empregar em teu Amor,Que hum he pouco , e já nâo podeSoffrer mais tanto rigor.

Quem mil corações tivera,

Oh quem os tivera quem.



(23)

Desprezo da maledicência.

D'epois que eu te qnero bemDeo o mundo em murmurar;

Porém que lhe hei de eu fazer ?

He mundo deixa fallar.

Nâo te enfades meninaDeixa o mundo fallar.

Sabes }}orque falia o mundo,

He só por nos invejar;

Elle tem ódio aos ditosos,

He mundo deixa fallar.' Nâo &c.

As loucas vozes do mundoTu naa deves escutar

Pois que sem razão murmuraHe mundo deixa fallar.

Nâo &c.



Ouve só a quem te adora ,Que anda por ti a bradar;Dos outros nâo faças caso,He mundo deixa fallar.

Não &c.

Menina, vam<3s amando,Que nâo he culpa o amar;,

O mundo ralha de tudoHe mundo deixa fallar.

Nâo &c.

Que fazem nossos amoresPara o raundojnarínurar ?

He máo coslume do mundo^

He mundo deixa fallar.

Nâo &c.

Sempre todos me hão de vêrPor meu bem a suspirar;Se disto fallar o mundo,He mundo deixa fallar.

Não &c.



(25 )

Ah meu bem não pertendamosDo povo a boca tapar;

Bem sabes que o povo he mundo,~\pe mundo deixa fallar.

Nâo &c.

DESPEDIDA.

EscuTA oh valle

Suspiros meus.Vê que eu te digo

Adeos , adeos.

Do roto seio

Dos montes teus

Repita o écoAdeos, adeos.



(2ey

As ihâos , e os olhosErguendo aos CeasSaudoso exclamoAdeos, adeos.

Tu viste lium dia

prazeres meus.Já se

acabarãoAdeos 5 adeos.

i

Paz, liberdade

Minios dos CeosAqui vos deixo

Adeos, adeos.

Pois já me negasFavores teus,

Ingrata ArmindaAdeds7 adeos.

Tem a mentira

Novoá troféos.

Pobre yerdadeAdeos ^ adeos.



( 2T

Os vis amantesNos braços seus

A iiiirrata acceita

Adeos, adeos.

Rasguei do engano

Escuros véos

Fujo de ArmindaAdeos 5 adeo^.

Vós desgraçado»

Suspiros meusFicai com ella

Adeos 5 adeo9*



9íã^ 'iJ^f**^

(28)

A ternura Brasileira.

N:CANTIGAS.

AO posso negar, nâo posso,Nâo posso por mais que queiraQue o meu coração se abrasaDe ternura Brasileira.

Huma alma singella, e rudeSempre foi mais verdadeira,A minha por issíi he própriaDe ternura Brajèileira.

Lembrada ultima idadeA paixão lá da primeira,

i

Tenho nos últimos diasA ternura Brasileira.



(29 )

Vejo a carrancuda morte

Ameigar sua vizeira.

Por ver que ao matar-me estraga

A ternura Brasileira,

Charonte que chega a barca;,

E que me chama á carreira

Vê que o batel vai curvandoCo' a ternura Brasileira.

Mal piso sobre os Elisios,

Outra sombra companheira

Chega, pasma, e não conhece

A ternura Brasileira.

Eu vejo a infeliz RainhaQue morre em ampla fogueara

^

Por não achar em EneasA ternura Brasileira.

Do mundo a ultima parte

Não tem frase lisongeira,

As três que a tem nâp conhecemA ternura Brasileira,



Do mundo a ultima parteFoi sempre em amar primeira,P<Sde ás tíes servir de exemploA ternura Brasileira.

TEIMA,

A.H Nerina desdenhosaSemprç dura ás leis d^amar.Pois ostentas de dureza

Teimando te hei de abrandar.

Assini como gota a gotaAgua a pedra vai

cavarTambém eu com terDo prantoTeimando te hei de abrandar.



/ (31 )

Se tu teimas em fugir-me

Eu teimo em te procurar,

Vencerei teima com teima


Os suspiros que eu exhalo

Sempre a ti hao de chegar

E á força de meus suspiros


Novo modo de finezas

Ind' Amor me ha de ensinar,

Quer tu queiras,quer não queiras


Não se compra a pouco preço

Hum bem raro , e singular

Inda que me custe muito


A's industrias de hum amante

He diíiicil d'escapar,

Com as artes dos Amores




( 32)

Ah Nerina graciosa

Vê que tudo hei de tentar,

E me diz Amor que hum diaTeimando te hei de abrandar.

Sei que o tempo vence tudo,No tempo hei de confiar,

Nâo perdendo nunca tempoTeimando te hei de abrandar.



VIOLA DE LERENO.

Vol. II. Num. 4.

Juramento a Nerin.

F,ORMOSA NerinaJurei adôFâr-te^

Nâo hei de faltar-te

Nerina eu jurei.

Deixar-me bem podesSein causa que baste.

Que tu não jurasteNerina eu jurei.

Vol. II.



(2)Meu bem não duvides

Da minha ternura y

Bem vês que fé pura

Nerina eu jurei,

Remli por meu gosto

A livre vontade,Nâo ter liberdade

Nerina eu jurei.

Se queres mais votos

Eu vou leaova-los .,

Qu' illezos gaarda-los

Nerinaeu jurei.

De nunca mais dar-te

Motivo ao ciunte,

De Amor sobre o lume

Nerina eu jurei.

Meu bem não te assustes

Da longa distancia.

Perpetua constância

Nerina eu jurei.



Bem pouco m' importa

As mais da campina>

Amar só Nerina

Nerina eu jurei.

Debalde se empenhemIndustrias, e arte.

Que sempre adorar-te

Nerina eu jurei.

Ternuras, Amores,Constância e disvelios.

Por teus olhos bellos

Nerina eu jurei.

De nunca faltar-te «

Meu bem ao respeito^

Pondo a mão no peito

Nerina eu jurei.

Sobre a mão mimosa

Impondo os meus dedoSjEternos segredos

Nerina eu jurei.



( *

Os montes visinhos

Ficarão soando,

C os ecos de quando

Nerina eu jurçi.

Pararão suspensas

Aç aves nosares.

Quando ante os altares

Nerina eu jurei.

O Tejo pasmado

Susteve a corrente,

Quando assim contente

Nerina eu jurei.

Meu bem não recuses

Que eu seja perjuro,

Não falto ao que juro

Nerina eu jurei.



( 5 )

Linguagem dos olhos.

Oe queres saber NerinaO que tem meu coração

Repara bem nos meus olhos

Os meus olJxos to dirão.

Quando o perverso ciúmeLhe causar perturbação,

Verás perturbar-se a vista

Os meus olhos to dirâp.

Quando eu sentir no meu peito

Alguma consolação.

Com hum volver brandamenteOs meus olhos to dirão.



(OAo sentir as dores tristes

Da triste separação,

Com as lagrimas pendentes

Os meus olhos to dirão.

.1

Se o coração inquieto

Sentir nova inquietação

He novo desasoçQgo ..

Os meus olhos to dirâõ.

Nâo precisas qtie eu te faça

Co' a voz sincera expressão.

Os meus olhos tudo explicão


Ou tenha doce alegria

Ou soíFra amalpga aíRicçâio,

C um volver ancioso, ou meigo




Effeitos da Saudade,

Uos meus males o remédio

Ninguém sabe , e só eu sei

Os meus males são saudades

Se me faltas morrerei.

Ah meu bem se te não vejo

Dtè saudades morrerei.

Tanto á tista dos teus olhos

Os meus olhog costumeiQue elles disso me sustentâo


Ah &c.

Salamandra do seu fogo

Nelle só me nutrirei,

Duro emquanto dura a chama


Ah&c.



mmtm*r

(S)

Mais algum outroremediaJNTâo procuro , nem terei

,

Só tu és a minha vidaSe me faltas morrerei.

Ah &c.

Tanto a minha co' a tua almaPor Amor eu misturei

Que he só huma , e tu a guardasSe me faltas morrerei.

Ah &c.

Do momento de não vêr-teO meu mal principiei.

Se elle muito continua

Certamente morrerei.Ah &c.



( 9 )

Talvez que eu me explique.

EscuTA Nerina

A voz da verdade,A minha saudadeEu quero dizer.

Eu quero pintar-te

Ternuras , AmoresSuspiros , e dores

Mostrar se eu poder.Talvez qu' eu não possa,

Talvez , talvez.

Attende ao retrato

I)o qu' eu por ti sinto

Oue tudo o qu' eu pinto

Hecopia fiel.



- ^Mimfii-.iiimi

(10)

Verás da saudadeO eSeito violento

Verás meu tormento

Em triste painel.

Talvez &c.

Fugirão comtigo

Minhas alegrias,Fugirão os dias

De gosto e prazer.

A dôr da saudade

Minh' alma destroça,

E eu temo que possa

Sem ti mais viver.

Talvez &c*

Huns sustos contínuos

Me agitâo o peito,

E faz-me este effeito

Faltar-me o meu bem.



{ n )

Teu triste LerenoDesmaia , em fim morre

Se não o soccorre

Piedade d'alguem.^ Talvez &c.

O próprio remédio

Da minha saudade,Eu fallo verdade

Nerina não sei.

SÓ pôde mudar-me

O pezar em gosto

G vêr o teu rosto

Equando o verei ?

Talvez &c.

Será oh Nerina

Talvez muito tarde

E a luz que em mim arde

Vejo amortecer.

/ aoí>o^



( 12 )

O lume da vidaJá sinto apagar-seTalvez conservar-se

Não possa mais ser.

Talvez &c.

Segredo baldado.

G,ENTiL NerinaTeus olhos bellos,

De Amor e zellos.

Morto me tem.

Ser meus promettemFaltâo-me logo,

Sinto o seu fogo

N'outros arder.

Guardo segredo

Não saiba alguém.Porém qu' importaSe todos vêm.



( 13 )

Occiíltar quero

De Amor oeíFeito^

Dentro do peito

Tudo conter.

Tu bem conheces

Quanto eu o encubro^

Que não descubro

Nada a ninguém.

Guardo &c.

