5-expressionismo (desenvolvimento)

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Desenvolvimento sobre expressionismo.

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EXPRESSIONISMO

O expressionismo foi um movimento artstico e cultural de vanguarda surgido na Alemanha no incio do sculo XX, transversal aos campos artsticos da arquitetura, artes plsticas, literatura, msica, cinema, teatro, dana e fotografia. Manifestou-se inicialmente atravs da pintura, coincidindo com o aparecimento do fauvismo francs, o que tornaria ambos os movimentos artsticos os primeiros representantes das chamadas "vanguardas histricas". Mais do que meramente um estilo com caractersticas em comum, o Expressionismo sinnimo de um amplo movimento heterogneo, de uma atitude e de uma nova forma de entender a arte, que aglutinou diversos artistas de vrias tendncias, formaes e nveis intelectuais. O movimento surge como uma reao ao positivismo associado aos movimentos impressionista e naturalista, propondo uma arte pessoal e intuitiva, onde predominasse a viso interior do artista a "expresso" em oposio mera observao da realidade a "impresso".O expressionismo no foi um movimento homogneo, coexistindo vrios polos artsticos com uma grande diversidade estilstica, como a corrente modernista (Munch), fauvista (Rouault), cubista e futurista (Die Brcke), surrealista (Klee), ou a abstrata (Kandinsky). Embora o seu maior polo de difuso se encontrasse na Alemanha, o expressionismo manifestou-se tambm por meio de artistas provenientes de outras partes da Europa como Modigliani, Chagall, Soutine ou Permeke, e no continente americano como, por exemplo, os mexicanos Orozco, Rivera, Siqueiros e o brasileiro Portinari. Na Alemanha existiram dois grupos dominantes: Die Brcke (fundado em 1905), e Der Blaue Reiter (fundado em 1911), embora tenha havido artistas independentes e no afiliados com nenhum dos grupos. Depois da Primeira Guerra Mundial surge a Nova Objetividade que, embora tenha sido uma reao ao individualismo expressionista e procurasse a funo social na arte, a sua distoro das formas e o seu intenso colorido fazem do grupo um herdeiro direto da primeira gerao expressionista.Embora por expressionismo fosse conhecido nomeadamente o movimento artstico desenvolvido na Alemanha em princpios do sculo XX, muitos historiadores e crticos da arte tambm empregam este termo mais genericamente para descrever o estilo de grande variedade de artistas ao longo de toda a Histria. Entendida como a deformao da realidade para buscar uma expresso mais emocional e subjetiva da natureza e do ser humano, o expressionismo pois extrapolvel a qualquer poca e espao geogrfico. Assim, com frequncia qualificou-se de expressionista a obra de diversos autores como Hieronymus Bosch, Matthias Grnewald, Quentin Matsys, Pieter Brueghel, o Velho, El Greco, Francisco de Goya e Honor Daumier.As razes do expressionismo encontram-se em estilos como o simbolismo e o ps-impressionismo, bem como nos Nabis e em artistas como Paul Czanne, Paul Gauguin e Vincent Van Gogh. Assim mesmo, tm pontos de contato com o neoimpressionismo e o fauvismo pela sua experimentao com a cor. Os expressionistas receberam numerosas influncias: em primeiro lugar a da arte medieval, especialmente a gtica alem. De signo religioso e carter transcendente, a arte medieval punha nfase na expresso, no nas formas: as figuras tinham pouca corporeidade, perdendo interesse pela realidade, as propores, a perspectiva. Por outro lado, acentuava a expresso, sobretudo na olhada: as personagens eram simbolizas mais que representadas. Assim, os expressionistas inspiraram-se nos principais artistas do gtico alemo, desenvolvido atravs de duas escolas fundamentais: o estilo internacional (finais do sculo XIV-primeira metade do XV), representado por Conrad Soest e Stefan Lochner; e o estilo flamengo (segunda metade do sculo XV), desenvolvido por Konrad Witz, Martin Schongauer e Hans Holbein, o Velho. Tambm se inspiraram na escultura gtica alem, que salientou pela sua grande expressividade, com nomes como Veit Stoss e Tilman Riemenschneider. Outro ponto de referncia foi Matthias Grnewald, pintor tardo-medieval que, embora conhecesse as inovaes do Renascimento, seguiu numa linha pessoal, caracterizada pela intensidade emocional, uma expressiva distoro formal e um intenso colorido incandescente, como na sua obra mestra, o Retbulo de Isenheim.

