500 perguntas 500 respostas - produção orgânica de hortaliças

304

Upload: vominh

Post on 06-Jan-2017

244 views

Category:

Documents


4 download

TRANSCRIPT

  • 1

    O produtor pergunta, a Embrapa responde

  • Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

    Embrapa Hortalias

    Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    O produtor pergunta, a Embrapa responde

    Embrapa Informao Tecnolgica

    Braslia, DF

    2007

    Gilmar Paulo HenzFlvia Aparecida de Alcntara

    Francisco Vilela Resende

    Editores Tcnicos

  • Exemplares desta publicao podem ser adquiridos na:

    Embrapa Informao TecnolgicaParque Estao Biolgica (PqEB), Av. W3 Norte (final)70770-901 Braslia, DFFone: (61) 3340-9999Fax: (61) [email protected]

    Embrapa HortaliasBR 060 Rodovia BrasliaAnpolis, Km 9Caixa Postal 21870359-970 Braslia, DFFone: (61) 3385-9009Fax (61) [email protected]

    Produo editorial: Embrapa Informao TecnolgicaCoordenao editorial: Fernando do Amaral Pereira

    Mayara Rosa CarneiroLucilene Maria de Andrade

    Reviso de texto: Raquel Siqueira de LemosNormalizao bibliogrfica: Rosane Mendes Parmagnani

    Celina Tomaz de CarvalhoProjeto grfico da coleo: Mayara Rosa CarneiroEditorao eletrnica e arte-final da capa: Mrio Csar Moura de AguiarIlustraes do texto: Rogrio Mendona de AlmeidaFoto da capa: Arnaldo de Carvalho Jnior

    1 edio1 impresso (2007): 1.000 exemplares

    Todos os direitos reservadosA reproduo no autorizada desta publicao, no todo ou em

    parte, constitui violao dos direitos autorais (Lei no 9.610).

    CDD 635

    Embrapa 2007

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)Embrapa Informao Tecnolgica

    Produo orgnica de hortalias: o produtor pergunta, a Embrapa responde / editores tcnicos,Gilmar Paulo Henz, Flvia Aparecida de Alcntara, Francisco Vilela Resende. Braslia, DF :Embrapa Informao Tecnolgica, 2007.

    308 p. : il. (Coleo 500 perguntas, 500 respostas)

    ISBN 978-85-7383-385-0

    1. Cultivo. 2. Hortalia. 3. Horticultura. 4. Mercado. 5. Produo orgnica. 6. Qualidade I.Henz, Gilmar Paulo. II. Alcntara, Flvia Aparecida. III. Resende, Francisco Vilela. IV. EmbrapaHortalias. V. Coleo.

  • Autores

    Aelson Silva de AlmeidaEngenheiro agrnomo, mestre em Sociologia Rural, pr-reitorde Extenso da Universidade Federal do Recncavo da Bahia (UFRB),Cruz das Almas, BA

    Assis Marinho CarvalhoEngenheiro agrnomo, mestre em Fitotecnia, analista daEmbrapa Hortalias, Braslia, DF

    Celso L. MorettiEngenheiro agrnomo, doutor em Produo Vegetal, pesquisador daEmbrapa Hortalias, Braslia, DF

    Dejair Lopes de AlmeidaEngenheiro agrnomo, doutor em Agronomia, pesquisador daEmbrapa Agrobiologia, Seropdica, RJ

    Dione Melo SilvaEngenheira agrnoma, mestre em Extenso Rural, pesquisadora daEmbrapa Hortalias, Braslia, DF

    Edson Guiducci FilhoEngenheiro agrnomo, mestre em Extenso Rural, pesquisador daEmbrapa Hortalias, Braslia, DF

    Fabiana Ges de Almeida NobreZootecnista, fiscal federal agropecurio do Ministrio da Agricultura,Pecuria e Abastecimento (Mapa), Braslia, DF

    Flvia Aparecida de AlcntaraEngenheira agrnoma, doutora em Cincia do Solo, pesquisadora daEmbrapa Hortalias, Braslia, DF

    Francisco Vilela ResendeEngenheiro agrnomo,doutor em Produo Vegetal, pesquisador daEmbrapa Hortalias, Braslia, DF

  • Francisco R. CaporalEngenheiro agrnomo, doutor em Agroecologia, coordenador-geral do Departamentode Assistncia Tcnica e Extenso Rural do Ministrio do Desenvolvimento Agrrio(MDA), Braslia, DF

    Geni Litvin Villas BasEngenheira agrnoma, doutora em Entomologia, pesquisadora da EmbrapaHortalias, Braslia, DF

    Gilmar Paulo HenzEngenheiro agrnomo, doutor em Fitopatologia, pesquisador da Embrapa Hortalias,Braslia, DF

    Henoque R. da SilvaEngenheiro agrnomo, doutor em Engenharia Agrcola e Irrigao, pesquisador daEmbrapa Hortalias, Braslia, DF

    Jacimar Luis de SouzaEngenheiro agrnomo, doutor em Fitotecnia, pesquisador do Instituto Capixaba dePesquisa, Assistncia Tcnica e Extenso Rural (Incaper), Venda Nova do Imigrante, ES

    Joe Carlo Viana ValleEngenheiro florestal, presidente do Sindicato dos Produtores Orgnicos do DistritoFederal (SindiOrgnicos), Braslia, DF

    Jorge Ricardo de Almeida GoncalvesEngenheiro agrnomo, mestre em Administrao Rural, fiscal federal agropecurio doMinistrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (Mapa), Braslia, DF

    Jos Antonio Azevedo EspndolaEngenheiro agrnomo, doutor em Cincia do Solo, pesquisador da EmbrapaAgrobiologia, Seropdica, RJ

    Jos Guilherme Marinho GuerraEngenheiro agrnomo, doutor em Cincia do Solo, pesquisador da EmbrapaAgrobiologia, Seropdica, RJ

    Marcelo A. B. MorandiEngenheiro agrnomo, doutor em Fitopatologia, pesquisador da Embrapa MeioAmbiente, Jaguarina, SP

  • Maria Alice de MedeirosBiloga, doutora em Ecologia, pesquisadora da Embrapa Hortalias, Braslia, DF

    Mariane Carvalho VidalBiloga, mestre em Agronomia, pesquisadora da Embrapa Hortalias, Braslia, DF

    Marina Castelo BrancoEngenheira agrnoma, doutora em Entomologia, pesquisadora da EmbrapaHortalias, Braslia, DF

    Mrian Josefina BaptistaBiloga, doutora em Fitopatologia, pesquisadora da Embrapa Hortalias, Braslia, DF

    Moacir R. DaroltEngenheiro agrnomo, doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento, pesquisadordo Instituto Agronmico do Paran (Iapar), Curitiba, PR

    Neide Botrel GonalvesEngenheira agrnoma, doutora em Cincias dos Alimentos, pesquisadora da EmbrapaHortalias, Braslia, DF

    Nirlene Junqueira VilelaEconomista, mestre em Economia Rural, pesquisadora da Embrapa Hortalias,Braslia, DF

    Nuno R. MadeiraEngenheiro agrnomo, doutor em Produo Vegetal, pesquisador da EmbrapaHortalias, Braslia, DF

    Paulo Eduardo de MeloEngenheiro agrnomo, doutor em Gentica e Melhoramento de Plantas, pesquisadorda Embrapa Hortalias, Braslia, DF

    Raquel Alves de FreitasEngenheira agrnoma, doutora em Fitotecnia, analista da Embrapa Hortalias,Braslia, DF

  • Ricardo H. Silva SantosEngenheiro agrnomo, doutor em Fitotecnia, professor associadoda Universidade Federal de Viosa (UFV), Viosa, MG

    Roberto Guimares CarneiroEngenheiro agrnomo, mestre em Extenso Rural, coordenadorde Agroecologia da Empresa de Assistncia Tcnica e ExtensoRural do Distrito Federal (Emater/DF), Braslia, DF

    Roberto Guimares Habib MattarEngenheiro agrnomo, fiscal federal agropecurio do Ministrioda Agricultura, Pecuria e Abastecimento (Mapa), Braslia, DF

    Rogrio Pereira DiasEngenheiro agrnomo, fiscal federal agropecurio do Ministrioda Agricultura, Pecuria e Abastecimento (Mapa), Braslia, DF

    Ronessa Bartolomeu de SouzaEngenheira agrnoma, doutora em Solos e Nutrio de Plantas,pesquisadora da Embrapa Hortalias, Braslia, DF

    Rosane Mendes ParmagnaniBibliotecria, mestre em Cincia da Informao,analista da Embrapa Hortalias, Braslia, DF

    Rosileyde G. SiqueiraEngenheira agrnoma, doutoranda em Fitotecnia pela UniversidadeFederal de Viosa (UFV), Viosa, MG

    Tatiana Pires BarellaEngenheira agrnoma, mestre em Fitotecnia, professora do Centro Federalde Educao Tecnolgica de Rio Pomba (Cefet), Rio Pomba, MG

    Tereza Cristina de Oliveira SaminzEngenheira agrnoma, Mestre em Cincias Agrrias, coordenadora de Agroecologiado Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (Mapa), Braslia, DF

  • Wagner BettiolEngenheiro agrnomo, doutor em Fitopatologia, pesquisadorda Embrapa Meio Ambiente, Jaguarina, SP

    Waldir A. MarouelliEngenheiro agrnomo, doutor em Engenharia Agrcola e Biossistemas,pesquisador da Embrapa Hortalias, Braslia, DF

    Warley Marcos NascimentoEngenheiro agrnomo, doutor em Horticultura, pesquisador da Embrapa Hortalias,Braslia, DF

    Welington PereiraEngenheiro agrnomo, doutor em Plantas Daninhas, secretrio executivo do CTPda Embrapa Caf, Braslia, DF

  • Apresentao

    com satisfao que a Embrapa Hortalias disponibiliza paraa sociedade brasileira o livro Produo Orgnica de Hortalias.Este o primeiro volume produzido por nossa Unidade para a Co-leo 500 Perguntas 500 Respostas, um grande sucesso editorialda Embrapa Informao Tecnolgica. A produo orgnica de hor-talias um tema da mais alta relevncia para o Brasil, principal-mente considerando-se a enorme carncia de informaes sobreesse tema e tambm de tecnologias apropriadas para esse sistemade produo. Por essa razo, foram convidados pesquisadores, pro-fessores e extensionistas, com experincia nos diferentes assuntos,para responder aos questionamentos que os produtores orgnicosde hortalias enfrentam em seu cotidiano.

    Um importante diferencial deste livro a colaborao emparceria com tcnicos e pesquisadores de outros centros da Empre-sa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (Embrapa) (EmbrapaAgrobiologia, Embrapa Meio Ambiente e Embrapa Caf) e outrasinstituies, como o Instituto Agronmico do Paran (Iapar), o Ins-tituto de Pesquisa do Esprito Santo (Incaper), a Universidade Fede-ral de Viosa (UFV), a Empresa de Assistncia Tcnica e ExtensoRural do Distrito Federal (Emater/DF), o Sindicato dos ProdutoresOrgnicos do Distrito Federal (SindiOrgnicos), o Ministrio doDesenvolvimento Agrrio (MDA) e o Ministrio da Agricultura,Pecuria e Abastecimento (Mapa).

