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[email protected] EscoladaLinguaPortuguesa carlosluzardo 51 99955.7502 5 AULA Seminário de Redação-Revisão Ufrgs Chamamos atenção para isto: não há comicidade fora do que é propriamente humano. Uma paisagem poderá ser bela, graciosa, su- blime, insignificante ou feia, porém jamais risível. Riremos de um animal, mas porque teremos surpreendido nele uma atitude de homem ou certa expressão humana. Riremos de um chapéu, mas, no caso, o cômico não será um pedaço de feltro ou palha, senão a forma que alguém lhe deu, o molde da fantasia humana que ele assumiu. [ ... ] Já se definiu o homem como “um animal que ri”. Poderia também ter sido definido como um animal que faz rir, pois se outro animal o conseguisse, ou algum objeto inanimado, seria por semelhança com o homem, pela característica impressa pelo homem ou pelo uso que o homem dele faz. BERGSON, Henri. o Riso: ensaio sobre a significação do cômico. Rio de Janeiro: Zahar, 1983. AVALIAÇÃO DAS REDAÇÕES - CV/2O13 I - ÂNGULOS DE ABORDAGEM DO TEMA A REDAÇÃO CONCORRERÁ À TOTALIDADE DA NOTA SEMPRE QUE O CANDIDATO 1 - desenvolver o papel e os limites do humor na sociedade; 2 - desenvolver o papel do humor (com alusão aos limites), ou desenvolver os limites do humor (com alusão ao papel); 3 - fizer apenas alusão ao papel e aos limites do humor; 4 - fizer apenas alusão ao papel do humor, ou fizer apenas alusão aos limites do humor; 5 - tratar o humor - comicidade - de forma genérica. II - A REDAÇÃO RECEBERÁ ZERO QUANDO O CANDIDATO 1 - abordar outro tema que não o proposto - por exemplo, humor como estado de espírito -, o que caracterizará fuga ao tema; OU 2 - escrever (mesmo focalizando o tema), do início ao fim, uma redação com gênero textual absolutamente diferente do dissertativo; OU 3 - utilizar espaço textual inferior a 30 linhas, excluindo o título, conforme previsto nos critérios de penalização. O trecho acima foi extraído do livro O riso, uma reunião de três artigos publicados por Bergson, em 1899, que constituem um verdadeiro tratado sobre o humor. O tema abordado pelo filósofo permanece atual, como se pode depreender do aumento significativo do espaço social reservado às manifestações humorísticas. No Brasil, muito se produz em matéria de humor. Nos jornais de grande circulação, escritores e chargistas fazem diariamente a crônica bem humorada da política e dos costumes. Emissoras de rádio destinam espaços valorizados a programas que debatem temas atuais em uma atmosfera descontraída, com estímulo a brincadeiras e a comentários jocosos. Emissoras de televisão, além de contarem com os tradicionais programas humorísticos, têm investido em novos formatos, como entrevistas com apresentadores comediantes e pro- gramas que fazem um misto de jornalismo e humor. Casas de teatro têm sido palco para uma nova leva de humoristas, que, com apenas um microfone e muitas histórias para contar, divertem plateias cada vez mais numerosas. Na internet, além dos sites que reproduzem piadas de autoria desconhecida, há os que apresentam uma produção própria, com textos, vídeos e charges animadas, satirizando políticos e celebridades. A profusão dessas manifestações revela uma ampla liberdade de expressão, para cuja conquista o humor também teve sua parcela de contribuição. Jornalistas, escritores e comediantes saúdam essa liberdade, entendendo que o espaço para o humor não está a serviço apenas da diversão, mas também da crítica social. Há, contudo, quem considere que, no exercício dessa liberdade, excessos estejam sendo cometidos. Em resposta a isso, alguns afirmam não ser possível provocar o riso sem incomodar, já que o humor se constrói a partir de um olhar crítico sobre o comportamento humano. Instruções A versão final do seu texto deve: PROVA DE REDAÇÃO 2013 1 - conter um título na linha destinada a esse fim; 2 - apresentar argumentos para a defesa de um ponto de vista sobre o tema proposto; 3 - ter a extensão mínima de 30 linhas, excluído o título - aquém disso, seu texto não será avaliado -, e máxima de 50 linhas. Segmentos emendados, ou rasurados, ou repetidos, ou linhas em branco terão esses espaços descontados do cômputo total de linhas. 4 - ser escrita, na folha definitiva, à caneta e com letra legível, de tamanho regular. Considerando a popularidade atual do humor, manifestado nas mais diversas formas, em diferentes meios de comunicação, e as reações da sociedade a essas manifestações, redija uma dissertação sobre o papel e os limites do humor na sociedade.

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EscoladaLinguaPortuguesa carlosluzardo

51 99955.75025AULA

Seminár io de Redação-Revisão Ufrgs

Chamamos atenção para isto: não há comicidade fora do que é propriamente humano. Uma paisagem poderá ser bela, graciosa, su-blime, insignificante ou feia, porém jamais risível. Riremos de um animal, mas porque teremos surpreendido nele uma atitude de homem ou certa expressão humana. Riremos de um chapéu, mas, no caso, o cômico não será um pedaço de feltro ou palha, senão a forma que alguém lhe deu, o molde da fantasia humana que ele assumiu. [ ... ] Já se definiu o homem como “um animal que ri”. Poderia também ter sido definido como um animal que faz rir, pois se outro animal o conseguisse, ou algum objeto inanimado, seria por semelhança com o homem, pela característica impressa pelo homem ou pelo uso que o homem dele faz.

BERGSON, Henri. o Riso: ensaio sobre a significação do cômico. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.

AVALIAÇÃO DAS REDAÇÕES - CV/2O13

I - ÂNGULOS DE ABORDAGEM DO TEMA

A REDAÇÃO CONCORRERÁ À TOTALIDADE DA NOTA SEMPRE QUE O CANDIDATO

1 - desenvolver o papel e os limites do humor na sociedade; 2 - desenvolver o papel do humor (com alusão aos limites), ou desenvolver os limites do humor (com alusão ao papel); 3 - fizer apenas alusão ao papel e aos limites do humor; 4 - fizer apenas alusão ao papel do humor, ou fizer apenas alusão aos limites do humor; 5 - tratar o humor - comicidade - de forma genérica.

II - A REDAÇÃO RECEBERÁ ZERO QUANDO O CANDIDATO

1 - abordar outro tema que não o proposto - por exemplo, humor como estado de espírito -, o que caracterizará fuga ao tema; OU 2 - escrever (mesmo focalizando o tema), do início ao fim, uma redação com gênero textual absolutamente diferente do dissertativo; OU 3 - utilizar espaço textual inferior a 30 linhas, excluindo o título, conforme previsto nos critérios de penalização.

O trecho acima foi extraído do livro O riso, uma reunião de três artigos publicados por Bergson, em 1899, que constituem um verdadeiro tratado sobre o humor.

O tema abordado pelo filósofo permanece atual, como se pode depreender do aumento significativo do espaço social reservado às manifestações humorísticas. No Brasil, muito se produz em matéria de humor. Nos jornais de grande circulação, escritores e chargistas fazem diariamente a crônica bem humorada da política e dos costumes. Emissoras de rádio destinam espaços valorizados a programas que debatem temas atuais em uma atmosfera descontraída, com estímulo a brincadeiras e a comentários jocosos. Emissoras de televisão, além de contarem com os tradicionais programas humorísticos, têm investido em novos formatos, como entrevistas com apresentadores comediantes e pro-gramas que fazem um misto de jornalismo e humor. Casas de teatro têm sido palco para uma nova leva de humoristas, que, com apenas um microfone e muitas histórias para contar, divertem plateias cada vez mais numerosas. Na internet, além dos sites que reproduzem piadas de autoria desconhecida, há os que apresentam uma produção própria, com textos, vídeos e charges animadas, satirizando políticos e celebridades.

A profusão dessas manifestações revela uma ampla liberdade de expressão, para cuja conquista o humor também teve sua parcela de contribuição. Jornalistas, escritores e comediantes saúdam essa liberdade, entendendo que o espaço para o humor não está a serviço apenas da diversão, mas também da crítica social. Há, contudo, quem considere que, no exercício dessa liberdade, excessos estejam sendo cometidos. Em resposta a isso, alguns afirmam não ser possível provocar o riso sem incomodar, já que o humor se constrói a partir de um olhar crítico sobre o comportamento humano. Instruções A versão final do seu texto deve:

PROVA DE REDAÇÃO 2013

1 - conter um título na linha destinada a esse fim; 2 - apresentar argumentos para a defesa de um ponto de vista sobre o tema proposto; 3 - ter a extensão mínima de 30 linhas, excluído o título - aquém disso, seu texto não será avaliado -, e máxima de 50 linhas. Segmentos

emendados, ou rasurados, ou repetidos, ou linhas em branco terão esses espaços descontados do cômputo total de linhas. 4 - ser escrita, na folha definitiva, à caneta e com letra legível, de tamanho regular.

Considerando a popularidade atual do humor, manifestado nas mais diversas formas, em diferentes meios de comunicação, e as reações da sociedade a essas manifestações, redija uma dissertação sobre o

papel e os limites do humor na sociedade.

Humor brasileiro reflete a nossa falta de identidade, diz historiadorAutor do livro As Raízes do Riso, sobre a gênese do humor no país, mostra como características culturais estão impregnadas no nosso jeito de fazer rir

Há um humor tipicamente brasileiro? Baseado em formatos importados e de história relativamente recente, o humor nacional não parece muito descolado de seus modelos estrangeiros. Mas ele tem, sim, as suas particularidades. De acordo com Elias Thomé Saliba, titular de teoria da história da Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro As Raízes do Riso (editora Companhia das Letras, 366 páginas), que investiga a gênese do humor no Brasil, o cômico feito no país é impregnado da nossa cultura. Estão presentes nele duas características marcantes da sociedade brasileira: a confusão entre as esferas pública e privada e a vocação para tratar tudo de maneira emocional – ou cordial, como diria Sérgio Buarque de Hollanda. “O humor brasileiro é reflexo da nossa falta de identidade”, diz Saliba.

