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4º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais De 22 a 26 de julho de 2013. O CONHECIMENTO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS COMO EXIGÊNCIA CURRICULAR NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS NO BRASIL Instituições Internacionais Artigo completo João NackleUrt Universidade Federal da Grande Dourados Universidade de Brasília Rainne Feitoza do Nascimento Universidade Federal da Grande Dourados Belo Horizonte 2013

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4º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais

De 22 a 26 de julho de 2013.

O CONHECIMENTO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS COMO EXIGÊNCIA CURRICULAR NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO

EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS NO BRASIL

Instituições Internacionais

Artigo completo

João NackleUrt Universidade Federal da Grande Dourados

Universidade de Brasília

Rainne Feitoza do Nascimento Universidade Federal da Grande Dourados

Belo Horizonte 2013

Page 2: 4º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações ... · Fonte: Neves, 2008. ... PUC-RJ, PUC-SP, UCB, UFF, UFPB, UFRGS, UFRJ, UFRR, UFRRJ, UFS, UFSC, UFSM, UFU, UnB,

João NackleUrt

Rainne Feitoza do Nascimento

O conhecimento de línguas estrangeiras como exigência curricular nos cursos de graduação em Relações Internacionais no Brasil

Trabalhosubmetido e apresentado no 4º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais – ABRI.

Belo Horizonte 2013

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RESUMO

A expansão da oferta da graduação em Relações Internacionais ao longo

das duas últimas décadas levou o curso a novos espaços e públicos, o que demanda

reflexão sobre sua estrutura curricular, exigências e adequação aos objetivos político-

estratégicos propostos. Não menos importante é indagar se essas exigências são

compatíveis com as demandas do mercado de trabalho, a fim de garantir que o

egresso tenha boa inserção profissional, seja nos mercados tradicionais ou nos mais

recentes.

Entre os muitos temas a serem tratados, está a exigência de conhecimento

em línguas estrangeiras. Parece haver pouca dúvida que o domínio da língua inglesa

e outros idiomas é importante. Todavia, cabem questionamentos: tal habilidade deve

ser exigida como requisito obrigatório para a obtenção do grau de bacharel? Se sim,

quantas e quais línguas devem ser exigidas? Como essa exigência deve ser cobrada?

Inerente à democratização do acesso à graduação, está o desafio de incluir

estudantes com perfis socioeconômicos diferentes, oriundos de regiões onde o ensino

médio é mais precário e que por vezes não dispõem de renda para atividades como a

aprendizagem de línguas estrangeiras.

Surge a oportunidade para repensar a forma como tal exigência se

processa nos cursos mais antigos e como proceder a adaptações ao novo contexto.

Por meio de uma metodologia quantitativa e qualitativa, busca-se 1) levantar o estado

atual da exigência de conhecimento de línguas estrangeiras nos cursos de Relações

Internacionais no Brasil; 2) levantar a opinião dos Coordenadores de graduação na

área sobre a exigência de conhecimento de línguas estrangeiras, quanto à forma e

conteúdo; 3) confrontar o estado atual da exigência de conhecimento de línguas

estrangeiras nos cursos com os objetivos políticos e socioeconômicos dessa

formação, tanto em termos das demandas do mercado de trabalho, quanto dos

objetivos estratégicos envolvidos na expansão da oferta desse curso.

Palavras-Chave

Graduação em Relações Internacionais - Exigências curriculares - Línguas

estrangeiras: aprendizagem – Línguas estrangeiras: avaliação.

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O conhecimento de línguas estrangeiras como exigência curricular nos

cursos de graduação em Relações Internacionais no Brasil1

Introdução

A expansão da oferta da graduação em Relações Internacionais (RI) ao

longo das duas últimas décadas levou o curso a novos espaços e novos públicos, o

que demanda uma reflexão sobre sua estrutura curricular, suas exigências e sua

adequação aos objetivos políticos-estratégicos a que o curso se propõe. Não menos

importante é indagar se essas exigências são compatíveis com as demandas do

mercado de trabalho, a fim de garantir que o egresso do curso de Relações

Internacionais tenha boa inserção profissional, seja nos locais onde essa formação é

recente, seja disputando vagas nos mercados mais tradicionais.

Entre os muitos temas a serem tratados nessa discussão, está a questão

da exigência de conhecimento em línguas estrangeiras. Parece haver pouca dúvida

que o domínio da língua inglesa e outros idiomas seja essencial para o bom exercício

das habilidades esperadas de um profissional de Relações Internacionais. Com efeito,

o inglês é considerado atualmente a língua franca global: incluindo-se os falantes não-

nativos, é a língua mais falada no mundo, a principal língua de negócios e a língua

mais empregada na internet (ver Quadro 1).

Todavia, cabem os questionamentos: tal habilidade deve ser exigida como

requisito obrigatório para a obtenção do grau de bacharel em Relações Internacionais?

Se sim, quantas e quais línguas devem ser exigidas? Como essa exigência deve se

realizar na prática: por meio de oferta de disciplinas instrumentais específicas? ou por

meio de atestados e provas?

Essas e outras questões têm surgido em vários dos novos cursos de

Relações Internacionais no País. Inerente à democratização do acesso à formação em

RI está o desafio de incluir estudantes com perfis socioeconômicos diferentes,

oriundos de regiões onde o ensino médio é mais precário e que por vezes não

dispõem de renda suficiente para investir em atividades complementares, como a

aprendizagem de línguas estrangeiras. Surge aí também uma oportunidade para

1 Agradeço aos colegas Hermes Moreira Júnior e Adriana Kirchoff de Brum, que fizeram preciosos comentários durante a elaboração do trabalho.

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repensar a forma como tal exigência se processa nos cursos mais antigos, e se é

conveniente continuar nesse rumo ou proceder a adaptações ao novo contexto.

No caso particular do curso de Relações Internacionais da Universidade

Federal da Grande Dourados (UFGD), tive a oportunidade de acompanhar essa

questão nos anos de 2011 e 2012, quando assumi a função de Coordenador de

Graduação. Um imbróglio jurídico-administrativo gerou o adiamento da decisão quanto

à exigência de conhecimento de línguas estrangeiras nessa universidade, de modo

que a reflexão que ora se propõe visa também instrumentalizar a decisão que se

tomará em 2013 sobre o assunto.

Quadro 1: O inglês como língua franca global

O inglês como língua franca global

1,5 bilhões de falantes (estimativa)

320 milhões de falantes nativos

430 milhões de falantes são usuários da internet (29,4% do total; seguida pelo

chinês, com 18,9%, e pelo espanhol, com 8,5% dos usuários)

80% de toda a informação disponível na Internet está em inglês

70% dos comentários e e-mails são escritos e enviados em inglês

85% das instituições internacionais utilizam a língua inglesa como uma das

línguas de trabalho (49% utiliza o francês e menos de 10% utilizam o árabe,

espanhol ou alemão)

1/2dos negócios internacionais são efetuados em inglês

2/3 dos artigos científicossão escritos em inglês

Língua franca do turismo internacional, aviação e diplomacia

Fonte: Neves, 2008.

1 Metodologia empregada

O presente trabalho é uma pesquisa exploratória sobre o conhecimento de

línguas estrangeiras como exigência curricular nos cursos de graduação em Relações

Internacionais no Brasil. Inicialmente, buscou-se coletar dados por meio de

questionários enviados por e-mail aos Coordenadores de cursos de graduação em

Relações Internacionais no Brasil. Nos dois meses que se seguiram ao envio da

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mensagem, somente 11 respostas foram recebidas, o que não configurava uma

amostra estatisticamente significativa, diante do universo de 131 cursos. A análise das

respostas mostrava opiniões divididas sobre a questão da obrigatoriedade ou não do

conhecimento de idiomas, o que não permitia extrair uma conclusão clara. Não

obstante, as opiniões particulares dos professores que se manifestaram serão

referidas em tópico específico.

