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5º - Artigo A Música na Educação Religiosa Junho / 07 Uma aplicação da Inteligência Musical e da Inteligência Espiritual Fernando Silvio Cavalcante Pimentel1 RESUMO O Ensino Religioso Escolar vem sendo apontado como uma disciplina que tem como objetivo a compreensão dos fenômenos religiosos, possibilitando a cada ser humano um melhor entendimento da vida humana no específico da religiosidade como dimensão indispensável para a sua completude. Para que estes objetivos sejam alcançados o educador não pode lançar mão do entendimento sobre a multiplicidade da inteligência postulada por Howard Gardner como também as definições de Richard Wolman sobre a Inteligência Espiritual. A música, quando entendida na perspectiva de instrumento pedagógico universal, torna-se imprescindível sua utilização nas aulas de Ensino Religioso para que possamos desenvolver a inteligência musical e a inteligência espiritual, agregando valores e ampliando atitudes, perspectivas e comportamento. PALAVRAS-CHAVE Inteligência, inteligência musical, inteligência espiritual, ensino religioso. ABSTRACT The Religious school teaching has been pointed as a discipline that has as objective the understanding of the religious phenomena, making possible each human being a better understanding of the human life in the specific of the religiosity as indispensable dimension for their completude. So that these objectives are reached the educator cannot make use of the understanding about the multiplicity of the intelligence postulated by Howard Gardner as well as Richard Wolman's definitions on the Spiritul Intelligence. The music, when understood in the perspective of universal pedagogic instrument, becomes indispensable its use in the classes of Religious Teaching so that we can develop the musical intelligence and the spiritual intelligence, joining values and enlarging attitudes, perspectives and behavior. KEYWORDS Intelligence, musical intelligence, spiritual intelligence, teaching religious.

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Page 1: 5º - Artigo A Música na Educação ReligiosaDiante disso tudo, quando analisamos os objetivos gerais do Ensino Religioso, conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino

5º - Artigo A Música na Educação Religiosa

Junho / 07

Uma aplicação da Inteligência Musical e da Inteligência Espiritual

Fernando Silvio Cavalcante Pimentel1

RESUMO O Ensino Religioso Escolar vem sendo apontado como uma disciplina que tem como objetivo a compreensão dos fenômenos religiosos, possibilitando a cada ser humano um melhor entendimento da vida humana no específico da religiosidade como dimensão indispensável para a sua completude. Para que estes objetivos sejam alcançados o educador não pode lançar mão do entendimento sobre a multiplicidade da inteligência postulada por Howard Gardner como também as definições de Richard Wolman sobre a Inteligência Espiritual. A música, quando entendida na perspectiva de instrumento pedagógico universal, torna-se imprescindível sua utilização nas aulas de Ensino Religioso para que possamos desenvolver a inteligência musical e a inteligência espiritual, agregando valores e ampliando atitudes, perspectivas e comportamento. PALAVRAS-CHAVE Inteligência, inteligência musical, inteligência espiritual, ensino religioso.

ABSTRACT The Religious school teaching has been pointed as a discipline that has as objective the understanding of the religious phenomena, making possible each human being a better understanding of the human life in the specific of the religiosity as indispensable dimension for their completude. So that these objectives are reached the educator cannot make use of the understanding about the multiplicity of the intelligence postulated by Howard Gardner as well as Richard Wolman's definitions on the Spiritul Intelligence. The music, when understood in the perspective of universal pedagogic instrument, becomes indispensable its use in the classes of Religious Teaching so that we can develop the musical intelligence and the spiritual intelligence, joining values and enlarging attitudes, perspectives and behavior. KEYWORDS Intelligence, musical intelligence, spiritual intelligence, teaching religious.

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INTRODUÇÃO

O final do segundo milênio da era cristã foi marcado, principalmente no campo educacional, pela postulação de uma maneira nova no entendimento sobre a Inteligência Humana. A partir do conceito das múltiplas inteligências, defendido por Howard Gardner, a psicologia e a pedagogia tiveram novos rumos, e as escolas – em particular – foram sendo instigadas a modificarem a sua atuação na construção do saber junto aos educandos. O Ensino Religioso, que também sofreu várias mudanças no final do milênio passado (principalmente por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96, no seu artigo 33), vê-se aberto a uma nova maneira de ser, revelando-se como disciplina fundamental para o desenvolvimento da cidadania. É esta disciplina que nos instiga a parar e pensar em metodologias que atendam a esta concepção, aliada à nova maneira de se entender a inteligência humana. Gardner, defendendo sua tese, aponta-nos oito inteligências interdependentes e que podem ser desenvolvidas. Uma delas torna-se nosso ponto de ancoragem: a Inteligência Musical, que é a capacidade de interpretar e reler os sinais sonoros emitidos pelo ser humano ou pelo cosmos. É a mais antiga e a mais nova forma de comunicação – transcendendo até os limites da própria humanidade. Nosso segundo ponto de ancoragem é a Inteligência Espiritual postulada por Richard Wolman como sendo “a capacidade humana de formular as perguntas

fundamentais sobre o significado da vida e simultaneamente experimentar a

conexão perfeita entre cada um de nós e o mundo em que vivemos” (2001, p. 111). E, como as demais inteligências, esta também pode e deve ser estimulada ao desenvolvimento. Faz-se mister, na construção deste entendimento de utilização da música como ferramenta pedagógica a compreensão de que o Ensino Religioso nos leva a conhecer mais profundamente o fenômeno religioso – sendo a experiência pessoal do Transcendente fator indispensável e, por esta razão, entender a dimensão humana da espiritualidade também é algo sumamente necessário. A música, que apontamos como ferramenta necessária na nova concepção do Ensino Religioso, está presente na vida de todos os homens, no decorrer de todos os tempos, e de maneira mais íntima na relação do homem com a divindade. Por dizer aquilo que vai além das palavras, acreditamos que a música vem a ser uma “ferramenta” – entenda-se recurso pedagógico – no dia-a-dia do Ensino Religioso. Por tudo o que ela comporta, por elevar o homem a níveis de comunicação elevados e por ajudar o homem na descoberta de seus sentimentos, a música torna-se indispensável na experiência mística do ser humano.