Segundo o historiador, foi na Belle Époque brasileira – período compreendido entre as duas décadas finais do século XIX e o fim da 1ª. Guerra Mundial, em 1918 – que surgiu esse humor, no esteio do jornalismo moderno e suas seções fixas de humor e de caricaturas. Mais tarde, no teatro, no rádio e no cinema, o humor frutificou. A partir do abrasileiramento de formatos ingleses e italianos já consagrados, surgiram programas hoje clássicos como o Balança Mas Não Cai, sucesso do rádio nos anos 1930 e 1940 que lançou personagens até hoje usados pela televisão como Ofélia e Fernandinho. E o cinema das chanchadas, da lendária produtora Atlântica, que mesclava musicais com o humor radiofônico. A partir da década de 1950, essas mídias forneceram para a televisão atores, diretores, textos e formatos.

Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e com a influência do Monthy Python, que na Inglaterra emparedou o conservadorismo político, no final da década de 1970, e aqui deu impulso a programas como a TV Pirata e o Casseta & Planeta, levados ao ar entre o fim dos anos 1980 e o início dos 1990. Até hoje, pouco há de renovação nesses formatos consagrados. Há um quê de humor de rádio em programas como Zorra Total e A Praça É Nossa, por exemplo. “Em algumas épocas, sobretudo as de forte censura, o humor funcionou como válvula de escape, já que possui vocação intrínseca para revelar verdades escondidas sob o véu da mera diversão”, diz Saliba.

O stand up, embora só agora tenha virado febre no país, já está por aqui desde a década de 1960, representado pelo recém-falecido humorista José Vasconcellos. E não só com ele. Outros veteranos do humor experimentaram o gênero. Conhecidos principalmente por seus trabalhos na televisão, como os já clássicos Chico City, Satiricom e Planeta dos Homens, nomes como Jô Soares e Chico Anysio já faziam uso do formato desde os anos 1960. Na antiga TV Tupi, Anysio enfrentava a plateia munido de um microfone – e de verve.

Renascido como novidade em meados dos anos 2000 com auxílio da internet, o gênero revelou uma nova leva de humoristas que, assim como se deu no começo do século passado com o rádio e o cinema, migraram da web para a televisão. Na TV, o

humor de clubes e pequenos palcos ganhou amplitude nacional com os participantes do CQC, exibido pela Band, assim como o grupo em torno de Marcelo Adnet, que levou elementos desse formato para a MTV. O movimento deu aos humoristas audiência, mas também limitações e riscos, além de críticas e debates sobre os textos que criam ou improvisam. Piadas com teor de bullying são defendidas pelos autores como o sagrado direito ao politicamente correto, quando o que está em jogo é, na realidade, a qualidade artística do texto.

As discussões de hoje são, segundo o autor de As Raízes do Riso, um fato raro no Brasil, onde os debates em torno do humor se instalaram, mais comumente, em períodos de crise política e institucional. Mais um exemplo do jeitinho brasileiro de lidarcom as coisas, por certo. Confira abaixo os melhores momentos da entrevista de Elias Thomé Saliba.

Em que contexto histórico o humor tomou corpo no Brasil? Os anos mais decisivos para o humor no país foram aqueles marcados pela introdução da imprensa moderna no Brasil. Nas duas últimas décadas do século XIX, surgem os primeiros grandes jornais diários e as primeiras revistas semanais ilustradas, com seções fixas de humor e de caricaturas, além de publicidade. Foi essa abertura proporcionada pela imprensa moderna – juntamente com a crise de expectativas gerada pelo advento da República – que possibilitou a criação de uma linguagem humorística nacional, feita a partir da mistura de poemas paródicos, música, anúncios publicitários, dança e marchinhas de carnaval.Houve um momento, como o que se vê agora, em que o humor pautou um debate de proporção nacional? Em especial, nenhum momento. Em algumas épocas, sobretudo as de forte censura (informal ou institucional), o humor funcionou como válvula de escape, já que possui vocação intrínseca para revelar verdades escondidas sob o véu da mera diversão. É aí que a produção humorística atua como catalisadora das insatisfações e da impotência política da maioria da população. Um momento criativo, no Brasil, é aquele que vem logo após o império: é o que chamo de “humor da desilusão republicana”. Outro período muito criativo do humor nacional foi a época da campanha Civilista (1909-1910), quando se abriu a primeira grande crise na sucessão presidencial (São Paulo e Minas Gerais se viram em lados opostos na disputa, quebrando a política

do café-com-leite). Outros momentos em que o humor serviu como instrumento de crítica política direta foram os períodos ditatoriais ou autoritários: a era Vargas (1930-1945) e a dos governos militares (1964-1979).Qual o principal elemento do humor produzido no Brasil? A eterna confusão entre as esferas pública e privada e a nossa vocação – que temos esperança de superar – para tratar tudo de maneira emocional, reduzindo as distâncias sociais. Chamamos esta vocação para a cordialidade de Síndrome de Santa Terezinha. No Brasil, a santa francesa Thereza de Lisieux se transforma em Terezinha – ou seja, até os santos partilham de nossa vida privada, tornando-se mais próximos de nós. Usamos de diminutivos para quebrar hierarquias e tornar tudo próximo, porque temos horror às distâncias sociais, que são enormes.E em relação ao papel social do riso, o que se pode dizer? O riso é arma social para os impotentes. No decorrer da história, o riso popular permitiu que se criasse, cada vez mais, uma cultura da divergência, ativa e oculta – o que mostra como o humor se tornou arma contra regimes repressivos. Se não se pode mudar a história real, muda-se o sentido dela. O riso, a piada é, essencialmente, reversão de significado.O humor brasileiro é, portanto, reflexo da nossa identidade? Da nossa falta de identidade. Somos uma sociedade mal costurada, que sempre praticou a exclusão. Brasileiros só se sentem brasileiros em momentos emocionais, rápidos e circunstanciais. O humor funciona como o carnaval e o futebol para o brasileiro ter este momento efêmero e emocional de identidade. A piada é o paradigma do efêmero. Nas últimas décadas, isso se acentuou, visto que as promessas trazidas pela redemocratização do país estancaram na corrupção crônica – institucionalizada pela impunidade -, numa política social remediadora e na tibieza dos partidos e organizações políticas.

O riso dos outros: o humor tem limites?

O riso dos outros é o título do documentário dirigido por Pedro Arantes, financiado pela TV Câmara.[1] O documentário centra-se no Stand-up, ou seja, comediantes que se apresentam individualmente sem outros recursos e acessórios além da voz, e, geralmente, em pé, dirigem-se à platéia (daí o termo). Alyson Vilela, Ana Maria Gonçalves, Antonio Prata, Arnaldo Branco, Bem Ludmer, Danilo Gentili, Fábio Rabin, Fernando Caruso, Gabriel Grosvald, Hugo Possolo, Idelber Avelar, Jean Wyllys, Laerte Coutinho, Lola Aronovich, Marcela Leal, Mariana Armellini, Maurício Meirelles, Nanny People, Rafinha Bastos, Renata Moreno, entre outros, são os entrevistados.Afinal, existem limites para o humor? Piadas ofendem, ferem o politicamente correto? O argumento “É só uma piada!” é válido para qualquer circunstância, ainda que expresse o racismo, o sexismo, o preconceito contra as minorias e indivíduos? Piadas preconceituosas contra negros, mulheres, gays, lésbicas, gordos, deficientes físicos, etc. são engraçadas? Por que provocam o riso? Quem ri é cúmplice ou o humorista apenas expressa os valores presentes na sociedade? Se é ofensivo não deveria ser proibido? Quem define o limite entre a liberdade de expressão e a ofensa preconceituosa? O politicamente correto? Este não é uma forma de policiamento ideológico, social e político? Então, em nome da “senhora liberdade” tudo é permitido? Até mesmo o riso profano que ridiculariza o sagrado?[2]O fundamento do humorO humor, seja qual for o seu objeto, não se explica apenas pela capacidade individual de criação. Seu fundamento é os valores compartilhados socialmente. O humorista não é um indivíduo isolado, mas um ser social. A linguagem do comediante não é axiologicamente neutra. Todo discurso tem raízes na sociedade. Nem a piada nem o riso ocorrem no vácuo, seus alicerces são culturais, sociais, políticos e ideológicos. Quem fala, fala de um lugar determinado, está consciente do que pronuncia, espera um determinado efeito: provocar o riso. Quem ri também o faz conscientemente, e ao fazê-lo reforça a mensagem. Neste sentido, nem a fala nem o riso são naturais. O fundamento é social.

