44827000 manual de boas praticas para criacao de abelhas sem ferrao

48
GUARAIPO – Melipona bicolor schencki MANDURI – Melipona marginata obscurior TUBUNA – Scaptotrigona bipunctata MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A CRIAÇÃO E MANEJO RACIONAL DE ABELHAS SEM FERRÃO NO RS abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:09 1

Upload: dartsrk9245

Post on 14-Aug-2015

141 views

Category:

Documents


41 download

TRANSCRIPT

Page 1: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

GUARAIPO – Melipona bicolor schencki

MANDURI – Melipona marginata obscurior

TUBUNA – Scaptotrigona bipunctata

MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

PARA A CRIAÇÃO E MANEJO RACIONAL

DE ABELHAS SEM FERRÃO NO RS

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:091

Page 2: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Chanceler:Dom Dadeus Grings

Reitor:Joaquim Clotet

Vice-Reitor:Evilázio Teixeira

Conselho Editorial:Alice Therezinha Campos Moreira

Ana Maria Tramunt IbañosAntonio Carlos Holfeldt

Draiton Gonzaga de SouzaFrancisco Ricardo RüdigerGilberto Keller de AndradeJaderson Costa da Costa

Jerônimo Carlos Santos BragaJorge Campos da Costa

Jorge Luis Nicolas Audy (Presidente)José Antônio Poli de Figueiredo

Lauro Kopper FilhoMaria Eunice Moreira

Maria Helena Menna Barreto AbrahãoMaria Waleska Cruz

Ney Laert Vilar CalazansRené Ernaini Gertz

Ricardo Timm de SouzaRuth Maria Chittó Gauer

EDIPUCRS:Jerônimo Carlos Santos Braga – DiretorJorge Campos da Costa – Editor-Chefe

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:092

Page 3: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

Betina Blochtein

Nadilson Roberto Ferreira

Juliana Stephanie Galaschi Teixeira

Ney Telles Ferreira Junior

Sidia Witter

Dilton de Castro

Porto Alegre

2008

GUARAIPO – Melipona bicolor schencki

MANDURI – Melipona marginata obscurior

TUBUNA – Scaptotrigona bipunctata

MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

PARA A CRIAÇÃO E MANEJO RACIONAL

DE ABELHAS SEM FERRÃO NO RS

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:093

Page 4: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

© Associação Papa-Mel de Rolante1ª edição: 2008

Capa: Vinícius XavierRevisão: dos autores

Projeto Gráfico e editoração: Clo SbardelottoFotografias: Dilton de Castro e Betina Blochtein

Impressão e acabamento: Grafica EPECÊ

Ficha Catalográfica elaborada peloSetor de Tratamento da Informação da BC-PUCRS

Av. Ipiranga, 6681 – Prédio 33 – Caixa Postal 142990619-900 – Porto Alegre – RS – Brasil

Fone/fax: (51) 3320.3523E-mail: [email protected]

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

M294 Manual de boas práticas para criação e manejo racional deabelhas sem ferrão no RS : guaraipo – Melipona bicolorschencki, manduri – Melipona marginata obscurior, tubuna –Scaptotrigona bipunctata / Betina Blochtein ... [et al.]. –Porto Alegre : EDIPUCRS, 2008.48 p.

ISBN 978-85-7430-735-0

1. Meliponicultura. 2. Abelhas - Criação. 3. Abelhas – RioGrande do Sul. I. Blochtein, Betina.

CDD 638.1

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:094

Page 5: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

Sumário

Apresentação ........................................................................................................ 7

1. Introdução ..................................................................................................... 9

2. Características das abelhas ..................................................................... 13

2.1 Guaraipo, Melipona bicolor schencki (Gribodo, 1893) ... 13

2.2 Manduri, Melipona marginata obscurior (Moure, 1971) .. 14

2.3 Tubuna, Scaptotrigona bipunctata (Lepeletier, 1836) ...... 16

3. Procedimentos de boas práticas de manejo ..................................... 18

3.1 Recomendações ............................................................................... 18

3.2 Localização do meliponário ...................................................... 20

3.3 Observações ...................................................................................... 21

3.3.1 Invólucro .................................................................................. 21

3.3.2 Potes de Alimento ................................................................. 22

3.3.3 Rainha e favos de cria ......................................................... 23

3.4 Cuidados com as colônias ........................................................... 24

3.4.1 Forídeos .................................................................................... 24

3.4.2 Formigas ................................................................................... 25

3.4.3 Fome .......................................................................................... 25

3.4.4 Frio .............................................................................................. 26

3.5 Multiplicação de ninhos ............................................................. 26

3.6 Transferência para colméia racional ...................................... 34

3.7 Captura de ninhos.......................................................................... 34

4. Observações finais ..................................................................................... 36

5. Material para manejo ................................................................................ 37

6. Glossário ......................................................................................................... 38

7. Sugestões de bibliografia complementar ........................................... 40

8. Associação Papa-Mel de Apicultores de Rolante – RS .................. 41

9. Beneficiários do Projeto Manduri ......................................................... 42

10. Equipe executora do Projeto Manduri ................................................... 44

11. Agradecimentos ............................................................................................ 45

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:095

Page 6: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

6 Betina Blochtein et al.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:096

Page 7: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

7Manual de boas práticas para a criação e manejo racional de abelhas sem ferrão no RS