Na segunda etapa, diante das limitações de tempo, decidiu-se restringir o

universo da pesquisa a duas categorias de cursos: os oferecidos por Universidades

públicas e os oferecidos por Universidades católicas2. Em vez de questionários, a

coleta dos dados foi realizada por meio de consulta às páginas de internet das

Universidades, nas quais se levantou a situação atual da exigência curricular de

línguas estrangeiras nos cursos de Relações Internacionais. Alguns elementos

quantitativos foram acrescentados para caracterizar a expansão da área (p. ex.

número de cursos por Estado), bem como avaliar o mercado de trabalho (p. ex.

número de grandes empresas por Estado) e a importância do inglês para a área de RI

no Brasil.

Algumas ressalvas devem ser apresentadas desde já. Em primeiro lugar,

os dados quantitativos foram empregados meramente com objetivo descritivo, isto é,

buscar "obter, de conjuntos complexos, representações simples" a fim de facilitar o

entendimento. Não foram aplicados métodos estatísticos que permitissem extrair

inferências lógicas, isto é, "constatar se essas verificações simplificadas têm relações

entre si" (LAKATOS; MARCONI, 1995, p. 83). Essa prática metodológica descritiva é

legítima, na opinião de Biersteker (2009, p. 324).

Os dados coletados fornecem bom material para a reflexão sobre a

questão. Vale lembrar que a finalidade última do presente trabalho é indicar caminhos

viáveis para lidar com a obrigatoriedade da exigência de línguas estrangeiras no

currículo da graduação em RI3. Como todo estudo exploratório, o presente trabalho

tem apenas a pretensão de mapear o terreno empírico e dar início a uma reflexão

mais sistematizada, que poderá originar estudos mais aprofundados no futuro.

2 Os cursos pesquisados foram os das seguintes instituições (em ordem alfabética): PUC-GO, PUC-MG, PUC-RJ, PUC-SP, UCB, UFF, UFPB, UFRGS, UFRJ, UFRR, UFRRJ, UFS, UFSC, UFSM, UFU, UnB, UNESP-Franca, UNESP-Marília, UNIVALI e USP. A escolha das Universidades públicas se justifica porque é nessas instituições que ocorreu a expansão do curso de Relações Internacionais a partir de 2002 (ver tópico 5, adiante) e, assim como nas Universidades católicas, porque possuem alguns dos cursos de RI mais bem avaliados do Brasil, cujo exemplo vale ser observado. 3 As Diretrizes Nacionais Curriculares, em fase final de aprovação, preveem que os cursos de graduação em Relações Internacionais devem possibilitar a obtenção de “conhecimento ou habilidade de comunicação em língua estrangeira, em especial em língua inglesa” (art. 4º, inc. V) (ABRI, 2012).

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A pesquisa bibliográfica foi empregada para levantar ideias comumente

aceitas sobre a importância das línguas estrangeiras no mundo do trabalho, sobre o

inglês como língua franca, bem como sobre o percurso histórico da institucionalização

da área de RI.

2 A situação atual: Como se caracteriza a exigência curricular de

conhecimento de línguas estrangeiras nos cursos de graduação em

Relações Internacionais no Brasil?

A situação atual da exigência de línguas estrangeiras nos cursos de RI é

bastante dividida. Em 55% dos cursos pesquisados não existe nenhuma exigência,

isto é, cola-se grau em Relações Internacionais sem comprovar qualquer

conhecimento de línguas estrangeiras. Nos demais 45% dos cursos, o inglês é

obrigatório (ver Tabela 1, p. 8), sendo que em 25% dos cursos, exige-se o inglês e o

espanhol, e em 15% dos cursos, exige-se o inglês e outra língua da escolha do

estudante. Somente em 5% dos cursos, a exigência da prática de idiomas não é

específica sobre qual a língua obrigatória, podendo recair inclusive sobre o português.

Não há padronização sobre o nível da exigência. Dentre os cursos que

exigem o conhecimento de línguas estrangeiras, 67% permite que tal exigência seja

cumprida por meio de disciplinas específicas. A quantidade varia de uma disciplina de

inglês e uma disciplina de espanhol, como na UNESP-Marília, até três disciplinas de

inglês e três disciplinas de espanhol, como na UFRJ. Os outros 33% dos cursos

verificam a exigência por meio da aplicação de provas pela própria instituição.

Também existe a possibilidade, em 10% dos cursos, de ser dispensado das disciplinas

ou provas, por meio da apresentação de certificados de proficiência.

Pode-se observar que a expressão “proficiência” é empregada de

maneiras distintas conforme o contexto. Exames internacionais de proficiência testam

o domínio – que varia entre capacidades intermediárias e avançadas – das habilidades

linguísticas de ler, escrever, entender e falar. Já nos cursos de pós-graduação stricto

sensu, a palavra proficiência geralmente se refere à suficiência, ou àcapacidade de

leitura instrumental. Segundo Divardin, as provas de leiturainstrumental acabam sendo

pouco justas, confiáveis e coerentes, porque o sucesso nesse tipo de avaliação

depende diretamente do domínio da língua-alvo, isto é, o português. Parte do

resultado desse tipo de avaliação se refere à habilidade geral de leiturado

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indivíduo:“sem um mínimo de conhecimento da estrutura e vocabulário da língua-alvo,

o leitor,

Tabela 1 – Instituições e suas exigências de conhecimento em línguas estrangeiras na

graduação em Relações Internacionais

Instituição Exigência Provas e/ou dispensas PUC/SP É requisito curricular do curso de

Relações Internacionais a proficiência em duas línguas estrangeiras, sendo obrigatórios o inglês e mais um idioma a ser escolhido entre o espanhol ou o francês.

As provas de proficiência são administradas semestralmente pelo setor de vestibular. Há dispensa em caso de apresentação de certificados de proficiência ou aprovação em disciplinas de línguas oferecidas pela Instituição.

UCB Exige que o estudante complete duas disciplinas de proficiência em inglês e duas em espanhol.

UFRJ Exige que o estudante complete três disciplinas de inglês e três disciplinas de espanhol

UFRR Exige a realização de provas de proficiência em inglês e em espanhol

As provas de proficiência são oferecidas pelo Núcleo de Ensino de Línguas Estrangeiras da Instituição.

UFSC São obrigatórias 450 horas-aula de atividades complementares destinadas ao aprendizado de línguas estrangeiras, das quais 300 horas-aulas obrigatoriamente de inglês e 150 horas-aula de outra língua de livre escolha do estudante.

As atividades de aprendizagem de línguas estrangeiras serão validadas por meio de provas de proficiência realizadas na própria Instituição.

UFSM O aluno deverá cursar em caráter obrigatório 120 horas/aula de Prática de Idiomas, em disciplinas escolhidas segundo a oferta da Instituição.

UFU Exige que o estudante complete duas disciplinas de proficiência em inglês e duas de espanhol.

UnB Exige que o estudante de Relações Internacionais complete duas disciplinas de idiomas estrangeiros, sendo pelo menos uma de inglês e a segunda a ser escolhida entre francês, alemão, japonês, chinês, espanhol e italiano.

As disciplinas podem ser dispensadas mediante realização de provas de proficiência, oferecidas pelo CESPE/UnB (Centro de Seleção e de Promoção de Eventos).

Unesp-Marília

Exige uma disciplina de inglês instrumental e uma disciplina de espanhol instrumental

Fonte: Elaboração própria.

