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Fernandes e Batista. Interação Social de Adolescentes... 25 Rev. Simbio-Logias, V. 8, n. 11, Dez/2015. INTERAÇÃO SOCIAL DE ADOLESCENTES EM SALA DE AULA: resultados de análise sociométrica Bianca Reis Fernandes 1 Angelina Batista 2 Resumo Estudar a interação social de crianças, adolescentes e jovens em sala de aula pode favorecer a compreensão das dinâmicas organizadoras dos grupos, possibilitando, assim, não só a condução mais consciente do próprio processo de ensino e aprendizagem, mas também a construção de um relacionamento social mais respeitador dos motivos internos que mobilizam a organização dos grupos sociais. Conhecer a teoria de J. L. Moreno seria um primeiro passo para o conhecimento dos grupos existentes em sala da aula, pois, para além do grupo-classe, formado quando da composição das salas de aula, há os vários grupos em que se subdivide o grupo inicial. Moreno demonstra como cada indivíduo pode se situar em relação a seus pares com base na interação social regida pelas leis de atração e repulsa. Para os educadores, conhecer como seus alunos se colocam em relação aos colegas, pode facilitar seu trabalho, uma vez que, conhecidas as leis do grupo e respeitando-as, é possível intervir na socialidade do grupo e levá-lo a um melhor aproveitamento das atividades escolares. Este texto, complementando o anteriormente publicado por esta revista, tem como objetivo principal apresentar a análise sociométrica realizada por um trabalho de pesquisa de iniciação científica ocorrido em uma classe de Ensino Fundamental. Os resultados ora apresentados pretendem mostrar a aplicação do teste sociométrico e sua análise, tendo em vista sua importância para a área de Educação, principalmente pela utilização desse importante instrumento de sociodiagnóstico, revelador das linhas mestras da socialidade dos grupos existentes em sala de aula. Palavras-chave: Interação social; grupos sociais; teste sociométrico. Introdução Em artigo anterior (FERNANDES e BATISTA, 2010), apresentamos a teoria sociométrica de Jacob Levy Moreno que buscava estudar as relações interpessoais presentes num grupo social ou numa comunidade. Constituído o referencial teórico, faltava-nos apresentar os resultados da aplicação do teste sociométrico realizado por ocasião da pesquisa de iniciação científica realizada numa classe de alunos de sétima série, hoje correspondente ao oitavo ano do ensino fundamental, de uma escola pública da cidade de Botucatu. Aqui, completamos a apresentação do trabalho em duas seções: aplicando o teste sociométrico e analisando os sociogramas. Esperamos que estes estudos possam inspirar mais pesquisas 1 Licenciada em Ciências Biológicas – Instituto de Biociências – UNESP – Botucatu - SP 2 Professor Assistente Doutor – Departamento de Educação – Instituto de Biociências – UNESP – Botucatu - SP

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Fernandes e Batista. Interação Social de Adolescentes...

25 Rev. Simbio-Logias, V. 8, n. 11, Dez/2015.

INTERAÇÃO SOCIAL DE ADOLESCENTES EM SALA DE AULA: resultados de análise sociométrica

Bianca Reis Fernandes1

Angelina Batista2 Resumo Estudar a interação social de crianças, adolescentes e jovens em sala de aula pode favorecer a compreensão das dinâmicas organizadoras dos grupos, possibilitando, assim, não só a condução mais consciente do próprio processo de ensino e aprendizagem, mas também a construção de um relacionamento social mais respeitador dos motivos internos que mobilizam a organização dos grupos sociais. Conhecer a teoria de J. L. Moreno seria um primeiro passo para o conhecimento dos grupos existentes em sala da aula, pois, para além do grupo-classe, formado quando da composição das salas de aula, há os vários grupos em que se subdivide o grupo inicial. Moreno demonstra como cada indivíduo pode se situar em relação a seus pares com base na interação social regida pelas leis de atração e repulsa. Para os educadores, conhecer como seus alunos se colocam em relação aos colegas, pode facilitar seu trabalho, uma vez que, conhecidas as leis do grupo e respeitando-as, é possível intervir na socialidade do grupo e levá-lo a um melhor aproveitamento das atividades escolares. Este texto, complementando o anteriormente publicado por esta revista, tem como objetivo principal apresentar a análise sociométrica realizada por um trabalho de pesquisa de iniciação científica ocorrido em uma classe de Ensino Fundamental. Os resultados ora apresentados pretendem mostrar a aplicação do teste sociométrico e sua análise, tendo em vista sua importância para a área de Educação, principalmente pela utilização desse importante instrumento de sociodiagnóstico, revelador das linhas mestras da socialidade dos grupos existentes em sala de aula. Palavras-chave: Interação social; grupos sociais; teste sociométrico.

Introdução

Em artigo anterior (FERNANDES e BATISTA, 2010), apresentamos a teoria

sociométrica de Jacob Levy Moreno que buscava estudar as relações interpessoais presentes

num grupo social ou numa comunidade. Constituído o referencial teórico, faltava-nos

apresentar os resultados da aplicação do teste sociométrico realizado por ocasião da pesquisa

de iniciação científica realizada numa classe de alunos de sétima série, hoje correspondente ao

oitavo ano do ensino fundamental, de uma escola pública da cidade de Botucatu. Aqui,

completamos a apresentação do trabalho em duas seções: aplicando o teste sociométrico e

analisando os sociogramas. Esperamos que estes estudos possam inspirar mais pesquisas

1 Licenciada em Ciências Biológicas – Instituto de Biociências – UNESP – Botucatu - SP 2 Professor Assistente Doutor – Departamento de Educação – Instituto de Biociências – UNESP – Botucatu - SP

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relacionadas às relações sociais dos grupos, sempre presente embora nem sempre

devidamente consideradas.

Aplicando o teste sociométrico

O teste sociométrico foi aplicado na cidade de Botucatu, numa classe de sétima série,

da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Dom Lúcio Antunes de Souza. No

primeiro semestre, nesta sala, foi feito um estudo de observação e acompanhamento da turma

durante as aulas, para uma melhor escolha dos critérios que foram utilizados, posteriormente,

na montagem das perguntas sociométricas, aplicadas no segundo semestre.

