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188 4.1.2 Team 10 Além do Archigram surgiram outros grupos que propuseram casas futuristas que rompiam com os padrões da casa tradicional. Durante o décimo CIAM no ano de 1956, acontecido na cidade de Dubrovnik na Croácia, um grupo de jovens, formado por Bakema, Candilis, De Carlo, A e P Smithson, van Eyck e Voelcker, que participavam dos congressos, pediu seu fim. Esse grupo passou a ser conhecido como Team 10 e continuou como grupo intelectual durante o período entre 1954 até 1984. Esse grupo era marcado pela luta pela humanização dos espaços produzidos como arquitetura moderna e criticavam o funcionalismo proposto pelos CIAM (BARONE, 2002 p. 61). Esses jovens do Team 10 tinham como objetivo questionar os princípios universais do modernismo. Partiam do pressuposto que já que o homem se organiza em comunidades, tem a necessidade de se diferenciar, de se identificar com o local onde vive, criar vínculos sociais e aprender o espaço a partir de seus próprios valores culturais. Para os jovens do Team 10, o habitat não era apenas a unidade residencial, e sim todo o espaço que a circundava, áreas públicas, áreas de uso comum nos conjuntos habitacionais. Em 1956 os arquitetos ingleses Alison e Peter Smithson projetaram a “Casa do Futuro” para tentar provar que viver seria muito mas fácil no futuro. Segundo reportagem da revista Mechanix Illustrated (nº 9 do ano 1956), a casa do futuro teve grande destaque na exibição London Daily Mail Ideal Home Exhibition de 1956 . O projeto consistia em uma casa urbana de um dormitório e jardim. As

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Page 1: 4.1.2 Team 10 - tede.mackenzie.brtede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/2621/4/Cristina Kanya Caselli… · 188 4.1.2 Team 10 Além do Archigram surgiram outros grupos que propuseram

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4.1.2 Team 10

Além do Archigram surgiram outros grupos que propuseram casas futuristas que

rompiam com os padrões da casa tradicional. Durante o décimo CIAM no ano de

1956, acontecido na cidade de Dubrovnik na Croácia, um grupo de jovens, formado

por Bakema, Candilis, De Carlo, A e P Smithson, van Eyck e Voelcker, que

participavam dos congressos, pediu seu fim. Esse grupo passou a ser conhecido

como Team 10 e continuou como grupo intelectual durante o período entre 1954

até 1984. Esse grupo era marcado pela luta pela humanização dos espaços

produzidos como arquitetura moderna e criticavam o funcionalismo proposto pelos

CIAM (BARONE, 2002 p. 61).

Esses jovens do Team 10 tinham como objetivo questionar os princípios universais

do modernismo. Partiam do pressuposto que já que o homem se organiza em

comunidades, tem a necessidade de se diferenciar, de se identificar com o local

onde vive, criar vínculos sociais e aprender o espaço a partir de seus próprios

valores culturais.

Para os jovens do Team 10, o habitat não era apenas a unidade residencial, e sim

todo o espaço que a circundava, áreas públicas, áreas de uso comum nos

conjuntos habitacionais.

Em 1956 os arquitetos ingleses Alison e Peter Smithson projetaram a “Casa do

Futuro” para tentar provar que viver seria muito mas fácil no futuro. Segundo

reportagem da revista Mechanix Illustrated (nº 9 do ano 1956), a casa do futuro

teve grande destaque na exibição London Daily Mail Ideal Home Exhibition de

1956 . O projeto consistia em uma casa urbana de um dormitório e jardim. As

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paredes eram uma espécie de casca moldada em plástico e a cobertura era

revestida com uma folha de alumínio para refletir os raios solares. Quase tudo

nessa casa era de plástico, das cadeiras as paredes translúcidas, e praticamente

todos os equipamentos eram parte da casa. Esta tinha ar condicionado e sistema

de aquecimento pelo piso, comodidades da climatização artificial que permitiam o

uso de materiais de vedação não convencionais Um dos pontos mais importantes

da casa do futuro dos Smithsons era a possibilidade de se formar um conjunto de

casas, as três empenas cegas permitiam que várias casas fossem construídas lado

a lado.

Nas imagens da casa do futuro pode-se perceber que há apenas o mobiliário

essencial, e muitos desses móveis fazem parte das paredes, como por exemplo, a

mesa que aparece na figura 83 pode ser “afundada” no piso, liberando o espaço

para outras funções, na figura 84 nota-se os nichos embutidos na parede no quarto

de vestir. A cozinha passa a ser um carrinho que permite que a “cozinha” seja

transportada por toda a casa, como se observa na figura 85. Na figura 86, a mulher

seleciona alimentos em um compartimento aberto que mantém os alimentos

refrigerados por bombardeio continuo de raios gama.

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Fig. 83 - A casa do Futuro Fonte: http://blog.modernmechanix.com/mags/MechanixIllustrated/9-1956/future_house/future_house_0.jpg Acessado em: 10/12/2007

Fig. 84 - A casa do Futuro Fonte: blog.modernmechanix.com/mags /MechanixIllustrated/9-1956/future_house/future_house_1.jpg Acessado em: 10/12/2007

Fig. 85 - A casa do Futuro Fonte: blog.modernmechanix.com/mags/ MechanixIllustrated/9-1956/future_house/future_house_1.jpg Acessado em: 10/12/2007

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Fig. 86- A casa do Futuro Fonte: http://blog.modernmechanix.com/mags/MechanixIllustrated/9-1956/future_house/future_house_1.jpg Acessado em: 10/12/2007 4.1.3 Metabolistas

O Japão começou a viver o problema da superpopulação urbana a partir de 1950,

por esse motivo surgiu na época o grupo dos Metabolistas, que tinham grandes

afinidades com os ideais do Archigran.

O metabolismo chamou muita atenção na época por causa de sua sofisticada

metodologia de design se utilizando de metáforas biológicas23 e alta tecnologia.