    Dessa maneira, cumprimento os editores, pela iniciativa, eos autores por terem aceito tamanho desafio. A dedicao de to-dos culmina com a publicao do presente livro, seguramente umagrande contribuio para o crescimento e desenvolvimento da pro-duo orgnica de hortalias no Brasil.

    Jos Amauri Buso

    Chefe-Geral da Embrapa Hortalias

  • Sumrio

    Introduo ..................................................................... 15

    1 Princpios Norteadores .................................................. 17

    2 Legislao e Certificao ............................................... 29

    3 Organizao da Propriedade ......................................... 43

    4 Propagao de Plantas................................................... 61

    5 Manejo do Solo ............................................................. 79

    6 Adubao Verde ............................................................ 99

    7 Adubao Orgnica .................................................... 113

    8 Manejo da gua .......................................................... 129

    9 Manejo de Insetos-Praga e Artrpodes ......................... 145

    10 Manejo de Doenas .................................................... 159

    11 Plantas Espontneas e Solarizao ............................... 179

    12 Ps-Colheita ................................................................ 199

    13 Qualidade ................................................................... 213

    14 Mercado e Comercializao ........................................ 227

    15 Custos de Produo ..................................................... 237

    16 Melhoramento Gentico.............................................. 247

    17 Produo de Sementes ................................................ 263

    18 Assistncia Tcnica ..................................................... 275

    19 Extenso Rural ............................................................. 285

    20 Fontes de Informao .................................................. 295

  • 14

  • 15

    Introduo

    A produo orgnica de hortalias um dos temas maisdemandados atualmente pela sociedade brasileira. Esse interessecrescente uma conseqncia direta da exigncia por parte dosconsumidores por alimentos mais saudveis, produzidos em umsistema que respeite o meio ambiente e que seja socialmente justo.At bem pouco tempo atrs, hortalias produzidas no sistemaorgnico eram uma raridade no mercado, oferecidas em pequenasfeiras ou comercializadas nas sedes de associaes de agriculturaorgnica, por preos bem mais elevados em relao s hortaliasproduzidas no sistema convencional.

    Hoje em dia, as hortalias produzidas no sistema orgnicoso facilmente encontradas nas gndolas dos supermercados e emoutros pontos de venda do varejo das mdias e grandes cidadesbrasileiras e correspondem a 60 % do volume de produtos orgnicos,um mercado que movimenta anualmente US$ 300 milhes em nossopas.

    O livro Produo Orgnica de Hortalias uma resposta daEmbrapa grande demanda por informaes, palestras e cursosnessa rea pelos diferentes segmentos dessa cadeia produtiva. Estelivro a obra mais atualizada sobre o tema publicado no Brasil, eincorpora a experincia da equipe de pesquisadores de vriasUnidades da Embrapa e de outras importantes instituies brasileiras.A obra pretende ser uma fonte constante de consulta para todos osinteressados no tema, principalmente os produtores de hortaliasbrasileiros. Os distintos temas relativos ao sistema orgnico deproduo de hortalias foram divididos em 20 captulos, seguindo-se o modelo de perguntas e respostas, que tornam o tema mais fcilde ser compreendido pelos leitores. As dvidas mais freqentesdos produtores sobre aspectos bsicos de produo, comopropagao de plantas, manejo do solo, adubao verde e orgnica,manejo da gua, doenas, insetos-praga e artrpodes, so abordadas

  • 16

    de forma objetiva, com as informaes disponveis atualmente.Como a agricultura orgnica de hortalias um assunto diferenciadonesta srie de livros, tambm foram abordados outros temas, comoprincpios norteadores, legislao e certificao, assistncia tcnica,extenso rural e fontes de informao, entre outros, que so defundamental importncia para aqueles que pretendem conhecercom mais profundidade esse importante ramo.

  • 17

    Tereza Cristina de Oliveira SaminzRogrio Pereira Dias

    Fabiana Ges de Almeida NobreJorge Ricardo de Almeida Gonalves

    Roberto Guimares Habib Mattar

    1 Princpios Norteadores

  • 18

    O que agroecologia?

    Agroecologia a cincia que apresenta uma srie deprincpios e metodologias para estudar, analisar, dirigir, desenhar eavaliar sistemas de produo de base ecolgica (agroecossistemas),mas no uma prtica agrcola ou um sistema de produo. umanova abordagem que integra os conhecimentos cientficos(agronmicos, veterinrios, zootcnicos, ecolgicos, sociais,econmicos e antropolgicos) aos conhecimentos populares paraa compreenso, avaliao e implementao de sistemas agrcolascom vista sustentabilidade.

    Qual a relao entre agroecologia e agricultura orgnica?

    Em termos simples, agroecologia a cincia que norteia ossistemas orgnicos de produo, ao passo que a agricultura orgnica a aplicao prtica dos conhecimentos gerados pela agroecologiae abrange todas as linhas de base ecolgica, como biodinmica,natural, conservacionistas.

    Como se pode definir a agricultura orgnica?

    A agricultura orgnica surgiu de 1925 a 1930 com os trabalhosdo ingls Albert Howard, que ressaltam a importncia da matriaorgnica nos processos produtivos e mostram que o solo no deveser entendido apenas como um conjunto de substncias, tendnciaproveniente da qumica analtica, pois nele ocorre uma srie deprocessos vivos e dinmicos essenciais sade das plantas (solovivo). Em 1940, Jerome Irving Rodale difundiu a agriculturaorgnica nos EUA. A base da agricultura orgnica o manejo dosolo com o uso da compostagem em pilhas, de plantas de razesprofundas, capazes de explorar as reservas minerais do subsolo, eda atuao de micorrizas na produtividade e sade das culturas.

    1

    2

    3

  • 19

    Como surgiu o termo agricultura orgnica usado hoje ?

    Na dcada de 1920 surgiram, quase que simultaneamente,alguns movimentos contrrios adubao qumica, que valorizavamo uso da matria orgnica e de outras prticas culturais favorveisaos processos biolgicos. Esses movimentos podem ser agrupadosem quatro grandes vertentes: a agricultura biodinmica, a orgnica,a biolgica e a natural. Com o passar do tempo surgiram outrasdesignaes de uso restrito para as quatro vertentes citadas, comomtodo Lemaire-Boucher, permacultura, ecolgica, ecologicamenteapropriada, regenerativa, agricultura poupadora de insumos,renovvel. Na dcada de 1970, o conjunto dessas vertentes passariaa ser chamado de agricultura alternativa e, logo depois, o termoagricultura orgnica passou a ser comumente usado com o sentidode agricultura alternativa.

    Como a legislao brasileira define a agricultura orgnica?

    O texto da Lei no 10.831, de 23/12/03, considera como sistemaorgnico de produo agropecuria todo aquele em que se adotamtcnicas especficas, mediante a otimizao do uso dos recursosnaturais e socioeconmicos disponveis e o respeito integridadecultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a susten-tabilidade econmica e ecolgica, a maximizao dos benefciossociais, a minimizao da dependncia de energia no-renovvel,empregando, sempre que possvel, mtodos culturais, biolgicos emecnicos, em contraposio ao uso de materiais sintticos, aeliminao do uso de organismos geneticamente modificados eradiaes ionizantes, em qualquer fase do processo de produo,processamento, armazenamento, distribuio e comercializao,e a proteo do meio ambiente. O conceito de sistema orgnico deproduo agropecuria e industrial abrange, portanto, osdenominados: ecolgico, biodinmico, natural, regenerativo,biolgico, agroecolgico, permacultura e outros que atendam osprincpios estabelecidos na Lei no 10.831.

    4

    5

  • 20

    O que agricultura biodinmica?

    A agricultura biodinmica fruto da antroposofia(conhecimento do ser humano), uma filosofia baseada nas idiasda cincia espiritual, fundada em 1924 pelo filsofo austracoRudolf Steiner. Embora fundamentada nos mesmos princpios etcnicas da agricultura orgnica, a biodinmica apresentapeculiaridades, como:

    As questes espirituais ligadas antroposofia. O uso de preparados biodinmicos. Os calendrios astrolgicos. Os testes de cristalizao sensitiva e cromatrografia de solos

    e de plantas. As marcas registradas universais Demeter e Biodyn. O equilbrio e harmonia entre cinco elementos bsicos:

    terra, plantas, animais, influncias csmicas e o homem.

    O que agricultura biolgica?

    A agricultura biolgica surgiu em 1941 com os trabalhos dosuo Hans Peter Muller. Em 1960, o mdico alemo Hans PeterRush sistematizou e difundiu as propostas de Muller. A compostagemna superfcie do solo e o teste microbiolgico de Rush para aavaliao da fertilidade do solo so particularidades desse mtodo,cujo princpio fundamental o ciclo das bactrias formadoras decido ltico e de nucleoprotenas. A partir de 1960, as atividadesda agricultura biolgica foram introduzidas na Frana pelo m-todo Lemaire-Boucher, tambm chamado de agrobiolgico. A pe-cualiridade desse mtodo o uso do p de uma alga marinha,Lithothamne calcareum, rica em micronutrientes, necessrios sculturas.

    O que agricultura natural?

    Em 1935, o japons Mokiti Okada criou uma religio que

    6

    7

    8

  • 21

    tinha como um dos seus alicerces a agricultura natural, cujoprincpio o respeito das leis da natureza pelas atividades agrcolas.Praticamente na mesma poca, em 1938, Masanobu Fukuokachegava a concluses muito semelhantes s de Okada. As prticasagrcolas mais recomendadas so a rotao de culturas e o uso deadubos verdes, compostos e cobertura morta sobre o solo.A agricultura natural bastante reticente em relao ao uso dematria orgnica de origem animal.

    O que agricultura regenerativa?

    o nome pelo qual a agricultura orgnica ficou conhecidanos EUA, na dcada de 1930. Esse modelo refora a busca daindependncia do agricultor pela maximizao do uso dos recursosencontrados e criados na prpria unidade de produo agrcolaem oposio busca de recursos externos.

    O que permacultura?

    Permacultura um mtodo surgido na Austrlia, no final dadcada de 1970, desenvolvido por Bill Mollison, que visa criaragroecossistemas sustentveis mediante a simulao dosecossistemas naturais e coloca as culturas perenes como elementocentral de sua proposta. um sistema evolutivo integrado deespcies animais e vegetais perenes, em que se destacam as rvoresteis ao homem. A principal tcnica aplicada o cultivo alternadode gramneas e leguminosas, e a manuteno de palha comocobertura do solo.

    Quais os princpios dos sistemasorgnicos de produo?

    Os princpios dos sistemas orgnicos de produo so: Contribuio da rede de produo orgnica ao

    9

    10

    11

  • 22

    desenvolvimento local, social e econmico sustentvel. Manuteno de esforos contnuos da rede de produo

    orgnica no cumprimento da legislao ambiental etrabalhista pertinentes na unidade de produo, consideradaem sua totalidade.

    Relaes de trabalho baseadas no tratamento com justia,dignidade e eqidade, independentemente das formas decontrato de trabalho.

    Incentivo integrao da rede de produo orgnica e regionalizao da produo e comrcio dos produtos,estimulando a relao direta entre o produtor e o con-sumidor final.

    Produo e consumo responsveis, comrcio justo esolidrio baseados em procedimentos ticos.

    Desenvolvimento de sistemas agropecurios baseados emrecursos renovveis e organizados localmente.

