50 anos jardim botanico

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Funchal 2010

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Anos JArdim Botnico dA mAdeirA eng. rui vieirA

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ndicecaptulo 1 - Luisa Gouveia. jardim Botnico da madeira enG. rui Vieira ................. 00 1.1 Historial ............................................................................................................ 00 1.2.uma instituio ao servio da conservao, da educao ambiental e do uso pblico. ............................................................................................. 00 captulo 2 - jos augusto carvalho, francisco fernandes, carlos Lobo. a inVestiGao e conserVao da diVersidade VeGetaL no jardim Botnico da madeira enG. rui Vieira 1. introduo........................................................................................................... 00 1.2. Banco de sementes ...................................................................................... 00 1.3. Herbrio ...................................................................................................... 00 1.4. Bancos de Adn ........................................................................................... 00 1.5 Plantas vivas ................................................................................................. 00 2. casos de estudo .................................................................................................. 00 2.1. sistemtica e taxonomia ............................................................................. 00 2.1.1. massarocos no arquiplago da madeira ............................................. 00 2.1.3. o gnero Musschia no arquiplago da madeira ................................ 00 2.1.4. Teucrium francoi m. seq., capelo, J.c. costa & r. Jardim: uma nova espcie para a flora da madeira. ....................................................... 00 2.1.5. uma explicao para a distribuio mundial peculiar do gnero Echinodium (Bryopsida: echinodiaceae): evoluo independente na macaronsia e Austrlia. ............................................................... 00 2.2. conservao ................................................................................................ 00 2.2.1. conservao de Aichryson dumosum (Lowe) Praeger ........................ 00 2.2.2. conservao de Dracaena draco (L.) L. .............................................. 00 2.2.3. conservao de Pittosporum coriaceum dryander ex Aiton ............... 00 2.2.4. conservao de Sorbus maderensis dode .......................................... 00 2.2.5. conservao de Andryala crithmifolia Aiton....................................... 00 2.2.6. conservao de Solanum trisectum dunal ......................................... 00 2.2.7. conservao de Polystichum drepanum (sw.) c. Presl ....................... 00 2.2.8. conservao de Teucrium abutiloides LHr. ...................................... 00 2.3. Fitossociologia: a classificao das comunidades vegetais .................... 00 captulo 3 - the responses of botanic gardens to new challenges in research, conservation and biodiversity management. ................................................................................ 00 captulo 4 - juli caujap castells. Botanic Gardens and conserVation of tHe macaronesian fLoras. .................................................................................... 00 4 5

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Anos JArdim Botnico dA mAdeirA eng. rui vieirA

editores: Luisa gouveia Jos A. carvalho Francisco Fernandes carlos Lobo edio: direco regional de Florestas secretaria regional do Ambiente e dos recursos naturais projecto Grfico e impresso: grafimadeira, s.A.

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prefcio o Jardim Botnico da madeira, um dos maiores repositrios de Biodiversidade e um dos mais famosos pontos de atraco turstica da ilha da madeira comemora este ano 50 anos de existncia! este Jardim, criado em 1960, constitui uma das imagens de qualidade e um dos locais tursticos mais procurado e visitado, quer por residentes, quer pelos muitos turistas que visitam a nossa regio. em muito contribui para a sua notoriedade o excelente trabalho que tem sido realizado, nos ltimos 50 anos, neste importante centro de cincia e educao, onde o Homem convidado a (re)descobrir o fascinante mundo das plantas. este espao, para alm da vertente educativa e de uso pblico, tem tambm um papel fundamental na investigao no campo da Botnica e conservao de espcies vegetais prioritrias e raras do arquiplago da madeira, recuperao de habitats naturais e disseminao da biodiversidade, cujo Ano internacional comemorado agora, em 2010. gostaria ainda de deixar uma palavra de apreo ao falecido engenheiro rui vieira, que tendo sido o primeiro director do Jardim Botnico da madeira, foi tambm um Homem que em muito contribuiu para o desenvolvimento deste Jardim, na sua organizao e estruturao. Por tal, e pela faceta de Homem de valores e de profissional competentssimo, a ttulo pstumo, o governo regional da madeira atribuiu o seu nome ao agora Jardim Botnico da madeira engenheiro rui vieira.

Funchal, 8 de Abril de 2010

manuel Antnio rodrigues correia

secretrio regional do Ambiente e dos recursos naturais

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o Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira constitui o lugar institucional da preservao e da investigao da flora natural da regio Autnoma da madeira. contribui dessa forma para a divulgao e afirmao desta terra da macaronsia no mundo. Local de visita obrigatria, qual sala de visita de maior grandeza, o Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira, ainda jovem nos seus 50 anos de existncia, tem alimentado sonhos romnticos de vrias geraes, satisfeito a curiosidade de milhes de visitantes e constitudo uma ncora do saber profundo do vasto patrimnio de biodiversidade do Arquiplago da madeira. Que assim continue ao longo dos anos.

Funchal, 8 de Abril de 2010

Paulo conceio rocha da silva

director regional de Florestas

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resumo A comemorao de 50 anos de existncia do Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira reveladora da importncia desta instituio no contexto social e econmico da madeira. este livro rene e apresenta os aspectos mais marcantes do Jardim Botnico da madeira ao longo dos seus 50 anos de existncia; desde o desejo de criao desta instituio, defendida por vrios investigadores e tcnicos da botnica nacionais e internacionais, passando pelo processo da sua criao e incluso nos servios agrrios, onde teve como competncias principais estudar a introduo e aclimatao de novas cultivares, at sua incluso na direco regional de Florestas, onde em consonncia com a estratgia global de aco de jardins botnicos na conservao dos recursos vegetais naturais, adquire competncias na investigao e conservao desse tipo de recursos dos arquiplagos da madeira e selvagens. neste mbito, dado especial destaque ao Herbrio, ao Banco de sementes, coleco de plantas vivas e aos laboratrios de biologia molecular e de cultura in vitro, estruturas fundamentais na concretizao dos diversos projectos de investigao e conservao desenvolvidos. desses trabalhos, so apresentados alguns casos de estudo nas reas da sistemtica e taxonomia de plantas vasculares e avasculares, fitossociologia de de comunidades de plantas vasculares, bem como resultados de trabalhos de conservao in situ e ex situ de vrias espcies endmicas raras ou ameaadas de extino na natureza.

AbstrAct the celebration of 50 years of the Botanical garden of madeira is indicative of the importance of this institution in the social and economic context of madeira region. this book includes and presents some of the most important aspects of the Botanical garden of madeira during its 50 years of existence; starting with the desire to create the institution, supported by several national and international botanical researchers and technicians, passing by the process of creation of the institution and its inclusion in the Agricultural services, where it had as main competence studying the introduction of new cultivars in madeira, up to its inclusion in the regional Forestry department, where in line with the global action strategy of the botanical gardens towards the research and conservation of natural plant resources, the Botanical garden of madeira acquires competences in the research and conservation of these resources of madeira and selvagens archipelagos. in this context, special emphases is given to the herbarium, the seed bank, the collection of living plants and the molecular biology and in vitro culture laboratories, fundamental structures in carrying out the various research and conservation projects. of these projects, several study cases on the systematics and taxonomy of vascular and avascular plants are presented, phytossociology of vascular plant communities, as well as results of in situ and ex situ conservation projects carried out on some endemic species which are rare and threatened of extinction.

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captuLo 1 jardim Botnico da madeira enG. rui VieiraLuisa gouveia Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira [email protected]

1.1 Historial A criao do Jardim Botnico da madeira (JBm) foi deliberada pela Junta geral do distrito Autnomo do Funchal, na sesso de 30 de Abril de 1960. Alm desta deliberao, foi tambm decidido que este Jardim tinha como anexos a Quinta das cruzes e o seu orquiderio, os Postos Agrrios e os Parques Botnicos e foi nomeado como seu director o eng. Agrnomo rui manuel da silva vieira. nesta sesso, o Jardim Botnico foi definido como um estabelecimento de natureza essencialmente cientfica e cultural e de muito interesse econmico e turstico.

Figura 1. edifcio Principal da Quinta do Bom sucesso

A criao do Jardim Botnico da madeira foi a concretizao de uma aspirao antiga que remontava ao sculo Xviii, dado que a ilha reunia condies de clima propcias para cultivar um grande nmero de espcies vegetais, desde as caractersticas das regies tropicais como as das regies frias. os registos histricos, referem que parece ter sido Joo Francisco de oliveira o primeiro a estudar com maior cuidado a criao de um estabelecimento desta natureza, tendo enviado ao dr. domingos vandelli, director do real Jardim Botnico (Lisboa), em maio de 1798 um relatrio intitulado Apontamentos para se estabelecer na Ilha da Madeira hum viveiro de plantas e huma Inspeco sobre 12 13