Após a Segunda Guerra Mundial o Japão passou por um momento de recuperação

da auto estima, e isto foi conseguido com a criação de uma identidade nacional,

protegendo os valores tradicionais do passado da rápida modernização

proveniente da Guerra. O Metabolismo tentou combinar a necessidade de

modernidade com os valores estéticos do passado.

23 Ao se analisar a produção metabolista percebe-se uma semelhança das células habitacionais com os casulos dos animais e útero da mulher onde se tem todo o conforto dentro do alcance.

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Segundo Robin Boyd (apud PERNICE 2004, p. 362), o destaque dado a arquitetura

das Megaestruturas dos Metabolistas foi devido a profunda desconfiança nas

políticas governamentais e administração local em relação ao caos que as cidades

japonesas viviam na década de 1960. Tafuri (apud PERNICE 2004, p. 362) diz que

o Metabolismo foi uma utopia da academia, durante os anos 1960, que era

conseqüência da impotência dos arquitetos japoneses, portanto a única saída era

criar mundos artificiais.

Segundo Pernice (2004, p. 362) o grande mérito dos Metabolistas estava nos

esforços em mudar a sociedade contemporânea e o conceito de arquitetura

moderna no Japão. Na realidade foi um grande protesto contra a situação em que

as cidades japonesas se encontravam, e tentaram usar os “poderes” da tecnologia

para superar os problemas e os limites da burocracia local.

Os Metabolistas propunham super-estruturas que permitiam o “encaixe” de células

habitacionais de tamanhos diferentes. Um dos símbolos mais importantes dos

Metabolistas foram as Cidades Flutuantes de Kikutake, onde casas cápsulas

seriam acopladas em grandes estruturas flutuantes. Na realidade pouquíssima

coisa foi feita seguindo os princípios Metabolistas, um dos poucos exemplos foi a

Torre Nagakin (fig. 87) construída em Tókio em 1971 por Kurokawa, onde

pequenas cápsulas para solteiros são encaixadas em uma grande estrutura

(FRAMPTON, 1997, p. 345).

Por mais que alguns dos arquitetos Metabolistas fossem exageradamente

vanguardistas, a maior parte deles usou práticas mais convencionais, com exceção

da “Casa Cielo” de Kikutake de 1958 e da Torre Nagakin de 1971 de Kurokawa.

Na figura 87 observa-se a fachada da Torre Nagakin, com as diversas cápsulas

acopladas ao corpo da edificação. Na figura 88 tem-se uma idéia da divisão da

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cápsula, que é minimamente calculada para que não haja espaço ocioso e que os

equipamentos não atrapalhem o andamento das atividades diárias dos usuários.

Como em seus similares do Archigram, os móveis e equipamentos estão

acoplados a casca da cápsula.

Fig. 87 Esquema da cápsula do Nakagin Fonte: http://www.arcspace.com/architects/kurokawa/nakagin/nakagin.html Acessado em: 10.12.2007

Fig. 88 Esquema da cápsula do Nakagin Fonte: http://www.arcspace.com/architects/kurokawa/nakagin/nakagin.html Acessado em: 10.12.2007

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4.1.4 CECA

O concurso da CECA24 (Comunidade Européia do Carvão e do Aço) ocorrido em

1965, para projetos de unidades habitacionais construídas com metal e para

produção industrial. Estes deveriam seguir as seguintes diretrizes: a moradia tinha

como objetivo suprir as necessidades de uma família de 5 integrantes (um casal

com dois filhos e mais um adulto); a caixilharia, estrutura e portas deveriam ser de

aço; os componentes deveriam ser produzidos em escala industrial e servir tanto

para moradias individuais quanto para edifícios residenciais; flexibilidade do interior

das unidades; alta eficiência produtiva, deveria ser possível fabricar 10.000

unidades ao ano (PIKE, 1968. p. 8).

Essas novas moradias deveriam se adaptar melhor do que as formas tradicionais

de construir às evoluções na estrutura social. Estas mudanças estão

fundamentalmente relacionadas a uma maior autonomia econômica de cada

integrante da família, aumentando a mobilidade social e o tempo livre disponível

para o lazer (WILSON, 1968, p. 18). Wilson (1968, p. 18) ainda diz que a moradia

deveria permitir e favorecer os desejos de seus usuários para que estes pudessem

viver melhor, ao invés de restringir cada vez mais seus espaços.

No exemplo de Cedric Price, arquiteto responsável por um dos projetos vencedores

do concurso do CECA em 1965, as habitações foram projetadas de forma que

24 O tratado do CECA foi assinado em Paris em 18 de Abril de 1951 pela Bélgica, Alemanha, França, Itália, Luxemburgo e Países Baixos. O objectivo deste Tratado era formar um mercado comum do carvão e do aço, para que houvesse uma expansão económica, para o aumento do emprego e para a melhoria qualidade de vida. Para que isso fosse alcançado as empresas deveriam garantir a igualdade de acesso ao carvão e ao aço, fazendo com que os preços se mantivessem baixos e lutando pela melhoria das condições de trabalho. Ao mesmo tempo, promover o comércio internacional e a modernização da produção. (disponivel em: http://europa.eu/scadplus/treaties/ecsc_pt.htm)

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fossem capazes de se adaptar as novas demandas das famílias (WILSON, 1968,

p. 19). Como se pode observar as plantas da fig. 89 os apartamentos são

montados dentro de dois “quadrados” o vermelho e o azul, percebe-se também que

os módulos de cozinha, armários e banheiros são utilizados como divisórias

havendo diversas formas de dispor os ambientes. Nas figuras 90, 91 e 92 se pode

ver esses módulos, respectivamente de armazenamento, banheiro e cozinha com

mais detalhes em relação a dimensões e equipamentos.

