4 VIVER SEM ESFORÇO

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A presente edição segue a grafi a do Novo Acordo Ortográfi co da Língua Portuguesa

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© 2017Direitos reservados para Marcador Editorauma empresa Editorial PresençaEstrada das Palmeiras, 59Queluz de Baixo2730-132 Barcarena

Título: Regenerar – Manual de bem-estar para viver de acordo com as estaçõesAutor: Lourenço de AzevedoRevisão: Silvina de SousaCapa e layout miolo: Marina Costa / Marcador EditoraPaginação: Gráfi ca 99Ilustrações fi gura humana: Vanessa ÉffeImagens capa e miolo: © ShutterstockFotografi a do autor: © Pau Storch — magma.ptImpressão e acabamento: Multitipo – Artes Gráfi cas, Lda.

ISBN: 978-989-754-301-2Depósito legal: 425 472/17

1.ª edição: junho de 2017

ÍNDICE

PREFÁCIO

9

AGRADECIMENTOS

11

CURAR COM A NATUREZA

OS MÉTODOS E OS PRINCÍPIOS 17

COMO UTILIZAR ESTE LIVRO

20

1. VIVER SEM ESFORÇO

ERA UMA VEZ, HÁ QUATRO MIL ANOS 25

O QUE NOS TORNA ÚNICOS? 28

A ARTE DE REGULAR A ENERGIA VITAL COM SUCESSO 29

RESPIRAR COM O YIN E COM O YANG 36

QUE ESTAÇÃO DO ANO PREFERE? 38

FATORES CLIMATÉRICOS, ALIMENTAÇÃO E EMOÇÕES 39

O QUE É A MACROBIÓTICA? 41

O QUE ACONTECE QUANDO «MORREMOS»? 42

A RELAÇÃO DO CORPO COM AS EMOÇÕES 47

AS EMOÇÕES, SEGUNDO AS ESTAÇÕES 50

HÁ QUANTO TEMPO NÃO DÁ UM MURRO FORTE NO TAMPO DA MESA? 51

OS CINCO ELEMENTOS 54

APROFUNDAR OS CINCO ELEMENTOS 55

CHEGOU AO FIM DESTE CAPÍTULO 59

2. PRIMAVERA: RENASCER E GERMINAR

QUANDO COMEÇA A PRIMAVERA? 64

A PRIMAVERA – TEMPO DE LIMPEZA E DESINTOXICAÇÃO 66

O QUE SIGNIFICA DEITAR-SE CEDO? 66

O SONO E A ILUMINAÇÃO 67

DORMIR PARA PERDER PESO 68

EXERCITAR -SE NA PRIMAVERA 69

O SABOR DA PRIMAVERA 70

COMER PARA ALONGAR 70

TESTE A SUA FLEXIBILIDADE 72

O QUE SIGNIFICA RELAXAR? 73

AVALIE A QUALIDADE DO SEU FÍGADO 75

AVALIE A QUALIDADE DA SUA VESÍCULA BILIAR 75

A ALIMENTAÇÃO NA PRIMAVERA 77

DESINTOXICAR O FÍGADO 78

COMA E DESINTOXIQUE- SE – OS CEREAIS 80

AS SALADAS NA PRIMAVERA 83

FLUIR, FLUIR – AS SOPAS NA PRIMAVERA 84

BEBER CHÁS NA PRIMAVERA PARA DESINTOXICAR 85

AS ALERGIAS DA PRIMAVERA 88

ALÉM DA COMIDA E DA BEBIDA 92

DESINTOXICAR PELO MOVIMENTO – AS NOVE PÉROLAS 92

TRATAR AS EMOÇÕES DO FÍGADO 96

ROTINAS DE DESINTOXICAÇÃO PRIMAVERIL 99

TRANSITAR DA PRIMAVERA PARA O VERÃO 103

PROPOSTAS DE PRÁTICA DE CHI KUNG PARA A PRIMAVERA 105

AS CARACTERÍSTICAS DA PRIMAVERA 106

3. FLORESCER NO VERÃO

QUANDO COMEÇA O VERÃO? 110

E QUANDO O VERÃO NUNCA MAIS CHEGA? 112

RECOLHER A ENERGIA VITAL 117

PORQUE PODE SER TÃO DESAFIANTE IR CEDO PARA A CAMA? 119

O QUE LHE CUSTA QUANDO TRANSPIRA NO VERÃO 120

A ATIVIDADE FÍSICA NO VERÃO 121

HIDRATAR E RECUPERAR SAIS MINERAIS 123

DE NOVO, A RAIVA 124

A CIÊNCIA POR DETRÁS DA SESTA 126

A ALIMENTAÇÃO NO VERÃO 131

O SABOR DO VERÃO 132

A COR DO VERÃO 133

COMER COM OS OLHOS 135

OS CEREAIS DO VERÃO 135

O OÁSIS DAS SALADAS À MESA 138

SOPAS – A NUTRIÇÃO LÍQUIDA 139

PREVENIR E TRATAR AS CONSTIPAÇÕES DE VERÃO 141

FAZER MAIS COM MENOS 144

VIAJAR NO VERÃO 145

ATIVAR A CIRCULAÇÃO EM VIAGEM COM O CHI KUNG 149

A VIAGEM COMO CAMINHO DE DESCOBERTA DE SI 152

