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p.410 • Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2008 jul/set; 16(3):410-4.

As faces do conforto

RESUMO: RESUMO: RESUMO: RESUMO: RESUMO: Este estudo qualitativo e exploratório foi desenvolvido no período de 2006-2007, numa instituição de saúdede Santa Catarina. Objetivou identificar os significados de conforto para enfermeiras e pessoas com diagnóstico decâncer. Participaram 24 sujeitos, pacientes jovens e adultos e enfermeiras. Utilizou-se a técnica de entrevista com ospacientes e com as enfermeiras oncológicas aplicou-se um questionário. Todos responderam à questão central: o quevocê entende por conforto e estar confortável? Aplicou-se a análise de conteúdo aos depoimentos e os resultadosapontaram para os seguintes significados de conforto: estar no lar, interação com familiares e amigos e estar sem dor paraos jovens; saúde e carinho para os adultos; e equilíbrio físico, mental, emocional e bem-estar para as enfermeiras. Oconforto assumiu diferentes significados, dependendo dos momentos vivenciados, tanto para a pessoa com câncer,como para as enfermeiras.Palavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chave: Conforto; oncologia; enfermagem, cuidado.

ABSTRACTABSTRACTABSTRACTABSTRACTABSTRACT: : : : : This qualitative, exploratory study was conducted in 2006 and 2007 at a health institution in Santa CatarinaState, Brazil. The aim was to identify the significance of comfort for nurses and people with a diagnosis of cancer. Thetwenty-four participants comprised adult and teenage patients, and cancer nurses. The patients were interviewed and thenurses responded to a questionnaire. All answered the central question: What do you understand by comfort and beingcomfortable? Content analysis was applied to their declarations. The results point to the following meanings of comfort:being at home, interacting with family and friends, (to the young) being free of pain, (to the adults) enjoying health andaffection, and (to the nurses) physical, psychological and emotional balance and well-being. However, comfort took ondifferent meanings for both cancer patients and nurses, depending on the particular moment in their lives.KeywordsKeywordsKeywordsKeywordsKeywords: Comfort; oncology; nursing; care.

RESUMEN: RESUMEN: RESUMEN: RESUMEN: RESUMEN: Este estudio cualitativo, exploratorio, desarrollado en el período de 2006-2007 en una institución de saluddel Estado de Santa Catarina – Brasil. Buscó identificar los significados de conforto para enfermeras y personas condiagnóstico de cáncer. Fueron 24 sujetos, pacientes jóvenes y adultos y enfermeras. Se utilizó la técnica de entrevista conlos pacientes y se aplicó un cuestionario con los enfermeros oncológicos. Todos respondieron a la pregunta central: loque entiende usted por conforto y estar confortable? Se utilizó el análisis de contenido a los testimonios y los resultadosapuntaron para los significados de conforto como: estar en el hogar, interacción con familiares y amigos y estar sin dolorpara los jóvenes; salud y cariño para los adultos; y equilibrio físico, mental, emocional y bienestar para las enfermeras. Elconforto asumió diferentes significados, dependiendo de los momentos vividos, tanto para la persona con cáncer, comopara las enfermeras.Palabras clavePalabras clavePalabras clavePalabras clavePalabras clave: Conforto; oncología; enfermería; cuidado.