Tu és NerinaGentil pastora,

Porém traidora

Também tu és.

O Ceo que unira

Ao gesto grato

Hum génio ingrato.

Meus males fez.

Guardo &c.



•*«/.•

•*',

Que pouco importâo

Lindos cabellos.

Os olhos bellos

E a cor que tens ?

Quç importa hum corpo

Raro e perfeito,Se tens no peito

Alma cruel?

Guardo &c.

l {

m

Fosse antes meáos

Tal formosura

Fosse mais pura

A alma , e fiel.

Hilma belleza

Tyranna e injusta,

A' minha custa

Sei o que he.

Guardo &c.



(15)

Estuda a graça

De ser constante

Se mais galante

Quizeres ser.

A variedade

No meu conceito,He hum defeito

De aborrecer.

Guardo &c.

D U V I D AS,

x\ ERiNA em m' encontrando

Muda do gesto a còr

Que sentimento he este?

Ah será isto Amor!

As vezes branda e meigaA vista em mim vem pôr.

Mas vê-me olhar e foge

Ah será isto Amor



( 16 )

Reveste-se em me vendo

De orgulho encantador.

Quando me vou suspira,

Ah será isto Amor

Se acaso de ternuras

Questões lhe vou propor,Nada responde , e olha

,

Ah será isto Amor

Se trago curioso

Do prado a linda flor

Por tempos a conserva

Ah será isto AmorSe vê que failo a outra

A' outra tem rancor,

Ou volta a vista ou vai-se,

Ah será isto Amor!

Mil vezes me mistura

O agrado com rigor,

Ah ! será isto hum brinco ?

Ah será isto Amor



( 17

Do coração das bellas

Dirão bellas melhor.Por compaixão dizei-me

Ah será isto Amor?

O que he saudade.

V,ENHA cá senhor CupidoFalle huma vez a verdade.Eu já sei o que he Amor,Ora diga o que he saudade?

He o que sentesNo coração,

Pode sentir-se

Dizer-se não.

VOL. II. H



%-

C 18 )

Cuidar que tenho no peito

Do coração só metade

Este mal como se chama?Ora diga o que he saudade ?

He &c.

Esta loúca impaciência

N'huma e n'outra sociedade,

Desejar ver quem não vejo,

Ora di£^a o que he saudade.

He&a

I':

1/

Este fastio de tudo

Para nada ter vontade5

Só appetecer Nerina,Ora difira o que he saudade.

He &c.

Este fugir dos prazeres

A' que alguém me persuade,

Récordar-me os que já tive.

Ora diga o que he saudade.He &c.



(19)

Achar mais long-os os dias.

Odiar a claridade

Contar as horas da noite,

Ora diga o que he saudade.

He &c.

Cantar no campo o seu

nome ^Repeti-lo na cidadeTer fernezi de lembrança,Ora diga o que he saudade.

He &c.

Vêr e ouvir mil Ninfas bellasSem que nenhuma me agrade

Desejar somente a minha.Ora diga o que he saudade.

He &c.

Não o diz, senhor Cupido,Tem pouca sinceridade

,

Não importa que não diga,

Qu' eu entendo que he saudade.



( 20 )

Perguntas a Nerina.

o_ 'ra dize-me Nerina

Que não ouve aqui ninguém

Tu estimas tanta gente,

Mas qual delles amas ? quem ?

Dize Nerina

Dize meu bemQual delles amas,

Dize-me quem?

Hei de dar ao mais ditoso

Invejado parabém;

Tu bas d^ gostar de ouvi-lo.

Mas qual delles amas? quem?Dize &c.



( 21 )

Os tens ollios^ en^^raçados

Mil favorecidos tem

A muitos fazes favores,


Dize &c.

A alguns fazes teus desprezos,

A alguns tratas com desdém ;

Mas qual de lies aborreces ?


Dize &c»

Huma sentença piedosa

Muitos em teus olhos lêm

Humacerta os mais se enganâa,


Dize &c.

Na grande amorosa turba

Entro c' os outros tambémEntro na conta dos outros.

Mas qual delles amas? quem?

Dize &c.



( 22 )

Que eu não sou o escolhida

Suspeito, e suspeito bem;Invejo a sorte dos outros.


Dize &c.

Soffrer calando.

N,ERiNA queixa-se

Deque eu m' esqueço

E eu bem conheço

Que he por brincar.

Não queira ella

Que nas desculpas,

Eu enfadado

Lhe mostre as culpas;

S' estou calado

Deixe-me estar.

is^"A i



•

( 23 )

Eu soffro , e calo-mèNâo digo nada

E ella ateimada

Em m' enraivar.

Nâ(>&.c..

Embora ria-se

Do meu tormento,Que o soíFrim^nto

Me ha de vingar.

Não &c.

Nerina lembre-se

Que Amor me deve^

Se nâo se atreve

Tanto a negar.

Não &c.

Zombando nega-me

Os meus extremos,

Contas faremos

Tem que pagar.

Não &c.



ih

(24)

Nerina juíg-a-seDe culpa isempta.Crimes inventaPor me culpar.

Nâo &c.

Nerina creia-me

PoreJJa

o juroQue Amor mais puroNâo ha de achar.

Nâo &c.

Em fim aposte-seSobre a constância^Nâo he jactância

Hei de eu ganhar.

Nâa &c.



(25 )

Coração palpitante.

AH Nerina ! Tu não sabes

Do meu peito a confusão,

JMem o modo porqu' eu sinto

Palpitar-me o coração.

Pôe sobre este afflicto peito

A linda e nevada mão,Sentirás cruel NerinaPalpitar-me o coração.

Vê-^se nos meus ternos olhos

A minha terna paixão

E até cuido se vê nelles




:'

I li

( 26)

Tu Nerina és o motivoDa minha inquietação,

E eu sinto por teu respeito


Quando os teus formosos olhos

A mim voltados estão

Sinto -então mais inquietoPalpitar-me o coração.

Quando vejo nesses olho^

Algum signal d^afflicçâo.

Sinto d' improviso susto


Quando eu vejo alheia bocaBeijar-te a nevada mão

,

Sinto a impulsos do ciúmePalpitar-me o coração.

Se alguns favores supplíco

E tu me dizes que não,

Sinto então mais desmaiadoPalpitar-me o coração.



1^

(27)

Vejo as outras socegadoSem sentir perturbação,

Mas sinto logo em te vendo


Não sentia antes de vêr-te

Esta doce commossão

Fazes assustado e meigoPalpitár-me o coração.

Pura fé assim te juro.

Terá sempre duração,

Em quanto eu sentir no peito




(2a)

Choro eu, e a ingrata brinca.

Eu já tenho raiva a AmorQue me faz assim andarTu sem mim sempre brincando.Eu sem ti sempre a chorar.

Vê tu que troca,

Tu a brincar,Eu sempre aíflicto,

Sempre a chorar.

Quando foges dos meus olhos

Sinto-os de pranto banhar,

Vejo-me na dura ausência

Eu sem ti sempre a chorar.

Vê &c.

^-^ í



C 29 )

Vais doces alegres horas

Com outro alegre passar,

E fico em quanto te alegras


Vê &c.

Vais c' os olhos que me alegrão

Outros olhos alegrar

E nem t' importa que fique


Vê&c.

Talvez pelo teu socego

Meu Amor queiras julgar,

Inda mal que me vêm todosEu sem ti sempre a chorar.

Vê &c.

Surge o dia dentre as ondasVai-se outra vez mergulhar

,

Vejo-o vir, vejo-o esconder-se

Eu sem ti sejnpre a chorar.

Vê&c.



( 30 )

Ouço as aves namoradas,Humas com outras cantar,

E ellas me vém sempre triste


Vê &c.

Vem-me os alegres pastores

As tuas graças cantar,

Tu com elles divertida


Vê &c.



(31 )

L U N D UM.

Gentes de bem pegou nelle.

CANTIGAS.

A MOR, O travesso AmorFugia nusiiiho em peIJe,

Cahe aqui, cahe acolá,Gentes de bem pegou nelle.

O Amor fez travessuras,

A mâi quiz cliegar-llie á peíle

Elle fug-io coitadinho,


Coitadinho! aonde irá?

Temo que alguém o atropelle,

Gentes de bem o accommoda,Gentes de bem pegou nelle.



( 32 )

Já nâo tenha dá de AmorQuem Amor mesmo assim zelle

,

Está muito bem g^ardado^

Gentes de bem pegou nelle^

Onde está meu coração

Quiz unir-se a este e áquelle.

Mesmo no meio dos outros,


Amor de que eu tinha dó

Faz qu' eu assim me arrepelle^

Hia levando-o roubado,


Sahio-me o meu coração

Sem rasgar do peito a pelle,

Pelos olhos me sahio




VIOLA DE LERENO.

Vol. II. Num. 5.

RETRATO DE TIRCE.

DA bella Tirce

Perfeições raras

Cora vozes claras

Quero cantar.E quem nâo ha-de

Tirce adorar?

Traz enlaçados

Finos cabellos,

E os olhos bel los

São de matar.

E quem &c.

VoL. IL



(2)

Amor nas faces

Trabalho teve.

Nácar e neve

Foi misturar.

E quem &c.

Hé sua boca

Partido cravo,

Em doce favo

Mel singular.

E quem &c.

Sobre columna

De neve pura

Que se seguraDe Amor no altar.

E quem &c.

No lindo seio

Cuja candura

Huma alma pura

Mostra guardar.E quem &c.



(3)

o airoso garbo

Do corpo todo.

Não tenho modoPara o pintar.

E quem &c.

Inda não vira

Esta espeçuraIgual figura

Belleza igual,

E quem &c.

Em quanto houveremFreixos sombrios

Em quant' os riosForem ao mar.

E quem &c.

Ha de ser Tirce

Sempre adorada,

Sempre cantada

Tirce será.

E quem &c.



CO

Moribundo de Amor.

N,lo digo OS meus malesNem hei de dizer

Mas mesmo em segredo

Me sinto morrei

Procure o rem(Quem ama o viver,

Qu' eu bem por meu gostoMe sinto morrer.

Ha muito que afflicto

Não sei que he prazer,

E ás mãos da tristeza

Me sinto morrer.



