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Implantação de Sistema de Gestão da Qualidade na Coordenadoria-Geral de Perícias de Mato Grosso do Sul

Autor: Nelson Fermino Junior RESUMO Saúde, Educação e Segurança Pública tem sido a preocupação de todas as nações democráticas, e por conta disso devem demandar serviços de qualidade. Neste contexto, se insere a Coordenadoria-Geral de Perícias de Mato Grosso do Sul (CGP/MS), como órgão de Segurança Pública e responsável pelos exames periciais de natureza criminal, bem como os serviços de identificação civil do Estado. A Perícia Criminal deve merecer atenção especial na questão da qualidade, pois a busca da verdade real dos fatos delituosos interfere diretamente na liberdade individual e respeito à dignidade humana. A implantação de políticas voltadas à gestão da qualidade na CGP, que contemple ainda renovações estruturais e operacionais, é de suma importância, uma vez que a instituição poderá desempenhar plenamente sua missão, tornando seus resultados cada vez mais eficazes com vistas às expectativas da sociedade, cada vez mais exigente e conhecedora de seus direitos. Para garantir a qualidade nos processos e possibilitar as melhorias continuadas de desempenho é proposto um modelo de implantação de um sistema de gestão baseado na ABNT NBR ISO/IEC 17025:2005. Palavras-Chave: Sistema de Gestão da Qualidade, Acreditação, Perícia Criminal, Melhoria de serviços. 1. INTRODUÇÃO

No conjunto de provas obtidas para a elucidação de uma infração penal, quais sejam, testemunhais, documentais, circunstanciais, materiais (ou periciais), etc., não existe hierarquia. De modo que, conforme pressupõe o Código de Processo Penal, ao magistrado é assegurada a avaliação livre e ampla do conjunto de provas. Portanto, todas, em princípio, têm o mesmo valor probante.

Mesmo sendo a prova pericial denominada no meio jurídico como “A Rainha da Provas”, o Juiz não fica adstrito às conclusões e inferências do Laudo Pericial, de modo que poderá aceitá-lo ou rejeitá-lo, no seu todo ou em parte, com vista a atingir seu livre convencimento (Art. 182 do CPP).

A sociedade tem clamado por segurança pública de qualidade e por justiça. Nesse contexto a prova pericial tem merecido grande destaque.

O que se tem observado ao longo dos anos, é que a prova pericial acaba tendo prevalência, visto que são obtidas a partir de fundamentação científica, enquanto que as demais provas estão imbuídas de subjetivismo, sentimentalismo e emoção.

Jornais, filmes e seriados têm disseminado a filosofia da perícia criminal na sociedade. Cada vez mais as pessoas estão passando a entender que a impunidade geralmente está associada àqueles casos onde não foram produzidas provas materiais conclusivas e contundentes.

O fomento à prova material tem ocorrido de forma gradativa com investimentos pontuais em inovação e tecnologias, dentre as quais se destacam as páreas da genética forense, fonética forense e balística forense. Por outro lado, por mais que os avanços científicos e tecnológicos, no

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âmbito da Perícia Criminal têm contribuído significativamente para a valorização da prova material, estes avanços, por si só, não representam garantia de que as evidências serão aceitas como prova material pela justiça.

Vale ressaltar que, toda evidência obtida durante o exame de corpo de delito será perfeitamente admissível como prova material no processo criminal, sempre que sejam cumpridos, rigorosamente, alguns procedimentos de obtenção, documentação, manutenção e segurança da prova pericial.

Como conseqüência natural do avanço da Criminalística e da Processualística Penal, assim como do rigor da sociedade e das organizações internacionais, advém a necessidade imperiosa de conferir confiabilidade às evidências obtidas e fornecer credibilidade aos processos e etapas de obtenção da prova pericial, pela adoção de padrões normativos de aceitação global, razão pela qual se torna oportuna a abordagem dos temas Metrologia e Sistema de Gestão da Qualidade.

O processo de medição é suporte para a ciência, para identificação e solução de problemas, para controle da produção e para avaliação de produtos e serviços em todas as áreas da vida humana. (NETO, 1993)

Neste contexto, a Metrologia fornece elementos que permitem maior precisão do processo produtivo e diminuição do índice de incerteza das medições, contribuindo para a qualidade do produto final, que em Perícia Criminal é o Laudo Pericial.