    Incluso de prticas sustentveis em todo o seu processo,desde a escolha do produto a ser cultivado at sua colocaono mercado, incluindo o manejo dos sistemas de produoe dos resduos gerados.

    Oferta de produtos saudveis, isentos de contaminantesoriundos do emprego intencional de produtos e processosque possam ger-los e que ponham em risco a sade doprodutor, do trabalhador ou do consumidor, e o meioambiente.

    Preservao da diversidade biolgica dos ecossistemasnaturais, a recomposio ou incremento da diversidadebiolgica dos ecossistemas modificados em que se insere osistema de produo, com especial ateno s espciesameaadas de extino, diversificao da paisagem e produo vegetal.

    Uso de boas prticas de manuseio e de processamento como propsito de manter a integridade orgnica e as qualidadesvitais do produto em todas as etapas.

    Adoo de prticas na unidade de produo que con-

  • 23

    templem o uso saudvel do solo, da gua e do ar de modoa reduzir ao mnimo todas as formas de contaminao edesperdcio desses elementos.

    Utilizao de prticas de manejo produtivo que preservemas condies de bem-estar dos animais. O manejo produtivodeve assegurar condies que permitam aos animais viverlivres de dor, sofrimento, angstia, em um ambiente emque possam comportar-se como se estivessem em seu hbitatoriginal, compreendendo movimentao, territorialidade,descanso e ritual reprodutivo. A nutrio dos animais deveassegurar alimentao balanceada, correspondente fisi-ologia e comportamento de cada raa.

    Incremento dos meios necessrios ao desenvolvimento eequilbrio da atividade biolgica do solo.

    Emprego de produtos e processos que mantenham ouincrementem a fertilidade do solo em longo prazo.

    Reciclagem de resduos de origem orgnica, reduzindo aomnimo o emprego de recursos no-renovveis.

    Manuteno do equilbrio no balano energtico doprocesso produtivo.

    Converso progressiva de toda a unidade de produo parao sistema orgnico.

    O que a teoria da trofobiose?

    De acordo com ateoria da trofobiose, asplantas desequilibradasficam mais suscetveisao ataque de pragas(fungos, bactrias, in-

    setos, nematides e outros). Esse desequilbrio pode ser provocadopor alteraes fisiolgicas, principalmente na composio da seivavegetal, em decorrncia de excesso ou falta de fatores nutricionais,de intoxicaes qumicas, do uso exagerado de produtos qumicos

    12

  • 24

    sintticos e de estresse hdrico, provocado por excesso ou falta degua. As pragas no possuem a capacidade de decompor eaproveitar substncias complexas e insolveis, mas so capazesde form-las a partir de substncias simples e solveis. Assim, oestado bioqumico das plantas e a presena ou ausncia desubstncias simples e solveis essenciais sobrevivncia das pragas que determinam seu estabelecimento ou no e o aparecimentodos sintomas de ataque. Como as molculas simples e solveisesto presentes nas plantas desequilibradas, as desordens fisiolgicastornam-nas mais suscetveis ao ataque das pragas. Como exemplospodem-se citar o uso de agrotxicos, que leva inibio da for-mao de substncias complexas e carncia de micronutrientesnas plantas, que inibe a formao de substncias complexas, e ouso exagerado de adubos nitrogenados solveis, que leva pro-duo de substncias mais simples, como os aminocidos.

    O que equilbrio ecolgico?

    Equilbrio ecolgico o estado ou condio de um ambientenatural, ou manejado pelo homem, em que ocorrem relaesharmoniosas entre os organismos vivos e entre estes e o meioambiente, ao longo do tempo. uma condio fundamental para asustentabilidade dos sistemas orgnicos de produo, no tempo eno espao.

    O que diversidade biolgica ou biodiversidade?

    A diversidade biolgica, ou biodiversidade, compreende todasas formas de vida do planeta (animais, plantas e microorganismos),suas diferentes relaes e funes e os diversos ambientes formadospor eles. responsvel pela manuteno e recuperao do equilbrioe da estabilidade dos ambientes naturais e manejados pelo homem.Proporciona o aumento da freqncia de reproduo, da taxa decrescimento, do tamanho e da diversidade de organismos vivosnum dado espao e o conseqente surgimento e manuteno de

    13

    14

  • 25

    espcies que sustentam outras formas de vida e modificam oambiente, tornando-o apropriado e seguro para a vida.

    Qual a relao e a importncia da biodiversidadepara a agricultura orgnica?

    Um dos princpios da produo orgnica a preservao eampliao da biodiversidade. A restituio da biodiversidade vegetalpermite o restabelecimento de inmeras interaes entre solo,plantas e animais, resultando em efeitos benficos para o agroe-cossistema. Entre esses efeitos podem-se citar:

    A variedade na dieta alimentar e de produtos para omercado.

    O uso eficaz e a conservao do solo e da gua, com aproteo da cobertura vegetal contnua, do manejo damatria orgnica e implantao de quebra-ventos.

    A otimizao na utilizao de recursos locais. O controle biolgico natural.

    Como so tratados os aspectos sociais e econmicosda produo na agricultura orgnica?

    A agricultura orgnica visa ao desenvolvimento de sistemasagropecurios sustentveis organizados localmente, levando emconsiderao os contextos culturais, sociais e econmicos. ummodelo de produo ambientalmente correto, socialmente justo eeconomicamente vivel em pequena, mdia e grande escala, quevisa otimizar o processo produtivo em vez de maximizar a pro-dutividade. A agricultura orgnica incentiva a integrao da cadeiaprodutiva, a regionalizao da produo e do comrcio de produtos,a relao direta entre produtor e consumidor final, o consumoresponsvel, o comrcio justo e solidrio, e relaes de trabalhobaseadas no tratamento com justia, dignidade e eqidade,independentemente das formas de contrato de trabalho.

    15

    16

  • 26

    O que so as boas prticas daproduo orgnica vegetal?

    As boas prticas da produo orgnica vegetal soprocedimentos orientadores, no obrigatrios, a serem adotadosno manejo dos agroecossistemas, e elaborados com a finalidade deserem incorporados, em mdio e longo prazos, nos regulamentostcnicos da produo orgnica.

    Quais as boas prticas na diversificaoda paisagem e na produo vegetal?

    Os sistemas orgnicos deproduo agropecuria devemassegurar a preservao da di-versidade biolgica dos ecossis-temas naturais e modificados emque se insere o sistema de produ-o. As prticas recomendadasso:

    Adoo de rotao de culturas diversas e versteis queincluam adubos verdes, leguminosas e plantas de razesprofundas, ou outras prticas promotoras de diversidade.

    Diversificao entre e dentro das espcies cultivadas. Utilizao de cordes de contorno. Promoo da biodiversidade vegetal e animal em reas em

    que esteja cultivada uma s espcie vegetal, com o plantiode vrias espcies de plantas, preferencialmente rvoresnativas, ou da implantao de faixas de vegetaointercaladas cultura principal, criando corredoresecolgicos.

    Cobertura apropriada do solo com espcies diversas pelomaior perodo possvel.

    17

    18

  • 27

    Quais as boas prticas no manejo orgnicoe na conservao do solo e gua?

    A unidade produtora deve destinar reas apropriadas cujomanejo respeite o hbitat de espcies silvestres, preserve a qualidadedas guas e a sade do solo. As prticas recomendadas so:

    Adoo de medidas para prevenir a eroso, a compactao,a salinizao e outras formas de degradao do solo.

    Minimizao das perdas de solo. Utilizao de matria orgnica. Planejamento de sistemas que utilizem os recursos hdricos

    de forma responsvel e apropriada ao clima e geografialocal.

    Planejamento e manejo de sistemas de irrigao con-siderando as especificidades de cada cultura.

    Manuteno e preservao de nascentes e mananciaishdricos.

    Utilizao de quebra-ventos. Integrao da produo animal e vegetal. Implantao de sistemas agroflorestais.

    Quais as boas prticas para a fertilidadedo solo e a fertilizao?

    A nutrio de plantas deve fundamentar-se nos recursos dosolo, e a base para o programa de adubao deve ser o materialbiodegradvel produzido nas unidades de produo orgnicas.O manejo da adubao deve minimizar as perdas de nutrientes,assim como o acmulo de metais pesados e outros poluentes.Os insumos, em seu processo de obteno, utilizao e arma-zenamento, no devem comprometer a estabilidade do hbitatnatural, a manuteno de quaisquer espcies presentes na rea decultivo ou no representar ameaa ao meio ambiente ou sadehumana.

    19

    20

  • 28

    Quais as boas prticas no manejo de insetos-praga?

    Os sistemas orgnicos de produo devem promover aestruturao das culturas em ecossistemas equilibrados visando maior resistncia a pragas e promoo da sade do organismoagrcola. O uso de produtos e processos para controle de organismospotencialmente danosos s culturas deve preservar o desen-volvimento natural das plantas, a sustentabilidade ambiental, asade do agricultor e do consumidor final, inclusive em sua fase dearmazenamento.

    21

  • 29

    Tereza Cristina de Oliveira SaminzRogrio Pereira Dias

    Roberto Guimares Habib MattarFabiana Ges de Almeida Nobre

    Jorge Ricardo de Almeida Gonalves

    2 Legislao e Certificao

  • 30

    Por que importante uma legislaosobre a agricultura orgnica?

    Porque a legislao estabelece um conjunto de normas eprocedimentos a serem cumpridos e observados por todos queintegram a rede de produo orgnica. Alm disso, estabelecelegalmente conceitos, definies e princpios relacionados agricultura orgnica.

    Qual a legislao brasileira vigentesobre agricultura orgnica?

    A Lei no 10.831 de 23/12/03, as Instrues Normativas no 007e no 016, do Ministrio da Agricultura, publicadas em 17/5/99 e16/6/04, respectivamente, e a Portaria no 158, do Ministrio daAgricultura, publicada em 8/7/04. A Lei no 10.831 encontra-se emfase de regulamentao. A regulamentao ocorrer na forma deDecreto e de atos normativos complementares, e, no ato dapublicao da regulamentao e dos atos complementares, asInstrues Normativas no 007 e no 016 e a Portaria no 158 perderoa validade. O acesso a essa legislao est disponvel no stio no link do Sistema de Legislao AgrcolaFederal (Sislegis) ou no link Agricultura Orgnica, na parte delegislao.

    A Instruo Normativa no 007, do Ministrio daAgricultura, publicada em 17/5/99, dispe sobre qu?

    A Instruo Normativa no 007 (IN007) foi o primeiro regu-lamento tcnico brasileiro e estabelece as normas de produo,tipificao, processamento, embalagem, distribuio, identificaoe de certificao da qualidade para os produtos orgnicos de origemvegetal e animal. Abrange tanto os produtos denominados orgnicoscomo os ecolgicos, biodinmicos, naturais, sustentveis, rege-nerativos, biolgicos, agroecolgicos e da permacultura. Estar emvigor at que a regulamentao da Lei no 10.831 seja publicada.

    22

    23

    24

  • 31

    A Lei no 10.831, do Ministrio da Agricultura,publicada em 23/12/03, dispe sobre qu?

    A Lei no 10.831 o principal marco legal da agricultura or-gnica brasileira, que estabelece critrios para a comercializaode produtos, define responsabilidades pela qualidade orgnica,pelos procedimentos relativos fiscalizao, aplicao de san-es, ao registro de insumos e adoo de medidas sanitrias efitossanitrias que no comprometam a qualidade orgnica dosprodutos.

