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4. Presidência do Inquérito Policial 4.1. Funções exercidas pela polícia a) Polícia Administrativa: caráter preventivo b) Polícia Judiciária: auxiliar do Poder Judiciário c) Polícia Investigativa: apuração de infrações penais Art. 144, §4º, CF: às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as ŵilitares Prof. Thales Dyego de Andrade - Processo Penal I

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4. Presidência do Inquérito Policial

4.1. Funções exercidas pela polícia a) Polícia Administrativa: caráter preventivo b) Polícia Judiciária: auxiliar do Poder Judiciário c) Polícia Investigativa: apuração de infrações penais Art. 144, §4º, CF: “às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as ilitares

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4. Presidência do Inquérito Policial

Observações:

1. A mesma polícia pode exercer diferentes funções. Ex: PM

2. Somente autoridades policiais podem exercer atos de polícia investigativa – monitoramento eletrônico feito por agentes de inteligência da ABIN acarretam a nulidade da prova.

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4. Presidência do Inquérito Policial 4.2. Natureza do crime e atribuição para investigações - A depender do crime, há uma polícia distinta investigando.

a) Crime militar da JMU: Forças armadas exercem a polícia investigativa. O

Comandante da respectiva Força designa um Oficial encarregado do Inquérito Policial Militar (IPM).

b) Crime militar da JME: É atribuição da Polícia Militar Estadual. Da mesma forma, o Comandante do Quartel designa um Oficial.

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4. Presidência do Inquérito Policial

4.2. Natureza do crime e atribuição para investigações

c) Crimes eleitorais: É atribuição da Polícia Federal. Se na localidade não houver Delegacia da PF, cabe à Polícia Civil.

d) Crime “federal”: Cabe à Polícia Federal (art. 144, §1º, CF)

e) Crime comum da Justiça Estadual: Em regra, cabe à Polícia Civil.

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4. Presidência do Inquérito Policial 4.2. Natureza do crime e atribuição para investigações Observações: - A Polícia Federal possui competência quando se trata de infrações cuja prática tenha repercussão

interestadual ou internacional e exija repressão uniforme (Lei 10.446/2002).

- Essa mesma lei passou a prever em 2014 que a competência para investigação nos crimes de falsificação de medicamentos (art. 273, CP) é da PF.

BIZU: A Polícia Federal tem uma atribuição mais extensa que a competência da Justiça Federal.

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5. Características do Inquérito Policial 1) Procedimento ESCRITO Conforme previsão do próprio art. 9º do CPP, o Inquérito Policial é um procedimento escrito. Art. 405, §1º, CPP: “sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, indiciado, ofendido e testemunhas será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das i for ações

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5. Características do Inquérito Policial 2) Procedimento DISPENSÁVEL O Inquérito não é necessário para se dar início ao processo, desde que haja outros elementos informativos quanto à autoria e materialidade que o tornem desnecessários. EX: Crimes ambientais O art. 39, §5º do CPP corrobora esse entendimento: “O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias.

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5. Características do Inquérito Policial 3) Procedimento SIGILOSO EM REGRA, o Inquérito é sigiloso. Tal se dá para observar a eficácia das diligências investigatórias. Art. 20, CPP: “A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade Contudo, há hipóteses onde a publicidade caminha a favor dessa eficácia. Ex: retrato falado; crimes sexuais (Roger Abdelmassih).

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5. Características do Inquérito Policial

3) Procedimento SIGILOSO

3.1. Acesso do advogado aos autos do inquérito:

• Art. 5º, LXIII, CF: “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência de advogado”

• O direito de vistas do advogado aos autos do inquérito faz parte da “assistência do advogado”, conforme a dicção constituicional.

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5. Características do Inquérito Policial 3) Procedimento SIGILOSO

3.1. Acesso do advogado aos autos do inquérito:

• Na mesma linha, o Estatuto da Advocacia (L.8906/94): “examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apo ta e tos

• Exceção (!!!): Inquéritos onde haja informações relacionadas à vida privada do advogado (ex: quebra de sigilo bancário), somente o advogado com procuração pode ter acesso.

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5. Características do Inquérito Policial 3) Procedimento SIGILOSO 3.1. Acesso do advogado aos autos do inquérito: • Súmula Vinculante 14 do STF: É direito do defensor, no interesse do

representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.

• OBS: Para o STF, a posição, no entanto, é de que o direito de acesso limita-se aos elementos já documentados, não abrangendo as diligências investigatórias em andamento.

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5. Características do Inquérito Policial 3) Procedimento SIGILOSO 3.1. Acesso do advogado aos autos do inquérito:

• QUESTÃO: Caso a autoridade policial negue acesso ao advogado, quais os

instrumento cabíveis? • OBS: A nova lei de organizações criminosas (L. 12.850/13) trouxe a previsão de

que, caso o sigilo das investigações tenha sido decretado pela autoridade judicial (para garantia da celeridade e eficácia das diligências), o advogado só terá acesso se devidamente autorizado pelo juiz, mesmo às diligências já documentadas!!!

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5. Características do Inquérito Policial 4) Procedimento INQUISITORIAL • Segundo doutrina majoritária, o IP é inquisitorial, não sendo obrigatória a

observância do contraditório e ampla defesa no seu curso, sendo estes necessários somente na fase judicial. • Exceção: Marta Saad – “O direito de defesa no inquérito policial” – Contraditório e

ampla defesa existiriam de duas formas no inquérito policial: (i) Exógena: fora dos autos (possibilidade de trancamento via HC); (ii) Endógena: solicitações à autoridade policial. • OBS: Não confundir o IP com o Inquérito de Expulsão da Lei 6.815/80.

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5. Características do Inquérito Policial

5) Procedimento DISCRICIONÁRIO

• Não há ordem pré-estabelecida de realização de atos e diligências, a autoridade policial define a mais adequada.

• Art. 14 do CPP: “O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade .

• Discricionariedade ≠ Arbitrariedade: Discricionariedade é a liberdade de atuação dentro dos limites da lei.

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5. Características do Inquérito Policial

5) Procedimento DISCRICIONÁRIO

• A discricionariedade não é absoluta. (art. 129, VIII, CF – MP tem o poder de requisitar a realização de diligências e a própria instauração de IP, sendo o delegado obrigado a realizar a requisição ministerial).

• Da mesma forma, determinadas diligências são vinculadas, de realização obrigatória. Ex: corpo de delito em infrações que deixam vestígios.

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5. Características do Inquérito Policial

6) Procedimento INDISPONÍVEL

• A autoridade policial dele não dispõe, isto é, não pode arquivá-lo de ofício.

• Art. 17 do CPP: “A autoridade policial não poderá mandar arquivar os autos de inquérito.”

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5. Características do Inquérito Policial 7) Procedimento TEMPORÁRIO

• A garantia da razoável duração do processo (art. 5º, LXXVIII, CF) aplica-se ao IP.

• Em regra, os prazos gerais de conclusão são de 10 dias, com o investigado preso e 30

dias, quando solto. Quando solto, este prazo pode ser prorrogado, não havendo limitação formal de prorrogações.

• HC 96.666 – STJ: Inquérito com duração de 7 anos – STJ mandou trancar com fundamento na razoável duração do processo.