A confiabilidade metrológica se caracteriza pela especificação correta dos instrumentos de medição, treinamento, controle estatístico das medições, conscientização dos envolvidos no processo, rastreabilidade das medições e controle dos instrumentos de medição.

Para PALADINI (2004), o conceito de Qualidade evoluiu nos últimos anos e passou de algo visual e ligado à funcionalidade para algo mais amplo. Se antes o produto era o foco da qualidade, hoje o processo passa a ser mais significativamente considerado. Por exemplo, não se considera um processo com altos índices de retrabalho e desperdícios como de boa qualidade, mesmo que este resulte em um produto de alto desempenho.

O Sistema de Gestão é o conjunto de elementos inter-relacionados ou interativos que envolvem procedimentos, processos e recursos, necessários para estabelecer a política e objetivos, que vão dirigir e controlar a instituição no que diz respeito à qualidade, a administração e as operações técnicas. (PRESOT e SILVA, 2006).

Neste sentido os laboratórios de perícias do mundo, a mais de dez anos, estão implantando sistemas de gestão de acordo com a Norma ISO 17025, que tem por objetivo principal demonstrar que operam um sistema da qualidade e possuem competência técnica para realizar os serviços de análises periciais. No mesmo ínterim, os serviços periciais de local de crime estão se adequando a ISO 17020. Estes procedimentos são denominados de Acreditação.

A acreditação é um reconhecimento formal, concedido por um organismo autorizado (no Brasil, o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - INMETRO), de que a entidade foi avaliada, segundo guias e normas nacionais e internacionais e tem competência técnica e gerencial para realizar tarefas específicas de avaliação da conformidade de terceira parte.

Segundo PRESOT e SILVA (2006), este status traz em seu bojo confiabilidade nos resultados, reconhecimento da comunidade e de seus pares, evita erros e repetições de trabalho, permite a rastreabilidade dos dados, facilita a organização de trabalho e a comunicação dos dados obtidos, possibilita acesso a ensaios de proficiência, e oferece melhorias do estado de espírito e motivação dos colaboradores, que podem trabalhar de maneira mais eficiente, tanto pela definição e controle dos processos de trabalho, quanto pelo investimento em capacitação.

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O objetivo deste trabalho é propor a aplicação de um Sistema de Gestão da qualidade, administrativo e técnico, baseado na Norma ABNT NBR ISO/IEC 17025 para a Coordenadoria-Geral de Perícias de Mato Grosso do Sul (CGP/MS), levando-se em consideração a cultura da instituição, por meio do estabelecimento de métodos e ações que possam ser facilmente incorporados à sua rotina, e que contemple a gestão administrativa, a qualidade de produtos e processos, e os procedimentos técnicos e operacionais.

2. HISTÓRICO, MISSÃO E ESTRUTURA ORGANIZACIONAL BÁSICA E ESTADO DA ARTE DA COORDENADORIA-GERAL DE PERÍCIAS DE MATO GROSSO DO SUL

Desde a promulgação da Constituição Estadual, em 1889, conforme consta em seu Art. 35 Dos Atos de Disposições Finais e Transitória, o Órgão de Perícia Oficial e de Identificação do Estado de Mato Grosso do Sul deveria ter autonomia administrativa e ser desvinculado da Polícia Civil. Porém o artigo nunca foi regulamentado, de modo que até o ano de 2005, o órgão continuava sendo dirigido por Delegado de Polícia Civil de carreira de última classe.

Com a publicação da Lei Complementar n° 114, de 19 de dezembro de 2005, que instituiu a Lei Orgânica da Polícia Civil, o órgão passou a ser denominado de Coordenadoria-Geral de Perícias (CGP), com status de órgão de direção superior, vinculado diretamente à Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (SEJUSP).

A CGP é dirigida por Perito de carreira, de classe especial, que deve possuir título de pós-graduação, sendo nomeado pelo Governador, após indicação em lista tríplice, escolhida pelos membros das carreiras que integram o órgão.

