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O Misticismo, de maneira geral e na Maçonaria, em particular, mostra íntima relação com a Metafísica, com a Mitologia, com a Teologia, com a Teosofia, com a Religião e com a Astrologia.

Nesta obra, o autor pretende trazer os elementos místicos e suas origens que contribuíram para a fundamentação das bases da Maçonaria Moderna. Através de uma leitura das civilizações da Antiguidade, procura apresentar os fundamentos místicos dos povos e culturas que influenciariam a formação das bases filosóficas da Maçonaria mundial.

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TODASASBOASMÁXIMASSEENCONTRAMNOMUNDO:SÓFALHAMOSAOAPLICÁ-LAS.BLAISEPASCAL

I

CONSIDERAÇÕESGERAISSOBREOMISTICISMO

ApalavraMisticismo,comomistério,temosignificadodealgoquesepercebeprofundamente,noíntimo,noâmagodoser,masquenãopodeserrevelado,oudequenãosepodefalar.Elatemorigemnogrego,“myo”,quesignifica“fecharaboca”.

OmisticismorepresentaumatendênciaàbuscadoAbsoluto,comoqual omístico pretende fazer a fusão total, unindo-se a ele,moralmente,através dos símbolos e alegorias. Ele nasce do esforço que faz o homem,para absorver e assimilar a realidade absoluta, oudivina, a qual está emíntima relação com as coisas do Universo. É, portanto, na realidade, umconjunto de ações e de disposições, cuja finalidade é a comunhão com adivindade, considerada comooespírito criador, animadore reguladordetudooqueexiste.

Para atingir essa finalidade, é criado um complexo sistemaespeculativo, que procura compreender os atributos divinos, buscando auniãoíntimacomocriadoreaconcretizaçãodoUmAbsoluto,oudoEnteÚnico,supremoeonipotente.

Opensamentomísticonãosegueaexatidãocientífica,comandadapelaevidênciadosfatos,pelaclarezaepelapossibilidadededemonstraçãototal;bemaocontrário,eleénebuloso,completamenteespeculativoeagenoterrenodoincompreensível,oquefezcomquealgunspesquisadoresocomparassem ao instinto dos animais. Como este, ele é muito intenso,sempre obstinado e, na maioria das vezes, pouco racional em seumecanismoíntimo,oqueolevaaseutilizarossímbolos,dasalegorias,dascomparaçõesedasimagensliterárias,poistudooqueseencontraforadarealidade concreta e palpável do Homem, só pode ser exprimido edifundidoatravésdosimbolismo.

As religiões, desde a mais remota Antiguidade, sempre foramintimamenteligadasaomisticismo.Paraelas,eleconsiste,basicamente,em

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experimentar,napartepuramenteespiritualdaalma,apresençaeaaçãoreguladoradadivindade.Nas religiões contemporâneas, omístico temosconhecimentospraticamenteexperimentaisdeDeus,quedeixadeserumobjeto,parase transformaremumaexperiência.As religiões,demaneirageral,sempreprocuraramincentivareincrementaroimpulsomístico,pormeio de práticas predisponentes a um êxtase total, de profundo impactopsicológico;entreessaspráticasestãoaabstinência,ojejum,acastidade,aautoflagelação. Deprimindo as manifestações de atividade física, essaspráticas teriamacapacidadede libertaramente, tornando-areceptivaàsespeculações relativasàdivindadee criandoum“estadodegraça”,oudeexperiênciamística,nemsemprereal,massempredegrandeefeitosobreopsiquismodoHomem.

Nãodeve,omisticismo,serconfundidocomesoterismo.NaGréciaarcaica, o vocábulo designava a doutrina ensinada aosMistos – iniciadosnos Mistérios de Eleusis, culto da deusa Deméter, ou a Ceres romana –pelos hierofantes, sendo o oposto do exoterismo. Os dois termos,esoterismoeexoterismo, todavia,não tinhamprimordialmente,o sentidode ensinamento iniciático cerimonial, mas designavam, sim, a obra dosgrandes filósofos: algumas delas tornaram-se reservadas, formando ostratadosesotéricos,ouseja,destinadossomenteaosadeptos,enquantoqueoutras,aocontrário,eramdestinadasaopúblico,daíasuadenominaçãodeexotéricos.Assim, entende-sepor esoterismoa antigadenominaçãodadaaoestudodosMistérios,guardadoscomzelonasAntigasEscolas, comoasíntese das verdades ocultas, da investigação da origem do mundo e dohomem,dabuscadaverdadeedarealidadedascoisas.

O misticismo mostra íntima relação com a Metafísica, com aMitologia, com a Teologia, com a Teosofia, com a Religião e com aAstrologia.

AMETAFÍSICA

Metafísica(dogrego:matataphysica:depoisdaFísica)éapartedaFilosofia que trata dos princípios e fundamentos últimos da realidade; otermo foi usado, pela primeira vez, por Andrônico de Rhodes, que foi oprimeiroa reunir aobradeAristóteles, em70a.C.Esse erao significadooriginal, pois, posteriormente, o termo “meta” iria adquirir o sentido de“maisalém”,deixandodeficarrestritoàáreadaFísica,paradesignartodasas teorias racionais, não passíveis de verificação experimental; “além da

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Física”, no caso, mostra que os fenômenos físicos aparentes podem serverificadosexperimentalmente.

Depois de estabelecidos os seus fundamentos, a Metafísica foidividida em duas partes: a Ontologia, que contém a pesquisa racional esistemática dos últimos fundamentos do ser; e a Cosmologia, cujafinalidade é transmitir uma visão racional do Universo. Assim, está, aMetafísica,intimamentevinculadaaoMisticismoeàReligião,jáquetodoselaboramespeculaçõesem tornodo “Um”Absolutoeprocurama certezatotalsobretodasascoisasqueexistem.

Além de se preocupar com a realidade, a Metafísica buscacompreender a natureza, a qualidade e a quantidade dos atributos darealidade, adicionando a especulação e a discussão da natureza psíquica,quepodeserelacionarcomaatividadecerebral,masquetambémpodeserum atributo específico da substância imaterial conhecida como alma. Acrençana existência e na imortalidadeda almanão é encontrada apenasnos sistemas religiosos, pois também pode ser objeto da doutrina desociedadesfilosóficas,iniciáticasounão.

A Filosofia começou, no Ocidente, como Metafísica, impondoquestõesbasilaressobreseexistiria,ounão,algumacoisadepermanentepor trás das mudanças contínuas da Natureza, e se existiria uma únicarealidadefundamental,ouváriasrealidades.Taisquestões,evidentemente,dividiram os filósofos gregos, desde os tempos da Grécia Arcaica,propiciandoaformaçãodediferentesescolasdepensamentofilosófico.

AMITOLOGIA

Mitologia é o conjunto de mitos de um povo; é o conjunto dastradições lendárias, que buscam, por meio do sobrenatural, explicar osacontecimentosdaNatureza.Emboraelanãopossaserconfundidacomareligião, a realidade é que um grande número de mitos está fortementeligado a algumas religiões, principalmente as antigas, nas quais existia opoliteísmoeo antropomorfismo[1].O exemplo clássico está namitologiadaGréciaantiga,comdeusesantropomorfizados,assimcomoosmitosdossumérios e babilônios, e até dos egípcios, embora no Egito antigoimperasse,emrelaçãoaosdeuses,ototemismoeazoolatria[2].

ApesardaMitologiaser,hoje,umaciênciatotalmenteestabelecida,aindahámuitadiscussãoemtornodaorigemdosmitos,sobreaqual,por

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isso mesmo, existem dezenas de doutrinas, algumas flagrantementeconflitantes.Pesquisadoresmodernostêmsefixadonoconceitodequeosmitos derivam de interpretações de fórmulas invocativas e de precesrituais, ou, ainda, dos símbolos usados para exprimir os instintosreprimidos,ourecalcados,doserhumano.

O significado dosmitos é tambémobscuro e objeto de polêmica,pois, enquanto alguns buscam o significado nos fenômenos regulares daNatureza–odiaeanoite,asestações,ociclodosvegetais,etc.–outrosoprocuram nos fenômenos irregulares – tempestades, tufões, terremotos,etc.

A grande importância da Mitologia está na influência, que elasempreexerceu,sobreasArteseaLiteratura–especialmentenocasodamitologiagrega–nãosópeloseualtoconteúdofilosóficoepelaperfeiçãoinventiva, mas, também, porque é a única que possui uma completahierarquiadevaloresmísticos,abrangendodesdeagenealogiadosdeusesatéàexaltaçãodosfeitosheroicoshumanos.

ATEOLOGIA

TeologiaéaciênciaquetratadeDeusedasrelaçõesdascriaturashumanascomDeus,atravésdaespeculaçãoracionaledarevelaçãodivina.Elapossuidoisramosbemdefinidos:ATeologiapropriamentedita,emseuestritosenso,ou“sobrenatural”,ea“natural”,queprocuraoconhecimentodeDeussomentepormeiodoespíritocríticoedousodarazão,excluindo,portanto,arevelação.

Segundo os métodos empregados nos trabalhos teológicos, aTeologia pode ser positiva – também chamada de prática – quandopesquisa as verdades da revelação por métodos crítico-históricos, ouespeculativa–tambémchamadadedogmática–quandoarazão,escoradano sentimento de fé, explica a revelação. A Teologia positiva, ou moral,ressaltaededuz,sóracionalmente,osdeveresdohomemparacomDeus,enquanto que a especulativa procura expor, comprovar e justificar osdadosreveladosdareligião,numcorpoúnicodedoutrina.Naprocuradaracionalização da fé, que é de natureza totalmente mística, o teólogo,especialmente o cristão, combina as duas formas – teologia positivo-especulativa, ou positivo-escolástica – associando o emprego do métodológico-silogístico na prova, com a mera exposição dos dogmas e da

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doutrina,semnenhumaretóricaenenhumartifíciológico.Desejando obter bases racionais e sólidas para as religiões, a

Teologiaédiferenteparacadaumadelas,existindotantasquantasforemasreligiões históricas, que devem ser estudadas, analisadas e expostas. Asempre crescente complexidade dos sistemas religiosos foi exigindo umaperfeiçoamento também crescente da Teologia, a qual, praticamente,nasceu da rivalidade entre as religiões e da necessidade, que cada umasempreteve,desedefenderdasoutras,paraquenãosesituasseemplanoinferiornoterrenodosconhecimentosfilosóficos.

ATEOSOFIA

Teosofia é palavra originada do grego theos (Deus) e sophia(sabedoria), significando, de maneira geral, o conhecimento intuitivo deDeuspelohomem.Primitivamente, todavia, o termodesignava as formasde pensamento religioso e filosófico, as quais se propunham a dar umaexplicaçãorazoávelsobreanaturezadadivindadeedesuasrelaçõescomtudoosqueexistem.

A moderna Teosofia, porém, é um pouco diferente e foipopularizada por Helena Blavatski e Annie Besant. Blavatski foi afundadoradaSociedadeTeosófica,a17denovembrode1875,elançouasbasesdamodernateosofiaemseu livro IsisUnveleid(IsisRevelada),quetrata das teorias da evolução religiosa e humana. De acordo com aorientaçãodela,deBesantedeoutrosocultistas,ateosofiamodernaéumpanteísmo emanentista, inspirado, principalmente, no hinduismo e noBudismo.

O moderno pensamento teosófico, ao contrário da filosofia,procura, em suas especulações, o conhecimento de Deus, através daintuiçãoenãodoprocessodedutivoprópriodaFilosofia.Essepensamento,também em oposição às religiões, não está restrito às revelaçõesdogmáticasemitidasemnomedeDeus.

Apesar de ser, a teosofia, uma síntese de várias tendências ecorrentes místicas de diversos povos, em diversas épocas da evoluçãohumana,elaé,nitidamente,muitomaisinfluenciadapelohinduismoepeloBudismo; Helena Blavatski, inclusive, escolheu, em 1879, a cidade deMadras,naÍndia,comosededaSociedadeTeosófica.Essainfluênciaébemdemonstrada pela adoção da doutrina hindu do karma, ou seja, do ciclo

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sucessivo de reencarnações, até que o homem, finalmente, liberte-se detodoomal.

MuitosteólogosdaIgrejaCatólicacondenam,francamente,tantoateosofia quanto a antroposofia – esta fundada por Steiner, com base nomisticismoegípcioegrego-considerando-asopostasàdoutrinacatólicaenegando-lhes qualquer valor científico, devido ao caráter panteísta dosestudosteosóficoseaoseudogmafundamental,nãofundadonarevelação,de que a alma está intimamente ligada a Deus e pode alcançar umconhecimentointuitivo,ouconsciente,daexistênciadeDeusemsimesma.Todavia,negarvalorcientíficoecondenar–comofoi,ateosofia,condenadapelo Santo Ofício – doutrinas que possam, eventualmente, entrar emchoquecomsegmentosdaestruturadogmáticada Igreja, representaumaintolerânciaincompatívelcomasmodernaspropostasdeecumenismo.

ARELIGIÃO

Religiãoépalavraorigináriadolatimreligio,derivadodereligare,ou seja: atar, ligar para trás. Interpreta-se, portanto, a religião, como aligação,oeloentreohomemeadivindade.Elaéoconjuntodasverdadesdogmáticasedosprincípioséticosquedirigemavidadohomemparaosseresdivinos,dosquaisohomemsentedependereaosquaistributaatosdeculto,tantoindividualquantocoletivo.Subjetivamente,segundomuitosteólogos,areligiãoseriaadisposiçãovoluntáriadaalmaemreconhecerumSerSupremoedelheprestarodevidoculto.

Na realidade, a religião é uma das mais antigas manifestaçõesmísticasdohomem, jáqueela respondeaumaprofundanecessidade,doser humano, de se sentir protegido perante as agressões das forças danatureza,osobstáculosdavidaeo temordodesconhecido.Emsuma,elarepresentaumaatitudedepropiciaçãodospoderesdivinos,que,segundoacrençahumana,têmacapacidadededirigiravidadohomemedecontrolarasforçasnaturais.Oshomensprimitivos,cercadosporumanaturezaquasesempre hostil, já criaram os seus deuses, associados aos astros e aosfenômenosnaturais,crendoquetaisdivindadescontrolavamas forçasdouniversoeque,deacordocomasuaira,oucomasuatolerância–ouseja,comoseubomoumauhumor–proporcionavamgrandescatástrofes,oueras de paz e de fartura. Para aplacar a ira dos deuses, o homem, então,oferecia-lhesorações,ousacrifíciospropiciatórios,ou,ainda,desenvolviamrituaisdemagia.

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A finalidade dessas práticas era tornar os deuses propícios efavoráveis à comunidade, em geral, e ao indivíduo, em particular. Agrandezadadivindaderesultavadacomparaçãoqueohomemfaziadesuaprópria fraqueza e impotência perante o poder da natureza, o que faziacomqueosseresdivinosfossemrelacionadoscomessepoder.Lentamente,porém, esse primitivo misticismo sofreu grande transformação, pois apreocupação do homem voltou-se da natureza física para a sociedade,proporcionandoocaráterético-socialdareligião.

Todasasreligiõesdoperíodohistórico,ouseja,apartirda Idadedos Metais (5.000 anos a.C.), têm em comum a visão sobrenatural domundo.Combasenafé,ohomemcrêqueouniversotemasuaorigememDeus–ounosdeuses–equeelepróprio,homem,tendeasereunircomoprincípio criador, ou Ente Supremo. A principal característica de todasessas religiões é que, geralmente, a sua doutrina sempre diz respeito àcondutadohomemperante os seus semelhantes, o quemostra o caráterpredominantemente social das seitas religiosas, embora, além disso, elasprocuremmoldartodoocomportamentodohomemnoplanofísico,comosedissodependesseasuavidaespiritualposterior.

AASTROLOGIA

Astrologiaéaarte,ouciência,queestudaasinfluênciasdoscorposcelestes sobre a vida e o comportamento do homem, bem como tentapredizeros futuros acontecimentoshumanos,pelaposiçãodesses corposcelestes.

OestudodaAstronomiaedaAstrologia,emborajátivesseosseusrudimentos na pré-história humana, em seu período Neolítico (8.000 a6.000 a.C.), iniciou-se, realmente, entre as civilizaçõesmesopotâmicas[3],estabelecidasentreosriosTigreeEufrates,naÁsia,dasquaisaprimeirafoi a dos sumérios (5.000 a.C.), seguida pela dos acádios, babilônios eassírios. A crença na eficácia dessa arte iria atingir o Egito e espalhar-sepelaGrécia,noSéculoIVa.C.,chegando,posteriormente,aRoma.

Os sumérios, bons observadores e matemáticos perspicazes,perceberam que os acontecimentos, no firmamento, seguiam umdeterminado padrão: as estrelasmoviam-se numa ordem fixa através docéu,enquantoqueosplanetasvagavam,excentricamente,masnomesmoplano, contra o fundo estrelado. Evidenciou-se, todavia, que os planetas

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tambémtinhamumcomportamentoregular,surgindo,então,asprimeirastábuas de movimentos planetários, ou efemérides, as mais antigas dasquais foram traçadas no Século VII a.C., na época do rei assírioAssurbanipal.

Na Assíria e na Babilônia, a Astrologia era considerada,oficialmente, como um dosmeios de que dispunham os sacerdotes, parainterpretaravontadedosdeuses(ooutroeraoexamedasentranhasdosanimaismortosnoscultossacrificais).Ossumérios,quandoelaboraramoseu sistema cosmológico, fizeram uso das doze constelações principais,através das quais o Sol e a Lua passam regularmente. Observando adependência da vida humana em relação aos fenômenos atmosféricos, arelaçãoexistenteentreafertilidadedosoloeaabundânciadascolheitas,eas periódicas inundações e secas que afligiam o vale do rio Eufrates, osbabilôniosconcluíramqueocéueraamoradadosdeuses,osquaisdetinhaogovernodetodoouniverso.Asreligiõesmaismodernas,apesardetodaaevoluçãocientífica, continuarama incrementaressaconclusãobabilônica,prometendoo“céu”,oua“moradadosdeuses”paraosseusfiéis.

Tinhaosantigospovosmesopotâmicos,aconsciênciadequeoSoleaLuaexerciamumaforteinfluênciafísicasobreavidahumana;tinham,também,profundamentearraigadoemsuacultura,ocultoaessescorposcelestes, comodivindades, que, certamente, deveriam ser.Diantedisso, aclasse sacerdotal foi aperfeiçoando a teoria do acordo integral entre osfenômenos celesteseos fatosocorridosnaTerra; assim, seoSol e aLuaeramconsideradosdeuses,tambémoeramoscincoplanetasconhecidos-Mercúrio,Vênus,Marte,JúpitereSaturno–easestrelasmaisimportantes.

A Astrologia mesopotâmica, porém, não era pessoal, pois sepreocupava mais com os acontecimentos coletivos, como as enchentes,guerras, eclipses, etc., a partir de um conhecimento astronômicomeramenteempírico.ApenasnaGréciaéquecomeçariamaseremtraçadososhoróscoposindividuais,baseadosnaposiçãodosplanetasnomomentodonascimentodapessoa.Talsistemafoiaproveitadoeaperfeiçoadopelosárabes–porocasiãododomíniomuçulmanonaEuropa–eacabousendoincluído nos textos cabalísticos judaicos e cristãos, chegando, dessamaneira,àIdadeMédia.

No períodomedieval, o problema enfrentado pelos teólogos, eraclassificar a Astrologia como ciência legítima, ou como arte divinatóriaproibida.Naépoca,aindacomopseudociência,aAstrologia,sobotítulodeAstrologiaRacional,eraequiparadaàAstronomiaNatural,queestudavaas

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leis,osmovimentoseos fenômenosrelativosaoscorposcelestes.Graças,todavia,àherançadaculturahelênica,aAstrologiaalargouoseucampodeatuação, atingindo, então, quase todas as ciências conhecidas. Assim,animais,plantas,metais,pedras,cores,etc.,foramassociadosaosplanetasecolocados sob sua tutela eproteção, originando, apartirdaí, uma similarassociação de ideias, que abrangeu as constelações zodiacais, as quais,posteriormente, acabaram sendo equiparadas aos planetas quanto àinfluênciasobreoshoróscoposindividuais.

Hoje,paraaAstrologia,umhoróscopoéomapacelestetalcomoseencontravanahoradonascimentodapessoa,indicandoaposiçãodecadaumdoscorposcelestesededuzindo,porela,asinfluênciassobreodestinoindividual. A cada um dos signos do Zodíaco atribuem-se influências ecaracterísticas próprias. Zodíaco é uma faixa, na esfera celeste, quecompreende as doze constelações zodiacais, a qual, aparentemente, épercorridapeloSol,umavezporano,quandoeleatravessaafaixade360°.As doze constelações, bem conhecidas já desde a Antiguidade, antes deseremrelacionadasporPtolomeu,emseucatálogodeestrelas(porvoltade150d.C.),são:Áries,Touro,Gêmeos,Câncer,Leão,Virgem,Libra,Escorpião,Sagitário,Capricórnio,AquárioePeixes.

Obs.EmboraaMaçonariauseomisticismomedievaleodeantigascivilizaçõesparaarmarsuadoutrinamoralesuaspráticasritualísticas,elanão é, de modo algum, uma ordem mística, já que foi criada comoconstrutorasocial.

[1]Antropomorfismoéaatribuiçãodefiguraepredicadoshumanosaumdeus.[2] Totemismo é a crença nos totens; é o culto, ou prática dos totens. Totem é o animal, planta,

objeto,oufenômenonaturalaquecertospovosprimitivosjulgam-seligadosdeformasagrada,sendoproibidoatentarcontraeles.Oexemplomaiscomumdetotem,entreospovosprimitivoséavaca.Zoolatriaéocultoouadoraçãodosanimais.

[3]Mesopotâmia(“terraentrerios”), situadaentreosriosTigreeEufrates,éamaisantigaregiãocivilizada do mundo, ao lado da do vale do rio Nilo. As primeiras verdadeiras civilizaçõesterrestresalisurgiram, favorecidaspelagrande fertilidadedosolo,naplaníciealuvialdosdoisrios, e pelo clima quente, favorável ao cultivo de cereais. As mais antigas civilizaçõesmesopotâmicas, de Uruc, Obeid e Djendet-Nache, pertencentes, ainda, ao final do períodoneolíticodapré-história,sóchegamaoconhecimentoatualatravésdaarqueologia.Asprincipaiscivilizações,porém,foramasdossumérios,acadianos,assíriose,posteriormente,dosbabilônios,não só por suamaior organização social,mas, também, por sua grande contribuição político-socialàscivilizaçõesposteriores.Ossumérios,quehaviamocupadoosuldaMesopotâmia,onde,hoje,sesituaoIraque, jáhaviamestabelecido,porvoltadoquartomilênioa.C.,oseuprimeiro

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sistemadegoverno,odascidades-estado,eumsistemaagrícolaavançado,paraaépoca.

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II

AMÍSTICAPRÉ-HISTÓRICA

A Pré-História é aquele espaço de tempo situado entre osurgimento, na Terra, dos primeiros hominídeos dotados de cultura e adescobertadaescritapeloshomens,quandoseiniciouaHistória(escrita),jáqueoperíodopré-históriconãopossuidocumentosescritos,masapenaspinturasrudimentareserestosdeagrupamentosnômades.

Éimportante,todavia,esseperíodo,poisfoinele,emtemposmaisrecentes,porém,quesurgiramosrudimentosdatecnologia,dareligião,daarte e da magia, assim como os das instituições sociais básicas, como afamília,ogoverno,asnormasdedireitoemoraleocomércio.

Jáforampropostasdiversasclassificações,paradividirosperíodosda Pré-história humana. Tornou-se clássica a divisão feita, em 1836, porThomsen, o qual classificou três épocas, ou idades, distintas: Idade daPedra, IdadedoBronzeeIdadedoFerro,sendo,aIdadedaPedra,amaisvasta,jáquesóhácercade7.000anosohomemcomeçouatrabalharcommetais. Diante disso, Lubbock, em1865, propunha a divisão da Idade daPedra em dois períodos: o Paleolítico, ou Idade da Pedra Lascada, e oNeolítico, ou Idade da Pedra Polida. Mortillet, em 1883, sugeria umasubdivisão arqueológica, tendo por base os restos arqueológicos,descobertos em andares, ou camadas, sendo, as diversas culturas pré-históricas, designadas segundo o nome da localidade onde fossemencontrados os seus primeiros exemplares; essa prática, aceita pelacomunidadecientífica,éseguidaatéhoje.Complementando,AllenBrown,em1892,propunhaoreconhecimentodeumperíodointermediário,aquedeuonomedeMesolítico, enquantoomesmoMortillet, quepropuseraométododascamadasarqueológicas,dividiaoPaleolíticoemtrêsperíodos:oInferior–omaisantigo–oMédioeoSuperior,deacordocomosistemapropostoporele.

APré-história,portanto,estende-sedesdecercadeummilhãodeanosatrás,atéaoVmilênioa.C.,quandodadescobertadaescritaeoiníciodaIdadedosMetais.Apartemaisextensadela,aqualseestendedesdeoinícioatécercade8.000anosa.C.,éocupadapeloPaleolítico.

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OPALEOLÍTICOINFERIOR

Nesse período que se estende desde o início da pré-históriahumana até cercade150.000 anos atrás, processou-se a rápida evoluçãodos hominídeos, representados, inicialmente, pelos australopitecíneos,encontrados na África (Australopitecus Africanus) e, depois, pelospitecantropíneos.

De acordo com os achados arqueológicos, esses hominídeos jápossuíam industriais líticas, com fabricação de instrumentos feitos depedra, ou seixos, alémde usarem, também, outrosmateriais comoossos,dentes e carapaças de animais. Essas indústrias líticas foram seaperfeiçoando, através de todo o Paleolítico Inferior, mas a grandedescoberta humana desse período foi, sem sombra de dúvida, o uso dofogo, ocorrido há cerca de 500.000 anos, de acordo com achadosarqueológicos realizados perto de Pequim, onde, também foramencontradosrestosdepitecantropíneos,oHomoErectusPekinensis.

Não são conhecidas nesse período manifestações místicas oureligiosas,nematravésderitosfunerários,emboraessasejaaépocamaisnebulosadapré-históriahumana.

OPALEOLÍTICOMÉDIO

ÉaépocadoaparecimentodoHomoNeanderthalensis(HomemdeNeanderthal)esedistinguedoPaleolíticoInferiorpeloaperfeiçoamentodaindústriadapedraepelomaiorritmodoprogresso.

Esseperíodocaracterizado,aprincípio,pelonomadismoexclusivomostrou,posteriormente,oaparecimentodosrudimentosde linguagemeumpequenoesboçodeorganizaçãosocialcomoagrupamentosmaisfixos.Tendo durado de 150.000 a.C. a 40.000 a.C. mostrou, inicialmente, umhomemprimitivoque talvez tivesse, algumasvezes, se interrogado sobreosmistériosdanatureza; todaviaa faltadecomunicação,alémda intensaluta pela sobrevivência, em um ambiente hostil e sem proteção, nãopoderiamincentivarespeculaçõesdeordemmística.

Em época mais recente desse período, todavia, surgiram asprimeiras manifestações místicas de caráter religioso: os homens deNeanderthal enterravam, com cerimônias, os seus mortos, colocandoobjetosemseustúmulos,oquemostravajáacrençaemumavidafuturaa

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qual iria dominar, posteriormente, todas as religiões e todos os sistemasfilosóficosdedoutrinaçãomoral.

OPALEOLÍTICOSUPERIOR

Iniciadahá40.000anos,estendeu-seatécercade10.500a.C.sendoum período de grandes mudanças e rápido progresso, onde existiramdiversasraçasdeHomoSapiens,sendoaprincipaldelas,adeCro-Magnon.

Há um aperfeiçoamento dos instrumentos de pedra, com oaparecimento de artefatos de usomais especializado; além da pedra sãousados, com abundância, outros materiais, como osso, chifre e marfim.Nota-se, já, um aumento da complexidade da organização social, com osrudimentosdaformaçãodosclãsecomareuniãodoshomensparacaçadasdeanimaisdegrandeporte.

É nesse período que surgem as primeirasmanifestações de artepré-histórica,comainvençãododesenho,oaparecimentodeesculturasemrelevo,deentalhes,deobjetosornados,etc.Essaartedascavernasatingiuo seu apogeu por volta de 13.500 a.C. e parece ter sido realizada comfinalidades mágicas, para assegurar êxito na caça, embora algunspesquisadores creiam que os desenhos e esculturas representam apenasuma reportagem pictórica e estatuária do dia a dia do homem pré-histórico.

TambémforamoshomensdoPaleolíticoSuperiorqueiniciaramapovoaçãodaAméricaaqualchegaramvindosdaÁsia,atravessandoapé,oEstreitodeBehring;issoteriaocorridohácercade30.000anos.

A evolução do misticismo também foi apreciável, pois além dosritosfunerárioscomoferendas,surgiramosrudimentosdamagia,queerapraticadaparaacuradasdoenças,afastarosinimigoseparapropiciarboascaçadas (como seria o casoda finalidadeda arte das cavernas). Amagia,iniciadanesseperíodo,iriasernotavelmenteincrementadanascivilizaçõesdachamadaIdadedosMetais,emfrancarelaçãocomareligião,atravésdaqualviriaainfluenciaramísticamoderna.

OMESOLÍTICO

Comaduraçãodecercade3.000anos,esseperíodoénitidamenteuma fase de transição entre os caçadores e coletores (de frutos gerados

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espontaneamente)doPaleolíticoeosprodutoresdealimentosdoNeolítico.Sua característica principal foi uma perfeita adaptação do homem àsflorestas que começavam a cobrir as terras da Europa, após odesaparecimento do gelo proveniente da última glaciação; além disso,houve um incremento da sedentariedade e o início da domesticação dosanimais,sendo,oprimeiroaserdomesticado,ocão.

Com relação ao misticismo, não houve grandes variações emrelaçãoaohomemdeCro-Magnon.

ONEOLÍTICO

Esseperíodoseestendeatéaépocadainvençãodaescrita,ouseja,até por volta de 4.000 a 5.000 a.C., sendo também chamado de Idade daPedraPolida,poisnessaépocaoshomensaprimoraramosinstrumentosdepedra,tornando-osmaisafiadosatravésdopolimento.

Alémdisso, houve progresso emoutros setores: foi descoberta autilizaçãodaargilaeateceduradefibrasvegetaisoudepelosdeanimaisparaaconfecçãoderoupasmaispráticaseadequadasaváriosclimas,aocontráriodaspelesdeanimaisusadasanteriormente.

Arealizaçãomais importante,entretanto,dohomemdoNeolíticofoi o fato de ter dado início à agricultura, por volta de 8.000 a.C.Observando o ciclo do crescimento das plantas, o homem aprendeu acultivarparaproduzire colhercereais, legumese frutas,deixandodeserapenas caçador e coletor, tornando-se agricultor. Tambémprosseguiu nadomesticaçãodeanimais,tendo,nofimdoNeolítico,jádomesticadoocão,oboi,acabra,oporco,ocarneiroeocavalo,issodeacordocomaregiãodaterra que habitava. Dessamaneira, alémde agricultor, tornou-se criador,desenvolvendoopastoreio.

Como corolário da atividade agrícola e pastoril, os homenscomeçaramasefixaraosolo,tornando-sesedentáriosepassandoaviveremmoradiasdemadeira,pedra,tijolosoubarro,construindoasprimeirasaldeias, reunidos em tribos (grupos de famílias, unidos pelos interessescomunsepelosmesmoslaçosdesangue).

O misticismo religioso foi bastante incrementado nesse período,pois,alémdosrituaisfúnebrescomcunhofortementereligioso,aspráticasdemagia eramcomunseprincipiavauma sistematizaçãodaadoraçãodedivindades relacionadas comas forças cósmicas e comos astros visíveis,

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gerandoopoliteísmoqueseriacaracterísticodasprimeirascivilizaçõesdaIdade dos Metais. O politeísmo, de certa maneira, devido à visãofragmentária que o homem tinha do universo, só tenderia, muitoposteriormente, para o monoteísmo, como melhor expressão dosentimento religioso, quando a visão unificada do universo foi dada pelafilosofia.

Assim,nessaépoca,jásurgiamosmitossolares,poissendoafonteda vida; através de sua atuação sobre todos os seres vivos, o Sol eraconsiderado o maior dos deuses dos humanos; também era patente apreocupaçãomística relativa ámorte e a uma vida futura, fato que seriabastantedesenvolvido,posteriormente,pelossumériosepelosegípcios.

Apesardojárelativodesenvolvimentodosentimentoreligiosonãopossuíamainda,oshomensdoNeolítico,umaclassesacerdotalquesóviriaa surgir posteriormente com as sociedades fortemente teocráticas dossumérios,dosbabilônios,dosegípcios,dospersasedoshebreus,quandomuitas práticas religiosas de caráter estritamente esotérico, eramreservadas aos sacerdotes que impregnavam suas doutrinas, com fortesdosesdemagia,jáqueestaandava,sempre,aoladodareligião.

Os homens do Neolítico, nesse ponto, eram mais livres, poisemborapossuindoos seusmitos e as suaspráticasdemagia, nãoviviamsobtutelasacerdotal,comoviveramosseuspôsteres,quetiveramtodososatosdesuaexistênciaprocessadosdeacordocomosprincípiosreligiososditadospeladominante classedos sacerdotes, aqual, emboraproibisseoacesso do povo aos seus círculos íntimos, queria ter o privilégio decomandá-losedominá-los,coisaquederestoaconteceaténosdiasatuais.

Mesmo não existindo os donos da religião, foi no Neolítico que,verdadeiramente, teve início aquilo a que hoje chamamos de metafísica,tomada, conforme já visto, como a ciência que trata dos princípiosprimeiros universais, das coisas de ordem espiritual e, também, docorpóreo,consideradoemsuascategoriasmaisgeraiseabstratas,ouseja,tomadacomorelativaatudoqueétranscendental.

A Idade dosMetais, onde se inicia a História Antiga – a Históriaescrita – começa entre 5.000 e 4.000 a.C., primordialmente na regiãomesopotâmica(entreosriosTigreeEufrates)enovaledorioNilo.

Aí já surgem as primeiras civilizações realmente urbanas, comestratificação da sociedade, emprego dos metais, uso da escrita e aconsolidação do Estado e a religião, sendo, aquele, totalmente dominado

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poresta;nocaso,aúnicaexceçãoforamosantigosgregos,queformaramuma sociedade livre da teocracia e das práticas de magia, o que lhesproporcionariaacivilizaçãomaissólidaemaiscultadaAntiguidade.

PINTURASPRÉ-HISTÓRICAS

AspinturasrupestresdoHomemPré-históricoforamproduzidascomorituaisdemagiapropiciatória,sendoencontradasemdiversascavernasdosuldeFrançaeEspanha.Acredita-sehojequetaiscavernasserviriamcomo

santuáriosreligiososrudimentares.

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III

OMISTICISMONAMESOPOTÂMIA

HISTÓRIADAREGIÃO

AMesopotâmia – que significa “terra entre rios” – é a região daÁsia,situadaentreosriosTigreeEufrates,juntoaogolfoPérsico,abrigou,ao lado do vale do rio Nilo, as mais antigas civilizações organizadas daTerra, favorecidas pela grande fertilidade do solo, na planície aluvial dosrios,pelaabundânciadeáguaepeloclimaquente,próprioparaocultivodoscereais.

A civilização, aí, começou junto ao golfo Pérsico, caminhando,depois, em direção ao norte, rumo às montanhas da Armênia. As maisremotascivilizaçõesmesopotâmicassónoschegamatravésdaarqueologia.Duranteo IVmilênioa.C.,distinguiam-se trêsprincipais:El-Obeid,UruceDjendet-Nache, baseadas, inicialmente, na pedra, osso, e terracota, doNeolítico e, em fase posterior, no cobre, na cerâmica e na glíptica. Namesmaépoca,eraencontrada,paraládorioTigre, jáforadaregiãoentreosrios,acivilizaçãododoselamitas(doElam),cujacapitaleraSusaequerevelava avançada técnica, através dos trabalhos feitos em cobre e dacerâmicacomdecoraçãoestilizada.Énessaremotaépocaquesecostumasituarasgrandesinundaçõesfluviais,quederamorigemàlendadodilúviouniversal(jáquealierao“universo”conhecido),queseriaaproveitadapeloescriba bíblico, passando a fazer parte do patrimônio místico daHumanidade.

Entretanto,essasnãoforamconsideradasasprincipaiscivilizaçõesda região, já que esse título é reservado, graças à suamaior organizaçãosocial,àscivilizaçõesdeSumer,AcadeSubarru(Assíria),estabelecidas,emordem,dosulparaonorte.

No fimdo IVmilênio a.C., ocorria o florescimento, junto aoGolfoPérsico,daorganizaçãourbanadossumérios,povosdeorigemiraniana.Aípodem ser encontradas a grandes cidades-estado de Ur, Lagash e Uma,cadaumadelas sobo comandoabsolutodeumchefe, oEnsag, ouPatesí(vigáriododeus),ou,ainda,Lugal (ogrande).Sobadireçãodeumdeles,Zaguisi,ensagdeUma,foifundadooprimeiroimpériomesopotâmico.

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Posteriormente, por volta de 2.350 a.C., o domínio passaria dossumérios aos acádios, povos de origem semita. Essa supremacia seriaresultado de uma lenta infiltração nas regiões sumérias e do uso dearmamento leve, mais manejável do que o equipamento pesado dossumérios.Seuchefe,Charruquim,ouSargão,apoderou-sedetodaaregião,atéaoGolfoPérsicoe,também,doElamedaterradosamorritas(Amorru),tendo, o seu descendente, Naransin, se apoderado também da Assíria(Subarru).

Foi, então, preparado, lentamente, o renascimento sumério, cujoapogeuocorreuduranteaIIIdinastiadeUr,entre2.150e2.050a.C.,sendodestruído pelas revoltas do Elam – que originaram amigração do clã deAbraão, originário de Ur – e dos amorritas. Estes, de origem semita,fundaramadinastiadosreisdeIsineseestabeleceramnacidadedeBabel(Babilônia), que significa “Porta dos Deuses” e que, posteriormente, porvoltade1.950a.C.,iriadarnomeatodaaregião.

OsextoreidessadinastiaamorritafoiograndeHamurábi,famosopelo seucódigode jurisprudência, economiae religião, gravadoemplacadediorito,que,hoje,seencontranomuseudoLouvre.SeuimpérioacabariaabrangendotodaaMesopotâmia,desdeoGolfoPérsico,comasregiõesdeSumer e Acad (reunidas sob o nome de Babilônia) até às regiões quelimitavam,aonorte,aAssíria,e,aaonoroeste,aAlatSíria.Apartirde859a.C., comSalmanazar III, começaodomínio assírio, que se estenderia até612 a.C., com Assurbanipal. Vários soberanos notáveis reinaram duranteesses dois séculos, tendo, por capital, Nínive, Calac, ou, então, a cidadecriadaporSargãoII,Dur-Charruquim(Corsabad).

Apartirdaquedadosassírios,houveorenascimentodaBabilônia,com a instalação do reino neobabilônico, através de Nabopolassar, odestruidor de Nínive e, principalmente, através de seu filho,Nabucodonosor.Soboreinadodesteéquesedariaa tomadade Judáeadestruiçãode Jerusalém,seguidadoexíliodoshebreusnaBabilônia.Essereino neobabilônico iria se estender até a 539 a.C., quando se iniciaria odomíniopersa,marcandoofimdasgrandescivilizaçõesmesopotâmicas.

ARELIGIÃOEOMISTICISMOMESOPOTÂMICO

A civilização de sumer foi brilhantíssima, pois, além de teremcriado a escrita – cuneiforme, os sumérios criaram formas políticas que

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vão,desdeacidade-estadoatéoimpério,administraçãoejustiçafundadosemCódigos,instrumentosdastrocasedaprodução,formasdopensamentoreligioso, formas do misticismo e rudimentos da Astrologia (tambémenquadradanomisticismo).

Os sumérios formavam uma civilização teocrática e, assim, areligião estava no centro de toda a vida da comunidade. Politeísta e,inicialmente, antropomórfica (deuses com forma humana), a religião eraextremamente triste,poucoagradáveleamplamentepessimista,poisnãoofereciacompensaçõeseprêmios,apósamorte,paraaquelesquetivessemtidoumavidavirtuosa(fatoquedepoisse tornariaagrande“atração”detodasasreligiões).Alémdisso,acreditava-sequeosdeuseseramcapazesde promover tanto o bem quanto omal, o que lhes dava, realmente umsentidodejustiçaeequidade.