ARQUITETURA

A arquitetura expressionista desenvolveu-se nomeadamente na Alemanha, Pases Baixos, ustria, Checoslovquia e Dinamarca. Caracterizou-se pelo uso de novos materiais, suscitado ocasionalmente pelo uso de formas biomrficas ou pela ampliao de possibilidades oferecida pela fabricao massiva de materiais de construo como o tijolo, o ao ou o vidro. Muitos arquitetos expressionistas combateram na Primeira Guerra Mundial, e a sua experincia, combinada com os cmbios polticos e sociais produtos da Revoluo Alem de 1918-1919, terminaram em perspectivas utpicas e um programa socialista romntico. A arquitetura expressionista recebeu a influncia do modernismo, sobretudo da obra de arquitetos como Henry van de Velde, Joseph Maria Olbrich e Antoni Gaud. De carter fortemente experimental e utpico, as realizaes dos expressionistas destacam-se pela sua monumentalidade, o emprego do tijolo e da composio subjetiva, que outorga s suas obras certo ar de excentricidade.Um contribuinte terico arquitetura expressionista foi o ensaio Arquitetura de cristal de Paul Scheerbart, no que ataca o funcionalismo pela sua falta de artisticidade e defende a substituio do tijolo pelo cristal. Assim, por exemplo, o Pavilho de Cristal da Exposio de Colnia de 1914, de Bruno Taut, autor que tambm plasmou o seu iderio por escrito (Arquitetura alpina, 1919). A arquitetura expressionista desenvolveu-se em diversos grupos, como a Deutscher Werkbund, Arbeitsrat fr Kunst, Der Ring e Neus Bauen, ligado este ltimo Nova Objetividade; tambm cabe destacar-se a Escola de Amsterdam. Os principais arquitetos expressionistas foram Bruno Taut, Walter Gropius, Erich Mendelsohn, Hans Poelzig, Hermann Finsterlin, Fritz Hger, Hans Scharoun e Rudolf Steiner.Algumas obras desse movimento: Goetheanum (1923), deRudolf Steiner,Dornach. Pavilho de Cristal para a Exposio de Colniade1914, deBruno Taut.

Torre Einstein(1919-22), de Chilehaus(1923), deFritz Hger,Hamburgo. Erich Mendelsohn,Potsdam.ESCULTURA

A escultura expressionista no teve um selo estilstico comum, sendo o produto individual de vrios artistas que refletiram na sua obra quer a temtica quer a distoro formal prprias do expressionismo. Destacam-se especialmente trs nomes:Ernst Barlach: inspirado na arte popular russa aps uma viagem ao pas eslavo em 1906 e na escultura medieval alem, bem como em Brueghel e Hieronymus Bosch, as suas obras tm certo ar caricaturesco, trabalhando muito o volume, a profundeza e a articulao do movimento. Desenvolveu duas temticas principais: a popular (costumes quotidianos, cenas campesinas) e sobretudo depois da guerra o medo, a angustia, o terror. No imitava a realidade, mas criava uma realidade nova, jogando com as linhas quebradas e com os ngulos, com anatomias distanciadas do naturalismo, tendendo geometrizao. Trabalhou preferentemente com a madeira e com o gesso, que ocasionalmente passava posteriormente para o bronze. Entre as suas obras destacam-se:"O fugitivo" (1920-1925), "O vingador" (1922), "A morte na vida" (1926), "O flautista" (1928), "O bebedor" (1933) e "Velha friorenta" (1939).Wilhelm Lehmbruck: educado em Paris, a sua obra tem um marcado carter classicista, se bem que deformado e estilizado, e com uma forte carga introspetiva e emocional. Durante a sua formao em Dsseldorf evoluiu dum naturalismo de corte sentimental, passando por um dramatismo barroco com influncia de Rodin, at um realismo influenciado por Meunier. Em 1910 instalou-se em Paris, onde acusou a influncia de Maillol. Finalmente, aps uma viagem Itlia em 1912 comeou uma maior geometrizao e estilizao da anatomia, com certa influncia medieval no alargamento das suas figuras (Mulher ajoelhada, 1911; Jovem de p, 1913).Kthe Kollwitz: esposa de um mdico de um bairro pobre de Berlim, conheceu de perto a misria humana, fato que a marcou profundamente. Socialista e feminista, a sua obra tem um marcado componente de reivindicao social, com esculturas, litografias e aquafortes que se destacam pela sua crueza: A revolta dos tecedores (1907-1908), A guerra dos camponeses (1902-1908), Homenagem a Karl Liebknecht (1919-1920).Algumas obras desse movimento: O esprito guerreiro(1928), de Madre com gmeos(1927), deErnst Barlach, Gethsemanekirche,Berlim.Kthe Kollwitz, Kthe-Kollwitz-Museum,Berlim.