Tem por missão a direção, coordenação, supervisão e planejamento dos procedimentos periciais em geral para a comprovação da materialidade da infração penal e de sua autoria, o fomento à pesquisa, a fim de aperfeiçoar técnicas preconizadas e/ou criar novos métodos consentâneos com o desenvolvimento técnico e científico, bem como organizar e executar os serviços de identificação civil e criminal do Estado.

O Órgão tem sede em Campo Grande, Capital do Estado, e cumpre suas finalidades por meio do Instituto de Criminalística Hercílio Macellaro (ICHM), Instituto de Análises Laboratoriais Forenses (IALF), Instituto de Medicina e Odontologia Legal (IMOL) e do Instituto de Identificação (II). Possui ainda dois departamentos de apoio, denominados Departamento de Apoio às Unidades Regionais, que coordena 11 Unidades Regionais de Perícia e Identificação, e Departamento de Apoio Operacional, responsável pelo controle dos setores de telecomunicação, informática, frota, compras, projetos, manutenção predial, etc.

As Unidades Regionais de Perícia e Identificação estão localizadas em cidades pólo, e são responsáveis pela realização dos exames periciais e serviços de identificação civil e criminal de sua respectiva macroregião, a saber: Aquidauana, Corumbá, Coxim, Dourados, Fátima do Sul, Jardim, Naviraí, Nova Andradina, Paranaíba, Ponta Porã e Três Lagoas.

O número de Peritos Oficiais não tem acompanhado o aumento da criminalidade, nem tão pouco, segue o incremento dos efetivos das demais carreiras da segurança pública do Estado.

A Associação Brasileira de Criminalística (ABC), entidade que representam os Peritos Criminais, recomenda a existência de 1 Perito Criminal para cada 5.000 habitantes. A seguir são ilustradas as relações entre o número de Peritos Criminais e Peritos Médico-Legistas, e a população de Mato Grosso do Sul, que reflete um total desacordo ao recomendado pela entidade para a prestação de um serviço de qualidade à população.

O Estado de Mato Grosso do Sul se apresenta em localização estratégica no continente sul-americano, estabelecendo fronteira seca com países como Paraguai e Bolívia, e divisas com vários Estados do país, servindo de entreposto entre as regiões sul, centro-oeste e sudeste.

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Por conta disto, o número de ocorrências relacionadas a tráfico e venda de drogas, crimes no trânsito, crimes contra a pessoa, crimes contra o patrimônio e adulterações de veiculares, dentre outras, apresentam índices em elevação.

Considerando o efetivo de Peritos, fica humanamente impossível o pronto atendimento das solicitações requeridas.

Para desempenho das competências como órgão técnico-científico e de pesquisa, a CGP necessita de equipamentos de análise e avaliação especializados, porém as unidades estão dotadas de alguns poucos equipamentos, e que, em sua maioria, apresentam tecnologias ultrapassadas. Vale ressaltar que esses equipamentos estão centralizados nas unidades da sede da CGP na Capital.

De toda sorte, está em trâmite um processo para a aquisição de alguns equipamentos, ainda para este ano, através de convênios da SENASP com o Estado.

Outros projetos ainda estão em andamento como: aquisição de equipamentos para as Unidades Regionais de Dourados e Corumbá para análise de drogas e para exame de identificação veicular, com verba do projeto de fortalecimento da Polícia de Fronteira da SENASP; aquisição de Cromatógrafo Gasoso para exames de voláteis e combustíveis; projeto para aquisição de Raio X para as Unidades Regionais de Perícia e Identificação; etc.

O prédio sede da CGP apresenta espaço físico inadequado e incompatível com os diversos ramos da perícia oficial e da identificação. Todos os Institutos e departamentos estão concentrados em uma mesma área.

Porém, temos 05 (cinco) projetos de construção em andamento, sendo que um deles encontra-se em execução da obra. Serão contempladas as Unidades Regionais de Perícia e Identificação de Coxim, de Dourados, de Nova Andradina e Três Lagoas.

De um modo geral, as unidades da CGP não possuem procedimentos operacionais padronizados escritos. A exceção está no Laboratório de DNA Forense da Divisão de Biologia e Bioquímica Forense do IALF.