TRANSITAR DO VERÃO PARA O OUTONO 153

PROPOSTAS DE PRÁTICA DE CHI KUNG PARA O VERÃO 155

AS CARACTERÍSTICAS DO VERÃO 156

4. REFLETIR, DIGERIR E ORGANIZAR

O QUE DEFINE A ESTAÇÃO TERRA OU DE TRANSIÇÃO? 160

QUANDO COMEÇA A ESTAÇÃO DE TRANSIÇÃO? 162

COMECE POR APRENDER A SENTIR A TERRA 164

SOBRE OS PÉS 166

CONHECER O SEU SISTEMA DIGESTIVO E A SUA RELAÇÃO COM A TERRA 166

COMO DIAGNOSTICAR O SEU SISTEMA DIGESTIVO OU ELEMENTO TERRA 168

EXERCÍCIO PARA O FORTALECIMENTO DO SISTEMA DIGESTIVO 171

O GOSTO AMARGO DO AÇÚCAR 171

TODOS A BORDO… DA MONTANHA-RUSSA EMOCIONAL 174

O MELHOR EXERCÍCIO DO MUNDO 178

COMER PARA CENTRAR 179

QUANDO A SOPA CENTRA, NUTRE E SATISFAZ 181

FORTALECER O SISTEMA DIGESTIVO… COM ÁGUA 183

QUANDO A FARMÁCIA ESTÁ NO FRIGORÍFICO 183

ALÉM DAS PROTEÍNAS E VITAMINAS 185

FORTALEÇA O SISTEMA DIGESTIVO COM A PRÁTICA DO CHI KUNG 185

DEIXAR-SE NUTRIR (SEM ESFORÇO) NÃO POR AQUILO QUE FAZ, MAS PELO QUE NÃO FAZ 186

TRANSITAR PARA A ESTAÇÃO SEGUINTE 188

PROPOSTAS DE PRÁTICA DE CHI KUNG PARA AS ESTAÇÕES DE TRANSIÇÃO 191

CARACTERÍSTICAS DA ESTAÇÃO DE TRANSIÇÃO 192

5. SIMPLIFICAR, SIMPLIFICAR, SIMPLIFICAR...

QUANDO COMEÇA O OUTONO? 196

O OUTONO: TEMPO DE SIMPLIFICAÇÃO E REFLEXÃO 198

ALGUMAS DAS ATIVIDADES DIÁRIAS QUE PODE PRATICAR PARA SE CONETAR COM

ESTE PERÍODO DO ANO 201

O OUTONO E AS EMOÇÕES 202

CHI KUNG SENTADO PARA ALINHAR CORPO, RESPIRAÇÃO E MENTE 203

APRENDER A DIAGNOSTICAR O PULMÃO 207

LIMPAR A PELE EM PROFUNDIDADE 209

CINCO RECOMENDAÇÕES QUE PODEM FORTALECER O SEU SISTEMA IMUNITÁRIO 211

O ESPAÇO ONDE HABITA 214

AS FRONTEIRAS COM O MUNDO 215

QUANDO FOI A ÚLTIMA VEZ QUE CHOROU? 216

SUAVIZAR A MENTE TRATANDO TAMBÉM DO CORPO 216

OS SABORES DO OUTONO 217

O ABC DA ENERGÉTICA ALIMENTAR 219

QUANDO CONTRAIR É NUTRIR 225

NO OUTONO, CULTIVAR UMA OSMOSE SAUDÁVEL COM AS SOPAS 226

QUANDO O OUTONO TAMBÉM REPRESENTA OS RESFRIADOS 227

ALIMENTOS QUE ACELERAM O PROCESSO DE RECUPERAÇÃO 229

MANTER O ORGANISMO NUTRIDO DURANTE OS RESFRIADOS 232

TRANSITAR PARA O INVERNO 234

PROPOSTAS DE PRÁTICA DE CHI KUNG PARA O OUTONO 236

CARACTERÍSTICAS DO OUTONO 237

6. RECOLHER, MEDITAR E CLARIFICAR

QUANDO COMEÇA O INVERNO? 240

E QUANDO O INVERNO NÃO ACONTECE? 242

ACEDER OU FORTALECER O SEU PROPÓSITO DE VIDA 244

O INVERNO: TEMPO DE ALINHAMENTO 246

A SUA COLUNA E A SUA MENTE 247

OS DESAFIOS DE ALINHAMENTO COM O INVERNO 250

QUAL A SUA RELAÇÃO COM O FRIO? 255

FORTALECER GRADUALMENTE A VITALIDADE DOS RINS 255

CABELO EM QUANTIDADE E QUALIDADE? 260

QUANTAS VEZES VAI À CASA DE BANHO DURANTE A NOITE? 262

PELAS ESCADAS OU PELO ELEVADOR? 264

FORTALEÇA AS COSTAS E AS PERNAS UTILIZANDO UMA PAREDE 265

A COZINHA NO INVERNO 268

APERFEIÇOAR A PRESERVAÇÃO DA SUA ENERGIA VITAL 276

TRANSITAR PARA A PRIMAVERA 277

PROPOSTAS DE PRÁTICA DE CHI KUNG PARA O INVERNO 280

AS CARACTERÍSTICAS DO INVERNO 281

BIBLIOGRAFIA

285

15VIVER SEM ESFORÇO

REGENERARREGENERARA arte de viver com as estações do ano

Os princípios de uma vida saudável de acordo com os ciclos da natureza.

À possibilidade de a cada momento podermos

transformar a nossa vida – e de permitir

que ela também nos transforme.