INTELIGÊNCIA MUSICAL

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Após muitos estudos sobre a mente humana e como ela desenvolve os processos mentais, Howard Gardner, expôs que não existe uma inteligência global e totalizadora, como definiu Spearman, mas que existem múltiplas inteligências, como um conjunto de capacidades que permitem que um indivíduo resolva problemas ou forme produtos que são de importância em seu contexto cultural particular. Ele define a inteligência como um potencial biológico capaz de ser desenvolvido em maior ou em menor intensidade como conseqüência de fatores ambientais. Gardner apontou uma lista com oito “tipos” ou manifestações da inteligência e dentre elas encontramos a inteligência musical, parecendo ser a que nasce (ou se desenvolve) mais cedo, aparecendo antes de todas as outras das quais o ser humano foi dotado. A música está presente em todas as culturas, em todos os momentos da vida humana, em todos os séculos. Desde a antiga Grécia, a música surge como parte da educação, sendo valorizada tanto quanto a filosofia e a matemática, já que os gregos consideravam a música fundamental na formação dos novos cidadãos. A inteligência musical é uma inteligência muito ampla, ou que compreende uma amplitude significativa, já que ela desenvolve estruturas psiconeurológicas e ajuda no desenvolvimento de outras estruturas, habilidades como também outras inteligências (exemplo: lógico-matemática, lingüística). É comum encontrar-se pessoas que dizem não possuir aptidão para a música, mas partindo do conceito de inteligência, podemos concluir que a inteligência musical, apesar de também ser nata, pode e deve ser estimulada e desenvolvida. Algumas pesquisas acadêmicas sobre a influência da música no processo de socialização e de aprendizagem têm revelado que as pessoas de todas as idades aprendem mais e melhor quando desenvolvem alguma habilidade musical, até porque a prática musical exige uma disciplina interior e exterior bem determinada.

A INTELIGÊNCIA ESPIRITUAL

A Inteligência Transcendental ou Inteligência Espiritual é uma inteligência que coloca nossos atos e experiências num contexto mais amplo de sentido e valor, tornando-os mais efetivos. Até mesmo a aceitação de termos e da compreensão da espiritualidade como uma inteligência é algo novo, causando inclusive muitos debates acalorados sobre o tema. Para Wolman, talvez o maior defensor na América do Norte, ela “é uma

inteligência autêntica que compreende pensamento, conceituação e solução

de problemas” (WOLMAN: 2001, p. 111). Em meados do século XX, pensava-se que a busca pelo espiritual iria ser extinta, quando muitos colocaram a postura da Igreja em cheque,

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questionando a existência de Deus e afirmando que a religião era algo puramente humano. Uma criação do gênero humano. Mas, apesar destas críticas e do materialismo que imperou sobre a face da Terra, observou-se que o ser humano não se sentia completo, necessitando cada vez mais de algo que o preenchesse. É diante deste fato que somos colocados diante da inerente busca por respostas, como também para a postulação de uma inteligência que comporte a concepção espiritual e os fatores biológicos do entendimento humano. Dizer que alguém possui alto quociente espiritual (QS) implica dizer que este ser é capaz de usar o espiritual para ter uma vida mais rica e mais cheia de sentido, adequado senso de finalidade e direção pessoal. O QS aumenta nossos horizontes e nos torna mais criativos. É uma inteligência que nos impulsiona. É com ela que abordamos e solucionamos problemas de sentido e valor. O QS está ligado à necessidade humana de ter propósito na vida. É ele que usamo-lo para desenvolver valores éticos e crenças que vão nortear nossas ações, segundo a Filósofa Dana Zohar. Mas Wolman aponta para uma questão diferente: Inteligência Espiritual não se mede, contrariando muitos conceitos sobre inteligência que se possa medir. A inteligência espiritual, porém, não se pode julgar – “...o julgamento de um

indivíduo estar usando bem ou não a sua inteligência é muito

subjetivo”(WOLMAN, 2001, p. 107)2. Como entendemos inteligência não só como a capacidade de dar respostas às questões da vida (o que a vida nos aponta) com base em tudo aquilo que assimilamos no decurso da vida, podemos entender Inteligência Espiritual ou Inteligência Transcendental como a capacidade de encontrar respostas (ou dar respostas) para as mais profundas questões da vida. Capacidade de perceber o mundo concreto sob a regência do Transcendente. Ir além daquilo que se vê, daquilo que se sabe3. Nas palavras de Wolman a abordagem mais útil à questão da inteligência espiritual seja construí-la, no mínimo, como uma forma de fazer parte do mundo e experimenta-lo de uma maneira que conecte uma noção do que é sagrado a atividade e relacionamentos cotidianos. (2001, p. 114)

Não se pode fugir das questões existenciais. O ser racional sempre se encontra diante deste dilema. Quando não consegue resposta, ele se esgota, afoga-se na sua própria sombra (trabalhos, atividades) ou se abandona, perdendo o sentido de sua vida, enveredando por meios ilícitos, prostituição, drogas, depressão e até o suicídio. Até aquele que afirma ser ateu convicto, também tem dias que se levanta e questiona qual a razão da existência humana. Sentimos uma “saudade não sei do quê”, apesar de podermos estar juntos a nossos queridos ou amigos. Questionamos o valor da vida, principalmente quando somos colocados diante

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de fatos inusitados e aparentemente inexplicáveis, como o atentado ao Word Trade Center, no dia 11 de setembro de 2001, ou quando observamos a realidade de miséria e morte na África ou na esquina da nossa rua. Sobre esta angústia e busca até mesmo Santo Agostinho, no período medieval, chega a confessar que passou muito tempo “procurando” a razão de tal vazio – encontrando suas respostas em Cristo, ele diz: “Tarde te amei!”. Uma resposta para a questão existencial não é algo tão simples nem tão complexo, pois Deus se faz conhecer a partir do mistério, entendido e compreendido como aquilo que, quanto mais se conhece, mais se tem para conhecer. Não é tão simples responder a questão do porquê estamos aqui se não encontramos esta resposta no outro e no Outro (Transcendente/Deus). Diante disso tudo, quando analisamos os objetivos gerais do Ensino Religioso, conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Religioso, deparamo-nos com a necessidade de propiciar ao nosso alunado a oportunidade de relacionar-se com o Transcendente, respeitando seu credo ou sua opção religiosa, mas buscando as respostas para estas questões existenciais.

O conhecimento religioso, assim como todo conhecimento humano, é o conjunto das respostas sistematizadas às questões e problemas fundamentais que fazem parte da vida humana. Assim, conhecer é, antes de qualquer coisa, formular problemas que inquietam a inteligência e construir respostas sistematizadas e legítimas (FONAPER, 2000).