AS FACES DO CONFORTO: VISÃO DE ENFERMEIRAS EPACIENTES COM CÂNCER

THE CONFORT’S FACES: FROM NURSES AND CANCER PATIENTS POINTS

OF VIEW

LAS CARAS DEL CONFORTO: VISIÓN DE ENFERMERAS Y PACIENTES

CON CÁNCER

Luciana Martins da RosaI

Nen Nalú Alves das MercêsII

Viviane Euzébia Pereira SantosIII

Vera RadünzIV

IEnfermeira. Doutoranda da Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal da Santa Catarina (PEN/UFSC). Mestre em Enfermagem -PEN/UFSC. Especialista em Enfermagem Oncológica e Enfermeira do Centro de Pesquisas Oncológicas (CEPON/SES/SC). Membro do Grupo dePesquisa Cuidando e Confortando - PEN/ UFSC.IIEnfermeira. Doutoranda da Pós-Graduação em Enfermagem (PEN/UFSC). Mestre em Enfermagem - PEN/UFSC. Professora do Curso de Graduaçãoem Enfermagem da UNIVALI/SC. Enfermeira do Centro de Pesquisas Oncológicas (CEPON/SES/SC).IIIEnfermeira. Doutoranda da Pós-Graduação em Enfermagem (PEN/UFSC). Mestre em Enfermagem - PEN/UFSC. Professora do Curso de Graduaçãoem Enfermagem do Bom Jesus/IELUSC – Joinville/SC. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidando e Confortando - PEN/ UFSC. E-mail:[email protected]. Pós-Doutora em Enfermagem. Docente do Departamento e da Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC. Vice-Coordenadora do Grupode Pesquisa Cuidando e Confortando (PEN/UFSC).

INTRODUÇÃO

O conforto, etimologicamente, se origina do la-tim confortare, que significa fortificar, certificar, cor-roborar, conceder, consolar, aliviar, assistir, ajudar e

auxiliar. O conforto pode assumir o significado deato de confortar a si e de confortar o outro. O con-forto é um estado de prazer e bem-estar1.

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À medida que o conforto adquire significadosdiferentes para as pessoas, de acordo com as realida-des experienciadas, há necessidade de se refletir acer-ca de suas diversas faces. Acreditamos que reconhe-cer os determinantes desse fenômeno pelos sujeitosque o vivenciam seja fundamental para que ocorra ainteração entre os mesmos e as práticas profissionaisque o proporcionam.

O ato de confortar tem valor para quem cuidae é cuidado oferecendo oportunidade de crescimen-to e realização2. A conscientização a respeito desseprocesso promove novas percepções do ser/estar,como cuidador ou ser-cuidado, permitindo o desen-volvimento mútuo em direção a uma condição devida mais saudável e integrada3.

Portanto, este artigo nasceu da necessidade decompreendermos o conforto nas suas múltiplas di-mensões. A questão norteadora deste estudo foi: qualo significado do conforto para as enfermeirasoncológicas e as pessoas com câncer.

Para buscar tal olhar, ainda que de maneiraparcial, traçamos como objetivo: identificar os signi-ficados de conforto para enfermeiras oncológicas eclientes adultos e jovens com diagnóstico de câncer.

Ressaltamos que a multiplicidade das faces doconforto não objetiva um confronto teórico, masdesvelamentos da heteregoneidade do tema. Portan-to, não temos a pretensão de esgotá-lo, mas suscitarnovas reflexões.

REFERENCIAL TEÓRICO

O conforto é uma experiência subjetiva quetranscende a dimensão física, porque inclui compo-nentes físico-psicológico-social-espiritual eambiental, ao mesmo tempo. A percepção do con-forto varia em graus ou níveis, sendo vinculada aosconceitos de tempo e espaço. O tempo possibilitaao indivíduo avaliar a situação que está vivenciando,compreendendo-a, aceitando-a, encontrando seusignificado, adaptando-se ou desenvolvendo meca-nismos para controlar essa experiência. O espaçoengloba as relações da pessoa consigo mesma e como ambiente1,4.

O conceito de conforto também pode variarem função da cultura, do sexo e das circunstânciasque desencadeiam as necessidades de bem-estar5.

O enfermeiro e sua inter-relação com o paci-ente correspondem a uma ação essencial, que dá sig-nificado ao conforto, pois o ouvir, ver e sentir vãoalém da capacidade tecnológica, sendo que estes atos

somados à prática reflexiva concretizam e iluminama beleza da prática de enfermagem6.

No cuidado de enfermagem, os pedidos de con-forto podem se apresentar pela incerteza, impaciên-cia com o desconhecido, incapacidade de concen-tração, expressões físicas de desconforto e inseguran-ça. Portanto, o conforto divide-se em dois tipos: tem-porário, sendo o que acalma, conforta e auxilia opaciente a suportar o sofrimento em determinadotempo; permanente, quando é contínuo e expressauma ótima saúde7.