CURAR COM A NATUREZACURAR COM A NATUREZAOs métodos e os princípios

Cada um de nós, como ser único que é, pos-sui ritmos próprios, preferências, expetativas e observa o mundo como mais ninguém tem capacidade para o observar. É, assim, natural que as suas necessidades individuais variem consoante os seus estados físicos e emocio-nais, com os períodos do dia, com as esta-ções do ano e as fases da vida que vai percorrendo. Durante esses períodos, encon-tra alegrias e desafi os, alguns momentâneos e outros que lhe fazem companhia durante vários estágios da sua vida.

Como seres humanos que somos, está inerente em nós também a busca do conforto, da feli-cidade, da saúde e do bem-estar. Esta procura, ao longo da história da humanidade, tem sido abordada de diferentes perspetivas. Existem pelo menos duas abordagens possíveis que podemos adotar.

A abordagem pelos métodos, que resulta numa busca humana de felicidade e estabilidade pela procura de uma fórmula ou de uma receita – um caminho seguro – que permite com alguma fi abilidade e certeza atingir os nossos propósitos de uma vida mais plena. Esta abordagem, na minha experiência como praticante de medicina tradicional chinesa, permite-me observar:

• Que todos os anos existe uma dieta ou fórmula «da moda» que promete – sem esforço – perder rapidamente peso e que põe a dieta do ano anterior em causa.

• Que todos os meses é descoberto um superalimento com cada vez mais (super)proprieda-des antioxidantes, desintoxicantes, regeneradoras e anticancerígenas. Deixando aquele que no mês anterior era a descoberta mais fi ável para a saúde e longevidade com proprie-dades muito semelhantes a uma água comum da torneira.

• Que as tendências do que é saudável para o corpo humano, em termos de exercício físico e movimento, mudam de geração em geração. Tudo depende dos testes realizados e que nos vão informando como é bom correr longas distâncias ou como é melhor correr curtas distâncias, como é bom correr descalço ou como pode ser importante correr calçado, como é bom fazer um treino intensivo ou como é melhor ainda fazer períodos de recuperação.

• Que a alimentação ideal para o ser humano tem uma oscilação muito semelhante às marés. As teorias oscilam entre o cru, o cozinhado, as dietas dos pós, dos sumos, do jejum, as

Podemos comer tudo aquilo que desejarmos,

tudo depende de como, quando e em que quantidade.

Provérbio chinês

18 CURAR COM A NATUREZA

dietas dos homens do Paleolítico, as dietas dos grupos de sangue, as dietas sem carboidra-tos, as dietas destinadas a erradicar a acidez do organismo, as que erradicam o glúten, as que identifi cam as histaminas como alvo a abater, umas vezes com mais suplementos; outras, totalmente puristas.

• …

Além de se poder tornar confusa, a maioria destes métodos – apesar da sua efi cácia a curto prazo –, a longo prazo, não sobrevive ao teste do tempo. É uma questão de semanas ou meses até que um novo estudo seja publicado. Surge então outra fórmula que lhe garante perder ainda mais peso, que lhe proporciona os nutrientes ainda mais adequados, que lhe dá a capa-cidade de ser ainda mais rápido, forte e fl exível, e que lhe permite viver ainda mais tempo.