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por mais experiente, não consegue acessar seu conhecimento de mundo que lhe

permita uma interação satisfatória com um texto escrito” (DIVARDIN, 2010, p. 218,

234).

3 A opinião dos professores consultados

Parte do questionário enviado aos Coordenadores de curso tinha como

objetivo recolher a opinião dos respondentes sobre a questão da exigência de idiomas.

Além disso, muitos dos respondentes acrescentaram comentários, que serão

referidos.

Quanto a qual deveria ser a exigência de conhecimento de línguas

estrangeiras na graduação em Relações Internacionais, as respostas variaram entre

"nenhuma" (18%) até "quaisquer duas línguas" (9%). A grande maioria (81%) entende

que o inglês deve ser exigido, embora não haja consenso quanto ao nível dessa

exigência (instrumental ou fluente), nem se deve ser acompanhada da exigência de

outro idioma: 36% entenderam que deve ser exigido o inglês e qualquer outro idioma;

18% entendem que se deve exigir apenas o inglês instrumental (capacidade de

leitura); outros 18% responderam que se deve exigir o inglês e o espanhol.

Um dos professores que opinou contra qualquer exigência de línguas

estrangeiras na graduação em RI comentou:

os cursos devem incentivar e orientar seus alunos a estudar idiomas estrangeiros,

inglês, francês, árabe, mandarim, cantonês e quaisquer outros, [mas] impor o

idioma como pré-requisito ou limitar o acesso de todos os alunos aos textos em

razão do uso do idioma estrangeiro, especialmente em uma universidade pública,

[é] algo equivocado.

Outro, embora tendo votado a favor da exigência do inglês e do espanhol,

acrescentou:

O ideal é que os alunos brasileiros de RI desenvolvam proficiência em inglês,

espanhol e uma terceira língua durante o curso - há quem entenda que antes. Mas

o País reúne um abismo de diferença entre ricos e pobres. Devemos considerar a

base linguística que o aluno traz do ensino médio, considerar a heterogeneidade

social e econômica brasileira.

Em outras palavras: para eles, é desejável que o formando em Relações

Internacionais tenha bons conhecimentos de inglês e espanhol, para exercer

plenamente suas potencialidades como profissional; todavia, tendo em vista a

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desigualdade socioeconômica, a Universidade deve oferecer oportunidades viáveis

para que todos os estudantes obtenham esses conhecimentos. Isso seria importante

para evitar que ocorresse "uma elitização do curso", contrária ao interesse das

Relações Internacionais como área acadêmica no Brasil, "em termos de práticas,

ciência, cultura e criatividade".

Dois professores comentaram que esse debate não é específico do curso

de RI: "trata-se de uma missão da universidade brasileira", afirma um deles; "alunos

de escolas privadas e de classes mais altas vêm com um preparo maior" e sua

instituição, onde o inglês não é exigência curricular, "trata isso como parte da política

de inclusão social".

Os professores opinaram também sobre de que maneira as Diretrizes

Curriculares Nacionais (DCNs) para os cursos de RI deveriam tratar o assunto. A

maioria (81%) ficou dividida entre duas opiniões: uma parte (45%) entende que cada

curso deve ter autonomia para definir a exigência de conhecimento em línguas

estrangeiras mais adequada ao seu contexto; outra parte (36%) entende que, embora

a exigência deva estar contemplada nas DCNs como obrigatoriedade para todos os

cursos de RI do País, deve haver mais de uma forma de verificação do conhecimento

de língua(s) estrangeira(s), para não burocratizar essa exigência. Os restantes 18%

opinaram que deve haver um padrão, isto é, apenas uma forma de avaliar a exigência

de língua(s) estrangeira(s) em todos os cursos de RI do Brasil.

Sobre qual deveria ser a forma de avaliar o conhecimento de língua(s)

estrangeira(s), a maioria dos professores (45%) opinaram que os cursos devem

oferecer vários tipos de avaliação para o estudante cumprir essa exigência, incluindo

disciplinas de língua instrumental, provas de proficiência oferecidas pela instituição e

apresentação de certificados de proficiência; outros 27% concordam que sejam

disponibilizadas provas de proficiência e sejam aceitos certificados, mas discordam

que se preencha a exigência por meio de disciplinas.

Vale anotar também a opinião de Pecequilo, que adverte quanto ao risco

de que disciplinas de idiomas em cursos de Relações Internacionais sejam utilizadas

para preencher carga horária que deveria ser empregada para o aprendizado de

conhecimentos específicos da área (2004, p. 27).

Por fim, os participantes da pesquisa foram indagados, em uma questão

aberta, se havia reclamações por parte dos estudantes sobre o conhecimento de

línguas estrangeiras e, em caso afirmativo, quais eram essas reclamações. 36%

relataram reclamações de alunos. Um deles, coordenador de um curso onde não há

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exigência curricular de conhecimento de idiomas, afirmou que alguns alunos reclamam

porque, "com o argumento de oferecerem textos mais atualizados, alguns professores

indicam livros em inglês", mas que "um dos [livros] indicados foi editado há mais de 10

anos". Outros reclamam, porque entendem que as instituições teriam o dever de

oferecer cursos de idiomas gratuitos para os estudantes, mesmo que a língua não

fosse cobrada obrigatoriamente, apenas porque bibliografias em língua estrangeira

são exigidas nas disciplinas do curso.

4 O inglês como língua franca da área acadêmica de Relações Internacionais:

ou “É possível aprender Relações Internacionais sem saber inglês?

A hegemonia da produção em língua inglesa é inegável na área de

Relações Internacionais. Pode-se observá-la, por exemplo, nas duas narrativas

históricas mais famosas sobre a institucionalização e evolução dos seus estudos, que

se poderia chamar de "mitos fundadores" das Relações Internacionais.4

Segundo a primeira delas, as Relações Internacionais surgiram como

campo de estudos em 1919, quando a Universidade de Gales criou a cátedra

Woodrow Wilson, a primeira no mundo dedicada ao tema (GONÇALVES, 2003, p. 2;

BATISTELLA, 2009, p. 25; MASO; SÉLIS, 2012, p. 138), cadeira que viria a ser

ocupada pelo historiador Edward H. Carr em 1936. Apenas a partir da passagem dos

anos 1940 para os anos 1950, a área expandiu-se, principalmente nos Estados Unidos

e Europa, como resultado da necessidade de gerir a ordem do pós-Segunda Guerra

Mundial, seja nas relações com o pólo soviético adversário e suas áreas de influência,

seja nas relações com o mundo ocidental capitalista.

Outra narrativa bastante difundida é aquela que organiza a evolução do

pensamento teórico em Relações Internacionais na forma de sucessivos "grandes

debates". Wæver sugere: "peça a um acadêmico de RI para apresentar a disciplina em

quinze minutos e, muito provavelmente, você escutará a história dos três grandes

debates" (1998, p. 715). Para Herz, "A percepc�ão de que a história da disciplina é

constituída por 'grandes debates' ou 'fases' confere identidade à mesma, tornando-se

parte do processo de socializac�ão dos especialistas" (2002, p. 12). Curioso observar

que, nessa narrativa, todos os grandes debates ocorreram em língua inglesa: o

primeiro, entre Realistas e Idealistas, foi protagonizado por Norman Angell e James T.

4Herz (2002, p. 12) utiliza a expressão "mito fundador" para se referir ao primeiro grande debate teóriconas RI.

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Shotwell, de um lado, e Hans Morgenthau, Nicholas Spykman e John Herz, do outro; o

segundo, entre Tradicionalistas e Behaviouristas, foi conduzido principalmente entre

Hedley Bull e Morton Kaplan; no terceiro, entre Neorealistas e Neoliberais, os nomes

mais frequentemente mencionados são os de Robert Keohane e Kenneth Waltz; e o

quarto, que seria o debate com os Pós-Positivistas/Reflexivistas, refere-se

frequentemente a Alexander Wendt, Robert Cox, Richard Ashley, entre outros.

