500 milhões de obesos

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JOINVILLE 18 DE JUNHO DE 2012 ANO 6 N o 1.751 R$ 1,50 O MELHOR PARA QUEM VIVE A CIDADE NDonline.com.br Segunda-feira Para divulgar o show. pág. 11 Dupla integrante da banda Rebeldes participa hoje do “Ver Mais”. Promoção. Melanie e Chay estão em Joinville ROGERIO DA SILVA/ND ROGERIO DA SILVA/ND FABRIZIO MOTTA/ND Educação Uma maratona de estudo e diversão Alunos do Colégio Osvaldo Aranha fizeram sessão de estudos que durou 12 horas. Página 8 Série que inicia hoje mostra causas e tratamentos para a obesidade mórbida. Páginas 16 e 17 Preocupação com o peso em excesso Saúde Posse hoje na Acij . pág. 21 Nova diretoria assume para mandato de 12 meses. Agredido e assaltado. pág. 8 Homem foi abordado quando estava no carro. Semifinalistas da Taça RIC. Pág. 3 Partidas serão disputadas no próximo sábado. Vasco continua líder na Série A. Duas realidades opostas no mesmo jogo do JEC Equipe saiu na frente primeiro tempo, mas cedeu empate no segundo. Páginas 4e 6 Com lanterna. As irmãs Lailane (E) e Laiane, junto com a amiga Emanuelle resolveram problemas no escuro Decepção. Técnico Leandro Campos lamentou nervosismo dos jogadores

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De 18 a 20 de junho de 2012 o Notícias do Dia apresentou a série de reportagens “500 milhões de obesos”, que recebeu menção honrosa pelo terceiro lugar na categoria jornal do 7º Prêmio Sindhrio (Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Casas de Saúde do Município do Rio de Janeiro) de Jornalismo e Saúde, em 2012.

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Page 1: 500 milhões de obesos

JOINVILLE 18 de junho de 2012 ANO 6 No 1.751 R$ 1,50

O M E L H O R P A R A Q U E M V I V E A C I D A D E

ndonline.com.brSegunda-feira

Para divulgar o show. pág. 11Dupla integrante da banda Rebeldes participa hoje do “Ver Mais”.

Promoção. Melanie e Chay estão em Joinville

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Educação

Uma maratona de estudo e diversãoAlunos do Colégio Osvaldo Aranha fizeram sessão de estudos que durou 12 horas. Página 8

Série que inicia hoje mostra causas e tratamentos para a obesidade mórbida.Páginas 16 e 17

Preocupação com o pesoem excesso

Saúde

Posse hoje na Acij . pág. 21Nova diretoria assume para mandato de 12 meses.

Agredido e assaltado. pág. 8Homem foi abordado quando estava no carro.

Semifinalistas da Taça RIC. Pág. 3Partidas serão disputadas no próximo sábado.

Vasco continua líder na Série A.

Duas realidades opostas no mesmo jogo do JECEquipe saiu na frente primeiro tempo, mas cedeu empate no segundo. Páginas 4e 6

Com lanterna. As irmãs Lailane (E) e Laiane, junto com a

amiga Emanuelle resolveram problemas no escuro

Decepção. Técnico Leandro Campos lamentou nervosismo dos jogadores

Page 2: 500 milhões de obesos

EDITOR: ROsana RITTa [email protected] @rosana_ritta

Rosana [email protected]

Fatores genéticos, hereditários e ambientais são as causas que fizeram 7% da população mundial se tornar obesa. Se-

gundo o relatório, “Estatísticas Mun-diais de Saúde”, divulgado em maio pela OMS (Organização Mundial de Saúde), a estimativa é de que cerca de 500 milhões de pessoas com mais de 20 anos sofram com a obesidade em todo o planeta. Por ano, a OMS cal-cula que 2,8 milhões de pessoas mor-ram em decorrência do sobrepeso e da obesidade. A Diabetes mellitus tipo 2 é uma das doenças que mais preocupa pacientes e médicos, mas é quase sempre controlada quando os obesos mórbidos passam pela cirur-gia de redução do estômago.

Em Joinville, a pesquisadora Cândida Chiochetta Tonial consta-tou que 88,3% dos pacientes dia-béticos submetidos à cirurgia bari-átrica no Hospital Regional Hans Dieter Schmidt entre janeiro de 2001 e julho de 2011 tiveram remis-são total do diabetes. Segundo Tani-se Balvedi Damas, endocrinologista do Programa Obesimor, e orienta-dora do projeto de monografia “Re-missão do Diabetes mellitus nos pacientes submetidos a cirurgias no HRHDS de Joinville”, o termo cura não é utilizado porque ainda não se sabe como será a evolução destes mesmos pacientes em longo prazo. “Hoje, sabemos que dos pacientes que usavam insulina, nenhum usa mais no pós-operatório”, detalha.

Durante a pesquisa, Cândida re-visou o prontuário de 34 pacientes do hospital e observou que 30 deles tiveram remissão total do diabetes e quatro reduziram o uso de medi-camentos. A dona de casa Rose Maria André, 38 anos, foi uma das analisadas que deixou de usar dois tipos de insulina depois da cirurgia, realiza-da em 2010, e mudou radi-calmente o estilo de vida. “Eu mesma me aplicava, quase morria do coração. Há nove anos minha mãe morreu e cai mais na de-pressão. Cheguei a pregar a janela do quarto para não abrir e não ver ninguém”, conta Rose, que começou a engordar com 15 anos e procu-rou a Obesimor quando o médi-co do posto de saúde do Rio Bonito disse que a cirurgia era sua única alternativa para tentar resolver os problemas de saúde.

A partir de hoje, o ND apresenta uma série de reportagens sobre as causas, as consequências e o tratamento da obesidade mórbida. Nesta primeira matéria, mostram-se as estatísticas mundiais da doença e o tratamento da Diabetes mellitus tipo 2 por meio da cirurgia bariátrica. Na segunda, será apresentado o trabalho do Programa Obesimor, que trata os obesos mórbidos no Nordeste catarinense, e da Assobesimor (Associação dos Obesos Mórbidos). No terceiro e último dia da série, o tratamento da obesidade no pré e no pós-cirúrgico nos hospitais de Joinville será detalhado.

de obesos500milhões

Foi difícil, mas se fosse para fazer tudo de novo, hoje eu fazia, até porque sabia que era

minha única opção.

Rose MaRie andRé, Dona De casa

129quilos

76quilos

notícias do dia Joinville – segunda-feira, 18 de JunHo de 2012 16/17

Obesidade – É uma doença caracterizada pelo excesso de gordura no corpo

Obesidade mórbida – ocorre quando o paciente tem iMC igual ou acima de 40 e há aumento significativo do risco de se adquirir as comorbidades que comprometem a qualidade de vida do paciente e podem causar a morte

IMC – É uma medida internacional utilizada para calcular se a pessoa está abaixo ou acima do peso ideal para sua estatura

Cirurgia bariátrica e metabólica* – Também conhecida como cirurgia da obesidade, ou, popularmente, redução de estômago, reúne técnicas destinadas ao tratamento da obesidade e das doenças associadas ao excesso de gordura corporal ou agravadas por ele. o conceito metabólico foi incorporado há cerca de seis anos pela importância que a cirurgia adquiriu no tratamento de doenças causadas, agravadas ou cujo tratamento/controle é dificultado pelo excesso de peso ou facilitado pela perda de peso – como o diabetes e a hipertensão –, também chamadas de comorbidades

Comorbidades – doenças graves relacionadas à obesidade. as mais frequentes são: hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2, hipercolesterolemia, apneia do sono, insuficiência cardíaca, artroses de quadril e joelhos e obstrução arterial

Diabetes Mellitus tipo 2 – ocorre quando o organismo tem resistência à insulina e pode levar à morte quando a doença não é controlada