APRESENTAÇÃO

Este manual de boas práticas para a criação e manejo racionalde abelhas sem ferrão é fruto da execução do Projeto Manduri atravésde uma parceria entre a Associação Papa-Mel, a Prefeitura Municipalde Rolante-RS, o Centro de Pesquisas e Conservação da Natureza Pró-Mata da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e oMinistério do Meio Ambiente – subprograma PDA. Resulta, portanto,de uma ação conjunta da comunidade, do poder público e da academia,que se revela muito salutar. Ao difundir boas práticas para a criação emanejo de espécies nativas, algumas vulneráveis e ameaçadas de extin-ção, ele mostra caminhos que tornam possível a exploração sustentávelde recursos naturais. Essa é uma atividade que produz desenvolvimentoe renda para as comunidades rurais através da produção de mel e dareprodução de colônias, possibilita a preservação das abelhas nativasque, através da polinização, permitem a recuperação e a preservaçãodas coberturas vegetais que compõem a Mata Atlântica.

O manual, de fácil compreensão, descreve de maneira claraas principais características das abelhas guaraipo, manduri e tubuna eapresenta boas práticas para o seu manejo destacando os cuidados aserem seguidos durante as operações de meliponicultura, a melhorlocalização das colméias, descreve as atividades de controle e acom-panhamento das colônias, a multiplicação dos ninhos e a sua posteriortransferência para novas colméias racionais. Apresenta, também, umglossário de termos técnicos relacionados ao assunto e uma lista biblio-gráfica complementar, em que informações adicionais poderão serencontradas.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:097

Page 8: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

8 Betina Blochtein et al.

A participação do Grupo de Pesquisa em Ecologia de Abelhasda Faculdade de Biociências, coordenado pela Dra. Betina Blochtein,através da publicação deste manual pela Editora da Universidade, éuma iniciativa que dá cumprimento à missão da Pontifícia Universi-dade Católica do Rio Grande do Sul, reafirmando e exercendo o seucompromisso com a comunidade.

Prof. Dr. Jorge Alberto VillwockDiretor do Instituto do Meio Ambiente da PUCRS

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:098

Page 9: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

9Manual de boas práticas para a criação e manejo racional de abelhas sem ferrão no RS

1 INTRODUÇÃO

Historicamente a Mata Atlântica foi o primeiro Bioma ocu-pado na descoberta do mundo novo onde se concentrou o maior aden-samento populacional brasileiro até a atualidade. Essa ocupaçãoocasionou um forte impacto antrópico ao meio ambiente, resultandona destruição e degradação de grande parte de seus ecossistemas eposicionando-a como segunda floresta tropical mais ameaçada deextinção do planeta.

Originalmente essa floresta se estendia do estado do Cearáao Rio Grande do Sul, acompanhando de forma contínua todo o litoralem uma faixa que variava, em largura, de 100 a 500 km. Hoje restamcerca de 8% dos 1.350 mil km² da área original, ou 108.000 km², deforma fragmentada e dispersa, de modo que algumas manchas for-mam verdadeiras ilhas de isolamento. Apesar da degradação, na MataAtlântica encontram-se, aproximadamente 20 mil espécies de plantas,atingindo os maiores recordes mundiais para espécies arbóreas porhectare (454 na Bahia e 443 no Espírito Santo), suplantando a Ama-zônia. De forma global a floresta abriga 1,6 milhões de espécies animais,incluindo os insetos. Destaca-se ainda que grande parte dessas espéciesvegetais e animais são endêmicas dos ecossistemas que integram aMata Atlântica.

A conjugação da sua extensão em latitude, topografia, solose clima promovem cenários diversos formando coberturas vegetaiscaracterísticas, tais como a Floresta Ombrófila Densa, Ombrófila Mista,Ombrófila Aberta, Floresta Estacional Semidecidual, Estacional Decídua,Campos de Altitude e outras, como manguezais e restingas.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:099

Page 10: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

10 Betina Blochtein et al.

Na Constituição de 1988 a Mata Atlântica ganhou o status depatrimônio nacional. Em 1992 o Conselho Nacional do Meio Ambiente(CONAMA) reconheceu legalmente para essa floresta o conceito deDomínio da Mata Atlântica, passando a ser instrumentos de políticaspúblicas a proteção e a recuperação do Bioma. Em 2006 o GovernoFederal sancionou a Lei 11.428, que dispõe sobre a proteção da MataAtlântica.

Diante desse contexto os integrantes da Associação Papa-Melde Apicultores de Rolante sensibilizaram-se com a necessidade derecuperação, estabilização e preservação sustentável da Mata Atlântica.A Associação Papa-Mel, uma organização não-governamental formadapor pequenos apicultores e meliponicultores, foi instituída em 2002após a consolidação de ações de recomposição da Mata Atlântica como apoio do Subprograma Projetos Demonstrativos (PDA) do Ministériodo Meio Ambiente (MMA). Em cooperação com o grupo de pesquisaem Ecologia de abelhas, vinculado à Pontifícia Universidade Católicado Rio Grande do Sul (PUCRS), o grupo mobilizou-se para estruturaro PROJETO MANDURI.

O objetivo do projeto é reflorestar as áreas degradadas eenriquecer as áreas em recuperação, na Mata Atlântica, com espéciesnativas da região, preferencialmente árvores melitófilas, que darãomaior suporte alimentar para as abelhas nativas, e que possam servircomo substrato para o estabelecimento de ninhos silvestres a médio elongo prazos. A instalação de meliponários nas propriedades dosagricultores familiares envolvidos será a base para a conservação dasabelhas e uma alternativa de renda adicional através da produção demel e da multiplicação de colônias.

