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A Trajetória de um Conceito: Patrimônio, entre a Memória e a História Lucia Silva –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Artigos de Demanda Contínua Mosaico – Revista Multidisciplinar de Humanidades, Vassouras, v. 1, n. 1, p. 36-42, jan./jun., 2010 36 Trajetória de um Conceito: Patrimônio, entre a Memória e a História Lucia Silva 1 1 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, [email protected] Resumo: O texto percorre os vários significados do conceito patrimônio, da concepção não moderna à construção e escolha de uma definição pelo Estado contemporâneo. Palavras-Chave: Patrimônio. História. Estado. The trajectory of a concept: Heritage, between memory and history Abstract: The article shows the various meanings of the term heritage, of the not modern conception to the construction and choice of a definition by the contemporary State. Keywords: Heritag. History. State. A categoria patrimônio é um potente instrumento analítico para entender a vida social e cultural no mundo atual, quando utilizamos o conceito patrimônio cultural é a dimensão cultural do patrimônio que estamos querendo discutir; ao mesmo tempo em que, e isto se percebe muito pouco, também estamos falando da dimensão patrimonial da cultura. Patrimônio enquanto categoria de pensamento, tal como apontou Gonçalves (2003), é polissêmica, envolve vários sentidos e assume no mundo moderno três dimensões, pois é categoria jurídica, política pública e instrumento de comunicação social. Patrimônio é um bem que porta Valor. Utiliza-se patrimônio em sua concepção moderna, esquecendo-se que enquanto categoria ele deve ser pensado historicamente, pois seu sentido variou no tempo e no espaço. Segundo Reginaldo Gonçalves em “ressonâncias, materialidade e subjetividade”, patrimônio deve ser entendido como mediador entre mortos e vivos, deuses e homens, nacional e estrangeiro, podendo ser pensando como fato social total, tal como apontando por Mauss. Um parêntese, Gonçalves (2003) já havia utilizado o conceito de Mauss ao analisar a noção de patrimônio entre culturas não modernas. Neste texto mais antigo o autor ressalta a importância da categoria na vida social daquelas coletividades, na medida em que as características de um bem patrimonial estavam

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  • A Trajetria de um Conceito: Patrimnio, entre a Memria e a Histria Lucia Silva

    Artigos de Demanda Contnua

    Mosaico Revista Multidisciplinar de Humanidades, Vassouras, v. 1, n. 1, p. 36-42, jan./jun., 2010

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    Trajetria de um Conceito: Patrimnio, entre a Memria e a Histria

    Lucia Silva 1 1Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, [email protected]

    Resumo: O texto percorre os vrios significados do conceito patrimnio, da concepo no moderna construo e escolha de uma definio pelo Estado contemporneo.

    Palavras-Chave: Patrimnio. Histria. Estado.

    The trajectory of a concept: Heritage, between memory and history

    Abstract: The article shows the various meanings of the term heritage, of the not modern conception to the construction and choice of a definition by the contemporary State.

    Keywords: Heritag. History. State.

    A categoria patrimnio um potente instrumento analtico para entender a vida social e cultural no mundo atual, quando utilizamos o conceito patrimnio cultural a dimenso cultural do patrimnio que estamos querendo discutir; ao mesmo tempo em que, e isto se percebe muito pouco, tambm estamos falando da dimenso patrimonial da cultura. Patrimnio enquanto categoria de pensamento, tal como apontou Gonalves (2003), polissmica, envolve vrios sentidos e assume no mundo moderno trs dimenses, pois categoria jurdica, poltica pblica e instrumento de comunicao social. Patrimnio um bem que porta Valor. Utiliza-se patrimnio em sua concepo moderna, esquecendo-se que enquanto categoria ele deve ser pensado historicamente, pois seu sentido variou no tempo e no espao. Segundo Reginaldo Gonalves em ressonncias, materialidade e subjetividade, patrimnio deve ser entendido como mediador entre mortos e vivos, deuses e homens, nacional e estrangeiro, podendo ser pensando como fato social total, tal como apontando por Mauss. Um parntese, Gonalves (2003) j havia utilizado o conceito de Mauss ao analisar a noo de patrimnio entre culturas no modernas. Neste texto mais antigo o autor ressalta a importncia da categoria na vida social daquelas coletividades, na medida em que as caractersticas de um bem patrimonial estavam