Fig. 89 Unidades Habitacionais de Cedric Price Fonte: WILSON, 1968, p. 19

LEGENDA 1 Sala de estar geral 2 Estar para adultos 3 sala de brincar das crianças 4 sala de jantar 5 dormitório adulto 6 dormitório adulto e local de trabalho 7 dormitório crianças 8 dormitório de crianças e escritório 9 pátio 10 serviços * possível iluminação zenital

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Fig. 90 Unidades de cozinha Fonte: WILSON, 1968, p. 20

Fig. 91 Unidades de banheiro Fonte: WILSON, 1968, p. 20

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4.1.5 Sistema ABC e Rail System

O sistema ABC (armário, banheiro e cozinha) possibilita a criação de diferentes

tipos de plantas dentro de uma base onde as áreas de serviço (banheiro e cozinha)

Fig. 92 Unidades de armazenamento Fonte: WILSON, 1968, p. 20

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podem ocupar algumas diferentes posições dentro da unidade habitacional. Pela

planta apresentada na fig. 93 percebe-se que se tem 5 posições diferentes para os

módulos de armário, banheiro e cozinha. A idéia do sistema ABC consiste na

colocação de painéis equipados, como os da fig. 94, que na realidade são paredes

com armários, ou equipamentos de banheiro (vaso sanitário, lavatório e banheira),

ou cozinha (pia, forno, fogão, geladeira e armários). Esses são considerados os

elementos rígidos do sistema, as divisões deveriam ser feitas com painéis

deslizantes (GAUSA, 2005. p. 26).

Fig. 93 Planta flexível usando painéis ABC, projeto do ACTAR ARQUITETURA, 1994 Fonte: GAUSA 2005 p. 26

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Fig. 94 Vistas dos painéis ABC, para armário, banheiro e cozinha, projeto do ACTAR ARQUITETURA, 1994 Fonte: GAUSA 2005 p. 26

O Rail System (sistema de trilho) consiste em concentrar todas as áreas de

serviços na periferia do apartamento, isto é, nas paredes externas, mantendo o

interior livre para qualquer distribuição do espaço. Os apartamentos parecem um

misto de corredor e galeria, salas e dormitórios ficam no centro das unidades e a

privacidade é dada por meio de cortinas rolo (GAUSA, 2005. p. 27).

As novas mudanças estruturais permitiram uma progressiva liberdade na

distribuição dos espaços internos da moradia, as paredes técnicas (banheiros e

cozinhas) ficam concentradas em uma determinada área dando flexibilidade de

planta para as unidades (GAUSA, 2005, p. 29).

Hoje em dia a flexibilidade está relacionada a poli - valência e versatilidade do

espaço. Essa idéia também esta conectada às novas invenções e técnicas

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construtivas, isto é, novos sistemas estruturais mais enxutos que permitem panos

de lajes mais livres portanto um espaço sem obstáculos estruturais, e novos

objetos e móveis com tecnologia capaz de simplificar a vida do ser humano. Essa

flexibilidade trás ao espaço uma indefinição de funções, favorecendo mudanças de

ocupação e usos (GAUSA, 2005, p. 31).

A flexibilização dos espaços acontece também por meio de móveis que servem

como divisórias, e podendo ser mudados de lugar de acordo com a necessidade.

Além do mobiliário, painéis móveis também têm a função de separar ambientes,

dando grande versatilidade ao espaço doméstico.

Como alta tecnologia na construção custa caro à saída foi aproveitar as técnicas

criadas para outros setores mais evoluídos da economia e adaptar à construção de

habitações. Essas soluções trouxeram uma maior velocidade, precisão e eficiência

para o processo construtivo.

O crescimento da importância de artigos pré-fabricados, não com o intuito de

reproduzir construções iguais, e sim uma pré-fabricação “tática” (GAUSA, 2005),

onde elementos industrializados são usados na estrutura, fechamentos e laje. Um

exemplo do uso de pequenas unidades pré-fabricadas são as paredes “equipadas”,

seja de equipamentos de cozinha, banheiro ou simplesmente armários, como visto

na fig. 94.

A futura substituição da alvenaria convencional de tijolo ou bloco e argamassa, por

sistemas mais leves como sanduíches de metal, madeira e gesso também deve ser

considerado (GAUSA, 2005, p. 34) como subterfúgio para se alcançar uma maior

flexibilidade e eficiência construtiva.

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Uma nova idéia que tem atingido a construção é o uso de materiais recicláveis e

que não agridam o meio ambiente. Toda essa preocupação ambiental tem como

conseqüência, segundo Gausa (2005, p. 35), uma redução dos custos da

construção, algo em torno de 10%, ou aumento da área útil ou melhora na

qualidade dos acabamentos. Mas tudo isso ainda não consegue ser efetivado por

preconceito do mercado, dos investidores e mesmo dos consumidores.

Há uma nova demanda por espaços flexíveis que atendam diferentes públicos,

como diz Gausa (2005, p. 37) a casa deve ser personalizada e não ser apenas um

teto, um abrigo.

Hoje há consciência, segundo Gausa (2005, p. 37) da importância do fenômeno

global da marginalidade (não como banditismo e sim viver as margens da

sociedade), crescimento populacional, massificação e conflitos devido às

desigualdades sociais. Aspectos estes que nem sempre são considerados nas

análises da habitação. A questão da moradia passou a ter a necessidade de ser

tratada de uma forma mais imaginativa e apropriada, isso quer dizer de acordo com

as necessidades locais, usando recursos preferivelmente escassos ou nulos, de

modo a incluir também a população de rua.

Um exemplo interessante é o Homeless Vehicle25 (1988-1989), um pequeno

carrinho que se transforma em uma cama coberta (figuras 95 e 96) criado por

Krzysztof Wodiczko, para dar uma alternativa de “teto” para os moradores de rua

de Nova Iorque.

25 Traduzindo: veículo do sem teto.

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Como o próprio Wodiczko diz, essa não é uma solução para a questão da

habitação, mas sim uma forma de melhorar um pouco a vida das pessoas que

vivem sozinhas nas ruas das grandes cidades.