3. METODOLOGIA E ESTRATÉGIAS PARA DIAGNÓSTICO E IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE

O processo de implantação foi estruturado em etapas, guardando as particularidades do órgão e procurando seguir a ordem dos itens da Norma ABNT NBR ISO/IEC 17025, conforme detalhamento a seguir:

3.1 – Tomada de decisão e comprometimento da Alta Direção A implantação de um SGQ deve ser pautada em ações coordenadas e integradas, norteadas

pela missão da instituição. Desta maneira, deverão ser estabelecidas a Missão e a Política da Qualidade da CGP.

Para FERREIRA et al. (2005), o Sistema de Gestão da Qualidade só poderá ser eficaz se, no seu comando, estiver uma liderança comprometida com seu desenvolvimento, implementação e melhoria contínua. O comprometimento da alta direção é fundamental para o sucesso da implantação do projeto, de modo a criar e manter um ambiente propício e amistoso entre a direção e os funcionários.

“A alta direção é formada pelo principal executivo da empresa e sua diretoria, e o principal executivo da empresa é aquele que tem a autonomia para disponibilizar recursos” (MELLO et al, 2002).

Neste contexto, definiu-se como Alta Direção a Coordenação-Geral da CGP, pois é quem estabelece a política do sistema de gestão da qualidade, além de garantir a disponibilidade de

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recursos para os laboratórios, frente à SEJUSP. Nesta fase, deverá ser definido ainda o Gestor da Qualidade, que terá status de Assessoria, ligada diretamente a Coordenadoria-Geral de Perícias.

Os Gerentes Técnicos serão os Diretores dos Institutos envolvidos no processo. As responsabilidades da alta direção e dos gestores da qualidade e técnicos deverão ser

estabelecidas para que o SGQ possa funcionar a contento. Estabelecer as políticas do SGQ, a qual deve visar o cumprimento da missão institucional

e alcançar seus objetivos. 3.2 – Introdução e sensibilização inicial dos Peritos Oficiais e demais profissionais dos Institutos envolvidos na implantação do Sistema de Gestão

Como método de sensibilização inicial, deverá ser apresentado aos funcionários da CGP palestra, mencionando a importância da metrologia forense e da qualidade no âmbito da perícia criminal. A contextualização mundial e brasileira frente às temáticas, e os critérios de avaliação do processo de acreditação dos laboratórios forenses pela Norma ABNT NBR ISO/IEC 17025. 3.3 – Diagnóstico do ambiente e indicações de ações esperadas e aquelas que não seriam bem vindas

Deve ser realizadas pesquisas para avaliar o nível de conhecimento dos funcionários dos Institutos e também a aceitação dos mesmos à idéia de se obter a acreditação.

Esse procedimento visa um melhor entendimento do funcionamento do SGQ no dia a dia, além de identificar as características do pessoal envolvido, as suas experiências e expectativas em relação à Qualidade e implantação do SGQ, o que permitirá estabelecer um plano de capacitação e treinamento voltado à qualidade.

Referida avaliação deverá ser realizada por meio de questionários e entrevistas, e os resultados, depois de discutidos com a alta direção, serão compilados em documento final para divulgação interna. 3.4 – Mapeamento dos processos

As atividades desenvolvidas na CGP deverão ter seus processos mapeados com riqueza de detalhes e analisados criticamente, a fim de identificar as etapas mais sensíveis de cada atividade, da entrada da requisição e do material até a saída do produto final (laudo pericial).

De posse dos resultados do mapeamento, será possível elaborar procedimentos e instruções normativas, de natureza administrativa, de qualidade e técnicas, que permitirão o controle das atividades e uma abordagem sistêmica da gestão. 3.5 – Análise Crítica pela Alta Direção

A análise crítica do mapeamento das etapas poderá demonstrar a conformidade do produto e dos processos, assim como fornecerá elementos para assegurar a contínua eficácia do SGQ.

Com esses propósitos deverão ser implementados os seguintes itens: a) Controle de trabalho de ensaio não-conforme

Estabelecer diretrizes e procedimentos para a implementação de ações imediatas para eliminar eventuais não-conformidades identificadas durante as atividades de ensaio.

Devem ser elaborados protocolos de dois sistemas de controle, um com foco no produto final (Laudo Pericial) e o outro no processo.