( 5 )

Tentou minha sorte

Hum mixto fazer ^

De Amor e ciúme

Me sinto morrer.

Agourâo-me muitosHum longo viver,

Mas eu pouco a poucoMe sinto morrer.

Se a minha NerinaJá morto me querSeu gosto se cumpraEu quero morrer.

Eu sinto em meu peito

Ciúmes arder,

Nerina os aviva

Eu quero morrer.

Se ainda hum instante

Me ouvira se quer,Dissera-lhe o comoEu quero morrer.

1



{<

Se tanta durezaNâo posso vencer,A morte he remédioEu quero morrer.

Se o modo de morteMe dão a escolher

Nos seus mesmos braçosEu quero morrer.

K



(')

Doudice de Lereno retratando

Nerina.

V-/UVI a LerenoOh ternos pastores

Que louco de AmoresCorrendo a campina

Por sua Nerina

Sempre anda a bradar

Nerina , Nerina

Ah ! vem escutar.

Já falia nas tranças

Já nos olhos bellos,

Já dos negros zellos

Co' a fúria ferina

Por &c.



(8)

Quando vê no pradoAs purpúreas rosas.Nas faces formosasD' amada imagina.

Por &c,

Se os rubins encontra

Se as perlas luzentesLhe lembrâo os dentesE a boca divina.

Por&c.

Quando a íilomellaDe hum ramo lhe cantaI-he lembra a

gargantaQue solta a voz fina.

Por &c.

Se vê as espumasDa onda enrolada

,

Lembra-lhe a nevadaPorção peregrina.

Por &c.



C 9 )

Quando o brando ventoArbustos meneia.Cuida que passeia

Seu bem na campina.

Por&c.

Se vê como a vide

C o olmo s' enlaçaParece que abraçaA amada divina.

Por &c.

Por vê-la presenteSe afflige e trabalha

,

E o seu nome entalha.Na faia mais dina.

Por &c.

Ern altos clamoresPublica seus males,Nos profundos valles

En'alta

collinaPor &c.

#1



(10)

Temei oh pastores

De Amor o veneno

Que ao pobre Lereno

Tanto desatina,

Que só por &c.

Nem trata a lavoura

Nem guia o reb^^nho

Neste mal tamanho

Os seus dias fina:

E só por &c.

K



m

C H )

Testamento de Lereno.

M.ORRE O triste Lereno5

De mal de Amor,E dos beDS que possue

Quer já dispor.

Ah. ! sorte ingrata

^ Morre o triste Lereno,Nerina o mata.

Quer que o seu coraçãoPuro e perfeito

Deposite Nerina

No niveopeito.

Ah! &c.

''

!'



( 12)

Ha de a turba de AmoresA companha-Jo

E os ardentes desejos

Ailumia-lo.

Ah! &c.

Ha de haver pela morteTristes signaes

,

De magfoados suspiros

E tristes ais.

Ah ! &c.

Deixa a sua memoriaA's que se esquecem

Dos males que por ellas

Outros padecem.

Ah ! &c.

Seus suspiros ardentesManda espalhar.

Entre mil que nâo sabem

Nem suspirar.;Ah! &c.

^,



( 13 )

Os seus desejos purosManda que sejâo,

O legado daqueJJes

Que mal desejão.

Ahl &c.

Repartir pelas damasManda a ternuraQue nâo fique nenhumaCruel e dura,

Ah! &c.

E das suas finezas

Deixa Luma norma,

Para qu' outros as facãoDa mesma fórma.

Ah! &c.

Deixa para partir-seA gratidão,

Que he alfaia que muitosPrecisarão.

Ah! &c.

m

>

ij



(14),

Deixa á mesma Nerina

Pelo matar,

O desejo que tinha

De mais a amar.

Ah ! &c.

Assim morre Lereno

De mal de AmoresNâo vos esqueçais delle

Ternos pastores.

Ah! &c.

Despedida para sempre.

NERiNA , a cruel Nerina

Cançou-se d'ouvir meus ais,

Não quero também cançar-meAdeos para nunca mais.

W-



( 15

Ella intenta confundir-meC os meus ditosos rivaes

Eu lhes deixo o campo livre

Adeos para nunca mais.

Cupido, falso Cupido

Destruidor dos mortaes.Já teus enganos conheçoAdeos para nunca mais.

Já não opprimem meus pulsosluas algemas fataes

,

Quebrou-mas o desenganoAdeos para nunca mais.

Nâo has de vêr em meu rostoJJa minha dôr os signaesEste o ultimo suspiroAdeos para nunca mais.

Engana com vans promessasJisses crédulos mortaesQu eu já vou desenganadoAdeos para nunca mais.

m



'W

( 16 )

Assas aprendi de ArmindaMas de Nerina inda mais,Ensinárâo-me a fug*ir-lhe


A' paz e á liberdade,

Virtudes celestiaes,

Voltei meus vindouros dias


FANFARRONADA.

cANTEi NerinaQue inda cantais.

Mas foi zombandoE nada mais.



(17)

Tinha de falsa

Muitos signaes,

Quiz conhecê-laE nada mais.

Fingi ciúmesFingi rivaes,

Tudo foi brincoE nada mais.

Ternos suspirosTristes ais

Forão por farçaE nada mais.

Amor que fere

Tantos zagais,

Me divertia

E nada mais.

Já no meu gado

Nos meus curraesTenho o cuidadoE nada mais.

VoL. IL K



18)

Chorei as suas

Anciãs mortais.

Por piedade

E nada mais.

Hoje aborreço

Aos que enganais

Amei a verdade

E nada mais.

Vos prometíeis

Ternos jurais

Tudo são vozes

E nada mais.

Vós repetis

E protestais

Mas tudo he teima

E nada mais.

De terno pranto

Se vos banhaisHe por costume

E nada mais.



(19)

Nada de AmoresJá me digais,

Qu\eii rio e zombo£ íiada mais.

RETRATO DE NIZE.

N,iZE formosaQuem te nâo vê.

Não sabe aindaBeJieza o que he.

Nâo ha beJIeza

Como a que tens

Pastoras lindas

Ha, qu' eu bem sei,Mas quem te igualeNunca eu achei.

Nâo &c.



(20)

Lourp cabello

N'outras se vê,

E o teu tem mais

Hum não sei que.

Não &c.

Dos lindos olhos

Qu' hei de eu dizer?

Por mais que diga

Pouco ha de ser.

Não &c.

Das suas luzes

Copia fiel

Não pode dar-lheTodo o pincel.

Não &c.

As lindas faces

H#hia côr temQue humanas cores

Não pintão bem.Não &c.

P^



( 21 )

Doces palavras

Vós só podeis

Na linda bocaDe Amor dar leis.

Nâo &c.

Pintar-te

opeitoVou a tremer,

Que essa pintura

Tem que fazer.

Nâo &c.

Nâo, não o pinto

Haja o que houver,

Porque o respeitoMe faz nâo vêr.

Nâo &e.

Nâo sei pintar-te,

Nize bem vês

Prostrar-me absorto

Aos lindos pés.'Nâo &c.



( 22 )

Tintas grosseiras

Nâo te convémNâo te retrato

Nâo pinto bem.

Nâo &c.

Linguagem do segredo.

FAÇAMOs nova linguagemNerina seja qual fôr,

Para explicar em segredoSegredos do nosso Amor.

Haja cautella

QuVeu tenho medo,Nâo se descubraNosso segredo.



(23)

He preciso ter cautela

No prompto mudar de côr,

Qu' essa mudança descobre

Segredos do nosso Amor.Haja &c.

Nao mostre o turbado rosto

A confusão interior,Nem inda ponha em suspeita

Segredos do nosso Amor.Haja &c.

Basta hum terno volver d'olhos

Sem applicaçâo maior,

Qu' explicasse furtivamenteSegredos do nosso Amor.Haja &c.

Suspenda-se a ligeireza

D' hum suspiro voador.

Que solto faz que se entendâo

Segredos do nosso Amor.

Haja &c:



( 24)

Tomemos hum tom galanteTom alegre e mofador,Que explique como zombandofcegredos do nosso Amor.

Haja &c.

A occasiáo he mestra

E lhe ha de ensinar melhor,O modo de se explicaremSegredos do nosso Amor.

Haja &c,

Cautélla gentil NerinaNâo nos queiramos exporPorque muita gente

espreitaSegredos do nosso Amor.Haja &c.



(25)

Nâo enganar.

vy UEM quiser saber se eu amoRepare em meus oJhos bem

Elles dizem quanto eu sinto

Náo SQU d'enganar ninguém.

Estes meus olhos declarãoTudo quanto esta alma tem,Inda bem que elles o dizemNão sou d'enganar ninguém.

Nâo me canso com disfarces

Digo Amor se quero bemSeja aceito ou nâo aceito

Nâo sou d'enganar ninguém.

í



C 26)

Eu me alegro com carinhos,Eu m' enfado com desdémMostro enfado , mostro gostoNâo sou d'enganar ninguém.

Sei que terno fingimentoA muito amante convém

Mas nâo sei fingir paixõesNâo sou d'enganar ninguém/

A minha gentil NerihaGosto delia, he o meu bemNâo posso gostar das outrasNâo sou d'enganar ninguém.

Se a minha adorada ingrataDer signaes de amar alguémEu náo querx) Amores d'outremNâo sou d'enganar ninguém.

Se ella nâo quer estimar-meHe seu gosto faz mui bem

Mas nâo espere qu' eu soífra

Nâo sou d'enganar ninguém.



(27)

FELIZ SEREL

Traducçâo ampliada.

JL ERNissiMos aífectos

Cuida de conservar-me

Cuida meu bem de amar-meNo mais eu cuidarei.

Palpita-me no peito

O coração amanteE Amor a todo o instante

Diz qu' eu fefe serei,

:Conserva huma fé pura

Qual tu me prometteste

O teu cuidado he este

No mais eu cuidarei.

j



i:

( 28 )

Espero que a meug rogosSe compadeça o fadoE se eu for sempre amadoEntão feliz serei.

Lembra-te o que jurastesE o que eu ouvi attento

Cumpre o teu juramentoNo mais eu cuidarei.