Na citação que abre este capítulo encontramos a segunda abordagem à busca de saúde, feli-cidade e bem-estar: o estudo dos princípios universais que tocam qualquer ser humano do planeta. Nesse excerto são defi nidos os princípios de uma alimentação e de uma vida saudá-veis Não são indicados que alimentos deve consumir, quantas refeições deve fazer por dia, nem as calorias e os gramas que cada prato deve ter. No entanto, a frase sobreviveu ao teste do tempo e continua a ser aplicável em qualquer lugar do mundo. Vamos analisá-la em por-menor:

• Como signifi ca o método culinário para a sua confeção: cru, aquecido, cozinhado no vapor, escaldado em água, estufado em água, estufado em óleo, salteado em óleo ou em água, frito, desidratado ou seco, no forno, na panela de pressão, em sumo, em chá, triturado, em sopas, sólido, fresco, quente, com molhos, sem molhos, caramelizado, com ou sem condi-mentos…

• Quando? De manhã, ao almoço, ao jantar, antes de dormir, em jejum, antes das refeições, entre refeições, no meio das refeições, no princípio, no meio ou no fi nal do verão, no outono, na primavera ou no inverno, na infância, adolescência, idade adulta, meia-idade, velhice, durante a gravidez, em estados de doença, fraqueza, quando existe vitalidade, quando estamos de férias, com trabalho intenso, quando é necessário foco, relaxamento, criativi-dade, energia de arranque ou energia de resistência…

• A quantidade, que poderá ser pouca, sufi ciente ou muita, depende dos aspetos anteriores. Cada alimento poderá ter proporções diferentes segundo o efeito pretendido, idade, estilo de vida, necessidades individuais e estação do ano ou da vida.

O exemplo aqui apresentado pode ser facilmente transposto para outros aspetos da sua vida diretamente relacionados com a alimentação. Em que como os realiza, quando os realiza e em que quantidade os realiza podem ser o fator-chave para uma vida mais equilibrada e plena.

À medida que lê esta introdução, é-lhe dada a oportunidade de fazer uma escolha consciente: escolher viver a vida em busca constante da fórmula ou do método ideal para ser feliz, ou investir o tempo, recursos e energia em compreender os princípios da natureza e das estações do ano que podem trazer-lhe recursos e uma melhor compreensão da vida. É essa compreen-são que lhe permite autorizar-se a criar o seu próprio projeto de saúde e bem-estar – à sua

19CURAR COM A NATUREZA

medida e que respeita o potencial e as características do ser único que é. Este ser não está sujeito às caixas ou aos rótulos que os métodos lhe propõem e que, por mais efi cazes que se demonstrem, logo à partida, lhe criam limitações – porque, embora pareçam, não foram feitos a pensar em si e nas suas necessidades pes-soais. A diferença entre os métodos e os princípios é semelhante a aprender uma lín-gua estrangeira por frases-chave – que só funcionam em determinadas situações –, ou mergulhar profundamente na estrutura lin-guística do idioma que quer aprender. Isto permite-lhe – às vezes até com menos recur-sos – aplicar a linguagem em qualquer situa-ção de forma contextual e inteligente.

Este livro não foi escrito para fornecer mais métodos e fórmulas além dos já existentes. Foi escrito para quem quer aprender uma lin-guagem universal para o dia a dia – onde quer que esteja e para onde quer que vá. Esta lin-guagem de fortalecimento da sua energia vital serviu a humanidade pelo menos durante mais de 2000 anos e assenta na tradição terapêutica oriental. Esta tradição chegou aos dias de hoje apenas por uma razão: foi útil ao longo de milhares de anos aos grupos ou indivíduos que a adotaram e, por ser útil, transmitida e refi nada geração após geração. Este conhecimento foi desenvolvido numa época em que não haveria soluções rápidas e em que a saúde e a longe-vidade não eram paliativas, mas sim de natureza preventiva – em que o médico superior era aquele que tratava as doenças antes de estas se instalarem. Era por isso essencial dominar os princípios desta linguagem, e desse domínio dependiam as probabilidades de sobrevivência e de uma longevidade saudável.

Ao virar esta página, não lhe garanto que possa estar a embarcar na viagem da sua vida, mas estará a dar um passo que pode tornar a viagem que faz neste momento mais nutritiva e trans-formadora. Para si, para os outros e para o planeta onde habita.

O homem que integra os princípios pode com sucesso selecionar os

seus próprios métodos. O homem que tenta os métodos, ignorando os princípios, vai de certeza ter

problemas. Harrington Emerson

20 COMO UTILIZAR ESTE LIVRO

COMO UTILIZAR COMO UTILIZAR ESTE LIVROESTE LIVRO

Quando este material é apresentado em cur-sos introdutórios com a duração de um dia, em cursos anuais ou em cursos com a dura-ção de vários anos, como os de medicina tra-dicional chinesa, macrobiótica ou feng shui, é natural que uma nova perspetiva do conhe-cido seja expandida.