O preconceito, portanto, está na sociedade. O humor dialoga com o preconceito, mas este diálogo não está livre de tensões. O humor pode reforçar – ou não – os estereótipos. Ele busca o reconhecimento, o aplauso e o riso. Seu gozo advém da capacidade de conquistar. Qual é o caminho mais fácil? Para muitos, a forma mais fácil de provocar risadas é investir no preconceito, nos estereótipos. Se estes são compartilhados pela maioria, basta falar o que a maioria quer ouvir. O humorista desresponsabiliza-se com o argumento de que resgata algo já inculcado pelo ouvinte. Ou seja, ele apenas despertou algo – um valor, um sentimento – na mente de quem riu. Tá na cabeça de quem ri! E não está na cabeça de quem faz a piada? Isto significa descomprometer-se, imaginar que o discurso elaborado é neutro e/ou apenas reproduz os valores dos outros. A piada sobre a Preta Gil é um exemplo sutil de como o comediante se desresponsabiliza e transfere o ônus para o público. Ao arrancar risadas, Danilo Gentili diz que a platéia não deveria ter rido. Mas, por que ele conta a piada? Ora, porque o público ri. Conclui, então, que o f.d.p é quem ri. “Não eu!”, afirma Gentili.Os preconceitos arraigados na sociedade fornecem material abundante para os piadistas. O humor é cruel, caricatural. Expõe defeitos, limitações e faz rir; mas insulta! O humor insultante, preconceituoso parece o mais fácil, o que menos criatividadeexige. Basta reproduzir o conservadorismo da maioria em forma de piada! Por isso, é o humor em seu nível mais baixo. Da mesma forma que encontra platéias numerosas que riem das mesmas piadas de sempre, também encontra defensores. Argumenta-se que este tipo de humor simplesmente colhe o pensamento existente e o reproduz de uma forma “engraçada”. Convenhamos, o argumento de que o humorista não é responsável pelas mazelas da sociedade, mas apenas o expressa, é forte. Não se deve, portanto, culpabilizá-lo. Neste raciocínio, seria exagero falarmos em humor preconceituoso.Não se trata, porém, de culpar mas sim da reflexão. “A gente ri e isso faz parte da vida. Mas a gente também pensa sobre coisas. A culpa é um sentimento castrador. Não precisa se culpar, basta refletir”, afirma Pedro Arantes.[3] O diretor do documentário se refere às situações em que rimos de uma piada que, de fato, revela-se preconceituosa. “Mais jovem, eu ria muito de piada de gay. Hoje em dia, já tendo pensado sobre isso, eu realmente não acho mais graça. Você faz essa elaboração na sua cabeça e a partir daí você passa a não achar mais engraçado”, diz ele.[4] De fato, todos estamos sujeitos a deslizes. Mas

não é o caso do preconceituoso empedernido, daquele que introjetou valores conservadores. Para este tipo, as minorias sempre serão um alvo de riso. E sem culpa! Por outro lado, deve-se considerar o papel do humorista. É muito simples partir do pressuposto de que ele apenas expressa o que a maioria pensa. Primeiro, ele também é educado pela mesma sociedade que forja e cristaliza tais pensamentos. Como garantir que ele também não incorpora o discurso que pronuncia ao seu público?! Segundo, se a reflexão é necessária, é lícito indagarmos se e em que medida reprodutores de preconceitos fortalecem valores preconceituosos ou se contribuem para a indagação reflexiva sobre os mesmos. De qualquer forma, não há graça alguma para quem sofre as ofensas em forma de humor!É bem mais difícil elaborar o humor que seja instigante. Exige criatividade, trabalho e superação dos lugares e senso comum. Será que não é possível fazer humor sem humilhar o outro? O humor também pode contribuir no sentido de levar à reflexão sobre os preconceitos e mostrar o ridículo da postura preconceituosa. Se, como afirma Danilo Gentili, “Toda piada tem um alvo”, uma vítima, qual e quem deve sê-lo? Será que o único critério válido é “se for engraçado”, como argumenta Gentili? Como este “alvo” deve ser trabalhado, tratado? Se o humor pressupõe a crítica, o que deve ser criticado? Como esta crítica deve ser elaborada? Criticar “alvos” sem condições de defesa é fácil. É mais difícil criticar a autoridade.O humor machista para consumo do público é reproduzido na relação interna entre os que se envolvem com esta atividade. Também neste aspecto, expressa a realidade social. Os homens predominam e, segundo o depoimento da comediante NanyPeople, as mulheres reproduzem os valores do universo masculino. As piadas sobre mulheres expostas no documentário mostra bem o caldo cultural sexista. Aliás, talvez seja exagero denominar tais falas como “piadas”. Não há graça, mas desrespeito. Não é preciso ser feminista para convencer-se do risível que é repetir chavões dos tataravôs, basta apenas ter senso de reflexão crítica. Há alguma graça em, por exemplo, afirmar que a mulher feia que sofreu estupro deveria agradecer pela oportunidade? Estupro é um tema para piadistas? No entanto, piadas como esta e outras pérolas humorísticas provocam risos – inclusive entre as mulheres.

A mesma sociedade que legitima valores machistas, racistas, homofóbicos, etc., contesta-os. Os “alvos” e “vítimas” deste tipo de humor organizam-se, reagem e exigem respeito. Mas não é patrulhamento da liberdade de expressão?! Não há temas proibidos, nem se trata de proibir. A questão é a forma que assume o discurso. Se este é ofensivo e quem se ofende é capaz de reagir coletivamente, é legítimo. A liberdade de expressão não se dá no vácuo, mas em tensão com o contexto social, político, cultural, histórico. Também o comediante não é neutro, ele precisa saber de que lado está. As piadas podem, inclusive, levar a pensar sobre as minorias, o racismo, o sexismo, etc.O politicamente correto é chato? Quem contesta é careta? Mas é correto insistir em reproduzir os preconceitos? Quem cunhou o termo politicamente correto, a quem interessa? A questão é polêmica e aparenta ser uma forma de desviar-se do principal. O fato é que antes mesmo do surgimento e propagação do politicamente correto, as piadas racistas, preconceituosas, etc. existiam e não perderam este caráter. Em outras palavras, o racismo, sexismo, xenofobismo, homofobia, etc., são realidades no passado e no presente. A discussão sobre o politicamente correto desvia o foco. Uma piada racista permanece com o mesmo conteúdo e significado. Como afirma Mariana Armellini:“Chamar um negro de macaco não é e nunca foi engraçado”. Se palavra desqualifica, quem a utiliza tem consciência. Não é suficiente acusar quem não aceita o racismo e qualquer tipo de preconceito de expressar a ditadura do politicamente correto. Ainda que seja considerado “chato”, “careta”, etc., a reação é legítima.A prática social questionadora do discurso racista, sexista, homofóbico, etc. não dirige-se apenas àquele que faz piadas de mal gosto, mas expressa o questionamento legítimo de setores da sociedade em relação a outras práticas sociais, culturais e classistas que legitimam o discurso hegemônico aceito pela maioria. A tensão do politicamente correto é expressão desse movimento histórico de não aceitação dessa hegemonia.A grita contra o politicamente correto é também uma forma de não aceitar a crítica. Isto, em nome da liberdade de expressão ilimitada. Mas a liberdade ilimitada só existe na cabeça de quem se acredita acima das leis, normas, convenções sociais, etc.Por exemplo, racismo é crime. Então, a pretensa liberdade de expressão do comediante que adota o discurso racista revela-se

ilusão. A contestação do discurso e práticas preconceituosas está tão relacionada à liberdade de expressão quando a fala contestada. O comediante tem a liberdade de fazer a piada, mas deve saber que não está acima da lei, do bem e do mal, menos ainda livre da contestação. Como diz Jean Wyllys: “As liberdades têm limites”. Não, nem sempre “É só uma piada!”, como proclama Rafinha Bastos e outros. A piada é concebida como desprovida de conteúdo ideológico, político, social, etc. É tratada como a piada em si, neutra. “É um insulto!, responde Lola Aronovich. Sim, uma piada preconceituosa não é apenas uma piada. A manifestação do artista reforça preconceitos ou contribui para questioná-los. Não é um discurso neutro, apolítico. Quem se imagina apolítico, tem uma compreensão simplista da política, restringindo-se à esfera institucional. Como diria Brecht é um “analfabeto político”! De qualquer forma, o que chama a atenção em tudo isto é o fato de as pessoas ainda rirem deste tipo de piada! Não tem graça! No entanto, o riso da maioria inebria e parece legitimar o comediante que diz o que o povo quer ouvir. E ele ainda fica com a impressão de que faz sucesso. Mas, como alerta Hugo Possolo, “Quem se curva demais ao público fica de quatro pra ele”.

PROVA DE REDAÇÃO Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Suportar sem se submeter, aceitar

sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si e à possível dignidade. Pensar é transgredir. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for. Se nos escondermos num canto escuro abafando nossos questionamentos, não escutaremos o rumor do vento nas árvores do mundo. Adaptado de: Pensar é transgredir, Lya Luft.

A redação deverá ser dissertativa e versar sobre o tema: A TRANSGRESSÃO faz parte das ações humanas, ou ela pode ser entendida como violação às normas? Para escrevê-la, analise com atenção o tema proposto, defina seu ponto de vista e escolha argumentos consistentes que lhe deem sustentação. As referências apresentadas a seguir têm o propósito de auxiliá-lo na contextualização do assunto em que se insere o tema.

Transgressão significa a ação humana de atravessar, exceder, ultrapassar, noções que pressupõem a existência de uma norma que estabelece e demarca limites. Seu significado transitou da esfera geográfica, na qual fixava o limite para as águasdo mar, à concepção ético-filosófica, que abriga desde preceitos morais e religiosos até as leis do Estado. Daí, as contraposições entre bem e mal, mandamento e pecado, código e infração...

Ensinar o respeito ao modus operandi das sociedades e de seus sistemas tem sido o papel de pais e educadores ao longo da história. Mas todos também aprenderam que adaptar-se é conformar-se, acomodar-se. Nas ações criativas humanas, transgressor e transgredido tendem a confundir-se. Por essa razão o ato criador não se processa em série, como numa linha de montagem pré-determinada. O criador/transgressor é o agente solitário que opera a superação de si mesmo na ruptura com o mundo que o cerca. Cada um, ao buscar, ao inventar, ao tentar o ainda-não-ousado, o novo, incorre em transgressão, não como subversão da ordem, mas como implementação, como criação. Transgressão e anti-transgressão movimentam-se igualmente quando se trata de suprir carências no atendimento das condições de bem-estar individuais ou coletivas.

Atitudes como essas indicam que todos somos potencialmente transgressores, pois cada um está, enquanto defensor de seu bem-estar, em rota de colisão com a comunidade. Atos como esses podem explicar, por exemplo, a sonegação de impostos, mas também estão na base de movimentos de indignação contra a má aplicação de recursos públicos e nas manifestações de defesa do meio ambiente.