PINTURA

A pintura desenvolveu-se nomeadamente em torno de dois grupos artsticos: Die Brcke, fundado em Dresde em 1905, e Der Blaue Reiter, fundado em Munique em 1911. No ps-guerra, o movimento Nova Objetividade surgiu como contrapeso ao individualismo expressionista defendendo uma atitude mais comprometida socialmente, embora tcnica e formalmente fosse um movimento herdeiro do expressionismo. Os elementos mais caractersticos das obras de arte expressionistas so a cor, o dinamismo e o sentimento. O fundamental para os pintores de princpios de sculo no era refletir o mundo de maneira realista e fiel justo ao contrrio dos impressionistas mas, sobretudo, expressar o seu mundo interior. O objetivo primordial dos expressionistas era transmitir as suas emoes e sentimentos mais profundos.Na Alemanha, o primeiro expressionismo foi herdeiro do idealismo ps-romntico de Arnold Bcklin e Hans von Mares, incidindo nomeadamente no significado da obra, e dando maior relevncia o desenha frente pincelada, bem como composio e estrutura do quadro. Assim mesmo, foi primordial a influncia de artistas estrangeiros como Munch, Gauguin, Czanne e Van Gogh, plasmada em diversas exposies organizadas em Berlim (1903), Munique (1904) e Dresde (1905).

O expressionismo destacou-se pela grande quantidade de agrupamentos artsticos que surgiram no seu seio, bem como pelas mltiplas exposies celebradas em todo o territrio alemo entre 1910 e 1920: em 1911 a "Nova Secesso" foi fundada em Berlim, ciso da "Secesso berlinense" fundada em 1898 e que presidia Max Liebermann. O seu primeiro presidente foi Max Pechstein, e inclua a Emil Nolde e Christian Rohlfs. Mais tarde, em 1913, surgiu a "Livre Secesso", movimento efmero que ficou eclipsado pelo Herbstsalon (salo de Outono) de 1913, promovido por Herwarth Walden, onde junto aos principais expressionistas alemes expuseram diversos artistas cubistas e futuristas, destacando-se Chagall, Lger, Delaunay, Mondrian, Archipenko, Hans Arp e Max Ernst. Contudo, em que pese sua qualidade artstica, a exposio foi um insucesso econmico, pelo qual a iniciativa no foi repetida.Algumas obras desse movimento:

Caliban, personagem de "A Tempestade" de Shakespeare(1914), deFranz Marc,Kunstmuseum,Basileia.

Cartaz de apresentao para uma exposio deDie Brckena Galeria Arnold deDresde(1910), deErnst Ludwig Kirchner.

Duas garotas na erva(1926), deOtto Mueller, Staatsgalerie Moderner Kunst,Munique.

Os grandes cavalos azuis(1911), deFranz Marc, Walker Art Center,Minneapolis.

LITERATURA

A literatura expressionista desenvolveu-se em trs fases principais: de 1910 a 1914, de 1914 a 1918 coincidindo com a guerra e de 1918 a 1925. Aparecem como temas destacados assim como na pintura a guerra, a urbe, o medo, a loucura, o amor, o delrio, a natureza e a perda da identidade individual. Nenhum outro movimento at a data apostara de igual maneira pela deformidade, a doena e a loucura como o motivo das suas obras. Os escritores expressionistas criticaram a sociedade burguesa da sua poca, o militarismo do governo do ciser, a alienao do indivduo na era industrial e a represso familiar, moral e religiosa, pelo qual se sentiam vazios, ss, entediados, numa profunda crise existencial. O escritor apresenta a realidade do seu ponto de vista interior, expressando sentimentos e emoes mais do que impresses sensitivas. J no se imita a realidade, no se analisam causas nem fatos, mas o autor busca a essncia das coisas, mostrando a sua particular viso. Assim, deformam a realidade mostrando o seu aspecto mais terrvel e descarnado, adentrando-se em temticas at ento proibidas, como a sexualidade, a doena e a morte, ou enfatizando aspectos como o sinistro, o macabro, o grotesco. Formalmente, recorrem a um tom pico, exaltado, pattico, renunciando gramtica e s relaes sintticas lgicas, com uma linguagem precisa, crua, concentrada. Procuram a significao interna do mundo, abstraindo-o numa espcie de romantismo trgico que vai do misticismo socializante de Werfel ao absurdo existencial de Kafka. O mundo visvel uma priso que impede atingir a essncia das coisas; se tem de superar as barreiras do tempo e do espao, procura da realidade mais "expressiva".Os principais precursores da literatura expressionista foram Georg Bchner, Frank Wedekind e o sueco August Strindberg. Bchner foi um dos principais renovadores do drama moderno, com obras como A morte de Danton (Dantons Tod, 1835) e Woyzeck (1836), que se destacam pela introspeo psicolgica das personagens, a reivindicao social das classes desfavorecidas e uma linguagem entre culta e coloquial, misturando aspectos cmicos, trgicos e satricos. Wedekind evoluiu do naturalismo para um tipo de obra de tom expressionista, pela sua crtica burguesia, a rapidez da ao, os reduzidos dilogos e os efeitos cnicos, em obras como O despertar da Primavera (Frhlings Erwachen, 1891), O esprito da terra (Erdgeist, 1895) e A caixa de Pandora (Die Bchse der Pandora, 1902). Strindberg inaugurou com Camino de Damasco (Till Damaskus, 1898) a tcnica estacional seguida pelo drama expressionista, consistente em mostrar a ao por estaes, perodos que determinam a vida das personagens, num senso circular, pois as suas personagens intentam resolver os seus problemas sem o lograr.