O primeiro passo foi a observação do comportamento do grupo na sala de aula, a partir

do que foram feitas anotações sobre os alunos e seus interesses comuns.

No decorrer do ano passaram pela classe quarenta e quatro alunos, entre eles quatorze

meninas e trinta meninos. A idade média (67%) dos alunos em 01/07/2001 era de

treze/quatorze anos; o aluno mais novo tinha doze e o mais velho dezessete anos.

Notou-se, durante a observação, a dificuldade de os professores trabalharem com este

grupo-classe. Em nenhum momento o grupo demonstrou envolvimento com a aula e também

os professores não se mostraram muito envolvidos com a turma.

A presença do professor na sala de aula não alterava o comportamento do grupo, que

continuava conversando. Alguns indivíduos andavam pela sala quase todo o tempo. A

mobilização dos alunos é, em parte, provocada pelo fato de as aulas serem ministradas em

salas-ambiente o que obriga a turma a se deslocar de uma sala para outra quando há mudança

de professor. Professores e alunos dirigem-se às salas-ambiente.

O período de aula era das 13h10minhs até 17h50minhs. Nesse intervalo de tempo

eram ministradas cinco aulas.

As observações foram feitas em diferentes dias da semana e não somente num mesmo

dia toda semana, porque nem todos os professores permitiam estagiários em suas aulas.

Em nenhuma das aulas os alunos demonstraram ter, na sala, espaços fixos e pré

determinados pelo professor, mas geralmente a conformação da classe não se alterava muito

em relação aos lugares ocupados pelos alunos.

O grupo mostrou-se bastante agitado durante todo o período de observação, além

disso, o grande número de professores substitutos que foram dar aulas, parecia reforçar ainda

mais a ideia dos alunos de que a escola é lugar de paquera e amizades.

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Foram feitas anotações sobre o comportamento de cada aluno em sala e, a partir disso

pudemos perceber neles certas qualidades que são descritas a seguir:

Aluno 01- vive grudado com o aluno 24 e o 25, senta no fundo da sala, na maioria das aulas

mas vive trocando de carteira, tem mais contato com as meninas do que com meninos. Copia

a lição.

Aluno 02- extrovertido e curioso, senta-se a frente da classe, mas quando termina a lição vai

para o fundo conversar, de vez em quando não pode vir a aula pois tem que ficar em casa

ajudando sua mãe, no segundo semestre já havia abandonado a escola.

Aluno03- senta sempre no fundo, a maioria das vezes com as meninas. Está sempre falando

alto, esbravejando, cantando. Causa um pouco de medo nos colegas por ser muito alto em

comparação a eles, tem domínio sobre a classe, pois nenhum de seus colegas o desafia muito,

não parece partir para briga na realidade, fica apenas na ameaça. Ensina capoeira aos colegas

quando a professora permite. Parece ser alvo de admiração de alguns colegas.

Aluno 04- sempre conversando, mas mesmo assim faz questão de copiar a matéria passada.

Fala baixo e é discreto, não chamando muita atenção nem dando problemas aos professores

pois não se escuta sua voz. Parece ser o centro das atenções da turminha. Pareceu um aluno

aplicado, todas as aulas leva o caderno para ganhar ponto positivo. Não se dirige a professora

nenhuma apenas copia e faz lição e conversa ao mesmo tempo.

Aluno 05- fala alto, sempre se mexendo e provocando os outros, quando consegue chamar

atenção da professora não para mais de falar e contar suas estórias. Conhece todos da

turminha da bagunça, mas não parece ter intimidade com ninguém. Vive dando problemas de

disciplina por chegar atrasado, falar alto, não fazer lição.

Aluno 06- quieto, parece prestar atenção na aula, não fala muito, senta sempre na frente, copia

a matéria nem olha para trás. Senta com meninos e meninas, ora com uns ora com outros; seus

companheiros também mantêm-se calados e copiando a lição.

Aluno 07- fala muito, onde está provoca conversas e agrupamentos, conta piadas, histórias,

fala de meninas. Senta na maioria das vezes ao lado dos alunos 04, 16 e 15.

Aluno 08- sempre quieto, senta na frente da mesa do professor, não se comunica muito com o

resto da classe, apenas com os colegas de igual comportamento ao seu lado. Fala baixo, faz

toda lição, apesar de reclamar sempre do excesso de provas, lição e perguntas.

Aluno 09- esteve presente em apenas três das aulas que frequentei, não desgruda do aluno 21,

não faz lição, mas também não atrapalha a aula ficando quieto na última carteira, não

conversa muito a não ser com seu colega, o aluno 21.

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Aluno 10- forma uma dupla dinâmica com o aluno 27; está sempre levando advertência dos

professores, pois briga muito com o aluno 27. Fala normalmente, mas de vez em quando dá

cambalhotas na sala. Senta vezes no fundo vezes na frente, às vezes faz lição e às vezes não,

geralmente quando vai para frente é para copiar a matéria.

Aluno 11- está sempre no meio das conversas, mas nunca fala muito, no início copiava a

matéria e fazia lição, mas agora só conversa, fica em pé. Está sempre cercado de amigos; os

outros parecem se interessar em contar as coisas para ele e ele parece escutar. Fala baixo e

nunca grita, não enfrenta ninguém e ninguém parece sentir necessidade de enfrentá-lo ou

provocá-lo.

Aluno 12- fala alto, conversa na sala, mas ao mesmo tempo copia a matéria, forma um casal

com o aluno 03 e nos últimos tempos tem sentado junto a ele. Parece pertencer a dois

subgrupos diferentes criando um vínculo entre eles. Anda pela classe dependendo do que quer

fazer, mesmo estando no fundo copia a matéria. Para de falar quando seu companheiro pede.

Aluno 13- Não faz lição e nem para sentado, quando para, está conversando. Parece gostar de

contar as coisas íntimas dos outros e colocar os amigos à prova. Chega a apostar o que o

colega vai dizer, conversa com a maior parte dos meninos da sala.

Aluno 14- quieto sempre ao lado do aluno 10, não fala muito e nem anda muito, copia a

matéria e faz lição; parece pertencer a apenas um subgrupo, pois não muda de lugar e sempre

se mantém calado prestando atenção no que os colegas dizem.