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a Agricultura da mesma Ilha. na sequncia do trabalho de Joo Francisco de oliveira, em 1799 criouse um viveiro de plantas na freguesia do monte, o qual, segundo os autores do elucidrio madeirense, foi extinto em 1828 pelo governo de d. miguel. no sculo XiX, alguns botnicos e naturalistas defenderam a criao do jardim, nomeadamente o naturalista J. r. theodor vogel, em maio de 1841, referiu as potencialidades da madeira como ideal para a instalao de um Jardim Botnico; o grande botnico austraco Frederico Welwitsch, em novembro de 1852, refora entusiasticamente a criao de um jardim de aclimatao na madeira dadas as peculiares condies climatricas da ilha; o naturalista baro de castello de Paiva, em Julho de 1855 num relatrio entregue ao ministro Fontes Pereira de mello, menciona a importncia de se criar na ilha um horto de naturalizao de plantas exticas. no sculo XX, muitos cientistas e tcnicos ligados botnica defenderam a organizao de um Jardim Botnico na madeira e foi manifestado o interesse em apoiar a concretizao da criao desse espao por pessoas como os Professores rui telles Palhinha, Antnio sousa da cmara, J. vieira natividade e Amrico Pires de Lima, o Padre Alphonse Luisier, o dr. carlos romariz e o eng. Agrnomo A. r. Pinto da silva. em 1946, por sugesto do naturalista e Professor Antnio sousa da cmara, elaborou-se um memorial relativo criao do Jardim Botnico justificando a sua criao, entre outras, pelas seguintes razes: Portugal, tendo vrios Jardins Botnicos, no dispe de um que esteja altura do seu Imprio. Todos so muito pequenos, pobres, sem possibilidades de expanso, condenados a uma vida precria. Entretanto, Portugal, pela expanso que tem no Mundo, no pode prescindir dessa magnfica ferramenta de educao popular, de aperfeioamento de cientistas e, sobretudo, de valorizao dos territrios do ultramar. Portugal imperial, sem um grande Jardim Botnico de projeco metropolitana e colonial, expresso vazia de sentido, tal a importncia formidvel que o Jardim tem no estudo e resoluo dos grandes problemas de culturas coloniais. Todos os grandes povos civilizadores se tm interessado de forma deliberada pelos seus Jardins Botnicos Parece-me que a zona ideal para o estabelecimento de um Jardim desta ordem a Ilha da Madeira Diria mesmo que tem condies nicas poderia ocupar um lugar de vanguarda ente todos os grandes jardins do Mundo. entre 1946 e 1959, foram elaborados vrios documentos que reforavam a necessidade de criar um Jardim Botnico na madeira. estes documentos, assim como uma das concluses da i conferncia da Liga para a Proteco da natureza, realizada no Funchal em 1950, que referia: que seja instalado na ilha da Madeira, com a maior urgncia, um Jardim Botnico, funcionando este no s como mostrurio das extraordinrias possibilidades locais para a cultura das mais variadas plantas, mas tambm como centro de estudos botnicos, agronmicos e florestais, tendo em vista a maior valorizao econmica do Arquiplago., constituram as bases de justificao para a criao do Jardim Botnico da madeira (JBm). A concretizao da criao do JBm teve lugar com a aquisio, pela Junta geral do distrito Autnomo do Funchal, da Quinta do Bom sucesso (Quinta da Paz ou Quinta reid) em 1952, por dois mil contos. A Quinta foi adquirida, por escritura datada de 18 de setembro de 1952, a manuel gomes da silva situando-se entre a Levada do Bom sucesso e o caminho do meio e das voltas e entre os 200 e 350 metros de altitude, tendo na altura uma rea de pouco mais de 10 hectares, com uma casa de residncia que havia sido da famlia reid, antes de 1936. A Quinta foi adquirida com o intuito de ser utilizada pelos servios da estao Agrria e com o objectivo de ali ser instalado a sede do Jardim

Botnico. Posteriormente, entre dezembro de 1952 e Junho de 1953, foram adquiridos outros terrenos anexos, pela Junta geral do distrito Autnomo do Funchal e incorporados ao parque botnico.

Figura 2. Quinta do Bom sucesso, aquando da sua aquisio

desde a sua criao at 1973, o JBm foi parte integrante da estao Agrria com o seu suporte administrativo. em dezembro de 1973, foi aprovado um regulamento do Jardim Botnico, numa reunio da Junta geral do distrito Autnomo do Funchal, em que lhe foi concedido a categoria de direco de servios independente mas com a obrigao de exercer a sua actividade em estreita colaborao com a Estao agrria sempre que, no desempenho das suas funes, tenham de ser considerados aspectos relacionados com a agricultura distrital. A alterao de funcionamento do Jardim Botnico ocorreu em 1979, com a publicao do decreto regulamentar regional n. 8, a 29 de maio, que estabeleceu a orgnica da secretaria regional de Agricultura e Pescas (srAP), uma vez que passou a ser um departamento da direco de servios Agrcolas da mesma secretaria. em 1984, com aprovao da alterao orgnica da srAP, pelo decreto regulamentar regional n. 7/84/m, de 19 de Abril, o JBm sucedeu a diviso da direco dos servios Agrcolas, da direco regional da Agricultura, mantendo as competncias que presidiram aprovao do seu regulamento em 1973, tendo em conta os relatrios do eng. Agrnomo A. r. Pinto da silva, da estao Agrnoma nacional e do dr. Pierre dansereau, da universidade de montreal (canad). de entre as competncias ento definidas, destacam-se: introduo e aclimatao de plantas teis, especialmente novas cultivares; seleco, multiplicao e distribuio das espcies vegetais, variedades ou cultivares de interesse cientfico, ornamental ou econmico; Permuta com outros Jardins e institutos Botnicos, de sementes, plntulas e propgulos de espcies naturalizadas, cultivadas ou indgenas da regio e, ainda, de material herborizado; investigao cientfica, principalmente nos domnios da Botnica e, sempre que possvel, em colaborao com institutos e outros Jardins portugueses e estrangeiros; educar popular e turismo. divulgao. 15

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com a regulamentao da orgnica daquela secretaria regional, efectuada atravs do decreto regulamentar regional n. 1/93/m, de 7 de Janeiro, criada a direco regional de Florestas. com aprovao da orgnica desta direco regional, pelo decreto regulamentar regional n. 7/93/m, de 27 de maro, o Jardim Botnico integra como diviso a direco de servios de Florestao e recursos naturais, qual competia promover e desenvolver a investigao cientfica nos domnios da Botnica, em colaborao com entidades, nacionais e internacionais, que desenvolvam atribuies semelhantes. com a publicao do decreto regulamentar regional n. 11/2002/m, de 24 de Julho, a direco regional de Florestas compreende entre os seus rgos e servios o Jardim Botnico, enquanto direco de servios, situao que se mantm at presente data, com atribuies nos domnios da investigao, conservao dos recursos genticos vegetais e de apoio criao e gesto de espaos verdes. A partir da integrao na direco regional de Florestas, em 1993 a posio do Jardim Botnico foi consolidada tanto a nvel nacional como internacional dado que, das vrias competncias e responsabilidades, a investigao cientfica e a conservao da diversidade gentica de plantas indgenas e endmicas passaram a ser essenciais. As suas instalaes foram enriquecidas com a montagem de um laboratrio em 1999 que, posteriormente, foi sendo apetrechado e melhorado. Foi criado tambm, em 1994, o Banco de sementes do Jardim Botnico da madeira direccionado para coleces de plantas indgenas da madeira (madeira, desertas, selvagens, Porto santo), com prioridade para os endemismos e para as plantas raras e ameaadas de extino na natureza. o Laboratrio de investigao em Biodiversidade e conservao macaronsica, instalado no edifcio Principal, est equipado para desenvolver estudos de biologia molecular e, tambm, desenvolve estudos de propagao in vitro de plantas endmicas da madeira, com prioridade para espcies raras e ameaadas de extino.

o Banco de sementes transitou para novas instalaes a norte do edifcio Principal, em 2006. o melhoramento e enriquecimento das suas instalaes fortaleceram o desenvolvimento da investigao com vista ao conhecimento e conservao da vegetao e flora naturais do arquiplago da madeira.

Figura 4. Banco de sementes do JBm

no edifcio Principal, alm do laboratrio, existem gabinetes tcnicos, o museu de Histria natural e o Herbrio. o museu de Histria natural encontra-se instalado em 3 salas do rs-do-cho do edifcio e foi inaugurado a 9 de outubro de 1984. este museu rene o esplio do antigo seminrio diocesano do Funchal, o qual foi entregue guarda do Jardim Botnico em 1982.

Figura 3. Laboratrio de investigao em Biodiversidade e conservao macaronsica Figura 5. museu de Histria natural

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o Herbrio do Jardim Botnico da madeira foi iniciado em 1957, antes da criao oficial do JBm, pelo eng. rui vieira, eng. malato-Beliz e sr. rui santos. neste herbrio est incorporado o Herbrio Histrico do seminrio do Funchal, o qual foi entregue guarda e cuidado tcnico do Jardim Botnico, continuando propriedade do seminrio diocesano, atravs de um acordo celebrado a 3 de Janeiro de 1979 entre o Bispo da diocese, d. Francisco santana e a secretaria regional de Agricultura.

Figura 7. rea das cicadales

Figura 6.Herbrio do JBm

A rea ajardinada tambm tem vindo a sofrer alteraes e, em 1997 foi ampliada com a rea correspondente cota dos 200 metros de altitude, deixada disponvel aps a concluso da cota 200 (passagem da via rpida em tnel). A rea foi enriquecida com a introduo de diversas espcies de grande valor botnico, cientfico e paisagstico em que se destacam palmeiras e plantas similares, cicadales, ncleos de espcies da flora indgena e endmica da ilha da madeira, Porto santo, ilhas desertas e ilhas selvagens. criou-se um anfiteatro nesta rea, com finalidades pedaggicas, melhorando as instalaes para a realizao de actividades no mbito da divulgao e educao ambiental, sendo estas actividades um dos objectivos do JBm desde a sua criao. Ainda durante esta ampliao, construiu-se um novo miradouro com vista para as novas zonas e para a parte norte do Jardim, introduziram-se espcies adequadas topiria - arte de moldar as plantas - criando uma rea dedicada a esta arte e fez-se tambm a integrao do Jardim dos Loiros no Jardim Botnico.Figura 8. Anfiteatro para a realizao de actividades ludico-pedaggicas

o Jardim dos Loiros abriu oficialmente ao pblico em outubro de 1988. A concesso de construo e explorao deste Jardim foi adjudicada, pelo conselho de governo atravs da resoluo 1607/87, de 21 de dezembro, a uma empresa sueca. desde Julho de 1991, passou para a responsabilidade do governo regional e, em 1994 construdo e inaugurado o Avirio Livre.