Adeus à depressão

Marilsaquase desistiu

Doença renal pode ser prevenida ou tratada depressiva, com diabetes, pressão

alta e problemas cardíacos rose Maria andré chegou ao obesimor em 2008, com 129 quilos e tomando 12 tipos de medicamentos. se esforçando para mudar hábitos alimentares e comportamentais, ela perdeu 21 quilos antes da cirurgia. “o doutor dante, do postinho do rio Bonito, me salvou me mandando para lá. Quando comecei a ir na obesimor não conhecia nada. foi difícil, mas se fosse para fazer tudo de novo, hoje eu fazia, até porque sabia que era minha única opção”, avalia. Hoje, rose pesa 76 quilos, toma quatro remédios para pressão e aguarda o aval do cardiologista para fazer as cirurgias plásticas. “Todos os médicos já assinaram, mas ele quer fazer um exame e ver como está meu coração antes disso. eu sou aquela do quase, eles tinham muito medo, foi uma briga para fazer minha cirurgia por causa do coração”, relembra.

a cozinheira Marilsa soares, 46 anos, precisou de mais tempo para aceitar e seguir o tratamento que normalizou a taxa de glicose na sua corrente sanguínea e eliminou sua depressão. encaminhada para o programa pela unidade de saúde do bairro aventureiro ela iniciou o acompanhamento no regional em maio de 2008. “Parei porque meu pai ficou enfermo e morreu em outubro de 2009 e eu fiquei com trauma. foi um ano bem triste. eu passava pelo hospital e virava o rosto, tive que mudar de casa, porque não conseguia entrar sem lembrar dele”, desabafa.

em agosto de 2010, ela procurou novamente o obesimor para desistir do tratamento, mas foi convencida por uma assistente social de que deveria seguir no programa. “ela me falou que o que eu estava fazendo não ia trazer meu pai de volta e que eu não devia desistir. e hoje eu vejo que valeu a pena. se eu soubesse que seria assim teria voltado muito antes”, analisa. durante o tratamento, Marilsa também teve dificuldades porque engordou ainda mais quando começou a aplicar três doses diárias de insulina.

“entrei com 105 (quilos), cheguei a 95, mas engordei 12 e fui para a cirurgia com 112”, detalha. atualmente, ela pesa 75 quilos, não pode trabalhar por causa das sequelas de hérnias na coluna, mas não precisou usar insulina. “vou tratar uma anemia, normalizar a B12 (vitamina), e estou na fila para as quatro cirurgias plásticas. se tivesse cinco, eu fazia cinco porque o corpo muda muito”, relata. além de aguardar os novos procedimentos cirúrgicos, Marilsa entrará com um pedido de aposentadoria nos próximos meses. “estou encostada há cinco anos. não tenho mais hérnia, mas ainda sinto dor. o médico disse que já não tenho mais como trabalhar”, acrescenta.

segundo o cirurgião bariátrico vinicius José Cota schiochet, um dos médicos do obesimor, a Diabetes mellitus tipo 2 e a obesidade têm crescido em todo o mundo ano após ano e podem ser tratadas com a cirurgia bariátrica. “o obeso é cronicamente inflamado e tem mais chance de ter insuficiência renal e ser diabético. o paciente sendo operado e emagrecendo pode prevenir a insuficiência ou melhorar o estado da doença renal”, informa.

de acordo com o nefrologista Cláudio r. Werka Jr., a obesidade aumenta os riscos de doenças vasculares, diabetes, hipertensão e doença renal crônica. “a obesidade é um fator de risco independente para a insuficiência renal crônica a longo prazo, mas dificilmente vira doença se não tiver outra condição associada, principalmente a hipertensão e o diabetes”, detalha. nesses casos, o tratamento inclui a perda de peso por meio de dietas e atividades físicas ou a cirurgia. “a progressão

da doença renal crônica é uma séria indicação para cirurgia bariátrica”, relatou no 3o simpósio de obesidade Mórbida e 3o encontro Joinvilense de Cirurgia Bariátrica do Hospital regional Hans dietter schmidt, realizado no departamento de ensino e Pesquisa da unidade, em março.

Estou na fila para as quatro cirurgias plásticas. Se tivesse

cinco, eu fazia porque o corpo muda muito.

Marilsa soares, Cozinheira

O obeso é croni-camente

inflamado e tem mais

chance de ser

diabético.

Vinicius schiochet, Cirurgião BariátriCo

Janelas e portas abertas para a vida. Rose Maria livrou-se de mais de 50 quilos, recuperou a

autoestima e agora espera para fazer as cirurgias plásticas

Idas e vindas. Marilsa de novo visual

76quilos

75quilos

112quilos

No muNdo

7 bilhõesde habitantes

500 milhões

de pessoas estão acima de

20 anos são obesas (7%

da população mundial)

2,8 milhões

de pessoas morrem

anualmente em decorrência do

sobrepeso e da obesidade

Fonte | oMS (organização

Mundial de Saúde)

SAIBA MAISEntenda os termos

CIRCUNFERÊNCIA ABDOMINAL

Fonte | SBCBM (SoCiedade BraSileira de Cirurgia BariátriCa e MetaBóliCa)

LIMITE* 80 cm para mulheres 90 cm para homens

(*) Pode variar em diferentes etnias

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Page 3: 500 milhões de obesos

EDITOR: ROsana RITTa [email protected] @rosana_ritta

Rosana [email protected]

A pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crô-nicas por Inquérito Telefônico) revelou recentemente que entre 2006 e 2011 o

percentual de habitantes acima do peso nas ca-pitais brasileiras e no Distrito Federal aumentou 7%. No mesmo período, o número de obesos nas mesmas regiões cresceu 5%. Atualmente, 48,5% da população brasileira estão acima do peso e 15,8% são obesos. Para tentar alterar este pano-rama, o Ministério da Saúde tem investido em ações como a implantação e o monitoramento das academias de saúde. Em Joinville, a obesida-de mórbida é tratada no programa Obesimor, no Hospital Regional Hans Dieter Schmidt.

O projeto, que comemora dez anos de criação, tem aproximadamente 1.000 pacientes cadastra-dos: 365 já fizeram a cirurgia bariátrica e 635 estão em tratamento aguardando o procedimento cirúr-gico. O primeiro atendimento para quem precisa tratar a obesidade mórbida é feito no posto de saú-de do bairro. Na unidade, quem tem IMC (Índice de Massa Corporal) igual ou superior a 40 é enca-minhado para o ambulatório da Obesimor, passa por aulas, consultas com especialistas e frequenta reuniões mensais da Assobesimor (Associação dos Obesos Mórbidos) antes e depois da cirurgia. Os encontros ocorrem sempre na terceira quinta-feira do mês, no salão de festas da Comunidade Papa João 23, e reúnem cerca de 500 pessoas.

Antes das reuniões, a associação organi-za oficinas de artesanato, culinária e música. Na “Cozinha saudável”, pacientes e cuidadores aprendem receitas menos calóricas com o chefe Daniel André Lopes, professor do Senac (Ser-viço Nacional de Aprendizagem Comercial). “A gente parte do princípio de que comida não en-gorda. O que engorda é a gente”, ensina.

Desde que iniciou o trabalho voluntário na As-sobesimor, há dois anos, ele já ensinou os alunos a prepararem cucas e pães integrais, peito de frango recheado, panquecas, empadões e outros pratos. “São receitas já testadas e feitas para atender às necessidades deles. Mostro para eles o que pode e o que não pode fazer. Pego uma coisa mais co-mum e tento dar uma cara mais bonita”, detalha.

Desde ontem, o ND apresenta uma série de reportagens sobre as causas, as consequências, e o tratamento da obesidade mórbida. Na primeira matéria, foram mostradas as estatísticas mundiais da doença e o tratamento da Diabetes mellitus tipo 2 por meio da cirurgia bariátrica. Hoje, a reportagem apresenta o trabalho do Programa Obesimor, que trata os obesos mórbidos no Nordeste catarinense, e da Assobesimor (Associação dos Obesos Mórbidos). Amanhã, na terceira e última reportagem da série, o tratamento da obesidade no pré e no pós-cirúrgico nos hospitais de Joinville será detalhado.

estão acima do peso48,5%

Orientações e troca de

experiências. Associados

e cuidadores no encontro mensal, que

reúne em torno de 500 pessoas

Desafio. Mudança de hábitos alimentares é uma das propostas da Assobesimor

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notícias do dia Joinville – terça-feira, 19 De JUnHo De 2012 24/25

Para chefe, evolução

Reganho, dado que preocupa Busca por vida mais saudável

Associação precisa de apoio

os ingredientes das receitas são comprados por vera regina Martins araújo, 48 anos, presidente da assobesimor, e as aulas na cozinha da igreja costumam reunir de dez a 15 pessoas das 16 às 18h, antes das palestras mensais, realizadas às 19h. Segundo o chefe Daniel andré lopes, esse método tem sido mais eficaz porque garante que ele terá tudo o que precisa para fazer uma boa aula quando chegar à cozinha industrial da igreja.