Se tu nâo te esqueceresDos votos que fizeste

"Cumprindo o que dissesteMuito feliz serei.

Lembre-te qu' eu te entregoA minha liberdade

,

Guarda fidelidade


Nâo temas, nâio te assustesDe acasos,

de successosProsegue os teus excessosQue inda feliz serei.

fô-



(29 )

Contenta-te por ora

Do meu fiel protesto,

Deixa o temor funesto


Espero que se torne

A sorte mais piedosa,

Tu serás mais ditosa

Eu mais feliz serei.

Esperanças de alegiria.

V,EJo a Felino,

Filis € Arminda,

Mareia, Lorinda

Todos brincar.

Só eu padeçoTriste agonia,

Virá hum dia

De me alegrar!



C 30 )

Pastoras bellas

Ternos pastores,

Meigos AmoresVâo contentar.

'Só &c.

Da beir amada

Segue hum os passos

,

E nos seus laços

Vai-se enlaçar.

Só &c.

Na linda face

^ A boca imprime

Quemnâo

faz crimeDo terno amar.

Só &c.

Bosques ditosos

Vós mui bem vistes.

Os que hiâo tristes

Ledos tornar...

Só &c.

V



(81 )

Cara Nerina

Quant' os invejo.

Se assim os vejo

Juntos estar

Só &c.

LUNDUMDE CANTIGAS VAGAS.

hanha' eu digo a vocêDiga-me você a mim

,

Estou morrendo de AmorEstará você assim.

ESTRIBILHO.

Diga nhanháSerei feliz?

Eu tenho dito

Você que diz?



(32)A*s vezes não pode a boca

Tudo o qu' eu sinto dizer,Fonho o coração nos 0JI105Pode alli nhanhá vir vêr.

Dig-a &c.

_ Ponha a mâo sobre o meu peito

Porque as duvidas dissipeSentirá meu coraçãoComo bate tipe , tipe.

Diga &c.

Nâo cuide nhanhá não cuideQu elle seja pequenino

He mui grande, mas por medo-Bate assim de vagarínho.

Diga &c.

Se você quer anima-JoVerá que bate mais forte

,Qu' em você o consolandoHa de bater d^outra sorte.

Diga &c.

i;h



VIOLA DE LERENO.

rol. II. Num. 6.

MAL SEM REMÉDIO.

N,ERiNA , cruel NerinaTem dó de minha afflicção,fee tu nâo a reniedêasJá nâo tem remédio nâo.

Amor teve gesto e arteDe prender meu coraçãoA seu sabor

o atormenta'Já nâo tem remédio nâo

VoL. IL

J



í !•

fí

C 2 )

Eu appelo ao desenganoMas he hum cJamor em vão^JVem deseng-anos me valemJá nâo tem remédio nâo.

Lavrou de Amor o venenoDentro deste coração

O meu mal he mal de morteJá não tem remédio nâo.

Eu bem cuidei qu' escapavaDe Amor á dura prisão

^

Enganei-^me estou cativoJá nâo tem remédio nâo.

Tu podias se quizesses

Ser minha consolação,

Tu bem podes mas não queresJá nâo tem remédio nâo.

Desgosto sobre desgostoAffliccão sobre aíílicçâo

Tem-me consumido a vidaJá nâo tem remédio nâo.

7/--^^-.,



(

N^òs meus olhos TnoribundosMostro a força da paixãoE este triste abatimentoJií iiâio tèm remédio nâo.

O se?' ynulher faz temer.

o MEU bem tem tantas prendasUilántas ha qne appatecer,Estou mais que satisfeito

Mas em fnii sempre he mulher.

Por discreta e por formosa

Tem muito que ouvir e verTem mais e mais que se admireMas em fim sempre he mulher.



(4)

O seu Amor nao tem preçoNâo pôe termo a seu quererA sua constância he raraMas em fim sempre he mulher.

Deo-me hum dia hum certo abraçoEm penhor do seu querer

Infalhvel segurançaMas em fim sempre he mulher.

Voltar-seomundo he mais fácilE inda a fria zona arder.Que o meu bem mudar d'aífecto

Mas em fim sempre he mulher.

He tal a nossa amisadeQue hum deseja o que outro quer,As vontades se adivinhâoMas em fim sempre he mulher.

Nesta amorosa porfia

Qual de nós ha de vencer ?

Eu em fim sempre sou homemElla em fim sempre he mulher»



(5)

Semsahoria de Amor,

JOjv vivia divertido

Antes de entregar-me a Amor.Mas elle me tornou triste

E me fez mui semsabor.

Depois que eu vivo

Sugeito a Amor,Vivo mui triste

Mui semsabor.

Nerina que <liz que he minha

Sei que tem outro senhor

Não posso gostar do engano

E fiquei mui semsabor.• > \ Depois &c.



Vejo íingidos agrados

^ as vezes também rigor,l^^ías paixões mentirosas'

ine tem ípíto semâbor.

Depois &c.

Eu vejo a falsa Nerina

As vezes mudar de côr, ~ ^f

Caído que he Amor, e he raiv^'iicp eiHâo mui semsabor.

Depois &cv

Se chorando a chamo ingrataVai de mal para peior,iJobra o

crime em vez da emendar-^ me deixa; sjemsabor.

L íêpois. &c.

Eu sinto dentro em meu peitoDe A mor puro intenso, ardor^- elia fria como.nevelâz-me ficar semsabor,

^^.

^

Jêpois &c.



(7

RETRATO DO MEU BEM.

X ois que o lindo original

Meus tristes olhos lulo vêm,

Quero ao menos consolar-me

C/ o retrato do meu bem.

Mas quem ha de retrata-la?

Quem se atreve a tanto qUem ?

Quem ha que possa pintar

As perfeições dó meu bem.

Pinte a minha failtezia

Só a ellá isso convém,Qu' ella sempre anda occupada

Nas idéas do líiéú hêiú.'



I

C ^ )

As suas formosas trançasfee tao Jinda graça tem

,tie que as graças enfeitarão^s cabellos do meu bem.

^ Os olhos da minha amada^ativâo quantos os vêm

iNinguem fica em liberdadeVendo os olhos do meu bem.

As faces as lindas faces-Em que neve e rosas temfeao mimos da naturezaQue se apurou no meu bem.

Por entre hum rubim partidoAs pérolas todos vêmQue adornâo a graciosaLinda boca do meu bem.

Quem verá seu niveo seio^em sentir Amores

quem ?Se os Amores se recolhemH^ntre o seio do meu bem.



( 9

Ah ! ninguém se chegue a elle

Que hum fatal encanto temParece neve e tem fogo

Com que me abrasa o meu bem.

Nâo posso dizer do maisQue nunca os meus olhos vêmQue digão sò meus. desejos

O que suppôe no meu bem.

Outra assim tão linda e bella

Todo este campo não temNem que possa eomparar-se

Com as bellezas do meu bem.

Não quero dizer o nomeQue dize-lo não convém

,

Basta só que este segredo

Saiba-o eu, saiba-o o meu bem.

.ááiioSv,



k

i10

f

Merecimento d'Amor ^ Amor,

í I 4Jleu bem para conseguir

De ti tudo quanto intento,

JBasta-me somente amar-te

Que Amor he merecimento.

Eu nâo disputo c' os outros

Riquezas nem nascimento

Mas mereço mais que todos

Se Amor he merecimento.

Se queres amante rico

Farta esse génio avarentoMas hum amante assim firme

He de mais merecimento.



( M )

Não cuidas tu qu' eu me gabo

Porque ieiiho algum talento,

Offreço-te hum Amor puro

Este he meu merecimento.

Depois que vi os teus olhos

Perdi m.eu entendimento,

Mas esia mesma loucura

He maior merecimento.

Por mais e mais que me façafii

Eu queixar-ine' não intento,

Que padecer e calar

He grande m.erecimento.

Não, cu ides que o qu' eu te digo

São patraiil>as qu' eu invento

H^ tudo pura verdade

E tem seu merecimenta. ^

Has de vêr-te rodeada

De amantes a cento e cento.Mas se tem menos AmorTem menos merecimento.



i

(IS)

<Ta accendeste em minha almaDoce fogo , occulto , e lento

Foi crescendo a minha chamaCrescendo o merecimento.

Tu bem vês que os meus suspiros

Voâo nas azas do vento

Vê que o saber suspirar

Também he merecimento.

Vê cruel este meu rosto

Descorado e macelento,

Morro em fim , mas esta morteFaz o meu merecimento.

^Deo-te o Ceo immensàs > graças

E foi comigo avarento

Deo-me hum puro honesto AmorQue he o meu merecimento.

I



( 13)

Olhos sócios do segre(h.

J^-^iNDOS olhos engraçados

Lindos olhos do meu bem ,

Todos vêm qu' eu de Amor morro

E só vós sabeis por quem.

A ternura da minh' almaMuitos em meus olhos lêm.

Muitos sabem qu' eu me inÒamoE só vós sabeis por quem.

Assim vós olhos não fosseis

Cheiosde

tantodesdémTodos ouvem qu' eu suspiro




^1

Cli

A alegria repentinaQue ao vêr-vos meus oJhos tem,Todos errâo por quem sejaE só vós sabeis por quem.

Assim como me alegraisVós m' entristeceis também

Vem-me alegre , vem-me triste


A' illustre Amarina.

GORREi ás margens do Tejo,Gentis Ninfas e pastores

,

Que tem o Deos dos AmoresNovo

assumpto que vos dar.

Amarina , AmarinaAmor nos manda cantar.



< J5 )

Quer que sôe alegrementeNossa voz nesta campinaE que o nome de AmarinaOuça o Ceo , a terra , o mar.

Amarina, &c.

O seu coração illustre

De fortes laços cingido,Faz que esteja o Deos CupidoVaidoso de triunfar.

Amarina 5 &c.

Das suas setas ervadasNão a fere o golpe rude,

Só hum raio de virtudePoude o seu peito abrandar.

Amarina , &c.

Diz que de seus olhos bellos

A pura chama tirara,

Com que hum pastor abrasaraQue já yemos suspirar.

Amarina, &c.