Narrativa

A narrativa expressionista implicou uma profunda renovao a respeito da prosa tradicional, tanto temtica como estilisticamente, supondo uma contribuio imprescindvel ao desenvolvimento do romance moderna tanto alem como europeia. Os autores expressionistas procuravam uma nova forma de captar a realidade, a evoluo social e cultural da era industrial. Portanto, rejeitaram o encadeamento argumental, a sucesso espao-tempo e a relao causa-efeito prprios da literatura realista de raiz positivista. Por outro lado, introduziram a simultaneidade, quebrando a sucesso cronolgica e rejeitando a lgica discursiva, com um estilo que amostra mas no explica, no que o prprio autor apenas um observador da ao, na qual as personagens evoluem autonomamente. Na prosa expressionista a realidade interior destacada sobre a exterior, a viso do protagonista, a sua anlise psicolgica e existencial, na qual as personagens expem a sua situao no mundo, a sua identidade, com um sentimento de alienao que provoca condutas desordenadas, psicticas, violentas, irreflexivas, sem lgica nem coerncia. Esta viso plasmou-se em uma linguagem dinmica, concisa, elptica, simultnea, concentrada, sintaticamente deformada.Existiram duas correntes fundamentais na prosa expressionista: uma reflexiva e experimental, abstrata e subjetivizadora, representada por Carl Einstein, Gottfried Benn e Albert Ehrenstein; e outra naturalista e objetivadora, desenvolvida por Alfred Dblin, Georg Heym e Kasimir Edschmid. Figura parte a obra pessoal e dificilmente classificvel de Franz Kafka, que expressou na sua obra o absurdo da existncia, em romances como A metamorfose (Die Verwandlung, 1915), O processo (Der Proze, 1925), O Castelo (Das Schlo, 1926) e Amerika (Der Verschollene, 1927). Kafka mostrou mediante parbolas a solido e alienao do ser humano moderno, a sua desorientao na sociedade urbana e industrial, a sua insegurana e desesperao, a sua impotncia frente de poderes desconhecidos que regem o seu destino. O seu estilo ilgico, descontnuo, labirntico, com vazios que o leitor deve completar.

Poesia

A lrica expressionista desenvolveu-se notavelmente nos anos anteriores contenda mundial, com uma temtica ampla e variada, centrada, sobretudo, na realidade urbana, mas renovadora a respeito da poesia tradicional, assumindo uma esttica do feio, o perverso, o deforme, o grotesco, o apocalptico, o desolado, como nova forma de expresso da linguagem expressionista. Os novos temas tratados pelos poetas alemes so a vida na grande cidade, a solido e a incomunicao, a loucura, a alienao, a angstia, o vazio existencial, a doena e a morte, o sexo e a premonio da guerra. Vrios destes autores, conscientes da decadncia da sociedade e da sua necessidade de renovao, utilizaram uma linguagem proftica, idealista, utpica, um certo messianismo que propugnava outorgar um novo senso vida, uma regenerao do ser humano, uma maior fraternidade universal.Estilisticamente, a linguagem expressionista concisa, penetrante, despida, com um tom pattico e desolado, antepondo a expressividade comunicao, sem regras lingusticas nem sintticas. Buscam o essencial da linguagem, libertar a palavra, remarcando a fora rtmica da linguagem mediante a deformao lingustica, a substantivao de verbos e adjetivos e a introduo de neologismos. Ainda que muitos expressionistas tenham mantido a mtrica e a rima tradicionais, sendo o soneto um dos seus principais meios de composio, tambm recorreram ao ritmo livre e estrofe polimtrica. Por outro lado, alguns poetas como August Stramm produziram uma escrita realmente inovadora, abolindo as regras de sintaxe e a pontuao. Outro efeito da dinmica linguagem expressionista foi o simultanesmo, a percepo do espao e do tempo como algo subjetivo, heterogneo, atomizado, inconexo, uma apresentao simultnea de imagens e acontecimentos. Entre os principais poetas expressionistas estiveram Franz Werfel, Georg Trakl, Gottfried Benn, Georg Heym, Johannes R. Beiter, Else Lasker-Schler, Ernst Stadler, August Stramm e Jakob van Hoddis. A lrica expressionista confluiu ou teve influncia sobre poetas como Rainer Maria Rilke.