Cabe então, ao Ensino Religioso Escolar, propiciar ao alunado uma oportunidade de encontro experiencial com o fator transcendente, compreendendo o sentido de existir, de ser e sua missão enquanto cidadão universal.

A MÚSICA NA EDUCAÇÃO RELIGIOSA

Após termos aprofundado a questão da inteligência sob o prisma dos novos paradigmas, de estudarmos a inteligência musical e a inteligência espiritual com as suas conjunturas, resta-nos, agora, pensar sobre a aplicabilidade de tal proposta. O desenvolvimento que propomos em sala de aula baseia-se na premissa de que “há milhares de anos, quando o ser humano ainda não existia, já havia

som neste mundo maravilhoso que Deus criou” (ZIMMERMANN, 1999, p. 05), e que é num mundo tão cheio de sons que o ser humano foi criado e vive, fazendo deles uma das formas de comunicação com o Criador. A música facilita a expressão, sabe dizer o “indizível”, comunica povos diferentes e propicia o encontro com o Transcendente. Em todas as épocas, as religiões utilizaram-se da música como meio de comunicação entre si e com o Outro. Também nos seus cultos, nos seus

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rituais, em todos os tempos e templos mais diversificados, a música tem sido elemento preponderante de comunicação com o Transcendente. Empregar a música nas aulas do Ensino Religioso é saber utilizar uma ferramenta eficaz que possibilita ao educador facilitar o encontro do educando com o Transcendente. Se o ser humano utiliza a música em todas as dimensões da sua vida, por que não também utilizá-la na partilha do saber nas aulas do Ensino Religioso, quando muitas vezes a experiência mística trazida pelo aluno está conectada diretamente com um som ou com uma música? Nossa proposta orienta para que a música seja utilizada na dinâmica das aulas do Ensino Religioso Escolar, não só como um “enfeite” ou como animação, mas como recurso pedagógico. Cabendo a cada educador buscar sempre mais instrumentos que oportunizem a sua capacitação para a utilização deste recurso pedagógico. Antes de qualquer ação, o educador tem que ter em mente que o aluno não está isolado do mundo, e muito menos pensar que ele não sabe nada. Deve estar imbuído de que cada ser humano possui todas as inteligências e que cabe a ele, professor, ajudá-lo na descoberta destas inteligências (potencialidades). E como estamos diretamente falando sobre música e espiritualidade, o professor deverá entender bem estes conceitos, aplicá-lo a sua vida e, então, propor a metodologia ao seu alunado. Uma prática educativa que deseja obter êxito está fundamentada em uma teoria que ofereça todos os elementos didáticos, práticos e educacionais com alcance de fundamentação e de condução de atuação. Não basta chegar à sala de aula com um instrumento musical ou com um aparelho de som e “jogar” músicas sobre os alunos. A música deve estar prevista já no planejamento da aula do profissional de educação. Ela deve aparecer como recurso didático bem aplicado. Caso isso não seja feito, os alunos perceberão e o resgate do valor da música será mais difícil e quase impossível. Para se dar início à introdução da musicalidade na sala de aula de Ensino Religioso e alcançarmos o resultado esperado em toda a nossa proposta, propomos a seguinte metodologia, os seguintes passos:

1. inicialmente, observar as diversas atitudes das crianças ao chegarem à escola: o que utilizam para se comunicar (sinais, símbolos, cantos, músicas, expressões...). Relacione toda a observação;

2. verificar as canções que são mais utilizadas pelos educandos ou pela família em momentos de oração e momentos especiais da vida. Que pode ser realizada por meio de um questionário próprio ou uma conversa informal com os alunos;

3. despertar a capacidade de percepção de sons e ruídos: como a natureza se comunica e se relaciona. Discutir com os alunos a questão

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dos sons. Questione conceitos como: som, timbre, vibração, propagação do som...;

4. estimular a criança para o silêncio, sendo capaz de escutar os sons do próprio ambiente e depois incentivá-los e a transformar estes sons em música;

5. propiciar um momento especial de encontro com o Transcendente por meio da música. Iniciar com uma música já conhecida;

6. incentivar as crianças para a criação de novas músicas religiosas, que possibilitem o encontro dele com o Transcendente, utilizando-se de textos sagrados e dos acontecimentos práticos da vida cotidiana, como também da sua percepção e visão de mundo;

7. apresentar para as outras turmas todas as composições, criações e/ou paródias.

Estes passos são apenas uma forma de introduzir a música no Ensino Religioso. Cremos que seja oportuno utilizá-la, tendo em vista o seu processo pedagógico criativo, como a valorização da composição e da relação do alunado com o transcendente. É claro que muito mais poderá ser abordado, ou incluído neste processo. Depois da introdução da musicalidade por meio destes passos, o alunado está “pronto” para qualquer outra proposta de musicalidade ou aplicações musicais nas aulas do Ensino Religioso. É muito importante que o professor saiba adequar as músicas ao tema abordado ou discutido, levando sempre em consideração a opinião do aluno que, com uma maneira diferente de olhar o mundo, trará grandes contribuições para a sala de aula.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Educar para a integração é o desafio deste novo milênio. Educar em todas as dimensões, respeitando o ser e propiciando encontros consigo, com o outro e com o Transcendente é algo que emerge. Educar abandonando preceitos lógico-matemáticos e lingüísticos, para educar segundo as inteligências múltiplas é indispensável. É neste contexto histórico, respeitando o processo de cada um, que ousamos envolver a dinâmica da sala de aula de Ensino Religioso com algo tão antigo quanto próprio ser humano: a música. A música cabe em todo o processo metodológico do Ensino Religioso, perpassando suas fundamentações e alcançando os objetivos propostos sendo utilizada até mesmo no processo avaliativo. Sendo necessário apenas que o educador assimile o novo paradigma sobre inteligência e aplique em sua vida diária. A música, nas aulas do Ensino Religioso Escolar (ERE), favorece ao encontro das pessoas com as respostas para as grandes questões da vida e auxilia o

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encontro com o outro e com Transcendente, desenvolvendo o ser em todas as suas dimensões. Nossa “ousadia” far-se-á concluída quando o educando for capaz de utilizar-se dos sons da vida, dos sons a sua volta para musicalizar o seu encontro com os demais e com Aquele que transcende tudo e todos. Este encontro modificará o mundo.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS

DIÁLOGO – REVISTA DE ENSINO RELIGIOSO. A Música na Educação. Paulinas. Agosto de 1999. nº 15 – ANO IV. FORUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO (FONAPER). Ensino Religioso: Referencial Curricular para a Proposta Pedagógica da Escola. Caderno Temático nº 01. 2000. WOLMAN, Richard N, Ph. D. Inteligência Espiritual. Tradução de Geni Hirata. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. ZIMMERMANN, Nilsa, A Magia do Som. Diálogo - Revista de Ensino Religioso. São Paulo, ano IV, nº 15, p. 5-8, ago., 1999.