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6. Formas de instauração do IP • Antes de se instaurar, é necessário analisar-se de que crime se trata e qual o tipo

de ação penal daquele delito. 1) Crimes de ação penal pública condicionada e ação penal privada: - Não pode ser instaurado diretamente pelo Delegado; - O Delegado depende de prévia autorização do ofendido (ou do Ministro da Justiça); - A deflagração da investigação depende de requisição do interessado - Nessa requisição vigora a informalidade, servindo qualquer demonstração de

interesse na persecução penal

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6. Formas de instauração do IP

2) Crimes de ação penal pública incondicionada: - O delegado tem liberdade total;

- Nesses casos, o inquérito pode ser instaurado de cinco formas:

A) DE OFÍCIO – Face a notícia de crime, o delegado fica obrigado a instaurar o inquérito (princípio da obrigatoriedade), o que fará lavrando uma portaria, independentemente da provocação de qualquer pessoa (art. 5º, I, CPP).

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6. Formas de instauração do IP

2) Crimes de ação penal pública incondicionada:

B) REQUISIÇÃO DO MP OU JUIZ (art. 5º, II do CPP):

- Quanto à requisição do MP, há previsão expressa na CF (art. 129, VIII, CF);

- Quanto à requisição do Juiz, há violação do sistema acusatório?

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6. Formas de instauração do IP 2) Crimes de ação penal pública incondicionada: C) REQUERIMENTO DO OFENDIDO: Nesse caso o delegado não é obrigado a instaurar o inquérito (caberia aqui recurso inominado ao Chefe de Polícia); D) NOTÍCIA POR QUALQUER DO POVO E) AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE: O próprio auto de prisão em flagrante é o ato inaugural do inquérito policial neste caso.

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6. Formas de instauração do IP 2) Crimes de ação penal pública incondicionada:

OBS: TCO não é inquérito. É um procedimento investigativo simplificado nos crimes de menor potencial ofensivo da Lei 9.099/95. Corresponde à fase preliminar do procedimento sumaríssimo. Não há relatório. É um substitutivo do auto de prisão em flagrante. Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.

Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima.

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7. NOTITIA CRIMINIS

7.1. Conceito: É o conhecimento de um fato delituoso por parte da autoridade policial. Pode ser espontâneo ou provocado.

7.2. Espécies

a) De cognição imediata (espontânea): atividades rotineiras

b) De cognição mediata (provocada): expediente escrito

c) De cognição coercitiva: indivíduo do preso em flagrante

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7. NOTITIA CRIMINIS

7.3. DENÚNCIA ANÔNIMA:

- É chamada de notitia criminis inqualificada.

- STF: Conforme o STF, não pode, por si só, fundamentar a instauração de um inquérito policial, sendo necessária a verificação da verossimilhança (procedência) das informações em diligências preliminares. Verificada essa procedência, o inquérito pode ser instaurado.

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7. NOTITIA CRIMINIS

7.3. DENÚNCIA ANÔNIMA:

- É chamada de notitia criminis inqualificada.

- STF: Conforme o STF, não pode, por si só, fundamentar a instauração de um inquérito policial, sendo necessária a verificação da verossimilhança (procedência) das informações em diligências preliminares. Verificada essa procedência, o inquérito pode ser instaurado.

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8. INDICIAMENTO

8.1. Conceito: Consiste em atribuir a alguém a autoria de determinada infração penal.

8.2. Momento: Só pode ser feito durante as investigações. Desde a lavratura do APF até a elaboração do Relatório.

8.3. Espécies:

a) Direto: Feito na presença do investigado. É a regra.

b) Indireto: Feito quando o investigado está ausente.

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8. INDICIAMENTO 8.4. Pressupostos: Pressupõe um ato fundamentado mediante uma análise técnico-jurídica que deve apontar a certeza da materialidade, autoria e circunstâncias da da infração penal. 8.5. Atribuição: É privativo de Delegado de Polícia, que não pode ser obrigado pelo Juiz, nem pelo MP a indiciar alguém, mesmo porque o MP pode oferecer denúncia mesmo que não haja indiciamento. 8.6. Desindiciamento: É a desconstituição de prévio indiciamento. Pode ser feito também pela autoridade judicial em caso de constrangimento ilegal à liberdade de locomoção.

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8. INDICIAMENTO 8.7. Sujeito passivo:

REGRA: Qualquer pessoa pode ser indiciada.

EXCEÇÃO:

1) Membros do MP e Magistratura: Não podem ser indiciados pela autoridade policial. Autos devem ser remetidos à chefia da respectiva instituição.

2) Acusados com foro por prerrogativa de função: Quando houver foro por prerrogativa de função, não só o indiciamento como a própria abertura do inquérito depende de autorização do Ministro Relator do STF (STF – INQ 2411).

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9. MODALIDADES DE PRISÕES

• No Brasil existem basicamente seis tipos de prisões:

1) Prisão temporária;

2) Prisão preventiva;

3) Prisão em flagrante;

4) Prisão para execução de pena;

5) Prisão para efeitos de extradição;

6) Prisão civil;

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9. MODALIDADES DE PRISÕES 9.1. Prisão temporária: • Conceito: É uma prisão cautelar criada exclusivamente para as investigações policiais. Visa

resguardar a investigação e somente pode perdurar durante a investigação. Geralmente decretada para assegurar o sucesso de uma diligência “imprescindível para as investigações”.

• Previsão legal e cabimento: Lei 7.960/89 Art. 1º. Caberá prisão temporária:

I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;

II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade;

III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes de homicídio, sequestro, roubo, estupro, tráfico de drogas, crimes contra o sistema financeiro, entre outros.”

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9. MODALIDADES DE PRISÕES 9.2. Prisão preventiva: • Conceito: É uma prisão cautelar geral, que pode ser decretada a qualquer tempo, desde que antes

da condenação, desde que preenchidos os requisitos legais para sua decretação. • Previsão legal: arts. 311-316 do CPP • Pressupostos: fumus comissi delicti, materialidade e indícios de autoria • Requisitos (periculum libertatis): Art. 312 do CPP:

a) garantia da ordem pública e da ordem econômica (impedir que o réu continue praticando crimes);

b) conveniência da instrução criminal (evitar que o réu atrapalhe o andamento do processo, ameaçando testemunhas ou destruindo provas);

c) assegurar a aplicação da lei penal (impossibilitar a fuga do réu, garantindo que a pena imposta pela sentença seja cumprida)

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9. MODALIDADES DE PRISÕES 9.2. Prisão preventiva: • O STF rotineiramente vem anulando decretos de prisão preventiva que não apresentam os devidos

fundamentos e não apontam, de forma específica, a conduta praticada pelo réu a justificar a prisão antes da condenação, eis que excepcionalíssima a prisão preventiva.

• Hipóteses de cabimento: Art. 313 do CPP: I – crimes dolosos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 anos; II – reincidência em crime doloso (obedecido o máximo de 5 anos) III – se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida.

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9. MODALIDADES DE PRISÕES 9.3. Prisão em flagrante: É uma prisão cautelar que consiste na restrição à liberdade de alguém que esteja cometendo ou acabou de cometer uma infração penal (art. 302, CPP).

9.4. Prisão para execução de pena: É a prisão privativa de liberdade. Somente pode ser iniciada depois do julgamento de absolutamente todos os recursos possíveis, inclusive os dos tribunais superiores. É regida pela LEP (L. 7.210/84)

9.5 Prisão preventiva para fins de extradição: É uma prisão cautelar que objetiva garantir a efetividade do processo extradicional. É condição para se iniciar a extradição.

9.6. Prisão civil: Existe atualmente somente no caso do devedor de pensão alimentícia. Seu objetivo é fazer com que o mesmo pague. Não tem caráter criminal.