í



(16)

Náo sâo enganosos laços

Que os corações lhe envolverão^As virtudes lhes tecerão

Prisão nova e singular.

Amarina, &c.

Depois de louvar as graças

Da sua gentil figura,

Mostra d'alma a formosura

Mais digna de se louvar.

Amarina, &c.

Fez vêr a seus pés prostrado

O que as idades consome.

De voz em voz o seu nomeFaz sempre e sempre soar.

Amarina, &c.



(17)

A' FORMOSA Ar MAN IA.

EM quanto a desgraçaMeus dias enluta

,

Armania escutaHum triste pastor.

Armania, ArmaniaEscuta, escutaHum triste pastor.

Tu soffres os tristesArmania adorada,A ti nâo te enfada

De hum triste o cJamor.Armania, &c.

VoL. IL M



n

I 1

yl

(18)

Ah!

sofíre que eu digaMiíihas desventuras.

Que não sâo ternuras

Nem queixas de Amor.Armania , &c.

A choça, a cabana

Os campos e o gado

Tudo isso o meu fada

Cruel me levou.

Armania 5 &c.

Alheias campinas

Eu corro vagando

Assim mendigando

Alheio favor.

Armania , &c.

O campo que vira

Teu primeiro dia^

Vio minha alegria

Que já se acabou.

Armania, &c.



Contra mifiii

raivosoO fado mesquinhoDa sorte o caminhoBem me embaraçou.

Aímania , &c.

Ao longe os prazeresEu vejo voando,

E voQ-me arrastandoDe mal em peior.

Armánia ^ &c.

Venturas sonhadasHe tudo o qu' eu vejo^

Nas margens do Tejo

Mendigo pastor.ArmáFiia, &c.

Já roto o ornatoFaltando o sustento

^

O fado cruento

Assim me tornou.

Annariia, &c.



;'/

(20)

As portas se fechãoQa eu busco mendigo

,

Negou-me o abrigo

Do Tejo o maior.

Armania, &c.

Em vão eu forcejo

Armania não posso,

Causar meu destroço

O fado apostou.

Armania, &c-

Se tu me não vales

Na extrema desgraça

Por muito qu eu faça

Não íioo melhor.Armania, &c.



(21 )

O desgraçado.

IVE a fortuna

Junto ao meu Jado,

Porém deixou-me

Sou desgraçado.

Eu era hum dia

Afortunado,

Mudou-se a sorte

Sou desgraçado.

A extravagância

He do meu fado.

Por seu caprixoSou desgraçado.



( Í22 )

Não tenho choçasNâo tenho gado^Vivo mendigoSou desgraçado.

Sou a desgraças

Tão costumado.

Que sem que o sintaSou desgraçado.

Mudo de vida

Mudo d'estado,

E n'um e n'outro

Sou desgraçado.

Não fui na patnaAfortunado

Na estranha terra

Sou desgraçado.

Em mim se yingaO Ceo irado,

SoíFro o castigoSou desgraçado.

>l

i'A



(23)

O perseguido : Endeixas.

x\ Ão te compadeces

Dos meus tristes ais^

Ah ! cruel fortupa

Inda queres mais,

Tiras-rae violentaD' entre os naturaes

Poem-me em terra estranha

Inda queres mÚB.

Pôes-me em pobre choça

Levas-me os casaes,

Tiras-meo meu gado

Inda queres mais.



Ií

M

(24)

Vejo á minha vistaOutro em meus curraes

,

Soífro-o com paciênciaInda queres mais.

Fazes que me humilheInda aos meus iguaes

,

Isto nâo te ba,sta

Inda queres mais.

Nem em paz me deixas

Os meus tristes pais

Que mais bem me resta.?

Inda queres mais.

Já sinto em meu peito

As anciãs mortaes,

Ah! cruel fortuna

E inda queres mais.

^'



mmmm^

(25)

Raivas de Lucinda,

u tens raiva dos teus olhos

Lucinda não tens razão,

Porque os teus olhos merecemMuito Amor, mas raivas nâo.

Raivas LucindaAh! isso nâo.

Tenhâo elles, ou nâo tenhâo

D'outros olhos compaixão,

De toda a sorte me causâo

Muito Amor, mas raivas nâo.

Raivas &c.



(26)

Ser ou nâo do teu agradoNão está na minha mão,O que está , he sempre ter-te

Muito Amor , mas raivas não.

Raivas &c.

Os teus olhos dão ás vezes

De sisudos a liçãoAntes seja o seu defeito

Muito Amor, mas raivas não.

Raivas &c=

Eu não sei meus tristes olhos

Se dão raiva , se não dão .

Porém sei que elles só querem


Raivas &c.

Talvez cruel te enraiveça

Minha constante paixão,

Vê que he premio da constância

Muito Amor ^ mas raivas não.

Raivas &c.

H



( 27 )

Ilida que quando eu supplícoSempre dizes não e nâo,

Inda assim siiito no peito


Raivas &c.

Se te enfadas c os teus olhos!

Por mostrar-meingratidão,

São lieis e antes lhes deves

Muito Amor , mas raivas não.

Raivas &c.

Todos os qne vêm teus olàos

São da minha opinião,

Teus lindos olhos merecem

Muito AmOF, mas raivas não.

Raivas &e.



i•!' (28 )

1)^

A N A R D A.

X^OR perder a companhiaDe Anarda gentil pastora.

Toda a gente desta aldeia

Soluça 5 suspira , e chora.

Soluça 5 suspira , e chora

Que Anarda se vai embora.

I\.-. !

t

A choça em que habita Anarda

Com eila a alegria mora,

Mas fica nella a tristeza


Soluça, &Co

Já não surge no horisonte

íklegre á vermelha aurora.

Tem razão de fugir triste

Jue Anarda se vai embora.

Soluça, &c.

•^i



( 29 )

O Solescondendo os raios

O claro dia não cora,

Veste as cores da tristeza


Soluça, &c.

Com as tranças gotejantes

Sahem as Tágides fora

E vem perguntar afflitas

Se Anarda se vai embora.

Soluça, &c.

Já nâo hei de ornar a fronte

C os mimos da Deosa Flora,

Hei de orna-la de cypréste

Que Anarda se vai embora.Soluça, &c.

Aviva cor d' alegria

Nos nossos rostos descora

Assombra-nos a saudade


Soluça , &c.



(30)

D A N S A.

V,iNDE pastoresAo Deos vendado ,

Que vem ao prado

Rir e folgar.

RESPOSTA.

Nós não queremos.

Bem conhecemosAmor tyranno,

He todo engano

Não 5 não nos queira

Mais perturbar.

Doces venturas

Vos offereceMil gostos tece

Para vos dar.

Nós &c.

'.]



(àl

Nâo traz o arcoNão traz a aljava,

Setas não crava

Náo quer matar.

Nós &c.

Se traz Marília

Formosa e bella

Ireis traz delia

A suspirar.

Nós &c.

AcompanhadoDa feiticeira,

Quanto elle queira

Ha de alcançar.Nós &c.

Aos olhos delia

Nada resiste

Vós não a viste

He singular.

Nós &c.



\ í.'

(32)

Ide render-vosAo Deos de AmoresNâo sâo favores

De desprezar.

Nós &c.

Néscios pastores

Se Amor se enfada,

N' aldeia nadaLhe ha de escapar.

Nós &c.

Em vão me canso

Oh! Deos de Amores,Livres pastores

Fogem de amar.Nós &c.

Mimos e gostos,.

Bens e esperanças,

Vejo por dansas

Ledos trocar.

Nós &c.

^1



VIOLA DE LERENO.

Vol II. Num. 7»

AMOR PERDIDO.

V^UEM acharia

O Deos Cupido,Que anda perdido

Ninguém o vê.

Busquem-no bem

Que eu dou de alviçarasO meu vintém.

Vol. II. N



(2)Guardava-0 dantes

Armiíida bélla

rloje nem ella

Amor já tem.

Busquem-no &c.

Nos lindos olhosAntes o via

,

Hoje onde iria

Cupido ter?

. Biisquem-nô &c.

Talvez da ingrata

Fugir quizesse,

E a não podesse

Assim soíFrer.

Busquem-no &c.

Se está de Arminda

Mal satisfeito ,

Torne a meu peito

Que he todo seu.

Busquem-no &c.

í



(OFallo verdadeTenho dó delle

Porque anda em pelle

Frio ha de ter.

. B«squei«-no &c.

Mas nâo tem frio

Antes flan^eja, >

Talvez esteja

Queimando alguém.

Busquem-aO' fec.

Chamem por elle

Que log-o acode ^

E nâo se pode

Muito escojidervBusq.uem-no &c.



CO

AIS DE CUPIDO.

V:iNDE 6 Ninfas

Ver o Deos Cupido,

Também já rendido

Como nós mortaes.

Já dá suspirogE tristes ais.

Vede o pobre

Posto aos pés daqliella.

Que ainda he mais bella

Que a divina mâi.

Já &c.



\

(5)

Vio ArmindaE ficou rendido

Já sente Cupido

O meu mesmo mal.

Já &c.

Pobre Cupido

Já não nos atira,Também já suspira

Chora como os mais.

Já &c.

Sente a força

Do abrasado lume

Com queociúmeNos vem devorar.

Já &c.

Deixa o arco

Deixa a dura aljava^

Já setas nâo crava

Escuto-o chorar.

Já &c.



wwTriniffWifí

li

COFujâo todos

Ninguém o soccorra,

He justo que morraComo quiz matar.

Já &c.

Gosto vê-lo

Prostrado e rendido,Já sente CupidoQuanto custa amar.

Já &G.



( o 1

A's medrosas de Amor,

yS Ão fujaeç lindas pastoras

Das ternuras de Cupido,

Nem deve o Deos dos Amores

Ser por vós 4esatteíidido.

V:êde que elle vos procura

Carinhoso e enternecido,

Nâo fujaes lindas pastoras.

Elle não he tão tyranno

Como vos tem parecido ,

Diga-o eu que alguns favores

Feliz tenho. cpn^eguido.

Os prazeres e asdoçuras

Reparte compadecido

>âO',fty^s lindas pastoras.