    A Instruo Normativa no 016, do Ministrio daAgricultura, publicada em 11/6/04, dispe sobre qu?

    Estabelece os procedimentos a serem adotados at que seconcluam os trabalhos de regulamentao da Lei no 10.831, pararegistro e renovao de registro de matrias-primas e de produtosorgnicos de origem animal e vegetal, no Ministrio da Agricultura,Pecuria e Abastecimento (Mapa), com base na declarao dofornecedor quanto ao cumprimento dos requisitos legais esta-belecidos para produo orgnica. Os registros efetuados pela IN016tero validade at o prazo que vier a ser estabelecido pela regula-mentao da Lei no 10.831.

    A Portaria no 158, do Ministrio da Agricultura,publicada em 8/7/04, dispe sobre qu?

    Determina que o Programa de Desenvolvimento da AgriculturaOrgnica (Pro-Orgnico), nos assuntos relativos sua execuo,seja assessorado pela Comisso Nacional da Produo Orgnica(CNPOrg) e pelas Comisses da Produo Orgnica nas Unidadesda Federao (CPOrg-UF). Essa portaria define a composio e ascompetncias dessas comisses e vigorar at a publicao daregulamentao da Lei no 10.831, que contar com uma Instruo

    25

    26

    27

  • 32

    Normativa exclusiva para regulamentar sua estrutura, composioe suas atribuies.

    A lei brasileira sobre a produo orgnica e suaregulamentao so parecidas com as de outros pases?

    Como vrios pases do mundo comearam a criar legislaesespecficas para os produtos orgnicos e como isso poderia resultarem barreiras para o comrcio internacional, foi aprovada umaDiretriz Internacional voltada a orientar os pases em seus processosde regulamentao. Por essa razo, a legislao brasileira se parececom a de vrios pases, uma vez que foi feita com base nessesregulamentos, porm sem deixar de levar em conta as parti-cularidades brasileiras.

    Qual a diferena entre normas eregulamentos da produo orgnica?

    As normas so procedimentos exigidos pelas entidadesprivadas, de livre e voluntria adeso por parte do produtor, aopasso que os regulamentos so prprios dos rgos pblicos e devemser cumpridos obrigatoriamente. Ambos definem regras para usode produtos e processos em atividades tcnicas, socioeconmicase ambientais ligadas aos sistemas orgnicos de produo, previstospela Lei no 10.831. Os procedimentos descritos nas normas devemobrigatoriamente atender s exigncias contidas nos regulamentos,podendo ser mais restritivos em determinados aspectos consideradosrelevantes, ou para atenderem a mercados especficos.

    O que a avaliao da conformidade orgnica?

    A avaliao da conformidade orgnica o procedimento queinspeciona, avalia, garante e informa se um produto ou processoest adequado s exigncias especficas da produo orgnica.

    28

    29

    30

  • 33

    A avaliao da conformidade orgnica feita pela certificao porauditoria e pelos mecanismos de organizao com controle social.

    Quais os mecanismos de organizao com controlesocial utilizados na avaliao, garantia e informaoda qualidade orgnica?

    Os mecanismos de organizao com controle social so osprprios produtores organizados localmente, garantindo e in-formando diretamente aos consumidores a qualidade orgnica deseus produtos, e os sistemas participativos de avaliao daconformidade orgnica.

    Como ocorre a verificao, garantia e informao daqualidade orgnica no processo de relao direta entreprodutores e consumidores?

    A garantia est na relao direta entre produtores econsumidores, que permite a estes ltimos conhecerem e confiaremnos produtores e nos processos produtivos, tendo os produtores omecanismo de organizao com controle social, formalizado ouno. Na organizao social h co-responsabilidade entre osprodutores envolvidos no processo, podendo a veracidade daqualidade da produo de um produtor ser verificada e garantidapor outro produtor, e ocorrer, tambm, a reafirmao da idoneidadequando do envolvimento de empresas de assistncia tcnica decarter pblico ou privado.

    Como ocorre a verificao, garantia e informaoda qualidade orgnica nos sistemas participativosde avaliao da conformidade orgnica?

    So sistemas socioparticipativos de organizao com controlesocial, normalmente em forma de rede, de abrangncia regional,

    31

    32

    33

  • 34

    com o envolvimento de produtores, tcnicos e consumidores.A rede organizada em ncleos que renem grupos de produtores,consumidores e entidades de uma regio com caractersticassemelhantes, projetos e propostas afins, o que facilita a troca deinformaes e a participao. Assim, h a participao efetiva detodos os envolvidos no processo e, na maioria das vezes, osconsumidores tambm fazem visitas de inspeo s propriedades,onde todos assumem a co-responsabilidade pela qualidade dosprodutos da rede, ou seja, responsabilidade social. Portanto, umsistema solidrio de gerao de credibilidade. Como exemplos,podem-se citar a pioneira Rede Ecovida de Agroecologia, comabrangncia de atuao na Regio Sul do Pas, a Associao deCertificao Scio-Participativa (ACS), na Regio Norte, aCertificao Participativa da Rede Cerrado, na Regio Centro-Oeste,e a Rede Xique-Xique de Certificao Participativa, na RegioNordeste.

    A Lei n.o 10.831 reconhece os mecanismosde organizao com controle social utilizadosna avaliao da conformidade orgnica?

    Os mecanismos de organizao com controles sociaisutilizados na avaliao da conformidade orgnica foram reco-nhecidos e garantidos no texto da Lei no 10.831, que garante aiseno de certificao para a comercializao direta de produtosorgnicos por produtores familiares, inseridos em processo deorganizao com controle social e cadastrados em rgo fiscalizadorconveniado. Para produtos comercializados de forma indireta oupor produtores no familiares, os produtores tero que certificarseu processo produtivo, pelo sistema participativo de avaliao daconformidade ou pela certificao por auditoria. A regulamentaoda Lei no 10.831 prev tambm a fiscalizao pelos rgoscompetentes dos mecanismos de organizao com controle socialutilizados para a avaliao da conformidade orgnica.

    34

  • 35

    O que certificao por auditoria?

    a avaliao da conformidade orgnica pela qual a garantiada qualidade orgnica do produto, obtida em determinada unidadede produo, dada por uma terceira parte, a certificadora, noenvolvida no processo produtivo, que uma instituio queinspeciona as condies tcnicas, sociais e ambientais e verifica seesto de acordo com as exigncias dos regulamentos especficosda produo orgnica. A certificao concretizada com aassinatura de contrato entre certificadora e representante legal daunidade de produo, com conseqente autorizao para utilizaoda marca da certificadora. A unidade certificada passa a receberinspees no mnimo duas vezes ao ano, para verificao daconformidade, e o inspetor produz um relatrio onde os critriosde conformidade so listados e avaliados. As certificadoras possuemnormas prprias, mas todas seguem o regulamento oficial. A Lei no

    10.831 prev que as certificadoras devem se credenciar noMinistrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (Mapa).

    O que um produto orgnico certificado?

    o produto que possui as caractersticas de conformidadeorgnica, podendo usar um selo de qualidade, autorizado pelacertificadora ou pelo sistema socioparticipativo de avaliao daconformidade orgnica.

    O que o selo de qualidade orgnicade um produto certificado?

    um selo que identifica os produtos e insumos orgnicos comessa qualidade especfica. Aps passar por todas as etapas deavaliao da conformidade orgnica, uma unidade de produoest apta a usar esse selo em seus produtos. Cada organismo deavaliao da qualidade orgnica e/ou certificadora possui seloprprio. A Lei no 10.831 prev a criao de um selo para o sistema

    35

    36

    37

  • 36

    brasileiro de avaliao da conformidade orgnica, que ser o selooficial do governo brasileiro para os produtos avaliados porentidades (certificadoras e outros organismos de avaliao daconformidade orgnica) credenciadas nos rgo competentes.O produtor pode usar os dois tipos de selo, tanto o da entidadequanto o oficial, sendo este ltimo de uso obrigatrio.

    Como solicitar a certificao de produtos orgnicos?

    Depois de adotar as prticas de manejo exigidas pelosregulamentos da produo orgnica, a unidade de produo estapta a solicitar a certificao, feita por uma entidade que avalia aconformidade orgnica, isto , que analise todo o processo produtivoe socioambiental da rea. aconselhado solicitar que a certificadoraescolhida faa uma visita de pr-certificao, quando ser definidoo perodo de converso da unidade produtiva, com base num planode manejo com a forma de implantao das exigncias especficasda produo orgnica.

    O que as certificadoras exigem?

    As certificadoras e os demais organismos de avaliao daconformidade orgnica exigem que os processos e produtos uti-lizados no sistema de produo orgnico estejam de acordo comas normas especficas da produo orgnica. O sistema de controleda produo orgnica exige ainda que haja rastreabilidade, isto ,o produto, ao ser comprado no mercado, tem que ser identificadode maneira que se possa chegar sua origem.

    Todas as certificadoras usam os mesmos critriospara certificar a produo orgnica?

    No. As certificadoras e os organismos de avaliao daconformidade orgnica podem exigir particularidades no sistemade produo da unidade, de acordo com suas normas especficas.

    38

    39

    40

  • 37

    Ao assinar um contrato ou termo de compromisso com determinadaentidade, o produtor deve cumprir as exigncias previstas, mas asnormas devem obrigatoriamente atender s exigncias contidas nosregulamentos oficiais. Por exemplo: algumas entidades no per-mitem uso de estercos animais na adubao, ao passo que outrasexigem o uso de insumos especficos para que o produto recebauma classificao diferenciada. As normas podem ser solicitadasdiretamente s certificadoras, ou acessadas pela Internet, em seusrespectivos stios.

    Pode-se mudar de certificadora a qualquer tempo?

    A adeso aos mtodos orgnicos de produo voluntria,mas para que o produto tenha os atributos de qualidade orgnica,o cumprimento das normas especficas de produo obrigatrio.Isso significa que obrigatria a adeso a um mecanismo deavaliao da conformidade orgnica. O produtor livre paraescolher o mecanismo de avaliao mais adequado s suas con-dies, portanto a mudana de certificadora livre, devendo oprodutor ficar alerta para os prazos de vigncia dos contratos e/outermos de compromisso com as entidades.

    Outro aspecto a considerar so as exigncias especficas decada entidade, cabendo ao produtor decidir pela que melhor seaplica ao seu sistema produtivo e ao mercado. O produtor deveobservar se as entidades certificadoras e/ou outros organismos deavaliao da conformidade orgnica so credenciados pelo Mapa,o que se dar somente aps aregulamentao da Lei no 10.831,prevista para o ano de 2007.

    Quanto custa o serviode certificao?

    A certificao pode ter custodiferente entre as entidades que

    41

    42

  • 38

    prestam esse servio. Na certificao por auditoria, o valor composto pela taxa de adeso, pelo custo do servio de inspeo(semestral ou anual), resultante de dirias e passagens do inspetor edo respectivo relatrio de visita. Pode haver variao de custo entrea certificao solicitada, individual ou coletivamente. No caso daavaliao da conformidade orgnica realizada pelo sistemasocioparticipativo, previsto na Lei no 10.831, os custos so assumidospela comunidade de produtores interessada (associao,cooperativa, etc.).