Tamanha predominância dos estudos norte-americanos de Relações

Internacionais levou o estudioso Stanley Hoffman a afirmar que se tratava de uma

"ciência social norte-americana" (1977). Com efeito, entre os autores mundialmente

reconhecidos, listados entre os cinquenta maiores pensadores na área de Relações

Internacionais (GRIFFITHS et al., 2009), apenas Raymond Aron, Jürgen Habermas,

Michel Foucault e Antonio Gramsci (20%), embora amplamente publicados em

traduções inglesas, não escreveram originalmente em inglês.5 Os europeus Hans

Morgenthau, Karl Deutsch, Ernst Haas e André Gunder Frank emigraram para os

Estados Unidos como fugitivos do nazismo e tornaram-se professores de

universidades norte-americanas, tendo publicado seus trabalhos em inglês. Nessa

seleção de nomes acadêmicos, 92% dos autores importantes para as Relações

Internacionais escreveram originalmente em língua inglesa; 4% escreveram em

francês; 2%, em alemão e outros 2%, em italiano. É certo que se trata de uma amostra

de apenas 50 autores, que ademais corresponde claramente ao universo de crenças

(ou viés) dos autores da lista, mas esse exercício de estatística descritiva oferece uma

estimativa verossímil.

Gonçalves afirma que a hegemonia anglófona se deve a razões

econômicas, acadêmicas e de poder: a) a grande soma de recursos investidos na

institucionalização da área, nos Estados Unidos e Reino Unido; b) a disposição

acadêmica, nesses países, para enfrentar o desafio de criar uma nova área de

estudos, desde o início em conexão direta com a necessidade prática de orientar o

processo de tomada de decisões em política externa; e c) a condição de potência

hegemônica global, na qual se sucederam Reino Unido e Estados Unidos nos séculos

XIX e XX. Vale atentar para as consequências do último item: as razões de poder.

Gonçalves afirma: "o estudo moderno das Relações Internacionais afigurou-se, às

elites norte-americanas e inglesas, como tarefa indispensável ao entendimento do

5 Embora sejam pensadores seminais para as Relações Internacionais, cabe questionar a inserção do filósofo Habermas e do cientista social Michel Foucault nessa lista. De fato, esses intelectuais têm sido influentes na área e escreveram trabalhos que abordam questões internacionais, mas mesmo assim penso que não seria correto identificá-los como pensadores "de Relações Internacionais".

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mundo em mudança e, desse modo, à manutenc�ão do poder que detinham" (p. 2-3,

grifo meu). Como foram os pensadores anglo-saxões que formularam o léxico de

Relações Internacionais, são eles também que "definem o nível de excelência da

análise e impõem os termos do debate". E conclui: "Isso significa, enfim, que não

dispõem unicamente do poder político para satisfazer seus respectivos interesses

nacionais, como também, do poder sobre o próprio discurso das Relações

Internacionais" (p. 3). O que nos leva a um segundo momento desta reflexão: o poder

da hegemonia da língua inglesa em Relações Internacionais deve ser levado em

consideração.

A avaliação desse elemento deve variar entre extremos opostos, segundo

as crenças teóricas daqueles que propuserem tal exercício. De um lado,

institucionalistas, liberais, neorrealistas e behaviouristas provavelmente afirmarão que

a língua é inocente. Entenderão, ademais, que a própria teoria, quando produzida

corretamente, é imparcial, está fundada numa realidade objetiva e as teorias são

retratos fidedignos dessa realidade. Para esse grupo, que poderia ser reunido sob a

etiqueta de “positivistas”, a língua não está entre as variáveis importantes para o

estudo das Relações Internacionais.

De outro lado, construtivistas, feministas, pós-colonialistas, adeptos da

Teoria Crítica e neomarxistas tendem a afirmar que a língua é componente essencial

da estrutura social. Para esse segundo grupo, que vai se chamar de “pós-positivistas”

ou “reflexivistas”, faz sentido propor um levantamento crítico das limitações que a

hegemonia da língua inglesa impõe à produção em RI.

Nessa tradição crítica, pode-se apontar o americano Biersteker (2009). Em

esforço autocrítico, o autor afirma que a endogamia na academia norte-americana

produziu um provincianismo com graves consequências: "os grandes debates teóricos

podem ser [meras] projeções de preocupações da política externa norte-americana

não mediadas por perspectivas ou insights de outras partes do mundo" (p. 322). Tal

provincianismo, afirma, pode levar à ignorância, arrogância ou incapacidade de

antecipar consequências trágicas da análise irrefletida. O autor conclui que a criação

de um cosmopolitismo teórico requer não apenas autoconhecimento, mas também um

esforço deliberado para engajar-se nas diferentes tradições de investigação e teoria

das Relações Internacionais ao redor do globo (p. 324-325).

No Brasil, Moreira Jr. (2013) contesta a “ciência social norte-americana” de

Hoffmann. O autor toma emprestada a ideia de Robert Cox de que as teorias são

recursos ideacionais empregados pelo Estado hegemônico para convencer os demais

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Estados sobre as vantagens do status quo político. A partir de Gramsci, lembra que o

conceito de hegemonia tem um componente ideacional ético-político: “hegemonia é a

capacidade de converter a própria concepção do mundo, de acordo com os interesses

restritos, em verdade universal”. Dos construtivistas, lembra sobre o papel da cultura e

das identidades na constituição mútua entre agentes e estrutura da política

internacional (MOREIRA JR., 2013, p. 91, 104-106). Assim, pode-se deduzir que

reforçar o predomínio da língua inglesa implica fortalecer recursos ideacionais,

culturas e identidades dos países anglófonos.

De uma perspectiva pós-colonialista, Maso e Sélis (2012) defendem que

as RI produzidas na América Latina devem levar em consideração aspectos como a

“colonialidade do poder/saber” e a “violência estrutural e epistêmica”, que provocam o

“encobrimento do Outro”. Caso contrário, o conhecimento produzido na área arrisca

tornar-se instrumento de perpetuação da opressão sofrida pelos povos latino-

americanos. Segundo as autoras, deve-se evitar a insistência em reproduzir escolhas

metodológicas e recortes ontológicos anglo-saxões, por meio da busca de uma práxis

criadora e reflexiva.

Como forma de acessar conhecimentos mais exclusivos, isto é,

compartilhados em âmbitos menos universais, as terceiras línguas (aquelas além da

língua materna e do inglês) são ferramentas indispensáveis, no campo de Relações

Internacionais, sobretudo para incrementar o que Battistella chama de "tradicional

pluralismo da disciplina", bem como as "perspectivas de progresso dos conhecimentos

produzidos pelo internacionalista" (2009, p. 623).

Além disso, justiça seja feita, o próprio Stanley Hoffmann afirma que sua

ciência social "nascida e criada [nos Estados Unidos da] América" deve afastar-se da

perspectiva da superpotência, a fim de ampliar os estudos de regimes políticos de

países mais fracos e as políticas que empregam para maximizar sua posição nas

relações internacionais (1977, p. 58-59). Certamente, o conhecimento de línguas como

russo, francês, árabe, mandarim e espanhol é essencial para aprofundar esse foco

sobre grandes e médias potências.

Retomando a pergunta-título do subtópico: é possível aprender Relações

Internacionais sem saber inglês?