Leia com atenção as instruções a seguir: sua redação deverá ter extensão mínima de 30 linhas, excluindo o título – aquém disso, ela não será avaliada –, e máxima de 50 linhas, considerando letra de tamanho regular. O lápis poderá ser usado somente para rascunho; ao transcrever sua redação para a folha definitiva, faça-o com letra legível, usando caneta.

Terapia do RisoO humor tem adquirido importância notória no cotidiano da sociedade contemporânea, regida pelos meios de

comunicação de massa. Desde o seu surgimento, a comédia tem sido usada como ferramenta de crítica social. O dramaturgo português Gil Vicente aplicava já no século XVI a técnica de moralização por meio do riso, expondo as mazelas de sua sociedade através do humor de suas peças teatrais, restritas à corte e aos nobres. Na conjuntura pós-moderna, entretanto, com a democratização do acesso á informação, o humor se tornou acessível à maioria populacional, contribuindo para a difusão dos benefícios e prejuízos dessa arte milenar.

O crescente sucesso da comicidade tornou possível sua presença em todos os setores da sociedade, destacando-se o cultural, e ampliou as possibilidades de papéis desempenhados pelo humor atualmente. A crônica humorística permite o retrato do cotidiano social brasileiro, abordando principalmente a hipocrisia e a ignorância da população. O humor auxilia naconstrução da crítica aos males de nossa sociedade, como a corrupção e a alienação do cidadão. O entretenimento gera polêmica e provoca debates, contribuindo para a formação de uma comunidade atualizada e intelectualmente ativa. Uma marcante característica da comédia é, pois, a conscientização da população a respeito da problemática mundial atual e a promoção de discussões em busca de soluções para os alvos das críticas.

Apesar de apresentar reflexos positivos, o humor pode facilmente cruzar a tênue linha existente entre crítica engajada e desrespeito. O comediante gaúcho Rafinha Bastos teve recentemente seu DVD censurado devido a processos movidos por personalidades claramente desrespeitadas. A individualização da crítica tem efeitos negativos, enquanto a tipificação de personagens, instituições e grupos sociais produz efeitos mais abrangentes e menos sujeitos à censura. Indubitavelmente, a comédia deve respeitar os direitos humanos e a igualdade de raças, motivo pelo qual o humor racista ou homofóbico em nada contribui para a sociedade. Conclui-se, portanto, que os limites do humor coincidem com os limites da invasão de privacidade e do julgamento consciente, desvinculado de qualquer ideal preconceituoso.

Sob essa ótica, nota-se que o humor e, consequentemente, o riso, desempenham papel fundamental nas sociedades contemporâneas, incentivando a crítica política, econômica e social por meio do entretenimento. Contudo, os extremos devem ser evitados: assim como a passividade diante dos desconsertos do mundo, a crítica exacerbada e sem fundamento não colabora para a conscientização da população. O equilíbrio da fusão entre qualidade humorística e opinião crítica ajuda a formar uma sociedade participativa, atualizada e bem humorada.

Transgressão do pensamento comumDiversos momentos da história da humanidade foram marcados por tentativas de ruptura do pensamento vigente.

Assim, percebe-se que o homem teve a necessidade de transgredir a ordem, por meio de movimentos revolucionários, na tentativa de acabar com a opressão a que estava submetido. No entanto, não se pode dizer que todas as transgressões foram benéficas.

Por volta do século XVII, a Igreja Católica ainda ditava as regras das relações sociais e culturais. Ao impor sua doutrina, não aceitava contestações das suas crenças, o que faz com que, por muito tempo, grande parte da população acreditasse ser a terra o centro do universo. Entretanto, por meio da pesquisa, diversos cientistas, como Galileu Galilei e Copérnico, comprovaram a falsidade desse pensamento difundido pela Igreja. Nesse contexto, ao ir de encontro à ideologia difundida pela catolicismo, tais estudiosos foram perseguidos por serem considerados pecadores e até mesmo obrigados a negar suas convicções, apesar de terem certeza da sua legitimidade, como ocorreu com Galileu. No entanto, é inegável que a postura desses cientistas, transgressora para a época, trouxe contribuições enormes para a ciência, tanto que as suas teoriassão estudadas até hoje.

Por outro lado, a Igreja também adotava um comportamento transgressor, já que desrespeitava o direito de liberdade de pensamento ao impor sua doutrina à população. Nesse contexto, por muito tempo, a Europa e suas colônias estiveram sob a esfera de influência de instituições como o tribunal do Santo Ofício, que tinha como papel punir aqueles que fossem considerados hereges. Dessa forma, é evidente que a Igreja não desejava perder o poder que tinha acumulado com o passar dos séculos, mas, ao torturar intelectuais e queimar milhares de livros, barrou o desenvolvimento de linhas de conhecimento que poderiam ter-nos beneficiado até hoje.

A transgressão do pensamento comum, por meio de questionamentos que visam obter conhecimento, é essencial para o desenvolvimento da sociedade. Contudo, quando utilizado para reprimir a liberdade, deve ser considerada uma prática a ser evitada.

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Por Rodrigo Levino

As personagens Valéria (Rodrigo Sant'Anna) e Janete (Thalita Carauta), do quadro 'Metrô Zorra Brasil', do 'Zorra Total', da Globo. No programa, Janete sofre assédio e éencorajada pela transexual Valéria a aceitar: 'Aproveita, que você não pode escolher muito, sua estranha' (Renato Rocha Miranda/Divulgação/TV Globo/VEJA)

Há um humor tipicamente brasileiro? Baseado em formatos importados e de história relativamente recente, o humor nacional não parece muitodescolado de seus modelos estrangeiros. Mas ele tem, sim, as suas particularidades. De acordo com Elias Thomé Saliba, titular de teoria dahistória da Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro As Raízes do Riso (editora Companhia das Letras, 366 páginas), que investiga agênese do humor no Brasil, o cômico feito no país é impregnado da nossa cultura. Estão presentes nele duas características marcantes dasociedade brasileira: a confusão entre as esferas pública e privada e a vocação para tratar tudo de maneira emocional – ou cordial, como diriaSérgio Buarque de Hollanda. “O humor brasileiro é re�exo da nossa falta de identidade”, diz Saliba.

Entretenimento

Humor brasileiro re�ete a nossa falta de identidade, diz historiadorAutor do livro As Raízes do Riso, sobre a gênese do humor no país, mostra como características culturais estão impregnadas no nosso jeito de fazerrir

4 nov 2011, 22h22

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Piada x grosseria: a diferença entre o humor e o bullying

Segundo o historiador, foi na Belle Époque brasileira – período compreendido entre as duas décadas �nais do século XIX e o �m da 1ª. GuerraMundial, em 1918 – que surgiu esse humor, no esteio do jornalismo moderno e suas seções �xas de humor e de caricaturas. Mais tarde, no teatro,no rádio e no cinema, o humor fruti�cou. A partir do abrasileiramento de formatos ingleses e italianos já consagrados, surgiram programas hojeclássicos como o Balança Mas Não Cai, sucesso do rádio nos anos 1930 e 1940 que lançou personagens até hoje usados pela televisão comoOfélia e Fernandinho. E o cinema das chanchadas, da lendária produtora Atlântica, que mesclava musicais com o humor radiofônico. A partir dadécada de 1950, essas mídias forneceram para a televisão atores, diretores, textos e formatos.

Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e com a in�uência doMonthy Python, que na Inglaterra emparedou o conservadorismo político, no �nal da década de 1970, e aqui deu impulso a programas como a TVPirata e o Casseta & Planeta, levados ao ar entre o �m dos anos 1980 e o início dos 1990. Até hoje, pouco há de renovação nesses formatosconsagrados. Há um quê de humor de rádio em programas como Zorra Total e A Praça É Nossa, por exemplo. “Em algumas épocas, sobretudo asde forte censura, o humor funcionou como válvula de escape, já que possui vocação intrínseca para revelar verdades escondidas sob o véu damera diversão”, diz Saliba.

O stand up, embora só agora tenha virado febre no país, já está por aqui desde a década de 1960, representado pelo recém-falecido humoristaJosé Vasconcellos. E não só com ele. Outros veteranos do humor experimentaram o gênero. Conhecidos principalmente por seus trabalhos natelevisão, como os já clássicos Chico City, Satiricom e Planeta dos Homens, nomes como Jô Soares e Chico Anysio já faziam uso do formatodesde os anos 1960. Na antiga TV Tupi, Anysio enfrentava a plateia munido de um microfone – e de verve.

Renascido como novidade em meados dos anos 2000 com auxílio da internet, o gênero revelou uma nova leva de humoristas que, assim como sedeu no começo do século passado com o rádio e o cinema, migraram da web para a televisão. Na TV, o humor de clubes e pequenos palcosganhou amplitude nacional com os participantes do CQC, exibido pela Band, assim como o grupo em torno de Marcelo Adnet, que levou elementosdesse formato para a MTV. O movimento deu aos humoristas audiência, mas também limitações e riscos, além de críticas e debates sobre ostextos que criam ou improvisam. Piadas com teor de bullying são defendidas pelos autores como o sagrado direito ao politicamente correto,quando o que está em jogo é, na realidade, a qualidade artística do texto.

As discussões de hoje são, segundo o autor de As Raízes do Riso, um fato raro no Brasil, onde os debates em torno do humor se instalaram, maiscomumente, em períodos de crise política e institucional. Mais um exemplo do jeitinho brasileiro de lidar com as coisas, por certo. Con�ra abaixoos melhores momentos da entrevista de Elias Thomé Saliba.

Capa do livro 'As Raízes do Riso', de Elias Thomé Saliba

Capa do livro ‘As Raízes do Riso’, de EliasThomé Saliba (VEJA)

Em que contexto histórico o humor tomou corpo no Brasil? Os anos mais decisivos para o humor no país foram aqueles marcados pela introduçãoda imprensa moderna no Brasil. Nas duas últimas décadas do século XIX, surgem os primeiros grandes jornais diários e as primeiras revistassemanais ilustradas, com seções �xas de humor e de caricaturas, além de publicidade. Foi essa abertura proporcionada pela imprensa moderna –juntamente com a crise de expectativas gerada pelo advento da República – que possibilitou a criação de uma linguagem humorística nacional,feita a partir da mistura de poemas paródicos, música, anúncios publicitários, dança e marchinhas de carnaval.