C 8 )

Os que dizem qu'elle mataCertamente tem mentidoforque muito bem gostoso'i^ôr Amor tenho eu vivido.

Nâo tenhais temores deJIeQaehecreança anda despido,IMao fujaes Jmdas pastoras.

Não vos façâo medo as setas;êm o arco retrocidoPorque Quando elle as despáraiôsta do golpe o ferido.

Não sabe a sua doçura

^ó quem a não temsentido,Nao fujaes lindas pastoras.

_ Ah pastoras que se enfadaPor nâo ser obedecidoE manda o duro desprezoContra vós enfurecido.

Se fugires ás ternurasTudo tudo está perdido,Nao fujaes lindas pastoras.



C 9 )

Se quereis viver gostosasComo nunca tendes sido

Amai,porque anda o prazer

Por niSos de Amor repartido.

Sâo maiores seus prazeres

Do que quantos tendes tido,

Nâo fujaes lindas pastoras

Das ternuras de Cupido.

AUSÊNCIA.

Dos meus tristes olhos

Corra o triste pranto,

Sem cessar em quantoNâo vejo o meu bem.


Triste pranto corra,

Ninguém me soccorra

Nâo chamo ninguém.

\

«MiiÉâi •P^



C 10 >

Pois da minha amadaTão distante eu vivo.

De pranto o motivo

A miBha alma tem.

Dos &c.


A amarga torrente5

. Torne amarga a enchenteDo Tejo também.

Dos meus olhos tristes

A torrente amargaFaça ainda mais larga

A que o Tejo tem.

Pois não vêm meus olhos

Aqueila que adoro,

Lagrimas que choro

Ide ver meu bem.Dos &c.


O pranto excessivo,

Torne compassivo

Quem Amor não tem.



( n )

Dos meus olhos tristes

O excessivo pranto,

Mostra a todos quanto

Custa o querer bem.

Síritlo de huma ausência

O effeitp tyraono,

Receiem o daranoQue em meus olhos vêm.

Dos &c.

Dos meus tristes olhos :^

Chorar he officio,

'\

Nem outro exercició

Aos tristes convém.

Dos meus tristes olhos .

O officio he chorar

Que este meu pesar

Alivio nâo tem.

Nâo vendo a quem amâo

Elles não socegâo.Nem jamais se empregão

Nos olhos de alguém.

Dos &c.



ti-itri-tf^-^rgi

C 12)

Dos meus tristes olhog

'

A tristeza he justaDe quanto me assustaHe causa o meu bem.

Dos meus olhos tristesWe justa a tristeza

,

^a vaga incertezaDo mal e do bem.

Tema o bem que adoroune a tyranna ausência.Me roube a paciência^ a vida também.

Dos &c.



(13)

DESESPERAÇÃO.

'ereno triste

De Arminda ausente.

ContinuamenteSe ouve bradar.

Eu sem' ArmindaNâo posso estar.

As horas passâo

E passa o dia,

Minha ag-onia

Não quer passar.

Eu &c.



C 14 )

Eu nada cuidoJá da manada5

Só minha amadaMe faz cuidar.

Eu &c.

Pouco me importaVér que esfaiinado

O lobo o g^ado

Me vem levar.

Eu &c.

Eu de mim mesmoAndo tão fóra,

Qae outros agora

Me hão de guiar.

Eu &c.

Faltão-me huns olhos

Dos meus o lumeSinto um negrumeNão vejo o ar.

Eu &c



Já me entristecem

Destros cantores 5

Só. meus Amores

Me hâo de alegrar.

Eu &c.

O cruel golpe

Da dwra ausência,Razão, paciência

Fez esperar.

Eu &c.

Buscar Arminda

He já preciso

E a vida , e ociso

Me ha de tornar.

Eu 'kc.



-^_s,H--'*r--'

( 16)

CONSELHOS.

EiscuTAi pobres amantesHum amante experienteA mulher que diz que aniaCertamente mente, mente.

Porque os homens são sincerosQuero aar esta lição

Que ellas vão plantar o eng-anoUentro do seu coração.

He hum gosto vêr a amadaUiante de muita gente,

Protestando ter fé puraCertamente mente, mente.



(17)

Náo creaes nunca em mulheresTudo he afifectação

Mosírao-vos o mel na bocaE tem M no coração.

E se acaso o triste amanteAigurn tempo esteve ausenteEila

jura tem saudadest-ertamente mente, mente.

Sâo fingidas saudadesiîngidos suspiros sâo

,

Porque nada sente o peito-ômba disso o coração.

Se hum amante carinhosolîeíaz vér Amor ardenteNla lhe prommette o premioVêrtamente mente, mente.

Das

vao

Jâs promessas das mulheresTudo he falso, tudo he ^^^^^^

l^âlla a perfeita mentira-Líentro do seu coração.

VoL. ÍL



Il( 18 >

Pois se o pobre falia a outraBem cortez e bem prudente ,

Ella finge ter ciúme

Certamente mente, mente.

Eu conheço a quanto chega

A sua simulação,

Mostra o rosto ardendo em raivaE tem frio o coração.

Se alguns homens ha traidores

Nem são homens , nem são gente,

Quem a estes chamar homens

Certamente mente , mente.

Todos aquelles que guardâo

No peito negra traição,

Serão homens no feitio

Mulheres no coração.



(19)

mmmmtmmmtm

RETRATO DE AMIRA.

LJEasbellezas,

virtudes e graçasEm verso se podem cantar e expri-

mir,

Vou cantar atractivos de AmrraVenhão escutar-me que ha muito

que ouvir.

Só se pode chamar venturoso

Quem tem a fortuna de a possuir.

Eu nâo digo que os louros cabellos

Aos raios de Phebo podem competir.Que assim bellos quaes sâo não pre-

cisão

Para os seus louvores qu' eu queira

mentir.Só &c.



J^.-'-* •„-•;

íiiÉipSiai

(20)

-

Nem direi que são duas estrellas

Os olhos d' Aiiiira,qu' eu sempre se-

Basta só que confesse a verdade

Que liuns olhos tâo lindos jamais

nunca eu vi.

Só &c.

Pouco faço se as faces comparo

Com purpúrea rosa, com branco

jasmim.

Que os jasmins misturados co' as

rosas

A côr animada não fazem assim.

Só &c.

Os Poetas que pintâo as bocas

Gom pérolas dentro,por fora rubim

Vejão beiços e dentes de Amira

Mais rico que tudo quanto ha para

mim.Só&c.

íí



(21 )

Ea nao sei o que vejo no seio

Quando elle respira mover-se e bolir,

He simpático o seu movimento

Que faz os desejos aos olhos subir.

Só &c.

Não se encontra figura mais bella

Nem corpo mais lindo , formoso egentil

5

Se me prostro aos teus pés , e se os

beijo

Eu devo faze-lo mil vezes e milSó &C. :



>-t-y. >-.^^>y

"^•^^^iPlll^iBlBI.

(22)

E S a U E C I M E N T O.

GENTES que he isso?

Você nâo falia ?

Porque se calla

Quando me vê?

Eu bem sabiaQu' estando ausente

Mui de repente

Hia esquecer.

Tantos agrados

Fai tão agora.

Diga senhora?

Diga porque ?

Eu &c.



( 23 )

Eu bem VI logoQuando partia

Que assim havia

De succeder.

Eu &c.

Eu nâo lho disse ?

Nâo tem lembrança?

Que esta mudança

Havia haver ?

Eu &c.

Seja mudável

Seja traidora ,

Que em fim senhora

Sempre he mulher.

Eu &c.

Deste seu modo

Já não me espanto

E estou por quanto

Você quizer.

Eu &c.



ss,»T»u},...t^^:^iX.3iSÈ^iPUi m

ií ^

h l

(24 )

A causa dissoEu a adivinho,

O seu cariuho

Já d'outrem he.

Eu &c.

Sei com quem goza

Seu passatempo,Lá virá tempo,

Qu' eu lho direi.

Eu &c.

Dava-me o tempoPor testemunhaE o qu' eu suppunha

O tempo o vê.

Eu &c.

Por experiência

Sei com certeza,

Nâo ha firmeza

Nunca em mulher.

Eu &c.



(25)

Protestos a Arminda.

CANTIGAS.ClONHEço muitas pastoras

Qoe belleza e graças tem,

Mas he huma só que eu amoSó Arminda e m.aig ninguém.

' Revolvão meu coração

Procurem meu peito bemVerão estar dentro delle

Só Arminda e mais ninguém.

De tantas,quantas bellezas

Os meus ternos olhos vêm

Nenhuma outra me agradaSó Arminda e mais ninguém.



a&

(26)

Estes suspiros que eu soltoVão buscar meu doce bem,He causa dos meus suspirosSó Arminda e mais ninguém.

Os segredos de meu peitoGuarda-los nelle convémGuarda-los

aonde os vejaSó Arminda e mais ninguém.

Nâo cuidem que a mim me importaParecer ás outras bem

,

Sasta que de mim se agradeSó Arminda e mais ninguém.

Não me alegra , ou me desgostaD'outra o mimo , ou o desdémSatisfaz-me e me contentaSó Arminda e mais ninguém.

Cantem os outros pastoresOutras pastoras também

Qu' eu canto e cantarei sempreSó Arminda e mais ninguém.



flll l i» MM

(27)

Retrato de Amira do Douro.

Houvemos a ninfa

Que veio do Douro,

Capellas de louro

Lhe vamos compor.

Ah qu' eu a vejo !

Das ninfas do Tejo

Nenhuma lie melhor.

Pintemc^ as graças

Do lindo semblante ^

E a Fama lhe cante

Eterno louvor.

Ah&c.



C 28 )

Amira adornadaDe graça e lindeza

,

Com que a naturezaSeus dons espalhou.

Ah &c.

Nos lindos cabellos

Tal graça divisoQue nâo lhe he precisoNem fita^, nem flor.

Ah &c.

Quem vê os seus olhos

Vê duas estrellas

Influe a luz delias

Respeito e Amor.Ah &c.

Tem a côr mais linda

Nas faces formosas,De jasmins e rosas

Que Amor misturou.

Ah &c.

t



wmmritmmmm S^/

(29)

Na boca engraçadaSeu ceo tem Cupido

Com rubim partido

Por fora o fechou.