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10. Conclusão do Inquérito Policial

10.1. Prazo para conclusão do inquérito policial

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Lei Investigado Preso Investigado Solto

CPP – ART. 10 10 dias (flagrante ou preventiva) 30 dias (com ou sem fiança)

JF – ART. 66, L. 5.010 15 dias (prorrogável por + 15 dias) 30 dias (lei silente, aplica-se CPP)

DROGAS – ART. 51, L. 11.343 30 dias (+30 dias, ouvido o MP) 90 dias (+90 dias, ouvido o MP)

CPPM – ART. 20 20 dias 40 dias (prorrogável por + 20 dias)

ECON.POP. – L. 1521/51 10 dias 10 dias

Prisão temporária 5 dias (prorrogável por + 5 dias) -

P. Temporária em Crime Hediondo 30 dias (prorrogável por + 30 dias) -

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10. Conclusão do Inquérito Policial

10.2. Observações

1) Os prazos podem ser prorrogados pelo juiz em caso de solicitação da autoridade policial? Se silente a lei, somente quando o indivíduo estiver solto.

2) Qual a natureza desse prazo quando o indivíduo estiver preso? Há duas correntes. Para Nucci, é prazo material, incidindo o art. 10 do CP. A corrente majoritária, todavia, entende ser o prazo de natureza processual.

OBS: O prazo do inquérito não coincide com o da prisão (que é material).

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10. Conclusão do Inquérito Policial

10.3. Consequências do descumprimento dos prazos

• Se o investigado estiver solto, o prazo pode ser prorrogado.

• Se o investigado estiver preso, há três consequências: (i) relaxamento de prisão por constrangimento ilegal à liberdade de locomoção; (ii) pode haver eventual crime de prevaricação (se comprovado um sentimento pessoal); (iii) pode haver eventual crime de abuso de autoridade (se comprovada a conduta dolosa);

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10. Conclusão do Inquérito Policial 10.4. Relatório

• O relatório é uma peça de caráter descritivo, na qual o Delegado de Polícia descreve as principais diligências realizadas durante o curso das investigações. Não há juízo de valor, há somente descrição dos fatos, salvo em casos específicos permitidos por Lei, como no art. 52 da Lei de Drogas.

• O relatório, assim como o inquérito, não é indispensável para o oferecimento da denúncia, mas, em não o fazendo, o Delegado responderá administrativamente.

• O destinatário do relatório é o juiz competente. Porém, no âmbito da Justiça Federal, a tramitação é direta entre o Delegado de Polícia Federal e o Ministério Público.

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10. Conclusão do Inquérito Policial 10.5. Providências a serem adotadas pelo Ministério Público • Crimes de ação penal privada: Art. 19, CPP – remeterá os autos ao juízo competente, que

aguardará a iniciativa do ofendido; ou entregará ao próprio requerente, caso o mesmo o peça. • Crimes de ação penal pública: 1) Oferecimento da denúncia: MP propõe a AP; 2) Promoção de arquivamento: MP pede para o arquivamento do IP; 3) Requisição de diligências: MP requisita diretamente e de forma fundamentada ao

delegado novas diligências específicas (e requisita ao Juiz somente a remessa dos autos ao Delegado).

4) Declinação de competência: O Promotor será o primeiro a se manifestar quanto à sua incompetência.

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10. Conclusão do Inquérito Policial 10.5. Providências a serem adotadas pelo Ministério Público

5) Conflito de competência: É um instrumento que visa dirimir controvérsia acerca de qual o órgão competente para o processamento da demanda. Aqui, alguém já se manifestou sobre sua competência anteriormente, não se confundido com a Declinação. Pode ser suscitado somente até o momento anterior ao trânsito em julgado da sentença.

Pode ser positivo ou negativo. No positivo, dois ou mais juízes consideram-se competentes. No negativo, dois ou mais juízes consideram-se incompetentes.

Quem decide o conflito de competência? Primeiramente, se houver superioridade hierárquica não há conflito. Em segundo lugar, busca-se o órgão jurisdicional imediatamente superior e comum a ambos os órgãos conflitantes.

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10. Conclusão do Inquérito Policial 10.5. Providências a serem adotadas pelo Ministério Público

Exemplos de conflitos de competência:

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Juiz estadual de Caxias/MA Tribunal de Justiça/MA Não há conflito

Juiz federal do MA Juiz federal do CE MA: ligado ao TRF1; CE: ligado ao TRF5,

logo o competente é o STJ

Juiz de direito do JECRIM/São Luís Juiz de direito da Vara Criminal/São Luís Antes: STJ (súmula 348 STJ)

Atualmente: TJMA (súmula 428 STJ)

Juiz do Juizado Especial Federal/MA Juiz Federal/MA Antes: STJ (súmula 348 STJ)

Atualmente: TRF1 (súmula 428 STJ)

Juiz de Direito da Vara Criminal/RS Juiz Militar/RS OBS: Só 3 estados tem JME – RS,MG,SP

O competente é o STJ

Juiz de Direito da Vara Criminal/MA Juiz de Direito do Juizo Militar/MA TJMA, pois aqui não há TJM

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10. Conclusão do Inquérito Policial 10.5. Providências a serem adotadas pelo Ministério Público

6) Conflito de atribuições: É o conflito que se estabelece entre dois órgãos do MP.

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Promotor do MPMA (ex: educação) Promotor do MPMA (ex: infância) Procurador-Geral de Justiça do MPMA

Procurador da República/MA Procurador da República/CE Câmara de Coordenação e Revisão do

MPF, com recurso ao PGR

Ministério Público Militar Ministério Público Federal Ambos fazem parte do MPU, logo é do

PGR a atribuição

Ministério Público de Goiás Ministério Público do DF É conflito entre MPE e MPU

Ministério Público de MG Ministério Público da BA É conflito entre o Estado de MG e o

Estado da Bahia

Nesses dois últimos casos, a competência é do STF (ACO 853 e ACO 889), seja quando for conflito entre promotores de estados diversos, seja quando for conflito de promotores estaduais com membros do MPU. O fundamento é o art.

102, I, f da CF, pois na visão do STF há um conflito entre os entes federativos (estado e União; estado e estado).

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10. Conclusão do Inquérito Policial 10.6. Arquivamento do Inquérito Policial

10.6.1. Conceito

• O arquivamento do inquérito policial é uma decisão judicial, embora ainda não haja processo judicial em curso. Pelo sistema acusatório, depende de pedido do MP, que será apreciado pelo Juiz.

• O MP solicita ao Juiz a homologação do pedido de arquivamento e, após o Juiz homologar, esse pedido ganha status de decisão judicial, fazendo coisa julgada. Não se trata de mero despacho.

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10. Conclusão do Inquérito Policial 10.6.2. Fundamentos para o arquivamento

• A Lei não menciona quais são os fundamentos do arquivamento, mas afirma quando a denúncia deverá ser rejeitada e quando deverá ocorrer absolvição sumária do acusado.

• A doutrina, portanto, considera os incisos II e III do art. 395 do CPP como sendo os dispositivos que trazem os fundamentos para o arquivamento:

• “Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: I - for manifestamente inepta; II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal (ex: vítima se retratou da representação)ou III - faltar justa causa para o exercício da ação penal (ex: não há comprovação de autoria e materialidade)”

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10. Conclusão do Inquérito Policial 10.6.2. Fundamentos para o arquivamento

“Art. 397. (...) o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:

I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; (ex: estado de necessidade, legítima defesa etc.)

II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade*; (ex: inexigibilidade de conduta diversa (obediência hierárquica) e ausência de consciência da ilicitude (erro de proibição))

III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou

IV - extinta a punibilidade do agente. (art. 107 do CP – ex: abolitio criminis, prescrição, decadência, morte do agente etc.)”