Após os Laudos Periciais estarem assinados pelos Peritos, verificar se neles constam os elementos mínimos para a correta interpretação e aplicação pelo judiciário, se estão preservas as formatações normalizadas pelo manual de qualidade, e se não existem outros pontos de não-conformidade.

Uma vez corrigidos os pontos de não-conformidade, o Laudo poderá ser expedido e liberado. Se detectado que se trata de uma não-conformidade teve sua origem em uma não-conformidade do processo, procedimentos de ação corretiva devem ser tomados na fonte do problema.

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Por outro lado, o controle dos processos do trabalho deve ser pautado, aplicando análises sistemáticas, a fim de identificar potenciais fontes de não-conformidade na fonte, as quais podem ser evitadas adotando-se ações preventivas. b) Auditorias internas

Tem por finalidade averiguar se o processo e o produto obtido estão em conformidade com a Norma. Deve estabelecer um planejamento e serão coordenadas pelo Gestor da Qualidade da CGP. c) Ações corretivas e preventivas

Em cada Instituto envolvido deve haver um Perito Oficial para promover as ações corretivas e preventivas nos sistemas de gestão e de operações técnica, os quais deverão proceder à análise de causas, identificação de fontes potenciais de não-conformidade, seleção e implementação de ações corretivas e preventivas, e o monitoramento das ações.

Serão objetos de análises ainda os resultados de exames de proficiência e demais dados que permitam a análise de tendência e riscos. d) Atendimento ao cliente

Elaborar protocolo de atendimento para as seguintes situações: esclarecimento de pontos obscuros na solicitação do exame; e orientações e comunicações sobre assuntos técnicos do resultado junto ao solicitante, quais sejam: delegados de polícia, peritos criminais ou peritos médico-legistas. Para estes casos definir quem será o contato.

Promover a realimentação, positiva ou negativa, do sistema judiciário e da população, que são os clientes da perícia criminal e destinatário final dos nossos produtos (laudos), através da Alta Direção. e) Reclamações

Deve ser estabelecido um protocolo de recebimento de reclamações, de investigação dos fatos e, se necessário, da definição de ações corretivas. f) Melhorias

A análise dos dados, análises críticas, ações corretivas e preventivas, objetivos e política da qualidade da instituição, servirão de elementos para o desenvolvimento de melhorias no SGQ.

Vale lembrar que a melhoria em qualidade não pode ter aspecto de correção de não-conformidade.

Ao final do processo de análise crítica é importante fazer as adequações necessárias na política de qualidade de instituição e estabelecer procedimentos a serem implantados pelos setores da CGP. 3.6 – Desenvolvimento do Manual da Qualidade da CGP (MQ/CGP)

Este item deverá definir os requisitos gerais do SGQ, os quais serão descritos e registrados no denominado Manual da Qualidade (MQ). Trata-se de um documento que rege todo o sistema, comprovando que a CGP segue os requisitos da Norma e possui um sistema de gestão implantado.

O MQ/CGP deve dar enfoque às Políticas do Sistema de Gestão da Qualidade e a missão institucional.

O MQ deve conter uma descrição sobre a estrutura da documentação do órgão, que normalmente possui três níveis: MQ, Procedimentos Operacionais e Instruções Normativas.

Os procedimentos exigidos e/ou tomados como necessários, relativos a gestão da qualidade terão o conteúdo inseridos em sua totalidade no MQ, enquanto que, os procedimentos operacionais de natureza técnica serão objeto de manual específico para cada Instituto.

Uma vez realizado o mapeamento dos processos e a respectiva análise crítica pela alta direção, já será possível definir os requisitos de cumprimento à Norma ABNT NBR ISO/IEC 17025.