“eu preparo as receitas, mando a lista de compras e a associação

compra. antes, eles dividiam as coisas entre si e era mais difícil, porque nem sempre vinha tudo e alguém tinha que comprar algo na hora”, relembra. Para ele, ver a evolução dos pacientes que continuam participando da oficina mesmo depois da cirurgia é recompensador. “Quando começou, a ideia era criar uma atividade a mais para eles, mas a cozinha sempre junta as pessoas e é legal. Conheço vários pacientes antes de operar e é legal ver a alegria deles no pós-operatório”, avalia.

em maio, a agente comunitária de saúde Maria Gorete Gaspar, 45 anos, e o filho fabrício Gaspar Pereira, 12, foram à uma aula da cozinha pela primeira vez. encantada com as receitas de panqueca doce e do empadão de atum, ensinadas pelo chef Daniel, ela contou que já está começando a mudar os seus e os hábitos alimentares inadequados da família. “estou abrindo os horizontes e vendo que não preciso deixar de comer, mas só fazer uma alimentação mais saudável”, comentou.

enquanto aprendia a virar panquecas, ela contou que tem diabetes e pressão alta e que decidiu procurar ajuda quando a irmã teve uma parada renal e morreu. “Decidi correr mais pela vida. Quero criar meu filho, ser professora e parar de tomar tanto remédio”, desabafou. Desde outubro fazendo tratamento no Hospital regional, ela já passou por consultas com especialistas e aguarda as sessões da terapia de grupo para ter sua cirurgia marcada.

“ainda tenho que diminuir bastante (Maria começou o tratamento com 105 quilos e atualmente pesa 103), mas já dá para ver a diferença, principalmente no carboidrato que agora sobra no fim do mês”, avalia, com bom humor.

vera regina Martins araújo, presidente da assobesimor, é quem agenda as oficinas e palestras de acordo com a disponibilidade dos voluntários e especialistas. “Já tivemos artesanato como pintura em tela, bordado, aula de música, mas agora só estamos com a cozinha”, conta. Como a entidade não tem uma sede fixa, a presidente fica responsável por alugar o salão de festas da igreja e organizar ações que cubram os gastos mensais. “tem mais de 1.000 pessoas entre pré e pós-operados e nem 200 pagam a mensalidade que é só de r$ 5, que a gente cobra pra pagar os custos, e que dá a eles direito de ter 20% de desconto nos complexos vitamínicos”, relata.

nas reuniões mensais, a assobesimor promove um brechó com roupas usadas e permite que uma paciente venda as peças estilizadas que fabrica em tamanho especial. “ela nos dá uma porcentagem para cobrir nossos custos. no desfile (dos pós-operados), a gente tem que pagar o lanche de quem trabalha. aqui, a gente traz as frutas. no simpósio, faz o coquetel”, lista vera. a história da presidente na obesimor começou em 2008, quando seu médico sugeriu que ela fizesse a cirurgia bariátrica para amenizar a dor na coluna. “eu tinha 124 quilos, estava com um problema sério na coluna e vivia deprimida”, recorda. Quem quiser ajudar a assobesimor deve mandar email para [email protected] ou procurar por assobesimor Joinville no facebook.

Aprendendo. Fabrício e Maria Gorete

Em torno do fogão. Daniel ensina receitas menos calóricas, como empadão e panqueca (ao lado)

Depressão, jamais. Disposta, Vera Regina Araújo é que mantém as atividades da associação

Limite. Jorge Nakassa diz que ganho de peso de dez a 15% é normal depois da cirurgia, mas alerta que mais do que isso é preocupante

SAIBA MAIS

PANQUECA SEM GLÚTEN

Os números da obesidade

*Fonte | pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), do Ministério da Saúde, que analisa o percentual de adultos acima de 20 anos com excesso de peso e obesidade, segundo as capitais dos Estados brasileiros e o Distrito Federal.

0 300150 km

2006 2007 2008 2009 2010 2011

11% 13% 13% 14% 15% 16%

OBESIDADE

ONDE OS DADOS PREOCUPAM MAIS NO SUL

População

1o

Macapá (aP) 21%

3o

natal (rn)18%

2o

Porto alegre (rS) 20%

1o

Porto alegre(rS) – 20%

2o

Curitiba(Pr) – 16%

3o

florianópolis(Pr) – 15%

Massa 1 ovo 3 colheres de fécula de batata (caso não tenha pode usar amido de milho)

1 pitada de sal e uma de açúcar 1 colher de óleo de canola (pode ser soja)

2 colheres de sopa de água 1 colher de sopa de leite

PreParo Bata tudo no liquidificador e prepare as panquecas numa frigideira antiaderente. reserve.

recheio:200 gramas de geleia de morango200 ml de suco de laranja

PreParo Misture a geleia com o suco de laranja, espalhe sobre a massa, enrole e sirva.

também em maio, na reunião realizada depois da oficina, o médico Jorge Massahiro nakassa, um dos cirurgiões do programa, palestrou sobre reganho de peso. Segundo ele, após a cirurgia bariátrica o paciente deve eliminar 75% do excesso de peso e depois de um tempo pode engordar de 10 a 15% do que perdeu sem que isso seja considerado preocupante. “Depois de um tempo de operação, é lógico que o paciente aumenta um pouco o peso, mas se passar desses dez ou 15%, está fora do que é aceito. e isso é resultado da desistência do paciente de seguir com o tratamento multiprofissional”, avaliou. na palestra e no 3o Simpósio de obesidade Mórbida e 3o encontro Joinvilense de Cirurgia Bariátrica do Hospital regional Hans Dieter Schmidt, realizado em março, ele informou que 41 pacientes dentre 249 cirurgias (16,46%) tiveram reganho entre 2002 e 2010. “vamos revisar os dados, mas em 2007 tem um dado que me preocupa: 32,85% dos pacientes tiveram reganho”, comentou.

A cozinha sempre junta as

pessoas e é legal.

Daniel anDré lopes, Chefe

a decisão de levar o filho de 12 anos para a aula foi tomada porque os outros cuidadores que a acompanham trabalham durante a tarde e para que o menino tenha um reforço na reeducação alimentar. “Meu filho estava indo pelo mesmo caminho que eu. o açúcar tava alto, tinha bronquite e pneumonia, mas começou a fazer natação e melhorou”, orgulha-se.

Page 4: 500 milhões de obesos

notícias do dia Joinville – quarta-feira, 20 De JunHo De 2012 19

eDitor: rosana ritta [email protected] @rosana_ritta

Rosana [email protected]

O medo de engordar ainda mais e desenvolver a diabe-tes levou o radialista Dalson Draeger Junior, 32 anos, ao

Programa Obesimor, no Hospital Re-gional Hans Dieter Schmidt, em agos-to de 2011, pesando 135 quilos. A cora-gem para tratar a obesidade mórbida veio depois de acompanhar a evolução nos casos dos amigos que fizeram a cirurgia bariátrica. No dia 26 de abril, após aulas, séries de consultas com especialistas, baterias de exames e te-rapias em grupo, ele foi operado pelo cirurgião bariátrico Rui Celso Vieira, coordenador do programa.