Houve um momento, como o que se vê agora, em que o humor pautou um debate de proporção nacional? Em especial, nenhum momento. Emalgumas épocas, sobretudo as de forte censura (informal ou institucional), o humor funcionou como válvula de escape, já que possui vocaçãointrínseca para revelar verdades escondidas sob o véu da mera diversão. É aí que a produção humorística atua como catalisadora dasinsatisfações e da impotência política da maioria da população. Um momento criativo, no Brasil, é aquele que vem logo após o império: é o quechamo de “humor da desilusão republicana”. Outro período muito criativo do humor nacional foi a época da campanha Civilista (1909-1910),quando se abriu a primeira grande crise na sucessão presidencial (São Paulo e Minas Gerais se viram em lados opostos na disputa, quebrando a

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política do café-com-leite). Outros momentos em que o humor serviu como instrumento de crítica política direta foram os períodos ditatoriais ouautoritários: a era Vargas (1930-1945) e a dos governos militares (1964-1979).

Qual o principal elemento do humor produzido no Brasil? A eterna confusão entre as esferas pública e privada e a nossa vocação – que temosesperança de superar – para tratar tudo de maneira emocional, reduzindo as distâncias sociais. Chamamos esta vocação para a cordialidade deSíndrome de Santa Terezinha. No Brasil, a santa francesa Thereza de Lisieux se transforma em Terezinha – ou seja, até os santos partilham denossa vida privada, tornando-se mais próximos de nós. Usamos de diminutivos para quebrar hierarquias e tornar tudo próximo, porque temoshorror às distâncias sociais, que são enormes.

E em relação ao papel social do riso, o que se pode dizer? O riso é arma social para os impotentes. No decorrer da história, o riso popular permitiuque se criasse, cada vez mais, uma cultura da divergência, ativa e oculta – o que mostra como o humor se tornou arma contra regimes repressivos.Se não se pode mudar a história real, muda-se o sentido dela. O riso, a piada é, essencialmente, reversão de signi�cado.

O humor brasileiro é, portanto, re�exo da nossa identidade? Da nossa falta de identidade. Somos uma sociedade mal costurada, que semprepraticou a exclusão. Brasileiros só se sentem brasileiros em momentos emocionais, rápidos e circunstanciais. O humor funciona como o carnavale o futebol para o brasileiro ter este momento efêmero e emocional de identidade. A piada é o paradigma do efêmero. Nas últimas décadas, issose acentuou, visto que as promessas trazidas pela redemocratização do país estancaram na corrupção crônica – institucionalizada pelaimpunidade -, numa política social remediadora e na tibieza dos partidos e organizações políticas.

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10/12/2017 O riso dos outros: o humor tem limites? | blog da Revista Espaço Acadêmico

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blog da Revista Espaço Acadêmico

Revista Espaço Acadêmico, ISSN 1519-6186 – ANO XVII – Mensal. ConselhoEditorial: Ana Patrícia Pires Nalesso, Angelo Priori, Antonio Ozaí da Silva, CarlosSerra, Eliel Machado, Elisa Zwick, Eva Paulino Bueno, Henrique Rattner (inmemoriam), Josimar Priori, Luiz Alberto Vianna Moniz Bandeira, Marcelo Gruman,Paulo Cunha, Raymundo de Lima, Renato Nunes Bittencourt, Roberto Barbato Jr.,Rogério Cunha de Castro, Rosângela Praxedes e Walter Praxedes. Editor: AntonioOzaí da Silva

O riso dos outros: o humor tem limites?

12/06/201312/06/2013 Revista Espaço Acadêmico ENSAIOS SOBRE CINEMAANTONIO OZAÍ DA SILVA *(/Documents%20and%20Se�ings/Antonio%20Oza%C3%AD/Meus%20documentos/Dropbox/BLOG/REA/SILVA,%20A.O.%20O%20riso%20dos%20o

Documentário - O Riso dos Outros (Pedro Arantes) HD

O riso dos outros é o título do documentário dirigido por Pedro Arantes, financiado pela TV Câmara.[1](/Documents%20and%20Se�ings/Antonio%20Oza%C3%AD/Meus%20documentos/Dropbox/BLOG/REA/SILVA,%20A.O.%20O%20riso%20dos%20outrosO documentário centra-se no Stand-up, ou seja, comediantes que se apresentam individualmente sem outros recursos e acessórios além da voz, e,geralmente, em pé, dirigem-se à platéia (daí o termo). Alyson Vilela, Ana Maria Gonçalves, Antonio Prata, Arnaldo Branco, Bem Ludmer, Danilo Gentili,Fábio Rabin, Fernando Caruso, Gabriel Grosvald, Hugo Possolo, Idelber Avelar, Jean Wyllys, Laerte Coutinho, Lola Aronovich, Marcela Leal, MarianaArmellini, Maurício Meirelles, Nanny People, Rafinha Bastos, Renata Moreno, entre outros, são os entrevistados.

Afinal, existem limites para o humor? Piadas ofendem, ferem o politicamente correto? O argumento “É só uma piada!” é válido para qualquercircunstância, ainda que expresse o racismo, o sexismo, o preconceito contra as minorias e indivíduos? Piadas preconceituosas contra negros, mulheres,gays, lésbicas, gordos, deficientes físicos, etc. são engraçadas? Por que provocam o riso? Quem ri é cúmplice ou o humorista apenas expressa os valorespresentes na sociedade? Se é ofensivo não deveria ser proibido? Quem define o limite entre a liberdade de expressão e a ofensa preconceituosa? Opoliticamente correto? Este não é uma forma de policiamento ideológico, social e político? Então, em nome da “senhora liberdade” tudo é permitido? Atémesmo o riso profano que ridiculariza o sagrado?[2](/Documents%20and%20Se�ings/Antonio%20Oza%C3%AD/Meus%20documentos/Dropbox/BLOG/REA/SILVA,%20A.O.%20O%20riso%20dos%20outros

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(h�ps://espacoacademico.files.wordpress.com/2013/06/000000-goethe.png)

O fundamento do humor

O humor, seja qual for o seu objeto, não se explica apenas pela capacidade individual de criação. Seu fundamento é os valores compartilhadossocialmente. O humorista não é um indivíduo isolado, mas um ser social. A linguagem do comediante não é axiologicamente neutra. Todo discurso temraízes na sociedade. Nem a piada nem o riso ocorrem no vácuo, seus alicerces são culturais, sociais, políticos e ideológicos. Quem fala, fala de um lugardeterminado, está consciente do que pronuncia, espera um determinado efeito: provocar o riso. Quem ri também o faz conscientemente, e ao fazê-loreforça a mensagem. Neste sentido, nem a fala nem o riso são naturais. O fundamento é social.

O preconceito, portanto, está na sociedade. O humor dialoga com o preconceito, mas este diálogo não está livre de tensões. O humor pode reforçar – ounão – os estereótipos. Ele busca o reconhecimento, o aplauso e o riso. Seu gozo advém da capacidade de conquistar. Qual é o caminho mais fácil? Paramuitos, a forma mais fácil de provocar risadas é investir no preconceito, nos estereótipos. Se estes são compartilhados pela maioria, basta falar o que amaioria quer ouvir. O humorista desresponsabiliza-se com o argumento de que resgata algo já inculcado pelo ouvinte. Ou seja, ele apenas despertoualgo – um valor, um sentimento – na mente de quem riu. Tá na cabeça de quem ri! E não está na cabeça de quem faz a piada? Isto significadescomprometer-se, imaginar que o discurso elaborado é neutro e/ou apenas reproduz os valores dos outros. A piada sobre a Preta Gil é um exemplosutil de como o comediante se desresponsabiliza e transfere o ônus para o público. Ao arrancar risadas, Danilo Gentili diz que a platéia não deveria terrido. Mas, por que ele conta a piada? Ora, porque o público ri. Conclui, então, que o f.d.p é quem ri. “Não eu!”, afirma Gentili.

(h�ps://espacoacademico.files.wordpress.com/2013/06/tvcadocumentario_risos_dos_outros_alta21-21-23.jpg)

Os preconceitos arraigados na sociedade fornecem material abundante para os piadistas. O humor é cruel, caricatural. Expõe defeitos, limitações e fazrir; mas insulta! O humor insultante, preconceituoso parece o mais fácil, o que menos criatividade exige. Basta reproduzir o conservadorismo da maioriaem forma de piada! Por isso, é o humor em seu nível mais baixo. Da mesma forma que encontra platéias numerosas que riem das mesmas piadas desempre, também encontra defensores. Argumenta-se que este tipo de humor simplesmente colhe o pensamento existente e o reproduz de uma forma“engraçada”. Convenhamos, o argumento de que o humorista não é responsável pelas mazelas da sociedade, mas apenas o expressa, é forte. Não sedeve, portanto, culpabilizá-lo. Neste raciocínio, seria exagero falarmos em humor preconceituoso.