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10. Conclusão do Inquérito Policial 10.6.3. Coisa julgada na decisão de arquivamento

• Coisa julgada é a imutabilidade da decisão. É formal quando dentro do próprio processo. Material quando a imutabilidade se estende para fora do processo, impedindo um novo julgamento daquela mesma matéria. A coisa julgada material pressupõe a ocorrência da formal.

• A depender do seu fundamento, a decisão judicial de arquivamento fará coisa julgada formal ou material. Quando o fundamento for processual, a coisa julgada será formal, quando o fundamento for de mérito, será material.

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10. Conclusão do Inquérito Policial 10.6.3. Coisa julgada na decisão de arquivamento

• A decisão de arquivamento que faz somente coisa julgada formal podem ser desfeitas, e o processo desarquivado, caso supram-se os motivos que ensejaram o arquivamento. Ex: descobriu-se novas provas que fornecem um lastro probatório mais robusto, desarquiva-se o processo e se oferece nova denúncia.

• A decisão de arquivamento que faz coisa julgada material, por se tratar de matéria afeta ao mérito, não pode ser desarquivada.

• OBS: No STF, no HC 94982, prevalece o entendimento de que ainda que o inquérito policial seja arquivado por um Juiz absolutamente incompetente, essa decisão é capaz de produzir coisa julgada formal e material.

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10. Conclusão do Inquérito Policial 10.6.3. Coisa julgada na decisão de arquivamento

*OBS: Sendo a morte uma causa extintiva da punibilidade, em caso de certidão de óbito falsa, não há coisa julgada, pois a decisão judicial que determinou o arquivamento é tida como inexistente. (STF, HC 84525)

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Fundamento Coisa julgada

Ausência de pressupostos processuais ou condições da ação

Coisa julgada formal

Falta de justa causa Coisa julgada formal

Atipicidade Coisa julgada formal e material

Excludente de ilicitude Coisa julgada formal e material

Excludente de culpabilidade Coisa julgada formal e material

Extinção de punibilidade Coisa julgada formal e material (OBS*)

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10. Conclusão do Inquérito Policial 10.6.4. Desarquivamento do Inquérito Policial

• O desarquivamento é a reabertura das investigações, sendo necessária a notícia de provas novas para tanto.

• Súmula 524 do STF: “Arquivado o inquérito policial por despacho do juiz à requerimento do Promotor, não pode a ação penal ser iniciada sem novas provas.”.

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10. Conclusão do Inquérito Policial 10.6.5. Procedimento de arquivamento

• Delegado de polícia não pode arquivar inquérito. Da mesma forma, a autoridade judicial não pode fazê-lo de ofício. O inquérito só pode ser arquivado mediante requerimento do MP e homologação posterior do Juiz.

• Na justiça estadual, o procedimento de arquivamento é o seguinte:

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Promoção de arquivamento pelo

MP

Se o Juiz concorda, manda arquivar, mas

se o Juiz não concorda

Envia os autos para o Procurador Geral de

Justiça, conforme art. 28 do CPP

PGJ decide se mantém o arquivamento, se

designa novo Promotor para

oferecer denúncia, se ele mesmo a oferece

ou se requisita diligência nova

Decidindo o PGJ pelo arquivamento, o Juiz é

obrigado a arquivar. Designando novo Promotor, este é

obrigado a denunciar

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10. Conclusão do Inquérito Policial 10.6.5. Procedimento de arquivamento • Esse procedimento de arquivamento é regido pelo chamado PRINCÍPIO DA

DEVOLUÇÃO, pelo qual o Juiz não pode arquivar diretamente os autos de inquérito policial, sendo obrigado a devolvê-los ao PGJ, que analisará e decidirá pelo arquivamento ou oferecimento da denúncia. • Quando o Juiz discorda do pedido de arquivamento do promotor e envia os

autos ao PGJ, ele está exercendo a função anômala de fiscal do Princípio da Obrigatoriedade, que rege a atividade do MP como órgão acusador, sendo obrigado a oferecer denúncia sempre que pertinente.

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10. Conclusão do Inquérito Policial 10.6.5. Procedimento de arquivamento • Recebendo os autos, o PGJ tem quatro possíveis atitudes: (i) manter a decisão

de arquivamento, decisão à qual o Juiz é obrigado a arquivar; (ii) oferecer denúncia; (iii) requisitar novas diligências; (iv) designar um novo promotor para oferecer denúncia, hipótese na qual este novo promotor age como longa manus do Procurador Geral e é obrigado a oferecer a denúncia. • OBS: Na Justiça Federal, ao invés de os autos serem remetidos ao Procurador-

Geral da República, são remetidos à Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, que age por delegação do PGR.

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10. Conclusão do Inquérito Policial 10.6.6. Arquivamento implícito • Ocorre quando o órgão do MP não inclui na denúncia algum fato ou algum

acusado, sem se manifestar expressamente sobre ele. • Esse arquivamento não é admitido pelo STF (RHC 95.141), que entende que

toda manifestação do MP deve ser fundamentada. • Se o Juiz verificar que o órgão do MP não se manifestou sobre determinado

fato ou autor, deverá provocá-lo e, caso continue inerte, utilizar-se do art. 28 do CPP e provocar o PGJ ou PGR.

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10. Conclusão do Inquérito Policial 10.6.6. Arquivamento indireto

• Ocorre quando o Juiz, em virtude do não oferecimento de denúncia pelo MP, fundamentado em razões de incompetência da autoridade jurisdicional, recebe tal manifestação como se tratasse de um pedido de arquivamento. Assim, o Juiz recebe o pedido de declinação de competência como um pedido de arquivamento indireto.

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11. Trancamento do Inquérito Policial • O arquivamento é resultado do consenso entre Promotor e Juiz. O trancamento,

por sua vez, é uma medida de força. Será determinado pelo Judiciário quando houver um eventual constrangimento ilegal da liberdade de locomoção de alguém. Ocorre quando a mera tramitação do inquérito configura esse constrangimento ilegal. • Instrumento adequado: O instrumento adequado para trancar o inquérito é o

HABEAS CORPUS. Todavia, se o crime objeto do inquérito não oferece risco à liberdade de locomoção, trazendo como consequência somente a aplicação de multa, o instrumento é o MANDADO DE SEGURANÇA.

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11. Trancamento do Inquérito Policial • Sendo o Inquérito instaurado pelo Delegado, por Portaria, a autoridade

coatora para o eventual Remédio Constitucional será o próprio Delegado, logo o instrumento deve ser impetrado no Juiz de 1ª instância.

• Sendo o Inquérito instaurado pelo Delegado, mas por uma Requisição do Promotor de Justiça, este deverá ser a autoridade coatora, logo o Remédio deverá ser impetrado no Tribunal.

• Exemplo: HC contra promotor do MA TJMA; HC contra promotor do DF TRF1!

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11. Trancamento do Inquérito Policial • O trancamento do Inquérito Policial é uma medida excepcional e somente

aceita pelos Tribunais Superiores em três hipóteses:

1) Manifesta atipicidade formal e material – ex: princípio da insignificância;

2) Presença de causa extintiva de punibilidade – ex: decadência, prescrição etc;

3) Quando não houver requerimento da vítima nos casos de Ação Penal Privada e Ação Penal Pública condicionada a Representação.