Dada a natureza vasta da informação aqui apresentada, procurei que esta tivesse uma estru-tura coerente, mas, como irá descobrir ao longo da leitura deste livro, cada estação tem carac-terísticas únicas e, como tal, é também apresentada com uma estrutura particular.

No entanto, existem pontos em comum em todos os capítulos:

• O texto do Livro do Imperador Amarelo – um dos clássicos da medicina tradicional chinesa –, no qual estão descritos os princípios essenciais para viver em harmonia com as estações.

• Os princípios que permitem reconhecer o início de cada estação sem que esta esteja obri-gatoriamente relacionada com o calendário.

• Os pontos essenciais de diagnóstico dos órgãos e dos sistemas que, segundo a medicina tradicional chinesa, correspondem a cada uma das estações.

• A descrição e a utilização de alimentos e práticas de movimento terapêuticas que podem auxiliar a uma maior compreensão e criar um maior alinhamento com a estação que está a viver.

• Hábitos de vida específi cos para a saúde e longevidade que criam recursos para que possa viver cada estação do ano o mais plena e conscientemente possível.

• Os princípios que lhe permitem transitar para a estação seguinte.

Antes de iniciar esta viagem, deixo-lhe algumas recomendações:

• Para que a leitura seja o mais nutritiva possível, comece pelo primeiro capítulo. Aí são expli-cadas as bases da linguagem de compreensão dos ritmos das estações do ano e da sua aplicação ao seu dia a dia. De seguida, deverá consultar a estação em que se encontra neste momento. Devendo ler esse capítulo consultando quer a estação anterior quer a estação

A única fonte de conhecimento é a experiência.

Albert Einstein

21COMO UTILIZAR ESTE LIVRO

seguinte quando necessário. Por exemplo, se estiver na primeira metade do inverno, deve consultar também o outono; se estiver na segunda metade do inverno, recomenda-se que consulte também a primavera.

• Ao ler cada uma das estações, vai encontrar o convite para experimentar chás, alimentos e exercícios terapêuticos que se destinam a fortalecer o alinhamento presente com a estação que está a viver. Ao aceitar este convite, vai além de uma compreensão teórica, mas explo-rando um universo prático que, estação após estação, lhe permite criar a sua própria com-preensão do que está a viver neste momento. O que, numa perspetiva oriental, é de longe mais importante do que qualquer teoria que não tem uma manifestação prática.

• Este livro foi criado para ser utilizado como material de estudo, o que signifi ca que pode anotar, sublinhar e utilizar marcadores para uma referência mais rápida.

• Partilhe as propostas e o conhecimento aqui disponibilizados com amigos e familiares, para que estes sejam integrados a outros níveis da sua vida.

• Aqui, pretende-se que, ao conhecer o ritmo das estações, descubra também o seu ritmo pessoal, o que signifi ca, no dia a dia, aprender a não comparar o seu percurso com o de outros que já o percorreram. O seu potencial reside no conhecimento profundo dos seus recursos, não na imitação dos recursos alheios. Nesse sentido, propõe-se a curiosidade e a experimentação pura como motores para esta descoberta.

• Na criação deste livro foi utilizada alguma bibliografi a de apoio. Se deseja expandir este conhecimento, recomendo que a consulte e estude. Garanto que não vai encontrar aqui fi m à vista, mas um percurso nutritivo para o resto da vida.

• Este livro não tem fi m, e, uma vez realizado um ciclo por todas as estações do ano, faço-lhe o convite para que comece de novo o percurso, observando diferenças entre a estação passada e a que está a viver.

• Resta-me desejar-lhe uma excelente viagem em torno das estações e que, daqui a um ano, a sua compreensão deste ciclo se encontre renovada.

O mundo é um livro, e aqueles que não viajam

leem apenas a primeira página.Santo Agostinho

Viver semesforço

1.