Disciplinado, Dalson reduziu o peso para 106 quilos seguindo as orientações médicas. Antes do pro-cedimento, ele emagreceu 16 quilos e em 45 dias deixou outros 13 quilos para trás e voltou a trabalhar. “Minha cirurgia foi uma bênção. O único pro-blema é que sou ruim de veia e tive que ficar com o braço esticado de quarta a domingo”, relembrou. Durante a in-ternação, a dieta líquida restrita sem açúcar era aplicada de forma intrave-nosa. Para Dalson, se adequar às die-tas restritivas não foi complicado, mas ficar em casa depois da operação foi considerado entediante.

“Não tem como sair ainda, então mandei instalar mais canais de TV a cabo porque não posso dormir muito, tem que tomar um suco, uma sopa co-ada, água de coco e tudo que for de lí-quido de três em três horas”, detalhou na segunda semana do pós-cirúrgico. Considerado um sucesso, o procedi-mento atendeu às expectativas dele, da família e dos médicos. “Estou per-dendo uma média de um quilo e meio por semana. Agora, começo a perder peso um pouco menos rápido, mas é normal”, contou orgulhoso quando voltou a trabalhar.

Adaptado à nova rotina alimentar, que começou a ser alterada conforme foi participando das aulas, terapias e consultas na Obesimor, ele conta que já está se alimentando sem restrições. “Estou comendo bem, só que pouco, até carne. Parei de comer uns alimentos tipo peixe e tomate, porque descobri que não é bom porque tenho gota e ela vol-tou forte depois da cirurgia”, detalhou. Tranquilo, ele também conta que os exames de sangue pós-cirúrgicos foram considerados normais e que já está to-mando o complexo vitamínico indicado pela nutricionista para repor as vitami-nas que devem faltar no organismo com a redução do estômago.

Continua nas páginas 20 e 21

um renascimentoCirurgia promove

Deixando a obesidade para trás. Dalson

momentos antes do início da cirurgia

bariátrica realizada em 26 de abril

Minha cirurgia foi uma bênção.

Dalson Draeger Junior, Radialista

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Desde segunda, o

ND apresenta uma série de reportagens sobre

as causas, as consequências e o tratamento da obesidade mórbida.

Na primeira matéria, foram mostradas as estatísticas mundiais da doença

e o tratamento da Diabetes mellitus tipo 2 por meio da cirurgia bariátrica. Ontem, foi apresentado o trabalho do

Programa Obesimor, que trata os obesos mórbidos no Nordeste catarinense, e da

Assobesimor (Associação dos Obesos Mórbidos). E hoje, na terceira e

última reportagem da série, o tratamento da obesidade no

pré e no pós-cirúrgico nos hospitais de Joinville

é detalhado.

20 Saúde notícias do dia Joinville – quarta-feira, 20 De Junho De 2012

Cirurgias bariátriCas em Joinville

2002 20122003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

16

27

5

70

55

42

50

78

31

0

em 2005 pararam de ser realizadas enquanto

o credenciamento não era oficializado

395 até 31/5/2012

Hospital Regional Hans DieteR scHmiDta primeira cirurgia com a técnica do bypass gástrico (gastroplastia com desvio intestinal em “Y de roux”) foi realizada em 2002, com a autorização da Secretaria Municipal de Saúde. o credenciamento do Ministério da Saúde ocorreu em 2007.

Cirurgias bariátriCas no brasil

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

16.00018.000

22.000

29.50033.000

38.000

45.000

60.000

25% por videolaparoscopia

35% por videolaparoscopia

Fonte | Sbcbm (Sociedade braSileira de cirurgia bariátrica e metabólica)

monitoramento é para sempre

a técnica aplicada nos pacientes da obesimor é o bypass gástrico com desvio intestinal em “Y de roux” (Y é como a costura do intestino se parece após a cirurgia e roux é o sobrenome do cirurgião que criou a técnica) com a colocação de uma banda gástrica (um anel ajustável que regula a passagem do alimento para o estômago). Durante o procedimento, parte do estômago é grampeada, reduzindo o espaço para o alimento, e o intestino inicial é desviado parar dar a sensação de saciedade.

Segundo o cirurgião bariátrico rui Celso vieira, coordenador do programa, a cirurgia só é realizada quando o paciente tem entre 18 e 65 anos e já tentou aliar dietas a exercícios físicos sem resultado. “o tratamento da obesidade mórbida pode ser clínico, com acompanhamento de endocrinologista, nutricionista, psicólogo e exercício físico. quando ele faz isso durante dois anos e não consegue alcançar o peso ideal, a cirurgia da obesidade é indicada”, detalha. na segunda consulta de Dalson, em maio, o médico elogiou a evolução do quadro e pediu para ele controlar a ansiedade. “esquece a balança. o que nos interessa é daqui a um ano, um ano e meio, a estabilização do teu peso”, aconselhou.

o controle da alimentação dos pacientes é feito com a ajuda dos cuidadores – parentes ou amigos escolhidos para ajudar nessa nova etapa da vida. no caso de Dalson, a mulher, Marilene ritzmann Draeger, analista de recursos humanos, 33, é uma das cuidadoras que o apoia na nova rotina. “no começo, fiquei com medo, mas depois vi que ele estava determinado e que ia dar tudo certo. agora eu dou umas roupas para ele, ele acha que não vai servir e sempre serve”, conta.

até chegar à mesa, Dalson passou por avaliações com endocrinologista, nutricionista, pneumologista, cardiologista, técnico em enfermagem, psiquiatra, assistente social, fonoaudióloga, terapeuta ocupacional e anestesiologista. “também têm as duas grandes aulas. explicam como é a cirurgia, falam que teve quem morreu porque não se cuidou, pedem para você assinar a papelada, quem não tá a fim de fazer corre”, relata.

Segundo Dalson, que tem 1,70m, o aumento de peso veio depois do casamento, mas sua alimentação nunca foi muito exagerada. “quando era criança era gordinho, na adolescência normal e depois comecei a engordar. Meu pai é obeso, minha mãe é obesa, eu já tenho hipertensão e tenho muito medo da diabetes, não quero ter”, detalha. nesse primeiro ano após a cirurgia ele terá que retornar constantemente a vários especialistas para monitorar seu quadro.

Depois, as consultas com cada médico ocorrem uma vez por ano e as terapias uma vez por mês, mas cuidados como comer pequenas quantidades de três em três horas continuam para o resto da vida. “a cirurgia se propõe a perder 70% do excesso de peso, mas não opera depressão, falta de dinheiro, opera o estômago. o cuidador é muito importante para policiar o paciente, que deve escolher e mastigar bem os alimentos”, completa rui Celso vieira, coordenador do obesimor.

a cirurgia mais utilizada no Brasil

bY-Pass gástriCo

interPosiÇÃo ileal

Esquece a balança.

O que nos interessa é a estabili-zação do teu peso.

Rui Celso VieiRa,

Cirurgião, para Dalton

No começo, fiquei com medo de como ia cuidar.

MaRilene DRaegeR, CuiDaDora De Dalson

Preparativo. Dalton passa pelos procedimentos básicos antes de ser submetido à cirurgia

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Page 5: 500 milhões de obesos

notícias do dia Joinville – quarta-fera, 20 De Junho De 2012 Saúde 21

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

42 41 41

140

82

2

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9

36

47

3430

33

48

74

60

34

31

377 421até 31/5/2012 até 31/5/2012

*Os dados dos anos anteriores não foram fornecidos

Centro Hospitalar UnimedÉ credenciado para o procedimento desde a inauguração, em 2001*. no ano anterior, as cirurgias do Plano unimed eram feitas no centro cirúrgico do hospital Municipal São José. realiza cirurgias bariátricas videolaparoscópicas.

Hospital dona HelenaÉ credenciado para fazer cirurgias bariátricas – gastroplastia por diversas técnicas, colocação de balão gástrico por vídeo e convencional e colocação de balão intragástrico por endoscopia – desde 2001.

rede credenciada no estado passo para plásticasem Santa Catarina, as unidades

de saúde estaduais credenciadas pelo Ministério da Saúde para a realização das cirurgias bariátricas são o hospital regional hans Dieter Schmidt, em Joinville; o hospital Santo antônio, em Blumenau; hospital Geral e Maternidade tereza ramos, em lages; hospital universitário, em florianópolis; e o hospital homero de Miranda Gomes, em florianópolis. em Joinville, o Centro hospitalar unimed e o hospital Dona helena operam pela rede privada.