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12. Investigação criminal pelo MP • Argumentos contrários

i. A investigação pelo Parquet atentaria contra o sistema acusatório;

ii. A CF tratou expressamente do poder do MP de requisitar diligências e requerer a instauração de Inquéritos, mas não de presidi-los;

iii. A atividade investigatória é atribuição exclusiva de Polícia Judiciária;

iv. Não há previsão legal de instrumento idôneo para as investigações pelo MP (L. 12.830 não fala do MP);

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12. Investigação criminal pelo MP • Argumentos favoráveis i. Não há violação do sistema acusatório: os elementos produzidos terão valor

de elementos de informação; ii. A polícia judiciária não se confunde com a polícia investigativa: A

exclusividade outorgada pela CF às polícias é quanto à função de polícia judiciária, diferente da investigativa, que inclusive outros órgãos já exercem (COAF, CPIS etc);

iii. A Resolução 13 do CNMP prevê a existência do Procedimento Investigatório Criminal (PIC);

iv. Teoria dos Poderes Implícitos (2ª Turma STF, HC 91.661);

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12. Investigação criminal pelo MP • Posição do Superior Tribunal de Justiça

• STJ: Aceita tranquilamente os poderes investigatórios do MP, havendo inclusive uma súmula nesse sentido, a súmula 234, que prevê: “a participação de membro do MP na fase investigatória não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento de denúncia.”

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12. Investigação criminal pelo MP • Posição do Supremo Tribunal Federal • STF: No STF a questão ainda é controversa, havendo julgados favoráveis à

investigação, principalmente no âmbito da 2ª Turma, é o caso do HC 91.661 e HC 89.837. Essa questão deverá ser apreciada em breve no RE 593.727, cujos Ministros que já se manifestaram, afirmaram que a manifestação do MP deve ser de forma complementar e não substituindo a polícia, assim afirmam que o MP poderia realizar essas investigações de maneira complementar e apenas em alguns casos, como abuso de autoridade, crimes praticados por policiais, crimes contra a Adm Pública ou quando caracterizada a inércia dos órgãos policiais ou procrastinação indevida de inquéritos.

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12. Investigação criminal pelo MP • PEC 37

• Em 2013 tramitava a PEC 37, que queria incluir o §10 ao art. 144 da CF, que limitava a apuração das infrações penais às polícias. Entretanto, como resultado da onda de protestos, essa PEC 37 acabou sendo rejeitada pelo Congresso Nacional.

• “§10 A apuração das infrações penais de que tratam os §§ 1º e 4º deste artigo, incumbem privativamente às polícias federal e civis dos Estados e do Distrito Federal, respectivamente”

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13. AÇÃO PENAL 13.1 DIREITO DE AÇÃO • A partir do momento que o Estado trouxe para si o exercídio da Jurisdição, era

necessário que trouxesse ao indivíduo o direito a essa tutela jurisdicional, surgindo assim o direito de ação, que nada mais é que o direito público subjetivo de se pedir ao Estado-juiz a aplicação do direito objetivo a determinado caso concreto. Esse direito de ação tem fundamento constitucional, podendo ser extraído do art. 5º, XXXV, CF.

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13. AÇÃO PENAL 13.2 CONDIÇÕES DA AÇÃO PENAL

• Segundo a doutrina são condições necessárias para o exercício regular do direito de ação. Apesar de a ação penal ser um direito autônomo, abstrato, não guardando relação com o direito material invocado, pois ainda que o acusado seja absolvido ao final do processo, terá havido o exercício do direito de ação.

13.2.1. Espécies de condições • Embora autônomo, esse direito não pode ser exercido de maneira irregular, havendo

condições mínimas, que se dividem em genéricas (presentes em toda e qualquer ação penal) e específicas (necessárias em algumas hipóteses a depender da natureza do crime, do acusado, procedimento etc.)

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13. AÇÃO PENAL 13.2 CONDIÇÕES DA AÇÃO PENAL

13.2.2. Consequências da ausência de uma condição da ação

a) Por ocasião do juízo de admissibilidade da peça acusatória: O juiz rejeitará a peça acusatória (art. 395, II, CPP).

Exemplo: Promotor oferece denúncia num crime contra a honra. Crime contra a honra é, em regra, de ação penal privada, logo a legitimidade é do ofendido, não do MP. Diante disso, o Juiz é obrigado a rejeitar a denúncia feita pelo MP por sua ilegitimidade ativa, pela ausência de uma condição da ação.

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13. AÇÃO PENAL 13.2 CONDIÇÕES DA AÇÃO PENAL

13.2.2. Consequências da ausência de uma condição da ação

b) Durante o curso do processo: Há duas correntes.

1ª) Reconhecimento de uma nulidade absoluta; O art. 564, II do CPP (nulidade por ilegitimidade de parte) seria aplicado por analogia às demais condições da ação.

2ª) O CPC seria aplicável de forma subsidiária; Haveria a extinção do processo sem resolução do mérito com base no art. 3º do CPP c/c art. 267, VI do CPC. O STJ já aplicou esta corrente.

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13. AÇÃO PENAL 13.3 CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO PENAL

São quatro as condições genéricas da ação penal:

1) Possibilidade jurídica do pedido

2) Legitimidade da parte (Legitimatio ad causam)

3) Interesse de agir

4) Justa causa

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13. AÇÃO PENAL 13.3 CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO PENAL

13.3.1. Possibilidade jurídica do pedido

• O pedido formulado pela parte deve fazer referência a uma providência admitida em tese pelo direito objetivo. No processo penal, a imputação deve versar sobre fato típico, ilícito e culpável.

Exemplo: Denúncia oferecida pelo cometimento de crime por menor de 18 anos. Pelo critério biológico da CF, menor de 18 anos não possui culpabilidade, cometendo somente ato infracional. Logo, conforme a corrente que se adote, ou se declarará a nulidade absoluta do feito ou sua extinção sem julgamento do mérito, além, em ambos os casos, de sua remessa ao Juizado da Infância.

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13. AÇÃO PENAL 13.3 CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO PENAL

13.3.2. Legitimidade da parte (legitimatio ad causam)

• Na definição clássica, nada mais é que a pertinência subjetiva da ação. Isto é, a quem pertence o direito de ação.

1) Legitimidade ativa

• No processo penal a legitimidade ativa depende da espécie de crime e da ação penal correspondente.

1.1) Nos crimes de ação penal pública: Em regra, a legitimidade ativa é do MP. Se o MP for inerte, a CF prevê a Ação penal privada subsidiária da pública, passando o ofendido a ser legítimo.

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13. AÇÃO PENAL 13.3 CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO PENAL

13.3.2. Legitimidade da parte (legitimatio ad causam)

1.2) Nos crimes de ação penal privada: A legitimidade ativa será sempre do ofendido. Se este for menor de 18 anos, do seu representante legal.

OBS: Se o tipo legal nada menciona quanto à ação, a regra é ser ação pública incondicionada.

OBS: Crime contra a honra durante a propaganda eleitoral é crime de ação penal pública incondicionada.

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13. AÇÃO PENAL 13.3 CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO PENAL

13.3.2. Legitimidade da parte (legitimatio ad causam) 2) Legitimidade passiva • A legitimidade passiva é do provável autor do fato delituoso com 18 anos completos ou mais. • O indivíduo afirmar que não foi ele quem cometeu o delito é matéria de mérito, logo não se pode

rejeitar a peça acusatória com base nesse argumento. • A ilegitimidade passiva pode ser reconhecida no processo penal em duas situações:

(i) Furto de documentos – se ficar provado, sem maior necessidade probatória que realmente não foi o acusado quem cometeu o crime;

(ii) Homônimos – se ficar evidenciado, sem maior necessidade probatória, que foi outra pessoa que cometeu o crime;

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13. AÇÃO PENAL 13.3 CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO PENAL

13.3.2. Legitimidade da parte (legitimatio ad causam) 3) Legitimidade das pessoas jurídicas • A pessoa jurídica possui honra objetiva (reputação), logo pode ser vítima de crimes de difamação e

calúnia (tendo legitimidade ativa nesses casos), mas não pode ser vítima do crime de injúria, pois não possui honra subjetiva. • Ademais, nos crimes ambientais, há a teoria da dupla imputação, por força da qual os Tribunais

Superiores admitem o oferecimento de denúncia contra a pessoa jurídica pela prática de crimes ambientais desde que essa imputação também seja atribuída à pessoa física que agiu em seu nome ou em seu benefício (STF HC 24239 e RMS 20601). Inclusive em 2013 o STF aceitou que a pessoa jurídica pode ser condenada mesmo que a pessoa física que agiu em seu nome seja absolvida (RE 548181), mas não se trata de jurisprudência consolidada.