Aluno 15- sempre quieto, sem fazer lição nem conversar, só escutando os amigos. Não quis

responder ao questionário. Nunca nenhum professor chama sua atenção, pois sua voz quase

nunca é escutada, sua presença é difícil de ser notada.

Aluno 16- copia e faz lição, mas também conversa, enfrenta o aluno 21 quando este vai

provocá-lo; enquanto faz lição ri, fala, vira para trás toda hora para falar ao aluno 04. Muda de

lugar apenas na aula de Geografia, quando senta mais a frente. É alvo de provocações de

alguns colegas.

Aluno 17- senta-se na primeira carteira, copia matéria e faz lição, conversa com os amigos ao

seu redor. Não costuma levantar-se antes do término da aula.

Aluno 18- não faz lição, e fica ouvindo música com seu amigo, o aluno 30, senta no fundo e

muda de lado conforme a aula. Não fala muito, nem fica andando pela classe. Fica sempre na

dele, com exceção de quando o aluno 21 começa a provocá-lo.

Aluno 19- sempre quieto ao lado dos alunos 08 e 32, faz lição copia a matéria, senta na frente

da sala e não olha para trás.

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Aluno 20- senta na frente da sala enquanto copia e faz lição quando termina vai para o fundo

conversar, tem muitos contatos, praticamente fala com todos os subgrupos da classe.

Aluno 21- faz lição apenas na aula de Geografia, fala muito, faz brincadeiras, ameaça os

colegas. Fica em pé e anda pela classe, parece mais solto quando seu colega 03 falta a aula,

nessas circunstâncias fala mais alto e anda a aula toda. Está sempre atrás dos alunos de sexo

oposto, faz propostas de beijos. Senta no fundo e está sempre com algum objeto fazendo

barulho.

Aluno 22- estudioso, senta na primeira carteira durante a aula, quando acaba a lição vai para o

fundo da sala conversar, ou o aluno 12 vai até ele.

Aluno 23- aluno quieto que faz lição, parece não pertencer a nenhuma turma pois está na

maioria das vezes sozinho apesar de conversar com praticamente todos os colegas, as vezes

entra e sai da sala de aula sem falar nada, está sempre de banho tomado e arrumado. Negou-se

a responder o questionário sociométrico.

Aluno 24- não para quieto, mas copia a matéria que é pedida. Faz lição. Conversa muito e

senta-se no fundo da sala de aula. Está sempre com os alunos: 25, 03 e 01. Emite muitas

opiniões.

Aluno 25- sempre sendo chamado pelos colegas parece ser o cupido da classe, senta as vezes

na frente e as vezes no fundo , copia a matéria e faz lição. Quando está na ausência do aluno

24 mostra-se mais quieto e menos falante. Passa mais tempo sentado. Mesmo assim conversa

normalmente com outros colegas, mas sem atrapalhar a aula.

Aluno 26- faz lição e copia, ficou preocupado com quem veria o questionário. Conversa

bastante e anda pela classe indo da frente para o fundo e vice versa. Os seus amigos parecem

não ter muita paciência com ele pois sempre estão brigando.

Aluno 27- faz lição quando interessa a ele, ou quando senta na frente, mesmo assim não para

quieto e sempre desafia os professores, desobedece a maioria das ordens e está sempre ao lado

de aluno 11, mesmo que brigando. Anda bastante pela classe, joga coisas, quebra carteiras,

fala alto, tenta de toda maneira chamar atenção.

Aluno 28- faz lição as vezes, mas sempre ouvindo música, fica quieto sem muitas conversas

os colegas ficam chamando-o de padeiro e perguntam se ele ainda está vendendo rosca.

Parece não pertencer a nenhum subgrupo na classe, mas tem contato com todos.

Aluno 29- senta-se na frente, no início não copiava a matéria e respondia para os professores,

mas logo mudou de atitude, ficou muito preocupado no dia da aplicação do teste sociométrico

e perguntou quem leria suas respostas. Conversava mais no início do ano.

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Aluno 30- não faz lição, fala baixo e ouve música a aula toda. Falam que ele quer ser

roqueiro, e imita garotos de outra classe, sempre conversando com meninas e sempre grudado

no aluno 18. Senta cada vez num lugar e muda conforme seus interesses. Sempre falando do

sexo oposto.

Aluno 31- foi citado pelos colegas nos sociogramas, embora não tenhamos tido oportunidade

de vê-lo em classe. Deve ser aluno de outra sala.

Aluno 32- senta na frente só fala com seus vizinhos de carteira e com os alunos 16 e 04, faz

toda lição e fala muito baixinho, parece ter vergonha de chamar atenção dos colegas, nem

para trás olha, entrou no grupo no segundo semestre, antes sentava ao lado do aluno 04,

depois mudou para frente e sentou-se ao lado do aluno 08.

Aluno 33- escuta estórias de todos os colegas, não faz lição e faz intercâmbio entre os

subgrupos da classe. Fala baixo e está sempre mudando de lugar, pois senta no meio da sala,

mas sempre é requisitado pelos colegas no fundo.

Aluno 34- Foi citado apenas pelo aluno 09, mas não faz parte desta turma.

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31 Rev. Simbio-Logias, V. 8, n. 11, Dez/2015.

A disposição dos alunos na sala era constantemente a seguinte:

Onde:

Portas, dependendo da sala, em um ou outro lugar;

Janelas, sempre neste lado;

Lousa

Observação: os números 31 e 34 não foram vistos em sala.

20

10

14

13

27

28

24

30

11 05

12

26

22

23

06

29

17

02

25

18

33

16

32

07 15

04

08

professor

01

03

21 09

19

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Após algum tempo de observação, os critérios escolhidos para formulação das

perguntas sociométricas foram os seguintes: grupo de trabalho escolar, conversa em sala de

aula, jogo na escola, conversa de assuntos pessoais, grupo de passeio.

As perguntas sociométricas formuladas foram cinco, uma relativa a cada critério de

escolha e respeitando a maturidade do grupo a ser estudado. Todas as questões evocavam

apenas escolhas positivas, o que resultou em somente correntes de atração, para cada

pergunta. Os alunos deveriam indicar suas escolhas por ordem de preferência, ou seja,

deveriam, para cada questão, escolher com quem realizariam a tarefa, indicando a primeira, a

segunda e a terceira opção.