“também é autorizada a operação de obesidade grau 2 no paciente com iMC (Índice de Massa Corporal) entre 35 e 39,9 e doenças como diabetes, hipertensão, e dislipdemia que já tentaram o tratamento clínico sem sucesso”, explica o cirurgião geral e do aparelho digestivo aluísio Stoll, presidente do capítulo de Santa Catarina da SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica) e médico nas duas unidades particulares.

Como os dois hospitais têm que seguir os protocolos do Ministério da Saúde, os pacientes também

são atendidos por especialistas no pré e no pós-operatório, com uma frequência menor do que na rede pública. “ele passa por psicólogo, psiquiatra, nutricionista, cardiologista, pneumologista, cardiologista no pré e no pós no primeiro ano, e segue com consultas com cirurgião e endocrinologista há cada quatro meses no primeiro e uma vez por ano para o resto da vida”, reforça.

Por determinação da anS (agência nacional de Saúde), quem tem plano de saúde não paga nada pela cirurgia bariátrica em nenhum hospital privado. quem faz a cirurgia particular desembolsa cerca de r$ 25 mil com os custos do procedimento e da internação. Para aluísio, responsável pela primeira cirurgia bariátrica realizada em Joinville, em 1999, no hospital Municipal São José, é preciso que mais unidades públicas sejam credenciadas. “a obesidade mórbida é um problema sério e a cirurgia é um tratamento efetivo. hoje, a nossa sociedade de cirurgia bariátrica é a segunda maior do mundo. Só não é maior que a americana”, completa.

no hospital regional hans Dieter Schmidt, as cirurgias plásticas (abdômen, braços, coxas e seios) podem ser feitas a partir de um ano depois das bariátricas, se o paciente estiver com o peso estabilizado por três meses, com o iMC (Índice de Massa Corporal) abaixo de 30, apresente resultados normais nos exames laboratoriais e se mantenha fiel ao tratamento. “o paciente que abandona o tratamento é difícil de tratar e ele chega em pior estado. tabagismo, hipertensão não controlada, diabetes não controlada, uso de anticoagulantes, drogas fitoterápicas e doenças cardíacas graves também são critérios de exclusão”, detalha o cirurgião plástico fernando Sanfelice andré. os resultados, segundo ele, dependem da técnica utilizada e do perfil biológico do paciente. “alguns têm cicatrizes excelentes e outros desastrosas, mas depende também da aceitação do paciente em relação às recomendações prescritas. as atividades físicas mais intensas são proibidas por 60 dias. as mulheres têm que usar cintas e sutiãs modeladores como prescrito”, lista. Mais de 400 plásticas já foram feitas na unidade de saúde.Durante. Equipe do Obesimor na cirurgia que transformará a vida da Dalson

Depois. Em casa, assistindo à TV e controlando horários para comerAntes. Dalson à espera da cirurgia, depois de tentar vários outros métodos

EDITOR: ROSANA RITTA [email protected] @rosana_ritta

ROSANA ROSAR

[email protected]

Fatores genéticos, hereditários

e ambientais são as causas

que fizeram 7% da população

mundial se tornar obesa. Se-

gundo o relatório, “Estatísticas Mun-

diais de Saúde”, divulgado em maio

pela OMS (Organização Mundial de

Saúde), a estimativa é de que cerca de

500 milhões de pessoas com mais de

20 anos sofram com a obesidade em

todo o planeta. Por ano, a OMS cal-

cula que 2,8 milhões de pessoas mor-

ram em decorrência do sobrepeso e

da obesidade. A Diabetes mellitus

tipo 2 é uma das doenças que mais

preocupa pacientes e médicos, mas é

quase sempre controlada quando os

obesos mórbidos passam pela cirur-

gia de redução do estômago.

Em Joinville, a pesquisadora

Cândida Chiochetta Tonial consta-

tou que 88,3% dos pacientes dia-

béticos submetidos à cirurgia bari-

átrica no Hospital Regional Hans

Dieter Schmidt entre janeiro de

2001 e julho de 2011 tiveram remis-

são total do diabetes. Segundo Tani-

se Balvedi Damas, endocrinologista

do Programa Obesimor, e orienta-

dora do projeto de monografia “Re-

missão do Diabetes mellitus nos

pacientes submetidos a cirurgias no

HRHDS de Joinville”, o termo cura

não é utilizado porque ainda não se

sabe como será a evolução destes

mesmos pacientes em longo prazo.

“Hoje, sabemos que dos pacientes

que usavam insulina, nenhum usa

mais no pós-operatório”, detalha.

Durante a pesquisa, Cândida re-

visou o prontuário de 34 pacientes

do hospital e observou que 30 deles

tiveram remissão total do diabetes

e quatro reduziram o uso de medi-

camentos. A dona de casa Rose

Maria André, 38 anos, foi uma

das analisadas que deixou de

usar dois tipos de insulina

depois da cirurgia, realiza-

da em 2010, e mudou radi-

calmente o estilo de vida.

“Eu mesma me aplicava,

quase morria do coração.

Há nove anos minha mãe

morreu e cai mais na de-

pressão. Cheguei a pregar

a janela do quarto para não

abrir e não ver ninguém”,

conta Rose, que começou a

engordar com 15 anos e procu-

rou a Obesimor quando o médi-

co do posto de saúde do Rio Bonito

disse que a cirurgia era sua única

alternativa para tentar resolver os

problemas de saúde.

A partir de hoje, o ND apresenta uma série de reportagens sobre as causas,

as consequências e o tratamento da obesidade mórbida. Nesta primeira

matéria, mostram-se as estatísticas mundiais da doença e o tratamento

da Diabetes mellitus tipo 2 por meio da cirurgia bariátrica. Na segunda,

será apresentado o trabalho do Programa Obesimor, que trata os obesos

mórbidos no Nordeste catarinense, e da Assobesimor (Associação dos Obesos

Mórbidos). No terceiro e último dia da série, o tratamento da obesidade no

pré e no pós-cirúrgico nos hospitais de Joinville será detalhado.

de obesos500milhões

Foi difícil, mas se fosse para fazer tudo de

novo, hoje eu fazia, até porque sabia que era

minha única opção.

ROSE MARIE ANDRÉ, DONA DE CASA129quilos

76quilos

EDITOR: ROSANA RITTA

[email protected]

@rosana_ritta

ROSANA ROSAR

[email protected]

A pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores

de Risco e Proteção para Doenças Crô-

nicas por Inquérito Telefônico) revelou

recentemente que entre 2006 e 2011 o

percentual de habitantes acima do peso nas ca-

pitais brasileiras e no Distrito Federal aumentou

7%. No mesmo período, o número de obesos nas

mesmas regiões cresceu 5%. Atualmente, 48,5%

da população brasileira estão acima do peso e

15,8% são obesos. Para tentar alterar este pano-

rama, o Ministério da Saúde tem investido em

ações como a implantação e o monitoramento

das academias de saúde. Em Joinville, a obesida-

de mórbida é tratada no programa Obesimor, no

Hospital Regional Hans Dieter Schmidt.

O projeto, que comemora dez anos de criação,

tem aproximadamente 1.000 pacientes cadastra-

dos: 365 já fizeram a cirurgia bariátrica e 635 estão

em tratamento aguardando o procedimento cirúr-

gico. O primeiro atendimento para quem precisa

tratar a obesidade mórbida é feito no posto de saú-

de do bairro. Na unidade, quem tem IMC (Índice

de Massa Corporal) igual ou superior a 40 é enca-

minhado para o ambulatório da Obesimor, passa

por aulas, consultas com especialistas e frequenta

reuniões mensais da Assobesimor (Associação dos

Obesos Mórbidos) antes e depois da cirurgia. Os

encontros ocorrem sempre na terceira quinta-feira

do mês, no salão de festas da Comunidade Papa

João 23, e reúnem cerca de 500 pessoas.

Antes das reuniões, a associação organi-

za oficinas de artesanato, culinária e música.

