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Aula introdutória História - 2010

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Aula introdutória

História - 2010

História do Amor no BrasilPesquisa feita pela historiadora brasileira Mary del Priori.

Objetivos da investigação analisar:

a) Como nossos antepassados brasileiros experimentavam prazeres e dores em suas vidas?

b) Quais paixões ou simples brincadeiras provocaram felicidades ou dramas pessoais?

c) Qual era a natureza da intimidade entre homens e mulheres?

d) Onde aparecia o desejo?

e) Nossa vida amorosa é muito diferente?

Pressupostos metodológicos: sobre como Del Priori chegou a respostas às suas questões.Assim como outros imperativos – comer ou beber, por exemplo –, o amor está inscrito em nossa natureza mais profunda. Porém, cada sociedade reserva-lhe um espaço privilegiado, e o pratica à sua maneira. E o amor não muda só no espaço, mas no tempo também.

No passado, o assunto “amor” era só mencionado, em livros de História, para descrever experiências conjugais de um rei, o adultério de outro.

Mas o objetivo do livro de Del Priori é falar do amor de todo tipo de gente.

Metodologia: percursos da investigação de Del Priori:

Pesquisar a maneira como as pessoas do passado experimentavam o sentimento amoroso é uma tarefa complexa. Isso se faz graças à análise de arquivos judiciários, à literatura, às correspondências trocadas por homens e mulheres.Exemplo: literatura consultada:

a) Senhora, de José de Alencar.b) Nova Heloísa, de Jean-Jacques Rousseau.c) Memórias de um sargento de milícias, de João Manuel de

Macedo.d) O tempo e o vento, de Érico Veríssimo.e) A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo.

Importante: há uma dificuldade maior em estudar o amor do povo simples, analfabeto, cujas tradições orais se perderam no tempo. Então a percepção em relação a como amavam homens e mulheres pobres se faz indiretamente, através da fala de homens ricos e letrados.

Hipótese que nos interessa:

No Brasil Imperial, paixão e amizade eram coisas separadas. A paixão se exercia fora do casamento. A amizade, dentro.

O amor oficialmente: Leitura da fonte: Nova Heloísa, de Rousseau, por Del Priori:

O enredo gira em torno de um casamento típico de então: o de interesse. A heroína sonha desfazer-se do aristocrático candidato apresentado pelo pai para casar-se com um pobre professor, príncipe dos seus sonhos. O candidato: um senhor entrado em anos. O amado: um jovem. Mas o autor estava aí para lembrar que a paixão não era tudo. Mais importantes eram os compromissos sociais. E a protagonista nunca seria feliz fazendo seu pai infeliz. Conclusão: ela aceita o marido que lhe é proposto e compreende que é possível viver com alguém, para sempre, de forma amigável, sem qualquer sentimento mais forte. Se essa história comoveu meia Europa é porque naqueles tempos muitas pessoas se viam confrontadas com o mesmo dilema.

Até o final do século XIX, no Brasil, o casamento por interesse era considerado um “negócio” de importância fundamental para a saúde financeira das famílias mais abastadas, mas também de classes menos favorecidas. A busca por um dote, mesmo que modesto, nunca foi descuidada.

Devido à inquestionável importância social dos representantes católicos, era costume se condenar tudo o que dissesse respeito ao corpo, recusando a noção de prazer e exaltando a virgindade. Essa ética sexual se impôs com maior rigor, dependendo de épocas e lugares, por muito tempo.

Namoro: pouco ou nenhum. Noivado: rápido. Em primeiro lugar, porque os ritos conjugais eram alheios à vontade dos envolvidos. Em segundo lugar, porque raramente se permitia que o pretendente encontrasse com sua donzela pessoalmente; quando muito, uma conversa entre os noivos só era possível na presença dos pais.

Mulheres e homens não tinham as mesmas vocações, como hoje:

a) O homem nascera para mandar, conquistar, realizar.

b) A mulher, por sua vez, nascera para agradar, ser mãe e desenvolver certo pudor natural. Belas aos 13 anos, matronas aos 18, e pesadas senhoras, cercadas de filhos, um pouco depois. Discrição, amabilidade, delicadeza, tais princípios ditavam a vida da mulher em sociedade.