Para compensar a referência a Griffithset al. (2009), tome-se um texto de

introdução às Relações Internacionais publicado no Brasil numa série de livros

didáticos da área (PECEQUILO, 2004). Por seu caráter de apresentação da área,

pode-se supor que sua bibliografia traz uma amostra significativa das leituras

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consideradas mais relevantes. Por meio de uma contagem simples, chega-se à Tabela

2, abaixo.

Tabela 2 - Referências bibliográficas da obra Introdução às Relações Internacionais

(PECEQUILO, 2004, p. 237-246), por idioma da publicação

Obras

originalmente

em português

Obras citadas

no original em

língua

estrangeira

Obras citadas

na tradução em

português

Totais

subtotal % subtotal % subtotal % total %

Português 27 23,7% - - - - 27 23,7%

Inglês - - 25 21,9% 36 31,6% 61 53,5%

Espanhol - - 7 6,1% 1 0,9% 8 7%

Francês - - 2 1,8% 7 6,1% 9 7,9%

Alemão - - - - 3 2,6% 3 2,6%

Italiano - - - - 4 3,5% 4 3,5%

Russo - - - - 1 0,9% 1 0,9%

Grego - - - - 1 0,9% 1 0,9%

Total 27 23,7% 34 29,8% 53 46,5% 114 100%

Fonte: Elaboração própria.

Somando a literatura originalmente em português (23,7%) e as publicações

traduzidas para o português (46,5%), pode-se estimar que 70,2% da bibliografia

considerada básica está disponível em língua portuguesa. Entre a literatura em língua

estrangeira (29,8%), mais da metade (73,5%) está indicada em edições inglês e o

restante em espanhol (20,5%) e francês (5,9%). Esse número sugere que é possível

iniciar a aprendizagem de Relações Internacionais lendo apenas aquelas obras

escritas originalmente em português ou as traduzidas na língua nacional.

Não obstante, a partir desse mesmo exemplo pode-se estimar que 76,3%

dos textos acadêmicos de Relações Internacionais mais relevantes são produzidos em

inglês, francês, espanhol, italiano ou alemão. Na verdade, o viés aí se inverte a favor

da língua portuguesa: evidentemente, numa obra dessa natureza, era coerente que a

autora se esforçasse para referir o maior número possível de textos brasileiros, que

não seriam considerados importantes numa compilação global.

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Vale retomar Gonçalves (2003): "os anglo-saxãos elaboraram hipóteses,

formularam teorias e definiram os conceitos que se universalizaram, tais como aqueles

que lhe sãoespecíficos, ou seja, criaram o léxico das Relações Internacionais" (p. 3).

Como não podia deixar de ser, criaram-no em inglês. Por isso mesmo, afirma:

Qualquer pessoa que se interesse por este campo de estudo, em qualquer parte

do mundo, deve, obrigatoriamente, exercer algum domínio sobre esse léxico; caso

contrário, não conseguirá estabelecer diálogo com os que se dedicam à pesquisa

nessa área. Por assim dizer, o conhecimento tanto da língua inglesa, como da

produção acadêmica norte-americana e inglesa nas Relações Internacionais

constitui condição indispensável para iniciar toda espécie de debate acadêmico.

(GONÇALVES, p. 3)

Pode-se afirmar com razoável grau de certeza que o inglês é o veículo

mais importante para o campo de Relações Internacionais, no mundo e também no

Brasil. Ainda que haja uma crescente produção nacional e em outras partes do mundo

não-anglófono, o inglês é e deve continuar sendo por um bom tempo a língua franca

dessa área acadêmica.

Atualmente, no Brasil, é possível iniciar-se nos estudos de Relações

Internacionais sem conhecer inglês, mas na medida em que o estudante decide

aprofundar seus conhecimentos, a língua inglesa torna-se mais e mais indispensável.

A necessidade de diversificar o conhecimento teórico em RI, por meio da abordagem

de perspectivas contra-hegemônicas, sugere a necessidade de valorizar também o

estudante que decide aprender outras línguas.

Em outras palavras, é praticamente impossível refletir com seriedade e

profundidade sobre as relações internacionais sem ser capaz de ler, escrever,

entender e falar o inglês. Mas não se deve descartar a possibilidade de que os alunos

de graduação em Relações Internacionais, com suas novas perspectivas geracionais,

estejam suficientemente bem equipados para avaliar quais são as línguas mais

estratégicas para o futuro do planeta, do País, de suas cidades ou de suas vidas. Não

se trata de subscrever um liberalismo ingênuo: crer que o mínimo de regulação vá

conduzir ao máximo de eficiência na alocação dos recursos sociais. Tampouco é útil

regulamentar todos os aspectos da vida, sobretudo quando essa regulamentação se

faz em prol da perpetuação de uma ordem de valores - ocidentais, capitalistas, liberais

- como é a ordem da língua inglesa. O poder brando do inglês, vinte-e-quatro horas

por dia veiculado por TV a cabo, internet e cinemas do mundo todo, já é incentivo mais

que suficiente para indivíduos de todas as idades aprenderem a língua franca.

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Mas se um estudante de Relações Internacionais decide escolher um

caminho contra-hegemônico e investe seus recursos na aprendizagem de outra língua,

cabe incentivá-lo, porque a diversidade de línguas aprendidas entre esta comunidade

acadêmica favorece o preenchimento de lacunas ontológicas, epistemológicas e

metodológicas nas Relações Internacionais produzidas no Brasil. Do ponto de vista da

área, há mais a ganhar favorecendo o aprendizado de línguas diversas, do que

concentrando esforços para dominar o inglês.

A meu ver, após o inglês, as línguas mais estratégicas do ponto de vista

global para acessar fontes primárias e bibliográficas pouco exploradas, seriam o

mandarim, o espanhol, o francês, o alemão, o italiano, o russo e o árabe6. Do ponto de

vista nacional, isto é, para compreender e agir nas fronteiras do Brasil, na defesa da

soberania como no combate à pobreza, penso que são estratégicas também as

línguas indígenas mais faladas em regiões de fronteira. Dentre essas, pode-se apontar

como as principais: o guarani, falado no Brasil, Paraguai e Bolívia; o yanomami, falado

no Brasil e na Venezuela; o macuxi, falado no Brasil, na Venezuela e na Guiana; o

tikuna e o baniwa, falados no Brasil, Venezuela e Colômbia7.

Quanto à importância do inglês na vida profissional do egresso de

Relações Internacionais, trata-se do assunto do próximo tópico.

5 Exigência de inglês pelo mercado de trabalho para o egresso de Relações

Internacionais: ou "É possível trabalhar na área de Relações Internacionais

sem saber inglês?"

Durante o processo de consolidação do curso de Relações Internacionais

no Brasil, em nível de graduação(ver Tabela 3, p. 18), podemos delimitar três fases

distintas. A primeira fase teve início com a criação dos cursos pioneiros, na educação

superior pública e na particular, respectivamente na Universidade de Brasília, em

1974, e na Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, em 1984. A segunda fase

caracterizou-se pela expansão do curso nas instituições privadas, tendo início em

1995, com a fundação do curso de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade

6 Não em ordem de importância. Alguns idiomas são mais relevantes pela bibliografia de RI que possuem, outros pelo acesso que permitiriam a documentos e entrevistas em países sem tradição acadêmica em Relações Internacionais. 7 Essa afirmação foi construída com base em dados do Instituto Socioambiental, cruzando-se as línguas indígenas que possuem mais de 5 mil falantes (ISA, 2013), com a localização geográfica em áreas de fronteira das principais comunidades falantes desses idiomas.

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Católica de São Paulo. A terceira fase, que se estende até os nossos dias, começou

em 2002 com a fundação dos cursos de Relações Internacionais da USP e da

UNESP, marcos da expansão da graduação em RI nas Universidades públicas.