"Esse veículo não é uma solução temporária, nem permanente, para o problema da habitação. Também não foi pensado para produção em série. Seu ponto de partida é uma estratégia de sobrevivência para nômades urbanos, para os despejados da economia atual." Krzysztof Wodiczko26

Fig 95 Homeless vehicle, moradia móvel para o sem teto. Fonte: http://www.sescsp.org.br/sesc/hotsites/brasmitte/portugues/homeless_vehicle.htm. Acessado em: 29/10/2007

Fig 96 Esquema do Homeless vehicle, moradia móvel para o sem teto. Fonte: http://www.sescsp.org.br/sesc/hotsites/brasmitte/portugues/homeless_vehicle.htm. Acessado em: 29/10/2007

26 Frase disponível no site do SESC São Paulo (www.sescsp.org.br/sesc/hotsites/brasmitte/portugues/homeless_vehicle.htm) Acessado em 29/10/2007.

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Segundo Gausa (2005, p.37) um quinto da população mundial vive de forma

precária, seja em favelas, cortiços e outros, por isso a grande importância de se

criar novas alternativas para melhorar a qualidade de vida destas pessoas.

4.1.6 Casa Barcelona

Gonzalez (2001) diz que nas últimas décadas do século XX muito pouca coisa foi

proposta no campo da habitação, o movimento moderno universalizou o jeito de

construir moradias e por conseqüência também limitou as propostas de projetos de

habitação. A Casa Barcelona foi uma das poucas idéias que aconteceram no final

do século XX e inicio do XXI, com intuito de criar novas idéias de moradia.

Após analise de todos os movimentos e estudos de arquitetos retratados

anteriormente neste trabalho, pode-se questionar o que seria a casa do futuro, do

século XXI. Ao se pesquisar sobre os ideais de moradia das pessoas se constata

que a casa deve ser um local repleto de equipamentos de alta tecnologia, uma

casa inteligente27. Como diz Gonzáles (2001) muitos dos protótipos da casa do

século XXI se assemelham muito com o que foi imaginado por grupos como o

Archigram e Metabolistas.

No final do século XX surgiu uma série de propostas de moradias super

tecnológicas, limitadas a artefatos de alta tecnologia, ignorando as reais

necessidades das pessoas. Estas habitações funcionavam como show room das

possibilidades técnicas da época. Alta tecnologia tem alto custo, o que exclui a

maior parte da população, seja de países ricos ou pobres, e por conseqüência não

27 O conceito de casa inteligente engloba todo tipo de tecnologia que pode auxiliar o usuário em suas tarefas cotidianas, por meio de automação residencial.

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permite produção em massa de moradias. Gonzalez (2001) diz que não há dúvidas

que a tecnologia vem ganhando cada vez mais espaço dentro das habitações,

através de eletrodomésticos, da informática, e outros, mas esses artefatos não são

nada sem o homem, este é que julga o que é bom ou não para sua existência.

Analisando a evolução da moradia, os organizadores da CONSTRUMAT, Feira

Internacional da construção civil em Barcelona, constataram que não houveram

muitas mudanças em relação a programa, técnicas construtivas, forma e função. A

organização propôs que fosse criada uma nova habitação a ser apresentada

durante a feira. O projeto deveria sanar as seguintes deficiências das residências

atuais levantadas pela organização da feira: a dificuldade em atender os diversos

grupos humanos (diversidade), permitir mudanças físicas do interior das unidades

(mudanças) e possibilidade de aperfeiçoamento (aperfeiçoamento) dos espaços,

isso quer dizer ampliações.

A diversidade das sociedades de hoje faz com que não se possam englobar todas

as famílias nos padrões tradicionais de um casal com dois filhos. As taxas de

natalidade vêm caindo em várias partes do mundo, o continente Europeu tem

hoje taxa de natalidade igual a 10 enquanto que em quanto que no continente

Africano o índice é 38 e na América do Sul e América Latina é 24 (IBGE 2001).

Essas mudanças relativas às taxas de natalidade contribuíram para que cada vez

mais se tenha habitações ocupadas por apenas uma pessoa, casal sem filhos

heterossexuais ou homossexuais.

N° de pessoas que nascem por 1000 habitantes durante um ano. Definição disponível em: www.ibge.gov.br/ibgeteen/pesquisas/fecundidade.html#anc3

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Outro fato que tem mudado a evolução dos grupos familiares é o tempo que os

jovens permanecem na casa dos pais, saindo cada vez mais tarde. Esses jovens

montam em seus quartos verdadeiros apartamentos todos equipados e desfrutam

da infra-estrutura montada pelos pais.

Toda essa diversidade de grupos familiares existentes atualmente, não é atendida

pelas moradias atuais, os projetos habitacionais não mudaram significativamente

desde 1920, segundo Gonzalez (2001) e, portanto não acompanharam a evolução

da sociedade.

A sociedade e o mundo em geral esta em constante mudança, como diz Gonzalez

(2001), mas as técnicas construtivas não evoluem no mesmo ritmo. As mudanças

normalmente representam perigo para os investidores, riscos que nem toda

empresa esta disposta a correr, o dinheiro só vai ser investido em novidades que

tenham excelentes chances de dar retorno.

As pessoas percebem que as moradias disponíveis no mercado não estão

adequadas as suas necessidades, e fazem suas modificações. O que tem

acontecido é que a população tem reformado suas casas, adaptando os espaços

de acordo com seus desejos. Essas reformas agregam custos, portanto além do

gasto com a compra do imóvel deve ser contabilizado o custo para a adaptação.

As moradias produzidas atualmente foram projetadas, em sua grande maioria, de

forma a não permitir ampliações, aperfeiçoamentos acabam acontecendo por meio

de demolições, segundo Gonzalez (2001). Gonzalez (2001) acredita que o ideal

seria que os projetos que contivessem apenas os elementos essenciais (cozinha,

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banheiro e sala) podendo de acordo com a necessidade serem ampliados,

tornando o projeto adaptável a diversas realidades.