    Quais as vantagens de se ter umproduto orgnico certificado?

    Ao colocar no mercado um produto com selo orgnico, oprodutor pode obter vantagens em relao ao produto convencional,pois cada vez mais o consumidor tende a dar preferncia a umproduto cuja qualidade envolva atributos relacionados sade, justia social, conservao e preservao ambientais, como ocaso do produto orgnico, especialmente quando h preoscompetitivos. Outra vantagem para o produtor o aumento dapreferncia pela aquisio do produto orgnico pelos mercadosinstitucionais, como as escolas, os hospitais e o programa deAquisies do Governo Federal (AGF), em que o produto orgnicoalcana valorizao de cerca de 30 % em relao ao convencional.

    O que converso?

    Converso o perodo de tempo mnimo necessrio para umaunidade de produo ser considerada apta a receber a classificaode orgnica, aps ter cumprido todas as exigncias especficaspara a produo orgnica.

    Como fazer a converso da rea?

    Para fazer a converso, a unidade de produo deve adotar

    43

    44

    45

  • 39

    as tcnicas agropecurias preconizadas nos regulamentos oficiaispara a produo orgnica e procurar se adequar s especificidadesdas normas de produo da certificadora que pretende contratar.Na converso, no so considerados apenas os aspectos normativos,mas tambm os biolgicos e educativos.

    Quais os aspectos educativos da converso?

    Os aspectos educativos da converso correspondem aoaprendizado, por parte dos agricultores e trabalhadores, dosconceitos e tcnicas de manejo que viabilizam a agricultura or-gnica. Esse aprendizado compreende etapas que precisam sertrilhadas sucessivamente, para evitar prejuzos no resultado final.

    Quais os aspectos biolgicos da converso?

    a parte mais tcnica da converso, porque envolve aspectosagronmicos, veterinrios, zootcnicos e biolgicos, incluindo oreequilbrio das populaes de insetos e das condies do solo, adiferenciao da paisagem e a necessidade de reorganizao doconhecimento tcnico pelo enfoque da ecologia.

    Qual o tempo necessrio para fazera converso da rea pelas leis atuais?

    O perodo de converso, previsto na regulamentao da Lei no

    10.831, ser varivel de acordo com o tipo de explorao e autilizao anterior da unidade de produo. Para a produo vegetal,esses perodos sero definidos de acordo com as seguintescondies:

    Mnimo de 12 meses de manejo orgnico na produovegetal de culturas anuais, para que a produo do ciclosubseqente seja considerada orgnica.

    Mnimo de 18 meses de manejo orgnico na produovegetal de culturas perenes, para que a colheita subseqente

    46

    47

    48

  • 40

    seja considerada orgnica. Mnimo de 12 meses de manejo orgnico ou pousio na

    produo vegetal de pastagens perenes.

    Qual o tempo necessrio para fazer aconverso da rea pelas certificadoras?

    As normas de produo da certificadora ou de outrosorganismos de avaliao da conformidade orgnica prevemperodos diferentes para o tempo de converso, dependendo dealguns fatores, como uso anterior da rea, produtos qumicossintticos utilizados no sistema convencional antes da converso,a situao ecolgica e social atual (adequao s exignciasambientais e cumprimento da legislao trabalhista) e o temponecessrio para o treinamento dos colaboradores nas prticasecolgicas.

    Como saber se a rea j podeser considerada orgnica?

    Aps implementar o plano de manejo da unidade deproduo, cumprir os prazos exigidos para o perodo de converso,receber a visita do organismo de avaliao da conformidadeorgnica, a certificadora ou outro organismo de avaliao daconformidade orgnica avaliar o pedido de certificao com baseno relatrio de inspeo (visita unidade produtiva). A avaliaoda solicitao de certificao realizada por um conselho decertificao, que aprova as condies tcnicas, ambientais e sociaisda unidade de produo.

    Quais as principais dificuldadesno perodo de converso?

    Com base nas dimenses da sustentabilidade (econmica,social, tcnica, poltica e ecolgica), pode-se considerar que as

    49

    50

    51

  • 41

    unidades de produo no perodo de converso apresentamdesequilbrios, principalmente nas dimenses econmica e tcnica.

    Em relao dimenso tcnica, a menor produtividadeacontece no perodo de converso para algumas situaes e culturas,em que o manejo de pragas, doenas e invasoras mais difcil,havendo uma tendncia de equilbrio ecolgico e crescimento daprodutividade orgnica com o passar dos anos.

    De modo inverso, em projetos de agricultores pobres e emregies marginais, onde se pratica agricultura tradicional, observa-se que a converso pode ser conduzida com ganhos no rendimentodas culturas. Trata-se, nesse caso, da intensificao do uso de prticasorgnicas. Contudo, em sistemas intensivos no uso de insumosqumicos e com rendimentos fsicos muito elevados, pode-se esperaruma baixa na produo. De modo geral, a agricultura orgnica menos eficiente em termos de produtividade, mas cabe salientarque os agricultores orgnicos no esto preocupados com aprodutividade em si, mas com o rendimento do sistema em seuconjunto. Por isso, uma produo por rea menor do que a dosistema convencional no significa um menor desempenho globalda unidade de produo.

    Quais os impactos do perodo de converso nosaspectos econmicos e ecolgicos da propriedade?

    Na dimenso econmica, os maiores riscos de abandonar aatividade, em curto prazo, ocorrem na fase de converso, da anecessidade de financiamento e incentivos especficos a esseperodo, para que os produtores permaneam na atividade, at quea fase de converso termine e haja condies de o agricultorcomercializar sua produo como orgnica. No perodo deconverso tambm ocorrem deficincias na integrao de atividadescomo lavoura, pecuria e floresta, acarretando maior dependnciade insumos externos, o que dificulta o equilbrio dos fatoreseconmicos por causa do aumento de custos com insumos.

    52

  • 42

    Na dimenso ecolgica, analisando os aspectos internos dosistema, percebe-se que as unidades com maior dificuldade noprocesso de converso so as que apresentam os recursos naturaismais degradados, pouca diversificao e falta de integrao dasatividades. Diversos estudos tm demonstrado que a agriculturaorgnica uma alternativa sustentvel, demonstrando que, medidaque ocorre a consolidao do sistema orgnico de produo, existea tendncia de equilbrio entre as diferentes dimenses da susten-tabilidade. Alm disso, a converso da agricultura convencionalpara a agricultura orgnica, apesar de ser uma etapa delicada nosprimeiros 2 anos, proporciona com o passar do tempo um impactofavorvel ao agricultor, ao consumidor e ao meio ambiente.

  • 43

    3Organizaoda Propriedade

    Francisco Vilela ResendeMariane Carvalho Vidal

  • 44

    Por que na agricultura orgnica a propriedade considerada como um todo, ao contrrio dosistema convencional?

    Na agricultura orgnica, a propriedade rural consideradaum agroecossistema, que se traduz num sistema agrcola baseadona biodiversidade do local. Depende das interaes e dos ciclosbiolgicos das espcies vegetais e animais e da atividade biolgicado solo, do uso mnimo de produtos externos propriedade e domanejo de prticas que restauram, mantm e promovem a harmoniaecolgica do sistema. Portanto, o sucesso e a sustentabilidade dossistemas orgnicos dependem da integrao de todos os recursosinternos da propriedade, buscando-se o equilbrio entre os recursosnaturais, as plantas cultivadas, a criao de animais e o prpriohomem. Ao passo que no sistema convencional uma lavoura tratada de forma individualizada e com a maioria dos insumos dealto custo energtico vindos de fora da propriedade, no sistemaorgnico procura-se explorar ao mximo os fatores inerentes aoambiente e os recursos internos propriedade.

    Por que a propriedade orgnica considerada um organismo agrcola?

    O termo agricultura orgnica est associado mais ao conceitode organismo agrcola do que ao uso de adubao orgnica, comoacreditam muitas pessoas pouco familiarizadas com o tema. Nesseorganismo modificado pela ao do homem, ocorrem complexasinteraes entre os seres vivos e os elementos naturais (solo,nutrientes, ar, temperatura, gua, etc.), e a obteno do produto(colheita) depende da manuteno do equilbrio desse sistema que,por sua vez, depende do papel individual de cada um desseselementos e de suas relaes. Esse organismo tambm deve sersaudvel, alm do ponto de vista agronmico, nos aspectoseconmico, social e ecolgico. Muitas correntes da agriculturaorgnica advogam que devem ser estabelecidas ligaes entre todasas formas de matria e de energia presentes na propriedade para se

    53

    54

  • 45

    aproximar do equilbrio do ambiente natural. Prioriza-se a utilizaodos elementos orgnicos produzidos na propriedade agrcola, poisnela todas as atividades devem estar de alguma forma integradas.Esse modelo de conservao apoiou-se nos movimentos depreservao da natureza associados ao modelo de exploraoagrcola inglesa e no conceito de exausto do solo preconizadopelos cientistas.

    Por que o sistema orgnico de produose contrape monocultura?

    O uso crescente dos adubos qumicos e agrotxicos pos-sibilitou a simplificao dos sistemas agrcolas, de forma que apenasuma cultura pudesse ser cultivada em determinada regio paraatender as necessidades locais ou as exigncias de mercado. Essemodelo permitiu o aparecimento de pragas, doenas, plantas in-vasoras especializadas e uma srie de outros problemas peculiarespara essas culturas. A manuteno da fertilidade do solo e a sanidadedos cultivos depende de rotaes de culturas, da reciclagem debiomassa e, principalmente, da diversidade biolgica. Essadiversidade o principal pilar da agricultura orgnica a contribuirpara a manuteno do equilbrio do sistema e, conseqentemente,do solo e da cultura. Portanto, o equilbrio biolgico e ambiental,bem como a fertilidade do solo, no podem ser mantidos commonoculturas.

    Nos cultivos especializados, onde prevalece apenas umacultura de interesse econmico, deve-se estabelecer algum grau dediversificao, que conseguido com a insero de reas de refgioe/ou cordes de contorno com espcies variadas, consrcios comadubos verdes e/ou plantas repelentes/atrativas e com o manejodas plantas espontneas.

    Como feita a diversificao do sistema?

    O produtor orgnico deve se preocupar prioritariamente com

    55

    56

  • 46

    a diversificao da paisagem geral de sua propriedade de forma arestabelecer o equilbrio entre todos os seres vivos da cadeiaalimentar, desde microrganismos at pequenos animais, pssaros eoutros predadores. A introduo de espcies vegetais com mltiplasfunes no sistema produtivo a base do (re)estabelecimento doequilbrio da propriedade. Nesse contexto, incluem-se espcies deinteresse econmico, arbreas, atrativas e ornamentais. Deve-seatentar tambm para o papel fundamental das espcies espontneasno processo de diversificao. Dessa forma, procura-se atingir asustentabilidade da unidade produtiva no tempo e no espao pelaincorporao de caractersticas de ecossistemas naturais, como:

    Reciclagem de nutrientes. Uso de fontes renovveis de energia. Manuteno das relaes biolgicas que ocorrem

    naturalmente. Uso de materiais de origem natural, evitando os oriundos

    de fora do sistema. Estabelecimento de padres de cultivos apropriados com

    espcies de plantas agrcolas e animais adaptados scondies ecolgicas da propriedade.

    nfase na conservao do solo, gua, energia e recursosbiolgicos.