Tabela 3 – Cursos de graduação em Relações Internacionais, por Estado

É também na terceira fase que a graduação em RI começa a chegar a

espaços mais periféricos no Brasil, o que sugere a necessidade de reavaliar o

mercado de trabalho para os bacharéis em Relações Internacionais. Para tanto, vai-se

abordar o mercado de trabalho para o analista de RI e suas transformações ao longo

Estado Ano de criação do

primeiro curso de RI

Número de cursos em

atividade em 2013

Distrito Federal 1974 11

Rio de Janeiro 1992 22

São Paulo 1995 42

Minas Gerais 1996 6

Santa Catarina 1996 8

Paraná 1997 7

Pernambuco 1998 3

Goiás 1999 2

Bahia 2000 2

Espírito Santo 2000 1

Mato Grosso do Sul 2003 2

Rio Grande do Sul 2003 15

Pará 2004 1

Paraíba 2006 2

Roraima 2006 1

Amazonas 2008 2

Rio Grande do Norte 2009 1

Sergipe 2009 1

Ceará 2010 1

Amapá 2011 1

[20 estados] --- Total: 131

Fonte: Elaboração do autor, com base em dados do E-MEC (2013).

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dessas três fases. O objetivo é, a partir desse mapeamento, refletir sobre a

necessidade do conhecimento de inglês segundo as oportunidades de trabalho em

cada região.

O estudo de viabilidade que precedeu a criação do curso na Universidade

de Brasília, realizado em 1973 sob liderança do prof. Lauro Alvares da Silva Campos,

enfatizava que a demanda pelo especialista em Relações Internacionais estava

relacionada ao “aumento de intensidade, quantidade e qualidade das

relac�õesecono�micas do Brasil com o resto do mundo” e que os profissionais da

área deveriam ser capazes de atender as necessidades do "atual estágio de

implementação do crescimento econômico do País", com potencial empregabilidade

em Ministérios e agências governamentais especializadas, mas também em bancos e

grandes empresas públicas e privadas. As disciplinas que deveriam compor a grade

curricular seriam oriundas das áreas do Direito, da Economia e da Administração

(JULIÃO, 2012, p. 18-19). Observa-se nesse primeiro estudo uma orientação para o

setor privado, no mínimo com importância igual à atribuída ao setor público, que

acabou não se concretizando. O investimento do Ministério das Relações Exteriores,

em termos de recursos financeiros e humanos, decorria da percepção de que havia

complementaridade entre o curso de Relações Internacionais da UnB e a formação de

diplomatas oferecida pelo Instituto Rio Branco. Deliberadamente ou não, esse

investimento acabou inclinando a formação em RI na UnB para a área pública. Em

1977, dos doze professores que compunham o corpo docente do curso, 5 eram

diplomatas, 2 eram funcionários públicos e apenas os 5 restantes eram acadêmicos

(JULIÃO, 2012, p. 23-24). E essa ênfase fazia sentido, para um curso localizado na

capital federal, onde havia e há abundantes vagas de emprego público nos diferentes

setores do governo, do Legislativo e da administração indireta, além das Embaixadas

e Consulados.

Com efeito, na primeira fase, o perfil da formação em RI é bem semelhante

ao modelo clássico, surgido nos Estados Unidos e na Europa. O que se espera do

egresso, nesse modelo, é que ele seja capaz “de auxiliar os agentes de Estado na

formação e na implementação das políticas exteriores, ou que pudessem exercer, com

treinamento suplementar, as funções diplomáticas”, além de desempenhar o papel

“fundamental nas sociedades democráticas de críticos e interlocutores do poder

público" (LESSA, 2006, p. 458).

A segunda fase foi uma resposta ao duplo contexto de fim da Guerra Fria e

aceleração da globalização, no âmbito externo, e redemocratização e abertura

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econômica, no âmbito interno. Nesse contexto, a lógica de mercado foi determinante

para que as instituições particulares procedessem à expansão da sua oferta (LESSA,

2006, p. 463). As instituições estavam certas de que o curso de Relações

Internacionais seria um bom negócio, por demandar infraestrutura barata, aproveitar

recursos humanos e bibliográficos de áreas afins e ter apelo mercadológico em razão

das transformações globais e nacionais. Com isso, responderam a uma demanda

social legítima, em face da maior internacionalização do Brasil.

Nessa fase, foram criados 35 novos cursos, sendo 10 em São Paulo, 7 no

Distrito Federal, 6 no Rio de Janeiro, 3 em Santa Catarina, 3 no Paraná, 2 na Bahia, 1

em Minas Gerais, 1 no Espírito Santo, 1 em Goiás e 1 em Pernambuco (E-MEC,

2013). Observa-se que a oferta dos cursos estava direcionada para o mercado de

trabalho na área pública, no Distrito Federal, onde já era tradicional, bem como para

um mercado de trabalho em prospecção, na área privada, principalmente em grandes

empresas situadas nos centros dinâmicos da economia nacional. Da mesma forma,

como fenômeno próprio do pós-Guerra Fria, surgem muitas vagas no crescente

terceiro setor, composto pelas organizações da sociedade civil ou organizações não-

governamentais, com um perfil muito próximo ao do graduado em RI.

Observa-se também que a geografia do bacharelado em Relações

Internacionais no Brasil, até esse momento, praticamente limita-se ao espaço que

Santos e Silveira (2005) chamam de "Região Concentrada"8. A expectativa quanto ao

profissional egresso desses cursos sofre uma significativa mudança, em relação ao

modelo da primeira fase. Em alguns dos cursos, os currículos aumentam a ênfase em

temas de comércio exterior, administração de empresas e economia, coerentemente

com as necessidades do mercado de trabalho no setor privado.

A terceira fase caracteriza-se pela expansão do curso de Relações

Internacionais nas instituições públicas. Teve início em 2002, com a inauguração dos

bacharelados da USP e da UNESP, seguidos pela UFRGS, em 2004; a UEPB e a

UFRR em 2006; a UFF, em 2008; a UFS, a UFU, a UFSM, a UFSC, a UFRJ e a

UFGD, em 2009; a UFRRJ, a UFPB, a UFPEL e a UNILA, em 2010; a UNIFESP, em

2011; e a UFG, em 2012. Também é nessa fase que essa formação foi oferecida pela

primeira vez no Rio Grande do Sul e no Mato Grosso do Sul, a partir de 2003; no Pará,

a partir de 2004; na Paraíba e em Roraima, a partir de 2006; no Amazonas, a partir de

8 Composta pelos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

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2008; em Sergipe e Rio Grande do Norte, a partir de 2009; no Ceará, a partir de 2010;

e no Amapá, a partir de 2011 (E-MEC, 2013).

Surgem, nessa terceira fase, novos lugares de enunciação e novos lugares

de ação para o egresso de Relações Internacionais. Pela primeira vez, o curso chega

às fronteiras Norte e Centro-Oeste, e multiplica sua presença no Nordeste. Dessa

forma, o curso de Relações Internacionais passa a atender um alunado mais

heterogêneo. Da mesma maneira, o mercado de trabalho nesses espaços é também

diferente. As grandes empresas, que foram identificadas como importante fonte da

demanda por profissionais de RI, existem em menor número nesse novo grupo de

estados. A Tabela 4 (p. 22) traz as empresas classificadas entre as 1.000 maiores do

Brasil e que ofereceram vagas de trabalho em uma página da internet especializada

em mediar oferta e demanda por emprego, bem como o número de vagas ofertadas

por tais corporações, em cada Estado da federação9.