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13. AÇÃO PENAL 13.3 CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO PENAL

13.3.2. Legitimidade da parte (legitimatio ad causam)

4) Legitimidade alternativa ou concorrente?

• O art. 145, § único do CP afirma que se procede mediante representação do ofendido nos casos de crime contra a honra de funcionário público no exercício de suas funções.

• o STF editou a Súmula 714 do STF, que afirma que: “É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções.”

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13. AÇÃO PENAL 13.3 CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO PENAL

13.3.2. Legitimidade da parte (legitimatio ad causam) 4) Legitimidade alternativa ou concorrente? • Diante disso, o STF afirmou na referida súmula que o ofendido também tem legitimidade para

intentar ação penal, eis que sua honra foi atingida. • Dito isso, a legitimidade é alternativa ou concorrente? R: O STF, no INQ. 1939, entendeu que a

partir do momento em que o funcionário público oferece sua representação, autorizando que o MP faça alguma coisa, estaria preclusa, fechada, a oportunidade para ajuizar a queixa-crime, ou seja, a partir do momento em que é oferecida a representação, não se pode mais ajuizar queixa-crime. Diante disso, embora a súmula afirme que se trata de legitimidade concorrente, na verdade é uma legitimidade alternativa.

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13. AÇÃO PENAL 13.3 CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO PENAL

13.3.3. Interesse de agir

• A doutrina afirma que o interesse de agir é composto por um trinômio: necessidade, adequação e utilidade.

• Necessidade, no processo penal a necessidade é presumida, pois não há pena sem processo (nullum crimen sine judicio).

• A Adequação não é relevante no processo penal condenatório, tendo maior relevância em ações penais não condenatórias, como o Habeas Corpus. Nesse sentido o STF afirma na súmula 693, por exemplo, que não cabe HC relativo a processo cuja única pena cominada seja de multa, pois o HC só é adequado quando houver risco à liberdade de locomoção.

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13. AÇÃO PENAL 13.3 CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO PENAL

13.3.3. Interesse de agir

• Utilidade: A utilidade consiste na eficácia do processo para satisfazer o interesse do autor. Terá que se analisar se a ação realmente atende a seus interesses.

• Exemplo: Se o crime já está prescrito, o processo não é útil.

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13. AÇÃO PENAL 13.3 CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO PENAL

13.3.4. Justa causa

• Segundo Afrânio Silva Jardim, a justa causa é o lastro probatório mínimo indispensável para a instauração de um processo penal.

• A grande questão diz respeito à natureza jurídica da justa causa.

• Para uma 1ª Corrente, a justa causa é a 4ª condição genérica da ação penal (Afrânio Silva Jardim).

• Para uma 2ª Corrente, a justa causa é somente um requisito da peça acusatória, e não uma condição da ação (Fredie Didier).

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13. AÇÃO PENAL 13.3 CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO PENAL

13.3.4. Justa causa

• Por fim, na lei de lavagem de capitais (Lei 9.613), deve-se utilizar o que se chama de justa causa duplicada. Quando se oferece denúncia contra alguém pela prática de algum dos crimes de lavagem, não basta demonstrar a ocultação ou dissimulação de valores, mas também deve ser demonstrado que os bens objeto da lavagem seriam produto direto ou indireto de uma infração penal antecedente.

• Art. 1o Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. Pena – reclusão de 3 a 10 anos, e multa. (Lei 9.613)

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13. AÇÃO PENAL 13.4 CONDIÇÃO SUPERVENIENTE DA AÇÃO PENAL

• Por derradeiro, a doutrina menciona ainda o que se chama de condição superveniente da ação penal, distinguindo entre os conceitos de condição de procedibilidade e condição de prosseguibilidade.

• Condição de procedibilidade é sinônimo de condição da ação. É uma condição necessária para o início do processo. O processo ainda nã oteve início.

• Condição de prosseguibilidade é uma condição superveniente da ação e ocorre quando o processo já está em andamento e esta condição deve ser implementada para que o mesmo prossiga.

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13. AÇÃO PENAL 13.4 CONDIÇÃO SUPERVENIENTE DA AÇÃO PENAL

• Exemplo 1: Lei 9.099/95 Art. 88. Além das hipóteses do CP e da legislação especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões corporais culposas.

Art. 91. Nos casos em que esta Lei passa a exigir representação para a propositura da ação penal pública, o ofendido ou seu representante legal será intimado para oferecê-la no prazo de trinta dias, sob pena de

decadência.

Antes dessa lei, lesão corporal leve e lesão corporal culposa eram crimes de APP Incondicionada. A Lei dos Juizados passou a exigir representação.

Assim, em 1995, se o processo já havia se iniciado, a representação, conforme o art. 91, tornou-se condição de prosseguibilidade.

Já para os processos ainda não iniciados, tal condição é de procedibilidade.

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13. AÇÃO PENAL 13.4 CONDIÇÃO SUPERVENIENTE DA AÇÃO PENAL

• Exemplo 2: Crime de estupro com violência real, Lei 12.015/2009 e Súmula 608 do STF. • A lei 12.015 alterou o art. 225 do CP e passou a exigir representação nos crimes sexuais, que antes eram

de ação penal privada. • Contudo, o STF entendia, por meio da súmula 608, que quando praticado com violência real, o estupro

era crime de ação penal pública incondicionada. • A nova Lei não trouxe previsão expressa, logo entende-se que mesmo com violência real, o crime de

estupro atualmente é de ação penal pública condicionada a representação da vítima. • Destarte, embora exista imensa controvérsia acerca do assunto, há quem defenda que a representação

passou a ser uma condição de prosseguibilidade para os casos de estupros com violência real praticados antes da vigência da Lei 12.015/2009.

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13. AÇÃO PENAL 13.5 CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES PENAIS CONDENATÓRIAS

• Classificam-se quanto à sua titularidade em dois grandes grupos: Ação penal pública e Ação penal privada.

• OBS: A Ação penal pública condicionada possui ainda duas espécies: condicionada à representação do ofendido ou condicionada à requisição do Ministro da Justiça.

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AÇÃO PENAL PÚBLICA AÇÃO PENAL PRIVADA

(1) Ação penal pública incondicionada (4) Ação penal privada personalíssima

(2) Ação penal pública condicionada (5) Ação penal exclusivamente privada

(3) Ação penal pública subsidiária da pública (6) Ação penal privada subsidiária da pública

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13. AÇÃO PENAL 13.5 CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES PENAIS CONDENATÓRIAS

13.5.1. Ação Penal Pública

• Possuem duas caraterísticas: (a) Todas são titularizadas pelo Ministério Público e (b) possuem como peça acusatória (“petição inicial da ação penal”) a denúncia.

(1) Ação Penal Pública Incondicionada: Nesta espécie a atuação do MP independe do implemento de qualquer condição específica da ação. Nesta hipótese o MP poderá agir independentemente de representação do ofendido, requisição do Ministro da Justiça etc. É a regra no direito brasileiro.