A avaliação do desconforto/conforto pelo en-fermeiro vai além da interpretação de sinais e sinto-mas. Quando o profissional utiliza a intuição, per-cepção, o insight, a experiência e a empatia e suaavaliação considera as necessidades individuais. As-sim, confortar é o resultado de estratégias de cuida-do, reavaliadas permanentemente e em sintonia comas necessidades do paciente7.

Para a obtenção do conforto, faz-se necessáriaa construção de um ambiente externo favorável:caloroso, atencioso, amoroso, que propicie cresci-mento, alívio, segurança, proteção, bem-estar, queinclua a presença de profissionais que transmitamsegurança e empatia. Isto significa cuidado humanolevando à sensação de conforto. Já o conforto oriun-do do ambiente interno depende de cada ser e podeser resultante do cuidado que favorece a ocorrênciade integração, liberdade, melhora, segurança, pro-teção e comodidade4.

Na visão do paciente, o conforto é ressaltadopela sensação de apoio, ajuda, confiança, simpatia epela perspectiva de recuperação da saúde, assim as-sociado ao bem-estar físico e mental e à diminuiçãodo sofrimento8.

O conforto é descrito em três etapas: a primeira équando as enfermeiras avaliam as necessidades de con-forto do indivíduo holisticamente (físico psico-espiri-tual, sócio-cultural e desenvolvimental/ambiental)9.

Na segunda etapa, as enfermeiras implementamuma variedade de intervenções no cuidado e devemmensurar ou avaliar os níveis de conforto e seu al-cance antes e após a realização dessas intervençõesde enfermagem. Há variáveis nessas intervenções,positivas e negativas, mas deve ser considerado oalcance do conforto em todo o processo de desen-volvimento do cuidado. Há variáveis como situaçãofinanceira, suporte social, prognóstico da doença,status cognitivo, entre outras, que assumem um ca-ráter negativo, podendo dificultar o alcance do con-forto num contexto mais amplo9.

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Já na terceira, o engajamento do familiar e pa-ciente no processo de confortar reforça o alcance doconforto. Para tanto, as instituições de saúde devemestar preparadas, possibilitando a permanência doacompanhante que passa a colaborar como cuidador,com definições claras de atuação, sem comprometera qualidade do cuidado, bem como a garantia dosaspectos éticos9.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo qualitativo, com aborda-gem exploratória, desenvolvido numa instituição desaúde pública especializada na área de oncologia,vinculada à Secretaria de Estado da Saúde de SantaCatarina.

Participaram do estudo 24 sujeitos, organiza-dos em três grupos: oito jovens, oito adultos comdiagnóstico de câncer e oito enfermeiras oncológicas,garantindo a paridade dos participantes. A seleçãoatendeu os seguintes critérios: grupo de adultos egrupo de jovens com diagnóstico de câncer sem res-trições/dificuldades para comunicação oral; e grupode enfermeiras oncológicas.

A coleta de dados ocorreu em 2006 e 2007.Utilizou-se a técnica de entrevista semi-estruturada,com a utilização de gravador, para os pacientes jo-vens (J) e adultos (A) com câncer. As entrevistasocorreram numa situação assistencial na qual se es-colheu o momento oportuno para seu desenvolvi-mento. Com as enfermeiras (E) aplicou-se um ques-tionário, sendo estipulado o prazo de sete dias paraa sua devolução. Os sujeitos foram identificados pe-las letras J, A e E seguidas pelos números de ordemno estudo. No roteiro da entrevista e do questioná-rio utilizou-se a seguinte questão: o que você entendepor conforto e estar confortável?

Os dados coletados foram submetidos à análisede conteúdo, proposta por Bardin10, seguindo as etapasde: pré-análise, codificação, categorização e inferênciaque é a intenção da análise propriamente dita.

Foram respeitados os princípios éticos determi-nados na Resolução nº 196/96, do Conselho Naci-onal de Saúde11. O estudo iniciou após a aprovaçãodo Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição deSaúde, com os Pareceres de nº 05/2006, registro n°016/2006, de 03/03/2006, e nº 034/2006, registron° 019/2006, de 20/10/2006. Os sujeitos que con-cordaram em participar do estudo assinaram o Ter-mo de Consentimento Livre e Esclarecido, permi-tindo a publicação de seus depoimentos, desde quepreservados o sigilo e o anonimato.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir dos relatos foram levantados os signifi-cados de conforto dos sujeitos deste estudo.