Observa-se que apenas Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio

Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo têm mais de 10 grandes empresas

oferecendo vagas de trabalho. Apenas na Bahia, em Minas Gerais, Paraná, Rio de

Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, há mais de 100 vagas sendo

oferecidas. Nessa mesma página, observa-se que a oferta de vagas reunidas sob a

etiqueta “Relações Internacionais” refere-se, na sua grande maioria, a postos de

trabalho para operações de comércio exterior.

Assim, as três fases da instalação do curso de Relações Internacionais no

Brasil correspondem, grosso modo, a três mercados de trabalho distintos. O primeiro,

no Distrito Federal, reúne a maior parte das vagas no setor público governamental, em

Organizações Internacionais e em grandes empresas públicas. Segundo Lessa, trata-

se do único mercado consolidado, até o momento (2006, p. 467). O que se exige do

egresso, nesse mercado, é ótima compreensão da conjuntura político-econômica

internacional, alta capacidade de análise crítica especializada e excelência nas

habilidades de comunicação falada e escrita, em português, inglês e, desejavelmente,

numa terceira língua.

O segundo grupo reúne a maior parte das vagas no terceiro setor e no

setor privado, especialmente em grandes empresas dos setores financeiro,

9 Vale observar que não se trata de vagas oferecidas especificamente para bacharéis em Relações Internacionais, mas sim o total das vagas oferecidas por essas empresas. O raciocínio ora proposto está baseado na premissa de Lauro Alvares da Silva Campos de que “das 1.254 maiores [empresas], cerca de 35% mostram-se potencialmente capazes de absorver graduados em RI” (apud JULIÃO, 2012, p. 20).

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comercial,industrial e de serviços,concentradas em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas

Gerais,

Tabela 4 – 1.000 maiores empresas do Brasil anunciam vagas de emprego em site

Estado Número de grandes

empresas oferecendo vagas

Número de vagas

anunciadas

Alagoas 1 10

Amazonas 7 44

Bahia 5 103

Ceará 7 70

Distrito Federal 5 46

Espírito Santo 3 37

Goiás 11 89

Mato Grosso 3 13

Mato Grosso do Sul 2 2

Minas Gerais 32 494

Pará 2 11

Paraíba 1 2

Paraná 30 293

Pernambuco 5 47

Rio de Janeiro 31 26657

Rio Grande do Norte 2 7

Rio Grande do Sul 14 266

Santa Catarina 16 139

São Paulo 202 15512

Fonte: Elaboração do autor com base em dados de Catho (2013).

Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nesse grupo, demandam-se mais

habilidades relacionadas com o campo econômico-comercial, incluindo por vezes o

domínio de métodos quantitativos e emprego de softwares específicos.

Exige-se também o conhecimento do inglês e, desejavelmente, outra

língua estrangeira com apelo comercial (principalmente espanhol ou alemão). Algumas

empresas transnacionais valorizam o conhecimento da língua de seus centros

gerenciais, p. ex., francês para trabalhar na Renault. Segundo Neves (2008, p. 37), "o

inglês por si só não basta para catalisar os negócios". Com efeito, na sociedade do

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conhecimento que caracteriza o mundo atual somente é possível "crescer, aumentar a

competitividade, conquistar espac�os, ampliar o lucro, ou garantir a sua

colocaçãocomo líderes de mercado" por meio da ampliação do conhecimento

produzido e compartilhado pela empresa. Assim, "embora o inglês mantenha o seu

papel de língua franca no mundo empresarial, são as compete�nciaslinguísticas

adicionais, em combinação com as competências interculturais pertinentes, que

podem traduzir-se numa vantagem competitiva" (p. 39).

O terceiro grupo vive um cenário distinto dos dois primeiros. Trata-se das

fronteiras econômicas do País, campo de experiências econômicas inovadoras, com

instalação recente de algumas grandes empresas (p. ex., montadoras na Bahia,

indústrias de papel e celulose no Mato Grosso do Sul), expansão da produção agrícola

e intensificação recente do povoamento, o que Santos e Silveira (2005, p. 141)

chamam de "tendência à dissolução da metrópole no território". Demanda-se

profissionais capazes de mediar fluxos de informação em centros regionais que

funcionam como "ponto de contato com o mundo rural", abrigam "indústrias de caráter

extra-regional" ou ocupam "posição de retaguarda junto à expansão de frentes

pioneiras". O campo da consultoria para pequenos e médios exportadores é

promissor, assim como a prospecção de investimentos externos (ZAHREDINE, 2013),

que pode ser conduzida por agentes públicos ou privados (p. ex. prefeituras,

federações de indústrias, cooperativas, empresas de corretagem, etc.).

A paradiplomacia é outra potencial fonte de empregos, nesse grupo de

Estados, dependendo ainda da difusão de uma cultura internacionalista entre os

agentes públicos e a sensibilização sobre as vantagens de incorporar profissionais de

Relações Internacionais, notadamente em face da cooperação internacional para o

desenvolvimento (CID) e dos projetosbrasileiros de integração regional.

Diante desse quadro, Julião afirma haver uma dimensão prospectiva

relativa aos horizontes de expansão da área:

[Essa dimensão] advoga o potencial dessas localidades de, por meio da oferta de

uma formação como a de RI, evitar a chamada ‘fuga de cérebros’ para aqueles

estados que possuem o curso, ao mesmo tempo em que, no sentido inverso, ‘atrai

cérebros’ qualificados, gerando uma dinâmica positiva para o desenvolvimento

econômico e social da região (JULIÃO, p. 32-33).

Enfim, pode-se observar que o mercado de trabalho no terceiro grupo está

em fase de constituição e os setores que potencialmente devem absorver os egressos

dos cursos de RI são mais diversificados do que os mercados de trabalho nos demais

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grupos. Se o inglês é, sem dúvida, a língua mais importante para a atuação nos

grupos 1 e 2, no grupo 3 pode-se argumentar que, para alguns potenciais

empregadores, talvez o espanhol seja mais relevante, já que é o idioma falado em 7

dos 10 países que fazem fronteira com o Brasil. Além disso, os chineses são os que

mais crescem entre os clientes do agronegócio brasileiro e entre os investidores

externos diretos no País. Em geral, suas equipes têm tradutores e a maioria dos

agentes fala inglês, mas o conhecimento de mandarim pelo interlocutor brasileiro pode

ser um trunfo comercial importante.

6 O inglês como exigência curricular na graduação em Relações

Internacionais, ou: “Devem os cursos de Relações Internacionais exigir o

conhecimento de língua inglesa como requisito obrigatório?”

A questão da obrigatoriedade, à qual se dedica o presente tópico, não será

menos polêmica que as anteriores. Deve-se pensar na legalidade de exigir o

conhecimento de línguas, e em seguida, avaliar o que os juristas chamam de "mérito

administrativo", ou a "conveniência e oportunidade" de adotara obrigatoriedade para o

estudante de RI de demonstrar o conhecimento de língua(s) estrangeira(s).

Em conversa com o Procurador jurídico da UFGD, Jezihel Lima (2013), o

advogado afirmou que "toda exigência curricular tem de ser ofertada pela instituição".

Haveria, no entendimento de Lima, uma correspondência entre a exigência curricular

de comprovar o conhecimento de um idioma e o dever da instituição de oferecer, como

parte do currículo, o conhecimento exigido. Algumas instituições se previnem contra

essa questão jurídica acrescentando uma advertência expressa no Edital do Vestibular

sobre a obrigatoriedade da apresentação de certificado de proficiência de língua

inglesa para conclusão do curso de Relações Internacionais.