Asdivindadessumérias(comodetodososmesopotâmicos)eram,deacordocomacrençadopovo,aindaimpregnadodomisticismoneolítico,asquecomandavamas forçasdaNatureza(sol, lua,ventos,chuvas,raios,trovões e etc.), os astros celestes e os elementos (água, ar, terra e fogo).Essesdeusestinhamaaparênciaeossentimentoshumanos,diferenciando-sedoshomenspelofatodeseremmaisfortes,imortaisetodo-poderosos.

No sistema das cidades-estado, cada deus era o senhor de umadelase,quandoacidadepredominavapoliticamentesobreasdemais,oseudeustambémsetornavamaisinfluente.

Osdeusessumérios,todosdeorigemcósmica,eramosseguintes:Deusesprimordiais:Anu–ReidoCéu;Enlil–ReidaTerra;Ea–Rei

doOceanoEssesdeusesprimordiaiscriaramosdeusesastraisqueseocupam,

diretamente,doshomens:Shamash–odeus-Sol;Sin–odeus-Lua;Ichtar–oplanetaVênus;Dumuzi–odeusagráriodosmortos.

Mercúrio, Marte, Júpiter e Saturno, os outros planetas (além deVênus) conhecidosnaAntiguidade, também faziampartedopanteãodosdeuses,massóiriamterseuspadrõesperfeitamenteestabelecidosapartirdosbabilônioseatravésdaAstrologia.

Completando a estrutura politeísta, desenvolveram-se muitasnarrativas que teciam lendas poéticas em torno dos grandes deuses,difundindo tambémosmitos cósmicos (Enlil), agrário (Dumuzi),mágicos(Ichtar) e heroicos (através do ciclo do herói Gilgamés, vencedor de

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monstros e precursor de Ulisses e Hércules); muitas dessas descriçõeslembramafábuladeÍcaroeasnarrativassobreoDilúviobíblico.

Nota-se,assim,nomisticismodossumérios,odesenvolvimentodogerme religiosonascidonoperíodoNeolítico, concretizando-se, então, namente dos homens, a preocupação com as forças naturais,antropomorfizando-as, e comosmistérios da vida e damorte: os deusesprimordiais referem-se às três grandes divisões domundo – céu, terra eágua; os deuses astrais demonstram a interrogação perante o cosmos,tomando-oscomoresponsáveisportudo:oSolvivificandoasplantaçõesegerandoavida,aLualutandocontraastrevasmaléficasdanoiteeatuandosobreaságuasmarítimas;Vênusagindosobreoshomens,atravésdosseusmistérios, benéficos ou maléficos, associados à magia e, finalmente,Dumuzi,representandoodeusagrárioquesimbolizaociclo imutáveldosvegetais,compostodemorteserenascimentosanuais.

Do ponto de vista místico, a maior importância cabe ao deusDumuzique,aorepresentarociclodemorteerenascimentodosvegetais,éosímbolodaimortalidadedoespíritoedaeternidade.Ocultodessedeusagrário foi o germe inicial de todos os mitos e lendas da Antiguidade,relativasàmorteeàressurreição,incluindo-seamaisconhecidadelasqueé a lenda de Osíris, influindo, ainda, sobre a elaboração de lendasmaçônicasreferentesàimortalidadedaalma.

Já o misticismo religioso dos semitas acádios era sensivelmenteigualaodossumérios,jáque,sendoumpovoguerreiroeconquistador,nãoapresentougrandescriaçõesculturais.

Os babilônios, dirigidos pelo rígido Código de Hamurábi, deinspiraçãoteocrática,tinhamumespíritoreligiosoaindamaisfortedoqueodossumérios,emborasuareligiãofossetotalmentecopiadadasuméria,com todos os deuses desta, acrescida de Marduc, o supremo deusbabilônico.

OCódigodeHamurábiéumdosmaisbelosdocumentosdahistóriauniversal: de um lado, ele é a codificação de um direito natural econsuetudinário em vigor nos territórios conquistados e em vias deevolução, enquanto que, de outro, ele é a copilação de diversos códigossumérios.Eleébastanteprecisoedeextremadurezanasquestõessociaisejurídicasenaaplicaçãodaspenasaostransgressores.DepoisdesseCódigo,ajustiçapassa,emtodosossetores,ásmãosdejuízesdeEstado,queagemsobainspiraçãodosdeuses(MarducouShamash),segundoesseprocesso

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escrito,audiçãodetestemunhoserecursoaojuramento.A Arqueologia demonstrou, pela presença, nas tumbas de Ur

(3.000a.C.)deprovisões, joiaseutensíliosqueosbabilôniosacreditavamna sobrevivência integral, ou seja,material e espiritual. Como passar dotempo, entretanto, a religião tornou-se pessimista e a vida do além foidesprezada, já que os vivos, preocupados com o gozo imediato de suaexistência, não se preocupavam com os mortos e seus túmulos, sendo,nisso,bastantediferentesdosegípcios.

Opovobabilôniotinha,alémdeseusdeuses,umaverdadeiracortededemôniosqueeramresponsabilizadospelasmásinfluências.Eletemiaosdeusesepedia-lhesumavidalongaefeliz,enquantoumterrorconstantefazia-ocurvar-sediantedosdemôniosegênios.Anoçãodepecadonãoeradifundida e a verdadeira piedade consistia em apaziguar os deuses,oferecendo-lhessacrifícios,geralmentecruentos,ou,então,constrangendo-os através das práticas de magia. Como para os sumérios, os deusescósmicosrepresentamasforçasnaturaiseosastrosvisíveis,dominandoarepresentaçãoantropomórficaaocontráriodoanimismo,do totemismoedazoolatriaegípcia.

A religião era, também, bastante estatizada, pois, cada cidadepossuía o seu deus-senhor, com seu templo próprio, sendo que, acimadeles,massemexcluí-los,reinava,desdeHamurábi,odeus-solMarduc.

Os templos eram as moradas dos deuses e os santuárioscompletavam-se com uma torre em degraus. Marduc, assim, tinha o seusantuário,oEsaguil(“casadotetoalto”),flanqueadoaonortepelatorreemdegraus, o zigurat, chamado Etemenanqui (“templo dos fundamentos docéuedaterra”),conhecidocomoTorredeBabel.

Opovojamaispenetravanotemploeassuasrelaçõescomodeuslocalapenaspodiamterlugaratravésdaintervençãodossacerdotes,oqueconferiaàreligiãoumaspectohieráticopoucopropícioàpiedadepessoalou ao misticismo do fiel. Além disso, a Magia – mãe da Medicina – aAdivinhação e a Astrologia – mãe da Astronomia – estão entre ascontribuições mais duráveis e mais significativas e difundidasuniversalmentepelareligiãobabilônica.

AAstrologiafoicriadanaMesopotâmiapelossumérios,cujaideiada superioridade celestial (de olhar para cima, em busca de orientação)logosetornoupartedavidadiária,fazendocomqueelessituassemosseusdeusesnoCéu(oantigosímbolosumérioparaadivindadeeraaEstrela).

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Vista da Terra, as estrelas parecem girar através de um padrãoimutável de um ano para o outro, embora os deslocamentos sejamconstantes, mas tão lentas que, primitivamente, acreditavam-se que asestrelas eram fixas. O que os homens da Mesopotâmia notavam era omovimento rígido, contra o céu estrelado, de sete corpos celestesprincipais,ouseja:oSol,aLua,Mercúrio,Vênus,Marte,JúpitereSaturno.Desde os mais antigos registros encontra-se a ideia de que todos essesastros representavamdeuses com o poder de dirigir a vida dos homens,intervindo nela. A religião nasceria, então, a partir dessa concepçãoastrológica.

Naépocababilônica,emquejáhaviaobservaçõesastronômicas,opanteãodivinoestavaplenamenteestabelecido,cabendoacadadeus-astroumpoderparticularsobreumaáreadeexperiênciahumana.Assim,alémdo já estabelecido para o Sol (Marduc e Shamash), a Lua (Sin) e Vênus(Ichtar), temos mais: Mercúrio: deus veloz e astuto, era o senhor dasabedoria calculista; Marte: era o senhor da guerra; Júpiter: um régiosenhor dos homens, embora suplantado pelo deus-Sol; Saturno: era umdeusfrio,crueleirascível.

Essasassociaçõesdosastroscomosdeusesacabaramformandoabasedosaberastrológico,comosastrosatuandosobreoshomens,emboranãomais como deuses venerados. Grandesmatemáticos e inventores daálgebra,osmesopotâmicos–principalmenteossumérioseosbabilônios–através da Astrologia, chegaram a adquirir grandes conhecimentos deAstronomia,aprendendoadistinguirosplanetasdasestrelaseapreveroseclipses;alémdisso,aprenderamaplantardeacordocomasfasesdaLua,dividiramoanoemdozemeses lunares,osmesesemsemanas,asemanaem sete dias, sendo, cada um, consagrado a um astro, o dia em vinte equatro horas (o dia era dividido em 12 horas duplas, sendo cada umadivididaem30partes),ahoraemsessentaminutoseominutoemsessentasegundos.

Ao elaborar o seu sistema cosmológico fizeram, então, uso dasdoze constelações principais, através das quais o Sol e a Lua passavamregularmente,equeforamasprecursorasdoZodíaco.Notaramqueacadaduashorasasconstelaçõessedeslocavam30°nofirmamento,ouseja,umdoze avos do círculo completo; e durante muito tempo, a observaçãoastronômica ficou presa ao nascimento e o ocaso dos corpos celestes,dentrodestepadrão.

Umoutro sistema de doze divisões, sem ligação como primeiro,

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tinha suas doze casas numeradas a partir da inclinação oriental sob ohorizonteerepresentavamáreasdaexistência,deacordocomoseguintepadrão:

1.VIDA–2.POBREZA/RIQUEZA–3.IRMÃOS–4.PAIS–5.FILHOS–6.DOENÇA/SAÚDE–7.ESPOSA/MARIDO(CÔNJUGE)–8.MORTE–9.

RELIGIÃO–10.HONRARIAS–11.AMIZADE–12.INIMIZADE.

Osplanetaseram,assim,descritosdeacordocomacasaocupadaetambémdarelaçãoedosângulosentreeles,oquepodiarevelarotipodeinfluênciaquepoderiamexercersobreoshomens.

MISTICISMOMESOPOTÂMICOEMAÇONARIA

AsreligiõesposterioresàdospovosdaMesopotâmia,assimcomomuitassociedadesiniciáticasesistemasfilosóficos,muitoutilizaramocultosolar,criadopelossumérios,edaAstrologia,aperfeiçoadapelosbabilônios.

Em Maçonaria, o mito solar iria adquirir grande importância, jáqueacaminhadadoiniciadorepresentaumamarchaemdireçãoàLuz,aoSol, meta transcendental dos povos antigos. O fascínio do Sol, centro denosso sistema planetário, está presente em muitas áreas da místicahumana: para a Alquimia, o Sol representa o ouro; para a teurgia, é aemanaçãodeDeus;paraamagia,éafontedeluzastral.ParaaMaçonaria,entretanto,oSolsimbolizaaluzdoconhecimento,ametadoiniciado,que,vindodas trevas (simbólicas)doOcidente (Oeste), caminhaemdireçãoàluminosidadedoOriente(Leste),ondenasceoSoledeondeveioaluzdasantigascivilizaçõesorientais.

Assim, desconsiderando-se as diferenças entre os hemisfériosNorteeSuldaTerraeconsiderando-seapenasascondiçõesdohemisférioNorte, onde surgiu a Maçonaria, para efeito de padronização mundial, ocandidato à iniciação penetra, em Loja, pela parte ocidental, onde,simbolicamente, não há luz. Depois de iniciado, em sua caminhada, embusca do aperfeiçoamento, terá lugar, inicialmente, na parte menosatingida pelos raios solares – ou seja, o Norte, no hemisfério Norte –passando, depois, pelo Sul, onde já há mais luz, pela proximidade doequadorterrestre,atéchegaraoOriente,onde,simbolicamente,reinaaluzeternadoSol.Issoporque,simbolicamente,aLojamaçônicaécósmica,ou

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universal,jáquerepresentaonossoplaneta,comseuspontoscardeaiseoseu firmamento,estendendo-sedeNorteaoSul,deOrienteaoOcidenteedo zênite aonadir[1].As suas colunasvestibulares, que se encontramnoátrio da Loja, representam, simbolicamente, os trópicos de Câncer e deCapricórnio, o que quer dizer que a linha imaginária que se encontra nocentrodoespaçoentreelas,éoequadorterrestre.

Os principais cargos de dirigentes de uma Loja já sofreraminterpretações místicas, nem sempre aceitas, mas, todavia, mencionadas.Esses cargos seriam associados ao misticismo religioso mesopotâmico,atravésde sua representaçãoastronômica, englobandoos sete “planetas”conhecidos na Antiguidade – Sol, Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter eSaturno.Destamaneira,teríamos:

OVenerávelMestre(ouPresidente)éassimiladoaoplanetaJúpiterque no panteão dos deuses babilônicos era o régio senhor dos homens;simbolizaasabedoria.

O 1° Vigilante (ou 1° Vice-Presidente) é assimilado ao planetaMarteque,comodeusmesopotâmico,eraosenhordaguerra;simbolizaaforça.

O 2° Vigilante (ou 2° Vice-Presidente) é associado ao planetaVênus, feminilizaçãonamitologiababilônicaequeeraadeusamágicadafertilidadeedoamor;simbolizaabeleza.

OOradoréassimiladoaoSol,poisdeleemanaa luzcomoguardadaleimaçônica,queé,alémderesponsávelpelaspeçasdeoratória.

OSecretárioéassimiladoàLua,poisnaconfecçãodasatas,refleteasconclusõeslegaisdoOrador(oSol).

O Tesoureiro é assimilado ao planeta Saturno, o deus babilônicofrioecruel;comseus“anéis”,simbolizaariqueza.

OMestredeCerimôniaséassimiladoaoplanetaMercúrio,odeusvelozeastuto,poisesseoficialmaçônico,semprecirculandopelo templo,como elemento de ligação, imita o planeta quemais rapidamente circulaemtornodoSol.

Todavia, sem sobra de dúvidas, a maior influência mística dacivilizaçãomesopotâmicasobreaMaçonariaéaquelareferenteaocultododeusagrárioDumuzi,precursorde todasas lendas sobreosmistériosdamorteeressurreição,incluindo-sealendaegípciadodeusOsírisealenda

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grega da deusa Deméter (Ceres, dos romanos), inserida nos chamados“MistériosdeEleusis”,ordeminiciáticadaGréciaAntiga.

Sendo a Maçonaria, uma instituição iniciática hermética, queensina a sua ciência e a sua doutrina através de símbolos, de altosignificado espiritual e esotérico, ela também, como outras ordensiniciáticas,consideraa iniciaçãocomoosímbolodamortedoiniciadoeoseurenascimentoemumplanosuperior,maisespiritualizado.O iniciado,por suas sucessivas e simbólicas mortes e ressurreições, chegará àplenitudedosensinamentosesotéricos,alcançando,então,atranquilidadeeapazdomaiselevadomundodaespiritualidadehumana.

Dizem,muitosautores,queissoébaseadonalendadeOsírisenosMistériosdeEleusis.Todavia,comoessaslendassimbolizamaeternidade,através da imortalidade do espírito, elas nada mais são do que umaextensãodomitodeDumuzi.Aceitandoessaslendasemitoseincluindo-osemsuadoutrinamoraleanagógica,aMaçonariaaceitaa imortalidadedaalma, princípio que, ao lado da crença em um ente criador supremo,dominaaestruturametafísicadamaioriadosritosmaçônicos,comexceçãodosritoschamadosracionais,ouadogmáticos.

Do culto do deus agrário Dumuzi e da lenda egípcia de Osíris,originou-se na Maçonaria, a lenda de Hiram Abi – embora existaminfluênciasdeoutraslendasmedievaisdasorganizaçõesdeconstrutores–que,pelalenda,teriasidooconstrutordoprimeiroTemplodeJerusalém(odeSalomão),comoseveráadiante.

[1]Zênite,doárabesamt:caminho,direção,designaopontoemqueaverticaldeumdeterminadolocal corta a esfera celeste acima do horizonte. Nadir, do árabe natir: ponto diametralmenteoposto a outro, designa o ponto diametralmente oposto ao zênite. É o ponto do céu, situadosobre a vertical do lugar, do lado da Terra em oposição ao ponto em que estiver colocado oobservador.

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IV

AMÍSTICADOANTIGOEGITO

HISTÓRIAEGÍPCIA

Apenas começamos a conhecer, realmente, o Egito, a partir de3.200a.C.,nãoexistindo,todavia,qualquersoluçãodecontinuidadeentreoNeolíticoeafasehistórica,jáqueopaísrevela-se,aomesmotempo,antigoecontínuo.

AntesdoIVmilênioa.C.,homensvindosdoSaara,queseressecavarapidamente, foramseestabelecendoemtornodorioNilo,numsoloqueeraumverdadeirooásis,empeloclimasaariano,fértilecultivável,graçasàs inundações do rio, regulares e extremamente ricas em húmus. Aconfiguração da região, entretanto, tornava precária uma unidadeterritorial, havendo, então, inicialmente, umadivisãonatural entreoAltoEgito,cercadopelosrebordosdosdesertosdaLíbiaedaArábia,eoBaixoEgito,formadopelodeltadoNilo,umlargoleque,repletodecharcos,que,muitasvezes,tornavamdifícilacirculação.

Depois de curto período proto-histórico, assinalado pelapredominância de povos asiáticos, vindos pelo istmo de Pelúsio, umarevolução nacional realizou, do sul para o norte, a unificação do Egito,fundindo,emumasó,assuascoroas:avermelha,doBaixoEgito,eabranca,doAltoEgito.Iniciava-se,então,aprimeiradinastiadoAntigoImpério,como reiMenés–quemuitos chamamdeManu– tendo,por capital,Tinis.ApartirdaIIIdinastia,acapitalseriatransferidaparaMênfis,juntoaodeltadorioNilo.Assim,asduasprimeirasdinastiasforamchamadasdetinitas,enquantoasrestantes,doAntigoImpério,sãoasmenfitas.

ÉduranteoreinadodasIII,IVeVdinastias–correspondentes,notempo,aoperíodoacádiodaMesopotâmia–queseencontraoapogeudoAntigo Império, entre 2.700 e 2.400 a.C. Na III Dinastia, o maior rei foiDjeser, assessorado por seu ministro Imhotep, que, mais tarde, seriadivinizadoeassimiladoaEsculápio,naépocalágidadaGréciaArcaica.NaIVdinastia,sãoencontradososconstrutoresdaspirâmides:Khufu,KhafraeMenkhaura,chamados,pelosgregos,respectivamente,deQuéops,Quéfrene Miquerinos. A V dinastia assinala o início da decadência do Antigo

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Império,pois,nela,jáéencontradooiníciodateocracia,implantadopelossacerdotesdacidadedeHeliópolis(nomedado,pelosgregosequesignifica“cidade do Sol”), fanáticos seguidores do deus Rá (o Sol), que suplanta,politicamente,odeusPhtá,deMênfis.

AdecadênciadoAntigoImpério iriaatéàXdinastia,porvoltade2.250 a.C., quandohaveria o esfacelamentodoEgito e, posteriormente, asupremacia da cidade de Tebas, iniciando-se o Médio Império, sob adireção dos faraós[1] tebanos, dos quais os maiores foram os da XIIdinastia, a dos Amenemat e dos Senusret. O fim doMédio Império seriaassinalado pela invasão dos hicsos, povo de origem semita e que seria oprincipal responsável pela ida dos hebreus aoEgito. Ao final do domíniodoshicsos, suplantados,que forampelos faraós tebanos, inicia-seoNovoImpério,cujosprincipaissoberanosforamTutmésIII,RamsésIIeAmenófisIV.Esteúltimo,quereinoude1370a1.352a.C.,passouàHistóriacomoosoberanoqueousouquebraroexcessivopoderiodossacerdotesdeÁmon,tornando-se ummístico do Sol, simbolizado por seu disco (Áton); assim,mudou seu nome para Aquenáton e a sede do reino, de Tebas paraAquetáton(“horizontedodisco”),conhecidapelonomedeTel-el-Amarna,tentando tornar universal a sua religião solar monoteísta. Seu sucessor,todavia, quase uma criança, pressionado pelo grande poderio da classesacerdotal, voltou a Tebas e mudou o seu nome, de Tutancáton paraTutancámon,restaurandoocultodeÁmonesatisfazendoaosverdadeirosdominadoresdoEgito.

Posteriormente, a nação egípcia seria esfacelada pelas grandesinvasõesdeseuterritório,pelosassírios,persas,macedôniose,finalmente,pelosromanos,quandodeixariadeexistircomounidadenacional.

ARELIGIÃOEOMISTICISMOEGÍPCIO

Ateocracia,comoseviu,dominou,praticamente,todaaHistóriadoEgito Antigo, o que iria gerar conceitos religiosos arraigados e práticasmísticas, ainda pouco conhecidas, mas vastamente explorada pelosmísticoscontemporâneos,mesmosemcomprovação.

AoanalisaroEgito,ohistoriadorgregoHeródotoassimescreveu:“ComoocéudoEgitoédiferentedocéudequalqueroutro lugar,

como o Nilo não é como os outros rios, assim os rituais e costumes dosegípcios são, emquase tudo, diferentesdos outrospovos. Eles sãomuito

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devotos,maisdoqueoutrospovos”.Esse é o traço marcante da civilização egípcia, onde tudo tinha

caráter religioso e, quase sempre, a serviço do culto aos mortos, pois apreocupaçãocomoalémdominavaomisticismoegípcio,estandopresente,inclusive,nasArtesenaArquitetura.

OmonumentalismodaArquitetura,agrandeespessuradosmurosdos templos e um grande número de colunas que ocupam quase todo oespaço interno são a expressão máxima da arte religiosa egípcia. Aocontráriodas colunasgregasquesuportamumentablamento, asegípciasnão necessitam escorar tetos pesados, tendo, mais, um valor simbólico.Todasasformasdaspartesarquitetônicassãomaisdeterminadaspeloseuvalorsimbólicodoqueporsuafunçãoestética;ostemplosrepresentavamumaimagemsimbólicadomundo,comotetorepresentandoofirmamentoeopiso,aTerra,daqualbrotamascolunascomogigantescospapiros.CombasenessaconcepçãoéqueasLojasmaçônicastambémrepresentamumaimagemsimbólicadomundo.

Asesculturaseaspinturasdosfaraóseoutrosdignitáriostambémpossuíam um caráter místico, pois representavam uma manifestaçãomágica,garantindo,aoretratado,avidaeterna.

Como a arte religiosa é monumental, carregada de símbolos e,principalmente, conservadora, a arte egípcia permaneceu praticamenteimutávelduranteos séculosemilêniosqueduroua civilizaçãodoAntigoEgito.Dentreasobrasmonumentaisegípciasdestacam-se,obviamenteasfamosospirâmidesdeGizé,próximasaodeltadoNilo,construídasdurantea IVDinastiadoAntigo Império (cercade2.600 a.C.) pelos faraósKhufu,KhafraeMenkhaura.Essaspirâmides,principalmenteadeKhufu,queéamaior e chamada de Grande Pirâmide, despertam, até hoje, com base noelevadograudemisticismodopovoegípcio,grandeselucubraçõesmísticase pseudocientíficas, muitas vezes absurdas e afastadas da realidadehistórica.

O forte caráter religioso que dominou o Egito Antigo, já se fazpresenteeébemdefinidonoprópriopoderreal,desdeosseusprimórdios:o Faraó (“Senhor da Casa Grande”) era considerado um deus, filho deHórus, amado de Amon e filho de Rá. Na sua pessoa divinizada,combinavam-se as contribuições dos antigos reinos do norte e do sul,simbolizadaspelasduascoroas(avermelha,doBaixoEgito,eabranca,doAltoEgito)epeloentrelaçamentoàvoltadopilarsagrado,dasduasplantas

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sagradas egípcias, o lótus e o papiro, e dos dois emblemas, o caniço e aabelha.

Inicialmente o deus governante não era dependente da classesacerdotal;posteriormente,comafixaçãodateocracia,todooaparelhodoEstadoera,francamente,dominadopelossacerdotesquerepresentavamaclassedominanteeaúnicaateracessoaosmistériosmaioresdocultoedamagia.

A teologia egípcia baseava-se nas fontes populares e tinha seusprimórdiosnapré-história;nazoolatria, sobreviveramcrençasantigasdeadoraçãototêmica:doíbis,docrocodilo,dochacal,doleão,doabutre,etc.,animais transformados em demônios e deuses. As forças da natureza, osastros, as forças da alma humana transformaram-se em deuses vivos,proporcionando um incalculável número de divindades no mundosobrenatural.

Apartirdaí,pode-sedistinguir,emlinhasgerias,duasmodalidadesdistintas na religião egípcia: a popular e a sacerdotal, representada, estaúltima,pelasdoutrinasesotéricasdossacerdotes,nãoacessíveisaopovo.

A religião popular que encontra as suas origens no Neolíticoreconheciamúltiplosdeuses,representados,simultaneamentesobaformaanimal e antropomórfica; o totemismo é o culto dos totens e, esses, sãoanimais, plantas, objetos ou fenômenos naturais, a que certos povosprimitivos se julgavam ligados de forma sagrada, sendo vedado atentarcontraeles.

Acaracterísticaprincipaldessareligiãopopulartotêmicaeraoseuregionalismo, pois cada unidade territorial do Império egípcio possuía oseu deus-rei, representado, com frequência, acompanhado de um animal,queseriaasuaencarnaçãovisívelaoshomens.

Os deuses populares do Norte seguiam mais essa característica,como se pode perceber em Hórus (falcão), do Delta; Toth (íbis), deHermópolis;Hator(vaca),deDendera,etc.;osdeusesdoSul,aocontrário,erammaispolíticosehumanos:Min,deCoptos;Amon,deTebaseConsu,odeus-lua,deHermonte,filhodeAmon.

Todosessesdeuseslocaisseguiramodestinopolíticodoseulugardeorigem;destamaneira,houve, apartirdaVDinastia, a supremaciadodeusRá, deHeliópolis, damaneiraque, naXIIDinastia, o deusAmon, deTebas,tornou-seosupremo,propiciando,posteriormente,umsincretismo,sobaformadeAmon-Rá.Diga-se,todavia,abemdaverdade,que,durante

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muito tempo,as crençaspopulares ligaram-se somenteaosdeuses locais,ignorandoodogmatismoeateologianacional impostapelossacerdotesepelopoderreal.

Aoladodessareligiãopopular,impregnadadezoolatriaedemagia(através dos amuletos), encontravam-se as doutrinas esotéricas dossacerdotes de Hermópolis e de Heliópolis, originando cosmogoniascomplexas. Segundo o dogmatismo sacerdotal, os deuses podiam ficarvelhosemorrer;osseusfilhospodiamherdarosseuspoderesefunçõesegerar os descendentes com as próprias mães, sendo, estas, a parteconstanteda tríadepai,mãe e filho; as tríadesdedeuses formavamumaenéade. Originavam-se daí, muitas confusas cosmogonias, como a dacriaçãodomundo,atravésdosOitoouNovedeusesprimordiais(OctóadeouEnéade)saídosdocaosprimitivo.

Otraçomarcantedavidareligiosadopovoeraapreocupaçãocomoalém, comodestinodohomemdepoisdamorte física.Acreditavamosegípciosque,apósamortecontinuavamavidaemumoutromundo,desdequehouvesseanecessáriaconservaçãodocorpo, comomoradiadaalma.Dessa crença, surgiu apráticade embalsamar emumificar os corposdosmortos que, a princípio, atingiu as personalidades mais ilustres,estendendo-se,depois,aopovo,emboraasofisticaçãodométodoestivesse,sempre,relacionadacomaescalahierárquica.

Alémdamumificação, osmortospassavampara a outra vida emcompanhia de tudo aquilo que lhes havia pertencido na Terra e que iriaservir-lhesemoutraexistência.Aprincípio,ofinadodealtaclassenãoeraencerradosozinhonasua tumbaque imitavaumverdadeiropalácio real:junto com ele, eram encerrados seus criados, suas esposas, concubinas eoficiais. Isso, evidentemente, ocorria mais com os faraós, pois, morto ofaraóqueeraodeusvivo,filhodeHóruseosolparaosmembrosdacasareal,todosestesdeviammorrer,também.Posteriormente,essesistemafoiabandonado,implantando-seoutro,apenassimbólico:nolugardaspessoaseraminumadasestatuetas–ushabtis–queasrepresentavam.

Em relação com essa preocupação religiosa com o além, pode-senotar,nahistóriaegípcia,umaevoluçãoemrelaçãoàparticipaçãodopovo.NoAntigo Império, apenas o faraó tinha acesso à vida além-túmulo, pelasua identificação, primeiro a Osíris e, posteriormente, ao deus-sol Rá.Todavia, a partir do Médio Império, os altos funcionários e, depois, oprópriopovo,passouagozardessa regalia, soba condiçãode terem tidoumavidabaseadanajustiçaenaretidão;desenvolveu-seentãoadoutrina

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de se efetuar o peso das almas – psicostasia – acompanhadas, porém,progressivamente de práticas de magia, com a finalidade de dissipar asameaçasdo fatal julgamento.Nota-seassimqueoprogressona sendadamoral da vida, totalmente racional, foi praticamente substituída pelorecursoàmagia,práticaquedominariacompletamenteeperenementeoscostumes egípcios, fazendo com que se torne discutível a contribuiçãoegípcianocampointelectualecientífico.

Emborafossemuitoconfusooconceitododeus-sol,tendo,oastro,diversas representações – Rá, Amon, Hórus, o sol nascente no horizonte,etc.,ocertoéqueeleeranumcertodesvioparaomonoteísmo,odeusdoImpério unificado e o Senhor do Céu e dos deuses. Havia, entretanto,apenas um deus egípcio, cuja importância, no panteão do Egito, erasemelhanteadodeus-sol:

Osíris,deusdafertilidadeedoReinodosMortos,cujalendatinhagrande sucesso entre o povo, preocupado com o além, poismostrava osmistériosdamorte eda ressurreição, comooutras lendas, incluindoadeDumuzi,dospovosantigos.

Foi Plutarco que deu, no primeiro século da era cristã, amelhorversão da lenda de Osíris, confirmada, depois pela tradução dos textoshieróglifos.Emresumo,elacontaoseguinte:

Osíris foi um grande rei egípcio, muito sábio e bondoso, cujapreocupação era civilizar o povo e tirá-lo de seu primitivo barbarismo.Ensinouele,portanto,aoshomens,ocultivodaterra,ocultodosdeuseseosfundamentosdalei.DepoisdeconcluirasuaobranoEgito,foitransmitirosmesmosensinamentosaoutrospovos,enquantoque,emsuaausência,opaísera governado por Isis, sua esposa, que enfrentava a inveja e os instintosmalévolosdeSet,ouTifão,irmãodeOsírisepersonificaçãodomal.

Quando Osíris regressou ao Egito, Set tramou uma conspiraçãocontra ele, conseguindo convencer outras pessoas a auxiliá-lo. Tendoconseguido tomar as medidas do corpo de Osíris, mandou construir,secretamente, um caixão com essas medidas; e, durante uma festividade,trouxeocaixãoatéaocentrodeseusalãodebanquetes,onde,entreoutrosconvivas,estavaOsíris,e,emtomdebrincadeira,prometeudá-lodepresenteàquelecujocorposeajustasseaocaixão.Todososconvidadosatenderamàbrincadeira e fizeram a experiência, sem que nenhum deles tivessecorrespondidoàsmedidas.ChegadaàvezdeOsíris,estesedeitounocaixãoe,imediatamente, Set e seus sequazes fecharam, firmemente, sua tampa,

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soldando-acomchumbo,apósoqueojogaramnaságuasdoNilo.Isis, tomando conhecimento do fato, vestiu-se de luto e saiu à

procuradocorpodeOsíris,poissouberaqueocaixãohaviasidocarregadoaté a Biblos, no delta do Nilo, onde se enroscara numa tamareira, quecrescera, enormemente, em torno dele, ocultando-o; devido ao grandetamanhodaárvore,o reidaquelaregiãoahaviacortadoea transformaranumacoluna,parasustentaropesodoseupalácio.

Assim,foi,Isis,paraBibloseempregou-secomoamadeumdosfilhosdorei;e,emtodasasnoites,elacolocavaacriançano fogo,paraconsumirsuas partes mortais, enquanto se transformava numa andorinha, paralamentaramortedomarido.Emcertaocasião,porém,arainhaviuseufilhoemchamasegritou,angustiada,privando-o,assim,daimortalidadequelheseria concedidapor Isis.Adeusa, então, revelou-seà rainhae solicitouqueesta lhe desse a coluna que sustentava o teto do palácio. Atendida, elaretornouaoEgito,levandoocaixãocomocorpodeOsíriseocultando-oemlocalsecreto,enquantoprocuravaseufilhoHórus.

Todavia,certanoite,enquantocaçava,Set,casualmente,encontrouocaixão e, reconhecendo o corpo de Osíris, cortou-o em quatorze pedaços eespalhou-osportodooEgito.Aotomarconhecimentodisso,Isisconstruiuumbarcodepapiroetratoudeprocurarejuntartodosospedaçosdocorpo.

Osíris,comseucorporeconstituído,voltoudoalémeordenouaoseufilho,Hórus,quelutassecontraSet.Obedecendo,Hóruslutoucomoassassinodeseupai,duranteváriosdias,atévencê-lo.Osíris,então,tornou-seodeuseojuizdoreinodosmortos.

Essa lenda é, indisfarçavelmente, decalcada nosmitos solares, jáque, segundoela,Osíris foiassassinadono17°diadomêsdeHator,dataquemarcavaocomeçodoinverno.Assim,elamostraoSol(Osíris),mortopelas forçasdas trevas(Set),pararenascer,posteriormente,completandoum novo ciclo, que é, também, representado pelas sucessivas mortes erenascimentosdosvegetais,deacordocomainfluênciasolar.

IssomostraqueaAstrologiaeramuitopraticadanoAntigoEgito,trazendo,comoconsequência,grandesconhecimentosastronômicos.Jánoterceiromilênioa.C.,osegípcioselaboraramumcalendáriosolar,queeraomaisperfeitodaAntiguidade,permitindo-lhes, inclusive,prever as cheiasdo rio Nilo. Desde essa época, no Egito, praticava-se uma forma muitomísticadeAstrologia,totalmentedependentedoeixoeconômicoereligioso

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de sua civilização, ou seja, o Nilo. O rio era a fonte de toda a vida e osegípcios acreditavamque as cheias, que traziam fertilidade a uma regiãoque seriaestéril semele, eramativadaspelaação combinadadoSol edeSirius,tendo,estaestrela,emrazãodisso,assumidograndeimportância.Aspirâmides, construídas durante a III Dinastia do Antigo Império, tinhamduplafinalidade:monumentofunerárioecalculadoresastrológicos.

AABÓBADAESTRELADANOTETODALOJA

AAbóbadaEstreladarepresentaocéunodia21demarço,duranteoequinóciodeprimaveranoHemisférioNorte

Ao faraó Ramsés II[2], um dos maiores do Novo Império, é

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atribuída a responsabilidade pelo estabelecimento dos quatro signoscardeais do Zodíaco: Áries, Libra, Câncer e Capricórnio. Era grande ointeresse desse soberano pela Astrologia e, em decorrência disso, fezdecoraroseutúmulocommotivosesímbolosastrológicos(1.236a.C.).

RamsésVIfoi,também,umnomeimportantenaAstrologiaegípciae,emsuatumba,apareceumnotávelmapaestelar,confeccionadonaformadeumhomemsentado.

Todo o misticismo egípcio foi, sempre, decalcado no politeísmo;todaviaumdosfaraósmaismísticosdesuahistóriafoi,justamenteaqueleque tentou introduzir e impor omonoteísmo solar: Amenófis IV, omaisoriginalediscutidodosfaraósquereinoude1.370a1.352a.C.EmpenhadoemquebraroexcessivopoderiodossacerdotesdeAmon,eleabandonouapolítica externa e a administração para se tornar um místico do Sol,simbolizadoporseudisco–Áton–cujosraiosespalham,portodaparte,aalegriaeafelicidade.

AmenófisIVadotouonomedeAkenátonedeixouTebas,ondeseencontravaasededogovernofaraônico, instalando-senanova localidadede Aketáton (“horizonte do Disco”), conhecida sob o nome de Tel-el-Amarna.Ocultofoirenovadosegundoasagressivastendênciasnaturistasemonoteístas;parecequeteologicamente,Akenáton,contraoAmontebano,o Rá-Haractés de Heliópolis, simplificando-o, para tornar sua religiãouniversal. Não se sabe, até hoje, se essa iniciativa do faraó foi apenas aexpressãodepoderosamísticapessoal,dodesejodereforçaramonarquia,ou,atémesmo,doplanoimperialistadeassociartodooOrienteaoredordeuma figura egipcianizada do Sol, comum a todos os povos. De qualquermaneira,aexperiênciapoucodurou:comamortedosoberanoenafaltadeherdeirosmasculinos,subiuaotronoMerit-Aton,filhamaisvelhadofaraó,não tendo, o seu reinado durado muito, pois junto com seu marido,Smenkhare,foiassassinada;comisso,sobeaotronoogenrodeAkenáton,casado com sua filha Anksenpaáton. Esse genro tinha o nome deTutancáton e assumiu o governo com apenas nove anos de idade,tornando-se presa fácil dos sacerdotes de Amon; sob a influênciasacerdotal, ele restabeleceu o culto de Amon e mudou seu nome paraTutancamon.

MISTICISMOEGÍPCIOEMAÇONARIA

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A influência do misticismo egípcio sobre a Maçonaria é, em suagrandeparte,similaràinfluênciamesopotâmica,noqueserefereaocultosolar e àAstrologia, sendode sedestacarqueohábitodedecoraro tetomaçônico com estrelas, planetas, o Sol e a Lua é de origem egípcia, poisimitaotemplodeLuxorqueapresentavaotetotodoestrelado(comojáfoirelatado,os templosegípcioserama imagemsimbólicadomundo,comotetorepresentandoocéu).

Amaispalpávelinfluênciamísticaegípcianomisticismomaçônicoé sem sombra de dúvidas, representada pela lenda de Osíris que deuorigem à lenda moral do Terceiro Grau maçônico, o grau de Mestre (oprimeiro e o segundo graus são, respectivamente, o de Aprendiz e o deCompanheiro),tambémchamadaLendadeHiram.

Segundoalenda,quandoSalomãoresolveuconstruiroTemplodeJerusalém,solicitouoauxíliodeseualiadoHiram,reidacidadefeníciadeTiro; este então lhe enviou Hiram Abi (“Hiram, meu pai”) que seria omestreresponsávelpelaconstruçãodoTemplo.

Hiram,então,dividiuosseussubordinadosemtrêscategoriaisdeartesãos,deacordocomasaptidõesdecadaum;essastrêscategoriaseramas de Aprendiz, Companheiros e Mestres. Hiram também dava aoportunidade dos artesãos subirem de categoria, de acordo com os seusméritoseosseusesforços.

Existiram,todavia,trêscompanheiros,quesemotemponecessárioe semméritos, desejavam ascender à categoria de Mestre, necessitando,para isso, da palavra do grau, ou da categoria, chave da ascensão aomestrado; negando-se Hiram a revelar esse segredo, os três mausCompanheirosoassassinarameesconderamoseucorpoqueseriaachado,posteriormente,pelosMestresenviadosporSalomão,paraessefim.Hiram,então,reconstituídorenascenoplanoespiritual,àsemelhançadeOsíris.

Essalendaencerraduasliçõessociais,ouseja:acadaum,segundoas suas aptidões e a cada um, segundo os seus méritos; essas liçõesenvolvemumacentuadosensodejustiça,queéumadasmetasprimordiaisdaMaçonaria,jáqueessetipodejustiçaquaseinexistenomundo,ondeháuma inversão de valores, quase generalizada, e, onde a ascensão doshomens,demaneirageral,sefazpormeiosespúrioseantiéticos,atravésdopodercorruptordapecúnia,oudaspressõesfísicasementais.