24 VIVER SEM ESFORÇO

25VIVER SEM ESFORÇO

ERA UMA VEZ, HÁ QUATRO MIL ANOS

Estamos em 2200 a. C., na região de Sichuan, na China. As constantes inundações impediam que o progresso social e o económico seguissem um crescimento estável. É aqui que vamos encontrar um homem chamado Yu, o fi lho de um engenheiro de barragens que tinha sido contratado para minorar o risco constante de inundações nesta área da China. Durante nove anos, o seu pai construiu barragens e diques para conter as águas. No entanto, os seus esfor-ços foram inefi cazes a longo prazo. As barragens, embora mais seguras do que as das gera-ções anteriores, necessitavam de manutenção constante contra o movimento das águas. Por sucessão, Yu continuou o trabalho do pai e estudou em detalhe porque é que este tinha sido inefi caz. Esta refl exão levou -o a construir, durante 12 anos, um sistema que incluía, além de barragens, também canais de irrigação. Era possível canalizar o imenso poder da água para os campos de cultivo, controlando assim as inundações. A longo prazo, permitiu que os habitan-tes dessa área pudessem estabelecer -se em segurança nas margens do rio Amarelo e trouxe prosperidade a toda a região. Hoje, Yu é conhecido na China como o Grande Yu e reconhecido como um herói nacional.

O QUE PODE APRENDER COM O GRANDE YU

As barragens erguidas pelo pai do Grande Yu, e que aparentemente funcionavam, na realidade, necessitavam de grande esforço para serem mantidas. Foi a estrutura que criou para abraçar as características voláteis e fl uidas da água que permitiu que as inundações terminassem e que a população pudesse prosperar. Foi dada preferência a compreender e seguir os princípios da água – canalizando -a –, em vez de criar métodos para a conter e subjugar.

Pode encontrar esta história – que motivou o Grande Yu a reformular um processo preestabe-lecido também na sua vida – sem necessitar sequer de estudar engenharia de barragens. Esta história encontra -se representada em elementos da sua vida que «parecem bem», mas, tal como as barragens do pai do Grande Yu, requerem uma energia de manutenção elevada para que se mantenham funcionais. Por outras palavras, não estão a fl uir. Se estivessem, o consumo de recursos não era tão grande. Observe o seu dia a dia e veja se identifi ca a presença de alguns destes elementos na sua vida.

• Podem ser elementos laborais: um emprego que desgasta e não preenche, apesar do prestígio, reconhecimento ou valor monetário que lhe traz no fi nal do mês.

• Podem ser elementos da sua vida social ou íntima. Embora aparentemente esteja tudo bem e pareça bem, existe uma sensação de rotina e vazio.

Esvazia a tua mente, não assumas qualquer forma ou aparência – como a água.

Quando colocas água numa chávena, ela torna -se a chávena; quando a colocas numa garrafa,

ela torna -se a garrafa; se a colocas num bule, ela torna -se o bule. A água pode fl uir ou colidir.

Sê água, meu amigo.Bruce Lee

26 VIVER SEM ESFORÇO

• Podem ser elementos monetários. Apesar de ter tudo o que deseja, não tem tempo nem espaço que lhe permitam usufruir do que até agora adquiriu.

• Pode ser o seu estado físico e emocional. Apesar de aparentar que está bem e em equilí-brio, pode sentir que a sua barragem vai desabar a qualquer momento.

Pense nestes aspetos, especialmente quando sente alguns destes sintomas:

• Falta de capacidade de organização do tempo disponível.

• Incapacidade em desconetar -se das solicitações do dia a dia.

• Relaxar das tensões físicas e mentais.

• Sentir fl utuações emocionais entre alegria e tristeza.

• Variações no apetite – entre comer muito e não ter fome.

• Difi culdade em adormecer ou em levantar -se da cama.

• Difi culdades em defi nir prioridades e tomar resoluções.

Estará a suportar uma estrutura de alta manutenção? Imagine durante quanto tempo essa estrutura pode ser sustentada? O que não está a fl uir?

Quando lhe foi dada a tarefa de continuar o trabalho do pai, Yu reinventou -a e não a rejeitou. Essa reformulação de um paradigma estabelecido levou -lhe 12 anos a concluí -la. Se pretende transformar o seu dia a dia, pense na história do Grande Yu e que a transformação não implica necessariamente a rejeição da sua condição atual. As mudanças mais consistentes são com frequência as que utilizam os recursos disponíveis. Estes recursos, quando utilizados de outra perspetiva, podem servir de alavanca para a simplifi cação dos processos atuais da sua vida – sem que tenha obrigatoriamente de produzir uma mudança de 180 graus.

Ao compreender melhor o ritmo das estações, vai aprender a utilizar a sua força criativa em momentos mais propícios e mais vantajosos. Não são os fatores externos que nos impedem de criar a transformação, mas a capacidade de reconhecer os momentos propícios para o movi-mento ou para a quietude. Existem momentos de criação, momentos de ação e celebração, refl exão, organização e introspeção. Quando os reconhece, pode fl uir na vida com criativi-dade, liberdade e um gasto de recursos mínimos. Utilizando os recursos existentes no aqui e no agora.