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1.2 Uma institUio ao servio da Conservao, da edUCao ambiental e do Uso PbliCo o Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira uma direco de servios da direco regional de Florestas que tem por misso promover o conhecimento e a investigao das espcies vegetais do arquiplago da Madeira, sua biodiversidade, monitorizao, conservao e sustentabilidade e assegurar a manuteno de espaos verdes sob a sua jurisdio. das suas competncias, destacam-se as seguintes: desenvolver a investigao cientfica nas reas da sistemtica e da ecologia da flora e vegetao e nas reas da conservao dos recursos genticos vegetais do arquiplago da madeira; elaborar estudos moleculares com vista caracterizao e conhecimento da variabilidade gentica da flora madeirense; Fomentar intercmbios de conhecimentos e experincias com outros jardins botnicos e outras instituies afins, assim como permutar material herborizado; implementar a conservao dos recursos genticos vegetais atravs de tcnicas de propagao in vitro e convencionais; Promover a propagao de espcies autctones raras e ameaadas de extino, disponibilizando-as para reintrodues na natureza; orientar e participar na criao e manuteno de jardins e parques pblicos; Proceder introduo e aclimatao de plantas com interesse cientfico, econmico ou ornamental, promover a seleco, multiplicao e distribuio. A existncia deste espao pblico justifica uma tripla inteno: conservao, educao Ambiental e uso Pblico. est localizado numa zona estratgica do Anfiteatro do Funchal, na margem esquerda da ribeira de Joo gomes, aproximadamente a 3 quilmetros do centro da cidade, entre os 150 e os 300 metros de altitude. tem uma rea ajardinada de, aproximadamente 5 hectares e uma coleco de mais de 2500 plantas provenientes de diferentes regies do mundo, as quais esto organizadas de acordo com a sua famlia, distribuio geogrfica e utilidade. Ao percorrer o Jardim, o visitante poder observar vrias coleces de plantas, nomeadamente as indgenas da madeira, as suculentas, o arboreto, as agro-industriais, as aromticas e medicinais, os jardins coreografados, a topiria, as palmeiras, as cicadales e as cultivadas em estufa. Alm destas coleces de plantas, tambm podemos observar a coleco de aves exticas, com cerca de 500 exemplares de 60 espcies, a qual constitui o Louro Parque que est integrado no Jardim Botnico desde 1997. A coleco de plantas indgenas da madeira pode ser observada em duas reas distintas do Jardim, uma relativamente prxima do edifcio Principal e outra, de maior dimenso, na zona inferior junto ao anfiteatro sendo que, nesta ltima rea as plantas esto organizadas de acordo com o tipo de vegetao, ou seja, vegetao do Litoral, Laurissilvas, vegetao de Altitude, vegetao do Porto santo, desertas e selvagens. As plantas suculentas encontram-se distribudas por trs patamares a sul do edifcio Principal. Aqui, podemos observar vrias espcies das famlias aizoceas, portulacceas, asclepiadceas e asterceas suculentas, as coleces das cactceas, das euforbiceas suculentas arborescentes, das liliceas do gnero Aloe e das crassulceas representada por diversas espcies. na zona norte do Jardim, encontramos a coleco de rvores de grande porte constituda por espcies indgenas da madeira e por espcies exticas que, apesar de serem originrias de zonas do globo ecologicamente opostas, vivem em harmonia neste espao. nos jardins coreografados localizados na zona central da Quinta, as plantas encontramse dispostas formando diversos desenhos geomtricos com cores contrastantes. na rea das plantas agro-industriais existem as principais plantas utilizadas na agricultura madeirense, assim como noutras regies, como so exemplos as alcachofras, os espargos e a mandioca. Ainda nesta rea, podem ser observadas as rvores de fruto, sobretudo as tropicais e subtropicais cultivadas na madeira. na coleco 21

Figura 9. Jardim dos Loiros o JBm propriedade do governo regional da madeira, um jardim pblico que mantm, entre outras, coleces vivas de plantas com o objectivo de serem estudadas, para a sua conservao e educao ambiental e , tambm, um espao de lazer e atraco turstica, tornando-o um centro de cincia e cultura. em setembro de 2009, passou a lhe ser atribudo o nome do engenheiro rui manuel da silva vieira, pelo conselho de governo atravs da resoluo n. 1081/2009. esta atribuio vem na sequncia da sua morte ocorrida em Agosto de 2009, e no facto de ter sido considerado que se deve ao Engenheiro Rui Manuel da Silva Vieira, nas suas funes pblicas de ento, a organizao e estruturao do que hoje o Jardim Botnico da Madeira, uma das imagens de Qualidade da Regio Autnoma, muito procurado e visitado, quer pelos c residentes, quer pelos que nos visitam. 20

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das plantas aromticas e medicinais encontramos algumas das principais espcies da etnobotnica madeirense, como hortels, rosmaninho, alfazema, losna, arruda, alecrins, entre outras. A rea da topiria uma das mais recentes, encontrando-se as plantas moldadas em diversas formas geomtricas. na zona das cicadales - plantas que fazem lembrar as palmeiras - existem diversas espcies e as mais cultivadas para fins ornamentais so as cicas. As palmeiras so plantas nativas sobretudo de regies quentes tropicais e subtropicais e, no Jardim encontramos cerca de 40 espcies de palmeiras cultivadas num total de 180 exemplares. Para alm das coleces de plantas vivas, o Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira mantm coleces conservadas em herbrio e no banco de sementes. o Herbrio foi iniciado em 1957, ainda antes da criao do Jardim Botnico, com cerca de 642 plantas vasculares de diversos locais do arquiplago da madeira e selvagens. inclui o herbrio do seminrio do Funchal e foi enriquecido ao longo dos 50 anos de existncia do Jardim com novas colheitas e coleces cedidas por vrios botnicos apresentando, hoje, mais de 24000 exemplares de plantas. os exemplares so na sua maioria da madeira, Porto santo, desertas, selvagens e, tambm de outros arquiplagos macaronsicos. este herbrio considerado o maior e mais importante da regio Autnoma da madeira e, no seu esplio encontramos includas coleces de plantas cultivadas e medicinais. Atravs da informao contida no herbrio, o Jardim Botnico presta um servio pblico que dificilmente ser prestado por outra instituio regional, isto porque com essa informao possvel seleccionar reas com importncia para a conservao, estudar as alteraes climticas, realizar estudos moleculares, elaborar mapas de distribuio de espcies. o intercmbio de conhecimento com especialistas de cada grupo de plantas de modo a confirmar a identificao dos exemplares existentes no herbrio e a actualizao taxonmica importante para a valorizao do Patrimnio existente. Presentemente, est a ser desenvolvido um projecto com financiamento europeu que visa incrementar a qualidade das infra-estruturas do herbrio e ir permitir melhorar a preparao do material colhido para ser includo nas coleces do herbrio e as condies gerais de armazenamento dessas mesmas coleces. o Banco de sementes, criado em 1994, contm sementes armazenadas da maioria das espcies indgenas da madeira (madeira, Porto santo, desertas e selvagens), com prioridade para os endemismos e para as plantas raras e ameaadas de extino na natureza. o esforo em criar boas condies de armazenamento, utilizando tcnicas internacionalmente reconhecidas no Banco de sementes revela a importncia que a instituio tem dado na preservao da diversidade gentica vegetal dos endemismos madeirenses. com base nos conhecimentos adquiridos ao longo de vrios anos, elaborado um plano anual de colheita de sementes com o objectivo de assegurar e aumentar o nmero de txones indgenas e endmicos armazenados. realizam-se vrias sadas de campo para recolha de sementes, incluindo estadias no arquiplago das selvagens e nas ilhas desertas. Presentemente, existem sementes de 230 txones indgenas e, desde a sua fundao foram efectuadas 2300 entradas no Banco de sementes. desde sempre o JBm tem estado direccionado para a investigao no mbito da Botnica e interessado na conservao da diversidade biolgica, assim como tem dado importncia rea da sensibilizao e difuso da utilidade e riqueza das plantas. Ao longo dos anos, tem sido reconhecido como instituio ao servio da conservao. os seus contributos, a nvel da investigao cientfica, passam pelo conhecimento e informao sobre a origem, evoluo e importncia cientfica da flora madeirense, pela conservao dos recursos genticos vegetais naturais, pela inventariao e monitorizao das espcies vegetais indgenas da madeira, principalmente as mais ameaadas de 22

extino, pela herborizao de exemplares que passam a integrar a coleco do herbrio do museu de Histria natural, pela propagao e cultivo de espcies da flora madeirense principalmente dos endemismos raros e ameaados de extino e reintroduo de alguns exemplares na natureza, pelo reforo de populaes na natureza de espcies com reduzido efectivo populacional e pela colaborao com universidades e instituies afins, nacionais e estrangeiras, em programas de investigao relativamente Flora da madeira. tm sido realizados estudos de sistemtica de brifitos e de plantas vasculares, de biologia reprodutiva, de biologia molecular e de ecologia da vegetao. os diferentes estudos e actividades desenvolvidos tm contribudo para a disponibilizao do conhecimento cientfico, comunidade, atravs da publicao de artigos cientficos, contabilizando-se nos ltimos dez anos cerca de cinquenta artigos j publicados. nestes trabalhos cientficos, muitas tm sido as espcies alvo de estudo, podendo mesmo dizer-se que ultrapassa as cinquenta e cinco espcies. dos diferentes estudos, destacam-se as aces de conservao do Jasminum azoricum, do Teucrium abutiloides, do Sorbus maderensis; a propagao de txones indgenas ameaados de extino, atravs de tcnicas in vitro, como o Polystichum drepanum, o Pittosporum coriaceum e o Taxus baccata; a reintroduo das espcies Andryala crithmifolia e Polystichum drepanum na natureza e o reforo da populao de Dracaena draco na escarpa da ribeira Brava; a manuteno de coleces vivas no Jardim Botnico de Andryala crithmifolia, Polystichum drepanum, Cheirolophus massonianus, Aichryson dumosum, Jasminum azoricum e Geranium maderense; os estudos de biologia reprodutiva das orqudeas indgenas do arquiplago da madeira; estudos de variabilidade morfolgica dos gneros Echium, Euphorbia e Fissidens; estudo morfomtrico das populaes de Marcetella maderensis; inventariao das populaes, ameaas e estatuto de conservao de espcies inseridas nos anexos da directiva Habitats, das quais se destacam as espcies Marcetella maderensis, Teucrium abutiloides, Monizia edulis, Hymenophyllum maderense, Polystichum drepanum, Asplenium trichomanes subsp. maderense, Ceterach lolegnamense, Arachniodes webbiana. o desenvolvimento de aces de manuteno de coleces fora do seu habitat natural, quer atravs do banco de sementes, quer produzindo plantas atravs de tcnicas in vitro, quer criando coleces vivas no prprio Jardim Botnico, tem sido um dos contributos fundamentais da instituio na conservao da flora madeirense. dando cumprimento a uma das suas competncias, a de fomentar intercmbios de conhecimentos e experincias com outros jardins botnicos e outras instituies afins, o JBm tem desenvolvido projectos de investigao ao longo dos anos com diversas instituies, referindo-se como exemplos o museu, Laboratrio e Jardim Botnico de Lisboa; a universidade de Leiden Holanda; o departamento de Biotecnologia vegetal da Faculdade de cincias de Lisboa; o departamento de Qumica orgnica da Faculdade de cincias de cadiz; o departamento de Biologia e geologia da universidade da madeira; o Jardim Botnico de orotava; o departamento de criptogamia do museu nacional de Histria natural de Paris. Presentemente, decorre um projecto co-financiado pela unio europeia que permite a troca de conhecimentos tcnicos com o Jardin canrio viera Y clavijo canrias e o Jardim Botnico do Faial Aores. A colaborao entre vrias instituies afins permite ao Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira melhorar o seu desempenho como centro de conservao, atravs da partilha de conhecimentos e experincia, assim como na uniformizao de estratgias. o JBm est associado a outros Jardins Botnicos atravs da AimJB (Associao ibero-macaronsica de Jardins Botnicos), que uma Associao que tem por objectivo a colaborao entre os seus 23