Além das lições sociais, ela mostra o misticismo em torno dosmistérios da morte e do renascimento no plano espiritual, como ocorre

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comalendadeOsíriseoutraslendassemelhantesdomundoantigo.AlendadeHiramAbi,evidentemente,ésóumalenda,semnadade

verdadeiro, já que Hiram era um hábil entalhador de metais, mas nãoconstruiu o templo. Seu trabalho teria sido – e assim confirma o textobíblico–odedecorarascolunaseosobjetosmetálicosdotemplo.Tambémnão consta que tivesse sido assassinado. E, por último, é claro que nãoexistiaMaçonaria naqueles recuados tempos – ela émedieval – e nem adivisãodeobreirosemAprendizes,CompanheiroseMestres.

Ainda com relação à lenda de Osíris, alguns autores citam aexpressão “filhos da viúva”, para designar os maçons, já que eles seidentificariamcomHórus,filhodeÍsis,aMãeUniversal,apersonificaçãodaNatureza,viúvadeOsíris,odeusdosmortosea representaçãoda luzdoSol. Mas deve ser considerado, também, no caso, o fato de Hiram Abi, apersonificação do mestre perfeito, ser filho de uma viúva, da tribo deNeftali.

As colunas vestibulares das Lojas maçônicas também mostraminfluências egípcias, não tendo qualquer semelhança com as colunas dotemplode Jerusalém,de acordo comadescriçãobíblica. Elas sãodo tipobabilônico,jáqueosegípciossofreraminfluênciadaBabilônia,masosseuselementosprincipaissãoegípcios,comaornamentaçãolembrandoolótuse o papiro[3], as duas plantas sagradas do Antigo Egito, que seencontravam entrelaçadas à volta do pilar sagrado, simbolizando ascontribuiçõesdoAltoedoBaixoEgito,napessoadivinizadadofaraó.

Essas são as principais contribuições do Antigo Egito para aconcretizaçãodomisticismomaçônico.Nãosepode,todaviaencerrarestecapítulo semuma referênciamais específica à Grande Pirâmide (amaiordas três grandes pirâmides de Gizé: a de Khufu ou Queóps), motivo deincontáveisespeculaçõesmísticas.

EmrelaçãoàMaçonaria,muitosautores,desprezandoarealidadehistórica e afundandonum totalmisticismo falamdosMistériosEgípcios,cujo centro principal, para sua execução pública, era a grande pirâmide,chamadaKhut(aLuz)queteriasidoconstruídasegundorigorososcálculosastronômicos e matemáticos para os ritos iniciáticos astronômicos ematemáticos para os ritos iniciáticos e como chave para os enigmas doUniverso,75.000anosa.C.,pelopovodaAtlântidaqueteriaocupadoovaledoNilohá150.000anos.

Aafirmaçãoépassíveldecríticaporváriosmotivos:

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1.OmitodaAtlântida,introduzidonaculturaocidentalporPlatão,permanece comomito, pois não teve, ainda comprovação, servindo paratodagamadeespeculações.SuahistóriafoicontadapelaprimeiravezporPlatão comoumaparábolapara exemplificar comooCéu castiga aquelesque adoram deuses falsos; ao mesmo tempo, o filósofo grego sugeria aautenticidadedanarrativa,aqualseriaareminiscênciadeumcataclismaterrível,cujahistóriafoitransmitidaoralmenteaolongodosséculos.

Admite-sehojequeoquedeuorigemaomitodaAtlântidafoiumaexplosãovulcânicadailhadeKallisté,atualmenteconhecidaporSantorini,a qual produziu uma vaga sísmica que devastou a maior parte daflorescente ilha de Creta; esta se encontrava na era minoica, a idade deourodesuacivilização.

Não sendo grandes navegadores, os egípcios recebiam muitasvisitasmarítimasdoscretensesesabiamqueelespossuíamumacivilizaçãomuito avançada em relação à sua época, onde existia igualdade entre oshomens e as mulheres – enquanto no resto do mundo a mulher eraconsiderada como uma propriedade – e onde havia água canalizada e seconstruíam complexos sistemas de esgotos, enquanto os outros povosdependiamdepoços.

Os egípcios certamente tiveram conhecimento da catástrofe queatingiu Creta, já que isso afetava a sua economia, muito dependente docomércio marítimo cretense, e os navegadores haviam desaparecidosubitamentejáqueosseusbarcosnãovoltaramaosportosdoNilo.Destamaneira, para os antigos egípcios aquela ilha rica e fértil, a noroeste,deixaradeexistir,sendoalembrançadesuaextinção,ligadaàmemóriadagrandecatástrofequeabalaraazonalestedoMarMediterrâneo.AínasciaomitodaAtlântida.

Isso ocorreu por volta de 2.500 a.C. e é preciso notar que aavançadacivilização,descritaporPlatão,na lendadaAtlântida,apresentanotável semelhança com a sociedade minoica, de acordo com asdescobertasfeitasnailhadeCretapeloarqueólogoinglêsSirArthurEvans,em1.900.

Cretaeraumprósperoimpério,aprincipalpotênciamediterrâneae local onde floresceu a primeira e mais original forma de civilizaçãorequintada do Ocidente. Platão não poderia ter reconhecido no mito daAtlântida, essa civilização cretense de antes da catástrofe, a civilizaçãominoica,poiselaeradesconhecidanaGréciadaAntiguidadeClássica,que

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sóconheciaospovosposterioresdailha.2. Há 150.000 anos, conforme já foi esclarecido, a Humanidade

encontrava-se no PaleolíticoMédio, sendo representada pelo Homem deNeanderthal, que povoaria a terra até cerca de 40.000 anos a.C., sendomuito diferente, culturalmente do Homo Sapiens, não tendo meios,portantoparaconstruirgrandesmonumentoscomoaspirâmides.

3. A Grande Pirâmide, apesar de todo o seu tamanho e volume(ocupandoumaáreade5,5hectares,comumabasede228metrosdeladoecomumaalturaprimitivade146metros),temnarealidademuitopoucoespaçovazio:aCâmaradoReieaCâmaradaRainha,nocorpodapirâmide(háoutracâmarasubterrânea),alémdecorredoresdeacessoecondutoresdeventilação.Naverdade,comoapirâmideeraummonumentofunerário,construindo por volta de 2.500 a.C., tanto a câmara subterrânea, como aCâmaradoRei(estasituadaa42metrosdealtura)eaCâmaradaRainha,eram destinadas ao faraó, caso ele morresse antes de ser terminada aconstrução,oumelhor,antesqueaverdadeiracâmaramortuária(adoRei)estivessepronta.

Asduascâmarasdocorpodapirâmidesãobastantediminutas:amaiordelas(aCâmaradoRei),ondefoiencontradoumsarcófagovazio,degranito vermelho, tem apenas, cinquenta metros quadrados (05 por 10metros). Ora, seria um contrassenso destinar um local tão pequeno, emrelaçãoàgrandezade todoomonumentoparaaexecuçãodoschamados“Mistérios”.

Alémdisso, os arqueólogosencontraram, sobreaCâmaradoRei,cincopequenoscompartimentos,bastantebaixose superpostos, comseismetrosdelargura,destinadosaservirdeamortecedores,paraaliviarotetoda câmara da tremendo pressão exercida pelas toneladas de pedra e,também,paraque,emcasodealgumcataclisma(terremoto,porexemplo),que chegassem a despedaçar o corpo da pirâmide, as pedras nãoatingissemointeriordacâmara,mostrandoaevidentepreocupaçãocomoconteúdodamesma,ouseja,ocorpodeumgrandegovernanteetodososseusobjetosdeusopessoal,dadaacrençaegípciadeque,apósamorte,ohomemdesfrutariadeumavida,noalém,semelhanteàdaterra,paraoqueseriamindispensáveisoseucorpoeosseusbensterrenos.

Alguns autores ocultistas, que querem fazer crer que a GrandePirâmideerausadaparaapráticaderitosiniciáticos,usam,paracontestaradestinaçãofúnebredaconstrução,oargumentodequeexistiamcondutos

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de ventilação, que iam desde o exterior até as câmaras; dizem eles: “osmortosnãorespiram,logonãoprecisamdear”.Oradefato,essescondutosforamconstruídosparaos vivos,masparaos vivosque trabalhavamnasobrasenãoparaosadeptosdos“mistérios”;sobaquelesimensosblocosdepedra, o ar era extremamente rarefeito e, assim, os operários, quetrabalhavam nas câmaras necessitavam do ar que vinha através doscondutos.Alémdisso, essesmistificadoresesquecem-se, sempre,dedizerque quando os homens do califa Al Mamum, no ano 820, conseguiramentrar na pirâmide, encontraram os condutos de ventilação nas câmarasintencionalmente obstruídos, por pedras ali colocadas, mostrando queexistiam para os operários da construção e que foram fechados quandoperderamasuautilidade,ouseja,quandoascâmarasficaramprontas.

As pirâmides, garantia da imortalidade dos faraós que asocupavam, forammuitousadas, comomonumentos funerários, duranteoAntigo Império Egípcio. A primeira grande tumba real, em forma depirâmide, foiconstruídaemSacará,próximadeMênfis,duranteoreinadodeDjeser,porvoltade2.650a.C,essatumbaconhecidacomoPirâmidedosDegraus,marcaaspassagensdaarquitetura egípciados seusprimórdios,em tijolo e madeira, para as construções monumentais de pedra. Elarepresentouo iníciodeumaerademonumentos,eoprojetodeImhotep,paraaconstruçãodotúmuloreal,seria,posteriormente,aperfeiçoadopelosseussucessores,culminadocomaspirâmidesdeKhufu,KafraeMenkaura.

Os chamados Textos da Pirâmides, hieróglifos gravados emcolunas de pedra, encontradas na pirâmide do faraó Unas, em 1881,referem-secombastanteprecisãoaoconceitodequeapirâmideseriaumaescadariadivinaqueconduziriaaocéu;aformadasgrandespirâmidesdeGizé, inclusive, poderiam ser interpretadas como uma representação dosraiosdosol,baixandodocéu,deacordocomosmitossolaresegípcios.

Conclui-se, enfim, pela rejeição da hipótese de que as pirâmides,principalmente a de Khufu, tivesse m servido como templos de ordensiniciáticas, ou para execução pública dos “mistérios”. Na realidade, apirâmidetípicaé,apenas,ocentrodeumcomplexodeedifíciosdestinadosàs cerimônias fúnebres; pouco acima da base, encontrava-se o templosuperior,destinadoaacomodarocorpodofaraó,sendoligadoaumtemploinferior,ousantuárioderecepção,ondeeramrealizadososritosdemagia,queasseguravam,aogovernantemorto,umavidaeternanoalém.

Embora seja extremamente difícil avaliar, com exatidão acontribuição dos antigos egípcios no terreno intelectual e científico,

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eruditosdeboa-féacreditaramver,naconstruçãodaspirâmides,ostraçosde extraordinários conhecimentos geométricos, astronômicos e, até,mágicos(algunsteóricosafirmamque,alémdetúmulo,aGrandePirâmideera relógio de sol, calendário e observatório astronômico). Hoje, nomeiocientífico,predominaaprudênciaeaseveridade,poisnenhumaciênciafoi,verdadeiramente,concebida,comotal,porespíritosdemasiadoreligiososemuito empíricos, comoem todooOriente antigo,parapoderemchegar àciênciapura,teóricaedesinteressada,quepermanececomoomaioremaisbelotítulodeglóriadopovogrego.

Foramosgregos,todavia,que,desdeHeródoto,fizeram,daciênciaegípcia,misteriosa,pelasuaignorânciadalínguadoEgito,emaisgrandiosapor causadas gabolices e ostentaçõesdos sacerdotes egípcios, uma ideiademasiadamenteelevada,não ratificada,nemcorroboradapela críticadomundomoderno.

PLANOSECCIONALDAGRANDEPIRÂMIDE

1.CâmaradoRei;2.Ante-Câmara;3.CâmaradaRainha;4.GrandeGaleria;5.Recintossuperpostos(amortecedores);6.Câmarasubterrânea(falsa);

7.Condutosdear.

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[1] Faraó, do egípcio Par-aã, significava “casa grande”. O faraó era, portanto, o senhor da casagrande.

[2]RamsésII(1301-1225a.C.),faraódaXIXDinastia,tambémconhecidocomo“oGrande”,erafilhodeSetiIegovernouoEgitodurante67anos.Sobasuadireção,opaísexperimentouumagrandeprosperidadeeconômicaeumaeradepaz,depoisdadecisivavitóriasobreoshititas,nabatalhadeKadesh(1272a.C.).Faraódaépocadoêxododoshebreusfoioresponsávelpeladeterminaçãodos signos astrológicos cardeais. Construiu Tebas e, por ordem sua e sob a sua direção, omajestoso Templo de Abu-Simbel foi esculpido na rocha, a partir de princípios astrológicos;tambémoseu imponentehipostilonoTemplodeÁmon,emKarnak, foi idealizadoemrelaçãoaospontosfixosdaesferaceleste.

[3]Papiro,dogrego:pápyros,pelolatim:papyruséumaplantadafamíliadasCiperáceas(Cyperuspapirus),cultivadaaolongodorioNiloecujashastessãoformadasporfolhassobrepostas.Osantigos egípcios separavam as folhas, utilizando-as para a escrita, depois de preparadas,convenientemente.Lótus,dolatim:lótus:loto,éumaplantadafamíliadasninfeias;é,também,onomeda flordessaplanta.Opapiroera,ao ladodo lótus,umadasplantassagradasdoAntigoEgito,pelasuaimportância,comofatorcivilizador,atravésdaescrita,neleimprimida,etambémpeloseucarátermístico: foinumbarcodepapiroque ÍsisdesceuoNilo,àprocuradosrestosmortaisdeseumarido,Osíris,assassinadoporSeth,ouTifão.

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V

AMÍSTICACRETENSE

HISTÓRIADECRETA

Creta, situada nomarMediterrâneo, é uma ilha com 8.378 km2,pertencendo,hoje,àGrécia(desde1913).

A antiga civilização da ilha de Creta começou a ser um poucoconhecidaapenasnoséculoXX,apartirdasescavaçõesfeitasporsirArthurEvans,queexumouopalácio realdacidadedeCnossos,em1900,últimoanodoséculoXIX.

Ela se mostra extremamente original e sedutora, através de suaarte e por uma espécie de euforia de vida, tipicamente mediterrânea. Éforçoso que se admita, todavia, que ela ainda nos é praticamentedesconhecida, pois só temos conhecimento de alguns fragmentos de suahistória, não sa sabendonemmesmoonomedeumrei, jáqueo famosonomeMinoscorrespondeaumtítulo,ouaonomedeumadinastia,enão,especificamente, a um determinado monarca. Torna-se, portanto,extremamentedifíciloconhecimentodosdetalhesdasociedade,doregimepolíticoedas crenças religiosasdopovocretense.Ahistória cretense,nodizerdePicard,éumautêntico“livrodefigurassemlegenda”.

Pode-se saber, entretanto, que se desenvolveu, em Creta, nosegundo milênio a.C., a civilização egeia, que serviu de base para acivilizaçãogregaequesedesenvolveudemaneirabrilhante,diferentedadoEgito e daMesopotâmia. Tanto o Egito quanto aMesopotâmia, vastaspotênciascontinentais, sujeitasa invasõesbélicasdoExterior, tiveramdecriar uma sólida estrutura militar, política e social, a qual levaria àimplantação da teocracia[1], com os reis semideuses e com as religiõescomomeiosdecoesãoterritorial.

Ao contrário, no mar Egeu, as condições existentes eram bemdiferentes: a população era diminuta e mostrava pouca homogeneidadeétnica, enquanto o território, pouco extenso, compreendia uma série depequenas ilhas, com estreitas faixas costeiras, onde a produção agrícolamaldavaparaatenderàsnecessidadesdapopulação.Olitoral,entretanto,apresentavaexcelentesportosnaturais,oque fez,dopovocretense,uma

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comunidadededicadaaocomérciomarítimo,oquepermitiuumaestruturagovernamentalmaisdescentralizadadoqueadaspotênciascontinentais.

Operíodochamadominoicoantigo,antesdosegundomilênioa.C.,deixou vestígios arqueológicos, na parte oriental da ilha e na planície deMessara,ondeforamencontradosrestosdecerâmicasubneolítica,vasosdepedraeobjetosdemetal,quemostramumainfluênciaasiática.

No período denominado minoico médio, no início do segundomilênio a.C. – entre 1700 e 1500 a.C. – encontra-se a época dos grandespalácios de Cnossos, Faistos e Malia, que seriam centros de principadosfeudais. Posteriormente, todos os palácios seriam incendiados,provavelmente em decorrência da incursão dos primeiros aqueus,chegados ao Peloponeso. Pouco depois seriam reconstruídos os palácios,iniciando-se, então, a supremacia de Cnossos, o que seria um ensaio demonarquiacentralizadora,dadinastiados“Minos”,porvoltade1450a.C.Éa época em que um soberano – “o príncipe dos lírios” – reina numcomplicadopalácio,querecebeonomedeLabirinto,deacordocomonomeoriental da dupla acha de armas, ou machado de dois gumes, o labris,emblemapolíticoe,principalmente,religioso,frequentementereproduzidonopalácio.Daí surgiua lendada construção,porDédalo,do labirinto,noqualestavaencerradooMinotauro[2].

Asmaioresinformaçõessobreacivilizaçãocretense,narealidade,nos chegaram através de sua arte, extremamente desenvolvida e que, aocontráriodaegípciaedaasiática,repudiaagrandiosidade,jáqueasfigurasrepresentadas raramente ultrapassam o tamanho natural. Além disso, asfiguras são sempre representadas em movimento, o que dá grandedinâmicaebelezaaoconjuntoartístico.

OMISTICISMORELIGIOSO

Através do estudo das estátuas votivas, pode-se deduzir que areligião era dominada por um princípio feminino de fecundidade, o quemostraria influências orientais: a divindade suprema é umaGrande-Mãe,servida por sacerdotisas de fartos seios, que manipulam serpentes,símbolos ctônicos[3], que seriam, depois, adotados pelos gregos. Os ritosagrários eram frequentes e os sacrifícios, não cruentos, consistiam emoferendasdeprodutosagrícolas.Ésurpreendenteaausênciadesímbolosmasculinos,bemcomodesignosastraisecelestes,frequentesnasreligiões

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continentaisdaÁfrica edaÁsia; apresençadeanimais fantásticos, comogrifos e diversos monstros, todavia, mostra uma certa influênciamesopotâmica. O desnudamento do busto feminino aparece somente emestátuasvotivas,devendotertidoumsignificadoreligiosoenãodenotandoumamodadeseiosnus,entreasmulherescretenses,comoafirmamalgunsautores.

As escavações feitas emCreta, nãomostraram, emparte alguma,sinaissegurosdaexistênciadetemplosreligiosos;ocultoeracelebradonasgrutas,naselevações,emtornodeárvoressagradaseemalgumassalasdopalácio real, onde foram encontradas bacias de água lustral e mesas deoferendas.

Nessas escavações, foram descobertas, entre outras coisas,estátuas votivas, em diversas posições corporais e fragmentos depavimentos quadriculados e de barras decorativas, com motivosgeométricos,oqueseriaumacaracterísticadoscretenses,assimcomodeseus sucessores gregos, os quais as usavampara decorar vasos, paredes,roupas,objetosdeusopessoal,entreoutrosmateriais.

MISTICISMOCRETENSEEMAÇONARIA

Sendo, a civilização cretense, ainda bastante desconhecida, seriamuitodifícilestabelecersuasinfluênciassobreomundocontemporâneoeum elo entre ela e o misticismo maçônico. Todavia, alguns autoresocultistas, como o bispo Charles Leadbeater, da Comaçonaria norte-americana,chegamaafirmarque,emCreta,haviaumainstituiçãoiniciáticaidêntica àMaçonaria, nos símbolos enos sinais ritualísticos.Tais autoresprocuram ajustar os achados arqueológicos às suas próprias concepções,ou teorias, repetindo toda a mistificação que se ergueu em torno dacivilizaçãoegípcia.

Ospretendidossímbolosmaçônicos,nacerâmicacretense–barrasdecorativas, com formato de esquadros, por exemplo – só com muitoesforço de imaginação podem ser aceitos. Os cretenses, como os seussucessores,osgregos,ecomomuitasantigascivilizações,costumavamusarmotivos geométricos ao decorar, vasos, roupas, paredes e objetos de usopessoal. Assim, afirmar que as barras decorativas, contendo figurassemelhantesaumaesquadria,representammotivosmaçônicos,étãosemcabimento quanto se dizer que o triângulo, instrumento de

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acompanhamentomusical,édeinspiraçãomaçônica.As estátuas votivas, representando homens e mulheres, em

diversasposturas–mãossobreopeito,mãoempala,sobreosolhos,braçolevantado, etc. – não devem, também, representar qualquer atituderitualística, pois são posturas comuns, do quotidiano; muitas delas, nemcomamaispirotécnicaimaginação,lembramqualquersinalmaçônico.

Damesmamaneira, os pavimento quadriculados – cuja origem ésuméria– foi imitadopor todosospovosdaAntiguidade,principalmentecomoelementodecorativo,semqualquerconotaçãoreligiosa.Alémdisso,como já foi visto, em lugar algum de Creta foi encontrado algum sinalsegurodaexistênciadetemplos.

Nãoédifícil,portanto,concluirque,alémdainexistênciadeordensiniciáticassemelhantesàMaçonaria,emCreta,nãohánada,nacivilizaçãodailha,quetenhacontribuídoparaarmaramísticamaçônica.

[1]Teocracia(dogregoteokratia:impériodedeus)éogovernoemquehápreponderânciadaclassesacerdotal.

[2]OMinotauroeraummonstrolendário,comcorpohumanoecabeçadetouro,oqual,encerradonoLabirinto,sealimentavadecarnehumana.Foimorto,segundoalenda,porTeseu–filhododeus Posseidon (Netuno, para os romanos) e de Etra – que, orientado pelo fio de Ariadne,penetrounolabirintoeovenceu.

[3]Ctônico,ouctônio (dogrego: chthónios:da terra,pelo latim: chthonius), significa subterrâneo.Mitologicamente designa os deuses infernais, por terem habitação debaixo da terra. Asserpentes,nocaso,simbolizariamtaisdivindades.

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VI

AMÍSTICADAANTIGAGRÉCIA

HISTÓRIA

AGréciaantigaabrangianãosóapartecontinental,mas,também,ilhasdomarEgeu,domarMediterrâneoedomarAdriático,alémdeumaextensafaixadeterranaÁsiaMenor.

AGréciacontinentalnãoevoluiutãorapidamentequantoCretae,atécercade1900anosa.C.,aregiãonorte,constituídapelaTessáliaepelaMacedônia,continuavanoperíodoneolítico,enquantoosul, juntoaomar,já conhecia o bronze. A partir de então, invasores indo-europeuscomeçaram a se infiltrar na região: por volta de 1600 a.C. surge, jáconstituída, a civilização da Argólida, região altamente favorecida pelagrandefertilidadedesuasplaníciesepelassuasrelaçõescomCretaecomasilhasdoMarEgeu.

Esseperíodoseriacaracterizadopelapresençadeumnovogrupodeindo-europeus,osaqueus,queselocalizaramnoPeloponesoeentraramem contato comos cretenses, surgindo, daí, a civilizaçãomicênica, assimchamada porque o seu principal centro era Micenas. Os indo europeusanterioresos jônio-miniamos,que, juntocomosaqueus,sãoosprimeirosgregosdaHistória, tendosidocivilizadosporCreta, surgindo, então,umacombinaçãodeinfluênciasmediterrâneasenórdicas.

É essa a época arcaica da civilização helênica e corresponde aoschamados“temposheroicos”,descritosporHomero,naIlíadaenaOdisseia,cujas descrições são, hoje, comprovadas por escavações realizadas emMicenas e Tirinto, além do reconhecimento, pela Arqueologia, de sítioscomo a gruta de Calipso, a região de Circe, Caribde e Cila, entre outros,eliminando-se,éevidente,apartefantásticadaobrahomérica.

Posteriormente,entreosséculosXIIeXa.C.,ocorreriaainstalaçãodos dórios na Grécia, acabando de firmar a civilização grega, ocasião emque os centros micênicos eram substituídos por outros: Amicleia, porEsparta,MicenaseTirinto,porArgos,eOrcômeno,porTebas.Apartirdaíseiniciariaaexpansãoeacolonizaçãogrega,queatingiriaaSicília,osuldaItália,oMediterrâneoocidentaleoriental(CalcídicaeTrácia),aPropôntida

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(Mar de Mármara) e os Esdtreitos, o Ponto Euxino (Mar Negro) e até aáridacostaafricana,aooestedoEgito.

O nome mais antigo da Grécia foi Pelasgia, ou seja, terra dospelasgos, vindo, depois, o nome de Acaia, tirado da designação grega deumadastribosdosaqueus,e, finalmente,Hélade,derivadodeHelen,filhade Deucalião e de Pirra, dando nome à civilização helênica. Gregos (dolatim:graeci)éumtermoquefoiintroduzidopelosromanos.

A organização social, no princípio da civilização helênica, foicaracterizada pelos clãs e, posteriormente, pelas fratrias, formas deagrupamento social, as quais sobreviveram durante muito tempo,presidindo aos grandes atos da vida familiar e pública: casamento,apresentaçãodosfilhoslegítimos,atribuiçãodosdireitoscívicos,inscriçãodojovemadulto,entreoutrascoisas.Depoisdafratria,aevoluçãopolítico-socialchegouàcidade-estadoe,posteriormente,àsconfederações,ouligas,entreascidades,semsechegar,contudo,àunidadepolíticadosgregos,aqualsóseriarealizadacomasuaincorporaçãoàMacedônia,quandoFilipea impôs. Essa unidade, então, seria consolidada por Alexandre Magno econtinuaria,mesmoapósasuamorte.

Em146a.C.,aGréciaeratornadaprovínciaromana,sobonomedeAcaia, exercendo, então, uma notável influência moral, intelectual eartísticasobreaculturaromana.TalprestígioculturalsódeclinariaapósafundaçãodeConstantinopla,quandoestapassouaexercerahegemonianaEuropaoriental:duranteaIdadeMédia,osimperadorescristãosbizantinosnãoviamcombonsolhosaclimapagãodaGrécia;eoimperadorJustiniano,finalmente,mandoufecharasescolasdeAtenas,tidascomopropagadorasdopaganismo.Essafoi,apenas,maisumadasviolênciasdareligiãocontraacultura.

Assim,acivilizaçãogrega,jádesfiguradaesemforçasparamantera antiga pujança, foi arruinada pela invasão dos bárbaros. No final doperíodomedieval,em1453,iniciava-seodomínioturco,quesóterminariajánaIdadeContemporânea.

Operíododaevoluçãogrega,quemaisinteressa,paraafinalidadedestetrabalho,éodosprimeirosdoisséculosdahistóriadaGrécia,quandohouve o grande florescimento de suas artes, de sua filosofia e de suareligião, que tanto influenciaram o mundo cultural antigo econtemporâneo.

Apesardareligiãojátersurgidonesseperíodoaqueu,averdadeé

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que jamais houve, entre os gregos, uma teocracia como aquela existentenos impérios asiáticos e no Egito; isso permitiu o desenvolvimento dopensamento,doraciocíniocríticoedaciênciapura,semoprimitivismoeoempirismo das demais civilizações, que se encontravam subjugadas pelopodersacerdotal.

A religião aqueia ainda é pouco conhecida, mas se aproximavabastantedoscretenses,emboraocultodosheróis,bastantedesenvolvido,fossedeorigemnórdica;nesseperíodoaqueudahistóriagregasurgemosgrandesdeuses,jágregos,depoiscopiadospelosromanos.

A partir do período micênio, a religião grega, mutável ediversificada, evoluiu bastante: ao antigo culto creto-micênico, foramacrescentadas as contribuições indo-europeias recentes e as influênciasorientais. Dois ordenadores com grande genialidade impuseram as suasmarcas no espírito religioso grego: Homero, criador de uma sociedadedivina antropomorfizada, ou seja, à imagem da humana, e Hesíodo, queconcebeuuma total teogoniae lançouoproblemadas forçasmisteriosas,queregemedecidemosdestinosdohomem.

Atravésdostempos,osgregosforamcriandohistóriaselendasemtornodosdeusesedesuasorigens;essaslendas,imaginosasemuitasvezesfantásticas, eram osmitos, cujo conjunto é amitologia. Interpretando osmitosospoetas e artistas (comHomeroà frente) foram,paulatinamente,esboçandoascaracterísticaspeculiaresdecadadeus, fixandosuaimagemnasesculturasepinturas.

Os deuses gregos apresentam em relação aos demais deuses domundoantigo,umaparticularidade:elesnãoeramdistantesemisteriosos,assemelhavam-se aos homens e viviam entre eles. Como os humanos“mortais”, eles tinham defeitos e virtudes, paixões e fraquezas, sendo,todavia mais fortes e, principalmente imortais; tinham o dom dainvisibilidade,maspodiamapareceraoshomens,sobformahumana.Destamaneira,amitologiagreganãoéumareligiãoaosentidolatadapalavra.

Osdeusesdopanteãogrego,queestavamemtodaparte,ouseja,nocéu,nomar,sobreaterraesobosoloeramosseguintes:

ZEUS (Júpiter para os romanos): principal deus, soberano domundo,quereinavanoMonteOlimpo,amaisaltamontanhadaGrécia.Eraosenhordosfenômenosatmosféricosedetodososlugaresatingidospeloraio;cuidavadacolheitadavinha,ocupava-sedascerimôniasdecasamento

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dos tratados e juramentos, sendo a figura arquetípica do pai; os raios etrovões chegavam à terra, vindos diretamente dele, e eramusados comosímbolosdesuamajestade.Controlandoasaçõeshumanaseasdosdemaisdeuses,eleeraoprotetordetodaGrécia,emboracadacidadetivesseainda,oseudeusprotetorespecial.

HERA(Junoparaosromanos):eraaesposadeZeuseencontrava-sejuntoaelenoOlimpo;eradeusadocasamento,doslares,damontanhaedascrianças.

ÁRTEMIS (Diana para os romanos); filha de Zeus e de Hera,representavaadivindadeprotetoradasflorestas,dacaçaedasflores;era,também,adeusadaLua.

APOLO ou FEBO (mesmo nome para os romanos): filho de Zeus,deusdoSol,criadordapoesiaedamúsica,docantoedalira,dasprofeciasedasartes.

HERMES(Mercúrioparaosromanos):tambémfilhodeZeus,eraomensageiro dos deuses, além de deus, protetor dos pastores, doscomerciantes,dosviajantes,dosatletasedosoradores.

HÉSTIA(Vestaparaosromanos):filhadeZeus,zelavapelachamasagrada,quedeviaarderemtodasascasas.

POSSEIDON (Netuno para os romanos): irmão de Zeus e, comoeste,filhodeCronosedeReia,que,porsuavez,eramfilhosdeGeia,amãeterra,edeUrano,océu.Eraodeusdomar,aquemosnavegantestemiameimploravamproteção.

HADES (Plutão era outronomepeloqual era conhecido): senhorabsoluto e sempre invisível das profundezas da terra, era o deus domisteriosoreinodosmortos.

ARES(Marteparaosromanos):deusdaagriculturaedaguerraeapanágiodaforça.

DEMÉTER (Ceres para os romanos): irmã de Zeus, era protetorados agricultores, dos campos e das colheitas de cereais e frutas, sendorepresentadacomváriasespigasdetrigonosbraços.Era,aoladodeZeus,HeraePosseidon,umadasmaisantigasdeusasgregas, jáqueoseumaisantigotelesterion(templo,saladeiniciação),nacidadedeeleusisàépocamicênica. O seu culto agrário, englobado nos chamados “Mistérios deEleusis”, é uma lembrança do culto do deus sumério Dumuzi e influi nomisticismoiniciáticomaçônico.

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ATENÁouPALASATENÁ(Minervaparaosromanos):nascidadaprópria cabeça de Zeus, ela era a deusa da razão, da inteligência, dasabedoriaedapaz.

HEFESTO(Vulcanoparaosromanos):filhodeZeuseraodeusdofogo,dasforjasedosferreiros.

DIONÍSIO (Baco para os romanos): filho de Zeus, além de ser oprotetor da vegetação e das vinhas, era, também, o deus dos mortos,atravésdaspromessasderessurreição.

Alémdessesdeusesprincipais,existiamasdivindadesmenores,ousubalternas,assimrelacionadas:

As MUSAS, acompanhantes de Apolo, que inspiravam as váriascriações científicas e artísticas: Euterpe, a música; Clio, a história;Terpsícore, a dança; Tália, a comédia; Melpômene, a tragédia; Érato, apoesia lírica; Polimnia, amímica; Urânia, a astronomia; Calíope, a poesiaépicaeaeloquência.

AsGRAÇAS(Cáritasemgrego),auxiliaresdeAfrodite,dispensavamcuidadosespeciaisaoreinovegetal.

AsHORAS,queassistiamadesenrolardasquatroestaçõesdoano.As PARCAS (Moiras em grego), que fiavam, teciam e cortavam o

destinodohomem.Entreosdeusesimortaiseoshomens,osgregoscriaram,ainda,os

heróis (por influência do ciclo dos heróis sumérios), semideusesantepassadoserealizadoresdefeitosedefaçanhasextraordinárias:

HÉRCULES(Heraclesemgrego):consideradoomaiordetodososheróis gregos; filho de Zeus e da princesa Alcmena, representa um serpoderosamenteforte,omaisvigorosodetodoshomens.

JASÃO: filho de Élson, rei de Lalcos, chefiou a expedição dosargonautas,incumbidadeconquistarocarneirodovelodeouro.

PERSEU:filhodeZeusedeDânae,encarregadopeloreiPolidectosde combater as Górgonas e trazer a cabeça deMedusa; com o auxílio deAtená,HermeseHadesvenceuasGórgonasedecapitouaMedusa.

ORFEU:segundoalguns,seriafilhodeOedrago,reidaTráciaedaCalíope,musadapoesia;paraoutrosseria filhododeusApoloedamusa

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Clio, inspiradora da história. Sua mulher, Eurídice, foi picada pó umaserpente, no dia do casamento; descendo aos infernos, Orfeu conseguiureavê-lasobapromessadepartirsemolharparatrás,mas,tendoquebradoessapromessa,perdeu-aparasempre.

TESEU:filhodePosseidoneEtra.Segundoalendaguiadopelofiode Ariadne, ele penetrou no labirinto de Creta, vencendo o monstroMinotauro.

ULISSES(Odisseuparaosgregos):reideÍtacaeheróidaOdisseia,de Homero; distinguiu-se por sua estratégia na Guerra de Troia, tendoinventadoofamosocavalodemadeira(CavalodeTroia),ardilquedecidiuaguerraafavordosgregos.

ÉDIPO:filhodosreisdeTEBAS,LaioeJocasta,nasceuprecedidodehorrível profecia: mataria seu pai e casaria com sua mãe. Por isso, foiexposto pelos pés, dias após o nascimento, no monte Cíteron; salvo,entretanto, por um camponês, concretizou a profecia, anos mais tarde.Jocasta,aosaber-semulherdoprópriofilho,matou-seeÉdipoarrancouosolhos.

Todos esses semideuses, entre outros, inspiraram desde aAntiguidade, até aos dias atuais, a obra de escritores, poetas, pintores,escultores, teatrólogos, compositores, etc., tendo influência, também, emmuitasáreasdomisticismo.

Paralelamente a toda essa ordenação, a religiãopopular adquiriaos seus traços fundamentais eduradouros, baseadano respeito às forçasnaturaisantropomorfizadas (Zeus,Hermes,Ártemis),nos cicloseternoseimutáveis da vegetação, das sementeiras e das colheitas (Deméter eDionísio), e no braseiro que se deve proteger contra as más influências(Héstia,Zeus).

Areligiãoeraoelodafamília,doshabitantesdeumacidadeedetodos os gregos, já que o culto religioso era desenvolvido nas casas, nostemplosenossantuáriospan-helênicos(comunsatodososhelênicos).Osgregos solicitavam os favores dos deuses, ofertando-lhes bebidas ealimentos(comovinho,leiteemel,nocasodebebidas),alémdesacrifíciosde animais; o sacrifíciomais solene era a hecatombe (de hecaton; cem ebous:boi),ouseja,osacrifíciodecembois.

Sendo, a época arcaica da Grécia, um período de grande

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instabilidades e perturbações, houve o desenvolvimento geral, e demaneirarelativamenteacentuada,decrençasnovas,maissatisfatóriasparaoshomenseresultantesdoanseiodoreconfortoíntimoedecertezasmorais;houve,assim,umgrandeincrementodoOrfismo,docultoaDionísioedosMistériosdeEleusis.

OOrfismo,decontornosvagos,maisumadisposiçãodeespíritodoque uma doutrina racional, insistia na oposição da alma e do corpo e naresponsabilidadeindividual;concebiaumidealdevidapurificada,ascéticae virtuosa, que a filosofia pitagórica,mais científica em seus princípios emaismísticaemseusdogmas,iriadesenvolver,posteriormentenasescolaspitagóricas,sobretudonosuldaItália.

Os gregos atribuíam ao próprio Orfeu a criação dos mistériosórficos. Segundo a lenda, Orfeu era uma hábil músico e ao som de suacítara,asferasficavammansas,asavessilenciavam,osriossedetinhamemseucursoeasárvoresdançavamaoritmodamúsica;dizia-seinclusive,queelesevaleradesuamúsicaparafazercomqueostráciosabandonassemosseus hábitos selvagens. Ele participou da expedição dos argonautas,chefiada por Jasão e foi iniciado nosmistérios deDionísio (Baco para osromanos), tornando-se um pontífice, cuja sabedoria era inspirada pelosdeuses.OmaiordestaquedeOrfeu,nalendaeradadopelograndeamoraEurídice,aquemtentouresgatardosinfernos,semconseguir.

O Culto a Dionísio (ou Mistérios de Dionísio), apresentavamúltiplos aspectos, pois, alémdele serodeusdavegetaçãoedasvinhas,era, também, o deus dosmortos, através das promessas de ressurreição,despertando,assim,grandeentusiasmoefervorreligioso,entreopovopordeterosegredodaimortalidade.

Dionísio, que era representado com a fonte cingida de folhas deparreira, numcarropuxadoporpanteras e tigres, teria, segundoa lenda,viajadopelaÁsiaMenorepelaÍndia,tendodado,aoreiMidas,opoderdetransformar em outro tudo aquilo que tocasse. Ele teria sido criado pelomais velho dos sátiros, Sileno, divindade dos bosques, e se casado comAriadne,quandoestafoiabandonadaporTeseu.

Os atenienses celebravam, a cada quatro anos, festas, rituais emsua honra (Mistérios de Dionísio) e, dessas festas é que deriva o teatrogrego. A lenda da morte e da ressurreição de Dionísio corresponde,intimamente,àdeOsíriseeraensinadacomomesmosignificadodalendaegípcia.

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OsMistériosdeEleusis justapõemocultodadeusaDeméter,queensina,aoshomens,ocultivodotrigo,eocultodesuafilhaPerséfone,ouCore (Prosérpina para os romanos), cujo estágio hibernal nos infernossimbolizariaociclodonascimentoemortedosvegetais.

Deméter (ou Ceres), deusa das colheitas, tinha grande amor porsua filha Perséfone. E diz a lenda que, certo dia, quando colhia flores nocampo, Perséfone foi raptada por Hades (ou Plutão), deus dos infernos.Deméter, depois de algum tempo, passou a procurar a filho por todo omundo, dias e noites, até que, ao se encontrar com Apolo, o Sol, este ainformousobreorapto.Tomada,então,decóleracontraaTerra,elanegou-seapermitirque,nela,crescessemosgrãoseofrutos.Diantedocaosqueseinstalou,graçasáfaltadeproduçãoagrícola,ZeusteriainterferidojuntoaHades,paraqueestedevolvessePerséfoneàmãe,estabelecendo,porém,como condição para que ela retornasse ao Olimpo, não haver ingeridonenhumalimento,duranteotempoemquepermaneceranoinferno.Comoelahaviaingeridoosgrãosdeumaromã,nãolhefoipossívelvoltar,sendo-lhepermitido,apenas,quepassasseseismesesdoanocomsuamãeeosoutrosseismesesnoinferno.