Elaborar procedimentos para o controle e o registro de documentos. Referidos procedimentos terão por objetivo assegurar que somente documentos adequados e atualizados sejam

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utilizados, permitindo manter o histórico de suas revisões e manutenção de sua guarda, os quais deverão contemplar, dentre outros elementos, os que se seguem: − Padrão para cada tipo de documento; − Os documentos obsoletos deverão estar identificados como tal com carimbo próprio, enquanto

que aqueles mantidos em sistemas computadorizados deverão ser retirados das máquinas, em backup, com brevidade;

− Lista mestra para controle de documento de modo a identificar a situação atual de revisão e sua validade;

− Critérios de elaboração, revisão e aprovação de documentos, definindo a autoridade que desenvolverá a aprovação;

− Análises críticas periódicas dos documentos, com fins de inserir melhorias; − Disponibilizar das edições de documentos a todos os setores, somente após revisão e aprovação; − Controle de cópias e segunda via de documentos; − Identificação, atualização e controle de dados de computador, programas, softwares e cópias de

segurança; − Controle de registro em papel ou eletrônicos de requisitos da qualidade (documentos diversos,

relatórios de análises críticas, relatórios de auditorias internas, registros de ações corretivas e preventivas, relatórios de exame de proficiência, planos de manutenção de infra-estrutura, de reclamações e atendimento ao cliente, etc.);

− Controle de registro em papel ou eletrônicos de requisitos técnicos (treinamento de servidores, laudos periciais, planos de manutenção e calibração de equipamentos, validação de métodos e estimativas de incerteza das medições, condições ambientais e acomodações)

Ao acompanhar o processo produtivo da CGP poderão ser evidenciadas necessidades de implantação de plano de capacitação e treinamentos técnicos especializados dos servidores.

O mapeamento permitirá ainda estabelecer procedimentos para a aquisição de serviços e suprimentos, bem como de equipamentos, contemplando aspectos de especificações, identificação de fornecedores, controle do recebimento e do uso desses materiais, estabelecendo requisitos mínimos a serem contemplados para que a qualidade do produto final ou o SGQ não sejam afetados. Cabe ainda definir mapas controle de manutenção preventiva para cada equipamento.

Todos os demais procedimentos administrativos de controle devem estar descritos detalhadamente no MQ: - Análise crítica das requisições de exame (adaptação do item 4.4 da Norma): as requisições de exame devem ser analisadas criticamente, no tocante, a possibilidade de realização do ensaio solicitado (exame pericial), de modo que, caso os ensaios disponíveis não contemplem as expectativas da solicitação, os materiais sejam devolvidos prontamente à origem, antes de serem iniciados os exames. Devem ser mantidos os registros de análises críticas de solicitações, utilizando-se de despachos assinados e datados, comunicações internas, ofícios de devolução, dentre outros expedientes, os quais deverão ser devidamente arquivados. - Atendimento ao cliente; - Reclamações; - Controle de trabalhos de ensaio não-conforme; - Análise de causas; - Ações corretivas e preventivas; - Controle de registros; - Auditorias internas; - Análise crítica pela direção; - Melhoria. 3.7 – Elaboração dos Manuais de Processos e Procedimentos Operacionais Padrão

Os Manuais de Procedimentos Operacionais serão elaborados em cada Instituto contemplando aspectos de controle técnico de pessoal, acomodações e condições ambientais,

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métodos de ensaio e validação de métodos, equipamentos, rastreabilidade de medição, medidas para amostragem, manuseio de itens de ensaio e calibração, garantia da qualidade de resultados de ensaio e calibração, e apresentação dos resultados.

O pessoal deve ter programa de capacitação e treinamento, assim como instruções básicas para novos membros do laboratório. Lotar os peritos de acordo com a especialidade, habilidades e experiências.

Cabe um destaque ao item 5.3 da Norma, relativo a acomodações e condições ambientais, que estipula a necessidade de separação efetiva entre áreas vizinhas nas quais existam atividades incompatíveis, a fim de evitar contaminação cruzada.

Os métodos de ensaio devem ser padronizados, de modo que possam ser selecionados e validados, e estimadas as incertezas de medição associadas, quando couber.

Manter sistema de controle de dados produzidos e controle de equipamentos, incluindo registros de calibração, manutenção e usos. 3.8 – Definição das Atividades a serem Acreditadas e o Escopo

A escolha dos primeiros setores da CGP a serem acreditados deverá ser baseada em critérios técnicos e estratégicos, quais sejam: capacidade e facilidade de atendimento do laboratório aos requisitos da Norma ABNT NBR ISO/IEC 17025; necessidade estratégica para implantação de sistemas; e possuir equipe previamente capacitada para a implantação.