    Como se deve planejar um sistemaorgnico de produo de hortalias?

    O planejamento do sistema orgnico exige que a propriedadeseja considerada no todo, com uma viso integrada do manejo eestruturas do ecossistema rompendo as barreiras disciplinares, umavez que a propriedade entendida como um organismo vivo,dinmico e sistmico. O ideal que o nmero mximo de aspectosdo funcionamento seja previsto nesse planejamento. importanteconsiderar dois aspectos fundamentais: a fonte de biomassa paraalimentao do sistema e a fonte de gua de qualidade parairrigao.

    57

  • 47

    A fonte de biomassa determinar o tipo de infra-estrutura dearmazenagem e o mtodo de processamento e de aplicao domaterial fertilizante. A localizao dessa infra-estrutura, bem comodas reas de compostagem, deve facilitar a distribuio dos fer-tilizantes nas reas de cultivo. Deve-se considerar que, no sistemaorgnico, a exigncia de mo-de-obra para preparo e distribuiode adubo alta, assim como a quantidade de fertilizante necessriapor rea tambm muito maior que no sistema convencional.

    Com relao gua de irrigao, os contaminantes qumicosou biolgicos no podem estar acima dos limites de segurana.Caso a gua disponvel no se enquadre nas normas de qualidade,o que freqente, ser necessrio trat-la ou encontrar uma fontealternativa.

    O calendrio de plantio tambm deveser feito durante o planejamento?

    Sim. A horta um espaode produo intensiva detrabalho. Por isso, indis-pensvel planejar as atividadesde acordo com a mo-de-obradisponvel. muito freqenteque, por falhas de planeja-mento, falte mo-de-obra parase atingir as metas previstas.A incluso dos trabalhadoresno planejamento do calendrio

    contribui para seu sucesso, pois proporciona uma viso global dahorta.

    O calendrio de semeadura e a seqncia de culturas emcada talho da horta e/ou canteiro precisa ser bem compreendido.A identificao dos talhes e faixas de cultivo fundamental parao gerenciamento dos cultivos, facilitando a implantao deesquemas de rotao de culturas, cultivos seqenciais, consrcios

    58

  • 48

    e estabelecimento de reas de pousio ou para adubao verde.Cartazes e lousa para anotaes das tarefas a serem executadaspodem ajudar. A finalidade desses procedimentos criar uma rotinaque facilite o andamento da produo. O xito na produoorgnica de hortalias depende de um controle de todos oscomponentes do sistema de produo ainda mais eficiente que naproduo convencional. Por esses motivos, observa-se que ossistemas orgnicos esto avanando bastante no componenteadministrativo das propriedades.

    Como deve ser dividida a rea de cultivo emum sistema orgnico de produo de hortalias?

    A produo orgnica de hortalias exige a reformulao daorganizao da propriedade, que diverge bastante da disposioadotada no sistema convencional. O aspecto mais importante asubdiviso da propriedade em talhes que, preferencialmente, noultrapassem 1.000 m2, com elementos que promovam ocondicionamento climtico das culturas e a preservao dabiodiversidade.

    O uso intensivo das reas associado a ciclos sucessivos decultivo exige maior ateno dos produtores de hortalias naconstruo e proteo dos talhes. O talho possui papel fun-damental na administrao da propriedade e gerenciamento dasatividades de produo. A disposio dos talhes e da infra-estruturana propriedade deve reduzir as necessidades de transporte e demo-de-obra para execuo dos trabalhos, pois na produo dehortalias h grande movimentao de mo de obra e insumos, oque exige eficincia no funcionamento do sistema, visando facilitara administrao e reduzir os custos da atividade.

    A delimitao dos espaos fsicos da horta feita porcarreadores principais e secundrios. O dimensionamento doscarreadores deve ser realizado de forma a perder o mnimo possvelde rea produtiva. Os caminhos secundrios devem apresentardimenses de 30 cm de largura, no mximo, para permitir apenas

    59

  • 49

    o trnsito de pessoas e carrinhos de mo. Os carreadores principaisdevem ser dimensionados com 1,5 m a 2 m, permitindo a entradade mquinas e equipamentos para transporte de insumos eescoamento da produo.

    O que condicionamento microclimtico?

    As condies climticas interferem de maneira decisiva naproduo de hortalias. Extremos de temperatura, umidade eexcesso de ventos podem comprometer a produo da maioria dashortalias. O condicionamento climtico conseguido com adelimitao dos talhes de cultivo por cordes de contorno oucercas vivas, uso de cobertura morta de solo com restos de gramnease/ou leguminosas, plantio direto sobre palhadas e plantiosconsorciados. O uso de coberturas vivas com algumas espcies degrama e leguminosas rasteiras, como amendoim forrageiro, tem sidotestado para o cultivo de hortalias, contribuindo para melhorar oambiente de cultivo e outros benefcios.

    O principal mecanismo utilizado pelo produtor orgnico comofator de controle climtico a cerca viva, que funciona como umquebra-vento, reduzindo o impacto dos ventos frios ou quentes e amovimentao de algumas pragas e doenas, criando umaseqncia de microclimas, com maior ou menor sombreamento,umidade e temperatura, garantindo eficincia na fotossntese.A cerca viva funciona tambm como um tampo fitossanitrio,dificultando a livre circulao de pragas e inculos de doenasdentro da propriedade.

    O que so cordes de contorno?

    So faixas de vegetao que circundam a propriedade,permitindo isolamento das reas de cultivo convencionalcircunvizinhas, e utilizados tambm para diviso dos talhes decultivo. um componente fundamental na organizao de umapropriedade orgnica voltada para a produo de hortalias.

    60

    61

  • 50

    Apresentam mltiplas finalidades como o funcionamento comobarreiras fitossanitrias, dificultando a livre circulao de pragas edoenas entre propriedades vizinhas e entre os talhes de cultivo;a criao de microclimas mais propcios ao cultivo de hortalias; aformao de reas de refgio e abrigo para inimigos naturais depragas e outros pequenos animais teis. Resumindo, a instalaodessas faixas de vegetao permite a criao de condies climticasfavorveis reduo do estresse sofrido pelas plantas e fun-damental para o manejo fitossanitrio da propriedade orgnica.

    Como so formados e que espcies podemser usadas nos cordes de contorno?

    Essas faixas podem ser formadas por uma ou vrias espcies,incluindo a prpria vegetao natural. Espcies que podem servircomo fontes de biomassa e nutrientes, como capins, leucena,hibiscos, flor do mel (girassol mexicano), espcies fixadoras denitrognio, como os adubos verdes, espcies atrativas para insetose pequenos animais, e plantas de interesse econmico, visando complementao de renda da atividade principal tambm podemser utilizadas. importante preocupar-se com a diversidade doscordes de contorno para garantir que se tornem abrigos debiodiversidade, procurando combinar espcies que atendam aosrequisitos descritos.

    Podem-se usar espcies de interesseeconmico nos cordes de contorno?

    Alguns produtores orgnicos no aceitam ou no podem dispordentro da propriedade de reas de cultivo com espcies que notenham interesse econmico. Dessa forma, aproveitam as reas doscordes para a introduo de espcies que, alm de formaremcordes, possam prover-lhes algum retorno econmico e nocausem prejuzos cultura ou s culturas principais. Podem-sedestacar, como exemplo, a banana, o caf, o mamo, outras espcies

    62

    63

  • 51

    frutferas, plantas melferas, condimentares, medicinais eornamentais ou uma combinao dessas espcies.

    Existem outras atividades de interesse para o produtorque podem ser associadas aos cordes de contorno?

    Como a composio do cordo de contorno pode ser variada,o produtor pode utilizar espcies para produzir biomassa visando obteno de compostos orgnicos, espcies com boa capacidadede extrao de nutrientes e/ou fixao de nitrognio que podemser incorporadas como adubo verde nas reas de cultivo.

    Em propriedades integradas com produo animal, essas reaspodem contribuir para a produo de alimentos para os animais.Formar os cordes de contorno com espcies com boa capacidadede florescimento, alm de funcionar como excelentes reas derefgio para predadores e inimigos naturais, atraem abelhas paraproduo de mel. A flor do mel ou girassol mexicano uma espciede florescimento constante e abundante praticamente o ano todo eque tem sido bastante associada ao cultivo orgnico de hortaliascomo cordo de contorno, principalmente nas regies Centro-Oestee Nordeste do Pas. Pode-se obter uma associao bastanteinteressante entre essa espcie com apicultura e horticultura. Almda renda extra proporcionada pela produo de mel, as abelhasso importantes agentes polinizadores de algumas hortalias.

    Como devem ser os cordes decontorno em regies de muito vento?

    Dependendo do objetivo do produtor, a composio doscordes de contorno pode variar de acordo com os extratos devegetao possveis: arbreo, arbustivo e herbceo. Em regies devento forte, o produtor deve optar por extratos mais altos,introduzindo uma faixa de quebra-ventos nos cordes de contornoda propriedade, com vegetao arbrea mais robusta de espciescomo leucena, grevilia, gliricidia e sanso do campo, por exemplo.

    64

    65

  • 52

    Uma vez estabelecido o quebra-vento, associam-se a ele extratosmais baixos com plantas arbustivas e herbceas, completando-se ocordo de contorno.

    O que so reas de refgio?

    So reas de vegetaopara preservao e atrao deinimigos naturais de pragas epequenos predadores que au-xiliam no controle de pragas.Essas reas servem de refgiopara diversos insetos benficosque se alimentam de fungos oupara organismos que, sem seus

    inimigos naturais, poderiam aniquilar a plantao. Esses nichos soformados pelas reservas de vegetao nativa, pelas faixas de cercasvivas ou cordes de contorno que circundam as reas de cultivos eas comunidades de plantas invasoras ou espontneas. As reas derefgio garantem a preservao da fauna silvestre e a diversidade essencial para o equilbrio de vrias espcies, contribuindo muitopara o equilbrio do sistema como um todo.

    O que so reas de pousio?

    Como o prprio nome sugere, so reas que garantem odescanso do solo, aps cultivo intensivo, para reconstituir econservar suas propriedades qumicas, fsicas e biolgicas. As reasem pousio devem permanecer cobertas com alguma vegetao,que pode ser adubos verdes ou a vegetao natural da rea. Essasreas so muito importantes para garantir a manuteno da vidano solo. O agricultor deve prever esse perodo no planejamento dahorta, pois para produo de hortalias, que utiliza intensamenteos recursos do solo, essa prtica fundamental.

    66

    67

  • 53

    Qual a importncia da rotao de culturas parasistemas orgnicos de produo de hortalias?

    Um dos aspectos mais importantes do manejo em sistemasorgnicos de produo a explorao equilibrada do solo, pormeio do emprego de prticas como a alternncia de culturas e asucesso vegetal, levando prtica da rotao de culturas nasdiversas unidades de solo de uma propriedade agrcola.

    Deve-se estabelecer uma escala de exigncia em adubao emanter o terreno permanentemente coberto. Essas prticas con-jugadas permitem explorar os nutrientes do solo de maneira maisracional, evitando seu esgotamento. Deve-se alternar culturas maisexigentes com culturas menos exigentes em nutrientes (rsticas),que exploram profundidades diferentes do solo pela diferena naestrutura radicular.