Não se trata, porém, de culpar mas sim da reflexão. “A gente ri e isso faz parte da vida. Mas a gente também pensa sobre coisas. A culpa é umsentimento castrador. Não precisa se culpar, basta refletir”, afirma Pedro Arantes.[3](/Documents%20and%20Se�ings/Antonio%20Oza%C3%AD/Meus%20documentos/Dropbox/BLOG/REA/SILVA,%20A.O.%20O%20riso%20dos%20outrosO diretor do documentário se refere às situações em que rimos de uma piada que, de fato, revela-se preconceituosa. “Mais jovem, eu ria muito de piadade gay. Hoje em dia, já tendo pensado sobre isso, eu realmente não acho mais graça. Você faz essa elaboração na sua cabeça e a partir daí você passa anão achar mais engraçado”, diz ele.[4](/Documents%20and%20Se�ings/Antonio%20Oza%C3%AD/Meus%20documentos/Dropbox/BLOG/REA/SILVA,%20A.O.%20O%20riso%20dos%20outrosDe fato, todos estamos sujeitos a deslizes. Mas não é o caso do preconceituoso empedernido, daquele que introjetou valores conservadores. Para estetipo, as minorias sempre serão um alvo de riso. E sem culpa! Por outro lado, deve-se considerar o papel do humorista. É muito simples partir dopressuposto de que ele apenas expressa o que a maioria pensa. Primeiro, ele também é educado pela mesma sociedade que forja e cristaliza taispensamentos. Como garantir que ele também não incorpora o discurso que pronuncia ao seu público?! Segundo, se a reflexão é necessária, é lícitoindagarmos se e em que medida reprodutores de preconceitos fortalecem valores preconceituosos ou se contribuem para a indagação reflexiva sobre osmesmos. De qualquer forma, não há graça alguma para quem sofre as ofensas em forma de humor!

É bem mais difícil elaborar o humor que seja instigante. Exige criatividade, trabalho e superação dos lugares e senso comum. Será que não é possívelfazer humor sem humilhar o outro? O humor também pode contribuir no sentido de levar à reflexão sobre os preconceitos e mostrar o ridículo dapostura preconceituosa. Se, como afirma Danilo Gentili, “Toda piada tem um alvo”, uma vítima, qual e quem deve sê-lo? Será que o único critério válido

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é “se for engraçado”, como argumenta Gentili? Como este “alvo” deve ser trabalhado, tratado? Se o humor pressupõe a crítica, o que deve ser criticado?Como esta crítica deve ser elaborada? Criticar “alvos” sem condições de defesa é fácil. É mais difícil criticar a autoridade.

(h�ps://espacoacademico.files.wordpress.com/2013/06/tvcadocumentario_risos_dos_outros_alta20-26-28.jpg)

O humor machista para consumo do público é reproduzido na relação interna entre os que se envolvem com esta atividade. Também neste aspecto,expressa a realidade social. Os homens predominam e, segundo o depoimento da comediante Nany People, as mulheres reproduzem os valores douniverso masculino. As piadas sobre mulheres expostas no documentário mostra bem o caldo cultural sexista. Aliás, talvez seja exagero denominar taisfalas como “piadas”. Não há graça, mas desrespeito. Não é preciso ser feminista para convencer-se do risível que é repetir chavões dos tataravôs, bastaapenas ter senso de reflexão crítica. Há alguma graça em, por exemplo, afirmar que a mulher feia que sofreu estupro deveria agradecer pelaoportunidade? Estupro é um tema para piadistas? No entanto, piadas como esta e outras pérolas humorísticas provocam risos – inclusive entre asmulheres.

(h�ps://espacoacademico.files.wordpress.com/2013/06/tvcadocumentario_risos_dos_outros_alta20-32-09.jpg)

A mesma sociedade que legitima valores machistas, racistas, homofóbicos, etc., contesta-os. Os “alvos” e “vítimas” deste tipo de humor organizam-se,reagem e exigem respeito. Mas não é patrulhamento da liberdade de expressão?! Não há temas proibidos, nem se trata de proibir. A questão é a formaque assume o discurso. Se este é ofensivo e quem se ofende é capaz de reagir coletivamente, é legítimo. A liberdade de expressão não se dá no vácuo,mas em tensão com o contexto social, político, cultural, histórico. Também o comediante não é neutro, ele precisa saber de que lado está. As piadaspodem, inclusive, levar a pensar sobre as minorias, o racismo, o sexismo, etc.

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O politicamente correto é chato? Quem contesta é careta? Mas é correto insistir em reproduzir os preconceitos? Quem cunhou o termo politicamente correto,a quem interessa? A questão é polêmica e aparenta ser uma forma de desviar-se do principal. O fato é que antes mesmo do surgimento e propagação dopoliticamente correto, as piadas racistas, preconceituosas, etc. existiam e não perderam este caráter. Em outras palavras, o racismo, sexismo, xenofobismo,homofobia, etc., são realidades no passado e no presente. A discussão sobre o politicamente correto desvia o foco. Uma piada racista permanece com omesmo conteúdo e significado. Como afirma Mariana Armellini:“Chamar um negro de macaco não é e nunca foi engraçado”. Se palavra desqualifica,quem a utiliza tem consciência. Não é suficiente acusar quem não aceita o racismo e qualquer tipo de preconceito de expressar a ditadura dopoliticamente correto. Ainda que seja considerado “chato”, “careta”, etc., a reação é legítima.

A prática social questionadora do discurso racista, sexista, homofóbico, etc. não dirige-se apenas àquele que faz piadas de mal gosto, mas expressa oquestionamento legítimo de setores da sociedade em relação a outras práticas sociais, culturais e classistas que legitimam o discurso hegemônico aceitopela maioria. A tensão do politicamente correto é expressão desse movimento histórico de não aceitação dessa hegemonia.

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A grita contra o politicamente correto é também uma forma de não aceitar a crítica. Isto, em nome da liberdade de expressão ilimitada. Mas a liberdadeilimitada só existe na cabeça de quem se acredita acima das leis, normas, convenções sociais, etc. Por exemplo, racismo é crime. Então, a pretensaliberdade de expressão do comediante que adota o discurso racista revela-se ilusão. A contestação do discurso e práticas preconceituosas está tãorelacionada à liberdade de expressão quando a fala contestada. O comediante tem a liberdade de fazer a piada, mas deve saber que não está acima dalei, do bem e do mal, menos ainda livre da contestação. Como diz Jean Wyllys: “As liberdades têm limites”.

(h�ps://espacoacademico.files.wordpress.com/2013/06/tvcadocumentario_risos_dos_outros_alta20-45-37.jpg)

Não, nem sempre “É só uma piada!”, como proclama Rafinha Bastos e outros. A piada é concebida como desprovida de conteúdo ideológico, político,social, etc. É tratada como a piada em si, neutra. “É um insulto!, responde Lola Aronovich. Sim, uma piada preconceituosa não é apenas uma piada. Amanifestação do artista reforça preconceitos ou contribui para questioná-los. Não é um discurso neutro, apolítico. Quem se imagina apolítico, tem umacompreensão simplista da política, restringindo-se à esfera institucional. Como diria Brecht é um “analfabeto político”! De qualquer forma, o que chamaa atenção em tudo isto é o fato de as pessoas ainda rirem deste tipo de piada! Não tem graça! No entanto, o riso da maioria inebria e parece legitimar ocomediante que diz o que o povo quer ouvir. E ele ainda fica com a impressão de que faz sucesso. Mas, como alerta Hugo Possolo, “Quem se curvademais ao público fica de quatro pra ele”.

(h�ps://espacoacademico.files.wordpress.com/2012/10/ozai.jpg)* ANTONIO OZAÍ DA SILVA é professor do Departamento de CiênciasSociais – Universidade Estadual de Maringá (DCS/UEM) e Doutor em Educação (USP). Blog: h�p://antoniozai.wordpress.com(h�p://antoniozai.wordpress.com/)

[1]

(/Documents%20and%20Se�ings/Antonio%20Oza%C3%AD/Meus%20documentos/Dropbox/BLOG/REA/SILVA,%20A.O.%20O%20riso%20dos%20outrosDocumentário, Brasil, 2012, 52 min. – Direção: Pedro Arantes. Disponível emh�p://www2.camara.leg.br/camaranoticias/tv/materias/DOCUMENTARIOS/429921-O-RISO-DOS-OUTROS-(DIRECAO-PEDRO-ARANTES).html(h�p://www2.camara.leg.br/camaranoticias/tv/materias/DOCUMENTARIOS/429921-O-RISO-DOS-OUTROS-(DIRECAO-PEDRO-ARANTES).html) e/ouh�p://www.youtube.com/watch?v=LTxtEZGp58g (h�p://www.youtube.com/watch?v=LTxtEZGp58g)

10/12/2017 O riso dos outros: o humor tem limites? | blog da Revista Espaço Acadêmico

https://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/ 5/10

[2](/Documents%20and%20Se�ings/Antonio%20Oza%C3%AD/Meus%20documentos/Dropbox/BLOG/REA/SILVA,%20A.O.%20O%20riso%20dos%20outrosVer: SILVA, A. O. Entre o sagrado e o profano: o interdito ao riso (h�p://www.espacoacademico.com.br/058/58ozai.htm). REA, nº 58, março de 2006,disponível em h�p://www.espacoacademico.com.br/058/58ozai.htm (h�p://www.espacoacademico.com.br/058/58ozai.htm)

[3](/Documents%20and%20Se�ings/Antonio%20Oza%C3%AD/Meus%20documentos/Dropbox/BLOG/REA/SILVA,%20A.O.%20O%20riso%20dos%20outros“TÁ RINDO DE QUÊ?” (Entrevista). Revista Trip, 03/12/2012, disponível em h�p://revistatrip.uol.com.br/so-no-site/entrevistas/ta-rindo-de-que.html(h�p://revistatrip.uol.com.br/so-no-site/entrevistas/ta-rindo-de-que.html)

[4](/Documents%20and%20Se�ings/Antonio%20Oza%C3%AD/Meus%20documentos/Dropbox/BLOG/REA/SILVA,%20A.O.%20O%20riso%20dos%20outrosIdem.

31 comentários sobre “O riso dos outros: o humor tem limites?”

1. Flávia Ferro disse:

O moderno sentimento da empatia nos tirou alguns dos risos egoístas…São os detalhes mostrando algum avanço humano! iupiiii!

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=9258#respond)2. Carla Coelho disse:

ótima reflexão!!!! Gostaria de compartilhar

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=9121#respond)Revista Espaço Acadêmico disse:

Obrigado. Fique à vontade. Agradeço por contribuir com a divulgação. Abraços e tudo de bom

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=9123#respond)3. Bruna disse:

Este texto me fez refletir bastante, busco estar sempre atenta ao que escrevo para não ofender ninguém com minhas postagens!