As perguntas foram as seguintes:

1) Você precisa fazer um trabalho escolar em grupo. Cite por ordem de preferência os

colegas da classe que você escolheria para trabalhar com você:

2) professor faltou e os alunos podem ficar conversando livremente. Com quem da classe

você gostaria de ficar conversando? Cite por ordem de preferência.

3) Vai haver um jogo na escola, quem da classe você escolheria para o seu time? Cite por

ordem de preferência.

4) Você está com um problema e gostaria de conversar com alguém. Quem da classe você

escolheria para contar seu problema? Cite por ordem de preferência.

5) Você quer sair para passear e não quer ir sozinho. Quem da classe você escolheria para ir

a esse passeio com você? Cite por ordem de preferência.

Depois de cada pergunta, foi pedido que justificassem suas escolhas para que

pudéssemos saber as motivações que os levavam a escolher tal ou tal companheiro.

As perguntas foram aplicadas no segundo semestre, durante a segunda aula de uma

segunda-feira. Antes de entregar a folha de perguntas, foi explicado aos alunos o por quê e a

função deste teste, e foi pedida a colaboração do grupo. O grupo não ficou satisfeito apenas

com a explicação sobre a importância do trabalho a ser feito, pois já haviam respondido um

questionário para uma graduanda da UNESP de Botucatu que, para conseguir uma boa adesão

do grupo, ofereceu-lhes, como prêmio imediato, um saquinho de doces. Obviamente, quando

chegou a nossa vez tivemos de lhes prometer também alguma recompensa para que

respondessem as questões que propúnhamos. No dia da entrega dos doces, alguns alunos que

não haviam respondido o questionário por estarem ausentes no dia de sua aplicação, fizeram

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questão de respondê-lo, nem é preciso dizer que o motivo desta vontade súbita de cooperar

era o doce.

Alguns alunos após a explicação sentiram medo e insegurança em realizar a tarefa

porque este tipo de teste deixa as pessoas inquietas quanto a sua posição no grupo, pois,

segundo J. L. Moreno geralmente a posição que o grupo atribui ao sujeito é diferente da que

ele pretendia ocupar.

Foi dito aos alunos que não se preocupassem, pois ninguém do grupo classe saberia

quem escolheu quem, pois, com isso teriam maior liberdade na escolha dos parceiros.

Após a aplicação dos questionários sociométricos, continuamos as observações

durante um período para constatar se as relações existentes mudavam e para tirarmos algumas

dúvidas sobre as respostas dos alunos, pois erramos ao não especificar que os nomes dos

colegas deveriam ser escritos por extenso já que havia primeiros nomes iguais e também um

aluno identificado apenas pelo apelido.

Com os testes aplicados, iniciamos a análise dos dados encontrados. 29 alunos

realizaram o teste. Havia cinco perguntas com três escolhas possíveis, o que resulta na

seguinte sentença matemática: 29 x 5 x 3, o que resulta 435 possibilidades de resposta. Dessas

435 possibilidades, apenas 338 foram preenchidas, embora houvesse respostas com mais de

três colegas e outras com menos de três. Isso indica, segundo Moreno, que o grau de interesse

emocional da classe é limitado, pois foram permitidas mais escolhas do que as feitas pelo

grupo.

Primeiramente foram feitas matrizes na quais foram colocadas as primeiras, segundas

e terceiras escolhas. Posteriormente foi montado um sociograma para cada escolha de cada

pergunta, tudo para facilitar a montagem dos cinco sociogramas finais.

Em seguida foram montados os sociogramas finais, um correspondente a cada

pergunta sociométrica aplicada, com eles podemos visualizar as relações interpessoais de

atração estabelecidas no grupo. Este último passo da tabulação dos dados sociométricos é que

será por nós estudado e analisado.

Analisando os sociogramas

Nos sociogramas do grupo por nós montados, foram consideradas apenas correntes de

atração, pois durante o desenvolvimento das perguntas sociométricas, achamos melhor não

fazer evocar escolhas negativas, para não causar curiosidades e/ou conflitos entre os alunos.

Portanto, nosso sociograma considera apenas um dos enfoques dados por Moreno, pois

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focaliza apenas as atrações, esquecendo os sentimentos de indiferença e repulsa que possam

existir no grupo.

Além das análises dos cinco sociogramas, realizamos uma análise final, que leva em

conta todos os sociogramas e relaciona as estruturas neles notadas, além de verificar se as

estruturas apontadas no teste sociométrico está condizente com as observações que fizemos

do comportamento dos alunos em sala de aula.

Ao analisar as escolhas separadamente, podemos notar que as primeiras e segundas

escolhas concentram-se no mesmo subgrupo de indivíduos, enquanto as terceiras escolhas

geralmente acontecem entre pessoas de subgrupos diferentes.

O que é importante visualizar, nos sociogramas que representam a primeira, a segunda

e a terceria escolhas é o número de indivíduos isolados e o número de escolhas mútuas, pois

eles podem indicar um alto ou baixo padrão de integração do grupo.

Além das legendas e códigos descritos a seguir, optamos por colocar os participantes

do teste em ordem alfabética e, a seguir, os denominamos aluno 01, aluno 02, até o último da

lista, para manter o anonimato dos alunos envolvidos. Assim, nos círculos e triângulos, vai

aparecer apenas o número de ordem desta lista.

Convém ainda observar que seguiremos a seguinte ordem de colocação e análise dos

sociogramas, indo do primeiro ao quinto:

• Apresentaremos os sociogramas da primeira, segunda e terceira escolhas;

• Faremos a análise dessas escolhas;

• Apresentaremos o sociograma com as três escolhas;

• Faremos a análise desse sociograma.

Após essas análises, apresentamos um quadro das motivações que levaram os alunos a

escolher seus parceiros de tarefa.

Legendas e códigos utilizados

Menina

Menino

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35 Rev. Simbio-Logias, V. 8, n. 11, Dez/2015.

Primeira escolha

Primeira escolha mútua

Segunda escolha

Segunda escolha mútua

Terceira escolha

Terceira escolha mútua

Pares - formados por indivíduos que se atraem mutuamente.