Até &c.

Morada graciosa

De honestosurriso

,

Que quando he preciso

Se vê por favor.

Até &c.

Pintar-lhe as mais graças

Não posso nem quero

Eu fallo sincero

Sou tosco pintor.

Até &c.

mmm



sxm

( 30)

hl;o BICHO MULHER.

vVuEM quizer ter seu descançoQuem socego quizer ter,

Na densa mata do mundoFuja do bicho mulher.

Roe por dentro

Bem como a traça,He quem motivaNossa desgraça.

Aquella meninaQue tem mais graça,He essa quem causa

Maior desgraça.



>K^/

( 31 )

Nâo temo leões nem tigresNem já os devo temer,

Depois de haver escapado

Ao lindo bicho mulher.

Roe &c.

Ouço scibilar serpentes

E nâo me fazem tremer,

Assusta-me o ruge ruge

Do lindo bicho mulher.

Roe &c.

Dizem que o cpcodriio

A's vezes finge gemer,

Para matar assim finge

O lindo bicho mulher.Roe &c.

Sinto dentro do meu peito

Não sei que cousa morder,

Dizem que isto he mordedura


Roe &c.



mmm

: . ( 32 )

Mas morder-me sem chegar-meIsso não 5 não pôde ser

,

Ai de mim ! morde co' a vista

O lindo bicho mulher.

Roe &c.

1.Í !.

aí

Lanço ao ar as carapuçasDêm na cabeça a

quemder,

O que digo he fujão todos


Roe &c.

w^awrf}'.



6A.

VIOLA DE LERENO.

Vol II. Num. 8.

SOFFRER POR GOSTO.

ODo O mundo está pasmadoDe me ver andar assim

,

Ando cumprindo o meu fadoNinguém tenha dó de mim.

Estou prezo e mui bem prezoAmor foi o meu maJsim

,

Mas prisões d'Amor são docesNmg-uem tenha dó de mim.

VOL. lí.



):

C2)

Já nâo tenho liberdadeQoe rende-la a Amor eu vim

>

Sou cativo por meu gostoNinguém tenha dó de mim.

Todos chamão mal d'AmorMal perverso mal ruim

Eu padeço sem queixar-meNinguém tenha dó de mim.

Eu adoro a huma ingrata

Não ha génio mais ruimAssim mesmo gosto delia

Ninguém tenha dó de mim.

Tenho dito não importaQue o meu bem me trate assimQue esta vida toda he delia

Ninguém tenha dó de mim.

Eu bem sinto a minha vida

Quasi posta já no fim.

Mas morrer d'Amor me alegraNinguém tenha dó de mim.

ta;



MM ÍS.

(3)

SEGREDO RESPEITOSO.

Oou costumado a calar

E tanto pode o costume,

Que não me obriga a fallar

A razão , nem o ciúme.

Ai segredo

Eu se occulto não se sabeMas se o digo tenho medo.

Quando o severo respeito

A triste voz me suspende,

Outra lingua Amor tem feito

Que nos olhos bem se entende.

Ai querer!

Hum suave mudar dolhosMuita cousa quer dizer.



I

(•;

(4)

Tenho medo até de alçarOlhos em certa presença

^

Tenho medo dos meus olhos^

Porque fallâo sem licença.

Ai que medoOs meus olhos tem meninas

Meninas não tem segredo.

Quando vejo a minha bella

Sinto o peito palpitar.

Manda Amor , manda o respeito

Olhar eu e não olhar.

Ai segredo!

Eu se não olho não vejo

Mas se olho tenho medo.

Tanto as leis do meu segredoAo desafogo prefiro

Que nem meus suspiros sabemA causa porqu' eu suspiro.

Ai que medoTenho medo que os suspiros

Dém a saber meu segredo.



^>

(5)

Hei de dar de certos olhos

Huma querela por ladrões

Que de formosura armados

Vão roubando corações.

Ai que graça

A prisão destes culpados

Dentro em meu peito se faça.

Ai segredo

Quero ser seu carcereiro

De que fujão tenho medo.

/



(6)

IMPACIÊNCIA.

) \

A RMiNDA cruel ArmindaVem a consolar-me aqui ^

Qu' eu morro se te não vejoEu nâo posso estar sem ti.

Tu ^s a minha metadeQue a minha alma á tua •uni.Já sem ti viver nâo possoEu nâo posso estar sem ti.

O teu ao meu coraçãoEm laços d'Amor prendi

Ninguém pôde separa-losEu nâo posso estar sem ti.



( ^

Como queres que a saúdePossa recobrar aqui ?

Se de saudades eu morro

Eu nâo posso estar sem li.

Sâo inúteis os remédios

Eu por experiência o vi

Semte ver nada aproveita

Eu não posso estar sem ti^

Por m-eu próprio soffrimento

D' ausência os dias medi

Acabou-se-me , e agora

Eu não posso estar sem ti.

Da m-inha paixão tão loucaMuita gente ha que se ri

,

Rião elles muito embora

Eu nâo posso estar sem ti.

Arminda depois dé vêr~te

Para as mais todas morri

Tu só és a minha vidaEu nâo posgo estar sem ti.



t- .

A F F I R M

M,ENiNA minha meninaQue tanta grarinha teml^eixe lá fallar quem falJafeo você lie o meu bem.

Todos vêm o meu AmorTodos minha paixão vêmNem he preciso que o dÍ£-aSo você he o meu bem.

Se a frase do coraçãoVocê já conhece bem

,

Ouçaque diz palpitandofeo você he o meu bem.



(9 )

Reg;ale-se o rico avaroC/ os iinmensos bens qae tem

,

Eu outros bens nâo desejo

Só você he o meu bem.

, Creia-me minha meninaDeixe as suspeitas que tem

,

E se he preciso eulho

juroSó você he o meu bem.

Ponha a mâo sobre esta minhaJure o que eu jurar também

,

Eu por mim juro mil vezes


Quem tem huns olhos tâo lindos ?

Tão linda boca quem tem ?

Se você tem taes bellezas


Nada me importao as g^raças

Que as outras meninas tem,.

As outras sâo bens dos outrosSó você he o meu bem.



( IO)

Arminda escute ham segredoQue nâo nos ouça ninguém,Gom as outras tudo he brincoSó você he o meu bem.

BONDADES DE AMOR.

I^UE triste vida

Triste eu passava >

Quando ignorava

O que era Amor

Ai que he bem bom.

Falle mal delle

Hum offendido,

Qu' eu com Cupido

Mui bem me dou.Ai &c.



< H )

Viver amandoE ser amado,He o estado

Que ha melhor.

Ai &G.

Ter huraa dama

Gentil, galante.Que seja amante

Só de mim só.

Ai &c.

Estar com -ella

Entre agradinhos.

Como os pombinhos

A dois e dois.

Ai &c.

Huma conversa

De passa-tempo,

Que a certo tempoMuda de tom.

Ai &e.

V



il

'

)

. li

1!

il I \

I

C 12 )

Estar nos braçosDa linda dama,Diga quem amaQue tai achou.

Ai &c.

Nâo ha hum gosto

Que a este imite ,

Nâo tem limite

He o maior.

Ai &c.

E quando a amadaDe mim se aparta

,

Eu leio a carta

Que ella mandou.Ai &c.

Fallar a fuV^o^

Olhar a medoDizer segredo

Em baixa voz.

Ai &c.



( 13 )

Estar c' os olhos

Tudo dizendo ,

E os outros vendo

Sem o suppôr.

Ai &c.

li

Eu aconselho

Por vários modos,

E tratem todos

De ter Amor.Porque he bem bom,



(u)

êfii

Continuação de suspiros.

N., 11 ERiNA 5 cruel Nerinau não queres escutar,

E eu teimoso continuo

Por ti sempre a suspirar.

C os suspiros que eu exhaioSe vai já toldando o ar,

Cansa-se a gente d'ouvir-me


Os alegres passarinhos

Tem novo tom de cantar^

Que aprenderão só d'ouvir-mePor ti sempre a suspirar.



mmimm m

( 15 )

Sahem das musgosas lapasOs frios peixes do mar,

Vem ouvir-me sobre as ondas


Vês as roxas lavaredas

Entre os ares estalar.

Assim estala o

meupeito


Escuto os outros pastores

Ao som do rabil cantar

E elles ha muito me escutâo


Anda o meu perdido^ gadoErradam.ente a balar,

E eu com elle giro errando


Por decreto do meu fado

Suspirando hei de espirar,

Consumindo a triste vidaPor ti sempre a suspirar.

'i



(16)

Nerina, cruel NerinaDepois do Lethes passar

Inda hão de ouvir-me os ElisiosPor ti sempre a suspirar.

DESABAFAR.

1

ti

N.iNGUEM a mim me criminePor me ouvir assim queixarQu' eu fallo como oíFendido

Eu quero desabafar.

Inda quanto disse he poucoQue he maior o meu pezar,

E por não morrer de abafoEu quero desabafar.



(17)De quantas me fez Arminda

âs outras me hei de vingar.Hei de falJar mal de todafi-u quero desabafar.

Sei que a pena suprimidatôstuma as vezes matar .

âo quero estalar de penaJiu quero desabafar.

Quero chamar-lhes tyrannasTraidoras quero chamarQuero dizer o que sinto'-tu quero desabafar.

Sei que tudo o que prometíemHe mesmo para faltar,""

û íaJlo de experimentadoií-u quero desabafar.

Sei que me ralhâo por isto

Kalhem ellas muito emboraJiu quero desabafar.

VoL. ir.



( 18 )

Meu coração opprimido

Nem podia palpitar,

Agora grito e dou vozes

Eu quero desabafar.

Bem parece que já basta

Tanto tempo de calar,

Ao menos assim fallando

Eu quero desabafar.

PERDÃO.

E u fui aqúelle que hum dia

Fallei

com poucaattençâo,

Hoje peço arrependido

Perdão penhorasjperdão.



mÊtt

(19)

Pelos meus tristes successosJiilg-uei vossa condição.Más já sei que me enganavaPerdão senhoras

, perdão.

Se Arminda me foi traidoraAs outras não o serão

Eu fallei mal contra todasPerdão senhoras

,perdão.