Pedagogo, professor de Ensino Religioso Escolar do Colégio Santa Madalena Sofia, professor de Filosofia e Sociologia na Rede Estadual de Ensino de Alagoas e aluno do Curso de Especialização em Docência do Ensino Superior da Universidade Castelo Branco-RJ e do Curso de Mídias na Educação (SEED/MEC).

Apesar da postura e discussão de Wolman sobre o não julgamento ou medição da Inteligência Espiritual, ele desenvolveu – e publicou – o PsychoMatrix Spirituality Inventory (PSI) um questionário que ajuda as pessoas a verificarem suas posturas em relação à dimensão espiritual. Cf. www.psychomatrix.com

O conceito de Inteligência Espiritual apresentado está em íntima conexão com a proposta do Ensino Religioso pois coloca a espiritualidade como parte integral da pessoa humana, deixando de lado a teoria da mera aquisição de conteúdos. Segundo as orientações do Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso (FONAPER) “trabalhar o conhecimento religioso é pensar, refletir

com base em fundamentos epistemológicos. Logo, conhecimento religioso tem

a ver com epistemologia e não com apreensão de conteúdos programados

anteriormente”.

1 Pedagogo, professor de Ensino Religioso Escolar do Colégio Santa Madalena

Sofia, professor de Filosofia e Sociologia na Rede Estadual de Ensino de

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Alagoas e aluno do Curso de Especialização em Docência do Ensino Superior

da Universidade Castelo Branco-RJ e do Curso de Mídias na Educação

(SEED/MEC).

2 Apesar da postura e discussão de Wolman sobre o não julgamento ou

medição da Inteligência Espiritual, ele desenvolveu – e publicou – o

PsychoMatrix Spirituality Inventory (PSI) um questionário que ajuda as

pessoas a verificarem suas posturas em relação à dimensão espiritual. Cf.

www.psychomatrix.com

3 O conceito de Inteligência Espiritual apresentado está em íntima conexão

com a proposta do Ensino Religioso pois coloca a espiritualidade como parte

integral da pessoa humana, deixando de lado a teoria da mera aquisição de

conteúdos. Segundo as orientações do Fórum Nacional Permanente do Ensino

Religioso (FONAPER) “trabalhar o conhecimento religioso é pensar, refletir

com base em fundamentos epistemológicos. Logo, conhecimento religioso tem

a ver com epistemologia e não com apreensão de conteúdos programados

anteriormente”.

6º - Artigo FORMAÇÃO DE PROFESSORES E NOVAS TECNOLOGIAS

Junho / 07

POSSIBILIDADES E DESAFIOS DA UTILIZAÇÃO DE WEBQUEST E WEBFÓLIO NA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES

Fernando Silvio Cavalcante Pimentel1

RESUMO Toda e qualquer profissão exige de seus profissionais, seja ela da área que for, uma formação constante, até mesmo porque o mundo está em contínua evolução e não há como o ser humano assimilar todo o saber que a sociedade foi produzindo no percorrer dos séculos. No entendimento da formação dos educadores muito há o que se analisar, mas faz-se mister que eles possam ser educados com e para as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC’s). O Webfólio e o WebQuest têm sido duas ferramentas que apontam muitas vantagens, até porque possibilitam ao educador em processo de formação que possa ter as oportunidades que a Internet dispõe como elemento agregador de valor ao seu processo de construção e re-elaboração do conhecimento. Apesar dos desafios que elas compreendem, cabe ao educador uma disposição de investigador e pesquisador para utilizar estas ferramentas no seu processo de formação como também no seu desenvolvimento profissional.

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PALAVRAS-CHAVE Webfólio, WebQuest, Formação de Professores, Educação, Tecnologia da

Informação e Comunicação (TIC)

SUMMARY All and any profession demands from their professionals, whatever it is, a Constant formation, even because the world is in continuous evolution and there is no way as the human being to assimilate the whole knowledge that the society was producing through the century. In the understanding of the educator formation there is a lot to analyze, but it is necessary to be educated with and for the Technologies of the Information and Communication (TIC’s). Webfolio and WebQuest have been two tools that have a lot of advantages, especially because they make possible the educator in formation process that can have the opportunities that Internet disposes as aggregator element of value to its construction process and reverse elaboration of the knowledge. In spite of the challenges that they understand, it is for the responsibility of the educator of the disposition of being investigator and researcher to use these tools in his formation process as well as in his professional development.

KEYWORDS Webfolio, Web Quest, Formation of Teachers, Education, Technology of the Information and Communication. ( TIC )

INTRODUÇÃO Já faz alguns anos que muitos educadores entraram em um verdadeiro “pânico”, quando perceberam que as novas tecnologias da informação e comunicação (TIC’s) estavam adentrando o espaço educacional nos diferentes níveis, inclusive oportunizando uma dinâmica toda especial para os cursos realizados na modalidade a distância. Em todo o mundo surgiram várias propostas para adaptar o computador à dinâmica da sala de aula, na tentativa de acompanhar os avanços tecnológicos e possibilitar a adequação necessária para as metodologias que em muitos casos ficou estagnada no passado. Atrelada a esta concepção de mudança do paradigma tecnológico e educacional está a compreensão de que o papel do profissional de educação na atualidade não é mais o de repassar conhecimentos acumulados e sim de estimular os alunos a aprenderem a buscar e selecionar as fontes de informações disponíveis para a construção do conhecimento. Em contraposição à certeza emergente da virtualidade das informações disponibilizadas na WWW, constatamos que o uso das novas tecnologias ainda não se encontra incorporado aos diversos cursos na sua gênese curricular. Na