Lembrou também que uma atividade-fim da Universidade pública, como é

o ensino, não pode ser terceirizada. Isso cria uma complicação adicional. Não parece

vantajoso, para um curso de Relações Internacionais, destinar uma vaga docente a

um professor de inglês10. Atribuir o ensino de idiomas a um departamento

especializado pode ser útil, mas provavelmente levará a demandas de universalização

do acesso a esse aprendizado para estudantes de outros cursos. A questão deixaria

10 Não parece vantajoso, especialmente no modelo baseado na permanente penúria, que se pratica nas Universidades públicas brasileiras. Os cursos vivem um constante déficit de professores e cada nova vaga é disputada no Ministério da Educação e, posteriormente, dentro da Universidade e das subunidades acadêmicas.

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de ser um problema do curso de Relações Internacionais e se tornaria do interesse da

comunidade universitária como um todo.

A exigência de provas e certificados de proficiência também é sujeita a

críticas. Divardin (2010), referindo-se a provas que atestam a proficiência/suficiência

por meio de atividades de leitura e compreensão de texto, afirma que por vezes essas

provas não avaliam o conhecimento da língua estrangeira, porque o resultado da

avaliação é influenciado pela capacidade de leitura do avaliado: "esses leitores teriam

as mesmas dificuldades de leitura se lessem, em portugue�s, os mesmos textos que

leram em língua estrangeira" (p. 233). Nesse caso, os estudantes oriundos de

contextos sociais e familiares mais pobres são duplamente castigados: porque não

aprenderam inglês e porque não aprenderam a ler suficientemente bem (do ponto de

vista da Universidade).

O aprendizado dito instrumental, ou "para fins específicos", de uma língua

destina-se àqueles que, embora não possuam o domínio da língua, "desejam e/ou

necessitam ser competentes e independentes na sua área de actuaçãoacadémica

e/ou profissional" (NEVES, 2008, p. 34; VIAN Jr., 1999). Isso significa que, para cada

área de atuação, deve haver um desenvolvimento próprio, relacionado com a

identificação do vocabulário mais frequentemente empregado, lado a lado com o

desenvolvimento das habilidades mais gerais necessárias para a compreensão

escrita. Segundo Vian Jr. (1999, p. 444), o ensino instrumental de uma língua requer:

a) análise de necessidades; b) objetivos claramente definidos; e c)

conteúdoespecífico. Nesse sentido, é bem vindo o esforço interdisciplinar proposto por

Bocornyet al., no rumo da elaboração de um glossário bilíngue baseado em um corpus

especializado de Relações Internacionais. Seria importante que mais instituições

dedicassem mais recursos, envolvendo pesquisadores das áreas de Letras e

Relações Internacionais, para a produção de material didático próprio para a

aprendizagem de idiomas para os fins específicos dos estudantes de Relações

Internacionais, que poderia enfim prover parâmetros para as avaliações de proficiência

na área.

Em geral, as provas de língua instrumental em seleções de pós-

graduação, que tendem a se tornar o modelo para as provas para verificação do

conhecimento de línguas estrangeiras nas graduações em RI, costumam variar entre a

tradução de um texto da área até a interpretação de um texto na língua-alvo com

redação das respostas em língua portuguesa. São modelos que parecem estar aquém

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do que se poderia esperar de uma avaliação de conhecimentos instrumentais em

língua estrangeira.

Considerações finais

O balanço é incerto. A pesquisa ora relatada sugere que a questão da

exigência de línguas estrangeiras é bastante dividida nos cursos de graduação em

Relações Internacionais no País. Em aproximadamente metade dos cursos, o

conhecimento de línguas é uma exigência curricular. Nesses casos, predomina a

exigência do inglês, variando o nível do conhecimento exigido. Na maioria dos cursos,

é exigida também uma segunda língua estrangeira, principalmente o espanhol. A

forma de verificar essa exigência varia entre aplicação de provas de proficiência,

disponibilização de disciplinas de idiomas, apresentação de certificados, ou uma

combinação dessas formas de avaliação.

O inglês continua sendo a língua mais importante das Relações

Internacionais como campo de estudos, além de ser língua franca da diplomacia, dos

negócios e da internet. Não obstante, e a despeito de algumas opiniões contrárias de

peso11, penso que é possível iniciar-se no estudo das RI sem dominar o inglês, pela

existência de alguma bibliografia originalmente escrita em língua portuguesa e de

algumas traduções. Uma diversificação das línguas aprendidas entre os

pesquisadores e profissionais da área seria bem vinda como fonte de renovação

teórica e empírica.

Algumas teorias reflexivistas/pós-positivistas reforçam esse ponto de vista,

porque vêem o aprendizado de terceiras línguas como prática contra-hegemônica. O

que não pode ocorrer é que essa fundamentação teórica crítica acabe sendo

empregada como pretexto para retirar a aprendizagem de inglês e, de tabela, das

demais línguas estrangeiras, do universo das preocupações pedagógicas dos cursos

de Relações Internacionais. Pelo contrário, somente uma educação universitária que

permita ao estudante de RI, lado a lado com sua formação específica, aprender pelo

menos dois idiomas, além da aprimorar o domínio de sua língua nativa, será

verdadeiramente emancipadora.

11 Segundo um dos respondentes, o prof. Antônio Jorge Ramalho, da UnB, reconhecidamente um dos melhores professores de Teoria das RI no Brasil, teria afirmado na discussão das Diretrizes Nacionais Curriculares ocorrida no 3º Encontro da ABRI, em São Paulo, 2011, que “um aluno deveria ter capacidade de ler TRI em inglês, mesmo que para tanto tivesse que trancar seu curso de RI e depois de reunir tal capacidade retornasse ao curso”.

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Quanto ao inglês como língua de atuação profissional, há consenso sobre

sua enorme importância, embora seja crescente a demanda pelo domínio de um

terceiro idioma. Quanto aos Estados do grupo 3, onde os primeiros cursos de RI foram

criados somente a partir de 2002, argumentou-se que o mercado de trabalho é

heterogêneo e que isso sugere um espaço maior para profissionais de Relações

Internacionais que dominem terceiras línguas.

A tendência, observada no texto produzido pela Associação Brasileira de

Relações Internacionais para as DCNs (ABRI, 2012),é que os cursos sejam

obrigadosa oferecer a aprendizagem de uma ou duas línguas estrangeiras aos

estudantes. Desse modo, adquirirem legitimidade e legalidade para exigir o

conhecimento de idiomas como requisito para a colação de grau. Evita-se que o aluno

menos favorecido seja castigado e evita-se também que os cursos permitam ao

estudante obter um diploma que, desprovido do conhecimento de línguas estrangeiras,

terá seu valor de mercado muito reduzido.

A oferta de disciplinas de idiomas parece atender em parte essa

necessidade. Todavia, tal prática arrisca tornar-se uma mera exigência burocrática,

mal sucedida em seus objetivos. Não é preciso ser um especialista em línguas

estrangeiras para saber que não se aprende um idioma em uma disciplina semestral.

As disciplinas de idiomas somente podem cumprir seu papel se forem acompanhadas

de processos de nivelamento dos estudantes quanto aos conhecimentos prévios e

distribuição em turmas específicas segundo o nível de cada um. Além disso, é

importante que as disciplinas de idiomas não sejam oferecidas em substituição a

outras disciplinas de Relações Internacionais, mas sim de forma complementar.

Com a expansão do ensino na área, torna-se fundamental repensar os

currículos e as práticas pedagógicas nos bacharelados em RI. Espera-se que a

presente reflexão tenha colaborado para identificar os dilemas envolvidos na questão

da exigência de línguas estrangeiras nos cursos de graduação em Relações

Internacionais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS12 ABRI – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS. Proposta básica das Diretrizes Nacionais Curriculares para o curso de Relações Internacionais. Fórum Nacional de Coordenadores. 2012.

12 De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6023.

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