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=8469#respond)4. Giancarlo Centoundici disse:

PIADA. MORAL. ÉTICA. PRECONCEITO. DISCRIMINAÇÃO. ???

Lí uma matéria muito interessante hoje sobre um humorista/comediante, dizendo que sente oprimido ao fazer piadas indiscriminadamente sobrequalquer assunto, nos dias atuais. Mas resolvi pesquisar a fundo até onde ele estava errado e até onde estaria dentro da razão. Veja bem: Uma piada é uma expressão de humor usando da crítica de hábitos, costumes ou características para fazer as pessoas rirem ou simplesmenteacharem graça em um breve história ou conto. Os estereótipos inclusos são elementos cômicos que podem ou não ter significado realístico, sendo quese for irônico ou burlesco, não caracteriza de forma concreta discriminação. A própria definição da palavra piada vem de um trocadilho ou ideiasubentendida. Partindo desta definição que falei, que é a mesma que se aprende na faculdade de artes cênicas, piada é exatamente o que todo mundodescreve como preconceito: uma expressão irônica ou burlesca sobre as características comportamentais ou físicas. Então, alguém me explica o que é

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10/07/2017 às 0:19

26/05/2017 às 14:23

26/05/2017 às 21:18

21/09/2016 às 15:01

15/01/2016 às 4:10

10/12/2017 O riso dos outros: o humor tem limites? | blog da Revista Espaço Acadêmico

https://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/ 6/10

uma piada, que não tenha essas características, e que seja engraçada como diz. E que REALMENTE não use estereótipos, porque as piadas que aspessoas julgam “politicamente corretas” são as que se direcionam a estereótipos que ninguém acredita ofender, lembrando que os limites da ética empiadas, dependem da formação moral individual de cada um. Pode ser que a piada que você fizer sobre bêbados me ofenda porque talvez eu tenhasido um alcoolista no passado, pode ser que uma piada que fizer pra você sobre um cachorro te ofenda porquê não tenho apego por este tipo odeanimal. Pense nisso. Uma piada pode não ter graça alguma, mas só ofende mesmo, quem sente-se depreciado ou diminuído por ela, tornando osignificado que ela passa, verdadeiro. Se ouço uma piada sobre calvos, e me sinto ofendido por isso, significa que minha calvície me faz sentirinferior a quem tem cabelo. Quem cria o preconceito, somos nós mesmos.

>>> Detesto piadas, não sei contar, e não me sinto ofendido nem humilhado por nenhum tipo de piada, pois piadas fazem graça relacionando hábitose costumes às características das pessoas, e se não vejo essa relação em mim, se não acho que se encaixa no que penso ou que sou, não me sintodiscriminado por ela. Senão, não seria uma piada, seria uma verdade.

Outra coisinha: que é que deu direito de um cidadão que pertence a determinada minoria ou tem determinada característica, possa fazer piada de simesmo? Quer dizer que a ética da piada depende de quem está contando? Quer dizer que, se eu for um sem teto, posso fazer piadas de sem teto? Seeu for portador de deficiência física, tenho permissão moral de fazer piadas sobre isto? Hoje em dia, as pessoas tomam pra si como verdade seuspróprios julgamentos, numa expressão egocêntrica de conceitos que não condizem com a realidade social em que vivemos, sem levar em conta aopinião da massa. Vai chegar determinado momento, que será proibido a gente rir em público, correndo o risco de estar ofendendo alguém que tomepra si nosso riso como deboche, sarcasmo ou ironia.

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=8198#respond)5. marina ruas disse:

in cri vel !!! super inteligente e acessível

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=8081#respond)6. O limite do riso: Caso Charlie, democracia e a França | disse:

[…] Bibliografia consultada: h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/(h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/) […]

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=7785#respond)7. Daliana Antonio disse:

Retirando trecho do texto do Ozaí para preparar uma questão de prova sobre o documentário que trabalhei em sala. Beijo enorme Ozaí!!

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=7732#respond)8. ATPCast#28 – Ria, com Responsabilidade | ATPCast disse:

[…] Espaço Acadêmico: “O Riso dos Outros: o humor tem limites?” […]

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=7285#respond)9. sarah crystina disse:

gostei muito do texto faz agente pensar em muitas coisas!!!!! parabeins!!!

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=5844#respond)10. Ruth Elisa disse:

Olá , sou estudante, faço cursinho pré vestibular e meu professor de redação indicou o documentário ” O riso dos outros” para assistirmos.Fiqueipensando em tanta coisa ,principalmente no que Pedro Arantes disse : “Mais jovem, eu ria muito de piada de gay. Hoje em dia, já tendo pensadosobre isso, eu realmente não acho mais graça. Você faz essa elaboração na sua cabeça e a partir daí você passa a não achar mais engraçado”

Acho que é exatamente isso… e já passei por situações assim, todos riem, mas eu não, é consciência crítica mesmo, um dia, de repente você percebeque isso não é engraçado , e seria inclusive até absurdo rir, porque você não compartilha daqueles valores . Durante o documentário, algumas piadasme chocaram, principalmente a comparação de uma mulher gorda com o boneco dos pneus Michelin e a outra de um cara que primeiro exalta asmulheres e depois desconstrói todo seu valor , fazendo um gesto obsceno e inclusive afirmando que as mulheres apenas serviam para aquilo . Issonão é engraçado , acho até que chega a ser violento. Uma pessoa para rir disso precisa ser de uma mediocridade intelectual profunda . A pessoa queconta uma piada querendo ou não está reproduzindo valores, inclusive até os dela . Como dizer algo que eu não acredito ? Como falar daquilo queeu não concordo? Precisa ser muito incoerente . Fico pensando se vale a pena para esses comediantes certas piadas que eles contam, no mínimodesnecessárias . Acho que a avozinha deles teria vergonha , se soubesse como são os netinhos .

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=5690#respond)11. josefrid disse:

Excelente reflexão! Realmente, tudo tem limites. O humor preconceituoso deve sua existência à preguiça intelectual do humorista e da platéia. Deixeide ir a “stand-up” por causa disso, só apelação sexual, racista, etc. Dá trabalho fazer humor inteligente.

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=5674#respond)12. Ronaldo L. Lindote disse:

Não, não vale tudo. Vale, sim, a inteligência, a perspicácia, a sutileza. Essa coisa do escracho pelo escracho não vale, pois isso nem no humor seenquadra. Parabéns pelo texto, Grato, R. Lindo�i

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=5403#respond)Revista Espaço Acadêmico disse:

Ronaldo,

04/11/2015 às 22:43

15/01/2015 às 8:33

23/11/2014 às 7:31

04/05/2014 às 23:31

05/11/2013 às 10:31

18/08/2013 às 21:28

08/08/2013 às 8:06

16/06/2013 às 22:15

16/06/2013 às 22:47

10/12/2017 O riso dos outros: o humor tem limites? | blog da Revista Espaço Acadêmico

https://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/ 7/10

boa noite. Obrigado por ler e comentar. Abraços e ótima semana

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=5404#respond)13. Iris Cristina Barbosa Cherubini disse:

Não possuo conhecimento teórico sobre o tema. Entretanto, apenas falo o meu sentimento do riso, que é para mim uma descarga de energia. Em queme afasto das emoções e me torno essencialmente RACIONAL e só sinto alegria. Não paro em análise do discurso, pois se fosse o estudo não iriaSORRIR….GARGALHAR.

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=5400#respond)Revista Espaço Acadêmico disse:

Iris,

boa noite. Obrigado por ler e comentar. Bem, se o riso é apenas “descarga de energia” e há ausência de “racionalidade”, então toda piada é válida, desde que gargalhemos?!

Abraços e ótima semana

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=5405#respond)14. Mariana disse:

ADOREI

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=5396#respond)Revista Espaço Acadêmico disse:

Obrigado. Abraços e ótimo final de semana

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=5397#respond)15. Revista Espaço Acadêmico disse:

+Marcelo Gleiser

Sobre o riso A piada abre os canais para expressarmos impulsos socialmente proibidos ou reprimidos

Um português e um físico entram num bar e encontram um buraco negro aos prantos, tomando uma cerveja. O físico, pasmo, não acredita no que vêe fica olhando, desconfiado, da porta. Já o português, encantado com a visão, se aproxima do buraco negro: “Ó, seu buraco negro, sinto-me muitoatraído por você”. E o buraco negro responde: “Seu falso! Todos me dizem a mesma coisa antes de sumir…”

Por que rimos? Ninguém sabe. O riso tem uma qualidade universal: todas as culturas têm seus contadores de piadas. E, mesmo que a piada tenhagraça só para uma cultura, as pessoas reagem sempre da mesma forma. Não importa se a língua é completamente diferente, se a pessoa é daMongólia, um aborígene australiano ou um índio tupi, o riso é sempre muito parecido, uma reação física a um estímulo mental. Mas que estímulomental é esse que nos faz reagir fisicamente de uma forma tão característica?

As teorias são muitas, começando desde a Antiguidade. Platão e Aristóteles diziam que o riso vem de uma sensação de superioridade, vendo ohumor como um modo de expressar nosso desprezo pelos que julgamos ser inferiores. Na piada acima, o português faz esse papel. O físico, esperto,sabe que devemos nos manter longe dum buraco negro. Já o português, coitado, se aproxima e tem o mesmo fim dos infelizes que desconhecem asleis da física.

Mas esse não é o único tipo de humor. Existem vários outros, como quando rimos com um jogo de palavras: “O trabalho é a maldição das massasalcoólatras”, disse Oscar Wilde, o mestre inveterado das frases feitas. Kant, o grande filósofo alemão, teorizou que o riso é resultado do rompimentoinesperado de uma expectativa, o que às vezes é chamado de “teoria da incongruência”.