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membros, promovendo e coordenando projectos comuns de actuao e impulsionando o intercmbio de conhecimentos, experincias, documentao e material vegetal. A instituio tem vindo a participar em reunies da Associao, atravs da apresentao de trabalhos cientficos. dado que o JBm est ligado rede mundial de Jardins Botnicos pelo vnculo da AimJB, as suas aces de conservao esto inseridas numa estratgia global de conservao. o Index Seminum, que elaborado anualmente no Jardim Botnico, com disponibilizao de 100 txones para cedncia a instituies que o solicitem, divulgado atravs da AimJB. no mbito da educao e sensibilizao, o Jardim Botnico um local excepcional para a realizao de diversas actividades pedaggicas e culturais, como teatro, pintura, dana e concertos. um local mpar, onde se promove a formao especializada, a divulgao da Botnica e da conservao de espcies vegetais. Ao longo da sua existncia, esta instituio tem sido visitada por diversas escolas e associaes culturais da regio, bem como por escolas nacionais e estrangeiras quando de visita regio. Apesar da educao e sensibilizao estar presente desde a sua criao, a partir de 1996 houve um crescimento significativo da aco pedaggica e formativa na instituio, tanto no apoio aos formandos e formadores, como na melhoria da apresentao e disponibilidade da informao aos visitantes. tm sido desenvolvidas vrias actividades com o intuito de desenvolver nos jovens e menos jovens, com distintos conhecimentos e interesses, uma conscincia ecolgica e o interesse pelo conhecimento e conservao da Flora e vegetao da madeira, proporcionando o aumento do seu conhecimento cientfico. diversas so as actividades educativas realizadas, nomeadamente: visitas guiadas, exposies temticas, aces de sensibilizao nas escolas, produo de material didctico e informativo e cedncia de plantas para enriquecer os jardins das escolas da regio ou para a criao de jardins de plantas indgenas ou jardins de plantas medicinais e aromticas. A divulgao do conhecimento cientfico adquirido nesta instituio tem sido feita atravs de publicaes em revistas cientficas, em revistas de divulgao, em posters nos encontros cientficos e em livros e atravs de comunicaes orais em congressos e simpsios cientficos. o uso Pblico do Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira outra vertente desta instituio. A disponibilidade da informao sobre a Flora e vegetao da madeira neste espao contribui para a sensibilizao da comunidade que o visita, de modo a torn-la participativa num processo de conservao desse Patrimnio. Alm disso, o Jardim um local nico para desfrutar do nosso Patrimnio natural de um modo acessvel, dado que muitas espcies da Flora madeirense encontramse muito dispersas e inacessveis na natureza. este local, visitado e apreciado por mais de 300000 visitantes ao ano, enriquecido tambm com plantas oriundas de outras regies, conferindo-lhe uma beleza singular. A riqueza florstica existente no Jardim pode ser visitada gratuitamente nos dias 21 de maro dia mundial da Floresta, 30 de Abril Aniversrio do JBm, 18 de maio dia mundial dos museus, 1 de Julho dia da regio e 27 de setembro dia mundial do turismo. A actuao do JBm, como instituio ao servio da conservao, da educao Ambiental e do uso Pblico, ir continuar a desenvolver estudos de sistemtica e de conservao da flora da macaronsia; a enriquecer as coleces de plantas vivas e a arte de jardinagem; a sensibilizar a populao para o conhecimento e conservao das plantas endmicas e indgenas; a dinamizar actividades cientficas e scio-culturais. A instituio ir continuar a prestar o servio Pblico que tem desenvolvido, sempre com o intuito de melhorar os contributos que tem proporcionado a toda a sociedade. Algumas das actividades a desenvolver ser o continuar de um trabalho que se iniciou h 24

muitos anos e que se perpetua no tempo. no entanto, sero sempre delineadas novas actividades de modo a se concretizar os objectivos a que a instituio se prope atingir, sempre numa perspectiva de conservar um Patrimnio nico e de informar e sensibilizar toda a sociedade. refernCias bibliogrfiCas [1] Annimo, 1960. A criao do Jardim Botnico da madeira. Junta geral do distrito Autnomo do Funchal: 1 8. Funchal. [2] Fernandes, F., 2003. Jardim Botnico da madeira espao de estudo e conservao da flora e vegetao. in: 50 anos a servir a floresta. secretaria regional do Ambiente e recursos naturais. direco regional de Florestas. Funchal. [3] Fontinha, s. s., 2003. Jardim Botnico da madeira: relembrar o Passado e abordar o Presente, numa perspectiva de Futuro. in 50 anos a servir a floresta. secretaria regional do Ambiente e recursos naturais. direco regional de Florestas. Funchal. [4] gonalves, A. B. & nunes, r. s., 1992. riqueza Florestal. Jardim Botnico, museu de Histria natural e Louro - Parque. Adenda ilhas de Zarco da edio de 1990. pp 55-61. [5] Pereira, e. c. n., 1967. ilhas de Zarco. volume i. cmara municipal do Funchal. pp 319-321. [6] Quintal, r. e groz, m. P., 2001. Parques e Jardins do Funchal. cmara municipal do Funchal. [7] silva, Pe. A. & menezes c. A., 1984. elucidrio madeirense. Fax-smile da edio de 1946. volume i, iii. secretaria regional de turismo e cultura. direco regional dos Assuntos sociais. Funchal.

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captuLo 2 a inVestiGao e conserVao da diVersidade VeGetaL no jardim Botnico da madeira enG. rui VieiraJos Augusto carvalho1, Francisco Fernandes2 & carlos Lobo3 Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira 1 [email protected] 2 [email protected] 3 [email protected]

1. introduo o arquiplago da madeira, quer pela sua elevada riqueza em patrimnio biolgico vegetal, quer pela diversidade de ecossistemas existentes, constitui uma rea com um elevado interesse cientfico. na sequncia das opes polticas ambientais do governo regional da madeira, no sentido de valorizar e conservar os recursos naturais do arquiplago, o Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira tem como uma das suas principais funes desenvolver projectos de investigao cientfica que permitam o conhecimento das espcies da flora indgena e endmica do arquiplago da madeira, com vista sua conservao e utilizao sustentvel. nesse sentido, o Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira rene um conjunto de equipamentos, infraestruturas e de tcnicos especializados cuja investigao cientfica incide sobre a taxonomia, sistemtica, biologia reprodutiva e ecologia de espcies vasculares e avasculares. os conhecimentos produzidos na investigao cientfica so usados no planeamento de aces de conservao in situ a conservao ex situ. idealmente a conservao de recursos vegetais naturais dever ser baseada na conservao dos ecossistemas naturais (conservao in situ). A conservao in situ permite no s a preservao das espcies e habitats, mas tambm todas as relaes biticas e abiticas inerentes ao ecossistema. neste tipo de estratgia, a preservao e/ou recuperao de espcies e habitats requer os contributos de vrias disciplinas cientficas, nomeadamente ecologia, gentica, biologia reprodutiva e taxonomia, bem como a recolha de dados bibliogrficos e de campo referentes s especificidades ecolgicas das espcies e dos habitats, a determinao dos seus factores de risco e estatuto de conservao, com vista a elaborao de planos de recuperao especficos. no entanto, a presso negativa exercida pela actividade humana sobre esses ecossistemas resulta frequentemente na sua alterao, por vezes de forma profunda, e com riscos acrescidos de extino de determinadas espcies vegetais na natureza. nesse sentido, os trabalhos de conservao in situ so complementados com aces de conservao ex situ. na conservao ex situ, uma das suas principais limitaes a possibilidade da diversidade gentica a conservar no representar o taxone em questo bem como no estar sujeito s foras evolutivas existentes na natureza. Apesar disso, a conservao ex situ uma das ferramentas mais importantes para levar a cabo programas de conservao da diversidade vegetal. neste tipo de conservao, para alm das coleces de plantas vivas dos jardins botnicos, so criados bancos de

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sementes, bancos de plen e criopreservado material produzido in vitro. estas medidas permitem no s a preservao da diversidade vegetal, mas tambm a criao de uma fonte de material gentico para outras aplicaes tcnico-cientficas e educao ambiental.

1.1. ProjeCtos 1.1.1 Life 99 nat/ p/006431 recorrendo ao programa LiFe-natureza, componente do instrumento financeiro europeu LiFe, orientado para o apoio ao desenvolvimento de projectos de conservao da natureza, o Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira obteve recursos financeiros para levar a cabo a conservao de oito espcies consideradas ameaadas de extino na natureza e a recuperao de habitats naturais. este projecto resultou da necessidade em obter conhecimentos mais aprofundados sobre a distribuio, ecologia, biologia reprodutiva e diversidade gentica das espcies mais ameaadas de extino, sem os quais no seria possvel elaborar estratgias de conservao e implementar as respectivas aces de uma forma integrada. Assim, foram seleccionadas as espcies: Aichryson dumosum (Lowe) Praegr., Andryala crithmifolia Ait., Chamaemeles coriacea Lindl., Cheirolophus massonianus (Lowe) A. Hans. et sund., Convolvulus massonii dietr., Geranium maderense P. F. Yeo, Jasminum azoricum L. e Pittosporum coriaceum dryand. os habitats que foram alvo de recuperao esto localizados no Pico Branco em Porto santo. A avaliao dos factores de ameaa, inventariao exaustiva das populaes e cartografia digital da distribuio geogrfica das espcies contriburam com informao fundamental para a avaliao e actualizao do estatuto de conservao das espcies em estudo e redefinio/definio de estratgias de conservao. esta informao foi conjugada com a realizao de estudos de carcter mais tcnicocientfico, os quais envolveram a biologia reprodutiva, a variabilidade gentica, a ecologia, a taxonomia, a propagao vegetativa e seminal, a fisiologia da germinao, a conservao de sementes em banco de germoplasma, o reforo de populaes e a reintroduo de espcies. As oito espcies seleccionadas e estudadas representam uma diversidade de situaes de risco, e por tal, as metodologias de estudo e as estratgias de conservao adoptadas constituem estratgias Padro para outras espcies em situaes similares. uma outra componente fundamental deste projecto envolveu a recuperao de habitats com grande interesse para a conservao de algumas espcies alvo do referido projecto. A necessidade de conservar e recuperar o coberto vegetal e respectivas espcies naturais da ilha do Porto santo, levounos a seleccionar uma rea que se apresentasse como a Arca de no da flora e vegetao desta ilha. Assim sendo, foi escolhido o Pico Branco pelo seu interesse florstico com uma percentagem de txones endmicos da macaronsia (9%), da madeira (11%) e do Porto santo (3%). trata-se de um local onde se encontra um reduto de flora indgena melhor conservada daquela ilha, refugiados nas escarpas pouco acessveis ou inacessveis.