Finalmente vem a proposta da Casa Barcelona, esta deveria ser uma casa

adaptável, mas de forma econômica, as necessidades dos usuários. Um dos

pontos importantes é que as idéias deveriam ser viáveis economicamente e

tecnicamente além de atender a diversidade, facilitando mudanças e adaptações.

Sem esses pré-requisitos seria impossível convencer investidores a patrocinar

esses novos inventos, mesmo assim o mercado costuma ter serias restrições em

relação a novidades no ramo da construção.

Quatro empresas de grande porte do setor da construção civil, a Technal, Simon,

Fagor e Ideal Standad e cinco equipes de arquitetos de todo o mundo participaram

desta investigação sobre a casa ideal. Os pontos que foram encarados como os

mais importantes da moradia foram a janela, as divisórias, o piso, a cozinha (fogo)

e o banheiro (água).

Cada grupo de arquiteto se juntou a uma empresa e se responsabilizou por um dos

cinco pontos considerados mais importantes. Bem Van Berkel junto com a empresa

Technal29 desenvolveram janelas (fig. 97) com regulagem da entrada de luz que

penetra no ambiente, controle da ventilação e fluxo térmico, tudo isso com custo

competitivo. O resultado foram peças modulares extremamente flexíveis que

poderiam ser modificadas com a adição de acessórios.

29 Uma das maiores empresas de alumínio para a construção da Europa.

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O arquiteto japonês Toyo Ito se encarregou do projeto das divisórias da casa, a

Uralita empresa que desenvolveria o projeto junto ao arquiteto se retirou no meio

do processo de criação. O problema era fazer com que os painéis fossem móveis e

tivessem várias possibilidades de uso (incluir portas, janelas, suportar estantes e

outros). O painel criado era fácil de ser manipulado, transportado e econômico.

Este consistia em duas peças de alumínio, estruturando a divisória, que poderiam

ser combinadas de diversas formas, e cobertas de acordo com a necessidade do

usuário, esquema da divisória pode ser visto na figura 98.

Fig. 97 .Janela Berkel com controle de entrada de luz, ventilação e fluxo térmico. Fonte: http://www.vitruvius.com.br/drops/drops03_06.asp acessado em 17/10/2007

Fig. 98 .Esquema da divisória de Toyo Ito. Fonte: http://www.vitruvius.com.br/drops/drops03_06.asp acessado em 17/10/2007

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LLuis Clotet e Ignacio Paricio (um dos idealizadores da casa Barcelona)

desenharam junto com a empresa Simon Climabox um piso elevado (fig. 99)

resistente e com altura suficiente para passagem de tubulação de água e esgoto,

conduites de energia, telefonia e lógica. Esse piso desenvolvido é muito

semelhante com o que vem sendo usado em edifícios de escritórios, que facilita

qualquer tipo de alteração de lay out e infra-estrutura possibilitando que o morador

faça suas adaptações sem grande dificuldade e gastando pouco dinheiro com

reformas.

Domenique Perrault e a empresa Fagor30 resolveram à questão da cozinha. Dentro

da idéia de dinamismo e flexibilidade da Casa Barcelona, a cozinha deveria poder

estar em qualquer parte da casa, e ser ligada às instalações de água, esgoto e

energia sem dificuldade. O resultado foi uma espécie de bancada móvel (fig. 100),

que tinha a possibilidade de receber vários módulos opcionais com os

equipamentos disponíveis para uma cozinha, forno, fogão, geladeira, microondas e

outros.

30 Fagor empresa de móveis de cozinha e eletrodomésticos.

Fig. 99 .Piso elevado de LLuis Clotet e Ignacio Paricio.

Fonte: http://www.vitruvius.com.br/drops/drops03_06.asp acessado em 17/10/2007

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David Chiperfield e a Ideal Standard31 fizeram o projeto do banheiro. O objetivo

principal era facilitar os eventuais reparos, sem que houvesse a necessidade de

diferentes profissionais para resolver problemas do banheiro, além de ter maior

flexibilidade possível em relação a posição das peças. Nesta proposta apenas o

bidê e do vaso sanitário são parafusados ao piso pela necessidade e de evacuar

resíduos, como o piso é elevado, adaptações são mais facilmente executadas do

que em casas construídas de forma convencional. Lavatório, banheira e chuveiro

não são fixos ao piso e são alimentados de água por colunas, as mesmas que

recolhem os resíduos líquidos e sólidos. Essas colunas são adaptáveis ao

lavatório, chuveiro e banheira, como se pode observar na figura 101 a mesma

coluna pode servir para lavatório e banheira, ou banheira e chuveiro..

31 Indústria de louças e metais.

Fig. 100.Cozinha de D. Perrault. Fonte: http://www.vitruvius.com.br/drops/drops03_06.asp acessado em 17/10/2007

Fig. 101 .Banheiro de Chiperfield. Fonte: http://www.vitruvius.com.br/drops/drops03_06.asp acessado em 17/10/2007

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Orciuoli (2001) critica as idéias da Casa Barcelona, diz que como no caso dos

protótipos do Archigran e Metabolistas, os resultados da CONSTRUMAT foram

soluções de difícil implantação e alto custo. Altos custos excluem a população que

mais necessita de moradias produzidas em massa, Orciuoli (2001) diz:

“As propostas do projeto Casa Barcelona sugerem que o conceito de habitação deva passar por uma "reforma", mas não discutem uma alteração significativa na gênese da habitação. Não será uma banheira que passeie pela casa, uma cozinha automatizada (e elétrica) ou uma janela (com direito a ar condicionado e calefação) o que caracterizará a habitação do futuro. Sobrou tecnologia e faltou arquitetura.” Orciuoli (2001)

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4.2 ESTUDOS DE CASOS

4.2.1 LiMa Residential Building (Berlim - 1982 / 1986)

O conjunto habitacional LiMa em Berlim foi projetado por Herman Hertzberger e

construído entre os anos de 1982 e 1986. Como se pode ver na implantação (fig.