O Projeto foi instalado nos municípios de Rolante, Riozinho,Maquiné e São Francisco de Paula no Rio Grande do Sul, os quaisintegram a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e constituem osecossistemas de florestas (Estacional Semidecidual, Ombrófila Densae Ombrófila Mista – também conhecida como Mata com Araucária), eCampos de Altitude. Diversas nascentes que abastecem o Rio dos Sinos

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0910

Page 11: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

11Manual de boas práticas para a criação e manejo racional de abelhas sem ferrão no RS

surgem nesse Bioma que também abriga diversas espécies nativas deabelhas sem ferrão. Dentre estas, três foram contempladas pelo Pro-jeto Manduri: GUARAIPO (Melipona bicolor schencki), MANDURI(Melipona marginata obscurior) e TUBUNA (Scaptotrigonabipunctata). Adotaram-se, como critérios para a seleção das espé-cies, a ocorrência natural na região de instalação do projeto, a situa-ção de ameaça de extinção das duas primeiras, o papel polinizadorde espécies nativas e cultivadas, potencial produtor de mel, e o graude facilidade de manejo. Para a efetivação do projeto, além daparticipação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande doSul (PUCRS), através do Centro de Pesquisas e Conservação danatureza Pró-Mata foram estabelecidas parcerias com a PrefeituraMunicipal de Rolante, a Federação Apícola do Rio Grande do Sul(FARGS) e a Confederação Brasileira de Apicultura (CBA).

Embora a produção de mel seja um forte atrativo para a criaçãodessas abelhas (1 a 5 kg/colônia/ano), seus serviços ambientais atravésda polinização e conseqüente preservação das espécies vegetais são defundamental importância para a manutenção da vida.

Vista da Mata Atlântica no Rio Grande do Sul. CPCN Pró-Mata, em SãoFrancisco de Paula.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0911

Page 12: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

12 Betina Blochtein et al.

Vista da Mata Atlântica no Rio Grande do Sul. Rolante e Riozinho.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0912

Page 13: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

13Manual de boas práticas para a criação e manejo racional de abelhas sem ferrão no RS

2 CARACTERÍSTICAS DAS ABELHAS

As três espécies adotadas no projeto pertencentes à TriboMeliponini têm características comuns, a exemplo da construção dosninhos em ocos de árvores nas florestas.

2.1 Guaraipo, Melipona bicolor schencki

Gribodo, 1893

Essas abelhas são pilosas, e a sua coloração varia de amarelo-pardo (quando recém-emergidas dos favos) a marrom escura. Compa-rativamente às demais espécies de abelhas sem ferrão do Estado sãoas de maior tamanho. Em cada ninho, a única abertura é pequena epermite a passagem de apenas uma abelha. As entradas dos ninhospodem ser marcadas por deposições e barro e própolis, e quando ascolônias são antigas ou muito populosas, essas deposições têm formatode estrias que partem da abertura de entrada. A produção de operáriase rainhas ocorre em câmaras semelhantes, sem a presença de realeiras.Nas colônias de guaraipo é comum a presença simultânea de váriasrainhas produtivas. As abelhas cessam as atividades de vôo quandosão perturbadas e são dóceis ao serem manejadas. A espécie é indicadacomo vulnerável na Lista das Espécies Ameaçadas de Extinção noRio Grande do Sul.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0913

Page 14: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

14 Betina Blochtein et al.

Abelha operária de guaraipo.

Vista interna de colônia de guaraipo.

2.2 Manduri, Melipona marginata obscurior

(Moure, 1971)

São abelhas pretas de tamanho médio com listas amarelas naparte frontal da cabeça. À semelhança da guaraipo, as estreitas entradasdos ninhos permitem a passagem de uma abelha por vez e são marcadaspor depósitos de barro ou própolis na forma de raios. Suas colônias

Operária junto à abertura de pote de alimento.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0914

Page 15: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

15Manual de boas práticas para a criação e manejo racional de abelhas sem ferrão no RS

não formam realeiras, e as rainhas são criadas em câmaras (células)semelhantes às das operárias e machos. Assim como a guaraipo, a espécieé ameaçada de extinção no Rio Grande do Sul.

Abelha operária de manduri.

Favos de cria de manduri.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0915

Page 16: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

16 Betina Blochtein et al.

2.3 Tubuna, Scaptotrigona bipunctata

(Lepeletier, 1836)

Das três espécies é a mais rústica, o número de abelhas porcolônia é grande e a entrada do ninho é bem característica pela formaçãode um funil ou tubo de cerume (o que originou o nome tubuna) permi-tindo a passagem de várias abelhas simultaneamente. São muitoparecidas com as abelhas irapuá (Trigona spinipes), distinguindo-sedestas pela forma das corbículas (estrutura nas pernas em que são con-duzidos os grãos de pólen). A tubuna tem corbículas estreitas e escuras,enquanto na irapuá as corbículas são mais largas e de coloração vermelhae marrom. A produção de rainhas ocorre em câmaras diferenciadas(realeiras) freqüentemente encontradas nas bordas dos favos de cria.Suas colônias (principalmente as mais numerosas) podem apresentarcomportamento defensivo, enrolando-se nos cabelos de quem seaproxima, o que lhes atribuiu o nome popular de “enrola-cabelo”. Devidoa esse comportamento defensivo recomenda-se o uso chapéu teladoe luvas durante o manejo das colônias.