1.1.2 Basemac, interreG iiiB aores-madeira-canrias o Banco de sementes da macaronsia (BAsemAc) foi uma iniciativa orientada para a conservao e uso sustentado dos recursos vegetais naturais dos arquiplagos da macaronsia atravs da conservao de sementes a curto, mdio e longo prazo. este projecto desenvolveu-se segundo as orientaes propostas pela estratgia global para a conservao vegetal (egcv) (Haia, 19 de Abril de 2002), tendo como objectivo principal a 8 alnea da egcv, que estipula que pelo menos 60% das espcies vegetais mundiais ameaadas de extino sejam conservadas em coleces ex situ e que destas, seja dada prioridade s espcies sob ameaa crtica, das quais a conservao de 90% dever ser garantida at 2010. o BAsemAc permitiu a criao de uma rede de Bancos de sementes no espao geogrfico da macaronsia. neste mbito o Banco de sementes do Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira foi ampliado e melhorado com os recursos tcnicos e humanos necessrios conservao de sementes a curto, mdio e longo prazo. Por outro lado, este projecto consolidou as cooperaes tcnicas e cientficas com outros jardins botnicos da macaronsia, nomeadamente na criao e aperfeioamento de procedimentos experimentais. no Banco de sementes do Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira so desenvolvidas as aces de limpeza, desidratao e pesagem, testes de viabilidade, bem como a posterior conservao das sementes em duas coleces, a coleco activa e a coleco de base. no processo de armazenamento das sementes a curto prazo, que constitui a coleco activa, estas so armazenadas em cmaras a uma temperatura de 15c e humidade atmosfrica de 15%. na coleco de base, as sementes so previamente desidratadas com slica gel e seladas em tubos de vidro contedo slica gel e posteriormente armazenadas em cmaras frigorficas que mantm as sementes a uma temperatura constante de 10c. 1.1.3 BiomaBanc, interreG iiiB aores-madeira-canrias A rede de Bancos da Biodiversidade da Flora macaronsica (BiomABAnc) constitui uma estratgia de conservao de recursos fitogenticos dos arquiplagos da macaronsia, nomeadamente os txones endmicos, ameaados, emblemticos e com interesse evolutivo. o BiomABAnc foi um projecto integrado no Programa de iniciativa comunitria interreg iiiB Aores-madeira-canrias 2000 2006 que permitiu delinear e aplicar medidas efectivas de conservao, mediante o uso de metodologias cientficas multidisciplinares e complementares. este projecto foi criado com base nos objectivos da estratgia global para a conservao de espcies vegetais, ou seja, o conhecimento e estudo da diversidade vegetal e a sua conservao, a utilizao sustentada, a promoo, a educao e divulgao do conhecimento da diversidade vegetal, a criao e intensificao dos recursos humanos e tecnolgicos para a conservao vegetal. neste projecto, foi constituda uma base para a preservao dos recursos genticos vegetais face s mltiplas ameaas que se centram no territrio que possui a maior diversidade biolgica da unio europeia, ou seja na macaronsia. Foi criado um sistema de indicadores para avaliar, permanentemente, o estado da diversidade biolgica e a sua eroso, desenvolvendo bancos de dados de biodiversidade que serviro como instrumento bsico de apoio poltica de planificao territorial. A criao de uma base de dados de acesso pblico ir colocar disposio de outras instituies e organismos de investigao, informao valiosa para a tomada de decises na gesto do meio natural, bem como o uso sustentado da diversidade vegetal. 29

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A informao interdisciplinar gerada pelo BiomABAnc ir fomentar, juntamente com o BAsemAc (Banco de sementes da macaronsia), uma actuao coordenada que permitir a criao de estratgias de conservao e recuperao da diversidade vegetal eficazes e adequadas a curto, mdio e longo prazo.

1.1.4 BiocLimac, pct mac Biotecnologia e conservao face s Alteraes climticas BiocLimAc um projecto no mbito do Programa de cooperao transnacional mAc 2007-2013. o Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira uma das instituies participantes juntamente com os congneres, Jardim Botnico canrio viera y clavijo de canrias e o Jardim Botnico do Faial dos Aores. este projecto incide sobre o estudo e conservao a longo prazo da diversidade vegetal, representando uma estratgia inovadora e integrada, para a conservao dos recursos naturais da Flora da macaronsia. neste contexto o projecto tem como objectivos: estudar o comportamento germinativo das sementes de um grupo de espcies da macaronesia, simulando cenrios climticos, para compreender e prever o efeito destas alteraes na distribuio e sobrevivncia destas espcies; desenhar uma estratgia de amostragem e de colheita de sementes baseada em modelos ecogeogrficos e anlise da diversidade gentica para optimizar a relao esforo de colheita / representatividade da diversidade conservada nos bancos de sementes; enriquecer com novas amostras os herbrios, bancos de sementes e bancos de Adn das instituies participantes; restruturar infraestruturas para albergar as coleces de herbrio; sensibilizar a sociedade e divulgar a importncia da conservao da biodiversidade e as consequncias do aquecimento global.

considerando a singularidade da flora da madeira, em parte uma relquia do tercirio e por outro lado com elevado ndice de espcies endmicas, foi criado em 1994 o Banco de sementes do Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira (BsJBm). esta coleco teve como objectivo a preservao de plantas indgenas da madeira, com prioridade para a diversidade vegetal endmica do arquiplago e a de ocorrncia rara ou ameaada de extino na natureza. em 2002, com o financiamento obtido a partir do projecto BAsemAc, foram melhoradas as instalaes do BsJBm, equipando-o com os meios necessrios criao e manuteno de um banco de sementes capaz de conservar sementes viveis durante longos perodos de tempo. Presentemente o BsJBm conserva sementes de todas as espcies endmicas dos arquiplagos da madeira e selvagens, bem como de vrias espcies indgenas. As sementes encontram-se guardadas em duas coleces; a coleco activa e a de base. na coleco de base, as sementes so preservadas a longo prazo. no so para cedncia e permitem dispor, a mdio e longo prazo, de material gentico para investigao e para eventual recuperao de espcies no seu habitat natural. na coleco activa, as sementes so conservadas a curto e mdio prazo, sendo destinadas realizao de trabalhos de investigao e para cedncias a jardins botnicos e a outras instituies cientficas. no mbito da cedncia de sementes, o BsJBm participa num programa de cedncia e intercmbio de sementes com outras instituies a nvel mundial. Atravs deste programa, criada anualmente uma lista de sementes denominada Index seminum, a partir da qual as outras instituies podero solicitar as sementes seleccionadas. As sementes cedidas neste mbito tm como objectivo a investigao cientfica e a educao ambiental. desde 2001 e at ao momento, o BsJBm j efectuou trocas de sementes de vrias espcies com cerca de 200 instituies cientficas de cerca de 60 pases.

1.2 ColeCes CientfiCas 1.1.5 Banco de sementes A conservao em bancos de sementes um mtodo fcil e seguro de conservar recursos genticos vegetais ex situ. recorrendo a tcnicas e procedimentos internacionalmente reconhecidos, as sementes so conservadas em condies controladas de humidade e temperatura, o que possibilita a manuteno da sua viabilidade por um longo perodo de tempo. este tipo de conservao, comparativamente com outros mtodos de conservao ex situ, oferece vrias vantagens e faz com que os bancos de sementes sejam um dos mtodos de conservao ex situ mais utilizados. dessas vantagens, destacam-se: A sua aplicao a uma ampla gama de espcies vegetais de uma forma fcil e universal; o armazenamento, num espao reduzido, de grandes quantidades de variabilidade gentica, a curto, mdio e longo prazo; A disponibilidade, para uso imediato, de material gentico proveniente de diversos locais; o processo de recolha de material na natureza no apresentar qualquer prejuzo para a sobrevivncia das populaes naturais. 30

1.1.6 HerBrio Pensa-se que o primeiro herbrio foi criado em 1530 por Luca ghini, um professor de Botnica na universidade de Bolonha. este investigador apercebeu-se de que secar plantas ao mesmo tempo que as mantinha prensadas permitia a preservao das suas caractersticas botnicas durante longos perodos de tempo. estas plantas seriam depois cuidadosamente montadas sobre cartolina e reunidas em coleces onde ficaria depositada variada informao botnica sobre os diferentes tipos de plantas. esta informao podia numa fase posterior servir de referncia para determinadas concluses e publicaes cientficas, com a vantagem de que as amostras podiam ser facilmente transportadas para outros locais. A estas coleces ghini denominou de hortus siccus. Presentemente, as coleces de herbrio esto principalmente restritas a instituies cientficas, tais como universidades, jardins botnicos e museus de histria natural. estas coleces renem amostras de espcies vegetais colhidas durante longos perodos de tempo, e incluem exemplares que servem de referncia para a descrio de espcies novas, exemplares de espcies que servem de referncia a material vegetal utilizado em determinados estudos e experincias cientficas e exemplares de espcies caractersticas de determinadas regies. os exemplares de herbrio so tambm acompanhados de variada informao relacionada com a nomenclatura, classificao, sistemtica, distribuio geogrfica e ainda ecologia da espcie. nesse sentido, os herbrios actuam como uma base de dados de diversidade vegetal das regies onde existem. esta informao reveste-se de elevada importncia para a realizao de projectos de 31