Corrente de atração – é o encadeamento de atrações mútuas.

Triângulo – atrações correspondidas entre três indivíduos.

Quadrado de atração - dois pares que atraem-se entre si.

Isolado – indivíduo que não escolhe nem é escolhido, ou ainda é escolhido mas não

faz escolha alguma.

Par isolado – indivíduos que atraem-se mutuamente mas não recebem nenhuma outra

linha de atração.

Estrela de atração – indivíduos que recebem cinco ou mais linhas de atração.

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37 Rev. Simbio-Logias, V. 8, n. 11, Dez/2015.

Apresentados os diagramas relativos às escolhas efetuadas pelos alunos, passamos à análise do sociograma 1. Análise do sociograma 1 Questão 1 – Você precisa fazer um trabalho escolar em grupo. Cite por ordem de preferência os colegas que você escolheria para trabalhar com você:

Primeira escolha

Estruturas presentes: 3 pares sendo1 par isolado, 6 indivíduos isolados (4 meninos e

2 meninas). Formação de três subgrupos: um misto (01, 02, 24, 25, 04, 11, 27, 07, 05), um

com maioria de meninos (11, 13, 14, 04, 16, 32, 24, 28) e outro com maioria de meninas (25,

12, 20, 06, 17, 29, 21). As escolhas inter-sexuais foram 5, apenas uma delas partiu de menina

(24) e as outras de meninos (07, 21, 04, 28).

Segunda escolha

Estruturas presentes: 1 par de meninas, 6 isolados. (4 meninos e 2 meninas).

Formação de três subgrupos: um de meninos (13, 14, 30, 18), dois mistos, um com maioria de

meninas (29, 22, 06, 17, 12, 03, 27, 11) e outro com maioria de meninos (28, 32, 08, 16, 10,

Fernandes e Batista. Interação Social de Adolescentes...

38 Rev. Simbio-Logias, V. 8, n. 11, Dez/2015.

30, 07, 04, 05, 21, 20, 26, 25, 24, 01). As escolhas inter-sexuais foram 5 duas partiram de

meninas (20 e 26) e três de meninos (07, 03, 21).

Terceira escolha:

Estruturas presentes: 9 isolados ( 6 meninos e 3 meninas). Formação de quatro

subgrupos: dois de meninos: (27, 11, 30,28), (05, 33, 10, 14, 18, 13). Dois grupos mistos: (12,

26, 20, 19, 04, 15, 16, 32, 19, 08, 22) e (02, 25, 01., 06, 24, 03, 07). As escolhas inter-sexuais

foram 4, duas partiram de meninos (03 e 07) e duas de meninas (22 e 20).

Motivações citadas pelos alunos na primeira pergunta. critério—trabalhar com você

MOTIVAÇÕES VEZES EM QUE FOI CITADA

São os únicos que conhece 1 Fazem lição e ajudam 2 São legais 7 São amigas 5 Fazem a lição certo e são sinceras 1 São comportados em sala 1 “Me dou bem com eles” 1 Melhores amigas 6 São inteligentes 3 Porque é melhor 2 São competentes 1 São legais comigo 1 Prestam atenção na aula 1 Não dão mancada 1

Fernandes e Batista. Interação Social de Adolescentes...

39 Rev. Simbio-Logias, V. 8, n. 11, Dez/2015.

Sociograma 1 – incluindo as três escolhas

Estruturas presentes:

Pares – 4 pares, somente um de meninas.

04 e 16, 30 e 18, 19 e 08 , 24 e 01.

Triângulos - 1 de meninas: 24, 01., 25.

Isolados – 5 sendo 2 meninas e 3 meninos. Apenas o aluno 23 não foi escolhido e nem

escolheu, 34, 15, 17 e 02, foram escolhidos mais não fizeram escolhas sendo que destes

apenas o aluno 15 estava presente no dia da aplicação do teste.

Análise: Nota-se apenas uma estrutura complexa, formada por meninas, além disso

poucas escolhas mútuas (recíprocas) ocorreram e a maioria delas entre meninos, isto pode

significar que os meninos estão com o tele mais desenvolvido que as meninas. Em muitos

casos o sentimento de atraçào não é correspondido, podemos supor então que este pode não

ser reconhecido ou ser rejeitado. Não foram muitos os indivíduos isolados pois apenas um

deles estava presente no teste, provavelmente esse número seria menor se outros estivessem

presentes.

Fernandes e Batista. Interação Social de Adolescentes...

40 Rev. Simbio-Logias, V. 8, n. 11, Dez/2015.

As escolhas inter-sexuais foram em número de 13, partiram em sua maioria de

meninos sendo que três deles escolheram nas três escolhas a meninas, o que nos leva a pensar

que o interesse sexual é maior do lado masculino nesta idade ou então que essas meninas são

consideradas boas alunas, geralmente elas costumam fazer a lição no lugar deles.

Validade das escolhas: Segundo Moreno, quanto maior o tempo dispendido na

realidade, a pessoa escolhida mais válida é essa escolha; durante as observações pudemos

notar que as primeiras escolhas são realmente as mais constantemente abordadas pelo

indivíduo, com exceção de algumas que são baseadas nas qualidades do indivíduo relativas ao

critério e não a amizades e proximidade.

Passemos à apresentação dos diagramas relativos ao sociograma 2

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Sociograma 2

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Questão 2 – O professor faltou e os alunos podem ficar conversando livremente. Com

quem da classe você gostaria de ficar conversando? Cite por ordem de preferência.

Primeira escolha:

Estruturas encontradas: 3 pares, sendo dois de meninos (19 e 08, 18 e 30) e um de

meninas (24 e 01), 8 indivíduos isolados: 5 meninos (09, 34, 23, 15, 31) e 3 meninas (17, 26,

02). foram feitas 2 escolhas intersexuais por meninos (21, 03). O grupo dividiu-se em quatro

subgrupos, dois somente de meninos: (32, 04, 07, 05, 33, 31) e (30, 18, 14, 10, 13). Um de

meninas: 29, 20, 17, 06, 12, 22. Um misto: 21, 24, 01, 25, 03, 11, 27.