102), o edifício foi construído para fechar um bloco existente. Além disto, o terreno

triangular e a existência de uma igreja na esquina fizeram com que o arquiteto

solucionasse o possível conflito entre a igreja e a edificação com uma fachada

semicircular (BERGEIJK, 1997, p. 86).

Importante ressaltar também a orientação do edifício, ele esta todo voltado para o

sul, leste e oeste, apenas a fachada visível do pátio B (fig. 102) está voltada para o

Norte. A implantação circular faz com que haja um melhor aproveitamento da luz

do sol.

Buchanan (1987, p 56) diz que os pátios têm conotação negativa em Berlim e,

portanto foi um desafio construir um bloco de apartamentos com pátio central e se

ligando a outro pátio de um bloco existente (B na fig. 102). Na realidade é como se

Fig. 102. Implantação Fonte: BERGEIJK, 1997 p.86

B A

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o arquiteto tivesse dividido o antigo pátio, construindo parte de seu conjunto

habitacional como barreira entre o pátio existente (B) e o novo (A).

Bergeijk (1997, p. 86) diz que este conjunto habitacional é um exemplo de que é

possível construir bons apartamentos ao redor de pátios. Isso quando se pode

assegurar luz natural suficiente e quando o pátio formado pelas edificações permite

que haja um jardim e espaço para crianças brincarem. O edifício tem entre 3 e 4

pavimentos e no subsolo do pátio do LiMa há garagem para 28 carros.

As distancias entre os edifícios que compõe o LiMa, foram minuciosamente

calculadas para que fosse garantida a insolação das unidades (BUCHANAN 1987

p . 59). Além do mais o pátio tem tamanho suficiente para que haja jardins privados

e semi-públicos e locais para o lazer das crianças (fig. 103 e 104).

Fig. 103. Pátio interno com espaço para as crianças brincarem. Fonte: Revista A + U 1987

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Neste conjunto existem 5 portais que permitem que se entre diretamente da rua

para o pátio, visível na fig. 105 e circulado em vermelho. Estes também formam

áreas de circulação vertical, com escadas que levam aos apartamentos e terraços.

Segundo Bergeijk (1997, p. 86) a circulação foi considerada como ruas verticais e

locais de encontro. Essas escadarias levam também a laje que também é usada

como área comum, visível na fig. 106.

Fig. 104. Imagem interna do pátio e seu jardim Fonte: Revista A + U 1987

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Fig. 105. Volumetria mostrando as 5 entradas da rua e a laje do edifício, para uso comum. Fonte: BERGEIJK, 1997 p.86

Fig. 106 Área de escadarias de acesso aos apartamentos e a laje de uso comum. Fonte: Revista A + U 1987

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O conjunto habitacional foi entregue aos inquilinos com partes inacabadas, o que

deu a eles a sensação de posse e poder de participar dos retoques finais relativos

aos seus ambientes (BUCHANAN 1987 p. 59).

O projeto tem uma particularidade interessante, os apartamentos têm portas de

entrada duplas, o que forma uma antecâmara para a entrada no apartamento. Essa

antecâmara permite que a porta que dá para o corredor fique aberta, e por meio de

uma janela entre a cozinha e essa antecâmara, demarcado na fig. 107 com um

círculo vermelho, é possível controlar as brincadeiras das crianças nas escadas. O

que transforma as escadarias em espaço útil para o lazer além da função

elementar de circulação (BUCHANAN 1987 p . 59).

Fig.107 Planta de um dos modelos de apartamento. Fonte: BERGEIJK, 1997 p.87

A planta escolhida para análise tem no programa dois dormitórios, sala, cozinha,

banheiro e varanda. Existem janelas em apenas dois lados do apartamento, mas

apenas o banheiro não tem iluminação e ventilação natural. Na fig. 108 podem-se

observar os cômodos e suas respectivas dimensões.

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4.2.2 Nemasus (Nimes – 1985/1988)

Nemasus foi um projeto experimental de moradias, feito por Jean Nouvel em Nimes

na França entre 1985 e 1987 e inaugurado em 1988. Este era uma segunda

experimentação do arquiteto sobre a moradia. A primeira foi Saint- Ouen na França

entre os anos de 1983 1986 e tinha como pontos principais que uma casa bonita é

uma casa grande e que a habitação social não deve mais ser uma mini casa

burguesa.

“Among the key questions was the definition of a "good apartment"; a good apartment was, quite simply, as big an apartment as possible. A good apartment was flexible, changeable. And a good apartment was inexpensive. That is the democratic aspect.” (Conway Lloyd Morgan)32

32 Trecho do site do arquiteto. Disponível em: http://www.jeannouvel.com Acessado em 25/10/2007

LEGENDA 1- Sala 2 - hall 3 - Cozinha 4 - Dormitório 1 5 - Dormitório 2 6 - Dormitório 3 7 - Circulação 8 - Circulação vertical 9 - WC

10 - Banheiro 11 - Varanda 12 - Diversos 13 - Vazio

Fig. 108 Planta de apartamento do Lima (Berlim) digitalizada pela autora com base em BERGEIJK, 1997 p.87

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Como diz Morgan, na frase a cima, o melhor apartamento é o maior que a pessoa

pode “comprar”, um bom apartamento é aquele que seja flexível o suficiente para

permitir alterações de acordo com a necessidade do morador. Esses seriam os

aspectos democráticos da habitação, o local que está dentro do orçamento do

usuário e atende as suas necessidades.

O projeto foi contratado pelo governo francês (Ministério da Habitação e Território)

e governo da cidade de Nimes33, este foi visto como uma alternativa radical para os

limitados programas de moradias subsidiadas. O custo total da construção foi de

€5. 565. 000,0034 na época, algo em torno de €540,29 por metro quadrado.