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investigao cientfica nas mais variadas reas da investigao cientfica e conservao, sendo tambm uma importante ferramenta no apoio tomada de decises relacionadas com a gesto e ordenamento do territrio. o Herbrio do Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira (mAdJ) foi iniciado em 1957 pelo eng. rui vieira, eng. malato-Beliz e sr. rui santos, antes da criao oficial do Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira a 30 de Abril de 1960. Presentemente, o Herbrio do Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira integra a coleco mAds (Herbrio Histrico do seminrio do Funchal), propriedade da diocese do Funchal e que se encontra guarda do Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira desde 1982. Ao longo dos anos, a coleco mAdJ tem vindo a ser enriquecida de uma forma bastante significativa, quer pelo acrscimo de novas colheitas levadas a cabo pelos tcnicos da instituio, quer pela adio de coleces particulares, cedidas por vrios botnicos e naturalistas nacionais e estrangeiros. Presentemente, o Herbrio do Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira rene cerca de 24.200 exemplares de plantas vasculares, avasculares e lquenes, na maioria de espcies existentes na madeira, Porto santo, desertas, selvagens e noutros arquiplagos macaronsicos. neste Herbrio encontram-se tambm depositados alguns exemplares tipo e isotipo, exemplares a partir dos quais determinadas espcies foram descritas, bem como exemplares que constituem a referncia de material vegetal de espcies utilizadas em experincias e estudos cientficos. o Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira, como instituio virada para a investigao cientfica presta apoio investigao de outras instituies cientficas. nesse sentido e tendo em conta o carcter dinmico das coleces de herbrio, os exemplares para alm de passveis de emprstimo a instituies cientficas, podem tambm ser estudados por investigadores nas instalaes do Herbrio do Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira. esta estrutura tem nas suas instalaes todo o equipamento de microscopia ptica necessrio ao desenvolvimento de trabalhos na rea da taxonomia e sistemtica segundo uma abordagem clssica. Ainda no campo da microscopia ptica, o Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira possui um microscpio de fluorescncia e um sistema digital de captura de imagem, cuja utilizao tem sido indispensvel na execuo de trabalhos no mbito de caracterizao dos sistemas reprodutores e de estudos de sistemtca. A sistemtica estuda a forma como as espcies e as vrias associaes que elas formam a nveis superiores, ex. gnero, famlia, ordem, etc., se relacionam entre si e evolutivamente. A sistemtica inclui uma outra rea de estudo, a taxonomia, que se dedica descrio e identificao das espcies. grande parte dos estudos de sistemtica e taxonomia tm sido realizados a partir de tcnicas clssicas. na taxonomia, estas tcnicas incluem anlises morfolgicas e biomtricas das espcies, no sentido de detectar os caracteres distintivos das espcies e a existncia e extenso da plasticidade fenotpica, ou seja, variaes da morfologia das plantas resultante de adaptaes a diferentes condies ecolgicas. com base nestes dados so depois criados modelos explicativos das relaes evolutivas das espcies. A partir dos resultados destes estudos, e por forma a clarificar problemas de taxonomia ou da sistemtica difceis de ultrapassar recorrendo s tcnicas clssicas, utilizam-se tcnicas mais modernas e recentes, envolvendo Biologia molecular, que permitem confrontar os resultados da anlise morfolgica com a variabilidade gentica e compreender as adaptaes das espcies e/ou as suas populaes aos diferentes habitats onde ocorrem. 32

A investigao em sistemtica e evoluo no Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira incide sobre grupos especficos de plantas macaronsicas/madeirenses. os grupos seleccionados so escolhidos com base na sua importncia cientfica e ecolgica na Flora macaronsica, bem como na existncia de problemas taxonmicos. destaca-se os estudos realizados com as espcies do gnero Isoplexis e Digitalis nas plantas vasculares e os gneros Porella e Fissidens nas plantas avasculares.

1.1.7 Banco de adn no Adn encontra-se toda a informao que determina as caractersticas especficas dos seres vivos, sendo tambm atravs dessa molcula que feita a transmisso hereditria dessas caractersticas. com estas descobertas e o posterior desenvolvimento de tecnologia e de tcnicas que permitem conhecer a informao existente no genoma, foi colocada disposio de investigadores uma fonte de informao essencial para aprofundar os seus temas de investigao, bem como abordar determinadas questes at ento inacessveis. Assim, so cada vez mais os cientistas que recorrem ao Adn para resolver problemas nas mais variadas reas, das quais aqui se destacam a taxonomia, sistemtica, evoluo e conservao. este Banco foi criado em 2006 no mbito do projecto BiomABAnc, projecto financiado pelo programa de iniciativa comunitria interreg iiiB madeira-Aores-canrias, tendo como base as recomendaes da conveno da diversidade Biolgica no sentido de uma utilizao sustentada, racional e legal dos recursos genticos naturais de cada regio. nesta estrutura do Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira so mantidas amostras do Adn de espcies da flora vascular e avascular da madeira. o Adn das espcies armazenado a -80c, sendo tambm reunida em base de dados toda a informao relevante sobre o local de colheita do material vegetal, a ecologia da espcie e ainda o mtodo utilizado para a extraco do Adn. em articulao com o Herbrio do Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira, so armazenados no herbrio material vegetal de espcies de onde foi extrado o Adn armazenado no Banco de Adn.

1.1.8 pLantas ViVas os jardins botnicos existem desde o sc. Xvi. muitos destes jardins pioneiros cultivavam plantas medicinais e aromticas para estudo. com os descobrimentos e a descoberta de novas terras, recursos vegetais e culturas a eles associados, os jardins botnicos passaram a manter coleces de plantas exticas, tornando-se centros de introduo, aclimatao, exposio e distribuio de plantas exticas. mais recentemente estas instituies tm responsabilidade directa na preservao de espcies indgenas e endmicas, mantendo nos seus jardins coleco de plantas vivas. estas coleces constituem importantes bancos de germoplasma e representam uma medida importante para a conservao ex situ dos recursos fitogenticos de uma determinada regio, sendo dada especial importncia s espcies raras, s ameaadas ou as com interesse especial de conservao. Adicionalmente, e tendo em conta o elevado valor dos jardins botnicos como agente de educao ambiental, estas coleces visam tambm dar a conhecer a flora populao e sensibiliz-la para a sua conservao. nesse sentido, o Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira possui vrios espaos reservados s plantas de espcies indgenas e endmicas do arquiplago da madeira. esta coleco rene mais de uma centena de 33

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espcies, algumas das quais raras e ainda outras ameaadas de extino. destas ltimas, destacase Andryala crithmifolia, Jasminum azoricum, Pittosporum coriaceum, Cheirolophus massonianus e Aichryson dumosum. relativamente a esta ltima espcie, foi recriado no Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira o seu habitat natural, constitudo por pedras de rocha basltica porosa e incluindo vrias espcies suas companheiras, para albergar uma duplicao da populao natural. estas plantas existentes no Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira, para alm de servirem de reserva de material biolgico para futuras reintrodues ou reforos de populaes na natureza, as quais so apenas feitas mediante uma criteriosa seleco de locais e aps um estudo adequado da ecologia da espcie e dos locais, servem tambm para recolha de sementes, as quais so includas no BsJBm, sendo o material vegetal tambm utilizado para fins de investigao.

particular da flora das ilhas macaronsicas. destaca-se os estudos da diversidade gentica da espcie vascular Aichryson dumosum e da sistemtica do gnero de brifitos Fissidens.

1.3 laboratrios 1.3.1 sistemtica moLecuLar A maior parte do trabalho de taxonomia e da sistemtica de brifitos tem como base a anlise e comparao de caractersticas morfolgicas. contudo, a morfologia das espcies vegetais fortemente influenciada pelo meio ambiente, e por tanto passvel de apresentar variaes em funo de diferentes condies ecolgicas. este facto torna por vezes difcil a interpretao e identificao da biodiversidade, com consequente introduo de erros nos modelos que estabelecem as relaes evolutivas entre espcies. no entanto, se tivermos em conta que as caractersticas morfolgicas apresentadas pelas plantas resultam da expresso de informao existente num cdigo gentico, o qual caracterstico e especfico para cada espcie, compreensvel que o estudo da informao existente nesse cdigo permite ultrapassar os condicionalismos impostos pelo meio ambiente sobre a morfologia. este tipo de abordagem permite confrontar a informao das caractersticas morfolgicas com a existente no genoma, sendo o resultado a coerncia ou a incoerncia dos dados. Assim, a anlise gentica no pressupe substituir os estudos morfolgicos, mas utilizada numa lgica de complementaridade, de forma a melhor compreender a diversidade de espcies e as suas variaes e adaptaes. em 1999, no mbito do projecto conservao de espcies vegetais prioritrias e raras do Arquiplago da madeira obtido atravs do programa Life 99 nat/P/006431 da unio europeia, onde foram desenvolvidos estudos da variabilidade gentica de algumas espcies raras e ameaadas da madeira, foi instalado no Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira um laboratrio de sistemtica molecular. Posteriormente, e atravs da participao do Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira em projectos financiados pelo programa interreg iiiB Aores-madeira-canrias - Projectos BAsemAc e BiomABAnc, este laboratrio tem vindo a ser completado e melhor equipado. os trabalhos de investigao desenvolvidos no laboratrio de sistemtica molecular tm permitido o estudo da diversidade gentica de espcies ameaadas dos Arquiplagos da madeira e selvagens, cujos resultados tm tido repercusses importantes no desenvolvimento de estratgias de conservao e de gesto dos recursos vegetais naturais do Arquiplago da madeira. Para alm disso, tm tambm sido desenvolvidos estudos que permitem a compreenso das relaes evolutivas entre espcies, abrindo novas perspectivas no estudo e compreenso da evoluo da flora em ilhas, em 34

1.3.2 cuLtura in Vitro o Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira possui nas suas instalaes um laboratrio de cultura in vitro equipado com os meios tcnicos e tecnolgicos imprescindveis realizao deste tipo de trabalhos. nesta instituio a cultura in vitro uma importante ferramenta no desenvolvimento de projectos conservao de recursos vegetais naturais. tem sido utilizada na propagao de plantas, principalmente para ultrapassar problemas na reproduo de algumas espcies vegetais endmicas e indgenas do arquiplago da madeira. As plantas produzidas nestes trabalhos so posteriormente introduzidas na natureza, sendo os locais seleccionados de acordo com indicaes especficas produzidas por estudos cientficos. dos trabalhos desenvolvidos no laboratrio de cultura in vitro, destaca-se a cultura de embries zigticos de Pittosporum coriaceum e de Taxus baccata, cultura de esporos de Polystichum drepanum e de espcies de orqudeas indgenas e endmicas da madeira, atravs de semente. no mbito do projecto conservao de espcies vegetais prioritrias e raras do Arquiplago da madeira, foi possvel construir nas instalaes do Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira uma estufa cujas caractersticas tcnicas, nomeadamente bancada aquecida, temperatura e humidade atmosfrica controladas e rega automatizada, tm permitido desenvolver trabalhos de propagao vegetativa, sementeira e de aclimatao de plantas obtidas atravs da cultura in vitro.