EntreasmuitasprerrogativasatribuídasaPerséfonehaviaaqueladequeninguémpoderiamorrer,semqueela lhecortasseofiodecabelo,queligavaàvida.Issofezcomqueoseucultofossebastantedesenvolvido:ela presidia aos funerais e os amigosdomorto cortavamos cabelos e osjogavamnuma fogueira, emhomenagem à deusa; acreditava-se, também,queelafaziareencontrarosobjetosperdidos.Comoelaforaraptadaaindaadolescente,osgregoslhederamonomedeCore(ajovem).

Devido a essa lenda, Perséfone simboliza as sementes, quepermanecem sob a terra, durante meio ano, e depois frutificam sobre amesma. Esotericamente, esse ciclo de nascimento e morte dos vegetais,representa,emúltimaanálise,aeternidadeeaimortalidade.

Destamaneira,osMistériosdeEleusisforneciam,aosiniciados,ossegredosdamorteedaressurreição.Elesedividiaemdoisgraus,conformeoaperfeiçoamentodoiniciado:MistoseEpoptas.

Aos Mistos eram dados ensinamentos relativos à vida após amorte,nomundoastral,intermediárioentreomaterialeoespiritual;elestinhaminstrução,também,sobreaevoluçãodohomemnaterraesobreacosmogonia(designaçãodasváriasteorias,quetemporobjetivoexplicaraformaçãodoUniverso,sejadopontodevistamístico,oucientífico).Esses

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iniciadosusavam,comovestimenta,umasimplespeledecorça.OsEpoptasrepresentavamumgraumaiselevadoerecebiammais

profundas instruções sobre a origem do universo e do homem, sobre odomínio damente e sobre a espiritualidade. O símbolo do grau era umaespiga de trigo, que além de representar a fartura (através da deusaDeméter),aludia, tambémàrenovaçãosempreconstantedavida,atravésdasmortesedas ressurreições, comonociclodosvegetais, representadopela deusa Perséfone. A vestimenta desses iniciado era um velocinodourado,oquepodetercontribuídoparaa formaçãoda lendade Jasãoevelocinodeouro.

Embora mais desenvolvido, os mistérios de Eleusis não diferemmuito,emsuaessênciamísticadalendadeOsírisdosegípcios,edocultoaDumuzidosmesopotâmicos,sendoesteogermedetodasasdoutrinasquetratam dos mistérios da morte e da ressurreição. Também a lenda doassassíniodeDionísiopelosTitãs,seguidodoseuesquartejamentoedasuaressurreiçãodentreosmortos,queeraabordadanosmistériosdeEleusis,ébastantesemelhanteàlendadeOsíris.

O Pitagorismo foi um movimento de reforma do Orfismo e foiatravésdasescolaspitagóricasqueoprimeirochegouàposteridade.Comojá foi esclarecido, o Pitagorismo era mais científico em seus princípios,através do papel dos números e da harmonia e mais místico em seusdogmas,atravésdacrençanamigraçãoastraldasalmas.

A comunidade fundada por Pitágoras, de Samos, na ItáliaMeridional, era ao mesmo tempo, religiosa, filosófica e política. Otratamento dedutivo-demonstrativo da matemática começou com eleligadoaumaformapeculiardemisticismo.

Pitágoras afirmava que todas as coisas são constituídas denúmeros.Ele imaginavaosnúmeros comopontosdispostosem formadefiguras e nesse caso, as coisas seriam harmoniosamente compostas depequeninas partículas ordenadas em figuras numéricas. Associou osnúmeros à música e a mística, derivando dessa associação pitagórica ostermosmatemáticos“médiaharmônica”e“progressãoharmônica”.

Número,paraa linguagempitagórica, era sinônimodeharmonia;emtodooUniversodeveexistiressaharmonia,que,emúltimaanálise,éaprópriaresponsávelpelaexistênciaemanutenção.Dentrodesseconceito,ocorpo humano saudável é uma harmonia, sendo, o papel da Medicina,restabeleceressaharmoniaaomáximoqueforpossível,quandoelahouver

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serompido.Os pitagóricos concebiam uma Terra esférica, sendo uma estrela

entre as estrelas, asquais semoviam todas ao redordeum fogo central;suasdistânciasdessefogocoincidiamcomintervalosmusicais,demaneiraqueressoavanoUniverso,umaharmoniadasesferas.

As escolas pitagóricas, a partir das propriedades dos números,passaram sempre a buscar analogias entre todas as coisas e osnúmeros,chegando à concepção de uma mística numérica. A maior contribuiçãocientíficadessasescolas.AtravésdopróprioPitágoras(queviveunoséculoVI a.C.), ou de seus discípulos imediatos, foi a descoberta da relaçãoexistentenostriângulosretângulosprovandoqueasomadoquadradodoscatetoséigualaoquadradodahipotenusa.

Comocrençareligiosabásica,Pitágorasensinavaa transmigraçãodasalmaseaabstençãodediversaspráticas,inclusiveadesecomercarne;essaabstençãoeraorigináriadoensinamentoquemostravaapossibilidadedaalmareencarnaremanimais.

Os discípulos das escolas pitagóricas estavam divididos em trêscategoriasougraus:Ouvintes(akoustikoi),Matemáticos(mathematikoi)eFísicos(physikoi).

OsOuvintesparticipavamdas reuniões,masguardavamabsolutosilêncio, durante elas, numa fase que durava dois anos, tempo durante oqualelesselimitavamaouvireaprender.

Os Matemáticos, que se encontravam numa fase mais avançada,colocavam em prática o cerne da doutrina pitagórica: relacionavam osdiversos ramos da matemática com a música, descobrindo ascorrespondênciasentreasciências.

OsFísicoseramfísicos,masnãonosentidoatualdotermoesimnosentido usado nos tempos da Grécia clássica: a Física (physiké) era afilosofianatural,oestudodanatureza.Osdiscípulospitagóricosnessegrauentregavam-se ao estudo místico dos mistérios da natureza e da vidainteriordohomem.

AcomunidadecriadaporPitágorastinha,comosímbolodistintivo,uma estrela de cinco pontas que, desde a antiguidade servia pararepresentar os corpos celestes que, aparentemente, erammenores que oSoleaLua.Paraospitagóricos,entretanto,elasimbolizavaoutracoisa.

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ESTRELADECINCOPONTAS(PITAGÓRICA)

Noalto,aEstrelaHominalquesimbolizaaaltaespiritualidadehumana;embaixo,aEstrelaInvertida,ondeseinscreveafiguradeumbode,o

símbolodaanimalidadeedamaterialidade.

Aestreladecincopontas,otríplicetriângulocruzado,representa,em sua posição normal (com uma ponta para cima e as outras para oslados), o homem em sua alta espiritualidade, pois nela se inscreve uma

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figura humana, com a cabeça ocupando a ponta superior e os membrossuperioreseinferioresocupandoasdemaispontas.Porisso,elaéchamadadeEstrelaHominal,representandoasabedoria,agnoseeaespiritualidadecomtodosseusatributos.

Quandoaestreladecincopontasestáinvertidanelaseinscreveafiguradeumbode, representandoentãoamaterialidadeeaanimalidade,comtodososseusatributos.

Aindanotocanteàreligiãoeaomisticismotranscendentalgrego,além de todas as manifestações já citadas, cabe uma referência a doisaspectos coletivos da religião, que acabaram sendo usados politicamenteparaahegemoniadascidadesedeseusdeuseslocais:

1° As anfictônicas, que reuniam povos, ou cidades à volta desantuáriosveneráveis,comoodePosseidon,noCaboMícale,eodeApoloPítico,emDelfos;

2°Osoráculoseos jogos,ou festaspan-helênicas(jogosNemeus,de Nemeia, jogos Ístmicos, de Corinto, Jogos Píticos, de Delfos, JogosOlímpicos,deOlímpia).

OprincipaloráculoeraodeDelfos,notemplodedicadoaApolo,ouFebo,queconduziaocarrodoSol,erareverenciadocomoodeusdaLuzeadorado nos festivais apolíneos. O oráculo de Delfos exercia influênciabásica e transcendental sobre os gregos, pois, através da orientaçãoprofética da sacerdotisa chamada Pítia (de Pythón: serpente), Apoloincrementava alto espírito de justiça e de moralidade. Durante asperegrinações aDelfos, todos aqueles que iam consultar o oráculo levamgrinaldas de louro, que representavam o triunfo consagrado ao Deus daLuz.

A Astrologia, embora tenha chegado à Grécia um pouco tarde,adquiriu, entre os gregos, os seus aspectos fundamentais e maisduradouros. A partir do século III a.C., os gregos se empenham emtransformar a Astrologia babilônica, de acordo com suas própriastradições,tornando-acadavezmaiscomplexa.

Elesforamosresponsáveispelapopularizaçãodeumsistema,queanteriormente, só era acessível aos reis, ou seja, o método de calculardestinosindividuais,baseadonomomentodonascimento.Oprimeirolivroastrológico moderno e menos empírico, o Tetrabiblos, é atribuído aomatemático,astrônomoegeógrafoPtolomeu,nascidoemAlexandriaequetrabalhou no século II d.C., estabelecendo os princípios da influência

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cósmica,queconstituemocernedamodernaAstrologia.Soaainfluênciagrega,osplanetas,ascasaseossignosdoZodíaco

foramracionalizados,tendodeterminadaasuafunção,detalmaneiraque,atéhoje,houvepouquíssimamudança.

MISTICISMOGREGOEMAÇONARIA

Em relação à Maçonaria podemos encontrar incontáveisinfluênciasdamísticagrega,destacando-se,todavia,asseguintes:

1. Da mesma maneira que os oficiais de uma loja maçônicarepresentam os planetas conhecidos na antiguidade, de acordo com amísticasuméria,elespossuem,tambémoapanágiodedeusesolímpicosesemideusesdopanteãogrego.Assim,temos:

Venerável – seria a representação de Zeus (Júpiter), o rei dosdeuses,porsuacondiçãodedirigentedaloja.Representa,tambémadeusaAtena(Minerva),dasabedoria, jáqueoVeneráveldeveterasabedoria,aprudência, a inteligência e o discernimento necessários para dirigir umaloja.

1° Vigilante – representa Ares (Marte), deus da agricultura e daguerra,oudaforça,jáqueessaéacaracterísticadessecargo,que,tambémérelacionadocomHeracles(Hércules),omaisforteevigorosodetodososhomens,deacordocomamitologiagrega.

2° Vigilante – simboliza Afrodite (Vênus), a deusa do amor e dabeleza,apanágiodesseoficialmaçônico.

Orador–éarepresentaçãodeApolo,ouFebo,deusdoSol,criadorda poesia e da música, do canto e da lira; esse oficial, responsável pelaguardadaleiepeçasdeoratória,representaaLuz,simbolizadaporApolo.

Secretário–correspondeaÁrtemis(Diana),deusadaLua,dacaçaedasflores,jáqueesseoficial,refletindonasatas,aLuzquevemdoOrador(Apolo,Sol),simbolizaaLua.

Mestre de Cerimônias – corresponde a Hermes (Mercúrio),mensageirodosdeusesolímpicos,jáqueesseoficial,emsuacirculação,éomensageirodosdirigentesdaLoja.

Vale,ainda,esclarecer,queoVenerável,aofazerasagraçãodeuminiciado, usapara isso, uma espada cuja lâminapossui várias curvaturas.Essaespada,queéchamadadeEspadaFlamejante,lembraarepresentação

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artísticadeumraioesóporserempunhadapelopresidenteda loja,poisele representa Zeus, que era o senhor dos fenômenos atmosféricos e detodososlugaresatingidospeloraio.

2. Os Mistérios de Eleusis mostram grandes analogias com amística iniciática maçônica. As provas de iniciação maçônica, querepresentam amorte física do iniciado e o seu renascimento num planosuperior, estão em completo acordo com os ensinamentos sobre osmistériosdamorteedaressurreição,fornecidosaosiniciadosnocultodeDeméteredePerséfone.

O primeiro grau dos mistérios de Eleusis, Mistos, tem granderelação com o primeiro grau maçônico, Aprendiz, pois, em ambos, oiniciadosededicaaoestudodaevoluçãoracionaldaespéciehumanaedaformaçãodouniversodeacordocomasdoutrinasiniciáticas.

NosegundograudosMistériosdeEleusis,Epoptas,assimcomonosegundograumaçônico,Companheiro,osímboloéumaespigadetrigo.NaMaçonaria,osignificadodessaespigaéomesmoquenosmistériosgregos:elaalémderepresentarafartura,simboliza,também,arenovaçãosempreconstante da vida, através dasmortes e das ressurreições, comono ciclodosvegetais,sendo,emúltimaanálise,osímbolodaimortalidadedaalma,pregadanadoutrinamísticadaMaçonaria.

3. O Pitagorismomostra influência sobre omisticismomaçônico,começandopelosseusgrausdeaperfeiçoamento.

Os três graus maçônicos (Aprendiz, Companheiro e Mestre)representamastrêsgrandesfasesdaevoluçãodopensamentodohomem:intuição, análise e síntese; demaneira geral, os três estágios das escolaspitagóricas seguem, também, essa evolução. Além disso, os Ouvintes, ouAcústicos, do Pitagorismo, guardavam absoluto silêncio, durante oaprendizado, limitando-seaouvireaprender,situaçãomuitosimilaràdaMaçonaria, onde o Aprendiz, simbolicamente é uma criança e, portantotambém simbolicamente não fala, limitando-se a ouvir e aprender. OsMestres, na Maçonaria, possuem, no simbolismo de seus trabalhos,semelhança com os Físicos do Pitagorismo, pois ambos tem o escopo deestudarosmistériosdanaturezaeavidainteriordohomem.

A numerologia mística maçônica também mostra influênciapitagórica,emboraasuamaior fontesejaos textoscabalísticoshebraicoscomoveremosposteriormente.Adualidade“corpo”e“alma”doorfismoedopitagorismo(comotambémdocultoaDionísio),eencontradaemtodaa

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extensãodadoutrinamísticamaçônica.A estrela de cinco pontas, Pentagrama (cinco letras), ou Pentalfa

(cincoprincípios),que,apartirdosmeadosdoséculoXVIIIpassoucomonome de Estrela Flamejante, a fazer parte dos símbolosmaçônicos, é deorigem pitagórica, representando, na Maçonaria, a mesma coisa que nopitagorismo: como estrela hominal, representa o homem em sua altaespiritualidade.Algunsautores têmassociadoaEstrelaFlamejantecomaestrela de cinco pontas usada no Ocultismo, na Alquimia e na Magia daIdade Média, todas com significado bem diferente daquele dado pelospitagóricos. A realidade, porém, é que a Estrela Flamejante é pitagóricamesmo.

4.AMaçonaria,comojáfoiesclarecido,adotaosmitossolaresdaantiguidade,identificandoosdeusesligadosaoSolcomaluzdarazãoedoconhecimento, estando Apolo entre eles (assim como Shamash, Osíris eMitra). Existe, mesmo, um grau maçônico em que o recepiendário écoroado com uma grinalda de louro, como nos festivais de Delfos, emtributo a Apolo, que é, convém que se repita, encarado pela Maçonariacomorepresentaçãodaluzdoconhecimentoedapercepçãoenãodaquelaprovenientedecorposmateriais.

Outras particularidades da civilização helênica muitoinfluenciaram a prática maçônica, contando-se, entre elas, a Filosofia, aGeometria, a História e, principalmente, a Arquitetura, com suas ordensprincipais, dórica, jônica e coríntia, que também são analisadas de umponto de vista místico, além do arquitetônico, através de suas colunascaracterísticas.

Asdenominaçõesdostrêsestilosarquitetônicos foram,duranteaRenascença, tiradas da Antiguidade, embora eles não possam serliteralmente tomados como específicos de uma determinada região: aordemdóricanão ficou limitadaàregiãodosdórios–nocontinenteenoPeloponeso–ajônica,emborasurgidanaJônia–Mileto,SamoseDídima–originouaordemático-jônica,nocontinente,eacoríntia,muitoposterioràs duas primeiras, émuito semelhante à jônica, só se diferenciando pelocapiteldesuascolunas.

Aordemdóricafoiconsiderada,apartirdoclassicismoeuropeu,aautêntica representanteda arquitetura clássica grega e amaisusadanostemplosgregos.

Acolunadóricanãotembaseeoseuaspectoéodeumaestrutura

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simples,masdeformabastanteconvincente,pois,comoafunçãoprincipalde uma coluna é erguer-se, suportando um peso, a forma dela confirmaessa funçãoarquitetônica,paracujarealização, todavia,colaboramalgunsrecursos bem sutis: primeiro, há o adelgaçamento do fuste, ou seja, agradual redução de seu diâmetro, de baixo para cima, de modo que, notopo, ela tenha trêsquartosdodiâmetrodaparte inferior; em seguida, ocanelado, que divide o corpo da coluna em sulcos, mediante profundasestriasverticais,separadasporagudascristas;e,finalmente,ocapitel,queconcretiza, commuita originalidade, a transição da força ascensional dofusteparaopesodoentablamento.Alémdisso,há,noextremosuperiordofuste, um estrangulamento, através de uma série de cristas e canelurashorizontais,àquaissesegueaparteinferiordocapitel,chamadadeequino,jáqueosgregosacomparavamaumouriçodomar,emposiçãoinvertida.Esta parte representa a almofada elástica, com a qual o apoio, que é acoluna, está pronto a receber o peso do entablamento; este desce sob aformadeumapedraquadrada,oábaco,quesecolocasobreasuperfíciedoequino.

A ordem jônica diferencia-se da dórica, principalmente por suascolunas. A coluna jônica apresenta um fustemais alto emais belo, ondeexistemcanelurascravadasprofundamenteeseparadasporlistéisplanos,aoinvésdearestasvivas.Alémdisso,elaapresentaumabasecircular,combela estrutura, e um complicado capitel, cuja parte inferior, com umornamentoemóvulos,repousasobreofuste;àmolduradeóvulos,seguem-se as volutas, que se estendem para a direita e para a esquerda,superficialmente, em almofada arqueada, que se enrola em torno de umeixo,comforçaelásticaetensa.Seucapiteltambémpossuioábaco,sobreoqualseapoiaaarquitrave.Aordemjônica,narealidade,érelacionadamaiscomaornamentaçãosuperficialdoquecomumaarquiteturaorganizada,comoocorrecomadórica.

Aordemcoríntia segue todasasdemais característicasda jônica,diferindo apenas no capitel, que tem uma rica decoração de folhas deacanto. A coluna coríntia teria origem em uma lenda, segundo a qual oescultorCalímaco,teriavistoemCorinto,noséculoVa.C.,sobreotúmulodeumadonzela,umcesto(kalathós),emtornodoqualcresciaoacanto[1].Assim, no capitel coríntio, nota-se um núcleo central, em torno do qualestãodispostasasfolhasdeacanto,quecrescemapartirdabasedocapitel;nos cantos, em todas as faces, sobem gavinhas, que vão até à curva docoroamento,quandoosseusenrolamentossustentamasaliênciadoábaco;

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docesto,saemoutrasgavinhas,queterminamemcálicesdeflores.Aocontráriodascolunasegípcias–e,também,daquelasdopórtico

do templo de Jerusalém– as colunas gregas são, realmente, destinadas àsustentaçãodeentablamentos,emboraamaisapropriadapara issosejaadórica. Por isso, em Maçonaria elas sustentam, simbolicamente, a Loja,sendo representadas pelas Dignidades desta: Venerável Mestre(presidente)eVigilantes(vice-presidentes).

A coluna jônica, símboloda sabedoria, correspondeaoVenerávelMestre;adórica,símbolodaforça,correspondeao1°Vigilante;eacoríntia,símbolodabeleza,correspondeao2°Vigilante[2].

[1] Acanto (do grego: ákanthos: espinho) é uma planta espinhosa, da família das Acantáceas. EmArquitetura,éaimitaçãoquesefazdasfolhasdoacanto,principalmentenadecoraçãodocapiteldacolunacoríntia,paradistingui-lodocapiteljônico

[2]Oritoinglês,queutilizaoEmulationRitual(indevidamentechamado,entrenós,deRitodeYork)temumaprática envolvendo essas colunas. Existemminiaturas delas sobre asmesas dos trêsprincipais dirigentes da Loja: jônica, para o Venerável Mestre (presidente), dórica para o 1°Vigilante (1° vice) e coríntia para o 2° Vigilante (2° vice). A coluneta do Venerável Mestrepermanecefixa,enquantoasdosVigilantessãomóveis:quandoaLojaestáabertaeemtrabalho,acolunetado1°Vigilanteficadepéeado2°Vigilanteficadeitada;quando,porém,ostrabalhossão suspensos, para recreação, ou para finalizá-lo, ocorre o contrário, ou seja, o 1° Vigilanteabaixasuacolunaeo2°Vigilantelevantaasua.Lamentavelmente,talpráticavemsendoimitada,emlojassul-americanasdeoutrosritos,quenãoapossuem.

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VII

AMÍSTICADAANTIGAPÉRSIA

HISTÓRIA

As várias tribos indo-europeias, que se espalharampelo PlanaltodoIrã,deramorigemadoisEstados:aMédiaeaPérsia,aonorteeaosul,respectivamente.Noprincípio,odomíniodaregiãopertenceuaosmedas,até559a.C.,quandoCiro,oGrande,reidospersas,incorporouaMédiaaosseusdomínios,principiando,então,operíodoAquemênida(dadinastia)dahistória persa. Ciro daria início a uma política imperialista – seguida porseus sucessores – que iria conquistar um vasto território: EuropaMeridional, ÁsiaMenor e Oriente Próximo, o qual constituiria o ImpérioPersa.

OImpério,iniciadoporCiro,comaconquistadaMédia,detodasascidadesdolitoralgrego(546a.C.),daBabilônia,daSíriaedaPalestina(539a.C.), foi aumentado por seu filho, Cambises, que conquistou o Egito, em525 a.C., e consolidado pelo sucessor de Cambises, Dário I, que tomouChipre,asilhasgregas,todaacostadaÁsiaMenor,incorporando,ainda,aCítia, aTráciaeaMacedônia.Essa foi a épocadeourodoantigo impériopersa,ocasiãoemqueforamconstruídososfamososeluxuosospaláciosdePersépolis,PasárgadaeSusa,ondesepercebeaextraordinária influênciababilônica.

Posteriormente, o Império Persa passaria por diversas fases:domíniohelenístico,doséculoIVaoséculoIIa.C.,comFelipedaMacedôniaeseufilho,AlexandreMagno;ImpérioParta,doséculoIIa.C.aoséculoIIId.C., fundado com a expansão dos arsácidas, através de Mitridates I,soberano da Pártia; dinastia dos Sassânidas, do século II a VII, quandohouve o restabelecimento do Império Persa, através de Ardashir I(Artaxerxes); domínio dos árabes, no século VII (em 641), passando, noséculoXI,aodomíniodosturcosseljúcidas,para,finalmente,noséculoXIII,sofrerainvasãodashordasmongólicasdeGêngisKhane,posteriormente,das de Tamerlão, cujo domínio se estenderia até ao século XVI; períodoáureodaPérsia, do séculoXVI ao séculoXVIII, quando renasceuanação,sob a dinastia dos Safávidas, e quando a arte persa atingia seu máximo

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florescimento; período moderno, a partir do século XVIII, quando oterritório persa sofreu vários desmembramentos, através da Rússia e daTurquia,noséculoXVIII,eatravésdaInglaterraedaRússia,noséculoXIX,havendo,todavia,umrenascimentodanação,noséculoXX,comadinastiaPahlevi,quando,comosímbolodessaressurreição,foiadotadoonomedeIrã,maisantigoqueodePérsia.ComaquedadoxáRhezaPahlevi,anaçãofoidominadapelateocraciamuçulmana.

O período históricomais importante, para um estudo damísticapersa,éodeantesdeCristo,quandofloresceuefrutificouareligiãopersa,que,comoaarte,eraumaamálgamaheterogêneadasreligiõesedasartesdeoutrospovos.

ARELIGIÃOEOMISTICISMOPERSA

Notocanteàreligião,podeserencontradaumagrandeinfluênciadoscredosorientais.OdeusmáximoeraAhuraMazda,criadordomundoedo céu, seguido por Mitra, deus do dia, e por muitos outros deusesmenores, além de demônios (daivas). A doutrina do Mazdeísmofundamenta-se no combate constante entre o bem (Ormuz) e o mal(Ahriman) e foi aperfeiçoada por Zoroastro, ou Zaratustra, reformadorreligioso, que procurou dar-lhe um carátermonoteísta, baseado no deusúnico, Mazda. A doutrina de Zoroastro, que influenciaria largamente ahebraica,estáinseridanoAvesta,olivrosagradodospersas.

No início, oMazdeísmo era dominado pela classe sacerdotal dosMagos, cuja doutrina não conformista, propondo um ideal depurado dejustiça social e de reforma espiritual, tornou-se um poderoso fator deunidade nacional. Posteriormente, todavia, os soberanos deformaram areligiãoemproveitopróprio,pondodeladoosMagos–hostisaosaspectosmateriais – organizando, ao redor do rei, um culto prático e fazendo, deAhura Mazda, o suserano dos demais deuses, assim como o rei era osuserano do Universo, o soberano de direito divino e representante deMazda na Terra. Como sempre, em todos os tempos, a religião serviu àpolíticaeàpromoçãodospoderosos.

Dentrodareligiãomazdeísta,avultaoMitraísmobaseadonodeusda luz, Mitra, e com grandes influências hebraicas. O culto mitráicorepresentou uma ordem iniciática, restrita aos homens e formada,geralmentepelasclassesarmadasemercantis,quemantinhamumgrande

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espírito de camaradagem, de solidariedade, de fraternidade. Era umaverdadeirafraternidadedearmas,ondeoessencialeraoamorfraternal.

Além de identificarem o objeto de adoração com a luz e o Sol,apresentavam, em sua doutrina, muitas das crenças originárias da seitajudaica dos fariseus (e totalmente aproveitadas pela igreja), tais como:imortalidadedaalma,JuízoFinal,ressurreiçãodacarne,céueinferno,etc.Graçasaissoéquemuitosautores(eaprópriaEnciclopédiaBritânica),aofazerem a exegese do Cristianismo, situam a origem de suas crenças noMitraísmo, o que não é verdade, pois este foi, apenas, o veiculador dadoutrinafarisaica,comexceçãodasantificaçãododia25dedezembro,queé,realmentedeorigemmitráica.

ComooMitraísmocultuavaodeusdaluzedosol,elepromovia,nanoite de 24 para 25 de dezembro, a solenidade chamadaNatalis InvictisSolis (Nascimento do Sol Vitorioso; consta aqui, o nome em latim, pois acerimôniacomo todoMitraísmo, foi transmitidaaosromanos,noséculo Ia.C.). Sendo, essa noite, no hemisfério norte, a mais comprida do ano(solstício de inverno), ofereciam-se durante toda ela, sacrifíciospropiciatórios pela volta da luz do sol e do calor. OP Cristianismo,aproveitandoesseritual, fixou, simbolicamentenodia25dedezembro,onascimentodeJesus,identificando-ocomaluzdomundo(Sol).

O Mitraísmo persa – copiado pelos romanos – como ordeminiciática,apresentavaseteetapasdeaperfeiçoamento,que,deacordocomoMitraísmoromano,eramassimdiscriminadas:

Corax(Corvo):primeiraetapadoaprendizado,eraassimchamadoporque o corvo pode imitar a fala, mas não criar ideias próprias, sendo,assim,maisumouvinte,doqueumparticipanteativo.

Cryphius(Oculto):eraosegundograu.Miles(Soldado):eraoterceirograuesignificavaa lutadeOrmuz

(oBem),contraAhriman(oMal),aserviçodeMitraeMazda.Leo (Leão):eraoquartograue simbolizavao fogo, tambémuma

dasformasdeMitra,pelaemanaçãodeluzecalor.Perses (Persa): era o quinto grau e, como o Mitraísmo e o

Mazdeísmo foram influenciados por credos orientais asiáticos,representavaaorigemdareligião.

Heliodromus (Correio do Sol): sexto grau da escala no qual orecepiendárioeraidentificadocomMitra.

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Pater (Pai): grau máximo, que representava a maior ascensãoespiritualemdireçãoaocéu,ondeMitramoravaeresplandecia.

Esses graus representavamumacaminhadamística emdireçãoàluz,partindodoCorax,oservodoSol,atéchegaraoPater,Mitra,ouseja,àLuz.

OMISTICISMOPERSAEAMAÇONARIA

Os cultores da religião mitráica reuniam-se em templos muitosemelhantes ao templo de Jerusalém. Graças a isso muitos autores,ingenuamente,têmdefendidoatesedequejáexistiaaMaçonarianaantigaPérsia, o que não é verdade, pois é obvio que, se a religião persa sofreugrandes influências do Judaísmo, os seus templos religiosos teriam deimitarostemploshebraicos.

OMitraísmopossuía,também,umritualcujaorigemétotalmentehebraica: o sacramento mitráico, que consistia de pão, vinho e sal, cujaconsagração era feita com grande cerimônia. Esse ritual é, em essência,muitosemelhanteaoKidushhebraico,origemdaeucaristiae,também,dealgumaspráticasmaçônicas.

Apesardisso,entretanto,nãorestamdúvidasdequeaestruturadaMaçonaria e a própria mística maçônica muito auferiram do misticismoreligiosopersa,representadopeloMitraísmo.

Apartirdomitosolarpersa(seguidoedifundidopelosromanos),asendainiciáticadaMaçonariarepresentaacaminhadamísticaemdireçãoao Sol, que, no caso representa a luz do conhecimento. Como o templomaçônicorepresentaomundo,comosseusquatropontoscardeaisecomascolunasdopórticosimbolizandoostrópicosdeCâncereCapricórnio,oiniciado penetra nele pelo ocidente, onde reinam as trevas, caminhandoposteriormente, de acordo como seu aperfeiçoamento, pelo norte e pelosul,atéchegaraooriente,ondeosolnasceereina,completandoaviagemmísticaembuscadaLuzdosaber. Issoé,quase,umarepetiçãoconstantedoNatalisInvictisSolis.

EmboranãosepossamprocurarprofundassemelhançasentreosgraussimbólicosdaMaçonariaeosgrausdoMitraísmo,existem, todavia,alguns pontos em comum: o Corax (Corvo) apresenta muita semelhançacomoAprendiz,poisambos(assimcomoosOuvintesdopitagorismo)nãopodem, simbolicamente criar ideias próprias, limitando-se a ouvir, sem

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falar. O grau de Companheiromaçom pode ser identificado com oMiles(Soldado)doMitraísmo,pois,comooCompanheirorepresentaadualidadee existe nele, um equilíbrio entre amatéria e o espírito, ele é similar aoMiles, que simboliza a luta entre o Bem (Ormuz) e o Mal (Ahriman),também uma dualidade. O grau de Mestre maçom, finalmente encontrasimilaridadecomoHeliodromusecomoPater,poisoseugraurepresentaoaugedacaminhadaemdireçãoàluz,identificando-seaMitraeatingindoamáximaascensãoespiritual,enquantosedespojadamaterialidade.

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VIII

AMÍSTICAHEBRAICA

HISTÓRIAHEBRAICA

Ahistóriahebraicainicia-secomoclãdeAbraão,oqual,nofinaldo IIImilênio a.C., teriadeixado a cidade sumériadeUr, passandomuitotempo emHarrã, a este do Carquemich, progredindo, posteriormente, aolongodoCrescenteFértil,estabelecendo-seemCanaã.

Após algum tempo em Canaã, os hebreus[1] emigraram para oEgito,instalando-senovaledoNilo,porvoltade1700a.C.Emboraomotivodessa emigração não esteja bem esclarecido, acredita-se que, com odomínio do Egito pelos hicsos, povo de origem semita, a região seriapropíciaaodesenvolvimentosocialereligiosodopovohebreu.

Com a expulsão dos hicsos, em 1580 a.C., e a consequentereimplantaçãodasdinastiasdos faraóstebanos,oshebreuspassaramporumafasedeagruras,extensamenteabordadanaBíblia–emboraestasejamuitoromanceada–atéque,porvoltade1300a.C.,sobadireçãodeMOISÉS,puderam deixar o Egito, chegando a Canaã, depois de quarenta anos deacidentada viagem. Como, todavia, outros povos haviam se instalado naregião,aconquistadaterrafez-seàcustademuitaluta,lideradaporJosué.

DepoisdeJOSUÉ,iniciava-seoperíododosJuízes(Shofetim),de1210a 1130 a.C., época bastante conturbada da história hebraica, já que, ànecessidade de reafirmação da posse da terra, juntaram-se às novasconquistas, os contatos com o culto de Moab e a passagem à vidasedentária,oquemuitocontribuiuparaoqueopovofosseseafastandodafé religiosa e para o quase esfacelamento da sua unidade nacional. Talsituação, porém, seria superada em 1310 a.C., quando o profeta SAMUEL,sagrandooreiSAUL,restaurariaaunidadenacional,proporcionandooiníciodaeradoapogeudahistóriahebraica,aqualatingiriaoseuacmecomosreis DAVID e SALOMÃO. Salomão, por volta de 980 a.C., aglutinaria o povo,religiosa e socialmente, erigindo o primeiro templo de Jerusalém, cidadequeforaconquistadaporseupai,David.

Apósesseperíodoáureodahistóriahebraica,ocorreriaaprimeiragrande tragédia nacional, com o cisma de 920 a.C., ocasião em que se

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formaramosreinosdeIsrael,aonorte,comcapitalemSamaria,edeJudá,aosul,comcapitalemJerusalém.Aintensarivalidadeentreosdoisreinosiriaprovocaroenfraquecimentodeambos,propiciandoasinvasõesdeseusterritórios.Assim,osassírios,comSargãoII,conquistaramIsrael,em721a.C., e os babilônios, liderados por Nabucodonosor, tomaram Judá,destruindoJerusalémeoTemplo,em586a.C.,dandoorigemaoexíliodoshebreusnaBabilônia,oqualseriaaprimeiradiáspora(dispersão)dopovo.Esseexílio–quealgunsautoresrotulamcomo“cativeiro”–foiatébenéficopara o futuro do povo hebreu, pois, na Babilônia, a sua civilizaçãorefloresceu.Muitos, inclusive, lá permaneceram, quando da libertação dopovo,sendograçasaissoqueoJudaísmofoisalvodaextinção,quandododomínioromanosobreIsrael.

Em 539 a.C., Ciro, rei da Pérsia conquistava a Babilônia eautorizava o povo hebreu a retornar à sua terra. Foi a partir dessemomentoque os hebreus passarama se denominar judeus, já que, antesdisso,otermojudeu,provenientedolatimjudaeus,que,porsuavez,derivadogentílicohebraicoyehudhi,referia-seaoindivíduopertencenteàtriboe,depois,aoEstadodeJudá.

Porvoltade516a.C.,seriareconstruído,sobadireçãodeZOROBABEL,oTemplodeJerusalém,aindasobodomíniopersa,queseestenderiaaté312a.C., quando Alexandre da Macedônia tomava Jerusalém. Em 320 a.C., aJudeia é dominada pelos ptolomeus e, em 198 a.C, pelos selêucidas, sóvoltando a ser um Estado livre, em 140 a.C. Essa liberdade, porém, foiefêmera,poisaguerraentreARISTÓBULOeHIRCANO,devidoadissensõesinternas,em 67 a.C, proporcionaria a última e definitiva dominação estrangeira, adosromanos,atéque,peranteareaçãojudaicaaessedomínio,houvesseadestruiçãodeJerusalém,pelaslegiõesdoimperadorTITO,a9domêsavdoano70d.C.,fatoatéhojerelembradonaliturgiadasinagoga.

OJudaísmo,todavia,continuariaasuatrajetórianaBabilônia,ondeforamfundadasnovasyeshivot(pluraldeyeshivá:academiasdeestudodaTorá). Posteriormente, já sob a égide do Islã – a religião muçulmana,também originada na Bíblia – a partir do século VII, o Judaísmo iriadeslocaro seueixoparaaEspanhamuçulmanaeparao restodaEuropacristã. Na Espanha, desenvolveu-se a era de ouro do Judaísmomedieval,pois foi aí que a união árabe-judaica produziu os melhores frutos deintelectualidadeedeespiritualidade.

Depoisocorreriamasgrandesexpulsõesdopovojudeudospaíseseuropeus, enquanto crescia a onda de antissemitismo, iluminada pelas

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fogueiras do SantoOfício, no final da IdadeMédia e continuandona fasemoderna.DuranteaIIGrandeGuerra(1939-1945),oJudaísmosofreriaumgrande golpe, oriundo do nacional-socialismo alemão, sob o comando deADOLF HITLER: o extermínio de dois quintos do povo judeu. Todavia, logodepoisdessatragédiaéqueseriarestauradaaunidadenacionaljudaica,jáque, a 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral das Nações Unidas,presididapeloembaixadorbrasileiro,OSWALDOARANHA,recomendavaacriaçãodeumEstadojudeu,deumoutro,árabe,edeumazonainternacionalizada,ao redor de Jerusalém. Após várias batalhas contra os árabes, que nãoaceitavam a resolução da Organização das Nações Unidas – ONU - oConselhoNacionalJudeueoConselhoGeralSionista,a14demaiode1948,proclamavamacriaçãodeumEstadojudeu,sobonomedeIsrael.

ARELIGIÃO

A religião e o misticismo hebraico foram os que mais subsídiostrouxeram à concretização da mística das religiões monoteístas, quebasearamassuasconcepçõesmetafísicasnafonteúnicadoVerbodeDeus,emanadadaTorá[2],basedafilosofiaedamísticahebraico-judaica.

Os hebreus tornaram-se, realmente, “o povo do livro”, já quedirigiramtodososdeusesforçosaoestudoeàinterpretaçãodaTorá,nãolegando,àscivilizaçõesposteriores,nenhumaoutraobradevulto,naáreadasartesedasciências.Porém,graçasaessaatividade,houveumgrandeincremento do misticismo religioso. A Bíblia (Livro), que foi redigida,possivelmente,entreosséculosVIa.C.–períododoexílionaBabilônia–eIIa.C.–períododosmacabeus,paraosúltimos livrosaceitosnoCânon–mostraumalinguagemfiguradaesimbólica,muitasvezesfantástica,comoos poemas homéricos e, como estes, constituída por diversos elementos.Nela, se nota um esforço constante em direção ao monoteísmo,extraordinárioedefundamentalimportância,jáqueoculta,oucombate,oserrosdamassapopular,supersticiosaeatémesmopoliteísta,masmostraoestadosucessivodamentalidadereligiosadaelitejudaica.

Na Babilônia seria compilada a Mishná – livro das leis moraisjudaicas – interpretação e complemento do texto da Torá. E também naBabilôniaseriacompostooTalmud,queéajunçãodaMishnáedaGuemará(comentáriosdaMishná)[3].

Devido à destruição do templo de Jerusalém, fato que impedia o

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cultosacrifical,surgiria,naBabilônia,ainstituiçãoquesetornouocentroeomotordavidajudaica:aBeth-Am (CasadoPovo),ouaBethhaKenesset(Casa da Coletividade): a Sinagoga, onde a prece substitui o sacrifício,dandoinícioàmodernaliturgiajudaica[4].

A profunda unidade religiosa permanente, sempre sob o espíritodaaliança,tantasvezescelebrada,entreIavé(Deus)eseupovo,aliançaqueera;frequentementeameaçadapelasfraquezasespirituaisdo“povoeleito”econtinuamenterenovadaeincrementada,tantopelaminúcialitúrgicadoslevitas,quantopelasviolênciasdosprofetas,quelutaramcontraaidolatriafenícia,anunciaramascatástrofesameaçadoras,comopuniçãode Israelecondição de seu resgate, e insistiram, sempre no valor redentor dosofrimentoenanecessidadedesemanteraantiga fé,paraquehouvesseesperança,nãosódesalvaçãoindividual,comodetodoopovo.

Essemonoteísmo,criadoeaprofundadopelaselitesreligiosas,masnem sempre seguido pelo povo (como acontece em muitas outrasreligiões), influiu, decisivamente sobre o misticismo transcendental dospovosmodernos,monoteístas,emsuamaioria,edeuàMaçonariaodogmabasilar da esmagadora maioria de seus ritos (os ritos teístas oudogmáticos), que é a crença em Deus, que, para os maçons é o GrandeArquiteto do Universo. Esse conceito domina, há muito o universometafísicomaçônico,sendonosritoscitados,condiçãosinequaenonparaainiciaçãoepararegularidademaçônica.