    Outro aspecto igualmente importante da rotao, e tambmdo consrcio de hortalias, evitar a proliferao e acmulo dedoenas e pragas, que em um sistema intensivo de cultivo podeocorrer de forma bastante acelerada. Portanto, a rotao de culturas uma necessidade para a economia de nutrientes da horta e ocontrole de pragas e doenas.

    Como deve ser o manejo das rotaes dentrodos talhes ou das reas de produo de hortalias?

    A diviso dos talhes em faixas de cultivo auxilia na im-plantao de esquemas de rotao. Nessas faixas, alterna-se o cultivode adubos verdes com diferentes famlias de hortalias. Nesseesquema, importante evitar o plantio de espcies da mesma famliaem sucesso ou nas faixas adjacentes. No caso das hortalias quese adaptam melhor aos cultivos de inverno, poca em que oolericultor obtm maiores rendimentos, deve-se evitar a prtica derotao com adubos verdes, permitindo que a rea fique in-tegralmente ocupada pelas culturas de interesse econmico. Novero, reserva-se uma rea maior para o plantio de espcies de

    68

    69

  • 54

    adubo verde que se adaptam bem ao cultivo nessa estao. Dessaforma, pratica-se a recuperao anual das reas de produo.

    Outra estratgia importante de manejo evitar o acmulo deinculos de organismos patognicos, uma vez que as sucessesprovocam uma quebra do ciclo biolgico desses organismos pelaalternncia de espcies. Exemplificando, o plantio sucessivo deespcies de solanceas (tomate, batata, pimento, etc.) na mesmarea pode elevar a incidncia de patgenos foliares e de solo nessasculturas.

    Qual a regra geral para a boa rotao de culturas?

    Na rotao, o produtor pode utilizar um esquema seguindoas diferentes caractersticas de cada grupo de hortalias: folhosas,razes/tubrculos e flores/frutos. Como cada espcie se desenvolvede uma forma e tem um sistema radicular prprio e diferenciado,tambm explora o solo e retira os nutrientes de forma diferenciada.Logo aps o preparo e a adubao inicial do solo, deve-se cultivarhortalias mais exigentes, seguindo-se com espcies cada vez menosexigentes. Assim, o produtor pode planejar o plantio utilizando oesquema de alternar entre esses grupos e deixando sempre umintervalo entre um ciclo para descanso e recuperao do solo(pousio). Durante o pousio, o produtor pode explorar a utilizaodos adubos verdes para recomposio e manuteno do solo.

    O que consorciao/associao de culturas?

    O sistema de consrciocaracteriza-se pelo plantio si-multneo de duas ou mais cul-turas na mesma rea. uma dasprticas mais importantes para ocultivo de hortalias no sistemaorgnico, pois abrange aspectostanto ambientais quanto eco-nmicos.

    70

    71

  • 55

    A consorciao permite otimizar a produo pelo melhoraproveitamento da rea explorando a combinao de espcieseficientes na utilizao dos recursos de produo como espao,nutrientes, gua e luz. O consrcio entre espcies de hortalias estsendo adotado amplamente em reas de cultivo orgnico em todo oPas, principalmente por pequenos agricultores orgnicos que buscamnessa tcnica uma forma de otimizar o aproveitamento de seusescassos recursos de produo. Assim, procuram maximizar seuslucros, aproveitando melhor a rea, os insumos e a mo-de-obra.

    Quais as vantagens da consorciao de culturas?

    A eficincia e as vantagens de um sistema consorciado estona complementariedade entre as culturas envolvidas. Essa com-plementariedade maior medida que se consegue minimizar osefeitos negativos de uma cultura sobre a outra. O consrcio, almde permitir o uso mais intensivo da rea de plantio, confere maiordiversidade biolgica e produo por unidade de rea, garante rendaextra ao agricultor e proporciona menor impacto ambiental emrelao monocultura. Para evitar a manuteno de reas complantio de espcies que no tragam retorno econmico, os produ-tores podem utilizar o consrcio entre a cultura de interesse comer-cial e outra espcie que apresente funes importantes, comoatrao de inimigos naturais, repelente de insetos, adubos verdes,etc. Um exemplo clssico dessa associao ocorre entre milho emucuna. O plantio sincronizado dessas espcies permite que aflorao da leguminosa coincida com a seca da planta de milho,originando uma palhada bastante rica em nutrientes que pode serutilizada no cultivo de vrias hortalias. O olericultor obtm aindaretorno econmico com a comercializao das espigas de milhoainda verdes.

    Que tipos de consrcio podemser utilizados para hortalias?

    Embora existam muitas possibilidades de combinao de

    72

    73

  • 56

    hortalias em consrcio, so mais comuns os consrcios em faixase em linhas.

    No consrcio em linha, so intercaladas linhas de cultivo deuma ou mais espcies com a cultura principal. Pode-se consorciaralface e cebolinha, couve e cebola, tomate e coentro, pimento efeijo guandu ano, tomate e crotalria, entre outras.

    No consrcio em faixas, so intercaladas faixas de cultivo deuma ou mais espcies com a cultura principal. Em alguns casos,essas faixas podem se confundir com os prprios canteiros. Pode-se agrupar as hortalias companheiras, como cenoura e tomate,batata e repolho, tomate e cebola, cebola e pepino, alface e rcula,abbora e chicria, repolho e arruda, entre outras.

    Todas as hortalias podem ser consorciadas entre si?

    No. preciso considerar aspectos como tolerncia asombreamento, profundidade do sistema radicular, hbito decrescimento e potencial como hospedeira de pragas e doenas.Deve-se observar tambm a afinidade entre as culturas, ou seja,observar que espcies se desenvolvem melhor quando associadas.Assim, as plantas so divididas em companheiras e antagonistas.

    Alguns exemplos de plantas antagonistas: abbora e batata,alface e salsa, cebola e ervilha, tomate e batata, batata e pepino,entre outras. Deve-se evitar a utilizao dessas culturas ao mesmotempo no campo, pois uma pode servir de fonte de inculo (pragase doenas) para a outra cultura e assim desencadear um grandeprejuzo para o produtor. O cultivo associado entre hortalias eadubos verdes tem sido muito difundido entre os produtoresorgnicos. Os plantios devem ser sincronizados de forma que oadubo verde seja incorporado no momento em que a hortaliacomea a produzir. Tem-se observado experincias de sucesso comtomate x guandu, crotalria x berinjela e crotalria x taro (inhame).

    74

  • 57

    Qual o objetivo de se associar plantas repelentes e/ouatrativas cultura principal no sistema orgnico?

    As plantas com sabor e cheiro forte so chamadas atrativasou repelentes, pois possuem substncias que afastam ou inibem aao de insetos. O cultivo dessas plantas junto com as culturaspode proteger contra o ataque de insetos. Como qualquer estratgiade manejo agroecolgico, o uso de tais plantas no deve ser feitoisoladamente, e sim, em conjunto com outras tcnicas de controle,sempre buscando a promoo do equilibro ecolgico em toda apropriedade agrcola.

    Quais as plantas atrativas e repelentesmais comuns e para que servem?

    As plantas atrativas e repelentes mais comuns so: Cravo-de-defunto (Tagetes minuta) e/ou cravorana silvestre

    (Tagetes sp.) Repelente de insetos e nematides, prin-cipalmente no florescimento. Atua tanto por ao diretacontra as pragas quanto por disfarce das culturas por seuforte odor.

    Cinamomo (Melia azedorach L.) Ao inseticida. Os frutosdevem ser modos e seu p pode ser usado na conservaode gros armazenados.

    Saboneteira (Sapindus saponaria L.) Ao inseticida. Parase ter uma idia de seu poder de ao, apenas seis frutosbastam para preservar 60 kg de gros armazenados.

    Qussia ou pau-amargo (Quassia amara) Ao inseticida,especialmente contra moscas e mosquitos, pelo alto teorde substncias amargas na casca e na madeira.

    Mucuna (Mucuna spp.) e crotalria (Crotalaria spp.) Aonematicida.

    Coentro (Coriandrum sativum) Ao repelente. Tem-seobservado reduo significativa de frutos de tomateiroperfurados por insetos quando seu plantio associado aode coentro.

    75

    76

  • 58

    Arruda (Ruta graveolens) Ao repelente. Evita a lagartaem folhosas, como o repolho.

    Manjerico (Oncimum basilicum) Por causa do forte odore compostos que exala, um repelente de insetos.

    Gergelim (Sesamum indicum) Cordes de contorno comgergelim oferecem excelente proteo contra savas e outrasformigas cortadeiras.

    Purungo ou cabaa (Lagenaria vulgaris) Atrativo para obesourinho ou vaquinha-verde-amarela (Diabroticaspeciosa). Pode ser plantado como cerca viva ou pode-seutilizar seus frutos cortados e espalhados na lavoura.

    Tajuj (Cayaponia tayuya) Atrativa para as vaquinhas.Geralmente, plantas aromticas, medicinais e condimentares

    so menos atacadas por pragas, constituindo, dessa forma, umaboa opo para compor canteiros na horta, prximo s culturas.Outros exemplos dessas plantas so artemsia, alecrim, menta,tomilho, losna, funcho, hortel, etc.

    As plantas espontneas podem contribuir para o manejodo sistema orgnico ou devem ser sempre eliminadas?

    As plantas que crescem junto com as espcies cultivadas soconsideradas invasoras ou espontneas e no plantas daninhas.Assim, como outros vegetais, as plantas invasoras contribuem para:

    Cobertura e proteo do solo. Reciclagem mais eficiente de nutrientes. Melhoria das condies fsicas do solo pelo aumento dos

    teores de matria orgnica. Rompimento de camadas compactadas. Diversificao do ambiente.Essas espcies devem ser manejadas adequadamente para que

    permitam o convvio sem prejuzos para a cultura de interesseeconmico. Recomenda-se a capina em faixas, de forma a evitar apresena das ervas prximo cultura de interesse comercial,deixando-se uma estreita faixa de vegetao nas entrelinhas de

    77

  • 59

    plantio. Em culturas como berinjela, jil, abbora, quiabo e outras,deve-se fazer apenas o coroamento das plantas e roadas leves norestante da rea.

    No caso de hortalias de canteiro, recomendam-se capinasnos momentos crticos apenas nos leitos de semeadura, preservando-se a vegetao dos carreadores ou apenas roando-a quando estiverdificultando os tratos culturais. O controle de invasoras tem sidofeito com o emprego de prticas mecnicas, como arao,gradagem, cultivos, roadas, amontoas e capinas manuais, conformea necessidade de reduo das invasoras e, ainda, com o uso deplantas com efeitos alelopticos, adubao verde, cobertura morta,cobertura viva, rotao e a consorciao de culturas.

    Existe alguma forma de se plantar hortalias semcanteiros, evitando o revolvimento excessivo do solo?

    Para algumas hortalias possvel evitar o uso de canteirosfazendo o plantio em covas ou sulcos e at mesmo o plantio diretosobre palhadas. Sabe-se que nos solos tropicais e subtropicais adecomposio da matria orgnica pode ser acelerada com oexcesso de revolvimento, reduzindo seu teor. Assim, o preparo dosolo deve ser evitado ou minimizado sempre que possvel.Recomenda-se o uso de canteiros semidefinitivos, restringindo aomximo a entrada de mquinas nas reas de cultivo. Dessa forma,seguindo os princpios j mencionados da rotao de culturas, apso preparo, e da adubao inicial do solo, cultiva-se uma sucessode hortalias progressivamente menos exigentes em nutrientes, semque haja necessidade de refazer os canteiros. Quando necessrio,pode-se complementar a adubao inicial com aplicaes emcobertura, fazendo-se apenas uma leve incorporao superficial.