27VIVER SEM ESFORÇO

OS HERDEIROS DO GRANDE YU

Embora os historiadores se dividam sobre a existência do Grande Yu, esta história de que existiu um homem que descobriu que é mais fácil deixar fl uir do que bloquear produziu um grande impacto na sociedade chinesa e propagou -se geração após geração até aos dias de hoje. Pode assim encontrar o princípio de fl uir em vez de bloquear, aplicado pelo Grande Yu, em algumas artes tradicionais.

• No feng shui, a arte de compreensão e organização do espaço utiliza este princípio. Se existem muitas abordagens para criar uma habitação saudável, uma das mais importantes é a da simplifi cação. Libertar o que é excessivo e que impede que a energia vital dos habitan-tes coexista e fl ua harmoniosamente com este espaço. Em dúvida, a primeira abordagem deve ser a de limpeza e simplifi cação do que é desnecessário, para criar abertura para o que é preciso. Este conceito não se aplica apenas a uma habitação, mas também a áreas maio-res. Em Pequim, o Palácio Imperial, também conhecido como a Cidade Proibida, foi dese-nhado segundo este conceito.

• No taoísmo, o princípio da água é largamente utilizado. É representada como uma força que não pode ser impedida, possui simultaneamente a característica de fl uir, de se adaptar a qualquer tipo de confi guração geográfi ca e de assumir uma infi nidade de formas.

• Na alimentação tradicional, dá -se preferência a alimentos simples mas nutritivos que pos-sam criar o mínimo de esforço na sua digestão. Quanto mais simples é a refeição, mais facilmente é ingerida, digerida e assimilada. Abordagens mais complexas distraem o orga-nismo do que é essencial e nutritivo. Um bom pão não precisa de mais que quatro ingre-dientes: farinha, água, fermento e sal. Uma boa refeição pode conter muito pouco: uma sopa, um cereal integral e vegetais. A procura não é a de mais ingredientes para mais efi cá-cia, mas a de simplifi car, sem perder a qualidade nutritiva da refeição. A quantidade e a complexidade dão lugar à simplicidade e à qualidade sustentável – criada à medida de quem os consome.

• Na acupuntura, os desequilíbrios que possam surgir estão relacionados com bloqueios em áreas do corpo humano; como barragens que impedem a vitalidade de fl uir. As estruturas conhecidas como meridianos são, para o acupuntor, os rios que nutrem todo o corpo humano. As agulhas restauram a circulação nas áreas bloqueadas e a energia vital acumu-lada é levada a outras áreas onde se encontra em defi ciência. O mesmo se aplica à massa-gem.

• Nos exercícios de movimento terapêutico como o chi kung, os vários sistemas do corpo são observados como um rio. Quando existe demasiado sedentarismo, estes rios estagnam, o organismo entra em desequilíbrio e adoece. Movimentar o corpo é movimentar a água e impedir que esta estagne. Pelo movimento, a água começa a circular e a saúde pode ser restaurada. As primeiras referências a este conceito surgem entre os séculos XXI e XVI a. C. Numa determinada área da China, um excesso anormal de humidade tornou dolorosas as articulações dos habitantes. Então os xamãs criaram uma dança que, ao ser executada, ali-viava as dores articulares e restabelecia a saúde. Ficou conhecida como a «grande dança»1.

28 VIVER SEM ESFORÇO

MEDICINA TRADICIONAL CHINESA

Esta prática é um dos herdeiros mais legítimos do Grande Yu, integra cinco outras disciplinas: acupuntura, massagem, fi toterapia, dietética e exercícios terapêuticos de chi kung. Com milha-res de anos de existência, integra o homem e o meio ambiente. Tomar contacto com esta integração signifi ca que, quando observa a refeição que vai ingerir, compreende a sua interde-pendência. Que ali está a qualidade da água que alimentou os vegetais, a qualidade do mar que deu origem às algas ou ao peixe, a qualidade do clima que permitiu produzir um solo rico onde pastou o gado, ou onde foram cultivados os cereais, vegetais e leguminosas. Na medicina tradicional chinesa, o ponto de acupuntura, a planta, o alimento, a massagem ou o exercício terapêutico são escolhidos em função da pessoa, não da patologia. Quando essa individuali-dade é respeitada e preservada, é mais fácil restabelecer e manter o estado de equilíbrio dinâ-mico do corpo humano. A terapia torna -se um caminho onde o paciente desenvolve, no seu processo de cura pessoal, uma maior autonomia e valor pela sua própria saúde. Aqui é -lhe dada a oportunidade de aprender como tra-tar de si, em compreender e integrar os vários «como, quando e em que quantida-des» da sua vida. A longo prazo, a sua parti-cipação ativa neste processo de recuperação permite -lhe desenvolver autonomia e apren-der a prevenir futuros desequilíbrios por si mesmo.

O QUE NOS TORNA ÚNICOS?