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2. casos de estudo 2.1 sistemtica e ecoLoGia 2.1.1 os massarocos no arquipLaGo da madeira introdUo os massarocos so espcies arbustivas do gnero Echium, e constituem um dos casos de excepcional diversificao de espcies em ilhas ocenicas, ocorrendo distribudas num grande nmero de habitats nas ilhas da macaronsia. ocorrem na maioria das ilhas dos arquiplagos da madeira, canrias e cabo verde, desde o nvel do mar at altitudes de cerca de 2300 m. Foram classificadas vinte e oito espcies [1], das quais vinte e sete so endmicas desta regio, e destas, trs so endmicas do arquiplago da madeira. As espcies presentes em ilhas ocenicas apresentam muitas vezes caractersticas que as demarcam dos seus congneres continentais. entre estas caractersticas temos o carcter arbustivo tpico de muitas espcies de plantas presentes em ilhas como as ilhas Havai e ilhas Juan Fernandz [2]. este estado tem sido referido nos ltimos anos e por variados autores como tendo evoludo a partir de um estado herbceo presente nas espcies ancestrais que colonizaram as ilhas macaronsicas [3, 4]. os massarocos constituem um bom exemplo das presses evolutivas que as ilhas exercem sobre as plantas e seres vivos em geral, moldando-os de tal forma que acabam por apresentar uma grande diversidade de formas e comportamentos reprodutivos muito diferentes das plantas que lhes deram origem. no caso dos massarocos, estes so maioritariamente perenes e arbustivos ao invs das espcies afins que ocorrem na flora circum-mediterrnica e oeste-asitica, as quais so herbceas e anuais [3]. Uma nova esPCie no sCUlo XXi! os massarocos encontram-se referenciados para a ilha da madeira desde o sculo XiX. A primeira referncia bibliogrfica de espcies arbustivas de massaroco na ilha da madeira data de 1782 quando Lineu f. [5] descreveu a primeira espcie de massaroco endmica da ilha da madeira, Echium candicans (Figura 1). esta espcie possui grande beleza ornamental pelo que ter sido levada pelos emigrantes madeirenses para a califrnia, onde fugida cultura, apresenta-se hoje em dia como uma espcie de grande cariz invasor dos ecossistemas naturais. uma espcie de grande altitude (800-1500 m) e que apenas ocorre na ilha da madeira. Posteriormente, mas ainda no sculo 19, e no ano de 1810, foi descrita uma segunda espcie de massaroco endmico das ilhas da madeira, E. nervosum (Figura 2) [5]. esta espcie apenas ocorre nas zonas de menor altitude desde o nvel do mar at cerca de 300 m de altitude e em todas as ilhas do arquiplago da madeira. Apenas durante o ano de 2010, passados 200 anos, est prestes a ser reconhecida pela cincia uma terceira espcie de massaroco endmica do arquiplago da madeira [6], e exclusiva da ilha do Porto santo. o reconhecimento desta espcie resultou de um trabalho iniciado em 2000 e desenvolvido pelo Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira. A existncia de novas espcies para a ilha do Porto santo no nos surpreende pois as caractersticas geolgicas, morfolgicas e climticas peculiares da ilha de Porto santo em relao s restantes ilha do arquiplago, e o seu mais ou menos isolamento geogrfico, 36

fizeram-nos considerar ao longo dos anos a possibilidade de serem encontradas e reconhecidas novas espcies de plantas. A espcie porto-santense ser designada de Echium portosanctensis (Figura 3), e encontra-se restrita a apenas alguns picos da ilha do Porto santo, nomeadamente o Pico Branco e o Pico da gandaia.

Figura 1. Echium candicans.

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Figura 2. Echium nervsoum.

Figura 4. mapa de distribuio de Echium portosanctensis. Echium nervosum Echium portosanctensis

Figura 3. Echium portosanctensis

massaroCos na ilHa do Porto santo A existncia de massarocos da espcie Echium nervosum na ilha do Porto santo foi em 1914 referida pela primeira vez pelo botnico madeirense carlos Azevedo menezes [7] para o stio do Zimbralinho (Figura 4). Por outro lado, a referncia ocorrncia da espcie madeirense de grande altitude, Echium candicans na ilha do Porto santo foi efectuada pela primeira vez pelo padre costa em 1946 [8] e mencionada por outros investigadores [1, 9].

A primeira referncia existncia de uma espcie distinta na ilha do Porto santo foi efectuada pelo engenheiro Florestal Andrada em 1974 [10]. em 1977, o engenheiro rui vieira (pers. com.) aps colher um exemplar na ilha do Porto santo que no se enquadrava em nenhuma espcie descrita reiterava as dvidas j levantadas pelo eng. Andrada. o inventrio florstico dos picos da ilha do Porto santo desenvolvido por investigadores do Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira [11], tambm confirmou a existncia de uma espcie de massaroco afim espcie Echium nervosum. somente com a concluso dos estudos iniciados em 2009, os investigadores do Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira concluram pela apresentao da nova espcie ao mundo cientfico [6]. Assim, o gnero Echium passar dentro em breve a estar representado na madeira pelas espcies arbustivas E. candicans na ilha da madeira, E. nervosum nas ilhas da madeira, desertas e Porto santo, e E. portosanctensis na ilha do Porto santo. A forma das inflorescncias das espcies de Echium arbustivos deu o nome comum a estas espcies, as quais apresentam uma inflorescncia cilndrica com flores azuis ou cor-de-rosa. Por outro lado, o gnero Echium ainda est representado nas ilhas da madeira por uma espcie herbcea, Echium plantagineum, que possui uma distribuio mediterrnica e macaronsica, ocorrendo em todas as ilhas da madeira. 39

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2.1.2 o Gnero musscHia no arquipLaGo da madeira introdUo o gnero Musschia constitudo por espcies robustas, perenes e formando rosetas basais com um caule lenhoso, as folhas so bisseradas e a inflorescncia muito ramificada. [1]. um gnero endmico do arquiplago da madeira pertencente famlia das campanulceas, as quais so caracterizadas pelas suas flores em forma de campnula [1]. As primeiras referncias Musschia, mas como Campanula, remontam ao sculo 18, entre os anos de 1777 e 1830, e so presumivelmente baseadas em sementes levadas da madeira para o continente europeu por Francis masson, mas possivelmente tambm por outros autores [referido por 2]. inclusivamente, Aiton, em 1789, referiu o cultivo de Campanula aurea L. f. (Musschia aurea) em Kew gardens (Londres) [referido por 2]. no entanto, foi apenas em 1782 que Lineu f. efectuou a publicao com a descrio da espcie Campanula aurea L.f. [3], a qual viria a ser denominada de Musschia aurea por dumortier em 1822 [4]. uma espcie tpica das zonas costeiras da ilha da madeira e ilhas desertas, ocorrendo desde cerca do nvel do mar at cerca de 300 metros de altitude. em 1856, quase trs quartos de sculo aps a descrio da primeira espcie de Musschia, o reverendo ingls thomas Lowe, autor da importante obra de sobre a flora da madeira publicada em 1868: A manual Flora of madeira and the adjacent islands of Porto santo and the desertas [5], descreveu uma segunda espcie, Musschia wollastonii Lowe [6]. uma espcie restrita apenas ilha da madeira, estando limitada a altitudes acima dos 800 metros, fazendo parte do ecossistema Laurissilva [7]. Foi necessria a passagem de mais de um sculo para que uma terceira espcie deste gnero fosse descrita. exemplares da nova espcie foram descobertos pela primeira vez por isamberto silva [8] no Porto das moas, deserta grande, tendo sido identificada como M. wollastonii. no entanto, estudos taxonmicos e observaes conduzidas in loco, durante os anos de 2000 e 2001, por investigadores do Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira, Jos A. carvalho e tnia Pontes, concluram que se tratava de uma espcie completamente diferente de M. wollastonii da ilha da madeira, da qual mais se aproximava em termos morfolgicos. dois exemplares de material vegetal foram colhidos e depositados no herbrio do Jardim Botnico da madeira eng. rui vieira mAdJ. A espcie veio a ser descrita em 2007 como Musschia isambertoi m. seq., r. Jardim, m. silva & L. carvalho [2]. esta espcie apresenta diferenas significativas das restantes espcies no que respeita ao tipo de crescimento, habitat, ecologia, inflorescncia e flor (Figuras 1-3).

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Figura 2. Musschia aurea. A. Planta; B. inflorescncia; c. Flor.

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Figura 1. Musschia isambertoi. A. Planta em roseta basal sem frutificao; B. inflorescncia compacta com trs ramos que se prolongam para fora do cone invertido central; c. Flor; d. Praia adjacente zona de ocorrncia da populao de M. isambertoi.

Figura 3. Musschia wollastonii. Flor

CaraCterizaoeColgiCa As trs espcies de Musschia apresentam uma diferenciao morfolgica que indica a adaptao de cada uma das espcies a um tipo caracterstico de habitat. A Musschia wollastonii, sendo caracterstica da Laurissilva, apresenta folhas largas e membranosas, as quais permitem a captao do mximo de luminosidade possvel num ambiente em que a luminosidade existente muito reduzida. esta espcie caracterstica de zonas de canpia aberta ou em stios afectados por deslizamentos de terras, essencialmente em solos ricos mas bem drenados, em encostas quase verticais, em zonas sombrias e hmidas, sob condies de nevoeiro persistente, essencialmente junto a quedas de gua [7].