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13. AÇÃO PENAL 13.5 CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES PENAIS CONDENATÓRIAS

13.5.1. Ação Penal Pública

(2) Ação Penal Pública condicionada: Ainda tendo como titular com o MP, chama-se condicionada pois a atuação do MP submete-se a uma necessária representação do ofendido ou requisição do Ministro da justiça, condição específica desta espécie de ação pena pública.

(3) Ação Penal Pública subsidiária da pública: É uma ação que seria ajuizada por um órgão público diante da inércia de outro órgão público. Alguns doutrinadores citam os seguintes exemplos:

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13. AÇÃO PENAL 13.5 CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES PENAIS CONDENATÓRIAS

13.5.1. Ação Penal Pública

(3) Ação Penal Pública subsidiária da pública – exemplos:

- Decreto-lei 201/67 – Trata da responsabilidade de prefeitos e vereadores - se as previdências para a abertura do inquérito policial ou instauração da ação penal não forem atendidas pela autoridade policial ou pelo mp estadual, poderão ser requeridas ao PGR

– A doutrina afirma que esse dispositivo não foi recepcionado pela Constituição

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13. AÇÃO PENAL 13.5 CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES PENAIS CONDENATÓRIAS

13.5.1. Ação Penal Pública

(3) Ação Penal Pública subsidiária da pública – exemplos:

- Código Eleitoral (art. 357, §§3º e 4º): “se o órgão do MP não oferecer a denúncia no prazo legal representará contra ele a autoridade judiciára, sem prejuízo da apuração da responsabilidade pe al e Ocorrendo a hipótese prevista no parágrafo anterior o juiz solicitará ao Procurador Regional a designação de outro promotor, que, no mesmo prazo, oferecerá a de ú cia . - Se o MP estadual não fizer nada, essa atribuição sairia do MP estadual e cairia nas mãos do Procurador Regional, que é membro do MPU.

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13. AÇÃO PENAL 13.5 CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES PENAIS CONDENATÓRIAS

13.5.1. Ação Penal Pública

(3) Ação Penal Pública subsidiária da pública – exemplos:

- Incidente de deslocamento de competência (IDC) – CF, art. 109, §5º - Aos juízes federais compete julgar as causas relativas a direitos humanos nas hipóteses de grave violação, onde o PGR, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o STJ, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal – No IDC, um crime praticado com grave violação aos direitos humanos, mas da competência da Justiça Estadual, onde restou caracterizada a inércia do MP Estadual, ocorre o IDC, havendo portanto uma ação penal pública subsidiária da pública. O STJ já julgou dois IDC.

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13. AÇÃO PENAL 13.5 CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES PENAIS CONDENATÓRIAS

13.5.2. Ação penal de iniciativa privada

• Na ação penal privada, o titular é o próprio ofendido. Se ele for incapaz, o direito será exercido pelo representante legal. A peça acusatória na ação penal privada é a queixa-crime.

(4) Ação penal privada personalíssima: Neste tipo de ação, a ação só pode ser ajuizada pelo ofendido, que jamais poderá transmitir seu direito aos sucessores. Aqui não há sucessão processual. Nesses casos, a morte da vítima extingue a punibilidade. O único crime de ação penal privada personalíssima no CP é o crime do art. 236, crime de induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento, onde a ação penal depende de queixa do contraente enganado.

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13. AÇÃO PENAL 13.5 CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES PENAIS CONDENATÓRIAS

13.5.2. Ação penal de iniciativa privada

(5) Ação penal exclusivamente privada: Ao contrário da hipótese anterior, aqui é possível a sucessão processual.

Art. 31 do CPP: No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou ir ão

• O companheiro está incluso na sucessão processual?

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13. AÇÃO PENAL 13.5 CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES PENAIS CONDENATÓRIAS

13.5.2. Ação penal de iniciativa privada

(6) Ação penal privada subsidiária da pública: Será admitida diante da inércia do Ministério Público. Prevista no art. 29 do CPP, que afirma que será admitida nos crimes de ação pública se esta não for intentada no prazo legal. Possui fundamento constitucional no art. 5º, LIX, CF.

CF. Art. 5º, LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal;

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13. AÇÃO PENAL 13.6 Princípios da ação penal

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Princípios da Ação Penal Pública Princípios da Ação Penal Privada

Obrigatoriedade (legalidade processual) Oportunidade/Conveniência

Indisponibilidade (Indesistibilidade) Disponibilidade

Divisibilidade Indivisibilidade

Princípios comuns a ambas as ações

1. Ne procedat iudex ex officio

2. Ne bis in idem processual

3. Princípio da intranscendência

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13. AÇÃO PENAL 13.6 Princípios da ação penal

13.6.1. Princípios comuns a ambas as ações

1) Ne procedat iudex ex officio (Princípio da Inércia da Jurisdição): Ao juiz não é permitido dar início ao processo penal condenatório de ofício.

• Esse princípio deriva da própria CF, a partir do momento em que o art. 129, I, dá a titularidade da ação penal pública ao Ministério Público.

• Quanto a esse princípio cabem duas observações: a primeira quanto ao processo judicialiforme e a segunda quanto ao HC.

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13. AÇÃO PENAL 13.6 Princípios da ação penal

13.6.1. Princípios comuns a ambas as ações

1) Ne procedat iudex ex officio

• O processo judicialiforme era um processo penal condenatório onde o juiz não era provocado e dava início ao processo de ofício. Está previsto no art. 26 do CPP (“portaria expedida pela autoridade judiciária”) e não foi recepcionado pela CF.

• Embora o juiz não possa dar início de ofício ao processo penal condenatório, pode conceder Habeas corpus de ofício, pois é um processo penal libertário. Da mesma forma, o juiz inicia a execução, que somente é um prosseguimento natural do processo.

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13. AÇÃO PENAL 13.6 Princípios da ação penal

13.6.1. Princípios comuns a ambas as ações

2) Ne bis in idem processual: Ninguém pode ser processado duas vezes pela mesma imputação. Tem origem na Convenção Americana sobre Direitos humanos.

• OBS: Segundo os Tribunais Superiores, mesmo uma sentença absolutória proferida por Juiz absolutamente incompetente produz efeitos e não permite um novo processo com base nos mesmos fatos (STF – HC 86606 e HC 91505).

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13. AÇÃO PENAL 13.6 Princípios da ação penal

13.6.1. Princípios comuns a ambas as ações

2) Ne bis in idem processual

* QUESTÃO!!! Uma pessoa foi processada acusada de ser a autora de um crime de homicídio. A pessoa pode ser novamente processada como partícipe do mesmo homicídio? Embora seja o mesmo crime e a mesma vítima, a imputação é distinta. Atribuir a alguém a autoria de um homicídio, a execução do crime, é diferente de atribuir a participação, onde se atribui algo como um induzimento, auxílio material, instigação. Nesse caso é perfeitamente possível oferecer denúncia sem que haja violação do ne bis in idem. É o entendimento do STF no HC 92.212.

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13. AÇÃO PENAL 13.6 Princípios da ação penal

13.6.1. Princípios comuns a ambas as ações

3) Princípio da intranscendência: Com base no princípio da intranscendência, a denúncia e a queixa só podem ser oferecidas contra o provável autor do fato delituoso. O processo penal deve ser instaurado única e exclusivamente contra aqueles que concorreram para a prática da infração penal.

CF. art. 5º, LXV: “Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.”