Ele: provedor e autoritário. Ela: econômica e dócil.

É possível que as lições de paciência aprendidas nessas circunstâncias difíceis tenham tido, posteriormente, um efeito salutar sobre a disposição do casal para ficarem

juntos, pois, no mais das vezes, viviam pra sempre em paz.

VariaçõesNas famílias mais pobres o rigor em relação ao pudor era menos rígido. O concubinato era largamente disseminado, e a união oficial dos casais era postergada por várias razões: os custos da cerimônia, as dificuldades de instalação da moradia e, até mesmo, o custo da festa se pesava.Nas famílias do meio rural o rigor era maior.Naquela sociedade escravista, para os mulatos enriquecidos convinha como importante moeda de troca o casamento com estrangeiras ou moças brancas pobres.A endogamia prevalecia entre os escravos.

Hipocrisia e desbundeÉ verdade que até o final do o século XIX um novo código amoroso foi sendo elaborado, porem, durante todo ele foi comum se imprimir severas regras aos casais, mas liberar os bordéis. Os adultérios masculinos – mal inevitável a se suportar – eram comuns, pois o culto da pureza era restrito às mulheres “de família”.O carnaval era uma válvula de escape para tanto “bom-mocismo” da mulheres das cidades: segundo o viajante francês Jean Ferdinand Denis, que passou pelo Brasil na época do Império, “as raparigas brasileiras são naturalmente melancólicas e vivem retiradas. Porém, quando chega o carnaval, parecem mudar completamente de caráter e, por espaço de alguns dias, esquecem sua gravidade e natural acanhamento para ao folguedo se darem”.

O amor extra-oficial

Os ritos mais propriamente amorosos incluíam códigos secretos. Era um tempo em que as paixões se apresentavam em forma de reações corporais: as lágrimas, os suores frios, o tremor, o rubor das faces, os suspiros. O olhar, por exemplo, era importantíssimo. Exclusivamente masculino, ele escolhia, identificava e definia a preza. Por outro lado, um olhar feminino livre seria percebido como um olhar obsceno.

A Igreja, embora pareça ambíguo, teve um papel inimaginável na história do amor no Brasil. Ela era o melhor lugar para a prática do namoro. Só aí as mulheres se aproximavam e até cochichavam algumas palavras com seus amantes. O mínimo gesto bastava para ser compreendido, e enquanto se fazia devotamente o sinal da cruz se pronunciava, no tom da mais fervorosa prece, a declaração de amor.

Havia a correspondência secreta dos namorados. Esperavam-se horas e, por vezes, dias, para uma notícia ou uma palavra de amor. Os moleques de recado, livres ou escravos, membros da família ou pagos, eram mediadores por excelência das paixões secretas. Na cidade ou no campo, davam sempre um jeitinho de informar aos amantes o próximo passo dos jogos amorosos.

Os namorados também publicavam suas cartas em jornais. No Jornal do Comércio pelo menos duas páginas eram consagradas com correio sentimental, com frases do tipo: “Esperei-te ontem e não vieste! Aquele que morre por ti espera uma resposta à sua carta.”

Voltando à Nova Heloísa: O lugar do adorado professor que a protagonista amava, fica sendo a memória, a lembrança. Naquela época, o sofrimento redentor, estar perdidamente apaixonado, corações sangrando eram motes valorizados na literatura e na vida. E o fato é que, pouco a pouco, o amor platônico, irrealizado, passou a ser considerado o “amor à moderna”. Estamos diante de duas maneiras de encarar a paixão: uma “nova”, na crista da onda, que era literária, e apresentava o amor como estado da alma; e uma outra, considerada agora como “antiga”, mas um tanto mais “real”, feita de namoros atrás das portas.

Faça você mesmo:Analise a pintura abaixo, de título Arrufos, que foi feita em 1887 por Belmiro de Almeida, e aponte elementos que podemos afirmar que também caracterizaram o amor no Brasil império:

FIM

Que tal, pessoal?