AMAÇONARIAEOMISTICISMOHEBRAICO

Embora a Maçonaria não seja hebraica, como afirmam muitosautoresdesavisados,arealidadeéqueaspráticasmísticasdoshebreusejudeuscomeçaramasefazerpresentes,nostrabalhosmaçônicos,apartirdoséculoXVIII,apósacriaçãodalendadeHiramAbi,olendárioconstrutordo templo de Jerusalém. As práticas principais, presentes na atividademaçônica,podemserassimrelacionadas:

1.COBERTURADECABEÇAEm todas as cerimônias litúrgicas judaicas, é obrigatória para os

homensacoberturadacabeçacomosolidéu(Kipá,emhebraico),emboraos teólogos afirmemque essa coberturadeve ser constante e processadadesdeonascimentodohomem,ou,maisprecisamente,apartirdobrit-milá

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(circuncisão), realizada no oitavo dia de vida e que simboliza a aliançaabrâmicacomDeus.

NaMaçonaria,nograudeMestre,todososmaçonsdevem,duranteasessãodaloja,manter-secoberto,enquantonosdoisprimeirosgrausdaMaçonariasimbólica(AprendizeCompanheiro),exige-sequeoVenerável(Presidente)dalojaestejacobertodurantetodaacerimôniaritualísticadeaberturaedeencerramentodassessões.Acoberturadacabeçatambéméexercidaemcerimôniasdepompasfúnebresrealizadaspelosmaçons.

Osimbolismomaçônicodessapráticaésimilaraojudaico:significaque, acima da cabeça do homem, existe algo transcendental, onisciente,onividenteeonipresente,queéDeus,oGrandeArquitetodoUniverso.Essacobertura da cabeça, praticamente demonstra a pequenez humana e aprostraçãodohomemperanteDeus,poissendoacabeça,asededamenteedo conhecimento, estandoela coberta,mostra a incapacidadehumanadeentenderadivindade,sendo,quaseumaafirmaçãoagnóstica.

2.AESTRELADESEISPONTASEssa figura, chamada de “estrela deDavid” (MagenDavid), é um

símbolomuitoantigo,quefoiusadoedifundidopeloshebreus,tendosido,também,utilizadopeloocultismoepelaAlquimia.

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OTETRAGAMMATONOnomedivinodeDeusemhebraico,dadireitaparaaesquerda,as

letrasiôd,he,vavaehe,concentraemsitodaaenergiaradicaleaplenitudedepoderdequedimanouacriação.

Elaéformadapordoistriângulosequiláterosentrecruzadoseemposiçãooposta,ouseja:umcomoápicevoltadoparacimaeooutrocomoápice voltado para baixo: o triângulo de ápice superior representa osatributos da espiritualidade, enquanto que o ápice inferior representa osatributosdamaterialidade.

NaMaçonaria,essaestrelasimbolizaadivindadesuprema,tendo,aocentro,asquatroletrashebraicasqueformamonome(impronunciável)deDeus:IÔD,HE,VAVeHE.NaMaçonariainglesa,inclusive,elaéaestrelasagrada,aBlazingStar, flamejante,utilizadaemlugardaestreladecincopontas (hominal) dos pitagóricos, o que está mais de acordo com omisticismodosritosteístas.

O nome hebraico de Deus é encontrado, também no triânguloequilátero,chamadodeDeltaRadiante,ouLuminoso,queseencontranostemplosmaçônicos,aooriente,portrásdacadeiradoVenerável.Tendoostrêsladoseostrêsângulosiguais,eleéumafiguradegrandeequilíbrioemuitaharmonia,tendotido,também,muitosignificadoparaosalquimistas,

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ocultistasecabalístas.NaMaçonaria,elerepresentaoGrandeArquitetodoUniversoe,no interiorda figura,ao invésdasquatro letrashebraicasou,pelo menos, da primeira (Iôd), pode também ser encontrada arepresentaçãodeumolhoesquerdo,que segundoalgunsautores, seriaoolho onividente de Deus. Essa representação, todavia, deveria serreservadaparaospoucosritosadogmáticosenãoteístas,paraosquaisoconjunto do triângulo com o olho simboliza a sabedoria humana; para amísticadosritosteístas,épreferívelaprimeirarepresentação.

A estrela de seis pontas também serve para simbolizar osdirigentes da lojamaçônica, de acordo com as suas atribuições ligadas àespiritualidade,ouàmaterialidade.Assim,notriângulodeápicesuperior,oângulo superior representa o Venerável, enquanto os dois outrosrepresentamosdoisVigilantes,pois,competindoaessesoficiaismaçônicosaorientaçãoespiritualdaloja,elesformamotriângulodaespiritualidade.No triângulo do ápice inferior, o ângulo inferior representa o Cobridor,enquanto os dois outros representam o Orador e o Secretário, pois,competindo a eles a orientação material da loja (o Orador zelando pelocumprimentodasleis,oSecretárioredigindoasataseoCobridorvelandopelasegurançadaLoja),elesformamotriângulodamaterialidade.

3.SIMBOLISMODOSNÚMEROSOshebreusconsideravamcertosnúmeroscomosagradoseoutros

comonefastos,sendo,todoseles,ligadosaideiasdadivindadeedocosmos.A Maçonaria também apresenta a sua numerologia, de acordo com ocaráter místico de alguns números fundamentais, com base não só nomisticismohebraico,mas,também,nopitagorismo.Osprincipaisnúmeros,cujocarátermístico,paraoshebreusdevêserressaltado,sãoosseguintes:

NúmeroUM:unidadeindivisível,éosímbolodeDeus,princípioefundamentodouniverso,sendo,portantoumnúmerosagrado.

NúmeroDOIS:éumnúmeronefasto,poisrepresentaadualidade,ou a divisão entre o ser e o não ser. Essa dualidade, calçada nos textoscabalísticos,nãoserefereacorpoealma,massim,àdúvida,àbipartiçãoentreaexistênciaenãoexistência.

NúmeroTRÊS:éumnúmeroperfeito,dealtosignificadomístico,sendoassim,umdosnúmerossagradosque,na teologiacristã,originária

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do Judaísmo, culmina no mistério da Santíssima Trindade, concepçãometafísicaque, até o séculoVII, comprometia o conceitodomonoteísmo,restabelecidoentão,rigidamentenaEuropa,essaconcepçãofoiretomada,voltandoacomprometeroconceitomoneteísta,poissugeretrêsentidadesdivinas,aoinvésdeuma.Onúmerotrêsaparece,diversasvezes,nostextosbíblicos:ostrêsfilhosdeNoé,ostrêsvarõesqueapareceramaAbraão,ostrêsamigosdeJó,ostrêsdiasdejejumdosjudeusdesterrados.

NúmeroQUATRO:éconsideradoumnúmerocósmico,poisquatroeram os elementos tradicionais (ar, água, terra e fogo), quatro asextremidadesdomundoequatroasbestasdoApocalipse.

NúmeroSETE– é o número sagrado de todos os povos antigos,que lhe atribuíam um valor astrológico e mágico, já que sete eram osplanetas conhecidos na antiguidade.Os hebreus também o consideravamsagrado:Deussantificouosétimodia, seteeramosbraçosdocandelabro(menorá),seteosdiasázimos,seteosdiasdaconsagraçãodossacerdotes,etc.Aexpressão“setevezessete”,muitoencontradanabíblia,9indicaumnúmeroindefinidodevezesquesesupõeperfeitoetotal.

Além desses números fundamentais, outros, compostos, tambémeramconsideradospeloseuvalormístico:

Número DEZ: é um número perfeito, pois resulta da soma denúmerosperfeitos,ouseja,03e07.DezforamosmandamentosrecebidosporMoisés,noSinai,edezaspragasdoEgito.

NúmeroDOZE: era abasedanumeraçãoentreos antigospovosorientais.ExistemdozesignosnoZodíaco,dozetribosdeIsrael,dozemesesnoano,dozehorasnodia,dozepãesdaproposição,etc.

NúmeroQUARENTA:simbolizaapenitênciaeaexpectativa,poisodilúviodurouquarentadias,quarenta foramosdiasqueMoiséspassounoSinaiequarentaosanosemqueoshebreusperambularampelodeserto,aosaíremdoEgito,emdireçãoàPalestina.

NúmeroSETENTA:éumnúmeroperfeito,porsermúltiplodedoisnúmeros perfeitos (07 e 10): setenta anos durou o exílio na Babilônia esetentaeramosanciãosdeIsrael.

Número MIL: é um número essencialmente místico, pois oApocalipse,representaaperfeiçãodavida.

OsnúmerosmísticosmaisusadosnaMaçonariasão:UM:símbolodoGrandeArquitetodoUniverso.

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DOIS:símbolodadualidadeentreosereonãoser,encontradanograudeCompanheiro.

TRÊS: encontrado na mística do Delta representativo de Deus,simbolizaadivindadeúnica,oSupremoÁrbitrodosmundos,semqualquerrelação com tríades divinas, seja do antigo mundo oriental, seja daconcepçãoveladamentepoliteístadaTrindade.

SETE:númeromísticodoMestre,simbolizaaperfeiçãoalcançadanaevoluçãoespiritual.

DEZ: pela junção dos perfeitos números 03 e 07, simboliza ocaminhodoiniciadoemdireçãoàluzeé,também,umsímbolodoGrandeArquitetodoUniverso.

DOZE:representadonasdozecolunaszodiacaisenosdozepãesdaproposição,quesimbolizam,noplanoexotérico,asdozetribosdeIsrael,e,noesotéricodozesignosdoZodíaco.

4.AORDEMDOSESSÊNIOSApós o exílio na Babilônia e a volta do povo hebreu a Palestina,

com consequente reconstrução do templo de Jerusalém, destruído porNabucodonosorII,avidareligiosaeraintensaevibrante,sendodirigidanosentidodapreservaçãodapurezaedaautenticidadedatradiçãohebraica,ameaçadapelosinvasores.

Asdivergências teológicas, aliadas às rivalidadespolíticas, deramorigematrêspartidos,ouseitasreligiosasedosSADUCEUS,adosFARISEUSeadosESSÊNIOS.

Os saduceus representavam o partido dos poderosos e da classesacerdotal,baseandoasuacondutanumaintransigentefidelidadeaotextodaTora,lutandopelasupremaciadopovoeleitoepelagrandezaespiritualdoTemplo.

Osfariseusadmitiam,ale,datradiçãoescrita,ouseja,alémdotextoda Tora, uma extensa tradição oral, que permitia, aos estudiosos,interpretar aquele texto, adaptando-o às diversas circunstâncias. Osfariseus (do hebraico perushin: separados) definiram os conceitosreligiosos do Judaísmo; que iriam ser totalmente aproveitados pelomisticismoepeloCristianismo:ajustiçadivinaealiberdadedohomem,aimortalidadedaalmaeojulgamentodepoisdamorte,oparaíso,oinferno,opurgatório, a ressurreiçãodosmortos eo reinadodeglória.Paulo, que

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depois, seria canonizado pela igreja, como São Paulo, e que era fariseu,levou todas essas doutrinas para o Cristianismo, que difunde até hoje. Ofarisaísmo foi, também totalmente aproveitado pelo Mitraísmo, fazendocomquemuitospesquisadoressituem,erradamente,aorigemdadoutrinacristãnaordemdosdevotosdeMitra.ComadestruiçãototaldeJerusalém,no ano 70, foi a doutrina farisaica que assegurou a sobrevivência doJudaísmo. Não se entende o juízo grosseiro e pejorativo, que se faz dosfariseus,noCristianismo,jáqueadoutrinacristãé,totalmente,baseadanadoutrinafarisaica.

Os essênios praticavam o monaquismo; o homem e mulheresviviamagrupadosemumavidadeisolamentoecontemplação,desilêncioeamor. O seu monaquismo iria ser herdado em grande escala peloCristianismo. Embora muitos autores procurem ver, nos essênios umaordeminiciática, similaràMaçonaria,averdadeéquenadaautorizaessaafirmação, pois eles formavam uma simples entidade religiosa, que, poropção, ficavaafastadadomundo.Umrito tradicional, incrementadopelosessênios o KIDUSH (da raiz Kodesh santo, sagrado) além de ser origem daeucaristia,naigreja,tambémtemlugarnosrituaismaçônicos.

O Kidush era realizado na véspera de uma festa religiosa, ou navésperadoSHABAT(sábado,odiasantificado),pararealçarasantificaçãododia. O principal dos convivas de uma confraria (SHABURÁ) tomava o pão e,lançando sobreele, as suasbênçãos,distribuía-o entreosdemais; faziaomesmo com um copo de vinho de que todos bebiam. Esse ritual, muitoincrementado entre os essênios, era habitual entre as confrarias dedevotos, unidos por alguma afinidade. A última ceia de Jesus com seusdiscípulosfoiumKidush,queprecedeuaPêssech(Páscoa).

A liturgia eucarísticadamissana igreja é totalmentebaseadanoKidush:a“PreparaçãodosDons”équandoselevamaoaltar,ovinho,opãoeaágua,que, serãoapresentadosaoSenhor,pelacomunidadereunida;a“OraçãoEucarística”éopontocentraldaaçãodegraçasedaconsagração,em que se revive a última ceia de Jesus com seus discípulos, quandoabençoandoopãoevinho,eleodistribuiuentreosconvivas.

NaMaçonariaditaFilosófica,oudosaltosgraus,existeumgrauemqueoKidushétotalmenterevivido,sendo,essaaúnicainfluênciamísticados essênios sobre o misticismo maçônico, ao contrário do que queremfazercreralgunsautoresmistificadores,ouingênuos,quechegamaafirmarque “existiram lojas essênias e que Jesus foi iniciado numa delas, sendo,portanto maçom”. Isso é uma heresia histórica que nem merece uma

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análisecrítica.

5.OTABERNÁCULOEOTEMPLODEJERUSALÉMSegundo a Torá, Moisés, seguindo instruções recebidas no Sinai,

apósasaídadoEgito,descritanoÊxodo,mandouconstruiroTabernáculo(emhebraicomiskhan:santuário),paraguardadosmandamentosdaTora;eparaosofíciosreligiososduranteavidanômadepelodeserto.Paraisso,delimitava-se um pátio (praça do Tabernáculo) de cem côvados decomprimento (49,50 metros) e cinquenta de largura (24,75 metros),vedadoporumacortinasustentadaporsessentapostesde2,50metrosdealtura,sendooacessoaelefeitopeloladooriental.

O tabernáculo,propriamentedito,oua tenda (emhebraico suká)ficavanoocidenteeconstavadequatrotendassuperpostas,sendoamaisinterna,bordadaemexcelentelinho,enquantoasoutraseramfeitasdepelee tingidas de púrpura, ficando todas elas, sobre um estrado demadeira.Divididoemduastendas,amaiorformavaumretângulodecincopordezmetros,enquantoamenoreraumcubodecincometrosdearesta.

A tenda menor era o Santo dos Santos (em hebraico: kodesh hákodashim),o lugarmaissagrado, jáquerepresentavaahabitação terrenadeDeus.EmseuinterioreraencontradaaArcadaAliança,contendoaleideDeus(aTora),enelasópenetravaoSupremoSacerdote(Cohengadol),no YOM KIPUR (Dia do Perdão). A tenda maior era o Santo (em hebraicokodesh)econtinha:emfrenteebemaocentrodaentrada,umamesaondese queimava incenso; ao norte, umamesa comdoze pães da proposição,pães ázimos, ou seja, sem fermento (em hebraico: matzol); ao sul, ocandelabrodesetebraços(emhebraico:menorá).

Entre as tendas e a entradadopátio, achava-seumaltarparaosholocaustosousacrifíciosdocultoe,próximoàentradadastendas,aosul,encontrava-seumabaciacomáguaparaapurificaçãodosacerdoteeparaoutraspurificaçõesritualísticas.

O Templo de Jerusalém seguia essa mesma disposição eapresentava as mesmas divisões. A diferença fundamental é que naextremidade oriental do templo (na sua entrada), havia um pórtico, comcincometrosdeprofundidadeegrandealtura,flanqueadoporduascolunasdebronzefeitaspeloartíficeHiramAbi(JACHIN,acolunadadireita,eBOAZ,adaesquerda).

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Astrêsdivisõesdosantuáriorepresentamemambososcasos,astrêsgrandesdivisõesdouniverso,ouseja,océu,omarea terra; osdozepãespropiciaisrepresentamesotericamente,asdozetribosdeIsraeleos ventos setentrionais que, trazendo as chuvas, vivificam as plantações,enquanto esotericamente, simbolizam os doze signos do Zodíaco, comsuas influências sobre o ser humano; o candelabro de sete braços, oumenorá,representaosseteplanetasconhecidosnaantiguidadeesimbolizaomundo dos astros, que trazem a luz; a bacia de bronze (mar debronze),comágua,paraapurificação,simbolizaavidapuraehonrada.

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REPRESENTAÇÃOMÍSTICADOTEMPLODESALOMÃOEmprimeiroplano,asduascolunasvestibularesquenestaantiga

figuraestãoinvertidaseestãorepresentandoaspotênciascriadorasdomachoedafêmea(pateremater)

6.ACABALAA Cabala, que significa “tradição”, é a essência do misticismo

judaico. Como doutrina mística e metafísica, ela é bastante antiga,encontrando-se já na Tora, muitos traços da filosofia místicatranscendentalqueenvolvia,posteriormentesofrendoinfluênciadeoutrasculturas,masconservandosempre,a suaprimitivaoriginalidadee todaasuabelezaeprofundidadeespiritual.

Doutrinabaseadanocontadoíntimocomadivindade,elaemborasendo antiga, só se concretizou na idade média.Sua fonte principal é,realmentebíblica:osessênioseos fariseus transmitiram-na,oralmentee,naépocatalmúdica(séculoIVeV),adoutrinamísticaanalisavaohomem,objetoda criaçãoemsua relação supremacomDeuse estudavao cosmosob dois aspectos: MA’ASSÊ BERECHIT (História da Criação) e MA’ASSÊ MERKABÁ

(HistóriadoCarro,doTronodeDeus).

Ostemasespecíficosdomisticismojudaico,queforamasfontesdaliteraturaedadoutrinacabalísticasão:

A.OAPOCALIPSEElemento importante do misticismo e do esoterismo judaico, o

tema apocalíptico é abordado em diversos trechos referentes a váriosprofetas, como EZEQUIEL, AMÓS, ISAÍAS, JOEL, ZACARIAS, MALAQUIAS e DANIEL, no AntigoTestamento,sendoretomado,noNovoTestamento,porSãoJOÃOEVANGELISTA.

Abasedessa literatura,queseprendeàsvisõesdosprofetas,éofim de Israel e de toda a humanidade e ela é bastante rica em ficções eespeculações em torno da contemplação do espaço celestial, dasangustiantesvisõesdofimdostemposedahoradojulgamentofinal.

Além dos livros dos profetas, a literatura apocalíptica é

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enriquecida por diversos textos apócrifos, como O APOCALIPSE DE ABRAÃO, OAPOCALIPSE DE ELIAS, LIVRO DE ENOC, TESTAMENTO DE ISAAC e outros. Nestes textos, aprincipalvisãoéoarcanjoUriel–noLivrodeEnoc–ouoanjo Jeiel–noApocalipsedeAbraão–que,enviadosporDeus,vêmrevelar,aoshomens,osgrandesmistériosdomundocelestial,comaascensãogradualdaalmaaocéueacontemplaçãodasfalangesangelicaisdotrono,oucarrodeDeus.

B.AVISÃODAMERKABÁEsta visão é descrita no primeiro capítulo de Ezequiel, cujos

trechosprincipaissão:

Olheievi:donortesopravaumventofortíssimo:umanuvemespessaacompanhadadumclarãoeumamassadefogoresplandecenteà

volta;nomeiodela,via-sealgosemelhanteaoaspectodummetalresplandecente.Eaocentro,distinguia-seaimagemdequatroseresvivos,todoscomaspectohumano.Cadaumtinhaquatrofacesequatroasas.Assuaspernaseramdireitaseasplantasdospésassemelhavam-seàsdeboiecintilavamcomobronzepolido.Debaixodassuasasas,nosquatrolados,apareciammãoshumanas;assuasfaceseassuasasasdirigiam-separaosquatropontoscardeais.Asasasestavamligadasumasàsoutras;quando

avançavamnãoseviravamparaoslados;cadaumdosseresvivoscaminhavadiantedesi.Noquetocaaoseuaspecto,tinhamfacedehomem,àfrenteeosquatrotinhamumafacedeleãoàdireita,umafacedetouroàesquerdaeumafacedeáguiaàretaguarda.Eassuasfaceseassuasasasestendiam-separaoalto;cadaumtinhaduasasasquesetocavameduas

quelhecobriamocorpo.(Ezequiel,1-4a11).

Euviaosseresvivosenotavaquehaviaumarodanaterraaoladodecadaumdosseresvivos.Asrodasdavamaimpressãodeterobrilhodecrisólitos;todasdavamaimpressãodeteromesmoaspectoepareciamtrabalhadasdetalmaneiracomoseestivessemumanomeiodaoutra.

(Ezequiel,1-15e16).

Haviaalgosemelhanteaumaabóbadabrilhantecomoocristalsobreascabeçasdosseresvivos;eaabóbadaestendia-sesobreascabeças.

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Asasas,voltadasumasparaasoutras,estendiam-sesobaabóbada;cadaumtinhaduasquelhecobriamocorpo.Euescutavaoruídodasasascomoobarulhodasgrandestorrentes,comoavozdoOnipotente,quandoelesavançavam,oucomooruídodocampodebatalha;quandoparavam,asasasbaixavam.Eporcimadaabóbada,queficavasobreassuascabeças,

fazia-seumgranderuído;quandoparavam,asasasbaixavam.Pelapartedecimadaabóbadaqueficavasobreassuascabeças,estavaumacoisa

semelhanteapedradesafira,emformadetrono,esobreestaespéciedetrono,noalto,pelapartedecima,umsercomaspectohumano.Everifiquei

que,doquepareciaacinturaparacima,tinhacomoqueumbrilhovermelho,algocomofogoàsuavolta,edacinturaparabaixovicomoquefogoespalhandoumclarãoàsuavolta.Oesplendoràsuavolta,pareciaoarco-írisqueaparecenasnuvensnosdiasdechuva.Eraalgoquetinhao

aspectodaglóriadeDeus.(Ezequiel,1-22a28).

EssassãoaspartesprincipaisdadescriçãodotronodeDeusedosquerubinsqueotracionavam,embora,em28versículos,Ezequielfaçaumadescrição bastante detalhada, inclusive das rodas do trono de Deus, daítambémonomedecarrodeDeus,dadoaotrono.

Pode-se notar que Ezequiel não tinha palavras humanas pararepresentar, com exatidão, as figuras celestiais, dizendo sempre que seassemelhavam,quepareciam,queeramcomo,etc.

Os quatro seres vivos, que formavam uma espécie de quadrado,comumemcadaumdoslados,recordam,muitofortemente,oskarifudosassírios, cujo nome corresponde aos querubins da arca da aliança. Elestinhamcabeçadehomem,corpodeleão,patasdetouroeasasdeáguia;assuasfiguras,esculpidasemmetalserviamparaguardarospaláciosassírios.Asquatroformassimbolizamaessênciadivina:ohomem,comoimagemdaracionalidade, representa a sabedoria de Deus: o leão, como rei dosanimais, simboliza a majestade divina: o touro, como símbolo do poder,representa a onipotência de Deus; a águia, símbolo da velocidade,representa a maneira como Deus conduz seu povo nas suas asas. Éinteressante registrar que esses quatro seres, a partir de Santo IRINEU,passaram,entreoclero,aserosímbolodosquatroevangelistas.

OTronoéolugardamaisaltaglóriadeDeus,éoobjetivodavisãomísticaedocaminhomístico,atravésdospalácioscelestiais(emhebraico:

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hekalot), já que Merkabá se eleva ao sétimo e último dos céus. Essaconcepção dos sete céus, através dos quais a alma se eleva, é bastanteantiga, precedendo, mesmo, o estabelecimento da mística hebraica. Arepresentaçãodotronocomrodas,comoumcarro,serveparamostrar,aosjudeusexilados,queDeusnãoestáligadoapenasaotemplodeJerusalém,maspodemover-se livremente,parasempreacompanharoseupovo,nasdiásporasemesmonocativeiro.

Segundo o tratado AS GRANDES MORADAS (em hebraico: HekalotGuedolot), a viagem visionária do espírito aos céus relaciona-se com adescidadaMerkabá;eogrupomísticoaela ligadoéodosYORDÊHAMERKABÁ

(osquedescendemdaMerkabá).AliteraturaligadaàgnosedaMerkabáébastanteextensaehermética:alémdojácitadoLivrodeEnoc,oqualtrazamais antiga descrição da contemplação do Trono, temos As GrandesMoradas – o mais importante tratado sobre o assunto – as PequenasMoradaseoalfabetodorabiAKIBA.

Todos esses textos tornaram-se bastante herméticos, porqueforamproduzidosporfraternidadesquenãotransmitiam,publicamente,asuasecretatradiçãomística.Taisfraternidadestinhamcaráteriniciáticoe,para ser admitido à iniciação no fechado círculo místico da Merkabá, ocandidato tinha que passar por um noviciado; neste, o noviço recebiaprofundosensinamentosespirituais,transmitidosnosentidodepurificá-loe introduzi-lonavidacontemplativa,quepermitiaaascensãoatravésdossete palácios celestiais, até chegar à morada divina. Tais fraternidadesinfluenciaram,profundamente,diversassociedadesherméticas iniciáticas,que surgiram posteriormente, religiosas, ou não, como é o caso doMitraísmopersa,partedareligiãomazdeistapersa,totalmentecalcadanoJudaísmo.

Juntamente com a visão daMerkabá e relacionada a ela, há umarevelaçãoherméticaeestranha,queéamedidamísticadocorpodeDeus(emhebraico: Shiur Komá). Esta já é encontrada nos textos das GrandesMoradas e é a mais profunda linguagem primitiva da mística judaica.Muitos cabalistas, comoYEHUDAHALEVI considerarama linguagemobscura eintrincada da Shiur Komá como o símbolo de uma espiritualidadeparticular. As medidas exageradas atribuídas ao corpo místico de DeusservemparamostrarainsignificânciadohomemperanteDeus.

C.AHALAKÁ

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HALAKÁ,quesignifica“mododeandar”,alicerceepilardosprincípiosreligiosos,éocomentáriolegislativodaspartesjurídicasdaTorá.

ÉnainterpretaçãodaToráquesemanifesta,demaneiraoriginaleparticular,opensamentorabínico,tendo,osmestresdoTalmud,chamadoaatençãoparaasuaextraordináriaimportância.MAIMÔNIDES(MOSHÉBENMAIMON),um dosmais importantes teóricos do Judaísmo ibérico, em sua principalobra, “Guia dos Transviados”, ou “Guia dos Perdidos”, enfatiza o caráteroriginal e filosófico dos mandamentos da Torá (em hebraico: mitzvot,pluraldemitzvá).

ComoMaimônides, outros talmudistas consideraramaHalakádeduas maneiras: quando ela se liga intimamente à Torá e quando ela semantémcomotradição.Jáparaoscabalistas,elaémuitomaisimportanteeprofunda, pois eles vêm, em cadamitzvá, um ato com influência sobre odinamismo do universo. Nesse sentido, a Halaká contribuiu para odesenvolvimentodopensamentocabalístico.

D.AAGADÁAGADÁ, que significa lenda, narrativa, alimentou extensamente, as

fontes místicas da Cabala. Ela se prende às narrativas tecidas pelaimaginação, ao longo de diversas gerações, e aos relatos prodigiososatribuídos aosmísticosda era talmúdica, que interpretavamosmistériosdaTorá(emhebraico:sitrêTorá),emrelaçãoàestruturauniversal.Destamaneira, ela apresenta, sob a aparência de lenda, de ficção, de contoromanceado,umaatitudecontemplativaemística.

Evidentemente, existe uma profunda diferença entre a AgadácabalísticaeadainterpretaçãodaTorá,poisacabalísticatemmuitomaisextensão e profundidade, sendo mais mística e mais mítica do que a dainterpretaçãodaTorá.

E.AALEGORIAEstabeleceram,osfilósofosmísticos,queosmistériosdaTorásão

esclarecidosatravésdaalegoria.Oscabalistas,porsuavez,enfatizaramocaráter transcendental da alegoria, que acabou por ser revestida de umsignificado puramente simbólico. Chegar-se-ia, desta maneira, a umsimbolismo altamente desenvolvido, que iria influenciar, de modomarcante,muitassociedadesdecaráteriniciático.

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Deacordocomosimbolismocabalístico,oCriador,macrocosmo,eacriatura,microcosmo,emlugardesedistinguir,sãoumasócoisa,numamísticafusão,completaeíntima.Osmitzvot(mandamentos)sãosímbolosgraças aos quais o sentido oculto de sua aplicação torna-se claro etransparente.

Essessãoosprincipaistemasespecíficosdomisticismohebraico-judaico, fontes de toda a Cabala oral ou escrita, já que, com o passar dotempo, houve a tendência a se escrever a tradição, que era propagadaoralmente,comojáaconteceracomaMishnáeoTalmude.

Existemvários textos da literatura cabalística, influenciadoresdafilosofiamísticacontemporânea;entretantoosdoisprincipaissão:

E.1.OSEPHERYETSIRAOSEPHER YETSIRA (Livro da Criação), é um curto tratado escrito em

hebraico,entreosséculos IIIeVI.Édeautoriadesconhecida, tratando-sedaprimeiraobraque,sobopontodevistamístico,revelaumaconcepçãofilosófica dos elementos fornecedores do universo, sem levar em conta oelementoétnico-religioso.EleéoguiaespiritualparaavisãodaMerkabá,tendo,suacosmologiaesuacosmogonia,setornadoclássico.

SegundooYetsira,acriaçãodoselementosqueformamomundoestá subordinada aos dez números fundamentais (sefirote) e às vinte eduas letras do alfabeto hebraico, que envolvem forças cósmicasinatingíveis,submetidasacombinações,quevariamatravésdacriação.

As vinte e duas letras do alfabeto hebraico são consoantes eevoluíram a partir de um alfabeto pictográfico, onde as letras eramrepresentadas por pinturas, ou desenhos, do objeto correspondente.Asvinteeduasletrascomoseuprimitivosignificadosão:

Aléf–BoiBeth–Casa

Gimel-CameloDaleth–PortaZayn–ArmaHe–FuroVav–Prego

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Hêth–BarreiraTeth–Serpente

Iôd–MãoKaf–Palma

Lámed–LátegoMen–ÁguaNun–PeixeSamek–(?)Ayin–OlhoPe–Boca

Sade–AnzolKôph–NucaRêsh–CabeçaShin–DenteTau–Sinal.

Asvinte eduas letrashebraicas e asdez sefirotes sãoas trinta eduas sendas místicas, com as quais Deus criou o Universo, através dacombinaçãoedapermuta.

DessaManeira, o YETSIRA aborda as origens e as relações das dezsefirotes com a divindade; as quatro primeiras eram o encadeamentoemanatistaeasoutrasseis,ligadasàsdireçõesdamoradacelesteemanamdaoposiçãodosinetedivino,representadopelo tetragrama(IÔD,HE, VAV, HE),nome impronunciável deDeus. Por outro lado, omundo nasce pela açãodasvinteeduasletraseascriaturasnascempelapermutaçãodelas;destamaneira,opoderdoVerboreveladoproduzacriaçãoapartirdonada,apassagemdonão-seraoser.

Na Yetsira, as vinte e duas letras estão agrupadas da seguinteforma:

I.Trêsletrasmão(imot),quesão:Aléf,MeneShin.II.Setesignos,ouseja,deduplapronúncia.III.Dozesignossimplesoudeúnicapronúncia.

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Astrêsletrasmãecorrespondemaostrêselementossuperioresdanatureza,ouseja,oar,queéoelementocentraleosoutrosdoisque,dele, jorram e dependem: para cima, o fogo, elemento do mundocelestial,e,parabaixo,aáguaelementodomundomaterial.

Os sete signosduplos simbolizamos seteplanetas, enquanto osdozesignossimplesrepresentamosdozesignosdoZodíaco.

Essa divisão cosmológica das letras é aplicada ao tempo e aoespaço,aomacrocosmodivinoeaomicrocosmohumano.OYetsirapossuiumprofundoalcancefilosófico,poderemsepresta,também,ateurgia(bemdeterminadanaMerkabá)eamagia,muitoexploradanaIdadeMédia.

Para compreensão, mesmo superficial da profunda mística doYetsira, éprecisoqueseconheçamos tiposdecombinaçõesde letrasearelaçãocomosnúmeros;existemtrêstiposdecombinaçõesdas letrasdoalfabetohebraico,comusonaCabala.

NOTARICOM,palavrahebraicaquesignificapermuta;outransposição.Com a permutação das letras de uma palavra, obtemos outra, de sentidoopostoaodaprimeiraemboraformadapelasmesmasletras.

GUEMATRIA,queéapalavradeorigemlatinaedeturpada,refere-seàavaliação numérica da palavra. É a combinação mais empregada entretodas e, dela, temos exemplos clássicos de guematria, que merecem sercitados:

I.ApalavraKATIT,formadapelasletrasKaf,tau,iôdetau(dadireitaparaaesquerda,comosãolidasaspalavrashebraicas),significaoóleodeoliva usado no candelabro (menorá). As duas primeiras letras, kaf e tau,correspondem, numericamente, a 420, que é o Primeiro Templo deJerusalém;asduasúltimas,iôdetau,correspondema410,queéonúmerodeanosduranteosquaisomenoráiluminouoSegundoTemplo.

II. A palavra IÁIN (vinho) corresponde, numericamente, a SOD

(segredo), significando que o vinho revela segredos, ou seja, quem estáembriagadonãoconsegueguardarsegredos.Oditadolatinoinvinoveritas,relembraessapassagemcabalística.

E.2.OSEPHERHÁZOAR

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O SEPHER HÁ ZOAR (Livro do Esplendor) é onde se encontra,praticamente, toda doutrina da Cabala, sendo portando, a maior obracabalística,vista,pelosmísticosjudeus,comoaobracanônicamáxima,comimportânciaigualàdaToraedoTalmude.

A tradição atribui a autoria do Zoar ao rabi SIMEON BAR YOHJAI, queviveunoséculoIIeque,durantetrezeanos,teriapermanecidonumagruta,na Palestina, onde teria recebido a revelação desse texto cabalístico. Acríticareconhece,todavia,aMoshédeLeon,comoocompilador,ouoautordoZoar,cujotextosurgiu,naEspanhaem1275.

Escritoemaramaico,oLivrodoEsplendoréumaobrateológicaemetafísicadegrandeprofundidadeespiritual,envolvendocomentáriosdasprincipaispassagensdaTora,entreosquaisseachamintercaladosváriostratadosparticularesecomplementares.Foiescritoemformaderomancemístico-filosófico, desenrolado na Palestina, que é vista comoum lindo etranquilo campo, adornado de vinhas, figueiras e pés de romã, muitopropícioàmeditaçãoeàelevaçãoespiritual.

Afinalidadeessencialdaobraé fazeradescriçãodavida interiordeDeusetraçarocaminhodoserhumanoemdireçãoàuniãomísticacoma divindade; a sua doutrina, entretanto, não se apresenta de maneiraharmoniosa com um todo compacto, sendo, muitas vezes, um complexointrincado de pensamentos representados por símbolos de difícilcompreensão.

Demaneirageral, oZoarmostrao infinito incognoscíveldeDeus(EnSoph), emsuas relaçõescomouniversoecomohomem,atravésdasdez sefirote, que representam os dez atributos fundamentais da vidadivina. Pela sua doutrina, existem dois mundos ligados à divindade: oprimeiro relacionado com o EN SOPH, é totalmente oculto e inacessível àmenteeàinteligênciahumana,enquantoosegundo,vistosoboângulodoisdez atributos, acha-se abaixo do primeiro, é acessível àmente humana epermiteoconhecimentodeDeus.Narealidade,osdoismundosformamumsó,emboraoEnSophpermaneça,sempre, incognoscívele intransponível,sebemqueasuaatividadesejapercebida.

Essa atividade do En Soph, percebida pela mente humana,manifesta-senassefirote,que transmitemavidadivina,e, tomando lugaremDeus,permitem,aohomempercebê-lo.Essapotênciasefiróticamísticapermitiu, aos cabalistas, fazer uso antropomorfismo, para esclarecimentodos símbolos da Tora. Desta maneira, temos a transposição das sefirote

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paraaimagemdeumhomem.DeacordocomoGênese,ohomemfoicriadoàimagemdeDeuse,

assim, existe, nele, um sopro de divindade, um pouco do Criador nacriatura.Todavia,ohomemterrestre,cósmico,possuimuitamaterialidadee necessita de um aperfeiçoamento; o futuro homem aperfeiçoado, oMECHI’AKH(Messias,ungido),correspondeaoADAMKADMON,queéumreflexodaaltaespiritualidade,sendo,oseucorpo,noZoar,consideradocomoamarcadaalma.

Assim,omicrocosmo,queéoorganismohumanosendocópiadomacrocosmo(doUniverso,deDeus),podeterumarepresentaçãoprecisa;Deus,entretanto,nãopodeserrepresentadosobnenhumaformae,destamaneira,ésimbolizadopeloAdamKadmon,soboaspectodassefirote.

São diferentes as sefirotes do Yetsira e do Zoar. Nestes elas sãoincorporadas sob vários nomes, de acordo com a figura humana querepresentaoAdamKadmon.

Deacordocomessafigura,temosasseguintessefirotes:

1.Kether–Coroa;2.Hokmá–Sabedoria;3.Biná–Inteligência;4.Hessed–Graça;5.Din–Justiça;6.Tiferet–Beleza;7.Netsá–Vitória;8.

Had–Majestade;9.Iesod–Fundamento;10.Malkhut–Reino

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As nove primeiras sefirotes formam três tríades, que são asseguintes:

Primeira Tríade: composta por Coroa (Kether), Sabedoria(Hokmá) e Inteligência (Biná), forma o “Mundo da Inteligência” (OLAM HÁMUSCAL).

SegundaTríade:compostaporGraça(Hessed),Beleza(tiferet)eJustiça(Din),formao“MundodoSentimento”(OLANHÁMURGAKE).

Terceira Tríade: composta por Vitória (Netsá), Fundamento(Iesod)eMajestade(Had),formao“MundodaNatureza”(OLAMHÁMUTBA’A).

AdécimaSEPHIRÁ(singulardesefirote),Reino(Malkhut),encerraasqualidadedetodasasoutrassefirote,oudadivindade,paratransmiti-lasàcriaturahumana.

O lado direito da figura, por conter as sefirote Graça e Vitória(Hessed e Netsá), é chamado “Pilar do Amor”, correspondente àmisericórdia de Deus. O lado esquerdo, por conter as sefirote Justiça eMajestade (Din e Had), é chamado “Pilar do Rigor” ou “Pilar doJulgamento”,correspondenteaorigordeDeus,à justiçadivina.Ocupandoposição central na figura, a sephiráBeleza (Tiferet) é chamada “CoraçãoCeleste”, ou seja: ela representa o sentimento, o amor e a misericórdiadivina,motivopeloqualessashepiráé,também,chamadadeMisericórdia(Rahamim).AsephiráFundamento(Iesod),ocupandoaregiãodosórgãosgenitais, combina as potências geradoras do macho e da fêmea, sendo,assim,fundamente,abasedavidaedaeternidade,transmitidaatravésdadescendência.

PorintermédiodoAdamKadmon,acorrespondênciaentreDeuseohomeméabsoluta,sendototalasuauniãomística.

A criação do mundo surge, na Cabala, como uma verdadeiracosmologia.OZoarensinaqueDeusgerouoespaço,quesemanifestacomoumprimeiroinvólucro,pormeiodeumafaíscaprimordial,comaspectodeumponto;essaorigemdaluz,comoseencontranagnose,queconsideraasubstância domundo sob forma de uma luz primitiva. Por outro lado, opapelcentraldacriaçãodomundoenvolvea“palavra”esuarelaçãocomaluz se apresenta da mesma forma que a união do conhecimento com aobscuridade(segundooGênese,aPalavrasemanifestoucomaapariçãodaLuz).

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Acriaçãodomundoforadonadaaparececomooaspectoexteriordeumtodoquesesituanaprópriadivindadesuprema.AssimomovimentodoocultoEnSophnonadaeessenada,deordemmística,queemanadeDeusnas sefirote,quandosemanifesta, é chamado,pelos cabalistas,deamais alta sephirá, a Coroa supremadaDivindade, que, afinal, é o abismoque se torna visível nas brechas da existência. A partir disso, várioscabalistas sustentam que, em cada transformação da realidade, em cadamudança de forma, ou cada vez que um estado de coisas é alterado, oabismo do nada é atravessado e torna-se visível durante um místico epassageiroinstante.