Realeira em favo de colônia de tubuna.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0916

Page 17: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

17Manual de boas práticas para a criação e manejo racional de abelhas sem ferrão no RS

Favos de tubuna, com operárias e células de cria abertas.

Entrada de colônia de tubuna.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0917

Page 18: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

18 Betina Blochtein et al.

3 PROCEDIMENTOS DE BOAS PRÁTICASDE MANEJO

Um bom procedimento de manejo é aquele que visa à admi-

nistração racional do meliponário, promovendo a preservação e o bem-

estar das abelhas e, gerando benefícios para o produtor e o meio ambiente

em um processo auto-sustentável.

3.1 Recomendações

Ao visitar o meliponário é interessante tomar alguns cuidados,

tais como:

� Usar roupas claras. Cores escuras agitam as abelhas.

� Evitar o uso de perfumes ou outros cheiros fortes, assim

como não fumar durante o manejo.

� Evitar movimentos bruscos com as colméias ou favos, pois

podem danificar ovos e larvas em desenvolvimento.

� Não permanecer em frente às entradas dos ninhos inter-

rompendo o curso de vôo das abelhas.

� No caso de remover a colméia, recolocá-la no local mantendo

a posição original (especialmente a direção da entrada).

A freqüência das revisões varia de acordo com a necessidade

de acompanhamento das colônias, sendo que uma revisão mensal é

suficiente se o ninho não apresenta problemas. Atendidas as recomen-

dações e de posse dos materiais necessários para a revisão (item 5)

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0918

Page 19: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

19Manual de boas práticas para a criação e manejo racional de abelhas sem ferrão no RS

pode-se dar início ao trabalho nas colônias. A abertura das colméias,

com auxílio da espátula ou formão, deve ser cuidadosa, pois geralmentea tampa estará firmemente aderida com própolis depositada pelas

abelhas para vedar as frestas. O excesso de própolis poderá ser retiradoe guardado para utilização posterior. Deve-se ter cautela no fechamentodas colméias após os trabalhos, evitando-se a formação de frestas.Uma boa indicação é fazer uma marca apontando para o mesmo local da

abertura da colméia, facilitando a orientação correta da tampa no términodo procedimento. Sugere-se o uso de fita crepe para vedar as peças

removidas das colméias após o manejo.

Caixa racionalcom colôniade manduri.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0919

Page 20: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

20 Betina Blochtein et al.

Meliponicultores vedando uma caixa com fita crepe após o manejo.

3.2 Localização do meliponário

As abelhas sem ferrão são habitantes das florestas, logo o

meliponário deve se aproximar ao máximo da condição natural.Portanto, as colméias devem ser colocadas próximas de um aden-

samento vegetal que lhes forneça pólen e néctar ao longo do ano, bemcomo sombreamento para evitar o aquecimento excessivo das colônias.

Deve haver água limpa nas proximidades e ser de fácil acesso aomeliponicultor.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0920

Page 21: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

21Manual de boas práticas para a criação e manejo racional de abelhas sem ferrão no RS

Vista geral de um dos meliponários do Projeto Manduri, localizado em Rolante, RS.

3.3 Observações

Após a abertura da colméia devem-se anotar as observações eoperações realizadas para o controle e o acompanhamento das colô-nias. A seguir destacam-se aspectos a ser verificados nas revisões:

3.3.1 Invólucro

O aspecto do invólucro pode indicar o estado da colônia.Aspecto uniforme, limpo e maleável indica que as abelhas estãotrabalhando bem. Ao contrário, se o cerume do invólucro estiver que-bradiço, ressecado ou mofado indica que a colônia está fraca. Para ma-nipular o invólucro utiliza-se um palito de madeira ou lasca de taquarapara cada colméia, evitando possíveis contaminações de doenças ouparasitas entre as colméias.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0921

Page 22: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

22 Betina Blochtein et al.

3.3.2 Potes de Alimento

Deve-se observar o número e o tamanho dos potes de mel e

pólen. Potes menores são indícios de colônia fraca, que não está apta

a uma multiplicação. Se for necessário manusear os potes deve-se

ter muito cuidado para não danificá-los e provocar vazamento do seu

conteúdo, especialmente o mel, porque além de danificar as crias

poderá atrair formigas e forídeos. Os resíduos de cerume podem ser

devolvidos para o ninho. Se estiverem melados devem ser lavados

com água e recolocados nas colônias, pois as abelhas reaproveitam o

material para construir novas estruturas.

Vista superior interna de uma colônia de guaraipo. Podem-se observar os potesde alimento, o invólucro, as armadilhas para forídeos (indicados com a flechacontínua) e o alimentador artificial (indicado com a flecha pontilhada).

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0922

Page 23: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

23Manual de boas práticas para a criação e manejo racional de abelhas sem ferrão no RS

3.3.3 Rainha e favos de cria

Ao abrir o invólucro deve-se evitar danificar os favos de criaque estão logo abaixo. A presença de células de cria em construçãoindica que as rainhas estão em atividade de postura. Ainda na aber-tura do invólucro, pode-se contar os favos de cria avaliando-se odesenvolvimento das colônias e o potencial para dividi-las, caso omeliponicultor tenha essa intenção.

Rainha fecundada de guaraipo.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0923

Page 24: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

24 Betina Blochtein et al.

Favo de cria de guaraipo, com células de cria em construção (câmaras abertas).