TEATRO

O drama expressionista ops-se representao fidedigna da realidade prpria do naturalismo, renunciando imitao do mundo exterior e visando a refletir a essncia das coisas, atravs de uma viso subjetiva e idealizada do ser humano. Os dramaturgos expressionistas visavam a fazer do teatro um mediador entre a filosofia e a vida, transmitirem novos ideais, renovar a sociedade moral e ideologicamente. Para isso realizaram uma profunda renovao dos recursos dramticos e cnicos, seguindo o modelo estacional de Strindberg e perdendo o conceito de espao e tempo, enfatizando por outro lado a evoluo psicolgica da personagem, que mais que indivduo um smbolo, a encarnao dos ideais de libertao e superao do novo homem que transformar a sociedade. So personagens tipificados, sem personalidade prpria, que encarnam determinados roles sociais, nomeados pela sua funo: pais, mes, operrios, soldados, mendigos, jardineiros, comerciantes. O teatro expressionista ps nfase na liberdade individual, na expresso subjetiva, o irracionalismo e a temtica proibida. A sua posta em cena buscava uma atmosfera de introspeo, de pesquisa psicolgica da realidade. Utilizavam uma linguagem concisa, sbria, exaltada, pattica, dinmica, com tendncia ao monlogo, forma idnea de mostrar o interior do personagem. Tambm ganhou importncia a gesticulao, a mmica, os silncios, os balbucios, as exclamaes, que cumpriam igualmente uma funo simblica. Igual simbolismo adquiriu a cenografia, outorgando especial relevncia a luz e a cor, e recorrendo msica e at mesmo a projees cinematogrficas para potenciar a obra.

O teatro foi um meio idneo para a plasmao emocional do expressionismo, pois o seu carter multiartstico, que combinava a palavra com a imagem e a ao, era ideal para os artistas expressionistas, fosse qual for a sua especialidade. Assim, alm do teatro, naquela poca proliferaram os cabars, que uniam representao teatral e msica, como em Die Fledermaus (O Morcego), em Viena; Die Brille (Os culos), em Berlim; e Die elf Scharfrichter (Os Onze Verdugos), em Munique. No teatro expressionista predominou a temtica sexual e psicanaltica, talvez por influncia de Freud, cuja obra A interpretao dos sonhos apareceu em 1900. Assim mesmo, os protagonistas costumavam serem seres angustiados, solitrios, torturados, isolados do mundo e despojados de todo tipo de convencionalismo e aparncia social. O sexo representava violncia e frustrao, a vida sofrimento e angustia.Os principais dramaturgos expressionistas foram Georg Kaiser, Fritz von Unruh, Reinhard Sorge, Ernst Toller, Walter Hasenclever, Carl Sternheim, Ernst Barlach, Hugo von Hofmannsthal e Ferdinand Bruckner. Cabe sublinhar tambm a figura do produtor e diretor teatral Max Reinhardt, diretor do Deutsches Theater, que se destacou pelas inovaes tcnicas e estticas que aplicou cenografia expressionista: experimentou com a iluminao, criando jogos de luzes e sombras, concentrando a iluminao num stio ou personagem para captar a ateno do espectador, ou fazendo variar a intensidade das luzes, que se entrecruzam ou opunham. A sua esttica teatral foi adaptada posteriormente ao cinema, sendo um dos traos distintivos do cinema expressionista alemo. Finalmente, caberia assinalar que no expressionismo se formaram duas figuras de grande relevncia no teatro moderno internacional: o diretor Erwin Piscator, criador de uma nova forma de fazer teatro que denominou "teatro poltico", experimentando uma forma de espetculo didtico que aplicou mais tarde Brecht no Berliner Ensemble. Em 1927 criou o seu prprio teatro (Piscatorbhne), no que aplicou os princpios ideolgicos e cnicos do teatro poltico. Bertolt Brecht foi o criador do "teatro pico", assim designado em contraste com o teatro dramtico. Quebrou com a tradio do naturalismo e do neorromantismo, transformando radicalmente tanto o senso do texto literrio quanto a forma de o espetculo ser apresentado, e tentando que o pblico deixasse de ser um simples espectador-receptor para desenvolver um papel ativo.