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    intimamente ligadas ao seu possuidor e estas eram intransferveis. Um amuleto portava determinadas caractersticas mgicas que seu possuidor carregava, pois era a extenso das caractersticas de seu possuidor. Apesar de o patrimnio est ligado posse, no tinha o sentido de propriedade. Um exemplo do que est sendo descrito pode ser visto nas anlises sobre a Grcia arcaica quando se estuda a experincia do culto aos antepassados dentro dos genos. Outra caracterstica das culturas no modernas era que nem sempre a idia de patrimnio estava atrelado a idia de preservao, s vezes a reunio destes bens se dava para a destruio ou distribuio. O conceito moderno de patrimnio est ligado existncia do Estado Nacional, mas esta relao no aparente, principalmente porque o uso em uma variedade de discursos, tais como patrimnio econmico, financeiro, familiar, cultural, arquitetnico, ecolgico, etc; naturalizou-o. Hoje a noo de patrimnio se confunde com a de propriedade, principalmente com a herdada, reforando a conotao utilitarista. Gonalves (2005) ainda aponta entre muitas caractersticas algumas que so inerentes ao patrimnio enquanto conceito moderno. A primeira delas seria a ressonncia, isto porque no basta o Estado consagrar um bem como patrimnio, o bem precisa articular a precria e tnue ligao do presente com o passado. Digo precria porque essa ligao est sempre por um fio, prestes a virar outra coisa; porque da mesma forma que h inmeras motivaes no presente para se voltar ao passado, no h esse passado, ele uma construo/representao, mas tambm algo oculto, tal como apontado por Proust, incontrolvel que funciona nossa revelia, da a comunidade precisar respaldar o que foi consagrado pelo Estado. Outra caracterstica do patrimnio a sua materialidade, mesmo que seja intangvel ou imaterial. Para Gonalves o conceito articulado concepo antropolgica da cultura, valoriza as relaes sociais e simblicas e estas no limite podem ser pensadas a partir da oposio entre o material e o esprito, tal como faz Barkhtin (1993), tornando-o indistinto na categoria. A terceira caracterstica giraria em torno da construo das subjetividades. Patrimnio por estar ligado ao passado, como algo herdado ao mesmo tempo em que construdo/adquirido, tem inmeras possibilidades de correlaes, todas gerando e necessitando de autoconscincia. Essas caractersticas fazem do patrimnio uma categoria de pensamento, poderoso instrumento de anlise da sociedade atual. Agora vejamos como foi construdo historicamente o conceito moderno. Patrimnio tal como se concebe na atualidade emerge com estado moderno, mais especificamente, com diria Hobsbawm (1990), com estado-nao. Nasce como noo operatria principalmente porque essa nao necessitava ser imaginada (Anderson, 2005), pois o que definia uma nao no podia ser aplicada a nenhum pas no perodo em que estava sendo criada na Europa. Sem adentrar a esta discusso, o importante reter que patrimnio atrelado ao estado-nao se constituiria na retrica da perda no s no Brasil j no sculo no XX, mas na Europa no final do XVIII e XIX com os exemplos da Revoluo Francesa e Vandalismos na Inglaterra. Para entender esta dinmica necessrio, tal como fez Hobsbawm, grosso modo, articular a idia de estado como extenso dos grupos dominantes (nunca sem tenso) e nao como o coletivo se sobrepondo ao particular (interesse pblico contra os privilgios da aristocracia). Assim, estado-nao emerge como entidade poltica com unidade territorial cuja base o exerccio da cidadania, poltica por excelncia, e no como cultura. O exerccio deste