Neste sentido, quatro laboratórios da CGP são sugeridos para a implantação inicial, sendo que o Laboratório de DNA Forense/IALF, por se encontrar em estágio estrutural mais avançado em relação aos requisitos da norma, terá como meta a solicitação de acreditação até o final do segundo semestre de 2011, para um escopo de dois métodos de ensaio.

Os Laboratórios de Análises de Drogas Brutas/IALF, de Balística Forense/ICHM e de Documentoscopia/ICHM, terão como meta para a solicitação da acreditação meados de 2012, cada qual com escopo de pelo menos dois métodos de ensaio.

O fato de ser realizado o mapeamento de todos os processos da CGP, e as respectivas análises críticas, facilitará a solicitação da acreditação de outros laboratórios, após a acreditação dos laboratórios do projeto piloto.

3.9 – Auditoria Interna de todo o SGQ Por fim será realizada uma auditoria interna de todo o sistema para conferir se todas as

etapas estão ajustadas à Norma ABNT NBR ISO/IEC 17025, e também para apresentar melhorias, conforme os ditames do MQ/CGP. 3.10 – Solicitação da Acreditação à Coordenação Geral de Acreditação do INMETRO (CGCRE/INMETRO) e início da avaliação 4. DIFICULDADES PARA IMPLANTAÇÃO DO SGQ NA CGP E SUGESTÕES PARA SUPERÁ-LAS 4.1 – Dificuldades Encontradas

Para a implantação de um SGQ na CGP, várias foram as dificuldades encontradas no levantamento prévio, dentre as quais destacamos:

a) Descrédito inicial dos Peritos Oficiais no programa. O fato é que, muitas vezes, faltam recursos para a aquisição de materiais para o cumprimento de requisitos básicos necessários ao desenvolvimento de alguns exames periciais, imagina para a implantação de um SGQ robusto;

b) Os Peritos Oficiais, em sua maioria, não comungam acordo em estabelecer normalização de procedimentos e requisitos mínimos necessários, sob a alegação de que cada caso é um caso;

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c) Deficiência de pessoal para gerir os procedimentos administrativos, bem como para dar conta da demanda de exames periciais. Com a implantação do SGQ, com certeza, essa demanda reprimida iria aumentar, ao inserir o rigor dos pressupostos da qualidade;

d) Instalações físicas inadequadas, que inviabilizam a implantação de qualquer sistema de organização e controle efetivos de documentos, de registros e de materiais;

e) Instalações prediais que não contemplam o requisito técnico de acomodações e condições ambientais laboratoriais. Embora não descrito na norma, é preocupante a condições de biossegurança dos laboratórios;

f) Equipamentos obsoletos e sem certificado de calibração; g) Falta de equipamentos imprescindíveis para o desenvolvimento de métodos de análise

validados, a fim de oferecer resultados contundentes e tecnicamente respaldados; h) Falta de recursos disponíveis para pronta utilização para correções de não-conformidades

porventura detectadas ao longo do processo de implantação; i) Ausência de procedimentos operacionais relativos à administração, qualidade ou técnicos

descritos, revisados e aprovados pela administração dos Institutos; Embora sejam evidentes os esforços do Governo Federal e do Estado na melhoria da

Perícia Criminal, os investimentos são relativamente modestos, frente ao longo período em que a perícia ficou esquecida e relegada a último plano. 4.2 – Sugestões para Contornar as Dificuldades

O próprio andamento do projeto contempla nas diversas etapas de implantação medidas de envolvimento do pessoal com o SGQ.

Para superação das demais dificuldades referidas, o Governo Estadual deveria estabelecer uma política específica para a área de Perícia Criminal, para a aquisição de equipamentos, construção de instalações prediais adequadas e valorização profissional, cujo objetivo final seria a implantação de sistemas de qualidade, e posterior pedido de acreditação dos primeiros laboratórios de perícia criminal. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O sucesso do projeto de implantação de um SGQ em qualquer ambiente depende essencialmente do comprometimento do pessoal envolvido no processo. Desta maneira, é preciso estabelecer diretrizes bem delineadas para romper as resistências às mudanças e o medo do novo, e estimular a participação de todos.