Grupo de Jovens com CâncerPerguntamos para oito jovens com diagnóstico

de câncer, com idade na faixa de 15 a 18 anos, comoeles percebem o conforto e como se sentem confor-tados. O jovem não exprime somente a idéia de con-forto, num processo discursivo, mas fatores impres-cindíveis para a vivência com bem-estar, a partir desua experiência com o câncer. Principalmente du-rante a hospitalização, eles necessitam adaptar-se acertas rotinas que lhe são impostas, como, por exem-plo, o horário da alimentação, das medicações, dasvisitas. A submissão aos procedimentos invasivos,muitas vezes dolorosos, a terapia quimioterápica queocasiona vários efeitos colaterais, entre outras, setornam fatores que levam ao desconforto.

As categorias identificadas foram: estar no lar,interação com familiares e amigos e estar sem dor.

Estar no lar

Para o jovem com câncer, o lar é o ambientedo conforto, porque é o lugar conhecido. É o espaçosignificante, que lhe traz a vida anterior à doença,no qual seus familiares estão disponíveis comocuidadores. O afeto, o carinho, a atenção que rece-bem do familiar é um ato de cuidado que resulta numbem-estar, no conforto do jovem, como observamosnas falas a seguir:

Estar com a minha família, poder fazer as coisasque eu fazia antes da doença. (J2)

Não ter que ficar falando da doença, ficar na mi-nha cama com certeza, eu sempre gosto de ficar momeu cantinho, na minha casa. (J3)

Na minha cama, porque eu fico mais sossegado eem casa. É poder andar. É retornar a fazer o que eupodia fazer antes, voltar pra casa. (J7)

Interação com familiares e amigos

Observamos que, para o jovem com câncer, ainterrupção dos estudos, o distanciamento dos ami-gos, o afastamento de casa leva à vivência do des-conforto. Para esse grupo, estar confortável é estarna convivência de seus familiares e amigos, conti-nuando as atividades rotineiras e de lazer,

Lá em casa, com os colegas da escola, jogando nocomputador, falar com os amigos de esporte, da vidadeles. (J2)

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Estar sem dor

O jovem refere que estar em conforto significanão sentir dor, ter a dor controlada. A dor afeta prin-cipalmente em nível físico e emocional. Não ter dorsignifica estar bem, que permite a alimentação, adeambulação, o viver confortável. As medidas tera-pêuticas invasivas levam o jovem a conviver com ador e o sofrimento causando mudanças no ritmo eestilo de vida. E estar em conforto é:

Não sentir dor e poder me alimentar direito, terminha saúde. (J8)

Ficar em meu quarto porque lá é o lugar mais quietoda casa, o lugar mais calmo. (J5)

Estar ao lado de minha mãe, porque ela me dá for-ça, não sentir dor. (J6)

Grupo de Adultos com CâncerParticiparam oito adultos, na faixa etária de 30

a 60 anos, com diagnóstico de câncer e em trata-mento antiblástico ambulatorial. Eles caracterizama doença como perda do conforto que os distanciamda vida anterior à doença. Então, ter conforto re-presenta poder retornar aos padrões anteriores ouadaptar-se à nova realidade, apesar das inúmerasmudanças de hábitos decorrentes do diagnóstico decâncer e da terapêutica antiblástica.

Considerando os dados coletados, as categori-as identificadas foram: saúde e carinho.

Saúde

Observamos que para os adultos com diagnós-tico de câncer, reconquistar a saúde representa o prin-cipal significado do conforto.

No entanto, essa reconquista nem sempre serácomo inicialmente estes sujeitos a imaginavam. Asexperiências vivenciadas, no processo de saúde-do-ença, vão aos poucos conduzindo à conquista dacondição de saúde e ao estabelecimento de novospadrões de saúde e conforto.

O conforto surgirá quando a pessoa alcançarum estado de harmonia e de liberdade em relação asi própria e em relação ao ambiente; quando conse-guir exercer controle sobre sua própria vida, quandose sentir mais forte e liberta dos medos, quando sen-tir que tem condições de sobreviver e quando des-frutar do prazer de ser e viver4.