MUSICA

O expressionismo outorgou muita importncia msica, ligada estreitamente arte sobretudo no grupo Der Blaue Reiter: para estes artistas, a arte comunicao entre indivduos, por meio da alma, sem necessidade de um elemento externo. O artista tem de ser criador de signos, sem a mediao de uma linguagem. A msica expressionista, seguindo o esprito das vanguardas, visava a desligar a msica dos fenmenos objetivos externos, sendo instrumento unicamente da atividade criadora do compositor e refletindo nomeadamente o seu estado anmico, fora de toda regra e toda conveno, tendendo esquematizao e s construes lineais, em paralelo geometrizao das vanguardas pictricas do momento.A msica expressionista procurou a criao de uma nova linguagem musical, libertando a msica, sem tonalidade, deixando que as notas flussem livremente, sem interveno do compositor. Na msica clssica, a harmonia era baseada na cadncia tnica-subdominante-dominante-tnica, sem dentro de uma tonalidade suceder notas estranhas escala. Contudo, desde Wagner, a sonoridade adquiriu maior relevncia a respeito da harmonia, ganhando importncia as doze notas da escala. Assim, Arnold Schnberg criou o dodecafonismo, sistema baseado nos doze tons da escala cromtica as sete notas da escala tradicional mais os cinco semitons, utilizados em qualquer ordem, mas em sries, sem repetir uma nota antes de as outras sonarem. Assim evitada a polarizao, a atrao a centros tonais. A srie dodecafnica uma estrutura imaginria, sem tema nem ritmo. Cada srie tem 48 combinaes, por inverso, retrogradao ou inverso da retrogradao, e comeando por cada nota, o que produz uma srie quase infinita de combinaes. A destruio da hierarquia na escala musical equivalente, na pintura, eliminao da perspectiva espacial renascentista efetuada igualmente pelas vanguardas pictricas. O dodecafonismo foi seguido pelo ultrarromantismo, que ampliou a escala musical a graus inferiores ao semitono quartos ou sextos de tom, como na obra de Alois Hba e Ferruccio Busoni.Entre os msicos expressionistas destacaram-se especialmente Arnold Schnberg, Alban Berg e Anton Webern, trio que formou a chamada Segunda Escola de Viena:Arnold Schnberg: formou-se quando em Viena havia um caloroso debate entre wagnerianos e brahmsianos, inclinando-se depressa por novas formas de expresso renovadoras da linguagem musical. As suas primeiras obras foram um insucesso de pblico, como o poema sinfnico Pelleas und Melisande (1903), sobre o texto de Maeterlinck, se bem que acrescentaram a sua fama entre os novos msicos, mais afins vanguarda. Com a Kammersymphonie (1906) e os Lieder (1909), sobre textos de Stefan George, comeou a acercar-se que seria a sua linguagem definitiva, pontuada pela atonalidade, a assimetria rtmica e a dissoluo tmbrea, que terminaro no dodecafonismo. Conseguiu os seus primeiros sucessos com os Gurrelieder (1911) e Pierrot Lunaire (1912), aos quais seguiu uma pausa devida guerra. Mais adiante, a sua obra ressurgiu com uma composio j totalmente dodecafnica: Quinteto para instrumentos de vento (1924), Terceiro quarteto para corda (1927), Variaes (1926-1928), etc.Anton Webern: circunscrito a obras de pequeno calibre, no teve muito reconhecimento em vida, se bem que a sua obra fosse profundamente vanguardista e inovadora. Mais mstico e decadente que Schnberg, Webern foi um msico dodecafnico profundo: ao contrrio de Schnberg, que no serializava os ritmos mas apenas a altura dos sons, Webern sim o fazia, destacando-se as reas estruturais, com uma msica nua, etrea, atemporal; assim como Schnberg tinha uma estrutura clssica sob o sistema dodecafnico, Webern criou uma msica totalmente nova, sem referncias ao passado. Webern rompeu a melodia, cada nota era feita por um instrumento diferente, numa espcie de pontilhismo musical, numa tentativa de serializao tmbrea, destacando-se o espao antes do tempo. Entre as suas obras destacam-se Bagatelas (1913), Trio para cordas (1927), A luz dos olhos (1935) e Variaes para piano (1936).Alban Berg: aluno de Schnberg entre 1904 e 1910, tinha, no entanto, um conceito mais amplo, complexo e articulado da forma e do timbre do que o seu mestre. Nos seus comeos foi influenciado por Schumann, Wagner e Brahms, conservando sempre a sua obra um marcado tom romntico e dramtico. Berg usou o dodecafonismo livremente, alterando as ortodoxas regras que ps inicialmente Schnberg, dando-lhe uma particular cor tonal. Entre as suas obras destacam-se as peras Wozzeck (1925) e Lulu (1935), alm de Sute lrica para quarteto de corda (1926) e Concerto para violino e orquestra ( memria de um anjo) (1935).A dana expressionista surgiu no contexto de inovao que o novo esprito vanguardista contribuiu para a arte, sendo reflexo de uma nova forma de entender a expresso artstica. Como nas demais disciplinas artsticas, a dana expressionista implicou uma ruptura com o passado neste caso o ballet clssico, buscando novas formas de expresso baseadas na liberdade do gesto corporal, liberto das ataduras da mtrica e do ritmo, onde adquire maior relevncia a auto-expresso corporal e a relao com o espao. Em paralelo reivindicao naturista que ocorre na arte expressionista sobretudo em Die Brcke, a dana expressionista reivindicou a liberdade corporal, ao mesmo tempo que as novas teorias psicolgicas de Freud influram numa maior introspeo na mente do artista, o que se traduziu numa tentativa da dana de expressar o interior, de libertar o ser humano das suas represses.