Segunda escolha:

Estruturas encontradas: 2 pares de meninos (08 e 32, 16 e 07), 6 indivíduos isolados

(17, 29, 02., 34, 31, 23). Formação de uma rede de ligações sem divisões visíveis.

Terceira escolha:

Estruturas encontradas: 1 par isolado de meninos (14 e 13), 11 indivíduos isolados:

3 meninas (17, 29, 02) e 7 meninos (18, 15, 31, 08, 34, 30, 21, 23). Formaram-se três

subgrupos, dois só de meninos (32, 16, 15, 07, 04) e (05, 33, 18), um misto (06, 26, 20, 12,

24, 25, 01., 22, 03, 27, 30, 10 e 19). As escolhas inter-sexuais foram três, duas partiram de

meninos (19, 28) e uma de menina (25).

Motivações citadas pelos alunos na segunda pergunta. critério — conversar na ausência

do professor

MOTIVAÇÕES VEZES EM QUE FOI CITADA São os únicos que conhece 1 Porque é gostoso conversar com elas 1 São legais 10 Não faz bagunça na sala 1 Meus amigos 4 Jogam truco 2 Adoro elas 1 Não falam só besteiras 1 São bons elementos para mim 1 Não são sem educação 1 Porque sim 1 Melhores amigos 1 Entendem o que falo 1 São bons amigos 1

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Apresentamos a seguir o diagrama do sociograma 2 que contempla as três escolhas efetuadas.

Sociograma 2 – incluindo as três escolhas.

Estruturas encontradas: 6 pares, cinco deles formados por meninos, 5 estrelas de

atração, destas quatro são meninas e duas delas formam um par, 6 isolados sendo duas

meninas (02 e 17) e quatro meninos (34, 31, 23, 15). As escolhas inter-sexuais foram 8: 3

feitas por meninas (24, 25, 01), tendo com alvo um mesmo menino (03) este escolhe também

a aluna 01, as outras escolhas foram feitas por meninos (19, 28, 21).

Análise: pela primeira vez aparece uma estrutura complexa, um triângulo formado por

meninos (19, 08 e 32), esses três são meninos quietos e sentam-se nas primeiras carteiras em

todas as aulas. Das quatro estrelas, apenas uma é menino e este é alvo de escolha de outras

duas estrelas.

Percebe-se nitidamente a divisão do grupo em quatro subgrupos, sendo dois de

meninas e dois de meninos. As escolhas intersexuais são poucas partindo sempre das mesmas

pessoas.

Considerando que os alunos encontram-se, segundo moreno numa fase de

relacionamentos intersexuais, aos 14 anos em média, pode-se dizer que esta está em estágio

inicial.

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Validade das escolhas: o tempo que os indivíduos passam junto aos seus escolhidos é

real, nenhuma das escolhas parece ser diferente do esperado pela observação, pois todos os

indivíduos e seus escolhidos passam algum tempo juntos na classe.

Passemos aos diagramas da questão 3:

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Sociograma 3

Questão 3 – Vai haver um jogo na escola, quem da classe você escolheria para o seu

time? Cite por ordem de preferência:

Primeira escolha:

Estruturas presentes: 3 pares sendo dois de meninos (03 e 21, 10 e 09) e um de

meninas (24 e 01), 10 isolados (26, 29, 17, 02, 15, 30, 31, 34, 23, 08). O aluno 30 justificou

não ter feito suas escolhas dizendo que não gosta de jogos.

Segunda escolha:

Estruturas presentes: 2 pares (21 e 09, 24 e 25), 10 isolados (02, 17, 29, 15, 30, 27,

34, 23, 08, 31) .

Terceira escolha:

Estruturas presentes: 10 isolados (02, 17, 29, 15, 30, 21, 23, 08, 31, 34). Duas

escolhas intersexuais feitas por meninas (25 e 24) tendo como alvo um mesmo menino (03).

Motivações citadas pelos alunos na terceira pergunta. critério—fazer parte do seu time

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MOTIVAÇÕES VEZES EM QUE FOI CITADA

Jogam muito bem 13 São super legais 5 Meus amigos 1 Porque sim 2 São os únicos que conheço 1 Melhores amigas 3 Educados 1 Melhores jogadoras 1 Melhores da classe 4 Não respondeu 1 Não gosta de jogo 1

Apresentamos a seguir o diagrama que representa as três escolhas:

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Sociograma 3 – as três escolhas incluídas

Estruturas presentes: 5 pares, três de meninos (03 e 21, 21 e 09, 09 e 10) e dois de

meninas (01. e 24, 24 e 25), 2 correntes, uma formada pelos quatro meninos dos pares e uma

pelas três meninas, 7 isolados (02., 17, 15, 30, 34, 23, 08). Cinco estrelas masculinas (03, 09,

18, 10 e 33). Formação de dois subgrupos, um inclui todas as meninas e outro todos os

meninos.

Análise: nesse caso as escolhas foram feitas conforme as qualidades que cada aluno

apresenta ao jogar algum jogo, foram mencionados jogos de futebol, no caso dos meninos,

formaram-se estruturas complexas como uma corrente de meninos e um triângulo de meninas.

A partir do critério, escolher um time, o grupo dividiu-se automaticamente em dois

grandes subgrupos unissexuais, sendo que as únicas escolhas intersexuais partiram, na terceira

escolha, de duas meninas, tendo como alvo um único menino.

No caso do grupo masculino, nota-se que este se modificou bastante e que as

motivações mais citadas foram jogar bem.

Validade das escolhas: não foi verificada a validade das escolhas em relação a este

critério pois nenhuma atividade como um jogo foi acompanhada.

Agora apresentamos os diagramas que representam o sociograma relativo à quarta questão.

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Sociograma 4

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Questào 4 – Você está com um problema e gostaria de conversar com alguém. Quem da

classe você escolheria para contar seu problema? Cite por ordem de preferência.

Primeira escolha;

Estruturas encontradas: 4 pares, um de meninas (01. e 24) e três de meninos (04 e

16, 30 e 18, 27 e 11, sendo os dois últimos isolados), 15 indivíduos isolados (22, 20, 34, 23,

17, 29, 33, 28, 02., 15, 14, 08, 31, 06, 10). Foram feitas 3 escolhas intersexuais, todas partindo

de meninos (05, 03 e 21).

segunda escolha:

Estruturas observadas: 20 indivíduos isolados, quatro escolhas intersexuais, sendo

que uma delas foi feita por menina (24), as outras por meninos (07, 05, 03).