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verdade, nem mesmo as antigas tecnologias ainda foram adequadamente incorporadas com convicção e apropriação de seu uso no planejamento dos professores e na sala de aula. Para que isso aconteça todos precisam de uma nova visão de mundo... e de uma formação conectada à sociedade tecnológica sustentável, pois também é inútil avançar, tecnologicamente, e termos num paralelo marginal uma grande parcela da sociedade excluída digitalmente e economicamente. O medo do desconhecido só se vence tornando-o conhecido. O profissional professor competente é fruto de uma atitude de ascendência, ou seja, não pode limitar-se em si mesmo. Precisa configurar o seu saber com a gama de saberes que se ofertam a cada dia, seja por meio de outros educadores, por meio de cursos, do uso das tecnologias e mídias ou até mesmo na partilha despretensiosa com os alunos. Desde o surgimento do computador e de sua global democratização, como também a disponibilidade da rede mundial de computadores, muitos recursos surgiram para que a educação, educadores e educandos possam estar interagindo com as mídias e com as TIC’s. Aqui analisamos a proposta da utilização de dois recursos virtuais de aprendizagem (e avaliação) denominados de WebQuest e Webfólio e que estão povoando as universidades e escolas como propostas efetivas da utilização equacionada. POSSIBILIDADES DA UTILIZAÇÃO DO WEBFÓLIO NA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES

O computador vem a ser um instrumento, entre tantos outros, que o professor utiliza para acompanhar o aluno nas suas relações, as quais são mediadas e/ou iniciadas no ambiente escolar, não podendo ser visto como um fim em si mesmo, mas como um instrumento que oportuniza as relações. Quando o assunto é a formação do educador para o uso das novas tecnologias há uma observação importante e que se precisa destacar, já postulado por MERCADO: Na formação de professores, é exigido dos professores que saibam incorporar e utilizar as novas tecnologias no processo de aprendizagem, exigindo-se uma nova configuração do processo didático e metodológico tradicionalmente usado em nossas escolas nas quais a função do aluno é a de mero receptor de informações e uma inserção crítica dos envolvidos, formação adequada e propostas de projetos inovadores. (1999. p. 12)

Mas a inclusão das TIC’s no processo educacional implica em outras questões que podem passar despercebidas. Araújo, inclusive adverte: O valor da tecnologia na educação é derivado inteiramente da sua aplicação. Saber direcionar o uso da Internet na sala de aula deve ser uma atividade de responsabilidade, pois exige que o professor preze, dentro da perspectiva

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progressista, a construção do conhecimento, de modo a contemplar o desenvolvimento de habilidades cognitivas que instigam o aluno a refletir e compreender, conforme acessam, armazenam, manipulam e analisam as informações que sondam na Internet. (2005, p. 23-24)

Neste sentido é que se entende que a formação do educador seja para além do técnico, além da mera utilização do aparato tecnológico que se pode ter. Não é a quantidade e a qualidade dos equipamentos que irão garantir que a formação será de qualidade. Para irmos além deste pensamento tecnológico ALMEIDA & PRADO relembra que (...) para evitar ou superar o uso ingênuo dessas tecnologias, é fundamental conhecer as novas formas de aprender e de ensinar, bem como de produzir, comunicar e representar conhecimento, possibilitadas por esses recursos, que favoreçam a democracia e a integração social. (2006).

No caso do webfólio, o que se propõe é a criação de um ambiente de aprendizagem que ultrapassa o modelo escolar vigente. Democratizando e inserindo as pessoas num mundo que, a cada dia, vincula-se as relações virtuais como possibilidade de avanço, de libertação. Neste espaço de interação o que o educador-aluno2 precisa encontrar é um espaço para debate/fórum/opiniões. Hipertextos para o cotidiano e para aprofundamento. Atividades e feedback do monitor ou do educador e, principalmente, interatividade, sendo um grande incentivo e motivação para que o educador-aluno possa acompanhar através da web suas produções durante o percurso de seus estudos, extrapolando o espaço de sala de aula, construindo com sua aprendizagem concreta um espaço virtual. O instrumento webfólio vem inovando o tratamento dado à educação, principalmente ao item avaliação, numa concepção diferenciada para o processo de aprendizagem, com a intervenção do educador como mediador na construção do saber, sendo uma proposta baseada na Lei 9.394/96, no Capítulo 2, que instrui a verificação do rendimento do desempenho do aluno como uma ação contínua e cumulativa, prevalecendo os aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais. O webfólio é, na busca de uma conceituação, um instrumento que compreende a compilação de todos os trabalhos (produções) realizados pelo aluno (e do aluno-educador) durante o projeto ou durante uma unidade, semestre ou ano letivo, sendo constituído de registro de visitas, resumos de textos, resenhas de vídeos, projetos e relatórios de experiências na sala de aula ou extra-sala. Inclui ainda ensaios auto-reflexivos (auto-avaliação), o que permite ao usuário a discussão de como tem sido sua experiência no projeto. Digamos que o webfólio é a versão on-line do portfólio. Podemos dar significado a palavra dizendo: WEB = REDE, FÓLIO= PORTA-FOLHAS. Um outro aspecto muito importante é que o processo de formação sai dos

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limites de um espaço físico, ficando ao alcance do usuário em qualquer lugar que ele esteja, tornando possível a educação a distância, um outro paradigma que está sendo muito explorado neste início de novo milênio. A utilização do webfólio compreende vários aspectos, entre eles educar para a competência informática, que é uma exigência dos novos tempos, já que estar desinformado na área tecnológica cria uma barreira excludente no mercado de trabalho. Significa educar para a ética, já que os alunos são conduzidos para a própria produção de textos, abandonando o plágio. Possibilita educar as relações pessoais e interpessoais, já que aos alunos é sugerida a intervenção no webfólio de seus pares. E constitui educar para a autonomia, pois cada aluno avança no seu próprio tempo e ao educador é solicitado o respeito ao caminhar de cada um na sua relação com a aprendizagem. POSSIBILIDADES DA UTILIZAÇÃO DO WEBQUEST NA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES

Adequar o espaço virtual à educação é uma tarefa que exige muita disciplina e um espírito de pesquisa. O uso das tecnologias na formação do educador tem sido um ponto referencial na busca de ofertar uma educação de qualidade, e que oportunize ao aluno-educador uma reflexão de sua vida, analisando e comparando seus conhecimentos no incentivo de uma construção permanente do seu saber, ao mesmo tempo em que se observa ser este SABER fruto de uma interação entre saberes. Navegar na internet pode ser um processo valioso de busca de informações na construção do conhecimento, gerando um ambiente interativo facilitador e motivador de aprendizagem, bem como pode ser um dispersivo e inútil coletar dados sem relevância que não agregam qualidade pedagógica ao uso da Internet. Foi pensando assim que Bernie Dodge criou, inspirado na metodologia de projetos, o que ele mesmo denominou de WebQuest: uma metodologia de pesquisa na internet, voltada para o processo educacional, estimulando a pesquisa e o pensamento crítico. A metodologia do Webquest pretende ser efetivamente uma forma de estimular a pesquisa, o pensamento crítico, o desenvolvimento de professores, a produção de materiais e a construção de conhecimento por parte dos alunos. Em linhas gerais, uma WebQuest parte da definição de um tema e objetivos por parte do professor, uma pesquisa inicial e disponibilização de links selecionados acerca do assunto, para consulta orientada dos alunos. Estes devem ter uma tarefa exeqüível e interessante que norteie a pesquisa. Para o trabalho em grupos, os alunos devem assumir papéis diferentes, como o de especialistas, visando gerar trocas entre eles. Tanto o material inicial como os resultados devem ser publicados na web, on-line.