O que nos torna seres únicos refere -se à qualidade e quantidade de energia vital que um ser humano possui. Na medicina tradicional chinesa desenvolveu -se o conceito de chi ( ) para criar um modelo que permite diagnosticar e tratar o corpo humano. Quando alguém se sub-mete a um diagnóstico, é observado, ouvido, questionado e examinado por meio de palpação do pulso e de áreas específi cas do corpo. O somatório destes quatro momentos vai permitir avaliar a qualidade única do chi do paciente. A partir daí, é possível prescrever um tratamento englobando acupuntura, massagem, fi toterapia, dietética e chi kung.

Não existe uma palavra que expresse diretamente o que é afi nal o chi. Pode ser defi nido como vapor, sopro ou pneuma2, e não anima apenas o corpo humano, também está fora dele e inte-rage com o ser humano.Existem três tipos de chi:

1. O chi do céu, entre outros, responsável pela qualidade da luz solar ou fatores climatéricos.

2. O chi humano é o responsável por todas as suas funções vitais, como respiração, digestão, respiração ou estados emocionais.

3. O chi da terra, por exemplo, responsável pela qualidade de um terreno de cultivo.

Tal como os peixes na água, estamos imersos em chi. Estes três tipos de chi mantêm uma inte-ração constante de possibilidades ilimitadas. Por exemplo, a primavera engloba na terra os

Parte um braço nove vezes e serás um médico.

Provérbio chinês

29VIVER SEM ESFORÇO

movimentos terrestres de germinação das plantas e de manifestações específi cas no céu como o vento. Este cenário primaveril tem uma infl uência por interação no chi humano. Dependendo da saúde interna dos seus órgãos, pode observar a primavera como a estação de se apaixonar pela vida, de início de novos projetos e oportunidades, ou uma estação em que surgem as alergias ou a chamada «astenia primaveril».

Se perguntarem o que é o chi ( ) a vários praticantes de medicina tradicional chinesa, a res-posta será diferente de praticante para praticante. Muito semelhante a perguntarem a vários pintores como defi niriam a cor verde. Podemos entender melhor o que pode signifi car se observarmos o caráter chinês chi ( ). Os carateres chineses representam uma ideia, por isso são referidos como ideogramas. Uma ideia, se queremos que se torne assimilada, necessita de um contexto para poder ser entendida. No contexto da medicina tradicional chinesa, chi signi-fi ca vapor que ascende em direção ao céu ( ) e a parte interior ( ) expressa o simbolismo de arroz cozinhado. Para o povo oriental, este alimento signifi ca uma fonte de nutrição – o que representa a natureza nutritiva a que o chi está associado. No entanto, o vapor do arroz cozi-nhado não é algo concreto que se possa adquirir – pode -se apenas sentir o seu calor e cheiro. O chi tem então uma qualidade invisível mas que permite ser detetada pelo efeito que produz na natureza. Um exemplo semelhante pode ser o do vento: podemos observá -lo a agitar as folhas de uma árvore ou sentir a sua brisa na cara sem ser possível, no entanto, vê -lo. Pelas infi -nitas combinações que o chi pode assumir no seu corpo, e como estas podem interagir com o meio exterior, o chi pode ser também defi nido como identidade, porque é único e pessoal – como todas as características que defi nem um indivíduo. Neste livro, escolhi traduzir chi como energia vital.

A ARTE DE REGULAR A ENERGIA VITAL COM SUCESSO

Foi com o objetivo de criar um estudo experiencial da energia vital que os chineses desenvol-veram o chi kung ( ). Se chi ( ) pode ser traduzido como sopro ou energia vital, o ideo-grama de kung ( ) representa trabalho. Decompondo esta expressão, é possível determinar o tipo de trabalho a que se refere. A primeira parte ( ) representa o esquadro de um carpinteiro, o que transmite algo preciso. A segunda parte ( ) signifi ca força muscular. Esta é a noção chi-nesa de trabalho associado a arte. A força muscular é investida em algo preciso. Este investi-mento continuado leva a que, com o tempo, se desenvolva algo artístico. Como um artesão que todos os dias apura os processos de criação do que produz, também o praticante de chi kung entra diariamente em contacto com a sua energia vital com a fi nalidade de a conhecer e aperfeiçoar.

Chi kung ( ) pode ser traduzido como a arte do cultivo da energia vital ou sopro vital. Esta é a minha defi nição. Ao longo da história, muitas defi nições têm sido apresentadas, e isso originou muitos estilos e muitas escolas baseados na mesma interpretação.

As mais conhecidas são as escolas religiosas – budista e taoísta –, as escolas marciais e as tera-pêuticas. Os exercícios propostos neste livro referem -se à escola terapêutica.