Porque eu seja perdpadoBaste a minha confissão

Vede que humilde vos peçoPerdão senhoras

,perdão.

Se elia me deixou por gostoE gosto não tem razão,Eu qiiiz emendar o mundoPerdão senhoras

,perdão.

Eu devia agradecer-IheDe cautela esta lição

Mas gritei desesperadoPerdão senhoras

, perdão.

i

A

í



(20)

Julguei pela ingrata ArmindaDas outras o coração,Mas se o vosso he d outra castaPerdão senhoras

, perdão.

T E N H À o DO.

Oe algum dia fui ditosoJá hoje não sou assim

,

Já não sou quem d'antes eraTenhão todos dó de mim.

Com mudar-se a minha amadaTambém me mudou assim

Todos a chamem perjuraTenhão todos dó de mim.



(21 )

Ser amante e despresadoNâo ha vida mais ruim

,

He isto o que me succede

Tenhâo todos dó de mim.

De tão ditosas venturas

A tantas desgraças vim

Nas mudanças do meu fadoTenhâo todos dó de mim.

O meu bem quando eu lhe fallo

Nâo me diz , nem não , nem simj

Mata-me esta indiíFerença


Sinto dentro no meu peito

Dos ciúmes o motim,

Já perde todo o soeego


Se a constância he deestimar-seE a leveza he mal ruim

Tenhâo todos raiva delia




IIÉ

(22>

JNTáo se riâo domeu fadoNem de vêr-me andar assim

Jt^ode o mesmo succeder-lheslenhâo todos dó de mim.

MEDO DO P A Pi o.

A.MOR nasce pequeninoFaz-se logo tamanhão,

Tamanho que mette medoTenho medo do papão.

Traz n'hua mão o seu a^rco.As setas na outra mãoTenho medo

que me firaTenho medo do papão.

* n



wm

( 23 )

Poe nos olhos certo engodo

E na voz certa atracção

Assim prende a pobre gente

Tenho medo do papão.

Inda me lembra algum dia

Que arrastei o seu grilhão.

Os signaes inda me doem


Amor faz-se rouxinol

Canta e papa coração

Não quero que o meu me pape


M «1*1



1».--.

(24)

IGNORANTE d' AMOR.

OR mais que a gente me faliaIJ iium cego destruidor,ômo Amor dizem se chamaJâo conheço o que he Amor.

Dizem que entradentro n'almaA ser seu perturbador

û tenho o peito em socegoJ>íao conheço o que he Amor.

Dizem que he muito travessofeempre e sempre brincadorû sempre estimei as verasiNao conheço o que he Amor.



(25 )

Dizem rende a liberdade ,

A hum gesto encantadorEu inda me sinto livre

Nâo conheço o que he Amor.

Dizem que a aljava traz cheiaDe setas e he matador,Eu não sinto nenhum golpe

Não conheço o que he Amor.

Nâo quero seguir tal NumeEu sigo hum Nume melhor,Conheço a terna amisadeNâo conheço o que he Amor.



!)

(26)

kiú'

-i

i

AVISOS PRUDENTE

ATTENDE á prudênciaQue leis te prescreve

Amante bisonho

Nâo creias de leve.

Se a vista da moçaEm ti se deteve

Favor nâo o julgues

Nâo creias de leve.

Se busca em passeio

Teu braço que a leve,He commodidadeNâo creias de leve.

^^V



(27 )

Se toca os teus dedosC os dedos de neve

Talvez he acaso

Não creias de leve.

Se falias d'AmoresE nega que os teve

Por pejo te engana


Se hum pouco mais livre

Conversa manteveHe moda d'agora


Se ao ir despedir-teTalvez te deteve

He só comprimentoNão creias de leve.

Fingir parentescos

Se falia oa se escreve

São brincos do usoNão creias de leve.

mi^



li. ,

\

'

( 28)

Semeigas ternurasFaz mais do que deve

Em muitas he génioNâo creias de leve.

Nas exterioridadesAmor nunca esteve^Inquire as origens


Fortuna de AmoresAo modo se deveNem percas por frôxoNâo creias de leve.

1 \

i

líí



mm

(29 )

LEILÃO.

M.ANDOU-ME Amor que posesseEm praça o meu coração,Venhâo meninas depressaQue principia o leilão.

Tenho o coração em praçd,

Amor mo manda vender',

Arremata-o quem mais der.

Elle disse que valia

Certa somma de finezas

Que era traste muito próprioPara servir a bellezas.

Tenho &c.



í^Í^'f

( 30 }

Lançou-lhe huns olhos NerinaHuns olhos que não tem preçoVenhão outros se ha melhoresSe não a ella o offereço.

Tenho &c.

Nâo cuidem que tem..«Nerina

De graça o meu coração,Dou-lho por seus olhos bellos

Venhâo vê-los e verão.

Tenho &c.

He por preço de ternurasQae o meu coração, darei

Qilem mais faz mais omereceJá o preço estipulei.

Tenho &c.

Eu recebo de NerinaDe ternura mil signaes,Vou a dar-lhe o coraçãoSe nâo ha quem lance mais.

Tenho &c.



(31 )

ammmmmm m i i

OUVE, VE E CALA.

jt\ minha cruel Neriíia

Não rae quer Amor pagar,

Quer que eu possa assim soíFrido

Ouvir e vêr e calar.

Quer só ella livremente

Com os outros conversar,

E qu' eu esteja do outro lado

A ouvir , vér e calar.

Ha de a seu sabor Nerina

Suas acções regular,

Hei de eu inda que me offenda

Ouvir e vêr e calar.



C 32)

Desarrezoados ze]IosHão defaze~la ralhar,Eu ainda que rebenteOuvir e vêt e caíar.

_ Ha de fugir do meu ladoIr-se ao dos outros sentar,

^hei de ficar

mui quietoA ouvir , vêr e calar.

Hâ de pelo braço doutremir vaidosa passear,E eu sem dar o braço a algumaOuvir e vêr e calar.

Quem me empresta soffrimentorara a seu gosto empregar.Já não tenho paciênciaDe ouvir, vêr, e calar.

[::FIM PO SEGUJVDO VOLUME.

m^<



MM

índiceDAS CAJ^TIGAS DESTE SEGUNDO

VOLUME..

NUMERO L

N.âo entendo o coração. Pag. 3

Sem acabar de morrer. ... 5

Marilia Brasileira nas Caldas . 7

Retrato de Lucinda 9

Retrato da minha amada, . ,12Xarapim : Lundum de cantigas

vagas.........1

Que mais quero eu , . . , .17Guardar segredo 20

Retrato de Marilia . . . . .23Outro ......... 26

Ame se quer ser feliz . . . ,29O seu moleque sou eu : Lundum. 31

NUMERO IL

Retrato de Amália I

VOL. II. - R



"i^f

'•-'•í .•'.

I i

t índice;

Doçura de Amor. . . : ; 5

Outras para o mesmo estribilho . 7

Chuchar no dedo » . . . .10Retrato de Anarda . * . ..13Outro 16

Aqui está todo he teu : Lundum. 1

Jlíeu bem €stá mal com, eu . .21Retrato de Mareia . , . . .24He bem feito torne a am^ar . ,26Brasileira adoptiva, . . . .2^

NUMERO III.

Choro contínuo «IAviso ás saudosas ..... 4

Os impulsos da paixão, , . . 7Sustos do coração . . . . .10Asseverações baldadas , . . .12O infeliz . ... .' . . .15Forças e m,anhas do Amor . ,17Desejos ........ 21

Desprezo da m,aledicencia . .23

Despedida, . . . . , •

.25A Ternura Brasileira. . . .28Teima , .30



ÍNDICE.

NUMERO ir.

Juramento a Nerina .

Linguagem dos olhos .

Effeitos da saudade

talvez que eu me explique

Segredo baldado . .

DuvidasO que he saudade . ,

Perguntas a Nerina

Soffrer calando . . .

Coração palpitante .

Choro eu e a ingrata brinca

Gentes de bem pegou nelle

Lundum

1

5

7

9

12

1517

20

22

25

28

31

NUMERO V,

Retrato de Tirce ..... 1

Moribundo de Amor .... 4

Doudice de Lereno retratando

Nerina . 7

Testamento de Lereno. . .

.11Despedida para sempre . . .14Fanfarronada. . . . . . .16



-^^^Y=í«r*

4 I N D r CE.

Retrato de Nize . . . . . .19Linguagem do segredo . . . .22Nâo enganar .25Feliz serei : Traducçâo ampliada. 27

Esperanças de alegria . , . .29Você que diz : Lundum de can-

tigas vagas . . . . . . .31

NUMERO VL

Mal sem remédio 1

O ser mulher faz temer . . . 3

Semsahoria de Amor , . . . 5

Retrato do meu bem .... 7

Merecimento de Amor,

Amor .10Olhos sócios do segredo. . . .13A" illustre Amarina . . . .14A' formosa Armania . . . .17O Desgraçado . ..... 21

O Perseguido : Endeixas . . .23

Raivas de Lucinda . . . . .25

Anarda. . . . . . . . .28

Dança 30

: 11

Jivw ^



índice. 1

NUMERO VIL

Amor perdido. ... . . . 1

Ais de Cupido . . ... . 4

A's mtdrosas de Amor ... 7

Ausência ........ 9

Desesperação .13

Conselhos 16Retrato de Amira 19

Esquecimento ^2

Protestos a Arminda . . . .25

Retrato de Amira do Douro, . 27

O ^icAo mulher 30

NUMEROriIL

Soffrer por gosto. ..... I

Segredo respeitoso 3

Impaciência 6

Afirmativa .8Sondades de Amor . . . . .10Continuação de suspiros . ..14Desabafar 16

Perdão ......... 18

Tenhâo dó - . . . . . . .20



!

Uí

V ir N D 1 c E.

Medo do papão , . ,

Ignorante de Amor. .

Avisos prudentes . . ,

Leilão

Ouve , vé e cala . . .

. 22

. 24

. 26

. 29

. 31

N. III. pag. 4.

saudadosas lê saudosas»

59748297 domingos caldas barbosa viola de lereno 1798

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