DANA

A dana expressionista coincidiu com Der Blaue Reiter no seu conceito espiritualista do mundo, visando a captar a essncia da realidade e transcend-la. Rejeitavam o conceito clssico de beleza, o que se expressa num dinamismo mais abrupto e spero que o da dana clssica. Ao mesmo tempo, aceitavam o aspecto mais negativo do ser humano, o que subjaz no seu inconsciente mas que parte indissolvel do mesmo. A dana expressionista no evitou mostrar o lado mais obscuro do indivduo, a sua fragilidade, o seu sofrimento, o seu desamparo. Isto traduz-se numa corporalidade mais contrada, numa expressividade que inclui todo o corpo, ou at mesmo na preferncia por danar descalos, o que implica um maior contato com a realidade, com a natureza.A dana expressionista foi denominada tambm "dana abstrata", pois implicou uma libertao do movimento, afastado da mtrica e do ritmo, paralelo ao abandono da figurao por parte da pintura, ao mesmo tempo que a sua pretenso de expressar mediante o movimento ideias ou estados de nimo coincidiu com a expresso espiritual da obra abstrata de Kandinsky. Contudo, a presena ineludvel do corpo humano provocou uma certa contradio na denominao de uma corrente "abstrata" dentro da dana.A principal musa da dana expressionista foi a danarina Mary Wigman, que estudou com Laban e teve estreitos contatos com o grupo Die Brcke, enquanto, durante a Primeira Guerra Mundial, relacionou-se ao grupo dadasta de Zurique. Para ela, a dana era uma expresso do interior do indivduo, fazendo especial insistncia na expressividade frente forma. Assim outorgava especial importncia gestualidade, ligada com frequncia improvisao, bem como ao uso de mscaras para acentuar a expressividade do rosto. Os seus movimentos eram livres, espontneos, provando novas formas de se movimentar pelo palco, arrastando-se ou deslizando-se, ou movimentando partes do corpo em atitude esttica, como na dana oriental. Baseava-se no princpio de tenso-relaxao, o que procurava maior dinamismo ao movimento. Criou coreografias realizadas inteiramente sem msica, ao mesmo tempo que se libertava das ataduras do espao, que em vez de envolver e pegar ao danarino se converteu numa projeo do seu movimento, perseguindo aquele anseio romntico de se fundir com o universo.

CINEMA

O expressionismo no chegou ao cinema at passada a Primeira Guerra Mundial, quando j praticamente desaparecera como corrente artstica, sendo substituda pela Nova Objetividade. Contudo, a expressividade emocional e a distoro formal do expressionismo tiveram uma perfeita traduo linguagem cinematogrfica, sobretudo graas contribuio do teatro expressionista, cujas inovaes cnicas foram adaptadas com grande sucesso no cinema. O cinema expressionista passou por diversas etapas: do expressionismo puro chamado por vezes "caligarismo" evoluiu para um certo neorromantismo (Murnau), e deste para o realismo crtico (Pabst, Siodmak, Lupu Pick), para terminar no sincretismo de Lang e no naturalismo idealista do Kammerspielfilm. Entre os principais cineastas expressionistas caberia destacar-se Robert Wiene, Paul Wegener, Friedrich Wilhelm Murnau, Fritz Lang, Georg Wilhelm Pabst, Paul Leni, Josef von Sternberg, Ernst Lubitsch, Lupu Pick, Robert Siodmak, Arthur Robison e Ewald Andr Dupont.As primeiras obras do cinema expressionista nutriram-se de lendas e antigas narraes de corte fantstico e misterioso, quando no terrorfico e alucinante: O estudante de Praga (Paul Wegener e Stellan Rye, 1913), sobre um novo que vende a sua imagem refletida nos espelhos, baseada no Peter Schlemihl de Chamisso; O Golem (Paul Wegener e Henrik Galeem, 1914), sobre um homem de barro criado por um rabino judeu; Homunculus (Otto Rippert, 1916), precursora nos contrastes em branco e preto, os choques de luz e sombra. O gabinete do doutor Caligari (Robert Wiene, 1919), sobre uma srie de assassinatos cometidos por um sonmbulo, converteu-se na obra mestra do cinema expressionista, pela recriao de um ambiente opressivo e angustioso, com decorados de aspecto estranhamente anguloso e geomtrico paredes inclinadas, janelas em forma de flecha, portas cuneiformes, chamins oblquas, iluminao de efeitos dramticos inspirada no teatro de Max Reinhardt, e maquilhagem e vesturio que salientam o ar misterioso que envolve todo o filme.Na dcada de 1920 aconteceram os principais sucessos do cinema expressionista alemo: Ana Bolena (Lubitsch, 1920), As trs luzes (Lang, 1921), Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens (Murnau, 1922), O doutor Mabuse (Lang, 1922), Sombras (Robison, 1923), Sylvester (Pick, 1923), Os Nibelungos (Lang, 1923-1924), O homem das figuras de cera (Leni, 1924), As mos de Orlac (Wiene, 1924), O ltimo (Murnau, 1924), Bajo a mscara do prazer (Pabst, 1925), Tartufo (Murnau, 1925), Variet (Dupont, 1925), Fausto (Murnau, 1926), O amor de Jeanne Nei (Pabst, 1927), Metropolis (Lang, 1927), A caixa de Pandora (Pabst, 1929), O anjo azul (Sternberg, 1930), M, o vampiro de Dsseldorf (Lang, 1931).