Na “Cozinha saudável”, pacientes e cuidadores

aprendem receitas menos calóricas com o chefe

Daniel André Lopes, professor do Senac (Ser-

viço Nacional de Aprendizagem Comercial). “A

gente parte do princípio de que comida não en-

gorda. O que engorda é a gente”, ensina.

Desde que iniciou o trabalho voluntário na As-

sobesimor, há dois anos, ele já ensinou os alunos a

prepararem cucas e pães integrais, peito de frango

recheado, panquecas, empadões e outros pratos.

“São receitas já testadas e feitas para atender às

necessidades deles. Mostro para eles o que pode

e o que não pode fazer. Pego uma coisa mais co-

mum e tento dar uma cara mais bonita”, detalha.

Desde ontem, o ND apresenta uma série de reportagens sobre as causas, as consequências,

e o tratamento da obesidade mórbida. Na primeira matéria, foram mostradas as estatísticas

mundiais da doença e o tratamento da Diabetes mellitus tipo 2 por meio da cirurgia bariátrica.

Hoje, a reportagem apresenta o trabalho do Programa Obesimor, que trata os obesos mórbidos

no Nordeste catarinense, e da Assobesimor (Associação dos Obesos Mórbidos). Amanhã, na

terceira e última reportagem da série, o tratamento da obesidade no pré e no pós-cirúrgico nos

hospitais de Joinville será detalhado.

estão acima do peso48,5%

Orientações

e troca de

experiências.

Associados

e cuidadores

no encontro

mensal, que

reúne em torno

de 500 pessoas

Desafio. Mudança de

hábitos alimentares é

uma das propostas da

Assobesimor

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notícias do dia

JOINVILLE – SEGUNDA-FEIRA, 18 DE JUNHO DE 2012 16/17

obesidade – É uma doença caracterizada

pelo excesso de gordura no corpo

obesidade mórbida – Ocorre quando o paciente tem

IMC igual ou acima de 40 e há aumento significativo do

risco de se adquirir as comorbidades que comprometem

a qualidade de vida do paciente e podem causar a morte

imC – É uma medida internacional utilizada

para calcular se a pessoa está abaixo ou

acima do peso ideal para sua estatura

Cirurgia bariátrica e metabólica* – Também

conhecida como cirurgia da obesidade, ou, popularmente,

redução de estômago, reúne técnicas destinadas ao

tratamento da obesidade e das doenças associadas

ao excesso de gordura corporal ou agravadas por ele.

O conceito metabólico foi incorporado há cerca de

seis anos pela importância que a cirurgia adquiriu no

tratamento de doenças causadas, agravadas ou cujo

tratamento/controle é dificultado pelo excesso de peso

ou facilitado pela perda de peso – como o diabetes e a

hipertensão –, também chamadas de comorbidades

Comorbidades – Doenças graves relacionadas

à obesidade. As mais frequentes são: hipertensão

arterial, diabetes mellitus tipo 2, hipercolesterolemia,

apneia do sono, insuficiência cardíaca, artroses

de quadril e joelhos e obstrução arterial

diabetes mellitus tipo 2 – Ocorre quando o

organismo tem resistência à insulina e pode levar

à morte quando a doença não é controlada

adeus à depressão

marilsa

quase desistiu

doença renal pode ser

prevenida ou tratada

Depressiva, com diabetes, pressão

alta e problemas cardíacos Rose Maria

André chegou ao Obesimor em 2008,

com 129 quilos e tomando 12 tipos

de medicamentos. Se esforçando

para mudar hábitos alimentares e

comportamentais, ela perdeu 21 quilos

antes da cirurgia. “O doutor Dante, do

postinho do Rio Bonito, me salvou me

mandando para lá. Quando comecei

a ir na Obesimor não conhecia nada.

Foi difícil, mas se fosse para fazer

tudo de novo, hoje eu fazia, até porque

sabia que era minha única opção”,

avalia. Hoje, Rose pesa 76 quilos,

toma quatro remédios para pressão e

aguarda o aval do cardiologista para

fazer as cirurgias plásticas. “Todos os

médicos já assinaram, mas ele quer

fazer um exame e ver como está meu

coração antes disso. Eu sou aquela

do quase, eles tinham muito medo, foi

uma briga para fazer minha cirurgia

por causa do coração”, relembra.A cozinheira Marilsa Soares,

46 anos, precisou de mais tempo

para aceitar e seguir o tratamento

que normalizou a taxa de glicose na

sua corrente sanguínea e eliminou

sua depressão. Encaminhada para

o programa pela unidade de saúde

do bairro Aventureiro ela iniciou o

acompanhamento no Regional em

maio de 2008. “Parei porque meu pai

ficou enfermo e morreu em outubro

de 2009 e eu fiquei com trauma. Foi

um ano bem triste. Eu passava pelo

hospital e virava o rosto, tive que

mudar de casa, porque não conseguia

entrar sem lembrar dele”, desabafa.

Em agosto de 2010, ela procurou

novamente o Obesimor para desistir

do tratamento, mas foi convencida

por uma assistente social de que

deveria seguir no programa. “Ela me

falou que o que eu estava fazendo

não ia trazer meu pai de volta e que

eu não devia desistir. E hoje eu vejo

que valeu a pena. Se eu soubesse

que seria assim teria voltado muito

antes”, analisa. Durante o tratamento,

Marilsa também teve dificuldades

porque engordou ainda mais

quando começou a aplicar

três doses diárias de insulina.

“Entrei com 105

(quilos), cheguei a 95, mas

engordei 12 e fui para a

cirurgia com 112”, detalha.

Atualmente, ela pesa 75 quilos,

não pode trabalhar por causa das

sequelas de hérnias na coluna, mas

não precisou usar insulina. “Vou

tratar uma anemia, normalizar a

B12 (vitamina), e estou na fila para

as quatro cirurgias plásticas. Se

tivesse cinco, eu fazia cinco porque

o corpo muda muito”, relata. Além

de aguardar os novos procedimentos

cirúrgicos, Marilsa entrará com

um pedido de aposentadoria nos

próximos meses. “Estou encostada

há cinco anos. Não tenho mais

hérnia, mas ainda sinto dor. O

médico disse que já não tenho

mais como trabalhar”, acrescenta.

Segundo o cirurgião bariátrico Vinicius José Cota

Schiochet, um dos médicos do Obesimor, a Diabetes mellitus

tipo 2 e a obesidade têm crescido em todo o mundo ano

após ano e podem ser tratadas com a cirurgia bariátrica.

“O obeso é cronicamente inflamado e tem mais chance

de ter insuficiência renal e ser diabético. O paciente sendo

operado e emagrecendo pode prevenir a insuficiência

ou melhorar o estado da doença renal”, informa.

De acordo com o nefrologista Cláudio R. Werka Jr.,

a obesidade aumenta os riscos de doenças vasculares,

diabetes, hipertensão e doença renal crônica. “A obesidade

é um fator de risco independente para a insuficiência

renal crônica a longo prazo, mas dificilmente vira doença

se não tiver outra condição associada, principalmente

a hipertensão e o diabetes”, detalha. Nesses casos,

o tratamento inclui a perda de peso por meio de

dietas e atividades físicas ou a cirurgia. “A progressão

da doença renal crônica é uma séria indicação para

cirurgia bariátrica”, relatou no 3o Simpósio de Obesidade

Mórbida e 3o Encontro Joinvilense de Cirurgia Bariátrica

do Hospital Regional Hans Dietter Schmidt, realizado no

Departamento de Ensino e Pesquisa da unidade, em março.

Estou na fila para

as quatro cirurgias

plásticas. Se tivesse

cinco, eu fazia porque o

corpo muda muito.

MARILSA SOARES, COZINHEIRA

O obeso é croni-camente

inflamado

e tem mais chance de ser

diabético.