Dessa maneira, o enfermeiro tem papel de des-taque quando refletimos sobre as possibilidades decuidados, que podem implementar o conforto ou

favorecer as conquistas de saúde e de conforto pelaprópria pessoa. Alguns depoimentos:

No meu ponto de vista, o importante é ter saúde, éa maior riqueza que a gente tem. (A6)

Conforto pra mim é estar de bem com a vida, tersaúde e ter uma condição digna de sobreviver. Époder seguir a vida e fazer as coisas que queremos[...] é a minha cura. (A7)

Carinho

Ele pode ser proporcionado pelos profissionaisou familiares e amigos. O importante é que esta prá-tica significa cuidado humano e se faz na constru-ção de um ambiente caloroso, atencioso, amorosoque culmina na sensação de segurança, proteção ebem-estar4.

A ajuda, o apoio, a confiança, a simpatia auxi-liam na conquista do conforto e da recuperação dasaúde, por isso devem ser adotados como formas te-rapêuticas8, como descrito a seguir:

[...] conforto é o carinho que não tenho. (A1)

[...] ter em volta pessoas que dão carinho é con-forto. (A4)

Grupo de Enfermeiras OncológicasPerguntando para as oito enfermeiras

oncológicas como percebem o conforto e estar con-fortável, as respostas indicaram a necessidade da ar-ticulação harmônica das diversas dimensões do ser,expressas nas seguintes categorias: equilíbrio físico,mental e emocional e bem-estar.

Equilíbrio físico, mental e emocional

Esta categoria representa uma experiência sub-jetiva, que transcende a dimensão física1-9. É evidenteque o físico é parte do ser, mas, para que a pessoapossa se sentir em equilíbrio e com conforto, ela ne-cessita da harmonia também dos componentes psico-espiritual, sociocultural e de relação4,9. Essa necessi-dade holística é o ideal almejado por todos, seja pes-soa doente ou profissionais enfermeiros. Os depoi-mentos a seguir reforçam tal visão:

É a ausência de qualquer elemento físico que causadesequilíbrio, seja físico, mental ou emocional. (E1)

Estar em pleno conforto depende de vários fatoresque influenciam a nossa vida, como viver digna-mente, ter saúde, ter moradias, ter condições fi-nanceiras e principalmente estar emocionalmenteequilibrado. (E6)

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Bem-estar

É caracterizado pela condição de alcance daharmonia humana, o viver plenamente12-14. Assim,o conforto expressa um estado de bem-estar. Bem-estar e conforto significam o desejo de viver plena-mente e em harmonia cada dia, independentemen-te da presença ou ausência de problemas ou doen-ças13. Alguns depoimentos:

É sentir-se bem [...]. (E3)

Tudo que faz bem ao ser humano. (E2)

É tudo que proporciona o bem-estar, ou seja, estarbem consigo mesmo e com as coisas que te rodei-am. (E8)

CONCLUSÃO

Neste estudo, observamos que os significados doconforto, para os jovens que vivenciam o câncer,expressam a necessidade de um lugar seguro e de afe-to; a saúde e afeto são os significados atribuídos aoconforto pelos pacientes adultos. A dimensão físicatem a dor como sintoma prevalente entre os jovens;e a dimensão de autonomia ficou evidente entre ospacientes adultos. Para as enfermeiras oncológicascuidadoras desses sujeitos, o conforto é ao mesmotempo um estado de equilíbrio pessoal e ambiental.

A concepção de conforto assume diferentes sig-nificados, dependendo dos momentos vivenciadostanto pelos jovens quanto pelos adultos com câncer,da mesma forma pelas enfermeiras.

A multidimensionalidade do conforto exige queo enfermeiro conheça também os referenciais filosó-ficos do cuidado e conforto e do cuidado de si, paraque ele possa perceber as necessidades do outro e desi mesmo.

Ressaltamos que viver com conforto não signi-fica estar confortável em todos os aspectos da vidaao mesmo tempo, mas sim a capacidade de manterou restaurar o bem-estar subjetivo, dentro de suaspossibilidades, no equilíbrio entre suas limitações epotencialidades.

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Recebido em: 12.12.2007Aprovado em: 10.05.2008