Terceira escolha:

Estruturas observadas: 23 indivíduos isolados. Quatro escolhas entre sexos, três de

meninos (03, 07, 08) e uma de menina (25).

Motivações citadas pelos alunos na quarta pergunta. critério— contar um problema

MOTIVAÇÕES PARA ESCOLHA VEZES EM QUE FOI CITADA Melhores amigas 2 São compreensivas 1 Guardam segredo 6 São de confiança 5 São meus amigos 1 Entendem os sentimentos das pessoas 1 Porque sim 1 Amigas de verdade 1 Me ajudam 1 Adoro elas 1 Sei lá 1 Porque são os únicos que conheço 1

MOTIVAÇÕES PARA NÃO CONTAR O PROBLEMA VEZES EM QUE FOI CITADA

Ninguém é de confiança 3 Contam para todo mundo 1 A escola é lugar de estudar, deixa os problemas em casa 1 São fofoqueiros 1

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Não gostaria dde falar com ninguém 3 A seguir apresentamos o diagrama que representa o conjunto das escolhas da questão 4:

Sociograma 4 – incluindo as três ecolhas

Estruturas encontradas: 4 pares na primeira escolha, três formados por meninos: 04

e 16, 18 e 30, 27 e 11, e um formado por meninas: 24 e 01. O número de indivíduos isolados é

igual a 15 , destes 6 são meninas (17, 22, 20, 02 e 06) e 9 são meninos (23, 28, 33, 08, 32, 31,

34, 1). Formaram-se ainda 3 estrelas de atração (24, 01 e 25), todas femininas, dessas, duas

escolheram-se reciprocamente na primeira escolha. As estruturas complexas formadas foram

2 triângulos um deles formado pelas estrelas de atração, e outro formado pelas estrelas 24 e

25, mais um menino (03).

Análise: os quatro pares formam-se na primeira escolha, o que nos diz que Moreno

pode estar certo quando fala que quanto mais próximas as pessoas estão, maior a chance de

escolherem-se. Os triângulos, que são estruturas complexas são formados dentro do mesmo

subgrupo, subgrupo este que também contém as três meninas consideradas estrelas de atração.

Esse subgrupo misto, pode ser considerado dominante na sala de aula pelas atitudes que

observamos durante o início do trabalho com classe As escolhas inter-sexuais foram dez

Fernandes e Batista. Interação Social de Adolescentes...

51 Rev. Simbio-Logias, V. 8, n. 11, Dez/2015.

partindo de meninas e meninos pertencentes ao grupo misto, o aluno 03 foi alvo de duas

dessas escolhas e fez três delas, cada um dos alunos 24 e 25, foram alvos de três dessas

escolhas e fizeram cada um deles apenas uma escolha entre sexos.

Nota-se nitidamente a divisão do grupo classe em dois, um grupo de meninos e um

misto, a estrutura demonstrada no sociograma pelo grupo de meninos é menos complexa do

que a demonstrada pelo grupo misto.

As motivações que levaram alunos a não escolherem nenhum dos colegas podem ter

base na estrutura demonstrada pelo grupo, pois foram poucas as escolhas recíprocas e na

maioria das escolhas o escolhido preferiu a uma terceira pessoa, o que deve causar as fofocas,

e a falta de confiança estabelecida no grupo.

Validade das escolhas: de todos os critérios, foi este o qual fez com que as escolhas

fossem mais válidas, pois é com os escolhidos nessa quarta questão que os indivíduos passam

maior tempo durante a aula, no caso dos pares essa escolha é ainda mais forte, pois

geralmente essas pessoas não se separam por muito tempo e sentam-se sempre ao lado uma da

outra.

Analisamos, a seguir, o sociograma 5:

Fernandes e Batista. Interação Social de Adolescentes...

52 Rev. Simbio-Logias, V. 8, n. 11, Dez/2015.

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53 Rev. Simbio-Logias, V. 8, n. 11, Dez/2015.

Sociograma 5

Questão 5 – você quer sair para passear e não quer ir sozinho. Quem da classe você

escolheria para ir a esse passeio com você? Cite por ordem de preferência.

Primeira escolha:

Estruturas encontradas: 3 pares, dois deles formados por meninas (alunas 10 e 20, e alunas

24 e 01) e outro formado por meninos ( alunos 10 e 14).são observados 12 indivíduos isolados

destes, oito meninos (34, 08, 04, 33, 18, 13, 27 e 23) e quatro meninas (17, 02, 25 e 29).

Observa-se apenas uma estrela de atração, uma menina (20), percebe-se um foco de

interesse em torno desta aluna.

Foram feitas 7 escolhas entre sexos e todas elas partiram de meninos (05, 07, 21, 28,

16, 04 e 03). Essas escolhas tiveram como alvo três meninas: 20, 01e 12. Segunda escolha:

Estruturas encontradas: 1 par formado por meninas (25 e 01), 14 isolados, destes apenas

três são meninas (17, 06 e 29) e os outros meninos (21, 34, 09, 19, 08, 18, 30, 13, 15, 23 e 11)

1 estrela de atração, alvo de três escolhas masculinas. As escolhas entre sexos foram oito, sete

destas efetuadas por meninos (07, 33, 03, 05, 28, 16 e 04) e uma por menina (24). Terceira escolha:

Estruturas encontradas: não houve nenhum par, nem estrelas, apenas indivíduos que

escolhem sem obter reciprocidade. Os isolados foram 14, três meninas (17, 22 e 02) e doze

meninos (21, 34, 08, 04, 18, 30, 13, 15, 23, 11 e 07). As escolhas entre sexos foram 7, 6

partiram de meninos (03, 10, 16, 28, 33 e 05) e uma partiu da menina 01.