Emrelaçãoaohomemesuaalma,oZoarébastanteexplícito,pois,paraele,ohomemrepresentaumpapeldeextrema importância:eleestácolocadono centro doUniverso e o poder domundo está subordinado àsuacriação.

Segundo o Zoar, a essência do homem reside na alma e estaapareceemtrípliceforma:

NÉFEQUE (alma vegetativa), que dá a vitalidade e o sentimento aohomem, em seu comportamento exterior. Ela é a força vital do homemecorresponde ao sangue, que seria, então, a alma vegetativa; a qual, nãosendo atributo exclusivo do homem, é comum a todos os animais. É porissoqueostextosbíblicosproíbemoshomensdesealimentardesangue.

ROUÁ (alma intelectual), que corresponde ao ar, é o órgãoda vidainterior,intelectualementaldaalma,que,decertamaneira,representaumfragmentodavidauniversal.ÉatravésdelequesefazauniãodaNéfequecomaNechamá.

NECHAMÁ (sopro, alma espiritual), que se encontra no acme dehierarquia progressiva, corresponde à alma superior, à mais altaespiritualidade,porcujo intermédioocorreaunião(debekut)dohomemcomomundocelestial.

Diz o Zoar que “o ser humano reproduz, assim, seu protótipodivino,noqualastrêsfaculdadesformamumasóessência”,oquesignificaque,emboradivididaemtrêspartes,aalmahumanaéessencialmenteuna.

Segundo os cabalistas, o pensamento, exprimido e difundidoatravésdosórgãosdafala,ésemelhanteàalmaeapresenta,também,trêsetapas:osopro,osom,ouapalavra,queéosomarticuladoecoordenado.No plano físico há a correspondência dessas três etapas com os trêselementosdanatureza:Aque(fogo),Main(água)eRouá(ar).Juntando-se

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astrêsletras(hebraicas)iniciaisdessaspalavras,nessaordem,obtêm-seapalavra“falar”.

Nota-se,assim,queoZoartemumaconstantepreocupação,comohomem e nada deixa escapar ao seu destino, que considera como umperene prodígio, desde a chegada da alma ao corpo, por ocasião donascimento,queévistocomoadescidadaalmadesdeo JardimCelestial,superior,atéaoJardimdoÉden,inferior,e,daí,atéàTerra.Dizessetexto,cabalístico, que, no momento da concepção, a criança, sob uma formaetérea, paira acima dos corpos dos pais; diz, também, que, antes donascimento,ohomemseencontra comoAdamKadmondivinono limiardosdoismundos(oespiritualeomaterial).

OZoarmostra,narealidade,umcertoagnosticismo,aoafirmarqueoinfinitoincognoscíveldeDeus(EnSoph)éinacessívelàmentehumana;assim, toda a filosofia mística da Cabala é baseada na busca doconhecimentodoAbsoluto,do impenetrável, da sabedoria cristalizadanoAdamKadmon,querepresentaomicrocosmodaespéciehumanaperanteomacrocosmo divino, que não pode ser compreendido, nem representadosobnenhumaforma.

AMaçonariaseguedepertoessadoutrinacabalística,nasuabuscaconstantedaverdadeedasabedoria,baseadana tríplice relaçãodaalmahumana com o infinito, e não admitindo a acessibilidade à mentedivina.Uma prática demonstração disso está no Compasso, símboloexotéricodoconhecimento, esotéricodoEspíritoeumadas trêsGrandesLuzesEmblemáticasdaMaçonaria(aoladodoEsquadroedoLivrodaLei,que, geralmente, é a Bíblia); existem, nos diversos graus maçônicos,aberturasdiferentesdashastesdocompasso,queécolocado,entrelaçadocom o esquadro, sobre o Livro da Lei, nas sessões maçônicas (nos trêsprimeiros graus, Aprendiz, |Companheiro e Mestre, ou seja, na MAÇONARIA

SIMBÓLICA,aaberturaéde45°);todaviaomáximodeaberturadocompasso,em toda escala maçônica, corresponde aos 90° de um ângulo reto, issosimboliza a limitação do conhecimento humano, perante a onisciênciadivina,representadapelos360°dacircunferência.

Embora existam muitos graus maçônicos influenciados pelamísticadaCabala,principalmentedoZoar(emboraanumerologiamostreinfluênciadoYetsira),omaiscabalísticodetodososgrausmaçônicoséodeCompanheiroondeinteressaadualidadedoSeredoNão-SerdoYetsiraeatríplicecomposiçãodaalmahumana(vegetativa,intelectualeespiritual)doZoar.

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É fácil perceber, por toda esta exposição, que a maior parte domisticismo maçônico é proveniente, sem dúvida, da mística religiosahebraica,oquetambémacontececomasreligiõesmonoteístasatuais.

[1]Atradiçãocolocaaorigemdotermohebreuemibri,quesignifica“opovodoladodelá”,ouseja,doladodeládorioEufrates.Asfontescuneiformes,todavia,apontamparaumaoutraorigem:referindo-seaosemigrantes, lavradoresemercenáriosqueapareceramnaAssíria,noEgito,naBabilôniaeemCanaãequeosdescendentesdeAbraãoinvocamcomoseusancestrais,dão-lheosnomedehabiru.

[2] A Torá: lei, mandamento, corresponde aos cinco primeiros livros do texto bíblico (Gênesis,Êxodo,Levítico,NúmeroseDeuteronômio).

[3]AexposiçãoeinterpretaçãodotextodaTorádeuorigemaduascorrentesexegéticas:amidrashhalaká e a midrash hagadá. Midrash é o conjunto de lendas, mitos e estudo da Torá,transmitido, durante séculos, por via oral, sendo compilado nasyeshivot (plural deyeshivá:academias de estudos da Torá) babilônicas, após o exílio. Halaká, em hebraico, significa,literalmente “modo de andar” (andar dentro da lei moral). Hagadá, em hebraico e aramaicosignifica“conto,lenda,narrativa”.Assim,midrashhalakáéoensinamentolegislativodaspartesjurídicasdaTorá,enquantomidrashhalakáéocomentáriolivredaspartesnarrativasdaTorá.AssuascorrenteslevaramàconcretizaçãodaobraqueéconsideradaaessênciadoJudaísmo:aMishná, que significa “ensino”, ou “repetição”. Isso se deveu aos tanaim (docentes). E, assimcomo estes haviam interpretado a Torá, a Mishná também teve os seus estudiosos ecomentadores, osAmoraim,que, comseu trabalhonasacademiasdapalestinaedaBabilônia,levaramàconclusãodaGuemará,que,emhebraico,significa“complemento”.AjunçãodaMishnácomaGuemaráformaoTalmud.

[4]Sinagoga,dogrego:synagogé:reunião,pelolatim:synagoga,designaaassembleiadosfiéis,sobaantigaleijudaica.Éolugarondeopovojudeusreúnem-separaorar,meditareestudaroslivrossagrados.Segundoaconcepçãojudaica,asinagoganãoéumtemplo,mas,sim,acasadopovo,àesperada reconstruçãodo templo.Nela, aspreces substituemo sacrifício cruentode animais,realizadosnotemplodeJerusalém,segundopreceitosdaTorá.Asprincipaisprecessão:minc-há,shaharitearvit.

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IX

AMÍSTICANOHINDUÍSMO,NOBUDISMOENOLAMAÍSMO

HISTÓRIA

AProto-HistóriadaÍndiainicia-seemtornode2000a.C.quandoosárias, tribo de pastores, vindos do Irã, começaram a ocupar a região doPunjab,impondooseudomínioaumajádecadentecivilizaçãodoshindus,decujaculturaeorganizaçãomuitofoiabsorvido.

Começaria,então,oPeríodoVédicodaHistóriadaÍndia,oqualseestenderiadecercade1500a500a.C.eédescritonosVedas,quesãohinossagrados, escritos em sânscrito, em diferentes épocas. O principal dosVedaséoRig-Veda,quedescreveaslutasentreáriasedravidianos,novaledo Indos, trazendomuitas informaçõessobreoshábitossociaisdaépoca.Os outrosVedas,menos importantes - Yajur-Veda, Sama-Veda eAtharva-Veda-adotadospelosbrâmanes,mostramaépocadaconquistadaplanícieentre o Indos e o Ganges, quando surgiu oHinduismo, uma síntese ário-dravidiana,comdivisõessociaisemcastasevarnas.SónoséculoVIa.C.équesurgiriamreformadoresreligiosos,preconizandoumanovaorientaçãoparaohinduísmo.UmdessesreformadoresfoiBuda.

A partir dessa época, a região começaria a sofrer invasõesestrangeiras, inicialmentecomDário,reidaPérsia,e,depois,em327a.C.,com os gregos de Alexandre daMacedônia, os quais anexaram o Punjab.Apósaexpulsãodosgregos,em325a.C.,ChandraguptaMauriainauguravao Império Mauria, que seria ampliado no século seguinte, com AsokaMauria,o“reimonge”,omaioremaisacatadosoberanodaÍndia.

Depois de nova invasão dos gregos da Bactria, subsistiriamdinastiasnacionais,comosandhras,atéaoadventodoImpérioGupta–quedominou a região entre 320 e 470 d.C. – liderado, inicialmente, porChandraguptaI.NoiníciodoséculoV,oimpérioatingiriaoseuapogeu,naépoca considerada da Índia Clássica, quando ocorreu a idade de ouro daliteraturasânscrita.Ocorreriam,então,emsequência,novasinvasões:adoshunos brancos, a dos palavras e a dos cholas, até ao início do períodoislâmico, a partir do século VIII, formando-se, depois o Império Mongol,tendo Akbar, como o maior dos soberanos, e Shah Jahan como o mais

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conhecido,principalmentepelasuariquezaeporserumgrandeconstrutor(construiu, inclusive, no século XVII, em Agra, uma das maravilhas domundomoderno:oTajMahal,mausoléudesuamulherMumtazMahal).

Nessa época já se haviam iniciado as penetrações europeias, porinteressecomercial,noterritóriodaÍndia,começandocomosportugueses,nosséculoXVeXVI,econtinuandocomosholandeses–esuaCompanhiaGeral das Índias Ocidentais – os ingleses – com a English East IndiaCompany–eos franceses.Entre1765e1858,estabeleceu-seaconquistada Índia, pelos ingleses, definitiva, limitada, no princípio, e total,posteriormente, graças aos atritos entre os príncipes indianos, o uso detropasindianascontraindianos,alémdahabilidadedosingleses,dirigidospor chefes competentes. Transformada em colônia inglesa, a região ficoudivididaemduaspartes:uma, a Índiabritânica, sobadministraçãodiretadaEnglishEastIndiaCompanye,depoisdogovernoinglês;outra,formadapelosEstadosnativos,osquaisconservaramsuasdinastias,sobsupervisão,porém, dos ingleses. Nesse período, os ingleses foram impondo a suacultura,emprejuízodaculturahindu.

NoiníciodoséculoXX,eraconstituídoummovimentonacionalistapela independência da Índia, através de uma ação política, liberal enacional,aqualcriouaAssociaçãoIndianaeoCongressoNacionalIndiano,tendo,esteúltimo,reivindicadoaindependência,em1906,apósumasériede atos de terrorismo. Pouco tempo depois, começava a se projetar umnovolíderMohandasGhandi.AIGrandeGuerra(1914-1918)acelerariaoprocessodelibertação,havendoumasériedemanifestaçõesantibritânicas,sobaorientaçãodeGhandi.Aquestão,todavia,demoravaaserresolvidae,com a eclosão da II Grande Guerra (1939), o Congresso exigiu aindependência,masnadaobteve.Comofimdessaguerraeainstalaçãodeumgovernotrabalhista,ogovernoinglêsanunciava,parajunhode1948,atransferênciadesoberania,estabelecendo-se,então,aleideindependênciada Índia e dois Estados independentes: os Domínios do Paquistão e daÍndia, com limites a serem fixados. A 30 de janeiro de 1948, Gandhi eraassassinado por um fanático, como responsável pela partilha. AConstituiçãodefevereirode1948propunha,então,umarepúblicafederal,ao invésdeumdomínio.Poucodepois,os francesesrenunciavamàssuasfeitoriasnacosta indiana,asquais foramanexadasao territórionacional.Só Portugal é que retardou o processo, renunciando, apenas em 1961, aGoa,DamãoeDiu,queforamanexadaspelosindianos.

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ASRELIGIÕES

OHinduísmoeasuaformamaisrequintada,oBramanismo,sãoasreligiõesmaisantigasdaÍndiaecaracterizam-seporumcomplexosistemadedivisãodascastassociais.

Religiãoadotadapelosmiospopulares,oHinduísmoaceita,comofatosverdadeiros,asorigensmitológicaseasexplicaçõescosmológicasqueconstituemos ensinamentos.OBramanismo, por outro lado, só aceita osfatosmitológicoscomofundamentosdeverdadesespirituaisespecíficos.

A origem desses sistemas religiosos remonta à religião védica,introduzida na Índia, no segundo milênio a.C. pó povos de origemdesconhecidas.TantooHinduísmo,quantooBramanismo,representamafusãoda religiãovédica comas crenças já existentesna Índia antesdo IImilênioa.C,predominandodetodooHinduísmo.

A religião védica é baseada nos Vedas, que são os seus livrossagrados,dosquaisoprincipaléoRigVeda,quesetornouolivrosagradodossacerdoteshindus,otextomáximodetodooHinduísmo.

Embora admita a existência de incontáveis deuses, oHinduísmo,comotodasasreligiõespoliteístas,acabaassinalandoumacertatendênciaaomonoteísmo,aoelegeroseuprimeirograndedeus,doqualprovêstodososoutrosdeuses.EssedeusprimordialéBrahma.

ParaRigVedaexistianocomeçodos tempos,omundosubmersona escuridão, imperceptível, sempoder serdescoberto, ou revelado, peloraciocínio. Então, aquele que só o espírito pode perceber, que não tempartesvisíveis,éeternoealmadetodososseres,desprendeuoseupróprioesplendor e, daí, fez emanar de sua substância as diversas criaturas. Acriaçãodomundo,segundoosVedas,apresentaextraordináriasemelhançacomasconcepçõesequivalentesgeradaspordiversospovosdaantiguidadee, inclusive, com a Bíblia, o que demonstra que esta representou umaamálgama das crenças religiosas da antiguidade, incrementando,simplesmenteatendênciamonoteísta,jávislumbradanasantigasreligiões.

Apesar do grande número de deuses da religião hindu, osprincipaissãoVishnueSivaque,comBrahma, formamagrandetrindadehinduísta, ou Trimurti, concepção que é encontrada em diversas outrasreligiões (Osíris, Isis e Horus, do egípcios; Shamash, Sine Ichtar dosmesopotâmicos),inclusivenopróprioCristianismo,naformadaSantíssimaTrindade,criaçãometafísicacopiadadasantigasreligiões.

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OHinduísmoeoBramanismopregamareencarnaçãoecreemqueviverésofrerequedeixadeviveréalcançaraeternapazdoNirvana(océumetafísico). Segundo a sua doutrina, a alma passa de um ser para outro,conseguindo com isso, um aperfeiçoamento gradual e progressivo, tendoquerenascerinúmerasvezesatéalcançaramoksha,queéalibertaçãodapena de sofrer novas reencarnações, significando que a alma estápurificada, podendo passar a uma forma superior, numa esfera maiselevada.Acondiçãoparadiminuironúmerodereencarnações,abreviando,assimosofrimentodenovasvidas(nascerdenovo,paraoHinduísmo,éternovosofrimento),épraticar,duranteaexistência,asboasaçõeseterumavidavirtuosa.

Em todo o ciclo das necessárias reencarnações destinadas aoaperfeiçoamentodoespírito,háparaoHinduísmoumaleifatal,queéaleidokarma(destino,ouforçaresultantedasaçõespraticadas).

No Hinduísmo e no Bramanismo, os homens são separados emquatro castas, geradas do corpo de Brahma no dia da criação dahumanidade: da boca saíram os sacerdotes (brâmanes), classe que seautoprivilegioucomoacastamaiselevada, coisamuitocomumàsclassessacerdotaisdetodasasreligiões;dosbraçossaíramosguerreiros(xátrias);das pernas originaram-se os agricultores e comerciantes (vaíciais); e,finalmente dos pés saíram os homens da plebe (párias ou sudras),destinadosaostrabalhosbraçaiseaserviraosmembrosdasdemaiscastas.

Emboraessadivisãoestejagradativamentedesaparecendo,graçasa uma evolução social dos hindus, ainda é um ponto importante da féhinduísta, que justifica essa sistema, bastante injusto do ponto de vistamaterial, através da explicação do karma: se alguém nasceu numa castainferior, é porque houve má-conduta na sua existência anterior; emcompensação,avidapuraevirtuosa,numaexistência,podeconduziraumacastamaiselevadanumanovareencarnação.Édeacordocomessacrençaque o conceito de casta difere, fundamentalmente do conceito de classesocial, pois o indivíduo pode, numamesma existência atingir uma classesocialmaiselevada,enquantonosistemadecastasohomemjamaisteráaoportunidadedeexperimentarumaascensão,morrendona casta emquenasceu.

Os fiéis do Hinduísmo são obrigados durante toda sua vida, apraticardiversosrituais,desdeoseunascimento,quandonumacerimôniasemelhanteaumbatismo,édadoàcriançamel,misturadocommanteiga,numa colher de ouro. Existem a partir daí, quatro fases na vida ideal do

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homem,quesãoasseguintes:1.Numaidadevariávelentreos08eos24anos,deacordocoma

casta, ocorre a iniciação, que simboliza o nascimento espiritual dobramacharim(estudante), sendoo jovemconfiadoaummestre religioso,comointuitodeservi-loeaprenderasliçõesdosVedas.

2. Através do casamento, celebrado junto ao fogo sagrado, ohomem torna-se griastogriasta (chefe de família), passando a presidir osritosdomésticos.

3.Próximoàvelhice,elesetornavanapastra(anacoreta)eseretirapara a floresta, levando consigo o fogo sagrado, que deve ser, sempremantidoaceso;mantémacastidade,comopoucoedormenochão.

4. A quarta e última fase é a de samniasin (eremita), quando oindivíduo alcança aquela que é considerada a mais honrada e a maiselevadaposiçãodavidamaterialadeascetamendicante.

Tendo em vista amoksha (libertação espiritual), para chegar aoNirvana,ohinduísmopreconizadiversoscaminhosnaexistênciaterrestre,ligadosàprofundaconcentraçãomental,dosquaisoprincipaléaascesedoIoga(uniãocomodivino).

Na Maçonaria, em seu arcabouço místico, podemos encontrarconcepções hinduístas, embora não exclusivas desse sistema religioso. Asobrevivência da alma e o aperfeiçoamento espiritual são dogmas dediversos ritos maçônicos, conforme já foi visto; a iniciação na Ordemtambémsimboliza onascimento espiritual doAprendiz, que é confiado aumMestre,paraaprenderas liçõesdadoutrinaedaciênciamaçônica;osgrausmaçônicos,assimcomoascastas,sópodemseratingidosatravésdoaperfeiçoamento espiritual, conseguido simbolicamente por meio desucessivasmorteseressurreições,poiscadaascensãonaescala,representaamortesimbólicadoiniciado.

OBudismoéumsistemareligiosoorigináriodosensinamentosdeumhomemhindu,nascidonobre, sobonomedeSiddhartaGautama,queveioaomundoem563a.C.,emKapilavastu,nonortedaÍndia.

Gautama, também chamado Sáquia-Muni (sábio de Sáquia), ficoufamosona Índia, por sua santidade, sabedoria e amorpor todosos seresviventes,sendochamado“OBuda”,quesignifica“OIluminado”.Areligiãoporelefundadaespalhou-seapósasuamorte,pelamaiorpartedaÁsia.

Nascido em família nobre, Buda foi criado por seu pai longe dos

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contatoscomosmalesdomundoecomamisériadeseupaís,casando-seaindaadolescenteegerandoumfilho.Certaocasião, segundoa lenda,eledeixou seu palácio para um passeio de carruagem e viu, à margem daestrada,umvelho,umdoenteeumhomemquemorreradefome;esseseuprimeirocontatoaos29anosdeidade,comavelhice,adoença,amisériaeamorte,tirou-lheaalegria,poislhemostrouoscontrastesdomundo.

Diantedisso,ele,depoisderasparacabeçaemsinaldehumildade,trocouassuasricasroupagenspelohumildetrajeamarelodosmonges,edeixou o seu palácio abandonando a família, os bens e o passado etornando-seummendigoitinerante,queselançavaaomundoembuscadeexplicaçõesparaoenigmadavida.

Baseando sua procura em todos os tipos de penitência, escoradaemprofundaesolitáriameditação,durantemuitosanos,contaalendaque,emcertaocasião,elepassousetesemanas,sentadosobasombradeumafigueira,queoshinduschamamdebodhi (árvoredasabedoria), sentindouma sensação de despertar espiritual, a “iluminação”. Iluminado por umnovo entendimento de todas as coisas da vida, Gautama rumou para acidade de Benares, às margens do Rio Ganges, com a finalidade detransmitir aos outros, a sua experiência. Aos poucos, conseguiu muitosdiscípulos, que passaram a reverenciar o seu conhecimento e a suailuminação,tratando-oporBuda.

Os ensinamentos do Buda endossavam muitos os aspectos dohinduísmo, criticando, todavia, muitos dos tradicionais preceitos dessareligião.ParaoBudismonãoexistecomeçonemfim,criaçãooucéu;aceita,todavia, Omo fundamental a reencarnação da alma (transmigração) emoutroscorpos,eateoriadokarma, forçamoralou leicósmicamisteriosa,quesobreviveàmorte,queédefinidacomoatotalconsequênciaéticadasações individuais e que estabelece o destino de cada um nas existênciasfuturas, até chegar ao Nirvana, o bem-aventurado estado de vazio total,ondealibertaçãocompletaprescindedenovasencarnações.

OBudismodiscordadohinduísmoemrelaçãoaosmétodosusadospara atingir os objetivos espirituais, principalmente em relação àmortificação,aoascetismorigoroso,queosreligiososhinduspraticavameque parecia exagerado e inútil para Buda. Dessa maneira, sua doutrina,definidanosermãodeBenares,recomendaaadoçãodeummeiotermo,ummeiocaminhoentreoascetismo,aautomortificaçãoeaautoindulgência.

Para se trilhar esse caminho intermediário, hánecessidadede se

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admitiraschamadasQuatroVerdadesNobresquesãoassimrelacionadas:1.Énecessárioreconhecerqueadoréuniversal,ouseja,queavida

humanaéfeitadeangústiaesofrimento.2.Acausadadoredosofrimentoresidenodesejodecoisasque

nãopodemsatisfazeraoespírito.3.Adortemremédio,ouseja,osofrimentoporterfim.4.Osofrimentosóseextinguequandoohomemrenunciaaesses

desejos;jáquearaizdessesdesejostemorigemnaignorância,asabedoriaéomelhorcaminhoparadominaradoreosofrimento.

SHRIYANT:UMADASREPRESENTAÇÕESDOMANDALA

Admitindo essas quatro Verdades Nobres, dispõe o homem, dosmeiosparalibertar-se,seguindoaSendadasOitoTrilhas,compostade:

1.Purezadefé2.Opiniõesexatas3.Palavrasverdadeiras4.Procedimentocorreto5.Vidaregrada6.Boasaspirações7.Pensamentoscertos

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8.Meditaçãoecontemplaçãovirtuosa.

AlémdasQuatroVerdades e dasOitoTrilhas,Buda acrescentavaainda, uma sentença, a Regra de Ouro, resumo de toda a sua doutrina enormageraldeconduta:

“TUDOOQUESOMOSÉORESULTADODOQUEPENSAMOS”.

Há, no Budismo, um profundo respeito por todas as criaturasviventes, fazendo com que os budistas considerem como obrigaçãofundamentaldetodososindivíduos,viverempaz,harmoniaefraternidadecomseussemelhantes.

Esse espírito pacifista tem origem num ensinamento do próprioBuda,quediz:

“OÓDIONÃOTERMINACOMOÓDIO,MASCOMOAMOR”.

Contrariamente ao que acontece comoutras religiões oBudismojamaisexigealgumacoisadeseusseguidores:nãoexistemcerimôniasdeconversão, nem rituais de submissão do homem a divindades, bastando,somente conhecer as Quatro Verdades e seguir as Oito Trilhas. Assimsendo,oBudismomuitomaisdoqueumareligiãoéumafilosofiadevida,umaatitudeperanteomundo,umatécnicadecomportamento,atravésdaqual o homem aprende a se desprender de tudo o que é transitório,buscando uma autossuficiência espiritual.Isso tem feito com que, nostemposmodernos,oBudismosejabastanteacatadonoocidente,tãosujeitoareligiõescastradorasedominadoras.

OBudismoexpandiu-semuitoe,duranteessaexpansão,adoutrinaoriginal foi sofrendo algumas modificações. No Extremo Oriente, elatornou-se menos rigorosa adaptando-se às necessidades espirituais dagente simples, sendo essa forma de Budismo, denominada mahayana(veículomaior);issoaconteceu,porexemplo,noTibet,enquantoemoutroslocais, como na Birmânia, Tailândia, Vietnã, Laos e Camboja, o Budismopermaneceu ortodoxo, sendo chamadode hinyana (veículomenor) pelosadeptosdamahayana.

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NoTibetoBudismochegounoséculoVIIIjásobformadiferentedaoriginal, introduzidopelomongehinduPadma-Sambhava;nessaaturaelejá era uma mistura de Budismo mahayana com elementos mágico-religiososdeseitasoriginadasdohinduísmo.AantigareligiãooriginaldoTibet, a bon-po (que já era bem decadente), fundiu-se com o Budismo,dando origemao lamaísmo, o qual transformaria oTibet numa teocraciadominadapelosmongeslamaístas(DalaiePenchenLamas),consideradosreencarnaçõesdedivindadesbudistas.

O ritual mais importante do lamaísmo é a Iniciação Kalachakra,que dura quatro dias. O aprendizado Kalachakra é considerado como ocaminhomais rápidoe eficazpara escapar àRodadoTempo,ou seja, aosofrimento representado pelas sucessivas reencarnações (conceito maishinduístadoquebudista).

Ocandidatoàiniciaçãokalachakraéinstruídoquantoaomododeagir na vida, sempre com bondade, tolerância, compaixão e amor aopróximo.Seseguiressecaminhoqueemúltimaanálise,éaprópriaSendadasOitoTrilhas, o iniciadoatingirá após sete reencarnações, o estadodeBuda,escapandodessamaneira,àRodadoTempo,ejuntando-seaoutrosiniciadosnoreinodaternafelicidade.

O Kalachakra é pleno demeditação e, durante os quatro dias dainiciação,oDalaiLama,quepresideacerimônia,explicadequemaneiraoscandidatos devem se entregar às reflexões emeditações, procurando umestadodeconcentraçãomentalqueosaproximedodesprendimentototal.

No primeiro dia da iniciação, o candidato deve estar preparadoparaoensinoeafirma-sequeeleestánolimiardeummandala,ouseja,dopalácio deslumbrante em que vive Kalachakra. Antes da cerimônia eleenxáguaabocacomáguaerecebeexplicaçõessobreamotivaçãoquedeveter,ouseja,odesejodechegaraoconhecimentodomodopeloqualascoisarealmenteexistem,parabeneficiartodososseressofredores.Depoisdisso,o candidato recebe um líquido alaranjado, abençoado peloDalai Lama; aseguir, recebeumcordãovermelho tambémabençoado,oqual, atadoemvoltado seubraçodireito, destina-se àproteção contra as forçasdomal.Finalmente,relerecebeduasporçõesdeumaervaindiana,aKusha,sendoaporçãomaior, colocada sob seu colchão e amenor sob seu travesseiro,paraajudá-loatersonhosleveseclaros,quepredisponhamoseuespíritoparaascerimôniasdodiaseguinte.

No segundodia o candidatonovamente enxágua a boca e recebe

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umavenda,usadasimbolicamentenatesta.Alémdessasimbólicavedaçãodos olhos, ele recebe uma flor para entregar a Kalachakra, quandoencontrar a divindade e é conduzido,mentalmente para omandala. Estepossui quatro portões, sendo um dourado, outro cinzento, o terceirobranco e o último vermelho, representando os quatro elementos danatureza da seguinte forma: o vermelho é a terra, o branco a água, odourado,ofogo,eocinza,oar.Acerimôniaé,essencialmenteumaalegoriada compaixão, envolvendo a sabedoria. O candidato é conduzido,mentalmente ao redor o mandala e, depois de muito circular em níveisinferiores,atinge,finalmenteochãoeencontraKalachakra;nesseinstante,então, ele retira a venda, contempla a beleza e a força da divindade eofereceaflor,quelheédevolvida.Tocandoentão,suacabeçacomaaflor,oiniciadosente-senocaminhodailuminaçãoedafelicidade.

Noterceirodia,ocandidatorecebeseteinstruçõesdiferentes,queajudamaeliminar todasasações impurasdo corpo,dopensamentoedafala, fazendo com que ele comece a percorrer a senda que conduz àfelicidade, deixando-o capacitado a praticar a compaixão e a buscarsempre,a sabedoria.Eleé,mentalmenteconduzidoaoredordomandala,nosentidohorário(nosentidodosponteirosdorelógio).Imaginandoqueporta uma varja, símbolo da compaixão; recebe novamente, o líquidoalaranjado,paraapurificaçãodopensamentoedafala,e,voltando-separao interior de si mesmo, vê os cinco elementos interiores como DhyaniBudas,cadaumdelesfazendo-lheoferendas.

Arealiniciaçãoterminanesseterceirodia,commaisensinamentossobreapráticadasvirtudespreconizadaseexplicaçõessobreosignificadodaKalachakra.Noquartoeúltimodiadainiciação,háapenas,aveneraçãodoKalachakraeprecesdelongavidaaoDalaiLama.

Nessequartodia,omandaladeareiacolorida feitopelosmongesantesdascerimôniasiniciatórias,édestruídoe,atravésdeumritopróprio,éatiradonaságuasdeumrio,poisdeacordocomadoutrinabudista,nadaépermanente. É este desapego às coisas passageiras que faz comque osbudistas,demaneirageral,vejamnoBuda,apenasumaimagemencarnadadoprincípiodeiluminaçãointerior;paraeles,antesdeSiddhartaGautamahouveoutrosBudas(Iluminados)emuitosoutrosaparecerãoatéofimdostempos. Assim, se explica o aspecto impessoal do semblante de todas asimagens do Buda, pois elas não são representações reais de uma figurahumana em particular, mas sim, símbolos idealizados de uma entidadeespiritual.

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Emsuasváriasformas,oBudismochegouaoOcidente,atravésdediversospoetas–comoAnterodeQuental–escritorese filósofos–comoSchopenhauer– e foi incrementadopor sociedadesmísticas, jáquea suadoutrina enquadra-se no ideal de tolerância, virtude e amor ao próximo,semo dogmatismo, que é a tônica damaioria das religiões. A instituiçãomaçônica, do mesmo modo, defende os bons costumes, a tolerância e afraternidade, comrespeito,porém,à liberdadedeconsciênciadohomem,quenãoadmiteaimposiçãodogmática.

Apesar de algumas ligeiras modificações, as Quatro VerdadesNobreseaSendadasOitoTrilhasestãopresentesemtodaaextensãodadoutrina maçônica, que ensina, aos iniciados, o desapego às coisasmateriais,quesãoefêmeras,eabuscaincessantedapazespiritual,atravésdas boas obras, da existência regrada, do correto procedimento e daspalavrasverdadeiras.

Misticamente,aevoluçãonaMaçonaria,simboliza,paraoiniciadoa procura do seu interior e o seu aperfeiçoamento, metas, também doBudismo e da sua forma tibetana, o lamaísmo. O Ritual de iniciaçãoKalachakramostra,bem,issoepossuiextraordináriassemelhançascomoritualdeiniciaçãomaçônica:avendaqueoiniciadoretiraquandorecebeaLuz maçônica e que se assemelha à retirada da venda pelo iniciado noKalachakra, quando ele contempla a força e a beleza da divindade; oiniciado maçom passa pelas provas dos quatro elementos da natureza(água, ar, terra e fogo), que, no ritual lamaísta, são representados pelosquatroportõesdomandala,pelosquaisoiniciadodevepassar;acirculaçãodo iniciado, tanto no templo maçônico, quanto no mandala, é feita nosentidodosponteirosdo relógioque representa a caminhadado sol e asfasesdavidahumana.

Coincidênciaounão,ofatoéqueassemelhançasexistem.

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X

OMISTICISMOMEDIEVAL

As principais manifestações do misticismo da Idade Média, cominteressepara adoutrinamísticadaMaçonaria, são: a teologiadecalcadanomonoteísmoedivulgadapelaIgreja,aCabalahebraica(jáanalisada),aCabala cristã, as corporaçõesdeofício,o rosacrucianismo,aAlquimiaeoiluminismo.

Paraa armaçãodadoutrinamísticadaMaçonaria, têm interesse,entre as manifestações de misticismo medieval, a teologia, decalcada nomonoteísmoedivulgadapelaIgreja,aCabalacristã,aCabala–jáanalisada– as corporações medievais de ofício, a Alquimia, o rosacrucianismo e oiluminismo.

ASCORPORAÇÕESDEOFÍCIO

Desde que o homem deixou as cavernas e as suas vivendas denômade, sedentarizando-se e formando uma sociedade estratificada,surgiramosprofissionaisdedicadosàartedaconstrução,osquaisforamseaperfeiçoando,nãosónaereçãodecasasderesidência,mas,também,nadetemplos, de obras públicas e obras de arte. Embora tivessem, essesprofissionais,desdeosseusprimeirostempos–naMesopotâmiaenoEgito–mantido,entresi,certacamaradagemeumsentimentodeagregação,nãohavia,narealidade,umaorganizaçãoqueosreunisse,queregulasseasuaatividade e que lhes desse um maior sentido de responsabilidadeprofissional.

FoinoImpérioRomanodoOcidente,daRomaconquistadora,que,emfunçãodaprópriaatividadebélica,surgiu,noséculoVIa.C.,aprimeiraassociação organizada de construtores, os Collegia Fabrorum. Como aconquistadasvastasregiõesdaEuropa,daÁsiaedonortedaÁfrica,levavaà destruição, os collegiati, principalmente os tignari (construtores decasas), acompanhavam as legiões romanas, para reconstruir o que fossesendo destruído pela guerra. Dotada de forte caráter religioso, essaorganizaçãodava,aotrabalho,ocunhosagradodeumcultoàsdivindades.Deiníciopoliteísta,tornou-se,comaexpansãodoCristianismo,monoteísta,

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entrando, porém, em decadência, após a queda do Império Romano doOcidente,ocorridaem476d.C., emborapersistissempequenosgruposdaassociaçãonoImpérioRomanodoOriente,cujocentroeraConstantinopla.Iriam,portanto,sofrergrandetransformação,naépocamedieval,quando,por força da evolução e da política do regime feudal, os agrupamentostodos só podiam ser considerados em relação aos laços de suserania, ouvassalagem, característicos da sociedade feudal, perdendo a suacaracterísticaautônoma.Comarestriçãoà liberdadeindividual,cessavaagarantia para o trabalho dos artesãos, não lhes restando alternativa quenãofosseadesetornaremservos.Assim,oscollegiatiiriamseincorporaraos conventos, que lhes dariam o únicomeio jurídico de subsistência, jáque a Igreja era a poderosa tutora dos governos e os seus estatutosadmitiam que os construtores escapassem à servidão e ao vínculo dosfeudos,conservandoodireitodecirculação.

Na IdadeMédia é que iria florescer, através do grande poder daépoca,a Igreja, ahojechamadaMaçonariaOperativa, ouMaçonariadeOfício,paraapreservaçãodaArteRealentreosmestresconstrutoresdaEuropa.Assim,apartirdoséculoVI,asAssociaçõesMonásticas,formadas,principalmente, por clérigos, dominavam o segredo da arte de construir,queficourestritaaosconventos,jáque,naquelaépocadebarbárie,quandoaEuropaestavaemruínas,graçasàs sucessivas invasõesdosbárbaros,equandoasguerras,osrouboseossaqueseramfrequenteseatéencaradoscomo fatos normais, os artistas e arquitetos encontraram refúgio seguronos conventos. Posteriormente, pela necessidade de expansão, os fradesconstrutorescomeçaramapreparareaadestrarleigos,proporcionando,apartir do século X, a organização das Confrarias Leigas, que, emboraformadas por leigos, recebiam forte influência do clero, do qual haviamaprendidoaartedeconstruireocunhoreligiosodadoaotrabalho.

É dessa época aquela que é considerada a primeira reuniãoorganizadadeoperários construtores: aConvençãodeYork, ocorridaem926 e convocada por Edwin, filho do rei Athelstan, para reparar osprejuízos que as associações haviam tido com as sucessivas guerras einvasões.Nessareunião,foiapresentada,paraapreciaçãoeaprovação,umestatuto,que,daliemdiantedeveriaservircomoleisupremadaconfrariaequeé,geralmente,chamadodeCartadeYork.

Quase na mesma época, surgiriam associações simplesmentereligiosas, que, a partir do século XII, formaram corpos profissionais: asGuildas. A elas se deve o primeiro documento em que é mencionada a

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palavra“Loja”,paradesignarumacorporaçãoeoseulocaldetrabalho.AsGuildasesuacontemporânea,aorganizaçãodosOfíciosFrancos,foramasprincipais precursoras da moderna Maçonaria. O seu nome “Gild”, deorigemteutônica,derivadotítulodado,naantigaregiãodaEscandinávia,aum ágape religioso, durante o qual, numa cerimônia especial, eramdespejados três copos de chifre (chavelhos), conforme o uso da época,cheios de cerveja, sendo um em homenagem aos deuses, outro, pelosantigosheróis,eoúltimoemhomenagemaosparenteseemmemóriadosamigos mortos; ao final da cerimônia, todos os participantes juravamdefender uns aos outros, como irmãos, socorrendo-se mutuamente nosmomentos difíceis. As Guildas caracterizavam-se por três finalidadesprincipais: auxíliomútuo, reuniõesembanqueteseatuaçãopor reformaspolíticas e sociais. Introduzidas na Inglaterra, por reis saxões, elas forammodificadaspor influênciadoCristianismo,mas,mesmoassim,nãoerambemaceitaspelaIgreja,quenãoviacombonsolhosapráticadobanquete,porsuasorigenspagãs,eapretensãodereformaspolíticasesociais,quepudessem,eventualmente,contribuirparadiminuirosseusprivilégioseosprivilégios das corporações sob a sua proteção. Assim, para evitar ahostilidade da Igreja, cada guilda era organizada sob a égide de ummonarca,ousobonomedeumsantoprotetor.

NoséculoXII,associadaàsguildas,surgiaumaorganizaçãodeoperáriosalemães,osSteinmetzen,ouseja,canteiros[1],talhadores,ouesquadrejadoresdepedra,osquais,sobadireçãodeErwindeSteinbach,alcançariamnotoriedade,quandoErwinconseguiuaaprovaçãodeseus

planosparaaconstruçãodacatedraldeEstrasburgoedeuumaperfeiçoadosentidodeorganizaçãoaosseusobreiros.

No século XII, também, iria florescer a associação considerada amais importantedesseperíodooperativo: osOfícios Francos (ouFranco-Maçonaria), formados por artesãos privilegiados, com liberdade delocomoção e isentos das obrigações e impostos reais, feudais eeclesiásticos. Tratava-se, portanto, de uma organização de construtorescategorizados,diferentesdosoperáriosservos,que ficavampresosaumamesma região, a ummesmo feudo, à disposição de seus amos. Na IdadeMédia,apalavra francodesignavanãosóoqueera livre,emoposiçãoaoque era servil, mas, também, todos os indivíduos e todos os bens queescapavam às servidões e aos direitos senhoriais; esses artesãosprivilegiados eram, então, os pedreiros-livres, franc-maçons, para osfranceses,ou free-masons,paraos ingleses.Taisobreiros,evidentemente,

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tinham esses privilégios concedidos pela Igreja, que era o maior poderpolíticodaépoca,comgrandeascendênciasobreosgovernantes.