    78

  • 4 Propagao de Plantas

    Jacimar Luis de SouzaTatiana Pires BarrellaRosileyde G. Siqueira

    Ricardo H. Silva SantosMariane Carvalho Vidal

  • 62

    Quais os cuidados necessrios na instalaode um sistema de produo de mudas?

    O planejamento dos plantios deve permitir o melhor apro-veitamento dos recursos naturais, procurando evitar excessos oufrustraes de produo ou pocas de preos muito baixos. Deve-se ainda procurar ajustar as reas ao maquinrio utilizado e aosistema de irrigao disponvel. Os locais de produo, o ambientede formao das mudas (estufa ou cu aberto) e os tratos culturaisdevem ser criteriosamente definidos e minuciosamente executados.O substrato para produo de mudas deve estar livre de sementesde ervas invasoras e de microrganismos causadores de doenas,ter boa reteno de gua e bom arejamento, permitindo assim umperfeito crescimento das razes. Deve tambm suprir as necessidadesnutricionais das plantas no incio de seu desenvolvimento. Naagricultura orgnica, deve-se atentar para o cultivo de espcies ecultivares bem adaptadas s condies ecolgicas locais, o queresulta em maior sanidade para as culturas e, conseqentemente,em menor necessidade de interveno humana.

    melhor comprar o substrato prontoou prepar-lo na propriedade?

    Atualmente, j existem no mercado brasileiro diversos tiposde substrato orgnico, apropriados para a formao de mudas emsistemas orgnicos de produo de hortalias. O agricultor deveavaliar para que espcies de hortalia o substrato mais adequado,principalmente em relao aos custos.

    Muitas vezes, porm, possvel produzir seu prprio substratoa custos muito baixos, a partir de processos fermentativos em altatemperatura, como na compostagem, sendo a desinfecodispensada. A avaliao de diferentes propores de compostoorgnico e terra, como substrato para formao de mudas de tomate,indica que as melhores mudas so obtidas usando-se compostopuro peneirado ou em mistura com terra na proporo de 1:1.

    79

    80

  • 63

    Menores quantidades de composto comprometem significa-tivamente a qualidade e o padro das mudas.

    Qualquer material pode ser utilizado naproduo de substrato para mudas orgnicas?

    Muitas vezes pode-se produzir o substrato na prpriapropriedade a custos muito mais baixos, porm preciso ter umcerto cuidado ao se combinar materiais. Materiais disponveis napropriedade, como cascas de rvores, restos de culturas como cafe palha de arroz, etc., podem ser misturados a outros materiais,como hmus e fibra de coco verde, constituindo excelentes al-ternativas de substratos. O importante que o substrato tenha oscomponentes fsicos e qumicos em equilbrio para garantir ascaractersticas de porosidade, reteno de gua, pH, entre outras,ideais para as plantas, e que seja livre de contaminantes e patgenos.

    Que outros mtodos de desinfeco dosubstrato podem ser usados alm da compostagem?

    O substrato orgnico prprio, que no se origina de processosde fermentao a altas temperaturas como ocorre na compostagem,pode exigir algum mtodo de desinfeco de patgenos e sementesde ervas invasoras. A inundao e a solarizao esto sendo es-tudadas e empregadas em escala cada vez maior por pesquisadorese produtores de mudas como alternativa compostagem.

    Como funciona a inundao dosolo como mtodo de desinfeco?

    A inundao do solo por determinado perodo, por ciclossucessivos, uma das medidas mais eficientes para erradicarpatgenos do solo. Essa prtica tem sido empregada em pequenasreas, viveiros e casas de vegetao. Durante o encharcamento do

    81

    82

    83

  • 64

    solo, desenvolvem-se microrganismos anaerbicos e a produode cidos e gases txicos, que vo atuar sobre os microrganismosfitopatognicos. A falta de oxignio e nutrientes e a dessecao dosolo tambm contribuem para eliminao de patgenos, comonematides e fungos.

    E a solarizao?

    A solarizao pode serfeita em piso de cimento limpo,espalhando-se uma camada desubstrato umedecido (mnimode 50 % de umidade para gerarmais calor), com 10 cm dealtura, no mximo. Em seguida,cobre-se todo o substrato comlona de plstico preta ou trans-parente, fechando-se bem as

    bordas do plstico com areia ou terra, mantendo-se assim por umperodo mnimo de 3 dias ensolarados. Durante o vero, atemperatura de uma camada de at 5 cm de solo mido, cobertocom polietileno branco transparente, pode ultrapassar 52 oC, aopasso que o solo sem cobertura plstica no ultrapassa 37 oC. Oaumento da temperatura do solo, provocado pela insolao devrios dias ensolarados, pode inativar inmeras espcies depatgenos do solo.

    A solarizao tambm pode ser feita por outro mtodo?

    Sim, a solarizao tambm pode ser feita por coletorsolar, como o desenvolvido pela Embrapa Meio Ambiente(www.cnpma.embrapa.br). um equipamento de funcionamentosimples e construo barata, cuja finalidade controlar fungos,bactrias e algumas sementes de plantas. Normalmente, em um

    84

    85

  • 65

    dia de sol, a temperatura dentro do aparelho chega a 90 oC, o que suficiente para inativar os fungos de solo mais comuns, comoSclerotinia sp., Sclerotium sp., Verticillium sp. e Rhizoctonia sp.,entre outros, pois so todos sensveis ao calor.

    Esse coletor solar consiste em uma caixa de madeira comtubos de metal (ferro galvanizado, alumnio, cobre, tubo de irrigaousado, etc.) e uma cobertura de plstico transparente que permite aentrada de raios solares. O substrato colocado nos tubos de metalpela abertura superior e, aps o tratamento, retirado pela aberturainferior, por gravidade. Esse modelo permite tratar 120 L de substratopor vez. Os coletores devem ser instalados com exposio para aface norte, com ngulo de inclinao de 10o mais a latitude local.

    Substratos comerciais de origem organo-mineralpodem ser usados na agricultura orgnica?

    A recomendao tcnica que se utilizem substratospuramente orgnicos (sem aditivos minerais) produzidos pre-ferencialmente na propriedade. As entidades certificadoras,baseadas nas normas tcnicas de produo orgnica disponveis,toleram a utilizao de substratos organominerais, adquiridos nomercado, somente se constatada a necessidade de utilizao atravsde anlise, e se os mesmos estiverem livres de substncias txicas(IN 007) para os agricultores em fase inicial de implantao dosistema (perodo de transio ou de converso) e nos casos dedificuldade de se empregar a produo local. Por causa dasvariaes de interpretaes e princpios, a certificadora responsvel(se existir) deve ser consultada antecipadamente.

    Vermiculita e gesso podem ser usados no preparode substratos para a agricultura orgnica?

    Sim. Ambos os insumos so compatveis com as normastcnicas de produo e podem ser utilizados. Entretanto,

    86

    87

  • 66

    fundamental uma anlise tcnica que comprove essa necessidade,pois o uso de vermiculita em substratos 100 % orgnicos, comocompostos, mostrou-se dispensvel na prtica. Seu uso apenasaumentaria os custos, sem nenhum benefcio adicional.

    O biofertilizante utilizado na cultura podeser tambm utilizado na produo de mudas?

    O biofertilizante funciona como fonte alternativa de su-plementao de nutrientes, aplicados no solo via sistemas deirrigao ou sobre as plantas em pulverizao. No caso das mudas,recomenda-se pulverizao foliar, com diluio em gua, de-pendendo da composio do biofertilizante, em propores quevariam de 2 % a 20 %. Isso recomendvel especialmente parahortalias com maior tempo de viveiro, como tomate, pimento,etc. Maiores detalhes sobre biofertilizantes podem ser vistos noCaptulo 7.

    Existem viveiros especializados na produo de mudasde hortalias para o sistema orgnico no Brasil?

    A existncia de viveiros especficos para a produo de mudasorgnicas de hortalias ainda no economicamente vivel diantedo pequeno nmero de agricultores. Existem apenas produtores demudas orgnicas ligados a projetos especficos, responsveis pelaproduo e distribuio para um grupo ou associao especfica,com demanda e cronograma de produo predefinidos. Em futuroprximo, o crescimento das reas de agricultura orgnica,dependendo da regio, poder justificar a existncia de produtoresespecializados na produo de mudas, como ocorre no sistemaconvencional. Nesse caso, esses produtores devem se submeter aoprocesso de certificao orgnica, como os produtores de alimentos,de modo a oferecer um insumo com garantias de cumprimento dalegislao em vigor.

    88

    89

  • 67

    Na propagao de hortalias, quais os cuidadosnecessrios para evitar a transmisso de pragas edoenas para novas reas?

    Na propagao de hortalias em sistema orgnico, espe-cialmente para a propagao vegetativa, evitar problemas futuros uma necessidade, devendo-se estar atento a critrios fitossanitriose de seleo gentica, como:

    Evitar a utilizao de partes das plantas que apresentaramsintomas de doenas ou que, mesmo visualmente sadias,sejam oriundas de campos que apresentaram problemascom fungos de solo (como Fusarium e Sclerotinia), combacteriose ou murchadeira (como Ralstonia), com viroses(como o vrus-do-enrolamento-da-batata, vira-cabea dotomateiro), com nematides (como nematide-de-galhas embatata), dentre outros.

    Propagar indivduos com aspecto de elevado vigor, fentipocaracterstico da espcie ou variedade, identificados durantea fase vegetativa e na fase de colheita.

    Os indivduos devem apresentar elevado padro comercialdo produto, o que representa uma seleo positiva, comganhos de adaptabilidade ao sistema ao longo dos anos.

    Quando necessrio, proceder ao tratamento das mudas an-tes do plantio, pela imerso em biofertilizante lquido ouhipoclorito de sdio (gua sanitria) a 5 %, durante 10minutos, especialmente para a preveno de problemas combrocas, nematides e doenas.

    Proceder quebra de dormncia de sementes e ao pr-enraizamento de mudas, para algumas espcies, conformeas recomendaes especficas para cada cultura.

    Respeitar os critrios de propagao e seleo de cadaespcie, como tamanho de bulbos e bulbilhos de alho,mudas de batata-doce da parte mediana da rama, dentreoutros.

    Usar medidas sanitrias, como a lavagem de implementos

    90

  • 68

    agrcolas, a fim de eliminar o solo e os restos de culturaaderidos.

    Pode-se usar material propagativo de hortaliasdo sistema convencional quando no houver mudasorgnicas disponveis na regio?

    Geralmente, dada a carncia de produtores de mudas orgnicas,as certificadoras ainda toleram a aquisio de propgulos vegetativose de mudas de sistemas convencionais de produo, como de matrizesde morangueiro, por exemplo. Recomenda-se consultar previamentea certificadora a fim de saber para quais hortalias podem serutilizadas mudas produzidas convencionalmente. A orientao geral: No havendo disponibilidade no mercado de mudas e sementesoriundas de sistemas orgnicos adequados a determinada situaoecolgica especfica, essas podem ser oriundas de sistemasconvencionais, desde que avaliadas pela instituio cer