3.4 Cuidados com as colônias

3.4.1 Forídeos

São pequenas moscas que invadem a colméia, atraídas porodores de alimentos fermentados, especialmente pólen. Para combateros forídeos deve-se usar um frasco-isca, com orifícios (menores que asabelhas) na tampa que deixem passar apenas os forídeos, com metadedo volume com vinagre. O vinagre das iscas deve ser trocado em cadarevisão. Os forídeos são atraídos pelo cheiro do vinagre, semelhante aocheiro de material orgânico em decomposição. Por isso é importante

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0924

Page 25: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

25Manual de boas práticas para a criação e manejo racional de abelhas sem ferrão no RS

recolher os resíduos resultantes do manejo das colônias e levá-los paralonge do meliponário, evitando atrair forídeos.

3.4.2 Formigas

Para evitar o acesso das formigas devem-se colocar, no suportedas colméias, estruturas semelhantes a um funil invertido que seja lisoe ainda untá-lo com graxa ou óleo. Indica-se para essa finalidade o usode garrafas pet. É importante também remover possíveis ramos davegetação que estejam em contato com as colméias, pois as formigaspodem utilizá-los como pontes de acesso.

3.4.3 Fome

Durante o período de inverno, quando o pasto apícola é escasso,e após intervenções como transferências e divisões quando as colôniasficam com menor quantidade de alimento, as abelhas ficam vulneráveis.Nessas condições é importante que se forneça alimento para as colônias.Pode-se oferecer xarope (mistura de uma parte de água para uma deaçúcar) em pequenos recipientes no interior das colméias com algunsgravetos dentro, evitando que as abelhas se afoguem no líquido.

Para colônias fracas pode-se também fornecer pólen, a fontede proteína utilizada pelas abelhas. O pólen pode ser coletado du-rante divisões ou transferências quando os potes são rompidos e nãodevem ser mantidos nas colônias evitando-se a atração de forídeos. Aconservação do pólen deve ser em freezer, e pode ser fornecido àsabelhas puro ou misturado com mel em pequenas quantidades (umatampinha de garrafa) que possam ser consumidas em poucas horas.Caso não se disponha de pólen de meliponíneos pode-se usar pólencomercial de abelhas domésticas (Apis mellifera). A alimentaçãoestimula o crescimento da colônia e deve ser repetida em intervalos detrês a quatro dias.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0925

Page 26: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

26 Betina Blochtein et al.

3.4.4 Frio

As abelhas regulam a temperatura interna de suas colônias,entretanto gastam muita energia para aquecer os ninhos sob baixas

temperaturas, especialmente no inverno quando também sofrem com aescassez de alimento. Em espécies de mirim (Plebeia spp.) ocorre

interrupção da produção de crias (conhecida como diapausa repro-dutiva), situação também constatada para manduri.

Em termos práticos devem-se abrir as colméias somentequando necessário e por curtos períodos, evitando sua exposição ao

frio durante o manejo. A seguir apresentam-se outras sugestões.

� Realizar o manejo apenas em dias ensolarados e quentes(temperatura mínima recomendável superior a 20ºC).

� Vedar com fita adesiva frestas entre a tampa e a colméia,assim como entre o ninho, o sobreninho e as melgueiras após o manejo.

� Reduzir o espaço interno dos ninhos, recolhendo-se melguei-ras e se necessário o sobreninho, pois a manutenção da temperatura

nesses espaços vazios é custosa para as abelhas nesse período.

3.5 Multiplicação de ninhos

A multiplicação de colônias é uma forma racional de amplia-

ção do meliponário. Os períodos mais propícios são a primavera e oinício de verão, época de grandes floradas e, portando, com farto pasto

apícola que promove o crescimento das colônias divididas. É tambémnesse período que se podem observar os machos próximos das entradas

das colônias, as quais são comumente confundidas com enxames. Osmachos são reconhecidos pela ausência de corbículas no último par de

pernas, pois esses indivíduos não transportam pólen. As nuvens dedezenas ou mesmo centenas de machos, oriundos de diversas colônias

podem ser localizadas próximo às colméias. A produção de machos

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0926

Page 27: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

27Manual de boas práticas para a criação e manejo racional de abelhas sem ferrão no RS

nesse período pode representar até 20% da cria e é um indicativo deépoca de acasalamento. Os machos são atraídos pelos feromôniosdas rainhas virgens para a cópula.

O manejo utilizado para a multiplicação dos ninhos dependeda espécie a ser trabalhada.

� Realeiras

A tubuna forma realeiras, que são maiores que as demaiscélulas de cria e geralmente encontram-se nas bordas dos favos. Apresença de realeiras em colônias fortes indica que a colônia podeestar prestes a se dividir. Como as colônias de manduri e guaraiponão produzem realeiras (as rainhas emergem de células semelhantesàs das operárias e machos) a multiplicação pode ser realizada quandopossuírem seis ou mais favos de cria com pelo menos 200 célulascada um.

� Favos de cria

A cor e o aspecto dos favos de cria variam de acordo com a

idade dos imaturos. Os favos mais claros e com paredes de cerume fino(às vezes translúcido) são de cria nascente. Em contrapartida, os favos

mais escuros são de cria mais nova.