A piada é uma história que esperamos que tenha um fim lógico. É o rompimento inesperado da lógica numa direção absurda que nos faz rir.

Por isso, quando explicamos uma piada ela perde completamente a graça. O desafio, como afirma o autor Jim Holt em seu recente livro “Stop Me If You’ve Heard This” (Me Interrompa Se Você Já Ouviu Essa, em inglês,editora W.W. Norton), é entender por que o rompimento com a lógica provoca uma reação física tão peculiar. O que uma coisa tem a ver com aoutra?

Entra Freud com a sua “teoria do alívio”. Segundo Freud, a piada abre os canais para expressarmos impulsos socialmente proibidos ou reprimidos,não só relacionados ao sexo e à agressividade como, também, o impulso lúdico que adultos, infelizmente, tendem a desprezar em sua pressa diária.

Basta conviver com uma criança para ver como o riso corre mais solto, como tudo é mais engraçado. O riso, para Freud, permite sermos criança maisuma vez, deixando escapar as inibições que nosso superego constrói ao longo de nossas vidas. O que não temos coragem de falar fica sancionadonuma boa piada suja ou de conteúdo racista, machista ou xenófobo. No universo da piada vale tudo.

O problema com essa teoria é que ela prevê que, quanto mais inibida a pessoa, mais ela rirá com a piada, maior será o seu alívio. E estudos mostramjustamente o oposto. As pessoas sexualmente mais “abertas” são as que riem mais das piadas sujas. Existe até uma teoria que explica o riso através da teoria da evolução de Darwin. Segundo ela, o riso era um modo de comunicação pré-verbal -oschimpanzés, por exemplo, também riem- que visava diferenciar inimigos de amigos. O riso na chegada de um visitante era o sinal para o grupo deque não existia perigo. Seja qual for a explicação ou as explicações, uma coisa é certa: rir só faz bem.

MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro “A Harmonia do Mundo”

Fonte: Folha de S. Paulo, 10 de agosto de 2008

15/06/2013 às 18:12

16/06/2013 às 22:48

14/06/2013 às 11:14

14/06/2013 às 12:06

14/06/2013 às 8:29

10/12/2017 O riso dos outros: o humor tem limites? | blog da Revista Espaço Acadêmico

https://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/ 8/10

* Agradeço ao Raymundo de Lima!

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=5395#respond)16. Francisco de Alencar disse:

Citamos: Como diz Jean Wyllys: “As liberdades têm limites”.

Amor libero Declaratio Et Canticum Laudáte ÀLiberdade Declaração de Amor do Homem Livre Canto e Louvor Eu amo a Liberdade! Liberdade Individual que Liberta o Ser Humano. Liberdadeque é Liberdade Social Coletiva. Absoluta e Invencível. Este o meu Pensamento e minha Idea sobre a Liberdade. Minha Definição e minha Prática deVida. Desde minha Infância até os dias de Hoje. Eu sou Livre! Eu Louvo a Liberdade! Sempre! É a Flor mais Bonita e Perfumada que Conheci naminha Vida! Francisco de Alencar (85) Brasil

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=5391#respond)Revista Espaço Acadêmico disse:

Caro Francisco,

bom dia. Muito obrigado por ler e comentar. Seu comentário é poético, belo, contagiante. Em minha humilde opinião, a liberdade absoluta é uma utopia, um ideal. Tempos atrás me surpreendi ao ler autores libertários e descobri emseus projetos vieses de autoritarismo. Mas, compreendo. O humano é imperfeito.

Abraços e ótimo final de semana

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=5394#respond)17. Alexander Martins Vianna disse:

Ótima reflexão. Supera o documentário. Em mim, piadas construídas com estereótipos não me fazem mais rir. Gosto de piadas que provocamreflexão sobre estereótipos e não de piadas que emprestam mais energia social para os mesmos. Piadas reflexivas são para poucos e, infelizmente,temos pouco para celebrar neste quesito. A piada estereotípica exige pouco esforço e muita cumplicidade – e triste este jogo entre pouco esforço ecumplicidade. Fico feliz quando uma piada antiga não faz mais rir, pois isso significa que não tem mais cumplicidade social, que novos padrõescríticos emergiram e, agora, exigem novas qualidades de piada. Abraços, Ozaí, e parabéns!

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=5390#respond)Revista Espaço Acadêmico disse:

Caro Alexander,

bom dia. Obrigado. Estamos plenamente de acordo, mas sempre fique à vontade para as críticas e sugestões. Abraços e ótimo final de semana

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=5393#respond)18. Eva Bueno disse:

Ozai, como sempre, voce martelou direto na cabeca do problema. Nao e’ uma questao de calar a arte, mas de lembrar a estas pessoas como este tal“artista” que tudo tem limite. A liberdade de um so’ vai ate’ onde chega a liberdade do outro. E provocar e abusar dos que estao caidos, que estaosofrendo, e’ a forma mais baixa da humanidade. Fora com estes imbecis! E com quem ainda ri com eles!

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=5389#respond)Revista Espaço Acadêmico disse:

Eva,

bom dia! Muito obrigado por ler e comentar. Estou aberto às críticas e sugestões. Abraços e ótimo final de semana

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=5392#respond)19. Deyvisson disse:

Gostei muito do texto. Faz pensar bastante ao não ser tão conclusivo e deixar várias questões no ar. Parabéns!

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=5386#respond)Revista Espaço Acadêmico disse:

Deyvisson,

bom dia! Muito obrigado por ler e comentar. Permaneço aberto às críticas e sugestões. Abraços e tudo de bom

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=5388#respond)20. Raymundo de Lima disse:

13/06/2013 às 20:08

14/06/2013 às 8:21

13/06/2013 às 18:04

14/06/2013 às 8:17

13/06/2013 às 11:18

14/06/2013 às 8:16

13/06/2013 às 10:00

13/06/2013 às 10:19

13/06/2013 às 9:49

10/12/2017 O riso dos outros: o humor tem limites? | blog da Revista Espaço Acadêmico

https://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/ 9/10

“Piadas preconceituosas contra negros, mulheres, gays, lésbicas, gordos, deficientes físicos, etc. são engraçadas?”. FALTOU ACRESCENTAR: piadascontra judeus, japoneses. Claro, até o judeu agnóstico, Freud, gostava de contar piadas com este teor. Mas depois do genocídio nazista contra osjudeus, Freud e tantos outros PARARAM. Tem gente por aí que ainda conta piadas contra judeus, e até tentam fazer “piada” do genocídio-holocausto. Não tem graça, sobretudo quem teve toda a família morta nas câmaras de gás nazista. Conforme seu texto“[…] não há graça alguma paraquem sofre as ofensas em forma de humor!”. Porque neste caso a piada usa do sarcasmo, que quer se passar por “humor”. O sarcasmo denigre, maso verdadeiro humor eleva.

Portanto, não concordo que “a piada apenas desperta algo – um valor, um sentimento – na mente de quem riu”. Que está na cabeça de quem ri! Enão está na cabeça de quem faz a piada. Sim, concordo com o autor Ozai, que não existe piada neutra, ou que apenas reproduz os valores dos outros.O mesmo se pode dizer da pseudopiada que é o sarcasmo e a ironia. Aquele que produz busca parceiros para reforçar a maledicência contra alguém.

Interessante esta observação: “Mais jovem, eu ria muito de piada de gay. Hoje em dia, já tendo pensado sobre isso, eu realmente não acho mais graça.Você faz essa elaboração na sua cabeça e a partir daí você passa a não achar mais engraçado”, diz Pedro Arantes, diretor do doc. Então, podemoslevantar a seguinte tese: quanto mais tomamos consciência em relação ao outro da piada, mais nos limitamos nosso impulso de contar piadas quetem algum desgraçado para a gente rir. Quando mais avançamos nosso respeito em relação as diferenças humanas mais filtramos nosso senso dehumor. Será que o resultado no futuro é uma sociedade tão respeitosa e séria, e obviamente, SEM GRAÇA, literalmente!?

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=5385#respond)Revista Espaço Acadêmico disse:

Raymundo,

muito obrigado por ler e comentar. Fique tranquilo, sempre há motivos para rir. E para o humor, não há temas proibidos – a questão é a forma de contar a piada. No documentário,um dos entrevistados cita o exemplo dos judeus sob o nazismo que expressa uma forma diferente de se referir à própria desgraça. Aliás, oshumor judaico tem muito a nos ensinar. Tenho o livro “Do Éden ao Divã – Humor Judaico”, organizado por Moacyr Scliar, Patricia Finzi e EliahuToker. Eis um pequeno trecho da introdução:

“O humor não luta só contra, ele luta também por: por uma ética pessoal isenta de preceitos restritivos tradicionais, por uma sociedade mais justa,e pela liberdade de cada qual ser como é sem temer a ação insidiosa do preconceito. Em todo o conhecimento da transitoriedade das coisas“importantes” aos olhos dos homens, ressoam no fundo das melhores piadas judaicas, ecos proféticos e messiânicos, ainda que às vezes pálidos esecularizados”.

Obrigado. Abraços e tudo de bom

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=5387#respond)21. regina disse:

Parabéns por esta bela e oportuna reflexao, prezado editor. Sua analise das varias formas de humor esclarece as nuances entre o que merece o nomede humor, que é necessariamente inteligente e ampliador de horizontes e o humor grosseiro e facil do riso bestial. O texto vem completar o excelentedocumentario de Pedro Arantes.

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=5383#respond)Revista Espaço Acadêmico disse:

Regina,

bom dia. Meu sincero muito obrigado por suas palavras amáveis e de estímulo. Permaneço aberto às críticas e sugestões. Abraços e tudo de bom

Responder (h�ps://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/?replytocom=5384#respond)

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13/06/2013 às 10:18

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10/12/2017 O riso dos outros: o humor tem limites? | blog da Revista Espaço Acadêmico

https://espacoacademico.wordpress.com/2013/06/12/o-riso-dos-outros-o-humor-tem-limites/ 10/10