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Consideramos que a WebQuest é mais uma ferramenta que soma às estratégias e metodologias de ensino, sendo sua característica principal promover a aprendizagem significativa, onde a construção do conhecimento é viabilizada pela utilização dos recursos da Internet. Não sãos os recursos que geram a aprendizagem, Esta é a exploração das diversas informações que os recursos tornam acessíveis. (ARAÚJO, 2005, p. 32-33)

Cabe então ao educador que está no processo de formação observar que este recurso é mais uma ferramenta e não um fim em si mesmo, que ele precisa compreender bem a pedagogia de projetos para que possa então utilizar-se de uma WebQuest para sua própria formação como também para ministrar suas aulas. O WebQuest em si não exige softwares específicos além dos utilizados comumente para navegar na rede, produzir páginas, textos e imagens. Isso faz com que seja muito fácil usar a capacidade instalada, sem restrição de plataforma ou soluções, centrando a produção de WebQuests na metodologia pedagógica e na formação dos docentes. Elas podem ser definidas como de curto prazo (até uma semana) ou de longo prazo (de uma semana até um mês ou mais). Com o WebQuest, trabalha-se em forma de projetos de pesquisa, utilizando a idéia de aprendizagem colaborativa, sua proposta de trabalho não é feita aleatoriamente, mas com toda uma metodologia e didática que envolve o aluno do início ao fim do projeto. Na realidade da formação inicial e da formação continuada de educadores, o WebQuest tem oportunizado uma retomada do espírito científico, já que exige dos participantes a disposição para a pesquisa, a leitura e a produção textual (nas mais diferentes formas). Neste sentido, MARINHO (2003), citando Kenski, nos relembra que “a ação docente no ambiente virtual ‘não requer apenas

uma mudança metodológica, mas uma percepção do que é ensinar e

aprender’” (p. 100-101).

DESAFIOS DA UTILIZAÇÃO DE WEBQUEST E WEBFÓLIO NA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES

Apesar de toda exigência para que os educadores possam estar diretamente inseridos no processo de inclusão digital e de serem protagonistas na pesquisa e desenvolvimento das tecnologias para utilização no meio educacional, muitos são os empecilhos, que aqui entendemos como desafios que precisam ser encarados de frente para que sejam contornados Um dos desafios apresentados encontra-se na resistência por parte de alguns docentes, que não conseguem vislumbrar os ganhos com a mudança de paradigma. Esta resistência se dá devido ao forte vínculo às práticas de ensino-aprendizagem que por muitas vezes prendem os professores à estrutura burocrática exigida pelas secretarias dos respectivos cursos. No

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nosso ponto de vista, esta resistência é decorrente do que ALMEIDA aponta como desconhecimento tecnológico, ou o desconhecimento de que a tecnologia não é neutra. Ela mesmo afirma que para compreender o pensamento humano, a sociedade, a cultura e a educação é essencial ir além dos condicionantes da cibercultura e analisar o papel da tecnologia como um suporte que permite estabelecer diálogo entre o indivíduo e o grupo, a virtualidade e a realidade, a razão e a emoção, o analógico e o digital. O potencial interativo do uso da TIC no ato pedagógico se revela na possibilidade de criação dialógica e intersubjetiva (...) (2003).

E é exatamente esta postura diante da tecnologia (pesquisadora e questionadora) que se torna ponto de resistência para o uso dos instrumentos aqui abordados (WebQuest e Webfólio) como de outros instrumentos tecnológicos ou que usam, em algum princípio, alguma TIC. Outro dado importante é a resistência de alguns discentes que não acreditam no processo, ou que ainda não criaram o hábito de escrever sistematicamente – que é a maior exigência num estilo de aprendizagem que usa o webfólio ou o webquest como instrumento, além da exigência de um planejamento rigoroso por parte dos educadores, que não conseguem acompanhar e ler as produções dos educandos quando não se planejam destinando um tempo para estas atividades de acompanhamento das produções dos discentes. A utilização do webfólio e do webquest como instrumentos de ensino-aprendizagem na formação continuada dos docentes aponta ainda para um desafio que precisa ser superado: a falta de familiaridade dos educadores com o ambiente virtual proporcionado pelas novas tecnologias da informação e comunicação. Muitos educadores, ainda por falta de uma formação adequada, não se sentem “prontos” para a utilização dos recursos da informática. Outro desafio encontrado para a utilização do webfólio e do webquest é de natureza estrutural. As faculdades não disponibilizam um profissional que possa apoiar os professores na elaboração e construção dos sites para webfólio e webquest. Os programas aplicativos de criação de websites não são tão simples de serem utilizados e a criação por empresas ou particulares demanda um custo que muitas vezes não é visto como um ganho no processo educacional. Ainda na questão estrutural encontramos a resistência por estarem presos aos antigos paradigmas avaliativos e pela falta de disponibilidade de tempo ou ainda por não possuírem computadores com acesso à rede mundial de computadores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Quem educará os educadores?” (MORIN, 2005, p. 23) A pergunta que Morin faz remete-nos a uma resposta quase que imediata: precisamos adequar a nossa formação para que ela possa atender a este “Novo Mundo” no qual vivemos hoje. E neste mundo, a cada dia, novas ferramentas tecnológicas