� Divisão dos materiais das colônias

Na multiplicação transferem-se dois ou mais favos com cria

nascente para a colméia nova (colônia filha), sendo que para as colônias

de tubuna deve-se observar pelo menos um favo com realeiras. Dessa

forma todo o processo da multiplicação é facilitado, bem como o manejo

dado à colônia. Os espaços usuais entre os favos, através dos quais as

abelhas podem circular livremente, devem ser mantidos. Se necessário

podem-se colocar pequenas bolinhas de cerume, ou mesmo pequenos

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0927

Page 28: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

28 Betina Blochtein et al.

pedaços de gravetos, para distanciar os favos. Parte do cerume, própolis,

potes de mel e pólen também devem ser colocados na colônia filha. Os

modelos de colméias adotadas no projeto, com módulos verticais,

facilitam a multiplicação dos ninhos separando-se o ninho do sobre-

ninho, sem a necessidade de manipulação direta dos favos, cerume

e alimentos.

� Onde colocar as colônias-mãe e filha?

A colônia-filha deverá permanecer no local da colônia original

(colônia-mãe), recebendo parte das campeiras que estavam forrageando

durante o processo de multiplicação. A colônia-mãe, que geralmente

fica com a rainha, deverá ser fechada com tela metálica evitando-se a

saída de operárias e mantida em local fresco. Após, será transportada

para um local distante da colônia-filha, preferencialmente superior

a 1.000 m.

� Transporte e adaptação das colônias ao novo local

O transporte deve ser cuidadoso, pois é uma importante causa

de perda de colônias. Deve-se evitar inclinar as colméias, movimentos

abruptos e temperaturas elevadas que podem danificar a cria. Após o

transporte, já no novo local, recomenda-se manter a colméia fechada,

abrindo-a à noite, após um período de repouso. No caso de manter a

colônia-mãe próxima ao seu local original, sugere-se manter a colméia

fechada por um ou três dias em lugar protegido da luz e do calor. Com

esse procedimento as abelhas campeiras perdem a antiga orientação e

se reorientam na nova localização.

� Colocação de sobreninho

No momento da multiplicação não é necessária a colocação

de sobreninho. Essa peça será colocada posteriormente, de acordo

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0928

Page 29: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

29Manual de boas práticas para a criação e manejo racional de abelhas sem ferrão no RS

com a necessidade de expansão do ninho constatada durante as revi-

sões de rotina.

� Perda de rainhas

Colônias que estejam fracas podem eventualmente perder

sua rainha. Pode-se verificar se uma colônia possui rainha procuran-

do-a no interior dos ninhos ou apenas através da observação de novas

células de cria em construção algumas semanas após o procedimento

de multiplicação das colônias. No caso de ausência, se faz necessário

o acréscimo de uma rainha para salvar a colônia. Deve-se procurar

em outras colônias uma rainha virgem e transferi-la para a colônia

órfã. É necessário cuidado no manuseio da rainha virgem, pois ela

voa e pode escapar. Pode-se pegá-la cuidadosamente pelas pernas,

ou mesmo aspirar a rainha com um sugador de abelhas, e colocá-la

sobre os favos de cria. As colônias geralmente aceitam as rainhas

introduzidas dessa forma.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0929

Page 30: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

30 Betina Blochtein et al.

Modelo de caixa racional (Portugal-Araújo, modificada por Venturieri) para criação de manduri e guaraipo. Vista lateral e superior.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0930

Page 31: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

31Manual de boas práticas para a criação e manejo racional de abelhas sem ferrão no RS

Modelo de caixa racional (Venturieri) para criação de tubuna. Vista frontal.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0931

Page 32: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

32 Betina Blochtein et al.

Modelo de caixa racional(Venturieri, Costa &Imperatriz-Fonseca)para criação de tubuna.Corte lateral.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0932

Page 33: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

33Manual de boas práticas para a criação e manejo racional de abelhas sem ferrão no RS

Modelo de caixa racional (Venturieri, Costa & Imperatriz-Fonseca) para criaçãode tubuna. Vista superior e inferior do sobreninho, melgueira, tampa e fundo.

Sobreninho: vista superior Sobreninho: vista inferior

Melgueira: vista superior Melgueira: vista inferior

Tampa: vista superior Fundo: vista inferior

orifícios superiores31 mm

orifício inferior31 mm

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0933

Page 34: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

34 Betina Blochtein et al.

3.6 Transferência para colméia racional

A transferência de colônias de caixas rústicas para colméias

racionais é um processo semelhante à multiplicação. Deve-se transferir

o ninho integralmente para a nova colméia evitando-se apenas potes

rompidos de mel ou pólen que podem atrair formigas e forídeos. No

caso de tubuna deve-se adaptar o tubo de entrada à nova colméia. Nas

novas colméias de manduri e guaraipo recomenda-se colocar um cír-

culo de cerume na entrada dos ninhos, facilitando a localização das

campeiras para o ninho e evitando a entrada de inimigos naturais, bem

como o resfriamento da colônia.

3.7 Captura de ninhos

É uma forma econômica e prática de capturar ninhos no

ambiente, contribuindo para aumentar o número de colônias do

meliponário.

� Caixas-isca

Normalmente usam-se colméias anteriormente utilizadas,pois o odor deixado atrai as abelhas que procuram novos locais paraestabelecerem seus ninhos. Também usam-se restos de madeira naconfecção de colméias-isca ou mesmo garrafas pet.