VINICIUS

SCHIOCHET,

CIRURGIÃO

BARIÁTRICO

Janelas e portas abertas para

a vida. Rose Maria livrou-se de

mais de 50 quilos, recuperou a

autoestima e agora espera para

fazer as cirurgias plásticas

Idas e vindas. Marilsa de novo visual

76quilos

75quilos

112quilos

NO MUNDO

7 bilhõesde habitantes

500 milhões

de pessoas

estão acima de

20 anos são

obesas (7%

da população

mundial)

2,8 milhões

de pessoas morrem

anualmente em

decorrência do

sobrepeso e

da obesidade

FONTE | OMS

(ORGANIZAÇÃO

MUNDIAL DE SAÚDE)

SAIBA MAISEntenda os termos

CIRCUNFERÊNCIA ABDOMINAL

FONTE | SBCBM (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA BARIÁTRICA E

METABÓLICA)

LIMITE* 80 cm para mulheres

90 cm para homens

(*) Pode variar em diferentes etnias

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notícias do dia Joinville – terÇa-feira, 19 De Junho De 2012 24/25para chefe, evolução

reganho, dado que preocupa Busca por vida mais saudável

associação precisa de apoio

os ingredientes das receitas são comprados por vera regina Martins araújo, 48 anos, presidente da assobesimor, e as aulas na cozinha da igreja costumam reunir de dez a 15 pessoas das 16 às 18h, antes das palestras mensais, realizadas às 19h. Segundo o chefe Daniel andré lopes, esse método tem sido mais eficaz porque garante que ele terá tudo o que precisa para fazer uma boa aula quando chegar à cozinha industrial da igreja. “eu preparo as receitas, mando a lista de compras e a associação

compra. antes, eles dividiam as coisas entre si e era mais difícil, porque nem sempre vinha tudo e alguém tinha que comprar algo na hora”, relembra. Para ele, ver a evolução dos pacientes que continuam participando da oficina mesmo depois da cirurgia é recompensador. “quando começou, a ideia era criar uma atividade a mais para eles, mas a cozinha sempre junta as pessoas e é legal. Conheço vários pacientes antes de operar e é legal ver a alegria deles no pós-operatório”, avalia.

em maio, a agente comunitária de saúde Maria Gorete Gaspar, 45 anos, e o filho fabrício Gaspar Pereira, 12, foram à uma aula da cozinha pela primeira vez. encantada com as receitas de panqueca doce e do empadão de atum, ensinadas pelo chef Daniel, ela contou que já está começando a mudar os seus e os hábitos alimentares inadequados da família. “estou abrindo os horizontes e vendo que não preciso deixar de comer, mas só fazer uma alimentação mais saudável”, comentou.enquanto aprendia a virar panquecas, ela contou que tem diabetes e pressão alta e que decidiu procurar ajuda quando a irmã teve uma parada renal e morreu. “Decidi correr mais pela vida. quero criar meu filho, ser professora e parar de tomar tanto remédio”, desabafou. Desde outubro fazendo tratamento no hospital regional, ela já passou por consultas com especialistas e aguarda as sessões da terapia de grupo para ter sua cirurgia marcada.“ainda tenho que diminuir bastante (Maria começou o tratamento com 105 quilos e atualmente pesa 103), mas já dá para ver a diferença, principalmente no carboidrato que agora sobra no fim do mês”, avalia, com bom humor.

vera regina Martins araújo, presidente da assobesimor, é quem agenda as oficinas e palestras de acordo com a disponibilidade dos voluntários e especialistas. “Já tivemos artesanato como pintura em tela, bordado, aula de música, mas agora só estamos com a cozinha”, conta. Como a entidade não tem uma sede fixa, a presidente fica responsável por alugar o salão de festas da igreja e organizar ações que cubram os gastos mensais. “tem mais de 1.000 pessoas entre pré e pós-operados e nem 200 pagam a mensalidade que é só de r$ 5, que a gente cobra pra pagar os custos, e que dá a eles direito de ter 20% de desconto nos complexos vitamínicos”, relata.nas reuniões mensais, a assobesimor promove um brechó com roupas usadas e permite que uma paciente venda as peças estilizadas que fabrica em tamanho especial. “ela nos dá uma porcentagem para cobrir nossos custos. no desfile (dos pós-operados), a gente tem que pagar o lanche de quem trabalha. aqui, a gente traz as frutas. no simpósio, faz o coquetel”, lista vera. a história da presidente na obesimor começou em 2008, quando seu médico sugeriu que ela fizesse a cirurgia bariátrica para amenizar a dor na coluna. “eu tinha 124 quilos, estava com um problema sério na coluna e vivia deprimida”, recorda. quem quiser ajudar a assobesimor deve mandar email para [email protected] ou procurar por assobesimor Joinville no facebook.

Aprendendo. Fabrício e Maria Gorete

Em torno do fogão. Daniel ensina receitas menos calóricas, como empadão e panqueca (ao lado)

Depressão, jamais. Disposta, Vera Regina Araújo é que mantém as atividades da associação

Limite. Jorge Nakassa diz que ganho de peso de dez a 15% é normal depois da cirurgia, mas alerta que mais do que isso é preocupante

SAIBA MAIS

PANQUECA SEM GLÚTEN

Os números da obesidade

*Fonte | pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), do Ministério da Saúde, que analisa o percentual de adultos acima de 20 anos com excesso de peso e obesidade, segundo as capitais dos Estados brasileiros e o Distrito Federal.

0 300150 km

2006 2007 2008 2009 2010 2011

11% 13% 13% 14% 15% 16%

OBESIDADE

ONDE OS DADOS PREOCUPAM MAIS NO SUL

População

1o

Macapá (aP) 21%

3o

natal (rn)18%

2o

Porto alegre (rS) 20%

1o

Porto alegre(rS) – 20%

2o

Curitiba(Pr) – 16%

3o

florianópolis(Pr) – 15%

MASSA 1 ovo 3 colheres de fécula de batata (caso não tenha pode usar amido de milho) 1 pitada de sal e uma de açúcar 1 colher de óleo de canola (pode ser soja)

2 colheres de sopa de água 1 colher de sopa de leite

PREPARO Bata tudo no liquidificador e prepare as panquecas numa frigideira antiaderente. reserve.RECHEIO:

200 gramas de geleia de morango200 ml de suco de laranja

PREPARO Misture a geleia com o suco de laranja, espalhe sobre a massa, enrole e sirva.

também em maio, na reunião realizada depois da oficina, o médico Jorge Massahiro nakassa, um dos cirurgiões do programa, palestrou sobre reganho de peso. Segundo ele, após a cirurgia bariátrica o paciente deve eliminar 75% do excesso de peso e depois de um tempo pode engordar de 10 a 15% do que perdeu sem que isso seja considerado preocupante. “Depois de um tempo de operação, é lógico que o paciente aumenta um pouco o peso, mas se passar desses dez ou 15%, está fora do que é aceito. e isso é resultado da desistência do paciente de seguir com o tratamento multiprofissional”, avaliou. na palestra e no 3o Simpósio de obesidade Mórbida e 3o encontro Joinvilense de Cirurgia Bariátrica do hospital regional hans Dieter Schmidt, realizado em março, ele informou que 41 pacientes dentre 249 cirurgias (16,46%) tiveram reganho entre 2002 e 2010. “vamos revisar os dados, mas em 2007 tem um dado que me preocupa: 32,85% dos pacientes tiveram reganho”, comentou.

A cozinha sempre

junta as pessoas e é

legal.

DANIEL ANDRÉ LOPES, CHEFE

a decisão de levar o filho de 12 anos para a aula foi tomada porque os outros cuidadores que a acompanham trabalham durante a tarde e para que o menino tenha um reforço na reeducação alimentar. “Meu filho estava indo pelo mesmo caminho que eu. o açúcar tava alto, tinha bronquite e pneumonia, mas começou a fazer natação e melhorou”, orgulha-se.

notícias do dia

JOINVILLE – QUARTA-FEIRA, 20 DE JUNHO DE 2012 19

EDITOR: ROSANA RITTA [email protected] @rosana_ritta

ROSANA ROSAR

[email protected]

O medo de engordar ainda

mais e desenvolver a diabe-

tes levou o radialista Dalson

Draeger Junior, 32 anos, ao

Programa Obesimor, no Hospital Re-

gional Hans Dieter Schmidt, em agos-

to de 2011, pesando 135 quilos. A cora-

gem para tratar a obesidade mórbida

veio depois de acompanhar a evolução

nos casos dos amigos que fizeram a

cirurgia bariátrica. No dia 26 de abril,

após aulas, séries de consultas com

especialistas, baterias de exames e te-

rapias em grupo, ele foi operado pelo

cirurgião bariátrico Rui Celso Vieira,

coordenador do programa.