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estão à nossa porta. É preciso pensar que - muito mais do que a própria ideologia neoliberal que aponta a exigência da formação para que se possa ter títulos – necessitamos de uma formação (e auto-formação como também sugere Morin) que possa avançar na ciência, no estudo do objeto e de suas relações. Quando nos deparamos com o processo de formação inicial e de formação continuada dos educadores, e neste “ambiente” encontramos as TIC’s, urge uma nova postura por parte do aluno-educador. Uma postura de abertura e de busca, ao mesmo tempo. O Webfólio, quando bem desenvolvido e bem aplicado, se converte num ingrediente muito útil para o usuário, já que ele possibilita uma visualização do desenvolvimento do alunos e do curso. Suas vantagens são diversas, inclusive no que tange à avaliação. Porém sua maior dificuldade (ou desafio) é da resistência para com uso das tecnologias e o despreparo institucional para que seja usado com afinco e excelência. O WebQuest tem se mostrado, nos diversos níveis de ensino que é utilizado, uma ferramenta poderosa de investigação orientada. Isso pelo simples fato de que, por estar baseada na pedagogia de projetos, ela torna o processo de pesquisa utilizando a internet algo mais útil e prazeroso, não perdendo tempo com a separação entre aquilo que realmente é concreto e aquilo é posto como “lixo eletrônico”. O grande desafio da formação continuada ou inicial dos educadores se deve ao fato do despreparo para a metodologia de pesquisa orientada. Ainda encontramos (e muito) uma falta de conhecimento incrível sobre o que se deseja realmente quando o tema é pesquisa. Consideradas as vantagens e analisando os desafios lançamos, como uma “cutucada num leão com vara curta”, o questionamento de BLIKSTEIN E ZUFFO: Em nossas escolas, qual seria o uso mais revolucionário das tecnologias? Aquele em que os alunos seguem passo-a-passo ou quando empreendem projetos pelos quais são interessados e apaixonados, fora dos estritos regulamentos de conduta e comportamento? (2003, p. 26)

Cabe então a cada um de nós uma resposta. E que seja coerente com as nossas posturas e coerente com os nossos discursos.

Referências bibliográficas

ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini de, Educação, ambientes virtuais e interatividade. In: SILVA, Marco (org.). Educação Online. São Paulo: Loyola, 2003. ______, & PRADO, Maria E. B. B. Integração tecnológica, linguagem e representação. Disponível em: http://www.tvebrasil.com.br/salto. Acesso em 10 de agosto de 2006.

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ARAÚJO, Rosana Sarita de. Contribuições da Metodologia WebQuest no Processo de letramento dos alunos nas séries iniciais no Ensino Fundamental. In: MERCADO, Luís Paulo Leopoldo (org.). Vivências com Aprendizagem na Internet. Maceió: Edufal, 2005. BLIKSTEIN, Paulo e ZUFFO, Marcelo Knörich. As sereias do ensino eletrônico. In: SILVA, Marco (org.). Educação Online. São Paulo: Loyola, 2003. MARINHO, Simão Pedro P. Conferência Interativa no Ciberespaço: uma experiência de educação a distância em um curso de especialização. In: VALLIN, Celso [et al]; Organizadores: José Armando Valente, Maria Elizabette B. Brito Prado, Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida. Educação a Distância Via Internet. São Paulo: Avercamp, 2003. MERCADO, Luis Paulo. Formação Continuada de Professores e Novas Tecnologias. Maceió: Edufal, 1999. MORIN, Edgar. Educação e Complexidade: os sete saberes e outros ensaios. Trad. Edgard de Assis Carvalho. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2005.

1 Pedagogo, professor de Ensino Religioso Escolar do Colégio Santa Madalena

Sofia, professor de Filosofia e Sociologia na Rede Estadual de Ensino de

Alagoas e aluno do Curso de Especialização em Docência do Ensino Superior

da Universidade Castelo Branco-RJ e do Curso de Mídias na Educação

(SEED/MEC).

2 Neste artigo, para uma melhor compreensão, utilizamos a nomenclatura

EDUCADOR-ALUNO para designar o EDUCADOR que está no processo de

formação, seja ela continuada/permanente seja ela inicial (graduação).

7º - Artigo ACAMPAMENTOS PEDAGÓGICOS – APRENDENDO SOBRE

AUTONOMIA E LIBERDADE

Fernando Silvio Cavalcante Pimentel 1 Não é de hoje que acampar é uma das formas mais prazerosas de aprender. Os americanos que o digam! Anualmente centenas de campings são tomados por crianças, jovens e adultos – seja em acampamentos de cunho escolar, seja acampamentos religiosos ou de formação empresarial ou de férias. A proposta de acampar é permeada por objetivos operacionais, pois

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oportunizam o reconhecimento de elementos ou aspectos do cotidiano que são despercebidos no corre-corre da vida. Dependendo da proposta, um acampamento pode ser elaborado até mesmo no intento de formação profissional (direcionando-se para grupos empresariais) ou para a formação integral da pessoa, possibilitando uma verdadeira viagem interior, percebendose e percebendo o outro. No caso do acampamento pedagógico, uma gama de elementos podem ser agregados, perpassando pela consciência de que somos dotados de múltiplas inteligências e percebendo que num acampamento – além dos valores como amizade, cooperação, superação e partilha – a autonomia e a liberdade do indivíduo são estimuladas. A autonomia. É comum, inclusive sendo uma das características da chamada “modernidade líquida” (Bauman), a pessoa se perder em si mesma tentando encontrar a sua própria identidade (Castells). Esta busca de si e de significadoé enclausurada pelo sistema que vivemos. Tornamo-nos presos de nós mesmos e escravos dos ritos e rituais de uma sociedade viciada no ter, no poder e no prazer. Num acampamento pedagógico (em especial) autonomia é então estimulada em atividades que exigem do campista a tomada de decisões sem a interferência de elementos (que denominamos de elementos de 2º plano) que não são essenciais. O campista tem que tomar conta de si, sem estereótipos ou paradigmas que ditem o como e o quando ele tem que agir. Atividades como gincanas de cooperação trabalham muito bem essa questão da autonomia pois exigem que o campista seja dono de si mesmo para poder então cooperar co o outro, com sua equipe. Atividades simples como a arrumação das malas (bagagens) ou o ato de arrumar a própria cama trabalham bem esta dimensão. A liberdade. Inicialmente precisamos lembrar que a liberdade é um tema que envolve muita discussão, principalmente no campo filosófico, mas aqui queremos apontar o entendimento partindo do educador Paulo Freire. Para Freire, “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão” (1987,p. 52). A liberdade encontra-se na relação com os outros numa visão holística e transcendental. Num acampamento esta proposta de liberdade é vivenciada em cada momento