O projeto do Nemasus se baseou nos seguintes princípios: abundancia de espaço

(superfície e volume); grande variedade de plantas (17 modelos de plantas, um

pavimento, duplex e triplex); redução ao mínimo das áreas coletivas cobertas;

circulação vertical feita por escadas e patamares voltados a fachada norte35;

grandes terraços na fachada sul; construção simples a base de estrutura delgada

de concreto revestido de alumínio (BOISSIÉRE, 1997, p.70).

Além de sugerir uma nova imagem para habitação produzida pelo governo, a

aplicação de elementos industrializados ajudou a reduzir os custos da construção.

Essa redução permitiu que com a mesma verba se pudesse construir espaços mais

generosos, na contramão do “encolhimento” das unidades habitacionais do século

XX.

O projeto de Jean Nouvel tem 10. 300m² distribuídos em dois blocos de 6

pavimentos cada um, somando 114 apartamentos no total e 139 vagas para carros

33 Informação disponível em: http://housingprototypes.org/project?File_No=FRA004 34 Informações sobre custo da obra disponíveis no site do arquiteto www.jeannouvel.com 35 Fachada norte no hemisfério norte corresponde a fachada sul do hemisfério sul, portanto sem insolação.

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no pavimento térreo de pilotis (fig. 109). Os dois prédios foram construídos no

sentido leste oeste e paralelos um ao outro, e entre eles há duas fileiras de

platanos36, visível na figura 111.

Toda a circulação horizontal é feita pelas galerias visíveis na fig. 110, voltadas ao

norte, com três metros de largura e peitoris iguais aos das varandas. A circulação

vertical é feita por meio de escadas metálicas abertas e elevadores. A fachada sul,

com a melhor insolação no hemisfério norte, é rodeada pelos terraços dos

apartamentos como visível na fig. 111.

36 Espécie de árvore

Fig. 109. Chapa perfurada das varandas pilotis do térreo (garagem). Fonte: Boissiere, 1996 p. 51

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Fig. 110 Fachada das galerias Fonte: Boissiere, 1996 p. 49

Fig. 111 Fachada das varandas Fonte: Boissiere, 1996 p. 49

Foram construídos dois edifícios em paralelo (fig. 112), formando um jardim entre

eles na extensão dos dois edifícios. Tanto o clima local quando o estilo de vida

mediterrâneo direcionou o projeto para que tivesse o máximo de aberturas para o

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exterior, por esse motivo foram executadas varandas (fig. 113) com portas que se

abrem totalmente para esses espaços exteriores, aumentando a área do interior

das unidades, havendo completa integração entre interior e exterior. Na figura 114

pode-se perceber as grandes portas voltadas à varanda, na fig. 115 a imagem

mostra uma fotografia de fora da edificação, com visão total do interior do

apartamento devido à abertura total destas portas.

Fig. 112 Prédios em paralelo Fonte: http://www.todoarquitectura.com/v2/foros/Topic.asp?Topic_ID=685&FORUM_ID=27&CAT_ID=5&Forum_Title=Consultas+%2F+Ayuda&Topic_Title=viviendas+nemausus. Acessado em 25/10/2007

Fig. 113 Varanda Fonte: Boissiere, 1996 p. 48

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Fig. 114 Interior de apartamento. Fonte: http://www.jeannouvel.com. Acessado em 25/10/2007

Fig. 115 Vista do interior do apartamento triplex com as portas totalmente abertas. Fonte: http://www.cse.polyu.edu.hk/~cecspoon/lwbt/Case_Studies/Nemausus/Nemausus.htm. Acessado em 25/10/2007.

O projeto tem pontos interessantes como os corredores da circulação abertos com

3 m de largura (fig. 116), a iluminação natural que penetra por todos os cômodos,

inclusive banheiro, as divisórias semitransparentes como nos escritórios (fig. 117) e

as escadas metálicas da arquitetura industrial.

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A estrutura da edificação foi baseada no uso de concreto armado e de materiais

industrializados. O intuito, segundo Nouvel (L’Architecture D’Aujourd’Hui nº 239

junho de 1985), era usar materiais industrializados para que fosse feito o mínimo

possível no canteiro de obras, por isso o uso de portas industrializadas nas

varandas, escadas metálicas, paredes semi-vitrificadas industrializadas e pisos

para os terraços industrializados.

Nas figuras 112 e 116 pode-se observar que o edifício tem uma espécie de beiral

em PVC perfurado, que funciona como anteparo para o sol, e lembra segundo o

site Housing Prototyps37, flaps de aviões comerciais. Em ambas as imagens estão

presentes os peitoris das varandas e circulação horizontal em chapa metálica

perfurada.

37Disponível em: http://housingprototypes.org/project?File_No=FRA004. Acessado em 25/10/2007

Fig.116 Galeria de distribuição dos apartamentos Fonte: http://www.jeannouvel.com. Acessado em 25/10/2007

Fig.117. Interior de apartamento, divisórias de escritório no segundo piso e escada metálica. Fonte: http://www.jeannouvel.com. Acessado em 25/10/2007

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A idéia de Jean Nouvel para minimizar custos não era apenas usar elementos

industrializados, percebeu que se apenas fosse feito acabamento no mínimo

possível de coisas poderiam se baixar ainda mais os custos, permitindo um

aumento da área das unidades. Como se pode perceber na fig. 118 a cozinha tem

todas as suas instalações feitas por fora da alvenaria e entregue sem qualquer tipo

de revestimento nas paredes, economias que refletem no custo final da obra.

Na fig. 119 pode-se observar a distribuição dos cômodos na planta de Jean

Nouvel. Os dois dormitórios e banheiro no piso superior e sala, cozinha e WC no

pavimento inferior. As linhas vermelha e azul mostram uma possível alteração da

planta, que a tornaria de três dormitórios. A linha vermelha mostra a passarela de

acesso ao terceiro dormitório, que pode ser construída posteriormente e a linha

azul mostra a divisão entre os dormitórios 1 e 3.