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    compromisso patrocinado pelo Estado garantiria a unidade do povo-cidado sob um territrio finito; mas se o espao era finito o tempo no, e o Estado deveria ter uma espessura histrica para garantir esse compromisso. Segundo Choay (2001), essa espessura histrica seria dada pelo efeito de nacionalizao dos bens tombados. A comisso dos monumentos histricos na Frana, por exemplo, tinha de manter uma determinada memria coletiva pela conservao de um valor, porque portava uma essncia histrica ou representava a arquitetura erudita ou arqueologia. Patrimnio, Estado e Valor passam a ser acionados para dar sentido prtica de colecionar, selecionar, dispor e valorar um bem. Ainda segundo Choay nesse processo se recupera o poder mgico do patrimnio, pois o artefato humano investido de sua funo memorial se apresenta como despolitizado/natural, smbolo de uma histria/memria que est em perigo e precisa ser preservado; na realidade institudo por um processo de aes em arenas polticas feitas por instituies que valoram um bem com base em saberes e na crena que a nao tem um passado. A comisso dos monumentos histricos tinha de manter uma memria coletiva pela conservao de um valor. Neste contexto, os antigos antiqurios e os gabinetes de curiosidade do lugar aos profissionais e as instituies que guardam a memria da nao. O patrimnio de ento era patrimnio nacional, o sentido universalista era acionado, tanto para compor o nacional quanto para minimizar as diferenas. No caso do Brasil, a estratgia foi a mesma, o problema era que no primeiro momento o que era de excepcional valor estava ligado cultura europia do colonizador, ainda assim tal como aponta Oliveira (2008), o patrimnio de pedra e cal principalmente ligado ao barroco foi um potente discurso que serviu de narrativa a nao. Segundo Gonalves (2002), patrimnio cultural no Brasil pode ser pensado entre outras coisas como formao discursiva produzida pelos intelectuais dos anos 20 e 80 como narrativas nacionais. Utilizando-se de conceitos como memria e identidade o objetivo era a de construir uma comunidade imaginada tal como definida por Anderson (2005). Um pequeno parntese. Esta tese defendida nos anos 90 na antropologia carrega todas as discusses daquele momento. O autor, naquele momento associava a noo de perda que o patrimnio carrega consigo com o conceito de alegoria, para dar conta da comunidade imaginada, ainda na forma de narrativa. Ao fazer isto confirmava as categorias cultura e tradio como conceitos socialmente/ historicamente construdos. Hoje seus textos, j pensando patrimnio como fato social total a partir da noo de Mauss incorporou outras problemticas como o da ressonncia, materialidade e subjetividade (2005). Comunidade imaginada materializaria o processo de objetivao cultural. Objetivao cultural seria ento o movimento que transformaria conceitos abstratos, fora do tempo e do espao em algo concreto e situado, em entidades como nao e cultura. A naturalizao destes conceitos, inclusive o de identidade, se daria em uma narrativa imaginativa acerca de uma determinada realidade. Ainda fazendo o percurso de Gonalves (2002), patrimnio constitudo narrativamente como alegoria, ou seja, constitudo para representar uma coisa cujo sentido era significar outra. A nao se constitua em um processo de perda. O patrimnio era como semiforo que materializava esta perda. A identidade nacional estava sendo construda

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    em meio ao processo de desaparecimento. A nao, vista como objetivada, autorizava o tratamento e a preservao do patrimnio. O patrimnio institudo era ao mesmo tempo produto e produo desta objetivao cultural. A nao enquanto entidade naturalizada, nica, servia de referncia aos repositrios de significados que seriam utilizados na constituio do patrimnio. Somente neste sentido pode ser pensada a proteo do patrimnio como proteo da nao. Fonseca (2005) analisa a institucionalizao do patrimnio no Brasil, neste processo o patrimnio formulado como documento identirio da nao, no s porque era testemunho inconteste de um passado em comum, mas principalmente como prova a ser protegida do desaparecimento, reforando a coeso nacional. Grosso modo, os modernistas buscavam, principalmente Rodrigo de Andrade, travar grandes batalhas pela causa de um tipo de patrimnio, porque sua narrativa se assentava em um passado, em uma histria e uma memria. Esse passado seletivo, pois o que esses saberes faz recortar um determinado passado. Le Goff (2005) aponta como caracterstica do historiador positivista do sculo XIX a produo de documento, pois os monumentos enquanto evocaes do passado seriam analisados a partir de uma crtica interna com o objetivo de confirmao da autenticidade e garantindo a circunstancialidade da atribuio. Saberes passam a fornecer memria coletiva instrumento de suporte com a atribuio de valor, produzido pelas instituies de memria. Patrimnio passava a ter a funo pedaggica de coeso, ainda que no representasse a todos. As instituies de memrias buscaram criar vnculos com passado e no ligar-se a eles, exatamente porque nestas instituies o processo de atribuio de valor sempre circunstancial. Instituio ligada ao poder e com poder de selecionar e decidir o que preservar, ela produz lugares de memria Nora (1993), e estes em ltima instncia, esto mais ligados a uma histria que a memria. No a uma histria qualquer, mas a deturpada e petrificada, aquela sem mudana que fixa uma memria, da efetivamente escapar da histria. Os objetos (virtuais ou no) so organizados e hierarquizados pelas instituies de memria em torno desta fuga da histria. O patrimnio, enquanto formao discursiva seria estratgico para o Estado, pois permitira a destruio do passado, mantendo apenas um passado. Patrimnio ento assume plenamente suas trs dimenses enquanto categoria jurdica, como poltica pblica e comunicao social. O conceito, quando articulado noo de civilizao, seria investido de aura mgica como cone de guardio da memria (principalmente a nacional), quando ligado a noo antropolgica de cultura se reveste de possibilidade de representao dos diferentes grupos sociais, ainda assim no se deve perder de vista que patrimnio um conjunto de objetos (materiais ou no) investidos de valores (frutos de processos conflituosos), estes produto de prticas especficas engendradas pelas instituies no interior dos Estados. Contendo vrias facetas, o patrimnio como monumento, isto , em sua capacidade evocativa do passado ou enquanto possibilidade de memria, tentativa de fruio sincrnica do que diacrnico, uma porta que nos possibilita imaginar, negociar sentidos e ir para diferentes mundos, tempos e espaos (Chagas, 2005). Mas patrimnio segundo Canclini (1998) expressa cumplicidade social. Sem adentrar nesta discusso, poltica por excelncia, sobre as correlaes de fora entre os diversos guardies da