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que o campista pode encontrar-se e encontrar com a realidade que o cerca, fazendo-o “senhor de si” e dando-lhe a oportunidade de, revendo suas atitudes, escolher aquilo que é melhor (e mais saudável) para si, para o outro e para o todo que está ao seu redor. A liberdade não está no simples fato de querer e poder fazer e ponto final. Ela está no fato de poder escolher – com os outros – o que significará num ganho maior (e aqui não se trata de questões capitalistas e lucrativas) para todos. Um exemplo prático: em duas propostas de acampamento que desenvolvo em parceria com a Cia do Lazer agregamos à programação um período de tempo que a Cia do Lazer denomina de CCL (Conselho de Convivência Livre): nada mais nada menos que a oportunidade do campista exercer a sua própria liberdade, que será posta em conselho/assembléia pelo simples fato de poder – naquele momento – por seus desejos e vontades em confronto direto com os desejos e vontades dos outros. Tudo isso sem o uso de qualquer coação ou jogo de interesses/poder. Não há dominantes ou dominados, opressores ou oprimidos. Há uma relação entre iguais, num verdadeiro exercício de cidadania. Um outro aspecto muito importante para o desenvolvimento de acampamentos pedagógicos é a formação daqueles que estarão desenvolvendo ou instruindo as atividades e daqueles que estão acompanhando os campistas. Esta formação é algo que venho defendendo (junto com outros educadores) com muito afinco, até mesmo tomando como referência uma abordagem sistêmica, postulando que não se importar por um dos aspectos, por mais simples que ele seja, influencia no todo da questão. Comprometer a formação é comprometer todo o acampamento. Num outro momento estaremos analisando algumas propostas de formação específica para educadores que pretendem usar ou promover acampamentos pedagógicos. Por enquanto podemos concluir que acampar é sempre uma ótima forma de chegar a sua própria essência. Acampar é encontrar-se, encontrar com o outro e encontrar com uma realidade que transcende nosso próprio entendimento. 1 Pedagogo, professor de Ensino Religioso Escolar na rede particular, professor de Filosofia e Sociologia na Rede Estadual de Ensino de Alagoas. Especialista em Docência do Ensino Superior da Universidade Castelo Branco-RJ. Desenvolve acampamentos pedagógicos e religiosos desde 1996.

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8º - Artigo O QUE É UM ACAMPAMENTO PEDAGÓGICO?

Janeiro/ 09

Os acampamentos já existem há mais de um século em todo o mundo e tem alguns registros datados de 1861, nos Estados Unidos da América (USA). No Brasil esta ação é bem mais recente e a primeira delas é de 1927 através da Associação Cristã de Moços – ACM. Entretanto, na Região (Nordeste) este movimento não é muito conhecido e identifica-se algumas ações datadas de 1971 – Acampamento Palavra da Vida - transformando esta proposta pedagógica muito recente e difícil de entender. Quebrar este paradigma é um grande desafio, pois a maioria das pessoas não conhece esta importante ferramenta como recurso educacional e para muitos “acampar” ainda significa simplesmente viver ao ar livre ou cuidar da casa num ambiente natural, sugerindo a vida em barracas, cabanas, dormindo no chão e vendo as estrelas. Na realidade, esta proposta essencialmente educacional diferenciada vai muito além dos conteúdos pedagógicos aplicados pela escola e cobrado pelas famílias. Percebe-se claramente que as escolas estão aquém de uma pedagogia do brincar com suas grades curriculares repletas de tarefas numa perspectiva futura, já de preparação para o mercado de trabalho, com a falsa impressão de que, ao usar o tempo ocioso para atividade lúdica, a criança estará perdendo tempo e, muitas vezes, os adultos tentam dirigir e enquadrar esse “tempo ocioso” com atividades que parecem lúdicas. "Na verdade, as atividades muito dirigidas inibem a capacidade de criar, fundamental para o desenvolvimento psíquico. Esse espaço ocioso é importante para iniciativa, espontaneidade, liderança, criatividade". (Psicanalista Vera Iaconelli - 2006). Os Acampamentos Pedagógicos, em sua grande maioria, têm uma proposta filosófica voltada para uma formação holística embasada nos quatro pilares da educação, valorizando de forma significativa as competências e relações humanas. Trazendo a importância desta atividade para a formação de crianças, jovens e adultos saudáveis é que identifica-se que seu principal instrumento de transformação é a brincadeira, que é através do ato de brincar que descobre-se o seu eu e que somente o brincar produz uma experiência cultural e verdadeira como diz Winnicott (1975), percebe-se, então, a contribuição que os Acampamentos Pedagógicos têm na formação das crianças e jovens em parceria com as escolas e famílias. Na atividade lúdica a criança vivencia o mundo de forma plena, descobre o seu corpo e traz para dentro do seu universo sua realidade através de experiências de perdas, alegrias, conquistas, decisões, refletindo e construindo o seu aprendizado. Pode-se dessa forma estabelecer com muita

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propriedade que a brincadeira é, sem dúvida alguma, a melhor metodologia para educar/transformar crianças, pois por meio delas constrói-se e reconstrói-se a todo o momento papéis, funções e ações, refletindo sobre o cotidiano, além de ampliar a linguagem, estabelecendo novos conceitos e criando novas relações com os outros, a partir de um simples jogo onde há regras, vencedores, ganhadores, possibilidades e desafios a serem vencidos. Dentro dessa perspectiva, identifica-se que os Acampamentos Pedagógicos exercem uma ponte fundamental nas relações entre a escola e o brincar, pois utiliza a ludicidade como instrumento de aprendizado, quebrando o enorme paradigma entre obrigação e prazer. Pode-se ainda reforçar este pensamento através da Constituição Brasileira que em seu artigo 227 de 1988, afirma que a família, assim como a sociedade e o estado, são os seus principais responsáveis para garantir com prioridade máxima o direito à vida a todas as nossas crianças, e ainda vale a pena citar um pequeno trecho da “Carta do Lazer” que está na Declaração dos Direitos da Criança de 1959:

A criança deve desfrutar plenamente de jogos e brincadeiras, os quais deverão estar dirigidos para a educação; a sociedade e as autoridades públicas se esforçarão para promover o exercício deste direito”. (Declaração dos Direitos da Criança, 1959, p. 82).

Acreditando ainda que a educação pode ser encarada como uma proposta vivida e uma grande aventura, os acampamentos tornam-se ambientes perfeitos para essa experiência, desenvolvendo habilidades, valores, conhecimentos, aprendizado, criticidade, comprometimento e uma diversidade de atividades, construídas pelo prazer e pela brincadeira, que é sua principal linguagem para adquirir novas situações e criar outras regras, desenvolvendo vários aspectos sociais, emocionais, cognitivos, motores e trazendo o mundo simbólico para bem perto, ao mesmo tempo não se desfazendo do real. Rose Jarocki Pedagoga