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13. AÇÃO PENAL 13.6 Princípios da ação penal

13.6.2. Princípios da ação penal pública

1) Princípio da obrigatoriedade (legalidade processual): Previsto no art. 24 do CPP. Presentes as condições da ação e havendo justa causa, o Ministério Público é obrigado a oferecer denúncia, não havendo liberdade sobre esse oferecimento.

• Os principais mecanismos de fiscalização desse princípio são o art. 28 do CPP (através do qual o Juiz exerce função anômala de fiscal deste princípio) e a ação penal privada subsidiária da pública (pela qual a própria parte interessada fiscaliza o MP).

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13. AÇÃO PENAL 13.6 Princípios da ação penal

13.6.2. Princípios da ação penal pública

1) Princípio da obrigatoriedade (legalidade processual)

• O MP é sempre obrigado a pedir a condenação do acusado? R: Não! O art. 385 do CPP prevê que nos crimes de ação pública o Juiz pode condenar mesmo que o MP opine pela absolvição, logo, ao MP é permitido opinar pela absolvição.

• Como ao MP incumbe a tutela dos direitos individuais indisponíveis, dentre os quais a liberdade de locomoção, o MP pode pedir absolvição de uma pessoa que considera inocente.

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13.6.2. Princípios da ação penal pública

1) Princípio da obrigatoriedade (legalidade processual)

• Este princípio não possui status constitucional, mas legal (art. 24 do CPP), razão pela qual possui exceções, situações nas quais o promotor não é obrigado a denunciar mesmo havendo justa causa, como é o caso da transação penal, acordo de leniência (colaboração premiada nos crimes contra a ordem econômica), parcelamento do débito tributário, TAC em crimes ambientais e a colaboração premiada na nova Lei das organizações criminosas.

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13. AÇÃO PENAL 13.6 Princípios da ação penal

13.6.2. Princípios da ação penal pública

2) Princípio da Indisponibilidade (Indesistibilidade): O princípio da obrigatoriedade aplica-

se antes do início do processo, enquanto que este princípio aplica-se durante o processo.

• De nada adiantaria obrigar-se o MP a oferecer denúncia se posteriormente ele pudesse

livremente desistir. Da mesma forma, o MP não pode desistir de recurso que haja

interposto. Este princípio está previsto no art. 42 e no ar. 576 do CPP.

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13. AÇÃO PENAL 13.6 Princípios da ação penal

13.6.2. Princípios da ação penal pública

2) Princípio da Indisponibilidade (Indesistibilidade)

* Exceção a esse princípio: Suspensão condicional do processo, prevista no art. 89 da Lei 9099/95. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, o MP, ao oferecer denúncia, poderá propor a suspensão condicional do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do CP). É considerada uma exceção porque juntamente com a denúncia o Promotor oferecerá uma proposta de suspensão do processo.

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13. AÇÃO PENAL 13.6 Princípios da ação penal

13.6.2. Princípios da ação penal pública

3) Princípio da Divisibilidade: Este princípio não é unânime. Há duas correntes.

1ª. Corrente: Alguns doutrinadores afirmam que na Ação Penal Pública aplica-se o princípio da indivisibilidade (Tourinho, Aury Lopes Jr). Indivisibilidade se entende que o processo de um obriga ao processo de todos. 2ª. Corrente: Outros doutrinadores afirmam que o princípio aplicável na Ação Penal Pública é o princípio da divisibilidade (Denilson Feitosa). Essa é a posição do STF (AP 470) e do STJ (RESP 388.473). O MP pode oferecer denúncia contra alguns investigados, sem prejuízo do prosseguimento das investigações em relação aos demais.

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13. AÇÃO PENAL 13.6 Princípios da ação penal

13.6.3. Princípios específicos da ação penal privada

1) Oportunidade/Conveniência: O ofendido é quem opta se propõe ou não a queixa crime, conforme critérios pessoais.

• Este princípio é aplicável antes do oferecimento da queixa.

• Há duas formas de não exercer o direito de queixa: decadência (perda do direito de queixa e representação no prazo legal de 06 meses contados a partir do conhecimento da autoria) e renúncia (pode ser expressa ou tácita e é uma causa extintiva da punibilidade, só se pode renunciar até o oferecimento da denúncia)

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13. AÇÃO PENAL 13.6 Princípios da ação penal

13.6.3. Princípios específicos da ação penal privada

2) Princípio da Disponibilidade: Diferencia-se do princípio anterior por incidir após o exercício do direito de queixa, durante o processo. Se o querelante não tiver interesse em prosseguir com o processo, há três possibilidades: perdão do ofendido (depende de aceitação e só até o trânsito em julgado); perempção (perda do direito de prosseguir na ação por negligência – ex: abandonar o processo por 30 dias seguidos); conciliação (procedimento dos crimes contra a honra que sejam de competência do juiz singular e não dos juizados por terem pena máxima superior a 02 anos).

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13. AÇÃO PENAL 13.7 Representação do ofendido

• Conceito: É a manifestação do ofendido ou de seu representante legal no sentido de que tem interesse na persecução penal do fato. Não há necessidade de formalismo (EX: STJ, HC 89.475, A simples narração da violência sexual sofrida pela vítima à autoridade policial poderia ser considera representação, em razão do constrangimento da mesma).

• Natureza jurídica: É uma condição de procedibilidade (condição específica da ação), em regra. Excepcionalmente pode ser uma condição superveniente da ação (condição de prosseguibilidade), como no caso da Lei 9099.

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13. AÇÃO PENAL 13.7 Representação do ofendido

• Retratação da representação: É o arrependimento do indivíduo. É perfeitamente possível, desde que seja feita antes do oferecimento da denúncia (art. 25 do CPP). É possível ainda a retratação da retratação, desde que dentro do prazo de 06 meses.

• Eficácia objetiva da representação: Feita a representação por um fato delituoso, esta abrange todos os co-autores ou partícipes que venham a ser posteriormente descobertos, mesmo que inicialmente desconhecidos pela vítima.

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13. AÇÃO PENAL 13.8 Requisição do Ministro da Justiça

• Conceito: É a manifestação do Ministro da Justiça manifestando interesse na persecução penal. Ex: Caso do jornalista Larry Rohter.

• Natureza jurídica: É uma condição específica da ação penal. Se o processo já estiver em andamento é uma condição de prosseguibilidade.

• Retratação da requisição: Como possui caráter político, é perfeitamente possível sua retratação, desde que até o oferecimento da denúncia.

• A requisição do Ministro da Justiça não está sujeita a decadência!!!

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13. AÇÃO PENAL 13.9 Ação Penal Privada subsidiária da pública

• Cabimento: Será admitida nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal. Seu pressuposto é a inércia do MP.

• Somente é cabível nos casos de ação pública em que haja uma vítima determinada, salvo nos crimes contra as relações de consumo e nos crimes falimentares.

• O prazo para seu oferecimento é decadencial de 06 meses após o fim do prazo para o MP oferecer denúncia.

• Durante esses 06 meses haverá legitimidade concorrente entre a parte e o MP. Inclusive o MP poderá oferecer denúncia a qualquer tempo, mesmo após esse prazo, desde que não prescrito o crime.

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13. AÇÃO PENAL 13.9 Ação Penal Privada subsidiária da pública

• A ação não passa para a titularidade da parte, pelo contrário, a titularidade última continua sendo do MP, de modo que este pode ainda aditar a queixa, repudiar a queixa, oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a qualquer tempo, retomar a ação como parte principal.

• As hipóteses de extinção da punibilidade da ação penal privada (renúncia, decadência, perdão, perempção e conciliação) não se aplicam na ação penal privada subsidiária da pública, eis que esta, no fim das contas, é uma ação pública, de interesse público.

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