Apalavrafrancesa“maçon”,correspondenteapedreiro,converteu-se em “maison” (casa) e, também, embora só relativamente, em “masse”(maça, clava). Essa maça, ou clava, habilitava o porteiro a afastar osindesejáveis intrusos e curiosos. O pesquisador alemão Lessing, um dosclássicos da literatura alemã, atribui a palavra inglesa “masonry”(Maçonaria)aumatransmissãoincorreta.Originalmente,aideiateriasidodada pelo velho termo inglês “mase” (missa, reunião à mesa). Uma talsociedadedemesa,oureuniãodecomensais,deacordocomaalegoriadaTávola Redonda, do rei Arthur, poderia, segundo Lessing, ainda serencontradaemLondres,noséculoXVII.ElasereunianasproximidadesdafamosacatedraldeSãoPauloe,quandosirChristopherWren,oconstrutorda catedral, tornou-semembrodesse círculo, julgou-se que se tratava deuma cabana dos construtores, que estabelecia uma ligação de mestresconstrutoreseobreiros;daí,então,ouseja,dessasuposiçãoerrada,équeteria se originado o termo “masonry”, para designar a sociedade dosconstrutores.

Uma explicação para o termo inglês “freemason” (pedreiro livre)estáligadaaotermo“freestone”,queéapedradecantaria,ouseja,apedraprópria para ser esquadrejada, para que nela sejam feitos cantos, que atransformem numa pedra cúbica, a ser usada nas construções. Asexpressões “freestone mason” e “freestone masonry”, daí surgidas,acabaram sendo simplificadas para “freemason” (o obreiro) e“freemasonry”(aatividade).EstaéumahipótesemaisplausíveldoqueadeLessing,quesóconsiderouocasoparticulardaInglaterra,quandosesabequenãofoisóaíqueexistiuumaíntimaligaçãocomotrabalhodosartíficesdaconstrução.

Nametade do século XII, surgia o estilo arquitetônico gótico, ougermânico, primeiro no norte da França, espalhando-se, depois, pelaInglaterra, Alemanha e outras regiões do norte da Europa e tendo o seuapogeunaAlemanha,durante300anos.Tãoimportantefoioestilogóticopara as confrarias de construtores, que as suas regras básicas eramensinadas nas oficinas dos canteiros, ou talhadores de pedra; tãoimportante que a sua decadência, no século XVI, decretou o declínio dascorporações.

No século XIII, em 1220, era fundada, na Inglaterra, durante oreinado de Henrique III, uma corporação dos pedreiros de Londres, que

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tomouo títulodeTheHoleCraftandFellowshipofMasons (SantaArteeAssociaçãodosPedreiros)eque,segundoalgunsautores,seriaogermedamoderna Maçonaria. Pouco depois, em 1275, ocorria a Convenção deEstrasburgo, convocada pelo mestre dos canteiros e da catedral deEstrasburgo, Erwin de Steinbach, para terminar as obras do templo. Aconstruçãodacatedral, iniciadaem1015,estavapraticamenteterminada,quando foi resolvido ampliar o projeto original e, para isso, foi chamadoErwin A essa convenção acorreram os mais famosos arquitetos daInglaterra, da Alemanha e da Itália, que criaram uma Loja, para asassembleiasediscussãosobreoandamentodostrabalhos,elegendoErwincomoMestredeCátedra(Meistervonsthul).

Naépoca,osobreiroscriavamumaLoja, fundamentalmente,paratratardedeterminadaconstrução,comoéocasodessacatedral.TaisLojasserviampara tratardosassuntos ligadosapenasàconstruçãoprevista, jáque, para outras reuniões, inclusive comobreiros de outras corporações,eramutilizadososrecintosdetabernasehospedarias,principalmenteemsoloinglês.

Próximodessetempo,ouseja,noséculoXIV,começava,também,aatuação do Compagnonnage (Companheirismo), criado pelos cavaleirostemplários[2]. Os membros dessa organização construíram, no OrienteMédio, formidáveis cidadelas, adquirindo certo número de métodos detrabalho herdados da Antiguidade e constituindo, durante as Cruzadas,verdadeiras oficinas itinerantes, para a construção de obras de defesamilitar, pontes e santuários. Retornando à Europa, eles tiveram aoportunidadedeexerceroseuofício,construindocatedrais, igrejas,obraspúblicasemonumentoscivis.

Já na primeirametade do século XVI, as corporações, diante dasperseguiçõesquesofriam–principalmenteporpartedoclero–ediantedaevolução social europeia, começavam a entrar em declínio. Em 1535,realizava-se,emColônia,umaconvenção,queforaconvocadapararefutaras calúniasdirigidaspelo clero contra os franco-maçons. Embora ela nãotenhatidoobrilhoeafrequênciadeoutrasconvenções,consta,emboratalafirmativa seja contestada, por carecer de comprovação, que, na ocasião,teriasidoredigidoummanifesto,ondeeraestabelecidooprincípiodealtosgraus,queseriamintroduzidosporrazõespolíticas.

Em 1539, o rei da França, Francisco I, revogava os privilégiosconcedidosaosfranco-maçons,abolindoasguildasedemaisfraternidadeseregulamentandoascorporaçõesdeartesãos.Emcontrapartida,em1548,

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era concedido, aos operários construtores, de maneira geral, o livreexercício de sua profissão, em toda a Inglaterra; um ano depois, todavia,porexigênciadeLondres,eracassadaaautorizaçãoconcedida,oquefaziacomqueos franco-maçons ficassemnacondiçãodeoperáriosordinários,como tais sendo tratados legalmente. Em 1558, ao assumir o trono daInglaterra, a rainha Isabel renovavaumaordenaçãode1425,queproibiaqualquer assembleia ilegal, sob pena dela ser considerada uma rebelião.Trêsanosdepois,emdezembrode1561,tendo,osfranco-maçonsingleses,anunciadoarealizaçãodeumaconvençãoemYork,durantea festividadede São João Evangelista, Isabel ordenou a dissolução da assembleia,decretando a prisão de todos os presentes a ela; a ordem só não foiconfirmada,porquelordeThomasSackville,adeptodaartedaconstrução,estandopresente,demoveuarainhadeseu intento, fazendocomque,em1562,elarevogasseaordenaçãode1425.

Em1563,aConvençãodeBasileia,feitaporiniciativadaconfrariade Estrasburgo, organizava um código para os franco-maçons alemães, oqual serviria de regra à corporação dos canteiros, até que surgissem osprimeirossindicatosdeoperários,noséculoXIX.Maserapatenteodeclíniodas confrarias, no século XVI. A Renascença relegara o estilo gótico e aestrutura ogival das abóbadas – próprias da arte dos franco-maçonsmedievais – ao abandono, revivendo as características da arte greco-romana. Assim, embora ela tivesse atingido a todos os campos doconhecimento e a todas as corporações profissionais, foi a dos franco-maçons a mais afetada. No final do século, Inigo Jones introduzia, naInglaterra,oestilorenascentista,sepultandooestilogóticoeapressandoadecadênciadascorporaçõesdefranco-maçonsingleses.Estas,perdendooseu objetivo inicial e transformando-se em sociedade de auxílio mútuo,resolveram, então, permitir a entrada de homens não ligados à arte deconstruir,nãoprofissionais,queeram,então,chamadosdemaçonsaceitos.

As corporações, evidentemente, começaram por admitir pessoasempequenonúmeroeselecionadasentreoshomensconhecidospelosseusdotes culturais, pelo seu talento e pela sua condição aristocrática, quepoderiam dar projeção a elas, submetendo-se, todavia, aos seusregulamentos.Eraatentativadesustarodeclínio.

OprimeirocasoconhecidodeaceitaçãoéodeJohnBoswell,lordedeAushinleck – ou, segundo J.G. Findel, sir ThomasRosswell, esquire deAushinleck – que, a 8 de junho de 1600 foi recebido maçom – nãoprofissional – na Saint Mary’s Chapell Lodge (Loja da Capela de Santa

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Maria), emEdimburgo,naEscócia.EstaLoja fora criadaem1228,para aconstruçãodaCapeladeSantaMaria, destinando-se, como já foi visto, àsassembleias dos obreiros e discussões sobre o andamento das obras.Depoisdisso,oprocessodeaceitação,iniciadonaEscócia,iriaseespalharese acelerar, fazendo com que, ao final do século, o número de aceitos jáultrapassasse,largamente,odefranco-maçonsoperativos.

Em 1666, os franco-maçons iriam recuperar parte do antigoprestígio, diante do grande incêndio, que, a 2 de setembro daquele ano,aconteceuemLondres,destruindocercadequarentamilcasaseoitentaeseisigrejas.Nessaocasião,osmaçonsacorreramparaparticipardoesforçodereconstrução,sobadireçãodorenomadomestrearquitetoChristopherWren,que,em1688,viuaprovadooseuplanoparareconstruçãodacidade,sendonomeadoarquitetodoreiedacidadedeLondres.Aobraprincipalde Wren foi a reconstrução da igreja de S. Paulo, em cujo adro sedesenvolveria e se estabeleceria, em 1691, uma Loja de fundamentalimportânciaparaaHistóriadaMaçonariamoderna:aLojaSãoPaulo(emalusãoàigreja),ouLojadataberna“OGansoeaGrelha”,emalusãoaolocalem que, como faziam outras Lojas, realizava suas reuniões de caráterinformaleadministrativo.AreconstruçãodeLondressó iriaterminarem1710.

AALQUIMIA

ALQUIMia (do árabe al-kimia: a fusão, a mistura), a química danatureza, é a arte quimérica, cultivada na Idade Média, destinada adescobrirapanaceia,paracurartodososmalesdaHumanidade,eapedrafilosofal,paratransmutartodososmetaisemouro,ouprata.

EmboraasuaépocadeapogeutenhasidoaIdadeMédiaquando,sobessenome,elafoiintroduzida,noocidentepelosárabes(séculoVII),averdadeéqueelafoipraticadadesdetemposmuitosantigos,noEgito,naPérsia, naChina, na Índia enaGrécia arcaica.Os egípcios já a utilizavammaneira prática, para curtir couros, preparar ligas de metais comuns efabricar corantes e cosméticos; os persas tivera m grande interesse poresse novo tipo de conhecimento e o espalharam entre os povosconquistados; através dos persas, ela chegou à Grécia, onde os gregos aincorporaramaosseusconhecimentosteóricossobreosmistériosdavida.

Ostrabalhosincansáveis,nabuscadatransmutaçãodosmetaisem

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ouro potável, deram origem a diversas descobertas, às quais deve, oHomem,oseuatualprogresso.Algumasdelas tidascomoexclusivamentemodernas já eram bem conhecidas por magos e alquimistas daAntiguidade. Embora se afirme que a eletricidade e o vapor, como forçamotriz,sãodescobertasdoséculoXIX,averdadeéquesacerdotesetruscosjá conheciam a eletricidade e a usaram, para defender a vila de NarniacontraALARICO;amortedeTULLIUSHOSTILIUS,usandoeletricidade,édescritaporPLÍNIO;ANSELMO DE TRALLE, o célebrearquiteto, construtorda catedraldeSantaSofia,conheciaosefeitosdovapor;PAUSELENAS,ummongealquimista,faladaaplicação da química na fotografia e afirma que os jônios conheciam oprocesso, assim como o da câmara escura, dos aparelhos ópticos, dasensibilidadedeplacas.

Énecessário,porém,queseestabeleçaaexistênciadedoistiposdeAlquimia: a Alquimia prática, precursora da química e estabelecida pelomédicosuíçoTEOPHARASTUSBOMBASTUSVONHOHENHEIM,maisconhecidocomoPARACELSO(1493-1541),eaAlquimiamística,muitoassociadaàmagia.

OSÍMBOLODAPEDRAFILOSOFALAsfigurasdomachoedafêmea(eternidade)dentrodeumcírculo

inscritoemumquadradoque,porsuasvez,inscreve-seemumtriângulo,sendotodooconjuntoenvolvidoporumcírculo.Todooconjuntosimbolizaatransmutaçãodoquaternárioinferiornoterciáriodivinosuperiorao

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Homem.

Emtodasasteoriascosmogônicasdomundoantigo,existeaideiadaexistênciadeumelementoprimordial,doqualderivamtodososdemaiselementos. A mais antiga ideia relativa a esse conceito é aquela queconsideravaaáguacomoelementofundamentalassociadaaostrabalhosdosábio grego TALES DEMILETO; na própria Grécia, entretanto, muitos filósofosdefenderam ideias diferentes. Anaxímenes afirmava que o elementoprimordial era o ar, pois ele podia ser condensado, formando nuvens echuvas, cujaságuas, ao seevaporar, formandonovamenteoar,deixavamumresíduosólidodeterra.OMitraísmopersaviaamanifestaçãodopoderdivino no fogo, achando, portanto, que esse era o elemento formador detodasascoisas;HERÁCLITO tambémdefendiaateoriadofogo,afirmandoquetudo nomundo, está em constante transformação e que o elemento quepode provocar as mais intensas transformações é o fogo (daí a máximaherméticadosrosacruzesedealgunsgrausmaçônicos:IGNENATURARENOVATUR

INTEGRA, ou seja, O FOGO RENOVA A NATUREZA INTEIRA). FERESIDES escolheu comofundamental, o elemento terra, pois, afirmava ao se queimar um corposólido, obtêm-se água e ar. ARISTÓTELES, finalmente defendendo umaconcepção de EMPÉDOCLES, afirmava que esses quatro elementos eramfundamentais e que todos os corpos eram formados por combinaçõesdeles.

As ideias de Aristóteles, básica para a Alquimia, eram ensinadasnasescolasdepensadoresdacidadedeAlexandria,noEgito,cidadeessa,que foi o grande centroalquimistada antiguidade,nela sedandoa fusãoentre as práticas egípcias e as teorias gregas, mais tarde desenvolvidaspelos árabes. Estes ao conquistares em 642 o Egito, atingindo depois, aSíria e a Pérsia, trouxeram para o ocidente, a nova contribuição, queoriginouaquiloquehoje,échamadodeAlquimia.

Dos árabes conquistadores, originou-se um dos maioresalquimistas de todos os tempos: JABIR IBNHAYYAN (721 –813), conhecido naEuropa,comoonomedeGEBER.Esteaceitavaateoriaaristotélicadosquatroelementossomando,todavia,doisoutroselementosessenciais:omercúrioe o enxofre, os quais explicavam certas propriedades dos metais; umterceiro elemento, o sal, foi posteriormente incluindo, formando com osoutros dois, o trio fundamental (trio prima) de Paracelso e de seusdiscípulos,noséculoXVI.

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Essencialmente, a Alquimia era caracterizada pela busca de duassubstâncias; apedra filosofal, capaz de transformar todas as coisas emouro, eoelixirda longavida, capaz demanter os homens eternamentejovens.ParaGeber,todososmetaisseriamformados,apenasdeenxofre,edemercúrio; desses elementos, deveriam ser extraídas as essências, quetransformariamtodososmetais“emoutromaispurodoqueodasminas”.

Partindo do princípio de que todas as substâncias possuem umaúnica raiz, parecia para os alquimistas, transformar os corpos, entre osquaisosmetais,emoutro,quealémdceseroprincípioconcretodaforçaque serve para comprar a glória e a felicidade material, é, também, osímbolodosol,daluz,dopodercriativo,darevelaçãodivina.

ASSETEMARAVILHASDOMUNDO,SEGUNDOACABALAMEDIEVAL

ACabalaMedievalassociouassetemaravilhasdomundoantigoaoselementosalquímicoseàinflu~enciaastrológicadosentãoseteastrosconhecidos-Sol,Lua,Mercúrio,Vênus,Marte,JúpitereSaturno.Ocuriosoé

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asubstituiçãodosJardinsSuspensosdaBabilôniapeloTemplodeJerusalém,porinfluênciacristãdeentão.

Teosoficamente(oudopontodevistamístico)aAlquimiatratadasforças sutis da natureza e das diversas condições da matéria, nas quaisaquelasforçasagem.Quandodá,aosiniciadosaideiadoMYSTERIUMMAGNUM,sobovéuregularmenteartificialdalinguagem,paraquenãorepresenteperigonas mãos de egoístas, o alquimista aceita, como primeiro postulado, aexistência de um determinado dissolvente universal da substânciahomogênea, de onde evoluíram os elementos, ao qual chamam de ouropuro, ou SUMMUM MATERIAE. Esse sal possuía o pode de lançar fora do corpohumanotodososgermesdedoença,derenovarajuventudeedeprolongaravida;assiméaPedraFilosofal(LAPISPHILOSOPHORUM).

Alquimia é, na realidade, tratada sob três aspectos distintos, osquaisadmitemdiversasinterpretaçõesdiferentes:ocósmico,ohumanoeo terrestre; esses três aspectos eram típicos, sob as três propriedadesalquímicas: o mercúrio, o sal e o enxofre, que são os três princípios daGrandeObra(transformaçãodosmetaisemouro).

No aspecto terrestre, ou meramente material da Alquimia, oobjetivo é transmutar os metais grosseiros em outro puro, já que éindiscutível que na natureza, ocorre a transmutação demetais inferioresemoutros,melhorados.Existe,todavia,umaspectoocultistaoumísticodaAlquimia.

Oalquimistaocultistadesprezaoouroterrestre,material,edirigetodos os seus esforços na transmutação do quaternário inferior emternáriodivinosuperioraohomem,osquais,quandoseunem,acabamconstruindo um só. Os planos da existência humana,espiritual,mental,psíquicoefísico,comparam-senaAlquimiamística,aosquatroelementosda teoria de Aristóteles, o fogo, oar, aágua e a terra; cada um deles écapazdeumatrípliceconstituição,ouseja:fixa,instávelevolátil.

AGrande Obra, para a Alquimia mística, consistia no renascer,para que o iniciado percorresse o caminho do aperfeiçoamento e doconhecimento, até chegar à comunhão com a divindade, conceito muitoparecido com do Mitraísmo.Assim, os metais inferiores simbolizavam aspaixõeshumanaseosvícios,quedevemsercombatidose transformadosemourodoespírito,queéoobjetivodaGrandeObraouObradoSol.

As operações da natureza são, praticamente as mesmas da

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Alquimia, diferenciando-se, somente na denominação, podendo serreduzidas a sete principais: calcinação, solução, putrefação, destilação,sublimação, conjunção e coagulação, ou fixação. É necessário, entretanto,tomaressaspalavrasnosentidofilosófico,deacordocomoprocedimentoda natureza, a qual desse ser bem estudada e conhecida, antes de serimitada.

NãosepodenegarqueaquímicamodernadeveosseusmelhoresdescobrimentosàAlquimia,apartirdeParacelsoqueachavaque“apenasos idiotaspensamqueAlquimiaéoconhecimentodecomoobterouro;oobjetivodaAlquimiaéprocurardescobrirnovosremédios”.

Com a união, na Idade Média, principalmente a partir do séculoXIII, dos alquimistas com os cabalistas, hermetistas e adeptos da magia,surgiram diversas seitas e grupos secretos, como o dos adeptos e dosiluminados, que, posteriormente, como elementos aceitos (ou seja: nãoligados à arte de construir), incorporaram-se às associações operativas,levando,paraanascenteMaçonaria“especulativa”,osseusconceitos,ideiasesímbolos.

AMaçonariaaindaconservamuitossímbolosdosalquimistas,paraarmarasuadoutrinamoraleespiritualista.UmexemplodissoéachamadaCâmara de Reflexão, onde o candidato à iniciação permanece emmeditação, antes da cerimônia; essa câmara, que representa o útero (daterra), do qual o candidato nasce, para uma nova vida, é usada para a“provadaTerra”,pelaqualdeverápassarocandidato;nela,entrediversossímbolos representativos da espiritualidade e do vapor da vida honrada,encontram-se as três substâncias necessárias à Grande Obra, ou seja, omercúrio, o enxofre e o sal, para lembrar ao candidato, que ele devepercorrer o caminho do conhecimento, para chegar ao aperfeiçoamentoespiritualemoral,queéaGrandeObradaVida.

OutroexemploalquímiconaMaçonariasãoasprovaspelasquaisocandidatodevepassar,emalgunsritos,erepresentamosquatroelementosfundamentais, ar, água, terra e fogo, dos ensinamentos de Aristóteles. Aprova da terra é a da Câmara de Reflexão, já citada; a prova do ar érepresentada por uma tempestade, que simboliza os percalços da vidahumana;aprovadaáguaédestinadaàpurificaçãodasmãos(resquíciodosritos religiososdaantiguidade); aprovado fogo, finalmente representaapurificaçãototal,simbolizandoadestruiçãodamatériapelofogo,restandoomísticoserimaterialaperfeiçoado.

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OILUMINISMO

O iluminismo, geralmente é encarado sob dois aspectos: comodoutrinamístico-religiosa,oucomomovimentofilosófico-cultural.

Como doutrina de natureza místico-religiosa, dos chamados“iluminados”, ou doutrina gnosiológica, da “iluminação”, ela surgiu noséculoXV,emToledonaEspanha,epossuíainspiraçãosobrenatural.

Essa doutrina sofreu a influência de diversos agrupamentosreligiosos, de diversas seitas místicas e de conceitos de várias correntesmetafísicas, sendo, todavia de acordo com as suas regras de vida ao queparece,bastante influenciadapeloBudismoepelascomunidades judaicasdosessênios.

Os“Iluminados”levavamumaexistênciaemqueerapermanenteoestado passivo de aproximação à divindade, desprezando e, mesmo,repudiando todas a relações com omeio social e negando-se a executarqualquer ato que se traduzisse em utilidade individual, ou coletiva.Resumia-se a sua vida, em última análise, a um estado perene decontemplação e de meditação, em que fossem importantes as coisamateriais e práticas da vida. Não era, como se vê, uma seita original,limitando-se a imitar muitas outras, que já haviam existido, como a dosessênios.

ApesardadoutrinaternascidonaEspanha, foinaFrançaqueelaatingiu o seu apogeu, tendo chegado também, a ter grande projeção naAlemanhaenaBélgica.

Oiluminismo,comomovimentofilosófico-cultural,surgiunosfinsdoséculoXVII,naEuropa,atingindooseuacmenoséculoXVII,quefoiporisso, chamado de Século das Luzes, pois a época áurea da iluminação dointelecto,oque fezcomqueo iluminismo fosse, tambémchamadopeloaalemães,deFilosofiadasLuzes(Aufklarung).

Esse movimento do iluminismo cultural, que atingiu diversospaíses, teve representantes nas correntes humanista, criticista enaturalista,sendoosseusmaioresrepresentantes,Lessing,Lock,Voltaire,Kant,Diderot, Condorcet eHelvetius, entre outros, devendo-se notas quequasetodoseleserammembrosdaMaçonaria(naFrançaenaAlemanha,queeramnaépoca,osmaioresbaluartesmaçônicosdaEuropa,dopontodevistaintelectualepolítico).

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AMAGIA

A palavramagia é derivada dosMagos, os antigos sacerdotes dozoroastrismopersa;comoconstaqueeles foramosprimeirosadeptosdoocultismo tradicional, divulgando a luzda ciência esotérica, de seunomeoriginou-seodemagia, e,de seusaber iniciático,onomemagodadoaosadeptos da magia, que possuem de maneira legítima, os segredos dasciênciasocultas.

Amagia é umamanifestaçãomísticamuito antiga tendo, os seusrudimentossurgidosjánapré-históriahumana,noPaleolíticoSuperior,há40.000anos;elafoitambémlargamenteusadaportodosospovosantigos,principalmente pelos persas e pelos egípcios. O seu apogeu, baseado emmaiorcomplexidade,foi,todavia,situadonaIdadeMédia.

CollindePlancydefiniaamagiacomosendo“aartedepraticar,nanatureza, coisas que estão acima do poder humano, com o auxílio dosdemôniosepormeiodecerimôniasespeciais”.Essaéumadefiniçãotípicado negro períodomedieval, dominado pela Igreja, como seu famigeradoSanto Ofício, sempre pronto com suas fogueiras a receber magos,cabalistas, alquimistas, rosacrucianos e outros, sempre catalogados,geneticamentecomo“bruxos”.Nãorestamdúvidasdequeessaespéciedeconhecimento, atribuída aosmagos esta fora de cogitação e só pode sercreditada às falsas afirmações e invenções, oriundas da ignorância ou damá-fé.

Não se pode dizer que a magia seja uma ciência, pela falta deconteúdo e demétodos de exposição, que apresenta, a anão ser que elatomadacomoadiferençaentrea sabedoriaoriental eaocidental;não sepode dizer, também que ela seja uma arte, já que isso implica um totaldesconhecimento esotérico da questão. Isso demonstra na realidade, adificuldadequeseencontraemdefinircorretamenteessaantigacorrenteocultista.

Segundo uma antiga classificação, a magia dividia-se em magiabranca,outeurgiaemagianegra,ougoética;diziamosclassificadores,queamagiabrancaeradirigidaparaobem,enquantoqueamagianegraeradirigidaparaomal,oqueéumconceitobastantesimplistaefalso,jáqueobemeomalsãosimplesquestõesdeinterpretações,ouseja,oqueéomalparaum,podeserobemparaooutroevice-versa.OspadresdaInquisição,por exemplo, só fizeram o mal, torturando e assassinando homens,

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mulheres,velhoseatécriançasde4ou5anosdeidadeacusadasde“teremtido relações carnais com diabos” (SIC); apesar disso, eles próprios (emuitagente)achavamqueestavampraticandoobem,a serviçodoSantoOfício,aInstituiçãoqueatrasouemséculos,aevoluçãoracionaldaespéciehumana.

Narealidade,amagiapodeserdivididaem:a) Magia natural, quando ela trata da produção de fenômenos

surpreendentese,aparentemente,prodigiosos,atravésdemétodoseaçõespuramentenaturais,semsocorrodecerimoniaiseamuletos.

b)Magia cerimonial, quando trata das ações e da ritualísticapertinentesàsobrasdeevocação,conjuros,etc.

c)Magiatalismânica,queéaquelaque tratadapreparaçãoedaconfecção de amuletos, talismãs e outros objetos da mesma espécie. Osamuletos são certos remédios, ou objetos supersticiosos usados pelaspessoas,paraficaremprotegidasdequalquerperigooudoença;existentesdesde a antiguidade, eram geralmente imagens caprichosas como oescaravelhonoEgito,pedaçosdecobredepergaminho,deprata,ouentão,pedras especiais, nas quais eram gravados caracteres hieroglíficos. Osgregososchamavamdefilasterios.

d)Magiacabalística,queéaquelaque,partindodoconhecimentodaCabala,tratadesuasoperações,conhecimentosepráticas.Nessecasoseencontra, apenas a Cabala originada do Sepher Yetsira, e não a Cabalateóricacujomisticismoémuitomais,decalcadonoZoar.

Além dessa classificação, a magia pode ser dividida em teórica,quando se ocupa com a parte filosófica e doutrinária e prática, quandorelacionadacomaparteexperimental.

Numa apreciação sintética, como esta, é praticamente impossívelabordar todas as nuances damagia, embora devam ser ressaltados doisaspectosrelacionadoscomopentagrama,ouestrelapentagonal,queteriatidoorigemnospitagóricoseque tomariaonomedeEstrelaFlamejante,dadoporENRIQUECORNÉLIOAGRIPPA, célebrealquimista,magoemédico,nascidoemColônia,Alemanha,nofinaldoséculoXV,oqual,porserconsideradodegrandetalentoesabedoria,mereceuaalcunhadeTrimegisto (trêsvezesgrande),comooHERMESTRIMEGISTOdosgregos(Toth,dosegípcios,eMercúrio,dos romanos), saudado, pelos alquimistas e ocultistas, em geral, comosenhordossegredosdoUniverso.

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A Estrela Flamejante era, na Alquimia, o símbolo intermediárioentreaGrandeObra(ObradoSol,transformaçãodosmetaisemoutro)eaPeque Obra (Obra da Luz, transformação dos metais em prata). NaMaçonaria, ela foi adotada, somente a partir do século XVIII, na França,através do barão de Tschoudy, os maçons anteriores a essa data e osoperativosmedievaisdesconheciamessesímbolo.

Na magia, encontramos o uso da pentalfa, pelo menos em duassituaçõesprincipais.

Oaltarparaasoperaçõesmágica,forradocomumatoalhabranca,deve se constituir num pentáculo do Universo, em seus três primeirosplanos: humano, natural e divino; a disposição mais adequada é colocarnomeio do altar, um pentagrama de Agrippa. Esse pentagrama serádesenhado numpergaminho virgem, ou, então sobre umpapel fabricadopor um mago, sob os auspícios solares com uma massa de papelconsagradacomantecedência.

Aoredordessepentagrama,serãocolocadossetepequenoscubosmetálicos, correspondentes a cada um dos metais planetários (dos seteplanetas da antiguidade) sendo que omercúrio por não ser sólido, deveficar encerrado num cubo de cristal; esses cubos dos metais serãocolocadosnaordemdaestrelaegípciadesetepontas.

Nosquatroextremosdoaltarserãocolocadososseguintesobjetos:1.Noextremosuperiordireito,correspondenteàletraiôd,aluz:2. No extremo superior esquerdo, correspondente à letra he, o

queimadordeperfumes;3.Noestremoinferioresquerdo,correspondenteàletravau,osal

mágico;4.Finalmente,noextremoinferiordireito,correspondenteà letra

he,aáguamágica.Nota-se que as letras iôd, he, vau e he, nessa ordem,

correspondemaotetragramahebraico,quedesignaonomedeDeus.Opentagramatambémestárelacionadocomapalavracabalística

ABRACADABRA,formadapelaspalavrasabraeabraxas.Já no século II, SAMÔNICUS recomendava, aos seus adeptos, que

escrevesses essa palavra sobre um pergaminho virgem, formando umtriângulo invertido,representadoa letradelta,símbolodastrêspessoasdaTrindade,demaneirocomosegue:

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ABRACADABRAABRACADABRABRACADABABRAÇADAABRACADABRAÇAABRACABRAABRABA

Essepergaminhodeveriaserdobrado,paraquesetornasseocultoo que estava escrito, recortado em forma de cruz e pendurado comoamuleto,nopescoçodosdoentesdeumfiodelinho.

Apalavraabracadabra,entretanto,deacordocomoocultistaELIPHASLEVI, pode ser o triângulomágico dos teósofos pagãos, coma combinaçãodas letras representando uma chave do pentagrama (tríplice triângulocruzado). O A separado, representa a unidade do principio primordial, oagente intelectual e ativo; o A unido ao B, representa a fecundação dobinário pela unidade; o R é o signo do ternário, já que representa,hieroglificamenteafusãoresultantedauniãodedoisprincípios;onúmero11(queéonúmerototaldeletrasdapalavra)juntaaunidadedoiniciadoao decenário pitagórico; o número 66 (total de letras do triângulo)representa,cabalisticamenteonúmero12,queéoquadradodoternárioe,emconsequência,aquadraturamísticadocirculo.

ÉclaroqueaMaçonaria,instituiçãoracionalecríticanãoempregaosrecursosdamagia;estando,todavia,asuaritualística,impregnadapelaamálgamadosmisticismosdediversascivilizaçõesecorrentesmetafísicas,teriaevidentementequeapresentartraçosdetodasessascorrentes,comoderesto,acontececomdiversasoutrasinstituiçõesfilosóficas,iniciáticasereligiosas, incluindo-se a própria igreja, que sempre se disse inimiga docabalismo, da Alquimia e da magia, mas possui muitos traços dessesagrupamentos místicos; o exorcismo, com citações do evangelho, “para

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expulsar o demônio do corpo” de uma pessoas, e ouso de amuletos(relíquias, medalhas e efígies de santos) para proteção pessoal, sãoexemplosgritantesdisso.

AORDEMROSA+CRUZ

Rosa+cruz é a denominação da sociedade, ou fraternidadefilosófica, que,de acordo coma tradiçãomais comum, teria sido fundadaporCHRISTIANROSENKREUZ,equerepresentaumasíntesedoocultismoimperantenaIdadeMédia.

Pretende,H. SPENCER LEWIS, que Rosenkreuz tenha sido, apenas, umrenovador,jáqueaInstituiçãoremontariaaoantigoEgito,àépocadofaraóAmenofisIV,queseriaconhecidocomoAkenáton,ofaraóqueimplantouoculto monoteísta do disco solar (Áton); os adeptos da Rosacruz temaceitadoessahipótese,falseando, lamentavelmenteaverdadehistórica, jáque na realidade essa sociedade nasceu na época medieval, emboraapresentando em sua ritualística, muito do misticismo das antigascivilizações, como acontece com a Maçonaria (muitos maçons tambémquerem fazer crer que a Ordemmaçônica é antiquíssima e já existia noantigoEgitoenaPérsia,oqueéverdadeiramenteumaheresiahistórica).

O rosacrucianismo é um sincretismo de diversas correntesfilosófico-religiosas: hermetismo egípcio, cabalismo judaico, gnosticismocristão, Alquimia, etc. A primeiramenção histórica da sociedade data de1614,quandosurgiuo famosodocumento intituladoFamaFraternitatis,ondesãocontatadasasviagensdoalemãoRosenkreuzpelaArábia,EgitoeMarrocos, onde teria adquirido sua sabedoria secreta, só revelada aosiniciados.

JOHAM VALENTIM ANDRÉA, neto do teólogo luterano Jacob Andréa, e,também teólogo, foi o homem que vulgou o rosacrucianismo. Andréa,depois de viajar pelo mundo, retornou à Alemanha, tendo se tornadopregador da corte e, posteriormente em 1650, abade (ele nascera emHerrenberg, no Wuerttem Berg, em 1581); todavia, a sua principalimportância originou-se do papel que ele teve, naquela sociedade alemã,que, no início do século XVII, pugnava por uma renovação e uma novainsuflaçãoespiritualnavida.

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SÍMBOLOENCONTRADONASRUÍNASDOTEMPLODEBENARESARosa,representaçãofeminina,colocadanaintersecçãodos

braçosdaCruz,representaçãomasculinadoSol(cruzamentodaeclípticacomoEquadorceleste);éoantigosímboloadotadopelaOrdemRosa+cruz.

Todavia,apopularidadealcançadacomaSOCIETSSOLIS(SociedadedoSol),aqueprocuroudavidaeaOrdemdasPalmeiras,emqueeleprocuroudavida,eaOrdemdasPalmeiras,emquefoiadmitidoaos60anos,nãosecomparouàquelaqueeleconseguiuaopublicaro seuromancesatíricoOCASAMENTO QUÍMICO DE CRISTIAN ROSENKREUZ, que combatia, jocosamente, osalquimistas e as ligas secretas, numa época em que havia em geral adesorientação, o ar andava cheio de rumores, a velha ordem religiosadesagregava-se.E,m 1597, já se haviam realizado reuniões de uma ligasecreta de alquimistas, que haviam ficado sem irradiações e semsignificado espiritual. Foi então que a palavra Rosacruz adquiriu,rapidamenteumagrandeforçaatrativa,apontodenoescritoanônimode1614,chamadodeTRANSFIGURAÇÃOGERALDOMUNDO,seincluídooconceitodeFamaFraternitatis R+C (rosae crucis), sem necessidade de ser escrito porextenso,poisele jáerabementendido.Umaoutrapequenaobra, surgidaum ano depois, e também anônima, chamada Confessio, publicava aconstituiçãoeaexposiçãodosfinsaqueaOrdemsedestinava.

DeacordocomoConfessio,aOrdemRosa+cruzrepresentariaumaAlquimia de alto quilate, na qual ao invés das pesquisas sobre a pedrafilosofal,eraprocuradoumfimsuperior,ouseja,aaberturadosolhosdoespírito, através do qual o homem ficasse apto a ver omundo e os seussegredoscommaisprofundidade.Ascorrentesdosalquimistasmedievais,então, diante da necessidade espiritual do tempo, incrementada pela

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disposição de renovação e organização secreta, tornaram enorme vultocomoaperfeiçoamentodoromancesatíricodeAndréa.

Oheróido romanceéoChristianRosenkreuz, jádescobertopelaFamaFraternitatisequejátinhanoséculoXIV,viajadopeloOrientee,ali,aprendidoa“SublimeCiência”,teriaele,segundoalendaquecercouoseunome, voltado para a Alemanha, onde foi seguido em suas ideias, pormuitaspessoas,atéchegaraos150anosdeidadequando,cansadodavida,extinguiu-se,voluntariamente.

Andréa, no romance, aproveitou-se do nome que tinha sidoencontradoparaserafigurafundadora,masoseuRosenkreuzeravelhoeimpotente, motivo pelo qual o seu casamento só poderia ser químico.Todavia,eleé instruídoeconhecemuitossegredos,alémdeestarsempreansioso por conhecer outros, motivo pelo qual, em certa ocasião, comohóspededafamíliareal,eleentrenumquartoemquedormeVênus;depois,quandocomoutrosconvidadosaocasamentoaoserproclamadocavaleiroda Ordem da Pedra Dourada, deve, de acordo com os estatutos dessaOrdem, repudiar toda a lascívia, torna-se público o seu erro.Assim,enquantoosoutrosvãoembora,comocavaleirosdanovaOrdem,eletemquepermanecerali,comoporteiro,comocastigoporterdescobertoVênus.

Com essa sátira dirigida às sociedades secretas e a Alquimia,Andréa havia desvendado tanto de positivo sobre a nova Ordem, querestou a impressão de que ela já existia, ainda que só como imagemliterária. Nota-se facilmente, que a Pedra Dourada nadamais é do que aPedraFilosofaldosalquimistas;alémdisso,oencontrodosconvidadosaocasamento,vindosdetodasaspartesdomundo,easualigaçãodentrodanova Ordem, ilustram o desejo do autor de dar corpo aos esforços nosentidodeumarenovaçãoespiritualdavidaequesevaleramdosugestivosímboloRosacruz.

Andréa pretendeu usar as lojas rosacruzes para a divulgação doprotestantismo, jáque,noinícioelassóaceitavamprotestantes,passandodepoisaaceitartambém,católicos,frustrandoodesejodeAndréa.Todavia,paraquebraramaior influênciaprotestante, foi instituída,pelopapado,aOrdem da Cruz Azul, que seria uma contrapartida católica dosrosacruzes.Sob o governo do imperador José II, houve na Áustria, umgranderecrudescimentodacomunidaderosacruz,atingindoatéacorte,oque fez com que o imperador proibisse todas as sociedades secretas,abrindo exceção aos maçons, o que dez com que muitos rosacruzesprocurassemaMaçonariaapontodedaíemdiante,deumamaneirageral,

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se tornar difícil separar Maçonaria e rosacrucianismo, tendo, aquela,incorporadoaosseusváriosritos,osímbolomáximodosrosacruzes(arosanaintersecçãodosbraçosdacruz).

Osímbolodarosacruzpodeserclassificadocomomuitosugestivoe correspondente à ansiedade daquele tempo. Alguns procuraramrelacioná-lo com as armas de Lutero, coisa que não pode ser facilmenteaceita,poiselepoderiaser,nessecaso,relacionado,também,comasarmasde Paracelso, convindo esclarecer que Andréa representou o seuRosenkreuzcomquatrorosasnochapéu,rosasessasque,desdeaépocadeJacobAndréa,adornavamasarmasdafamília.

RobertFludd,consideradocomooprimeirorosacruzdaInglaterra,dizqueonomedaOrdemestáligadoaumaalusãoaosanguedeCristonaCruzdoGólgota;amística ideiada rosaassociadaà lembrançadacordosangue e aos espinhos que provocam o seu derrotamento contribuicertamente para dar a palavra, uma grande força de atração.Além disso,muitos rosacruzes vem, no emblema, um símbolo alquimista,concretizandoumaambiguidade,muitocomumaossímbolos.

Na realidade, esse símbolo émuito antigo, pois já nas ruínas dotemplo de Benares (a cidade santa do bramanismo) foi encontrado umtriângulo, contendo a cruz com a rosa mística no centro; isso nãodemonstra, todavia,comoafirmamalguns,que jáexistianaqueletempoaOrdemRosacruz,massimsimplesmente,queessesímbolojáeravenerado.