Motivações citadas pelos alunos na quinta pergunta. critério—passear com colegas

MOTIVAÇÕES VEZES EM QUE FOI CITADA

São legais 5 Sinceros 2 Não são bagunceiros 1 São as que sempre saio 1 Gostam de sair 1 Únicos que conheço 1

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São meus colegas 1 São bonitas 2 Adoro elas 1 Porque sim 1 Porque não vão dar problema 1 Porque são muito bons 1 Porque gosto delas 3 São meus camaradas 1 Porque ela é muito 1 São “loucos” 1 São meus amigos 2 São simpáticas 1 Elas me entendem 1 Para o passeio ficar legal 1 Porque eu quero 1 Não responderam 5

Segue o diagrama que reúne as três escolhas do sociograma 5:

Sociograma 5 – incluindo as três escolhas

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Estruturas encontradas: 4 pares, três deles constituídos por meninas (20 e 12, 24 e 01, 01 e

25), 5 estrelas, todas elas do sexo feminino (20, 25, 24, 12 e 01), 8 indivíduos isolados, três

meninas (17, 26 e 29) e cinco meninos (34, 18, 13, 15 e 23).

Foi formada uma corrente de meninas, incluindo dois dos pares formados por elas (24,

01 e 25).

Análise: encontram-se uma estrutura complexa, uma corrente, talvez essa escassez de

estruturas complexas seja causada pela inconstante presença dos alunos na sala de aula ou

então da pouca interação fora da sala de aula, já que a tarefa proposta foi passear. O interesse

inter-sexual foi maior , pois a questão referiu-se a um passeio, e muito meninos pelo visto

desejam passear com algumas das meninas da sala, o que fez com que todas as estrelas fossem

meninas, já que foram alvo tanto de escolhas masculinas quanto femininas.

Nota-se que as escolhas inter-sexuais neste sociograma partem, na maioria das vezes,

dos mesmos indivíduos.

Validade das escolhas: como já dissemos anteriormente, quanto mais próximo e quanto

maior o tempo que o escolhido realmente passa com quem o escolheu, mais verdadeira é essa

escolha. No caso, notamos pelas observações que as escolhas heterossexuais são desejos não

realizados, pois pelo que pudemos observar em sala de aula, os contatos desejados

demonstrados no sociograma cinco, em muitos casos, não acontecem.

Considerações finais

Em geral a turma mostrou-se pouco motivada para responder às perguntas sobre a

razão de suas escolhas. As escolhas intersexuais foram poucas em relação ao discurso

corrente que diz que aos adolescentes a escola só interessa para paquerar.

Podemos dizer que esta turma em particular possui muitas pessoas isoladas, mas não

podemos fazer um diagnóstico completo pois aqui estudamos apenas as corrente de atração, o

que consideramos um limite, em relação à totalidade da teoria que estudamos. Embora

reconhecendo que este trabalho poderia ter sido enriquecido com a apresentação das correntes

de repulsa e indiferença, consideramos muito difícil lidar com os sentimentos de rejeição, uma

vez que não temos formação profissional na área de Psicologia.

O grupo de adolescentes estudado mostrou ter pouca concisão, pelo baixo índice de

pares e o alto número de indivíduos isolados na maioria dos sociogramas, o que, ao nosso ver,

é normal, pois a adolescência é uma época de mudanças; e muitas mudanças nas escolhas

também fazem parte desse período do desenvolvimento humano e social.

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Essa pareceu-nos uma turma atípica, já que o número de meninos era muito maior que

o de meninas, o que poderia gerar um desequilíbrio na expansividade emocional e nas

correntes de atração. Talvez esteja aqui o motivo de essa sala ser muito irrequieta e, por sua

indisciplina, ser considerada a pior turma das sétimas séries.

Ao mesmo tempo, as meninas são, na maioria das vezes, as estrelas, as líderes do

grupo, o que pode ser notado pelas representações sociométricas e que foi confirmado pelas

observações que realizamos em sala de aula.

Consideramos, finalmente, que os sociogramas poderiam funcionar como instrumentos

eficazes de conhecimento da sociabilidade do grupo, de seus interesses e motivações em

relação às escolhas de seus companheiros de grupo. Isto poderia favorecer a compreensão dos

professores quanto à organização de atividades a serem desenvolvidas em grupo, além de

apontar as lideranças do grupo que, se colocadas numa boa interação com os profissionais da

escola, poderiam auxiliar na consecução dos objetivos de ensino e aprendizagem da

instituição.

Referências

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GOFFMAN, E. A representação do eu na vida cotidiana. Tradução de Maria Cecília dos Santos Raposo. 5 ed. Petrópolis: Vozes, 1992.

GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da Identidade Deteriorada. Tradução de Márcia Bandeira de Mello Leite Nunes. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1988.

MORENO, J. L. Psicoterapia de grupo e Psicodrama. Tradução de José Carlos Vitor Gomes. 3 ed. revisada. Campinas, SP: Livro Pleno, 1999.

MORENO, J. L. Quem sobreviverá? Fundamentos da Sociometria, Psicoterapia de grupo, e

Sociodrama. Tradução de Denise Lopes Rodrigues e Márcia Amaral Kafuri. Goiânia, GO: Dimensão, 1994.

SILVA, T. T. (Org.) Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

SOCIAL INTERACTION OF TEENAGER STUDENTS IN CLASSROOM: RESULTS OF A SOCIOMETRIC ANALYSIS

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Abstract The study of social interactions of children, teenagers and young adults in the classroom can favour understanding of the organizing dynamics of groups. Such an understanding contributes not only to more conscious directions for the process of teaching and learning, but also to improve human relations according to individual motivations. Acknowledging J. L. Moreno’s theory can be a first step towards the study of social groups formed in the classroom, focusing on sub-groups formed by the interactions of the individuals. Moreno showed how each individual relates to his/her pairs based on laws of attraction and repulsion. Education professionals can better execute their work when paying attention to how each student relates with each other, using this knowledge about social rules to improve social relations in the group of students leading to a better performance in school. This text, complementing the previously published by this journal aims to present the sociometric analysis conducted in a scientific initiation research work that took place in a primary school class. The results presented here are intended to show the application of sociometric testing and analysis, given its importance to the field of education, especially the use of this important instrument for social diagnosis, revealing the guidelines of social interaction of the existing groups in the classroom. Key-words: Social Interaction; Social Groups; Sociometrics Test.