De toda sorte, é inegável que a implantação de SGQ e de acreditação de métodos possibilitará um avanço na perícia sulmatogrossense, uma vez que permitira conhecer, analisar e melhorar cada etapa do processo de produção do laudo pericial.

O próprio avanço tecnológico impõe a reflexão sobre a necessidade de se identificar os pontos críticos dos processos que influenciam direta ou indiretamente na qualidade dos serviços prestados pela CGP, de modo a aprimorá-los, numa perspectiva de melhoria contínua. Assim, seria possível fortalecer a capacidade da organização de cumprir seus objetivos estratégicos.

Por outro lado, convênios internacionais como o estabelecido entre a Polícia Federal do Brasil e Estaduais, com a Polícia Federal Americana (FBI), relativa ao banco de dados de perfis genéticos – DNA, denominado CODIS, demonstra o entendimento que a perícia oficial brasileira deve ganhar uma nova dimensão, estendendo-se além das fronteiras geográficas, econômicas e culturais, tornando imperativas as mudanças na qualificação institucional.

Neste sentido, a busca pela acreditação dos serviços de perícia oficial de natureza criminal vem ao encontro daquilo que o mundo e a sociedade esperam.

A metodologia a ser utilizada para implantação de SGQ nos órgãos de Perícia Criminal precisa ser diferenciada, pois existem as peculiaridades e especificidades de um órgão público,

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aliado aos requisitos técnicos compatíveis a laboratórios de ensaio, mas que deve ter toda uma precaução quanto a interpretação jurídica do produto final (laudo pericial).

É bom lembrar que a CGP, após o início da administração por Perito, e contando com apoio da SEJUSP/MS, passou nos últimos três anos por um rápido crescimento caracterizado por melhorias na infra-estrutura, aquisição de equipamentos, e cursos voltados à qualificação profissional.

Notadamente nos Estados cujo órgão de perícia é dotado de autonomia administrativa plena, existem melhores condições para implantação do SGQ, pois apresentam infraestrutura, pessoal e equipamentos mais adequados, uma vez que são gestores administrativos diretos, estabelecem suas próprias prioridades de investimentos.

A implantação de um sistema de gestão da qualidade na CGP, baseado na ABNT NBR ISO/IEC 17025, poderia modernizar a estrutura administrativa da instituição, tornando-a suficientemente ágil no sentido de melhorar a eficiência de seus processos, alinhar o foco de suas ações e intensificar sua efetividade.

Por fim, conforme se depreende da segunda diretriz mais votada na 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública realizada em agosto de 2009 (Brasília/DF), a Perícia Autônoma e moderna é uma forma prática e direta de melhorar o desempenho e a confiança da sociedade no trabalho pericial, por meio da produção isenta e qualificada da prova material, garantindo ainda o direito a ampla defesa e contraditório, bem como o respeito aos direitos humanos. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT NBR ISO/IEC 17025:2005 --- Requisitos gerais para a competência de laboratórios de ensaio e calibração. INMETRO, Avaliação da Conformidade. Diretoria da Qualidade. 5ª ed., 2007. INMETRO --- Vocabulário Internacional de termos de metrologia legal: portaria. INMETRO --- Orientações para a acreditação de laboratórios de calibração e de ensaio, documento de caráter informativo. DOQ-CGCRE-001, revisão 03 – fevereiro. INMETRO --- Avaliação de Conformidade, 5° ed. Maio de 2007. NETO, E. P. Gerenciando a Qualidade Metrológica. Rio de Janeiro, Editora Imagem, 1993. PALADINI, E. P.; Gestão da Qualidade: Teoria e Prática. Ed. Atlas, 2 ed, São Paulo, 2004. PRESOT, I. M. e SILVA, A. B. M da. Sistema de Gestão da Qualidade Laboratorial e Biossegurança. FIOCRUZ, 2006. FERREIRA, J. J. A. et al.; Gestão da Qualidade: Teoria e Casos. Ed. Campus, Rio de Janeiro, 2005. MELLO, C. H. e PEREIRA et. al.; ISO 9001:2000 Sistema de Gestão da Qualidade para Operações de Produção e Serviços. Ed Atlas, São Paulo, 2002.