Disciplinado, Dalson reduziu o

peso para 106 quilos seguindo as

orientações médicas. Antes do pro-

cedimento, ele emagreceu 16 quilos

e em 45 dias deixou outros 13 quilos

para trás e voltou a trabalhar. “Minha

cirurgia foi uma bênção. O único pro-

blema é que sou ruim de veia e tive que

ficar com o braço esticado de quarta a

domingo”, relembrou. Durante a in-

ternação, a dieta líquida restrita sem

açúcar era aplicada de forma intrave-

nosa. Para Dalson, se adequar às die-

tas restritivas não foi complicado, mas

ficar em casa depois da operação foi

considerado entediante.

“Não tem como sair ainda, então

mandei instalar mais canais de TV a

cabo porque não posso dormir muito,

tem que tomar um suco, uma sopa co-

ada, água de coco e tudo que for de lí-

quido de três em três horas”, detalhou

na segunda semana do pós-cirúrgico.

Considerado um sucesso, o procedi-

mento atendeu às expectativas dele,

da família e dos médicos. “Estou per-

dendo uma média de um quilo e meio

por semana. Agora, começo a perder

peso um pouco menos rápido, mas é

normal”, contou orgulhoso quando

voltou a trabalhar.

Adaptado à nova rotina alimentar,

que começou a ser alterada conforme

foi participando das aulas, terapias e

consultas na Obesimor, ele conta que

já está se alimentando sem restrições.

“Estou comendo bem, só que pouco,

até carne. Parei de comer uns alimentos

tipo peixe e tomate, porque descobri que

não é bom porque tenho gota e ela vol-

tou forte depois da cirurgia”, detalhou.

Tranquilo, ele também conta que os

exames de sangue pós-cirúrgicos foram

considerados normais e que já está to-

mando o complexo vitamínico indicado

pela nutricionista para repor as vitami-

nas que devem faltar no organismo com

a redução do estômago.

Continua nas páginas 20 e 21

um renascimentoCirurgia promove

Deixando a obesidade

para trás. Dalson

momentos antes do

início da cirurgia

bariátrica realizada em 26 de abril

Minha cirurgia foi uma bênção.

DALSON DRAEGER JUNIOR, RADIALISTA

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Desde segunda, o

ND apresenta uma

série de reportagens sobre

as causas, as consequências e o

tratamento da obesidade mórbida.

Na primeira matéria, foram mostradas

as estatísticas mundiais da doença

e o tratamento da Diabetes mellitus

tipo 2 por meio da cirurgia bariátrica.

Ontem, foi apresentado o trabalho do

Programa Obesimor, que trata os obesos

mórbidos no Nordeste catarinense, e da

Assobesimor (Associação dos Obesos

Mórbidos). E hoje, na terceira e

última reportagem da série, o

tratamento da obesidade no

pré e no pós-cirúrgico nos

hospitais de Joinville

é detalhado.

20 Saúde notícias do dia

Joinville – quarta-feira, 20 De Junho De 2012

CIRURGIAS BARIÁTRICAS EM JOINVILLE

2002

2012

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 20111

6

27

5

70

55

42

50

78

31

0

em 2005 pararam de

ser realizadas enquanto

o credenciamento

não era oficializado

395 até 31/5/2012

Hospital reGional Hans dieter sCHmidt

a primeira cirurgia com a técnica do bypass gástrico

(gastroplastia com desvio intestinal em “Y de

roux”) foi realizada em 2002, com a autorização da

Secretaria Municipal de Saúde. o credenciamento

do Ministério da Saúde ocorreu em 2007.

CIRURGIAS BARIÁTRICAS NO BRASIL

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 201016.000

18.00022.000

29.50033.000

38.000

45.000

60.00025% por videolaparoscopia

35% por videolaparoscopia

FONTE | SBCBM (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA BARIÁTRICA E METABÓLICA)

monitoramento é para sempre

a técnica aplicada nos pacientes da obesimor

é o bypass gástrico com desvio intestinal em “Y de

roux” (Y é como a costura do intestino se parece

após a cirurgia e roux é o sobrenome do cirurgião

que criou a técnica) com a colocação de uma

banda gástrica (um anel ajustável que regula a

passagem do alimento para o estômago). Durante

o procedimento, parte do estômago é grampeada,

reduzindo o espaço para o alimento, e o intestino

inicial é desviado parar dar a sensação de saciedade.

Segundo o cirurgião bariátrico rui Celso vieira,

coordenador do programa, a cirurgia só é realizada

quando o paciente tem entre 18 e 65 anos e já tentou

aliar dietas a exercícios físicos sem resultado. “o

tratamento da obesidade mórbida pode ser clínico, com

acompanhamento de endocrinologista, nutricionista,

psicólogo e exercício físico. quando ele faz isso durante

dois anos e não consegue alcançar o peso ideal, a cirurgia

da obesidade é indicada”, detalha. na segunda consulta

de Dalson, em maio, o médico elogiou a evolução do

quadro e pediu para ele controlar a ansiedade. “esquece a

balança. o que nos interessa é daqui a um ano, um ano e

meio, a estabilização do teu peso”, aconselhou.

o controle da alimentação dos

pacientes é feito com a ajuda dos

cuidadores – parentes ou amigos

escolhidos para ajudar nessa nova etapa

da vida. no caso de Dalson, a mulher,

Marilene ritzmann Draeger, analista

de recursos humanos, 33, é uma das

cuidadoras que o apoia na nova rotina.

“no começo, fiquei com medo, mas

depois vi que ele estava determinado

e que ia dar tudo certo. agora eu dou

umas roupas para ele, ele acha que

não vai servir e sempre serve”, conta.

até chegar à mesa, Dalson passou

por avaliações com endocrinologista,

nutricionista, pneumologista,

cardiologista, técnico em enfermagem,

psiquiatra, assistente social,

fonoaudióloga, terapeuta ocupacional

e anestesiologista. “também têm as

duas grandes aulas. explicam como

é a cirurgia, falam que teve quem

morreu porque não se cuidou, pedem

para você assinar a papelada, quem

não tá a fim de fazer corre”, relata.

Segundo Dalson, que tem 1,70m,

o aumento de peso veio depois do

casamento, mas sua alimentação nunca

foi muito exagerada. “quando era criança

era gordinho, na adolescência normal e

depois comecei a engordar. Meu pai é

obeso, minha mãe é obesa, eu já tenho

hipertensão e tenho muito medo da

diabetes, não quero ter”, detalha. nesse

primeiro ano após a cirurgia ele terá

que retornar constantemente a vários

especialistas para monitorar seu quadro.

Depois, as consultas com cada

médico ocorrem uma vez por ano e as

terapias uma vez por mês, mas cuidados

como comer pequenas quantidades de

três em três horas continuam para o

resto da vida. “a cirurgia se propõe a

perder 70% do excesso de peso, mas

não opera depressão, falta de dinheiro,

opera o estômago. o cuidador é muito

importante para policiar o paciente,

que deve escolher e mastigar bem

os alimentos”, completa rui Celso

vieira, coordenador do obesimor.

a cirurgia

mais utilizada

no Brasil BY-PASS GÁSTRICO

INTERPOSIÇÃO ILEAL

Esquece a balança. O que nos

interessa é

a estabili-zação do teu peso.

RUI CELSO

VIEIRA,

CIRURGIÃO, PARA

DALTON

No começo, fiquei com

medo de como ia cuidar.

MARILENE DRAEGER, CUIDADORA DE DALSON

Preparativo.

Dalton passa pelos

procedimentos

básicos antes de

ser submetido à

cirurgia

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nesta semana, de segunda-

feira até hoje, o Notícias do Dia publica a série de reportagens

sobre obesidade mórbida e suas consequências.