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Por outro lado, a espcie Musschia aurea, vulgarmente denominada de mchia-dourada, est bem adaptada a condies secas ou sub-hmidas, s temperaturas tpicas das zonas de baixa altitude e a um substrato constitudo por piroclastos e cinzas vulcnicas consolidadas [9]. As suas folhas bastante mais reduzidos no seu tamanho que as da espcie anterior e bastante mais coriceas denotam a sua perfeita adaptao a condies de grande seca e a boas condies de luminosidade. ocorre nas fendas de rochas, quer em encostas viradas directamente para o mar quer em encostas viradas para o interior. A Musschia isambertoi, estando claramente mais proximamente relacionada morfologicamente com a Musschia wollastonii, apresenta folhas que em tamanho e forma muito se assemelham s da espcie tpica da Laurissilva. no entanto, esta nova espcie, pelas suas folhas mais suculentas e coriceas que as da M. wollastonii, apresenta-se bem adaptada s condies de grande stress hdrico tpicas do habitat em que ocorre. Por outro lado, a sua inflorescncia sendo bastante reduzida em tamanho quando comparada com a da M. wollastonii, minimiza o dispndio de energia necessrio ao processo de reproduo face ao elevado stress hdrico existente e aos solos mais pobres em que ocorre. uma espcie tpica da base de encostas em que o processo de eroso bastante acentuado, sobre depsitos com elevada capacidade de drenagem junto s praias, na deserta grande. A rea onde ocorre caracterizada por uma exposio a ventos fortes de nordeste com uma grande carga de gua marinha. distribUio e Habitat A nica localidade em que encontramos a espcie M. isambertoi localiza-se entre os 10 e os 50 metros de altitude, em encostas rochosas com depsito de material resultante de quebradas, na baa do Porto das mas, na encosta leste da deserta grande. esta espcie tambm foi registada por isamberto silva (pers. com.) em 1992 acima do stio dos vermelhos a uma altitude de 350m, numa encosta basltica da deserta grande. no entanto, passados alguns anos, isamberto silva (pers. com.) refere o desaparecimento do indivduo isolado que tinha observado. A localizao desta espcie em localidades distintas sugere uma distribuio muito mais alargada no passado. contudo, a introduo de gado e coelhos logo aps a colonizao humana do arquiplago da madeira, ter conduzido a uma reduo acentuada do nmero de indivduos e populaes desta espcie, em que restariam apenas indivduos isolados em locais inacessveis aos mamferos introduzidos. A espcie M. isambertoi ocorre em reas de depsito de detritos resultantes de quebradas, apresentando uma profundidade de solo adequada ao crescimento da prpria planta, e apresentando uma ecologia muito mais semelhante da M. wollastonii, embora as condies climticas se aproximem muito mais das de M. aurea. Por outro lado, a espcie M. aurea uma planta casmoftica, ou seja cujo crescimento ocorre em pequenas fissuras rochosas [2]. A espcie M. isambertoi apresenta um tipo de crescimento (habito) muito semelhante ao de M. wollastonii. Apesar das trs espcies apresentarem diferenas morfolgicas acentuadas entre si, as espcies de M. wollastonii e M. isambertoi aparentam possuir maiores afinidades morfolgicas e ecolgicas entre si do que com a espcie M. aurea. A presena nas ilhas desertas de espcies de rvores tpicas da floresta Laurissilva [8] sugere que no passado existiram condies climticas muito mais adequadas ocorrncia de outras espcies tpicas da Laurissilva, nomeadamente e possivelmente de um ancestral comum M. wollastonii e M. 44

isambertoi. A modificao das condies climticas que ocorreram nas ltimas dezenas de milhares de anos [10-12] e o isolamento geogrfico relativo das ilhas desertas em relao ilha da madeira ter possibilitado uma evoluo divergente das populaes da ilha da madeira e das populaes das ilhas desertas, resultando na formao de duas espcies distintas, uma mais adaptada a condies de maior secura e outra adaptada a condies de grande humidade. no entanto, apenas atravs da utilizao de tcnicas moleculares utilizando o dnA e a posterior anlise filogentica (anlise das relaes de parentesco) poderemos conhecer com maior certeza a histria evolutiva destas espcies to peculiares do arquiplago da madeira. Polinizao A observao de grande nmero de indivduos da lagartixa endmica, Lacerta dugesiimauli mertens, durante os trabalhos de campo efectuados por Jos A. carvalho & tnia Pontes em 2000 e 2001, e confirmados em trabalhos mais recentes [2], indiciam o seu grande papel na polinizao das flores de Musschia isambertoi. estas observaes sobre a M. isambertoi esto de acordo com diversos autores que se referem ao importante papel das lagartixas na polinizao de flores [13, 14] ou na disperso de sementes de M. aurea. estatUto de Conservao A espcie M. isambertoi extremamente rara, sendo conhecida apenas numa nica localidade na ilha da deserta grande. em 1992, referida pela primeira vez a existncia de 5 plantas no Porto das moas [8]. Passados nove anos, durante os estudos e observaes realizadas in loco por Jos A carvalho & tnia Pontes (pers. com.), foram contabilizados 30 indivduos adultos (Figura 1). estas observaes demonstram inequivocamente um aumento substancial do nmero de indivduos desde a primeira contabilizao efectuada em 1992 [8]. esta espcie encontra-se claramente inserida numa das categorias da unio internacional para a conservao da natureza [15] mais ameaadas de extino, ou seja uma espcie criticamente ameaada (cr) com base no reduzido tamanho das suas populaes, uma nica localidade e uma populao com um nmero de indivduos adultos inferior a 50. As perspectivas de sobrevivncia desta espcie so ainda incertas. se por um lado existiu um aumento do tamanho populacional com a reduo do nmero de cabras e a erradicao dos coelhos (isamberto silva, pers. com.), levando a um aumento da rea de ocupao potencial. Por outro lado, o recente aumento do nmero de cabras (isamberto silva, pers. com.) tem levado novamente reduo de muitas espcies endmicas. Adicionalmente, a existncia de uma nica populao eleva o risco de extino a curto prazo devido a acontecimentos imprevisveis, tais como deslizamento de terras ou derrocadas.

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refernCias bibliogrfiCas

2.1.3 Teucrium francoi m. seq., capeLo, j.c. costa & r. jardim: uma noVa espcie para a fLora da madeira. este artigo na quase totalidade baseado no artigo cientfico listado na bibliografia com a referncia [1]. Ao longo do texto foram introduzidos dados de outros documentos, os quais aparecem com uma referncia numrica para a respectiva correspondncia na bibliografia. o arquiplago da madeira, devido sua histria climtica, localizao geogrfica relativa aos restantes arquiplagos da macaronesia e ainda aos continentes Africano, europeu e Americano, bem como pela orografia particular das ilhas, rene um conjunto de condies ecolgicas particulares que determinaram a existncia de uma biodiversidade variada e com elevado grau de endemismo [2, 3]. A flora da madeira presentemente constituda por 1226 txones, dos quais 157 so endmicos [2]. A maior parte destas espcies vegetais ocorrem na ilha da madeira, onde uma orografia muito particular permite a existncia de habitats importantes, que possibilitam a manuteno de um elevado nmero de espcies, comunidades vegetais e mosaicos de vegetao, algumas nicas no mundo e de elevado interesse cientfico. um dos gneros com maior interesse cientfico na madeira o gnero Teucrium. este gnero pertence famlia Lamiaceae, que rene vrias espcies que tm como uma das principais caractersticas a produo de leos essenciais, sendo por tal frequentemente plantas aromticas e com larga utilizao na medicina tradicional e culinria. na flora da madeira, a famlia Lamiaceae a terceira famlia com maior nmero de txones endmicos, 11 dos quais so endemismos exclusivos da madeira e outros 4 comuns entre os arquiplagos da macaronsia [3]. A nvel mundial, o gnero Teucrium constitudo por aproximadamente 300 espcies, distribudas principalmente pela regio mediterrnica da europa, frica do norte e regies temperadas da sia [4]. o gnero encontra-se subdividido em vrias seces, que agrupam as vrias espcies tendo em conta semelhanas entre caracteres morfolgicos. uma destas seces Teucriopsis endmica dos arquiplagos da madeira e canrias e inclui a maior parte das espcies que ocorre nestes arquiplagos [1, 5]. na macaronsia, e considerando apenas os arquiplagos de canrias, madeira e Aores, o gnero Teucrium constitudo por 7 taxa, sendo 4 endmicos da madeira; trs espcies; Teucrium abutiloides LHr., Teucrium betonicum LHr., Teucrium francoi m. seq., capelo, J.c. costa & r. Jardim so exclusivas da ilha da madeira, e uma subespcie Teucrium heterophyllum LHr. subsp. heterophyllum comum ilha da madeira e s desertas [2, 5, 6, 7]. At ao incio de 2008, apesar do nmero de espcies deste gnero na madeira ser o mesmo que o actual, a espcie Teucrium francoi no era conhecida. As plantas presentemente identificadas como esta espcie eram determinadas como Teucrium scorodonia L., espcie cuja distribuio est limitada europa e frica do norte e onde esto descritas vrias subespcies [1]. contudo, e apesar de Teucrium scorodonia ser considerada para a flora da madeira h vrios anos, num trabalho recente sobre a flora da madeira foi referido pelos autores que as plantas determinadas como Teucrium scorodonia no correspondiam facilmente a alguma das vrias subespcies conhecidas para esta espcie, fazendo assim uma aluso, embora indirecta, s importantes diferenas morfolgicas das plantas encontradas na madeira [1, 8]. 47

[1] turland, n.J. Musschia. in: Press, J.r. and short, m. Flora of madeira. 1994. Hmso. London. [2] sequeira, m. m., r. Jardim, m. silva & L. carvalho. 2007. Musschia isambertoi m. seq., r.Jardim, m. silva, L. carvalho (campanulaceae), a new species from the madeira Archipelago (Portugal). Anales del Jardn Botnico de Madrid, 64 (2): 135-146. [3] Linnaeus f., c. 1782. supplementum Plantarum systematis vegetabilium editionis decimae tertiae, generum Plantarum editiones sextae, et specierum Plantarum editionis secundae. editum a carolo a Linn. Brunsvigae. [4] dumortier, B.c. 1823. commentationes botanicae. observations botaniques, ddies la socit dHorticulture de tournay par B.c. dumortier. tournay : imprimerie ch. casterman. [5] Lowe, r. t. 1868. A manual Flora of madeira and the adjac