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    memria que compe o Estado, podemos ter dois nveis apreenso do processo de valorao do patrimnio. A primeira aproximao, segundo Fonseca (2005), parte da idia de o patrimnio ser um signo com dimenso material e simblica, produto de atribuio de valor, na medida em que ele tem a capacidade de criar um sentimento de pertencimento e de representar consenso e minimizar a diversidade. No processo de valorao (patrimonializao) o bem passa a ter um duplo valor, o valor material que permite inseri-lo ao mercado, e o valor simblico, pois ele representativo de alguma coisa, marco identitrio que pode se remeter nao, comunidade, ou a um grupo. Segundo Argan (1995), referindo-se as obras de arte, a atuao do especialista gira em torno do reconhecimento dos sinais que provam a existncia de elementos que transcendem ao comum, identificando-os em sua singularidade ou em sua universalidade (a obra faz parte do universal da arte, mesmo que s descortine a frao sensvel dela) sendo possvel ento a fruio. Embora tendo um duplo valor, h uma distino entre esses valores e o que a torna nica se naturaliza na feio material. Normalmente o que se discute e cuida, virando inclusive objeto de poltica, o material. O argumento de Argan utilizado para mostrar como um bem designado de obra de arte pode ser traduzido para o intrincado processo de valorao do patrimnio. Um bem denominado de patrimnio quando h consenso de um valor atribudo. Este valor est ligado memria e ao passado. O patrimnio assume a dimenso instrumental de ser a ligao entre o presente e o passado seja pelo componente histrico ou o esttico. Nem sempre o que um grupo considera patrimnio consagrado como tal pelo Estado, mas ainda assim o processo de valorao se deu, e aquele bem (material ou no) passou por um processo de atribuio de valor, para alm do valor material existe o valor cultural e este, em ltima instncia, justifica todas as aes que sero tomadas em prol da defesa daquele bem. A capacidade de o bem ser testemunha de uma histria e se remeter a uma memria, ou porque o objeto tem valor artstico (tambm representativo de mtodos construtivos) o investe ento de sua funo memorial permitindo a evocao de uma determinada fruio, garantindo uma atribuio de valor. A idia de excepcional valor, no no sentido de nico ou de autntico (foi por muito tempo utilizado como critrio de valorao), mas na sua condio de emocionar, transformando-o em patrimnio. O patrimnio em suas diversas acepes (paisagstico, arqueolgico, histrico, arquitetnico, etc) deve ser capaz de emocionar, de levar a fruio seja por sentimento de pertencimento ou pela esttica. Neste nvel de apreenso da constituio do patrimnio devemos ter em mente que este processo pode ser feito por qualquer grupo e o valor atribudo deve fazer sentido para quem o atribui, o que significa mobilizar um conjunto de relaes simblicas. Tal como aponta Choay (2001), patrimnio tem uma natureza afetiva e deve ser capaz de trazer o passado como lembranas ao presente, produzindo uma nova durao das coisas. Utilizando o conceito de registro de historicidade proposto por Hartog (2006) (diferentes modos de articulao das categorias do passado, presente e futuro) patrimnio deve ser inserido no antigo regime de historicidade, pois um passado que est e chega ao presente.

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    Existe uma outra forma de apreenso, este produto de um processo de valorao a partir da atuao de um grupo de profissionais ligados a cultura, com aquilo que Chaui (1993) denominou de discurso competente acerca do patrimnio. A dimenso histrica ou esttica tambm operativa neste processo de valorao. O patrimnio esconde esse processo, que s pode ser aprendido em seu processo histrico. Atualmente as duas possibilidades de conformao de patrimnio esto em embate em nossa sociedade, principalmente porque vivemos naquilo que Gomes (2007) chamou de sociedade de culturas de direitos, onde os diversos grupos querem acionar elementos que conformam suas identidades sociais. Para finalizar, patrimnio produto de atribuio de valor cultural, este muda ao longo do tempo, mas o que permanece a dimenso simblica atribuda ao valor como excepcional. Excepcional por qu? Porque instrumento de construo de identidade e atrelado memria constituinte da vida

    Referncias Bibliogrficas Anderson, Benedict (2005). Comunidades imaginadas. Reflexes sobre a expanso do

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    Regina e Chagas, Mario (orgs). Memria e patrimnio: ensaios contemporneos. Rio de Janeiro: DPA.

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    Hartog, Franois. (2006). Tempo e patrimnio. Varia Histria, 22.

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