� Iscas-pet

As iscas são preparadas enrolando-se as garrafas pet com jornal

e posteriormente com um plástico. Amarram-se os dois lados com aramefino. Internamente, depois de lavada e seca, coloca-se areia grossa e

balança-se para escarificar a superfície interior da garrafa. Em seguidabanha-se internamente a garrafa com uma solução de própolis que

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0934

Page 35: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

35Manual de boas práticas para a criação e manejo racional de abelhas sem ferrão no RS

mantém o odor característico e atrai as abelhas. Usa-se uma quantidadede cerume para tampar a garrafa. Finalmente as iscas são colocadasem local protegido, inclinando-se a boca da garrafa para baixo.

� Transferência das novas colônias

Nas abelhas sem ferrão a enxameação ocorre de forma gradual.

O novo local, no caso a colméia-isca ou pet-isca, é inspecionado e

limpo pelas abelhas. Aos poucos as abelhas começam a depositar os

materiais de construção e os alimentos. Dias após à chegada da nova

rainha (virgem) ocorre a cópula. Durante este período há fluxo de abelhas

entre a colônia original e a que está em formação. Somente semanas

após o início da enxameação as colônias se separam totalmente. Por

este motivo é recomendável aguardar o período mínimo de um mês,

para que a nova colônia esteja estabelecida com favos de cria, para

então transferi-la para uma colméia racional.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0935

Page 36: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

36 Betina Blochtein et al.

4 OBSERVAÇÕES FINAIS

A atividade da meliponicultura deve estar muito atrelada aos

princípios permaculturais, tais como:

a) Quanto mais próximo da natureza, menos se gastam trabalho

e menos energia.

b) Substituir altos investimentos e trabalho por planejamento e

criatividade.

c) O problema torna-se a solução.

d) A diversificação garante a estabilidade.

e) A estabilidade vem quando se fecham os ciclos.

f) Todo o sistema deve produzir mais energia que consumir.

g) Os problemas são basicamente domésticos, eles podem

ser resolvidos domesticamente. Não há solução em grande

escala.

h) Responsabilidade com as futuras gerações.

i) Visa-se à cooperação em vez da competição. A integração

em vez da fragmentação.

Tendo em mente esses princípios todos os objetivos a que se

propõe essa atividade prazerosa e promissora serão atingidos em uma

visão holística de um outro mundo possível com respeito à vida.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0936

Page 37: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

37Manual de boas práticas para a criação e manejo racional de abelhas sem ferrão no RS

5 MATERIAL PARA MANEJO

Para o manejo são necessários materiais a serem utilizados nomeliponário. A lista a seguir deve servir como referência para facilitaros trabalhos em campo.

Item Função

Espátula e formão Abertura das colméias

Palitos de madeira Manuseio do invólucro

Faca Uso geral

Fita adesiva (crepe) Vedação de frestas das colméias

Solução de água e açúcar (1:1) Alimentação das colônias

Recipientes com vinagre Armadilhas para forídeos

Caderno e lápis Anotações

Colméias vazias Uso em divisões ou transferências

Água e panos limpos Limpeza

Martelo e pregos Eventuais consertos em colméias

Máscara telada e luvas Manejo de tubuna

Seringa Coleta de mel

Sugador de abelhas Captura de abelhas

Varetas de taquara Colocação entre ninho,sobreninho e melgueiras

Recipiente com tampa Depósito de mel colhido

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:0937

Page 38: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

38 Betina Blochtein et al.

6 GLOSSÁRIO

Batume

Material composto pela mistura de barro e resina coletada pelas abelhas,

usada para vedar frestas e limitar o interior do ninho.

Bioma

Comunidade biológica, ou seja, fauna e flora e suas interações entre si

e com o ambiente físico.

Cerume

Material composto pela mistura de cera produzida pelas abelhas e re-

sina, utilizada na construção de favos de cria, potes de alimento e

invólucro.

Corbícula

Estrutura localizada nas pernas posteriores das operárias com função

de armazenamento do pólen durante o transporte.

Ecossistema

Conjunto formado por todos os fatores bióticos e abióticos que atuam

simultaneamente sobre determinada região. São considerados como

fatores bióticos as diversas populações de animais, plantas e bactérias;

e os abióticos são os fatores externos como a água, o sol, o solo, o

vento.

Espécie endêmica

Espécie com distribuição geográfica restrita a determinada área.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:1038

Page 39: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

39Manual de boas práticas para a criação e manejo racional de abelhas sem ferrão no RS

Meliponário

Local onde são colocadas as colméias de abelhas sem ferrão.

Plantas melitófilas

Espécies vegetais que atraem abelhas e fornecem néctar para a produção

de mel.

Polinização

Ato de transportar o pólen de uma antera até o estigma.

Própolis

Substância resinosa obtida pelas abelhas através da coleta de resinas

da flora (pasto apícola) da região, e alteradas pela ação das enzimas

contidas em sua saliva. A cor, sabor e o aroma da própolis variam de

acordo com sua origem botânica.

Realeira

Célula maior que as demais células do favo, normalmente localizada

em sua borda, na qual desenvolve-se a rainha.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:1039

Page 40: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

40 Betina Blochtein et al.

7 SUGESTÕESDE BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

CPCN-PRÓ-MATA. Centro de Pesquisa e Conservação da NaturezaPró-mata. Disponível em <http://www.pucrs.br/ima/promata/>.Acesso em 23.jan.2008.

KERR, W.K.; CARVALHO, G.A.; NASCIMENTO, V. A. AbelhaUrucu: Biologia, Manejo e Conservação. Paracatú: Acangaú,1996. 144p.

MELIPONICULTURA – Embrapa Amazônia Oriental. Disponível em:<http://mel.cpatu.embrapa.br/>. Acesso em 23.jan.2008.