Fig. 118 Cozinha de apartamento Fonte: http://www.cse.polyu.edu.hk/~cecspoon/lwbt/Case_Studies/Nemausus/Nemausus.htm. Acessado em: 25/10/2007

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Interessante ressaltar que o projeto concentra em uma mesma região todas as

áreas molhadas (banheiros e cozinha), para que toda a tubulação passe por

apenas um shaft38.

Todos os cômodos têm aberturas para o exterior, com exceção do W.C. e do

espaço número 1239no primeiro pavimento (fig. 120). Todos os ambientes são

amplos, de acordo com a proposta do arquiteto de prover maior conforto espacial

invés de acabamentos em banheiros e cozinhas.

Na figura 120 a planta duplex da unidade escolhida para análise é mostrada com

todas as suas medidas internas e números que dão referencia do uso dos

ambientes.

38 Shaft é um duto por onde passam as tubulações de água e esgoto.

39 O espaço número 12 aparentemente é destinado a lavar roupas, devido a proximidade ao shaft de hidráulica.

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Fig. 119 Planta de apartamento duplex com dois dormitórios. Alterado no Photoshop. Fonte:http://www.cse.polyu.edu.hk/~cecspoon/lwbt/Case_Studies/Nemausus/Nemausus.htm. Acessado em 24/10/2007

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4.2.3 Rue de Meaux (Paris – 1988 / 1991)

Em 1987 o escritório de Renzo Piano, é chamado a desenvolver o projeto de um

conjunto habitacional na Rue de Meaux, localizado no distrito XIX, da região

nordeste de Paris. Piano (PIANO apud GLA’s Architecture and Urbanism Unit)

LEGENDA 1- Sala 2 - hall 3 - Cozinha 4 - Dormitório 1 5 - Dormitório 2 6 -Dormitório 3 7 - Circulação 8 - Circulação vertical 9 - WC

10 - Banheiro 11 - Despensa 12 – Diversos 13 - Vazio

Fig. 120 Projeto Nemasus digitalizado pela autora baseado na planta disponível em:http://www.cse.polyu.edu.hk/~cecspoon/lwbt/Case_Studies/Nemausus/Nemausus.htm.

13

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defende o fato de executar um trabalho de qualidade para a população de baixa

renda, diz que qualidade na arquitetura não é questão de preço.

Piano coerente a sua fama de utilizar alta tecnologia em suas obras, passa para a

realidade da habitação de baixa renda inovações técnicas. Utiliza em Rue de

Meaux um sistema de painéis pré-fabricados, o GRC40, que rompe totalmente com

a construção convencional com materiais tradicionais usada nos conjuntos

habitacionais.

O arquiteto criou uma implantação, visível na figura 121, que formava um jardim

interno cercado pelas edificações que compunham o conjunto habitacional. O pátio

interno pode ser parcialmente visto da rua (fig. 122), por duas fendas de

aproximadamente 3 m de largura. Esse jardim é de uso exclusivo dos moradores,

com acesso restrito já que a entrada dos apartamentos acontece por ele.

40 O GRC usa a fibra de vidro no lugar do aço, essa característica faz que a peça tenha uma boa resistência a tração, e possa ser mais fina. O problema é que a associação do vidro com o concreto pode teoricamente, trazer alguns problemas, já que o primeiro normalmente é atacado ou até mesmo destruído pelos componentes alcalinos do segundo. Problema solucionado pela Pilkington que desenvolveu uma fibra AR, tratada com zirconium

Fig. 121 – Implantação do Rue de Meaux. FONTE: ROCCA, 1994

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Diferente dos projetos usuais para população de baixa renda, Rue de Meaux não

tem espaço para atividades comunitárias. O pátio interno não foi transformado em

uma “intensa máquina de atividades sociais” (BUCHANAN, apud CASELLI, 2007),

não havendo imposição para que os moradores tivessem “encontros comunitários

forjados” (BUCHANAN apud CASELLI, 2007). Essa característica fez com que o

conjunto perdesse o estigma de habitação social, o que é uma grande vitória do

arquiteto.

O pátio central, que mede 25 m por 66 m, é coberto de Bétulas e forrado de

madressilvas (fig. 123), com caminhos pavimentados para que as pessoas possam

chegar as entradas da circulação vertical de acesso aos apartamentos. Essas

árvores auxiliam na questão da privacidade, formando uma cortina de folhas e sua

folhagem projeta leves sombras nas fachadas. Uma das importantes funções do

pátio é garantir iluminação e ventilação natural aos apartamentos.

Fig. 122 Visão do pátio através do portão de acesso ao conjunto. Fonte: Arquivo pessoal. Paris agosto de 2007.

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O financiamento para o projeto veio do L’Union Sociale Pour L’Habitat (HLM), que

normalmente é insuficiente, e castrador por ter muitas restrições que limitam a

criatividade do arquiteto. O valor do metro quadrado habitável financiado pelo HLM

fica normalmente em torno de FR 5.000,0041 , foi gasto FR 6.000,0042 no Rue de

Meaux, o que permitiu uma melhor construção. Foi uma grande vitória do escritório

de Renzo Piano conseguir elevar o valor da obra e impor uma técnica construtiva

industrializada (MENARD apud CASELLI, 2007).

O grande êxito do projeto de Renzo Piano foi o fato de ter conseguido driblar as

dificuldades, fruto da burocracia dos órgãos responsáveis pela questão

habitacional e construir um edifício para a população de baixa renda com uma série

de detalhes que lhe conferem qualidade. Desde a escolha do sistema construtivo,

baseado na pré-fabricação, a inovação na escolha dos acabamentos, a qualidade

dos espaços internos e externos e o mais importante, o produto de tudo isso é um

conjunto habitacional sem a “cara” de moradia para “pobre” (CASELLI, 2007).

41 Seria o equivalente a 762,25 Euros com a taxa de conversão de 2002 quando houve a mudança. 42 Seria o equivalente a 914,69 Euros com a taxa de conversão de 2002 quando houve a mudança.

Fig. 123 Pátio interno Fonte: Arquivo pessoal. Paris agosto de 2007.