Como a preocupação máxima dos alquimistas que se ligaram àRosacruz era o segredo da mortalidade e a regeneração universal, osímbolorosacrucianoestárelacionadocomessapreocupação;embotânicaoculta, a rosa era uma flor iniciática em diversas ordens religiosas; naatualidade,aartesacracontinuaaconsiderá-lacomosímbolodapaciência,do martírio, da Virgem (Rosa Mística), mostrando uma acentuadatendênciaocultistana Igreja, que tanto combateuoocultismo (noquartodomingodaquaresmas, em todosos anos, opapabenzeaRosadeOuro,queéconsideradacomoumdosmuitossacramentaisoferecidospelaigrejaemsualiturgia).Emúltimaanálisearosarepresentaamulher,enquantoacruzrepresentaosexomasculino,poisparaosfilósofoshermetistas,elaéosímbolo da junção que forma a eclíptica (a órbita aparente do Sol, ou atrajetóriaaparentequeoSoldescreve.Anualmentenocéu)comoequadorceleste; ambos se cruzam no equinócio da primavera (0° de Áries) e noequinóciodooutono(0°deLibra).

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Assim, a Rosa simboliza a Terra, como ser feminino e a CruzsimbolizaavirilidadedoSol,comtodaasuaforçacriadora,quefecundaaTerra.A junção dos sexos leva à perpetuação da vida e ao segredo daimortalidade, resultando também, dela, a regeneração universal, que é opontomaisaltadadoutrina.

A Maçonaria incorporou, em larga escala, o simbolismo dosrosacruzes, herdeiros dos alquimistas, modificando um pouco o seusignificado e reduzindo-os a termos mais reais; assim, o segredo daimortalidadematerialtornou-separaosmaçonsaimortalidadedaalmaedoespíritohumano,enquantoéaceitooprincípiodaregeneraçãouniversalemtermosmais racionais,ouseja,dequea regeneraçãosópodeocorreratravés do aperfeiçoamento contínuo do homem e através da constanteinvestigaçãodaVerdade.Omisticismodossímbolosrosacruzes,todavia,foimantido, pois convém repetir, embora aMaçonaria não seja umaOrdemmística,ela,paradivulgarasuamensagemdereformadorasocial,utiliza-sedomisticismodediversascivilizaçõesecorrentesfilosóficasmetafísicas.

AASTROLOGIA

Comojáfoidestacado,aAstrologiaémuitoantiga,encontrando-se,asuaorigem,nos IVmilênioa.C.entreossumérios.Todavia, foina IdadeMédiaqueelaadquiriumaisimportância,apósterpassadoporumobscuroperíodo,nosprimeirosséculosdoCristianismo.

Oprimeiro livroastrológicomoderno foi oTetrabiblos, atribuídoao astrônomo, matemático e geógrafo CláUDIO PTOLOMEU, nascido emAlexandria,cujotrabalhodesenvolveu-seduranteoséculo IIdaeraatual,entre 150 e 180, firmando os princípios da influência cósmica, os quaisconstituemapartefundamentaldamodernaAstrologia.Tendocatalogadotrezentasestrelaseexplicadoa refraçãoda luz, eleexpõe,no livro, a suacrença nos efeitos físicos dos planetas. Em seu trabalho, ele formulou oprimeiro plano a respeito da física do universo, a qual era amplamentedesconhecidapeloshomensantigos.Suateoriaparece,hoje,absurda,mas,na época, servia de base para os estudos cósmicos. Para ele, a Terraocupava o centro do Universo, movendo-se, os planetas, em torno dela,cadaumnumcírculoperfeito,dentrodeumaesferaexteriorsólida,àqualsefixavamasestrelas.Destamaneira,emtornodaTerra,fixa,moviam-se,em círculos concêntricos, em ordem, do centro para a periferia: a Lua,Mercúrio, Vênus, o Sol, Marte, Júpiter e Saturno. Para lá de Saturno,

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estavam as estrelas fixas. Para que os movimentos observados epredeterminados,emrelaçãoaosplanetas,concordassem,foidada,acadaum deles, uma órbita constante, sendo, o epiciclo, centralizado sobre odeferente.

NaEuropa,atradiçãoclássicamorreucomPtolomeuem180d.C.,enquanto a própria Astrologia também começava a declinar,principalmenteporque,nessamesmaépoca,seperdeuahabilidadetécnica,para fazer observações e cálculos.Quando houve a desintegração doImpério Romano do Ocidente, a Astrologia desceu, temporariamente àcondiçãodedeturpadasuperstição,tendosidooseuestadodedecadência,umadasrazõesquepropiciou,àIgreja,osataquesàssuaspráticas,emboraexistammuitasreferênciaastrológicasnoNovoTestamento(osmagosnoEvangelhodeSãoLucasemuitaspassagensdoApocalipse,porexemplo).AIgreja oriental, todavia, conservou alguns conhecimentos da Astrologiacientífica,enquantonaocidentalomaioranatematizadordaAstrologiafoiSanto Agostinho de Hipona (354-430). Entretanto, posteriormente naprópria Idade Média, os principais fundamentos da moderna AstrologiaseriamlançadospordoisgrandesteólogosdaIgreja:SantoAlbertoMagnoeSãoTomásdeAquino.

Nessaépocadedecadênciadetodasasciências,surgiram,então,osárabes conquistadores motivados pela força de sua nova religião, o Islã.Não se pode negar que muito da sobrevivência da ciência e da filosofiaclássicas, se deve ao fato de terem sido preservadas e usadas pelasavançadasculturasárabes,nonortedaÁfricaenoMediterrâneooriental,apartir do século VIII. Muito hábeis nos campos da medicina e daastronomia,osárabesdesenvolveramgrandesestudosastronômicos,quetiveram uma acentuada orientação astrológica. Albumansur, ou AbuMaachar, com seu tratado Introductrium in Astronomiam, de nítidainfluênciaaristotélica, foiomaiordosastrólogosárabes;oseutratadofoium dos primeiros livros a aparecer, traduzido, na Europa, no início daIdade Média, mostrando-se bastante influente no renascimento daAstrologiaedaastronomia.

NoiníciodaIdadeMédia,osteólogosenfrentavamoproblemadeclassificar a Astrologia como ciência legítima, ou como arte divinatóriaproibida,cabendoaSantoAlbertoMagno(1200-1280)separaraAstrologiade suas associaçõespagãs, percebendoo seu valor teológico e afirmandoque embora as estrelas não pudessem influenciar a alma humana, elas,certamente poderiam influenciar o corpo e a vontade dos homens. São

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TomásdeAquino,consideradoomaiordosteólogoscristãos,consolidouaobra de Alberto, tornando-a aceitável como assunto digno de estudo eafirmando que, na sua visão do universo podia ser tomada como umacomplementaçãodadoutrinacristã; foigraçasaessamaneirapeculiardeencarar as coisas que nenhum astrólogo foi punido pelo “Santo Ofício”,como aconteceu com alquimistas, templários, rosacruzes, maçons, etc. AAstrologia ganhou, então, respeitabilidade acadêmica, passando a fazerparte do currículo de diversas universidades europeias, nãoexperimentando, praticamente, nenhum declínio com o advento daRenascença.

Comoseudesenvolvimentoacabava,aAstrologiainteressando-semenospeloscorposaparentementefixos(estrelas)emaispelosmoventes,do sistema solar, ou seja, planetas; as relações angulares dos planetas,conforme vistas da Terra, são de grande importância em qualqueravaliaçãodecaráterhumano.

Quando o homem começou a observar o firmamento, ficoufascinado,principalmentecomessescorposmoventese,amedidaemqueestes se deslocavam sobre o fundo estrelado, ele notava a sua trajetória,relacionando-a como seu próprio estado. Assimdesenvolveu-se logo umpadrãodeacontecimentoscelestesquepareciaterparalelosdiretoscomosproblemas da Terra: o Sol e as colheitas, a Lua e asmarés, Marte e suarelaçãocomobelicismo,Vênuspredispondoàharmoniaeaoamor,etc.

Ohomemantigo,narealidade,desconhecia,totalmente,afísicadoUniverso,anãoseraquelaformuladaporPtolomeu.Eesta,porincrívelquepossa parecer, foi aceita até ao século XVI, quando foi derrubada,inicialmente, por Nicolau Copérnico e, depois, pelo astrônomodinamarquês Tycho Brahe e pelo matemático e astrônomo alemãoJohannesKepler.O sistemaelaboradopelo astrônomopolonêsCopérnicomostrava o Sol no centro do sistema, com os planetas girando em tornodele,naseguinteordem,docentroparaaperiferia:Mercúrio,Vênus,Terra,Marte,JúpitereSaturno;aLuapermaneciaemórbitaterrestre.Talteoria,emboracorreta,comosecomprovou,depois,eraconsideradaumaheresia,para a dominante e retrógrada Igreja da época, a qual, imediatamente,condenou o trabalho do cientista. Tycho, como filho de sua época, nãoconseguiaaceitarateoriadequeaTerrapudessesemover,noespaço;masacabou com a noção de que os planetas eram fixos, dentro de esferascristalinas. Kepler, discípulo de Tycho, todavia, iria se encarregar desepultar, em definitivo, o sistema ptolomaico, reconhecendo o erro de

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Tycho, mas tomando, como base, os cálculos elaborados pelo mestre,quando este formulou as suas leis do movimento planetário, as quaisexplicamavelocidadedosplanetaseanaturezadesuasórbitas,emtornodoSol.AprimeiraleideKeplerafirmaqueumplanetamove-senoespaço,descrevendoumaelipse,comoSolocupandoumdos focos;asegunda leiestabelece que o raio vetor varre áreas iguais em tempos idênticos; e aterceira,estabeleceumarelaçãoentreosperíodosplanetárioseadistânciadoSol.

Embora os estudos de Kepler já terem acabado com o sistemaptolomaico,noiníciodoséculoXVII,aIgrejasóserendeuàevidênciadosfatos em pleno século XIX, em 1835, duzentos anos depois de Kepler,removendodoíndex,nesseano,assuasobras.

Paraohomemantigo,aesferacelestepareciagiraremtonodoSol,enquantoquehojesesabequequemgiraéaTerra.Isso,todaviapodesertotalmente ignoradopelaAstrologia, pois, para ela, o que importa são asposiçõesqueosplanetasparecemtomarnocéu;osplanetasagemsobreaávidaterrestreapartirdessasposiçõese,nessesentido,taisposiçõessãotomadas como reais. Desta maneira, apenas astrologicamente, a esferaceleste mostra a Terra no centro dela e rodeada pela eclíptica, que é aórbita aparente do Sol; a faixa do Zodíaco, por outro lado, é puramentesimbólica,mostrandoasconstelaçõesqueoSolatravessaemsuaeclíptica:ao contrário das constelações celestes, cada signo zodiacal ocupa umsegmentofixode30°docírculocompleto(ouseja,de360graus).

A maioria dos planetas do sistema solar possui órbitas que secolocam,praticamentenomesmoplanodaórbitadaTerra,compequenasvariações,exceçãofeitaaPlutão,cujaórbitatemumainclinaçãode17°emrelaçãoaterra.Devidoaessacoincidênciaemplano,osplanetasmovem-senuma faixa definida do céu, que cobre todo o caminho. Essa faixa éconhecida como Zodíaco e é centrada sobre a eclíptica (que pode serconsideradacomoaórbitaaparentedoSol,oucomoaprojeçãodaórbitaterrestre na esfera celeste). O Zodíaco é dividido, então, em dozeconstelações que são percorridas pelo Sol, uma vez por ano: Áries (ouCarneiro),Touro,Gêmeos,Câncer(ouCaranguejo),Leão,Virgem,Libra(ouBalança),Escorpião,Sagitário(ouArqueiro),Capricórnio,AquárioePeixes.

Numa análise dos corpos moventes do sistema solar e de suasrelaçõescomossignoszodiacais,temososeguinte:

OSol–éocorpomaispoderosodosistema,forçaessencialdavida

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esemoqualelanãoexistiria.OSoléativoe relacionado,nasAstrologia,com energia, poder e autoexpressão, sendo, todos os tipos humanos,amplamentedeterminadosporsuascaracterísticassolares.OSolregeLeãoeéexaltadoemÁries.

A Lua – vindo logo após o Sol, em importância astrológica, ela éassociada ao instinto, à reação a condições e a flutuação; sendo, comosatélite da Terra, parte do sistema terrestre, ela age sobre os fluídos daTerra e diversas criaturas terrestres tem o seu comportamento rítmicocontroladopelaLua.ALuaregeCâncereéexaltadaemTouro.

Mercúrio–éoplanetadamentalidadeedareaçãonervosa.Eleseencontranaregiãodacoroasolar,ondeamatériaésujeitaafrequenteseirregulares flutuações, e, além disso, ele é o mais veloz dos planetas.MercúrioregeGêmeoseVirgemeéexaltadoemVirgem.

Vênus–éassociadocomaharmoniaecomouníssono,qualidadesconfirmadas pela sua constância física, já que Vênus tem, entre todos osplanetas, a mais baixa excentricidade orbital. Vênus rege, Touro e éexaltadoemPeixes.

Marte–astrologicamenteéoplanetadovigor,dopositivismoedavivacidade;porsuacoravermelhada,ele foiassociadocomocalor,oquenãocorrespondeàrealidade,poiseleébastantefrioeasuacorsedeveaoxidação.MarteregeÁrieseéexaltadoemCapricórnio.

Júpiter– sendoomaiordosplanetas,háumparaleloentrea suamaciça natureza física e a sua proeminência astrológica, como forçaexpansiva; ele é uma importante fonte de radiações principalmente derádio, cujos possíveis efeitos diretos são fundamentais para a Astrologia.JúpiterregeSagitárioeéexaltadoemCâncer.

Saturno – foi associado com a limitação, ou seja, com o impulsopara se manter dentro de certos limites, mesmo antes de os seus anéisteremsidodescobertosporGalileu.SaturnoregeCapricórnioeéexaltadoemLibra.

Urano – é considerado, pelos astrólogos, o planeta daexcentricidadeediferedosoutrosplanetas,emtermosfísicos,numaspectosignificativo: sua inclinação axial é maior do que um ângulo reto, o queimplicaextraordináriascondiçõesatmosféricas;assim,primeiramenteumdos pólos e, depois, o outro, possuem uma “noite”, que dura 21 anos daTerra.Assimsendoélógicoqueosastrólogosotenhamconsideradocomooplanetamaisdotadodepoderessobreasgeraçõeshumanasdoquesobre

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cada indivíduo em particular. Urano rege Aquário e é exaltado emEscorpião.

Netuno – foi um planeta descoberto apenas em 1846, mas asinformaçõesreferentesàsuainfluênciaastrológicasjáestãocompletashámuitotempo.Eleéconsideradonebuloso.NetunoregePeixeseéexaltadoemLeão.

Plutão - é o mais distante dos planetas conhecidos e só foidescoberto em 1930. Ele se encontra tão afastado da Terra que a suainfluênciaétidanacontadeessencialmenteimpessoalepossuidora,antes,deumefeitodemassa(anãosernoscasosemqueeleocuparumaposiçãode destaque na carta natal de um indivíduo). Plutão rege Escorpião, e aexaltaçãoeaquedanãoforamaindaaveriguadas.

Os signos são, também, associados aos quatro elementosfundamentais,dateoriaaristotélica:ar,água,fogoeterra.

Nas teorias cosmogônicas da Antiguidade, existia a ideia de umelemento fundamental, do qual os demais elementos derivariam. Oconceito mais antigo, referente a isso, está associado aos trabalhos deThalesdeMileto,oqualconsideravaaáguaoelementofundamental,paraaexistênciadosdemais.Alémdele,porém,outrosfilósofosgregosocuparam-se do tema, defendendo ideias diferentes. Anaxímenes afirmava que oelementofundamentaleraoar,poiselepodiasercondensado,formandoasnuvens e, por elas, as chuvas, cujas águas, evaporando-se, formavam,novamente,oar,deixandoumresíduosólidodeterra.Heráclito,combasenoMitraísmo persa, o qual via, no fogo, amanifestação do poder divino,defendiaaideiadequeesseelementoseriaofundamental,afirmandoquetudoestáemconstantetransformaçãoequeoelementoquepodeprovocaras mais intensas transformações é o fogo. Feresides, discordando dosdemais, afirmava que o elemento fundamental era a terra, pois, ao sequeimar um corpo sólido obtém-se água e ar. Aristóteles, finalmente,defendendouma ideiadeEmpédocles, afirmavaqueosquatroelementoseram fundamentais e que todos os corpos eram formados pelascombinaçõesdeles.

Assim,aosquatroelementosfundamentais,podemserassociadosossignos,daseguintemaneira:

AR:

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Gêmeos,LibraeAquário;ÁGUA:

Câncer,EscorpiãoePeixes;TERRA:

Touro,VirgemeCapricórnio;FOGO:

Áries,LeãoeSagitário.

Assimsendocadasignoécaracterizadoporumplanetaeporumdos quatro elementos, o que lhe dá suas características místicas, comosegue:

OSSIGNOSEOSPLANETAS

Tradicionalmente,cadaplanetaregepelosmenosumsignozodiacal.Nafigura,osplanetasregentesestãosobrefundobrancoeos

signosregidossobrefundonegro:Sol-Leão;Lua-Câncer;Mercúrio-GêmeoseVirgem;Vênus-TouroeLibra;Marte-Áries;Júpiter-Sagitário;Saturno-

Capricórnio;Urano-Aquário;Netuno-Peixes;Plutão-Escorpião.

ÁRIESCaracterizado porMarte e pelo fogo. A históriamitológica dessa

constelação é a seguinte: Frixos, filho de Nepele, falsamente acusado deviolar Biadice, foi condenado à morte, sendo, entretanto, saldo por um

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carneiro dourado, em cujo dorso escapou; alcançando a segurança, eleimolou o carneiro a Zeus, que colocou a imagem do animal no céu.Áriesrelaciona-secomofogointeriordohomem,ouseja,aforçaqueestimulaocrescimentoeodesenvolvimento.

TOUROCaracterizado por Vênus e pelo elemento terra. Sua origem

mitológica é a seguinte: Taurus era o touro branco que cortejou Europa,carregando-a no dorso; era na verdade, Zeus disfarçado, que, quandoreassumiusuaformanormalcolocouotouronocéu.Érelacionadocomamatérianaqualseefetuaafecundação,aelaboraçãointerior.

GÊMEOSCaracterizado porMercúrio e pelo ar. Não existemito particular

associadoaele;noEgitoeraconhecidocomo“AsDuasEstrelas”etomouonome das estrelas Castor e Pólux, as mais brilhantes da constelação.Representa os filhos da terra, fecundada pelo fogo, e o mercúrio dosalquimistas, representado com duas cabeças. É relacionado com aversatilidade,aengenhosidadeeavitalidadecriadora.

CÂNCERCaracterizado pela Lua e pela água. Como caranguejo Câncer é

babilônico, em sua origem; todavia, no Egito, a constelação erarepresentada por duas tartarugas, ora conhecidas como as Estrelas daÁgua, ora comoAllul, uma criatura aquática; assim sua associação comaágua é muito antiga, embora não haja uma história mitológica a seurespeito.Representaaexplosãovegetaldaterrafecundadaeérelacionadacomatenacidadeeacautela.

LEÃOCaracterizado pelo Sol e pelo fogo.O leão representado nessa

constelaçãoé,tradicionalmente,oleãodeNemeia,depeleàprovadeferro,bronzeepedra;Héracles(ouHércules)omatou,perdendoumdedoentreseusdentes. Simbolizaaaçãodo fogoexterno (emcontraposiçãoao fogointeriordeÁries)queamadureceosfrutos;representa,também,oempregodarazãoaserviçodacrítica.

VIRGEM

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Caracterizadopor ´Mercúrio epela terra. Suahistóriamitológica,de acordo comHesíodo, é a seguinte:Virgem (tambémchamadaAstreia)erafilhadeJúpitereTêmiseeradeusadajustiça;quandoterminouaidadeáureaeohomemdesafiou-lhearegência,ela,desgostosa,retornouaocéu.Simboliza a esposa virginal do Fogo; representa também, a colheita dosfrutosmaduroseotraçofundamentaléoespíritoanalítico.

LIBRACaracterizadoporVênuseoar.Nãoexistemitoantigoarespeito

dessa constelação. Todavia, ela era associada, na Babilônia, com ojulgamento dos vivos e mortos quando Zibanitu, a Balança, pesava asalmas;noEgito,acolheitaerapesadaquandoaLuaestavacheiaemLibra.Simbolizava o equilíbrio entre as forças construtivas e as destrutivas;representatambém,ofrutonaplenamaturidade.

ESCORPIÃOCaracterizado por Plutão (e, tradicionalmente, porMarte) e pela

água.Suahistóriamitológicaéaseguinte:porordemdeJuno(ouHera),oEscorpiãoergueu-sedaterra,paraatacarOrion;levou,tambémoscavalosdo Sol a disparar, ao seremconduzidos, certodia, pelomeninoFaetonte;Júpiter(ouZeus)puniu-oduramente,atingindo-ocomumraio.Simbolizaadesagregação dos elementos da construção vital e a queda do Sol paraoutro hemisfério; representa também, emoções e sentimentos poderososrancorobstinação.

SAGITÁRIOCaracterizadopor Júpiter e pelo fogo. Suahistóriamitológica é a

seguinte:Sagitário,comsuasduasfaces,animalehumana,eraocentauroQuíron,queeducouJasão,AquileseEneias;famosocomomédico,profetaeestudioso, era filho de Filira e de Cronos (também pai de Zeus); Cronos,surpreendido no ato gerador, transformou-se num garanhão e partir agalope,abandonandoFilira;esta,desgostosacomofilhometadehomememetade cavalo, transformou-se numa tília. Simboliza o espírito que sedesprendedocorpoepairanoar,enquantoanatureza,peladesagregaçãodoselementos,morrelentamente;representatambém,amenteabertaeojulgamentocrítico.

CAPRICÓRNIO

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Caracterizado por Saturno e pela terra. Suas associaçõesmitológicassãoincertas,emborahajaumalevereferênciaPã,cujamãesaiucorrendo ao ver-lhe a feiura, mas cujo sucesso com as ninfas eraindiscutível;oantigodeussumérioEa,reidooceano,eraconhecidocomo“oantílopedooceanosubterrâneo”,obodecomcaudadepeixe,chamado“kusarikku”, o bode-peixe. Simboliza amortede toda anatureza, quandotoda amassa da terra está passiva e inerte,mas fecundável; representa,tambémadeterminaçãoeaperseverança.

AQUÁRIOCaracterizadoporUrano(e, tradicionalmenteporSaturno)epelo

ar.NãohámitosevidentesrelativosaAquário;odeusHapi,vertendoáguadedoisjarros,eraumsímboloantigonoRioNilo,enquantoodeussumérioEa,àsvezeserachamado“odeuscomjatosdeágua”,onomebabilônicodeAquário,Gula,era,inicialmente,associadocomadeusadopartoedacura.Simboliza a reconstituição dos elementos construtivos, impregnando aaterra com a seiva revitalizadora; representa, também, o sentidohumanitárioeprestativo.

PEIXESCaracterizadoporNetuno(e, tradicionalmenteporJúpiter)epela

água.Suahistóriamitológicaéaseguinte:apavoradoscomogiganteTifão,Vênus e Cupido (Afrodite e Eros) atiraram-se no rio Eufrates etransformaram-se em peixes; Minerva (Atena), comemorando o fato,colocouospeixesnocéu.Simbolizaaressurreiçãodaterravitalizada,comonovoadventodaLuz,representa, tambémodesprendimentodascoisasmateriais.

Nota-seassim,aestreitarelaçãomísticadossignoszodiacaiscomasconstantesmorteseressurreiçõesdanatureza,simbolizadaspelocicloimutáveldosvegetais (lendadeDumuzi,dossumérios,edeDeméterdosgregos) e pela ave Fênix, que renasce das próprias cinzas. Graças a essarelação, os signos zodiacais simbolizam, na Maçonaria simbólica, todo ocaminhomísticopercorridopeloiniciado,desdeoseuingressonaOrdem,comoAprendiz,atéaoacmedesuatrajetória,nograudeMestre;ascolunaszodiacais,encontradasnasLojasmaçônicasdealgunsritos,equepossuem,emseutopo,ospentaclos(representaçõesdossignos,comseuselementoseplanetasrespectivos),simbolizamessatrajetória.Arelaçãomísticaentre

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ossignoseasendainiciáticaéfeitadaseguintemaneira:Áries: por representar o fogo interior do homem, a força que

estimula o crescimento e o desenvolvimento, simboliza o fogo interno, oardorincontidodocandidatodainiciaçãomaçônica,ouseja,àprocuradaLuz.Éopassoinicialdarenovaçãodanaturezapelofogo,queéoelementodeÁries(nãonosesquecemosdamáximaherméticarosacruz,utilizadanaMaçonariadequeofogorenovaanaturezainteira:IgneNaturaRenovaturIntegra).

Touro: por representar a natureza, pronta para a fecundação,simbolizaqueocandidato,depoisdeserconvenientementepreparado,foiadmitidoàsprovasdainiciação.

Gêmeos: por representar a terra já fecundada pelo fogo, avitalidadecriadora,simbolizaorecebimentodaLuzpelocandidato.

Câncer: por representar o renascimento da vegetação, a seivaestuantedavidasimbolizaainstruçãodoiniciadoeaabsorção,porele,dosconhecimentos iniciáticos da Maçonaria; e a sabedoria representa aressurreiçãodanatureza,ouemúltimaanálise,orenascerdoespírito.

Leão: por representar a ação do fogo externo (o Sol), queamadureceosfrutos,eoempregodarazãoaserviçodacrítica,simbolizaojuízo crítico e racional, que o iniciado faz, sobre todos os conhecimentosque adquiriu aprendendo, commétodo, a selecionar todas aquelas ideiasquelhepuderemserúteis.

Virgem: por representar a colheita madura, simboliza oaperfeiçoamentodoiniciado,ouseja,depoisdeterjulgado,racionalmenteos ensinamentos que recebeu, o iniciado já pode se dedicar aodesbastamentodePedroBruta,queéoseupróprioaperfeiçoamentomoraleespiritual.

Libra: por representar o equilíbrio entre as forças construtivas edestrutivas (a maturidade total do fruto, equilíbrio entre o viço e oapodrecimento), esse signo relaciona-se com a Dualidade do Grau deCompanheiro; simboliza o Companheiro, na plena maturidade de suaescala,prontoadesenvolvertodooseupotencialdetrabalho.

Escorpião:porrepresentaradesagregaçãodoselementos,aperdada luz do Sol, a morte da natureza, enfim, simboliza a morte do artíficeHiram,assassinadopelostrêsmausCompanheiros,deacordocomalendadograudeMestre(decalcadanalendadamortedoSol,oulendadeOsíris).

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Sagitário:porrepresentaranaturezamortaeoespíritoanimadorque se destaca do corpo, simboliza a procura do corpo de Hiramassassinado e o lamentode todos os obreiros pela perdadoMestre e daPalavra.

Capricórnio:porrepresentaaterrainerte,masfecundável,ouseja,aesperançadenovaressurreição,simbolizaadescobertadolocalemqueoMestreHiramfoisepultadopelostrêsCompanheirosqueoassassinaram.

Aquário: por representar a reconstituição dos elementosconstrutivos,preparandoumanovageraçãodavida,naterraaindainerte,simbolizaacadeiaquetodososobreirosfazemnosentidodequeocorpodeHiram, retiradodeseu túmulo,possaressurgir, ressuscitarnumplanomais elevado (já que Hiram, como Osíris, simboliza a Luz do Sol, essacerimôniaésimilaraocultomitráicofeitopelavoltadaluzsolar:oNatalisInvictiSolis).

Peixes: por representar a total ressurreição da natureza, com avolta do reino da Luz, simboliza o renascimento de Hiram Abi e oreencontro da Palavra Perdida; na realidade, do ponto de vista místico,comonalendadeOsíris,esserenascimentonãoé,evidentemente,noplanomaterial,mas sim, no espiritual. É a volta do Sol e da vida, prontos paramaisumciclo[3].

[1] Canteiros são os obreiros que trabalham em cantaria, ou seja, na pedra de cantaria,esquadrejando-a, ou seja, dando-lhe cantos, para transformá-la na pedra cúbica, necessária àsconstruções, jáqueocuboéoúnicosólidogeométricoque,comoutroscongêneres,nãodeixaespaçosvaziosnasparedesemuros.Cantariaépalavraderivadadecanto.

[2]AOrdemdosPobresSoldadosdeJesusCristoedoTemplodeSalomão,ouOrdemdaMilíciadoTemplo,conhecida,maissimplesmente,comoOrdemdosTemplários,foiumaordemreligiosaemilitar, surgida em 1118. Adquirindo prestígio e riqueza, graças às suas grandes transaçõescomerciaisefinanceiras,iriaexcitaracobiçadeFilipeIV,cognominado“oBelo”,reidaFrança,oqual,comaconivênciadopapaClementeV,conseguiuaextinçãodaOrdem,em1312,seguidadaexecução de seus principais líderes. Antes da extinção, todavia, a Ordem, necessitando detrabalhadores cristãos, em suas distantes comendadorias do Oriente, organizaram oCompagnonnage,dando-lheestatutosdeacordocomasuaprópriafilosofia.

[3]ParamaioresdetalhessobreaAstrologiaeaMaçonaria,ver,domesmoautordeste,MaçonariaeAstrologia.SãoPaulo:EditoraLandmark–2a.ediçãorevisada;2002.

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XI

CONSIDERAÇÕESFINAIS

A Maçonaria, através da esmagadora maioria de seus ritosiniciáticos,é,semdúvida,umaOrdemteístae,comotal,carregaumacargademisticismo,quevematédeeraslongínquas.Isso,todavianãoautoriza,aninguém, a apressada conclusão de que ela é multimilenar, pois,historicamente, isso é uma falsidade. Isso é, todavia, o que fazem algunsautores fantasistas, os quais, sem qualquer pesquisa histórica profunda,situam as origens da instituição maçônica em remotos tempos daHumanidade.

FINDEL, pesquisador alemão racional e considerado autêntico pelacomunidade científica maçônica internacional, situa muito bem essapreocupação em tornar vetusta umaOrdem que, realmente, não temmilanos:

AhistóriadaFranco-Maçonaria, rodeada,durantealguns tempos,porumvéumisterioso,tidoporsuspeitosa,edesvirtuadapelacalúnia,sóseapoiaembasessólidaseemprincípioscientíficos,depoisdeumaépocarecenteegraçasaosestudosdealgunsIrmãosisentosdetodooespíritodeexagero.Envaidecidospelapreocupaçãodequeaorigemda instituiçãoésumamente antiga, muitos se esforçam por confundir sua originalilustração com a de outros, poucos escrupulosos, e se deixam levar peloerro a respeitodeque existe em certos símbolos antigos enos costumesdas lojas e dos antigos mistérios. Em vez de averiguarem como seintroduziram tais costumes na Franco-Maçonaria, preferem aceitar ahipótesedequesãoelesquederivamdainstituição.

Sendoumaordem iniciática, aMaçonaria tem tido a necessidadedearmarumsistemamísticodedoutrinação,atravésdeváriossímbolosedediversaspráticas ritualísticas.Os símbolospodem ser objetos, figuras,ouimagensmentaisalusivasaalgumsentidomoral,sendoencontradosemtodasasorganizaçõesiniciáticasereligiosas.Umsímbolo,tomadodopontodevistamístico,éaafirmaçãodiscretadaverdaderevelada.

Éatravésdosimbolismoqueainstituiçãomaçônicatransmite,aosseusiniciados,atradição–geralmentemística–eaciência,sistematizadasnosdiversosgrausdeumrito.

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Todo símbolo, qualquer que seja a sua espécie, pode serconsiderado sob três diferentes aspectos, de acordo com a suainterpretação: literal, figuradoeoculto.Deacordocomosentido literal,oobjeto é apresentado em suas generalidades, sem qualquerrepresentatividade,ouilação;porexemplo:literalmente,abandeiradeumpaís,ouoestandartedeumalojamaçônica,nadamaissãodoquepedaçosdepano.Nosentidofigurado,oobjeto,pelassuaspropriedadesintrínsecas,representa uma ideia, a partir do pensamento que desperta; sob essainterpretação, a bandeira de um país já passa a representá-lo em suasparticularidades,diferenciando-odosdemais,omesmoacontecendocomoestandarte do exemplo anterior, que passa a representar uma loja, emparticular. No sentido oculto, o símbolo encerra uma profunda verdademoraltotalmentedistintadosentidofigurado,esóreveladoaosiniciados:éosentidomaisutilizadonaMaçonariaseguidopelofigurado,poisoliteraljamaiséconsiderado.

Osimbolismo,evidentemente,remontaàmaisaltaantiguidade,daímarelaçãodaMaçonariacomasantigascivilizaçõesorientais;eleencerraprofundas verdades belos segredos morais e espirituais, além deensinamentos que só devem ser conhecidos através da iniciaçãosistemática e progressiva, que é a única e verdadeira escola da perfeitasabedoria.

Os símbolos representam, assim a maneira velada com que aOrdemmaçônicaprocuramostrarasgrandesverdadesdoUniverso,dentrodas concepções mentais e metafísicas, não podendo, o seu estudosistemático, serpostergadopelos iniciados,poiso simbolismoéa síntesedasabedoriahumana,nocaminho transcendentaldaprocuradaVerdadeúnicaeabsoluta,semeleaMaçonariatornar-se-iaumcorposemcérebro,robotizadoesemfaculdadesintuitivas.

Deve-se, todavia, salientar que, apesar de todos esse misticismonecessário para a transmissão da tradição e da ciência iniciática, aMaçonarianãoé,emsuaatuação,demaneiraalguma,umaOrdemmística,já que, sendo uma instituição regida pela racionalidade e pelo espíritoevolutivo, não pode permitir que omisticismo sobrepuje a razão crítica,poiselepodeservirdemeioparaosdiversosensinamentos,masnuncademetaparaumainstituiçãodealtonívelculturalcomoaMaçonaria.

Os irmãos SCHREIBER, violentos críticos alemães das sociedadessecretas,afirmam,referindo-seaograndepesquisadoralemãoLessing,queele “ficou desagradavelmente intrigado com os acessórios místicos

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alquimistas e com o formulário das bagatelas cheio de mistérios daMaçonaria,enósdizemosqueadesilusãofoialta,paranãoaclassificarmosde indignada, e não nos falsearemos na presunção de que ambos seinscreveram naMaçonaria, partindo de suas próprias ideias filosóficas, doqueparaali,asadquirirem”.

Ora,emprimeirolugar,existeumacertapresunçãodosautores,aojulgaroqueLessing,umespíritolúcido,poderiaterpensado,ecolocando,emseucérebro,aquiloqueelesmesmos,inimigosdassociedadessecretaspensam. Em segundo lugar, Lessing foi maçom no glorioso “século dasLuzes”,aoladodeoutrosgrandesintelectuaisalemães,comoGOETHEeHERDER,e, como esses, tinha a cultura suficiente para saber que o misticismomaçônicoera,somenteummeioenãoumfim.Seassimnãofosse,nãoteriaa Ordem maçônica atraído desde o século XVIII os maiores nomes daculturaeuropeia.

Muitos outros inimigos daMaçonaria sempre usaram, para tecersuascríticasaela,odecantadosegredomaçônico–que,verdadeiramente,se limita aos sinais de reconhecimento, pois, de posse deles, qualquerpessoapoderiaingressarnumaassembleiademaçons–eomisticismoqueo cerca. Esquecem-se, talvez, tais críticos, de que, em todas asmanifestações metafísicas do ser humano, existe o misticismo e nemsemprecomomeio,mas,sim,comofinalidade.

Arespeitodisso,ALBERTPIKE,acatadopesquisadornorte-americano,do séculoXIX,dizo seguinte, emsuaobraMORALS ANDDOGMA OF THEANCIENT ANDACCEPTEDSCOTTISHRITEOFFREEMASONRY:

“Através do véu de todas as alegorias hieráticas e místicas dosdogmasantigos,sobachanceladetodasasobrassagradas,nasruínasdeNívineoudeTebas,naspedrascorroídasdos templosna faceenegrecidadas esfinges assírias e egípcias, nasmaravilhosas páginas dosVedas, nosestranhos emblemas de nossos livros de Alquimia e nas cerimônias derecepções praticadas por todas as sociedades misteriosas, encontram-sevestígiosdeumadoutrina,queé,sempreamesma,guardadazelosamente.Afilosofiaocultaeraadeusa-mãedetodasasreligiões,aalavancasecretaque movia as forças intelectuais, a chave de todas as divindades,incompreensíveis, e a Rainha Absoluta da Sociedade, enquanto foipatrimôniodossacerdotesedosreis.”

Aíestáa realidade, jádelineadaacima:opsiquismohumano temsido,sempre,receptivoaomisticismo,paracompreenderumadoutrinade

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moraledeespiritualidade,que,emúltimaanálise,éumpatrimôniocomumatodasassociedadesiniciáticaseatodasasreligiões:afilosofiaoculta.

Assim, do ponto de vista místico, a Maçonaria seria uma escolainiciática, que predispõe o espírito de seus iniciados à compreensão doAbsoluto.Todavia,sesóessafosseasuafinalidade,elaseria,simplesmenteumaseita contemplativa, e, realmente,destituídade finspráticosemboraaltamenteespiritualizada.

Na verdade, na Maçonaria, cada iniciado age, com plenaconsciência,naesferadeaçãoquelheéapropriada,consagrandosuavidaedevotando os seus esforços à concretização da Grande Obra do Sol, quediferentementedaAlquimia,simbolizaoaperfeiçoamentoindividualdoserhumanoe,porextensãooaperfeiçoamentodetodaaespéciehumana.

OPrincipalobjetivodaatividademaçônicaéabuscaincessantedaVerdade, que conduz a Luz; e essa verdadepode sermoral, espiritual oumental, em suma, mas pode ser também, a verdade social, a verdadepolítica,averdade,enfim,daLiberdadeedobem-estarmaterialdospovos,poisaMaçonaria,emboratenhasuafilosofiaestribadanomisticismo,énarealidade,umareformadorasocial.Nascidanaesteiradosideiasliberaiselibertáriosdahumanidade,numaépocadeabsolutismoededogmatismoclerical, a Maçonaria colocou-se na vanguarda, não só do renascimentocultural e científico (o que valeu as iras do Santo Oficio contra os seusmembros),mas,tambémnadalutapelasgrandesreformassociais,atravésdasuadecisivaparticipaçãonosgrandemovimentosdelibertaçãohumana,desuapresençanosconflitosdeideiasedesuaimportanteintervençãonasoluçãodosgrandesproblemasinternacionais.

Não sendo órgão de nenhumpartido político e nemde qualqueragrupamento social, ela firmouo seupropósitode estudar e impulsionartodos os problemas referentes à vida humana, com a finalidade deasseguraraPaz,aJustiçaeaFraternidadeentretodososhomensepovos,independentementederaça,cor,credoreligioso,ounacionalidade.

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JOSÉCASTELLANI

JoséCastellani,médico,escritorehistoriador,foiautordemaisdesessenta livros sobre a cultura maçônica, sendo considerado assim, umfenômenonaamplaliteraturadaFraternidade.

Nascidoa29deMaiode1937,emAraraquara,SP,exerceucargosnadocênciamédica,tendoseespecializadoemoftalmologia.

Iniciado em 9 de Novembro de 1965, logo em 1973, teve seuprimeiro livromaçônicopublicadopelaEditoraAGazetaMaçônica, sobotítulo‘OsMaçonsquefizeramaHistóriadoBrasil’.Alémdestaimportanteobra, José Castellani também foi autor dos livros 'A Ação Secreta daMaçonarianaPolíticaMundial', 'MaçonariaeAstrologia', ‘ShemáIsrael’, ‘ACiência Maçônica e as Antigas Civilizações’, ‘A Maçonaria na Década daAboliçãoedaRepública’,entreoutros.

Portador de várias condecorações por sua contribuição à culturamaçônica,destacam-seaOrdreMilitaireetHospitallierdeSaintLazaredeJerusalém(França)eaOrdoSanctiGeorgi(Itália).

Deláparacá,somoumaisdesessentatítulosculturaismaçônicos,tendosempreno‘forno’,novostítulosaserempublicados.

José Castellani era um incansável colaborador de inúmeraspublicações, entre elas, o responsável pela Consultoria Maçônica do siteLojasMaçônicas.

Incansável trabalhador em prol da Educação e da CulturaMaçônicasocupouosmaisaltospostosdaInstituição,tantoemSãoPauloquanto na administração central da Maçonaria no Brasil, criando ereformulando o pensamento e as atitudes de uma época e influenciandotodaumageraçãocomsuaformadeagirepensar.

FaleceuemSãoPaulo,em21denovembrode2004.