NOGUEIRA-NETO, P. Vida e Criação de Abelhas Indígenas SemFerrão. São Paulo: Nogueirapis, 1997. 446 p.

PROJETO MANDURI – Sustentabilidade socioambiental e conser-vação da Mata Atlântica. Disponível em: <http://www.pucrs.br/ima/promata/manduri/index.html>. Acesso em 23.dez.2007.

SILVEIRA, F. S.; MELO, G. A. R; ALMEIDA, E. A. B. Abelhasbrasileiras: Sistemática e Identificação. Belo Horizonte:Fernando A. Silveira, 2002. 253p.

VENTURIERI, G. C. Criação de Abelhas Indígenas Sem Ferrão.Belém: Embrapa Amazônia Oriental. 36p. 2004.

WEB BEE. Disponível em: <http://www.webbee.org.br/>. Acesso em23.jan.2008.

WITTER, S., BLOCHTEIN, B., SANTOS, C. G. Abelhas sem Ferrãodo Rio Grande do Sul: Manejo e Conservação. Porto Alegre:FEPAGRO, 2007. 79p. BOLETIM FEPAGRO, 15.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:1040

Page 41: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

41Manual de boas práticas para a criação e manejo racional de abelhas sem ferrão no RS

8 ASSOCIAÇÃO PAPA-MELDE APICULTORES DE ROLANTE – RS

Essa Associação foi criada oficialmente em 2002, comoresultado dos esforços do Projeto Papa-Mel, executado pela Prefeiturade Rolante e apoiado pelo PDA, para congregar as pessoas interes-sadas em iniciar um processo de qualificação na produção do mel,especialmente sob um viés não apenas econômico, mas também deconservação dos recursos naturais. Durante seu amadurecimento comogrupo, foram realizados diversos cursos, elaborado Regimento Interno,promovidos intercâmbios e estabelecidas parcerias como PUCRS eConfederação Brasileira de Apicultura. Em 2007, a Associação propõee tem aprovado pelo PDA Mata Atlântica, o Projeto Manduri, que incluiu,entre outras atividades, a elaboração desta cartilha de manejo de trêsespécies de abelhas nativas sem ferrão. Dessa maneira, esperamoscontribuir para a disseminação de boas práticas de manejo e cuidadosque espécies ameaçadas de extinção necessitam.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:1041

Page 42: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

42 Betina Blochtein et al.

9 BENEFICIÁRIOS DO PROJETO MANDURI

O Projeto Manduri elegeu, por enquadrarem-se em requi-

sitos preestabelecidos, tais como serem associados da Associação

Papa-Mel, serem pequenos proprietários rurais e disporem de áreas

degradadas de suas propriedades para serem recuperadas com espé-

cies da flora nativa da Mata Atlântica, nove beneficiários diretos. Os

benefícios incluem o recebimento gratuito de enxames das espécies de

abelhas tratadas nesta cartilha, caixas racionais para transferências

dos enxames adquiridos e divisões de colméias, utensílios como jaleco,

formão, cera e fitas vedantes. Beneficiaram-se ainda com cursos espe-

cíficos incluindo o manejo das abelhas nativas sem ferrão, bem como a

ecologia das florestas. São eles:

Cláudio Luiz Tondin

Dilton de Castro

Gentil José Paulo da Silva

Girlei E. dos Passos

Jaime João Zambelli

José A. A. da Rosa

Luiz Emerson Reichert

Nilson Gilberto Fröhlich

Rafael Gehrke

Destacam-se ainda os beneficiários indiretos, difíceis de

quantificar. Em todos os encontros surgiam simpatizantes e interes-

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:1042

Page 43: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

43Manual de boas práticas para a criação e manejo racional de abelhas sem ferrão no RS

sados contribuindo ou simplesmente apreciando os debates acerca

da temática das abelhas nativas e do ambiente de que fazem parte.Pela característica deste trabalho, pode-se ainda afirmar que a socie-dade como um todo foi beneficiada direta ou indiretamente.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:1043

Page 44: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

44 Betina Blochtein et al.

10 EQUIPE EXECUTORADO PROJETO MANDURI

Betina Blochtein(Assessoria Técnica)

Dilton de Castro(Assessoria Técnica)

Gentil José Paulo da Silva(Coordenação Geral)

Jaime João Zambelli(Estagiário)

Juliana S. Galaschi Teixeira(Estagiária)

Nadilson Roberto Ferreira(Estagiário)

Rafael Gehrke(Coordenação Geral )

Sidia Witter(Assessoria Técnica)

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:1044

Page 45: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

45Manual de boas práticas para a criação e manejo racional de abelhas sem ferrão no RS

11 AGRADECIMENTOS

Pelo pioneirismo e por cederem seu tempo e espaço que

vieram a contribuir para a realização deste trabalho agradecemos a

Girlei dos Passos, Valdomiro dos Passos e Flávio Angeli (Riozinho,

RS), João Gentil e Alzira da Silva (Rolante, RS). Agradecemos tam-

bém ao permanente apoio dos técnicos do PDA, pelo assessoramento

permanente, e ao Programa pelo financiamento que viabilizou a exe-

cução do Projeto Manduri.

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:1045

Page 46: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:1046

Page 47: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:1047

Page 48: 44827000 Manual de Boas Praticas Para Criacao de Abelhas Sem Ferrao

abelhas 2.pmd 15/9/2008, 11:1048