FOTOGRAFIA

A fotografia expressionista desenvolveu-se nomeadamente durante a Repblica de Weimar, constituindo um dos principais focos da fotografia europeia de vanguarda. A nova sociedade alem do ps-guerra, no seu af quase utpico de regenerar o pas aps os desastres da guerra, recorreu a uma tcnica relativamente nova como a fotografia para romper com a tradio burguesa e construir um novo modelo social baseado na colaborao entre classes sociais. A fotografia da dcada de 1920 seria herdeira das fotomontagens antibelicistas criadas pelos dadastas durante a contenda, e aproveitaria a experincia de fotgrafos procedentes do leste que pararam na Alemanha aps a guerra, o que levaria para a elaborao de um tipo de fotografia de grande qualidade tanto tcnica como artstica.Assim mesmo, em paralelo Nova Objetividade surgida aps a guerra, a fotografia tornou-se um meio privilegiado de captar a realidade sem rodeios, sem manipulao, conjugando a esttica com a preciso documental. Os fotgrafos alemes criaram um tipo de fotografia baseada na nitidez da imagem e da utilizao da luz como meio expressivo, modelando as formas e destacando-se as texturas. Este tipo de fotografia teve ressonncia internacional, gerando movimentos paralelos como a photographie pure francesa e a straight photography norte-americana. Houve um grande auge durante esta poca da imprensa grfica e as publicaes, tanto de revistas como de livros ilustrados. A conjuno de fotografia e tipografia levou a criao do chamado "foto-tipo", com um desenho racionalista inspirado na Bauhaus. Tambm tomou importncia a publicao de livros e revistas especializados em fotografia e em desenho grfico, como Der Querschnitt, Gebrauchsgraphik e Das Deutsche Lichtbild, bem como as exposies, como a grande demonstrao Film und Foto, celebrada em 1929 em Stuttgart por iniciativa da Deutscher Werkbund, da qual surgiu o ensaio de Franz Roh Foto-Auge.O mais destacado fotgrafo expressionista foi August Sander: estudante de pintura, mudou para a fotografia, abrindo um estudo de retrato em Colnia. Dedicou-se ao retrato, criando um projeto quase enciclopdico que visava a catalogar objetivamente o alemo da Repblica de Weimar, retratando personagens de qualquer estamento social, partindo da premissa de que o indivduo fruto das circunstncias histricas. Em 1929 apareceu o primeiro tomo de O rosto do nosso tempo (Antlitz der Zeit), do qual no surgiram mais ao ser vetado pelos nazistas, que no gostavam da imagem da Alemanha captada por Sander, ao que destruram 40 000 negativos. Os retratos de Sander eram frios, objetivos, cientficos, desapaixonados, mas por esse motivo resultavam de uma grande eloquncia pessoal, sublinhando a sua individualidade.

EXPRESSIONISMO NO BRASIL

Em nosso pas o movimento tambm foi importante. Podemos destacar, nas artes plsticas, os artistas expressionistas mais importantes: Candido Portinari, que retratou em suas telas a migrao do povo nordestino para as grandes cidades e a vida dos agricultores, operrios e desfavorecidos. Outros representantes do expressionismo brasileiro: - Anita Malfatti - pode ser considerada a artista que introduziu as vanguardas europeias em territrio brasileiro. Retratou em suas obras retratos nus, cenas populares cotidianas e paisagens. Usou cores fortes e violentas em suas obras.- Lasar Segall - considerado o primeiro artista a introduzir o expressionismo alemo em territrio sul-americano. Uma de suas obras mais conhecidas "Emigrante Navio" de 1939.- Osvaldo Goeldi (autor de diversas gravuras). - As peas teatrais de Nlson Rodrigues apresentam significativas caractersticas do expressionismo.

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