304-014

Upload: fernando-michelon-marques

Post on 14-Oct-2015

21 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • ANLISE DA USINABILIDADE DOS AOS INOXIDVEIS AISI 304 E AISI 420 DURANTE O PROCESSO DE TORNEAMENTO EXTERNO CILINDRICO

    F. M. MARQUES; F. M. UGIONI; L. C. CAVALER; A. S. ROCHA; E. I. CURI

    Rua Pascoal Meller, 73 , Bairro Universitrio, Cricima-SC. CEP: 88805380 [email protected]

    Faculdade SATC; UFRGS

    RESUMO

    Os gestores industriais dos segmentos de usinagem, precisam conhecer a usinabilidade dos materiais, para que as estratgias de produo alcancem as metas de produtividade e viabilidade econmica desejadas. Os aos inoxidveis se caracterizam por serem materiais de difcil usinabilidade. Nesse estudo foram executados passes severos de desbaste cilndrico externo (torneamento), sem utilizao de meios refrigerantes, nos aos AISI 304 e AISI 420. Na anlise global dos resultados foi comparado rugosidade mdia superficial (Ra), o desgaste de flanco VBmx (desgaste de flanco mximo) e temperatura de corte, alm da caracterizao do tipo de desgaste predominante nas amostragens. Evidenciando o menor desempenho do AISI 304, frente aos testes de usinagem propostos neste trabalho, qualificando o AISI 304 como material de usinabilidade inferior ao AISI 420.

    PALAVRAS-CHAVE: Usinabilidade, AISI 304, AISI 420, Torneamento, Desgaste de flanco

    INTRODUO

    Parte da estratgia industrial para conduzir a produo dentro das metas de

    produtividade estipuladas pela gesto empresarial, est correlacionada com estudos

    de usinabilidade dos materiais. Nesse contexto a usinabilidade pode ser definida

    como uma grandeza comparativa, entre as propriedades de usinagem de um certo

    material. Na prtica a usinabilidade expressa o grau de dificuldade que um material

    oferece no momento da remoo de cavaco (Diniz et al., 2006).

    Empresas do ramo de cutelaria, biomedicina e ferramenteira por exemplo,

    possuem grande interesse na usinabilidade dos aos inoxidveis, uma vez que estes

  • materiais atendem s normas especficas de produtos de maior valor agregado,

    alm de oferecem elevada resistncia corroso e caractersticas mecnicas

    melhoradas, quando comparados aos outros tipos de aos. (Carvalho, 2000)

    Os aos inoxidveis no apresentam uniformidade nos fatores de

    usinabilidade, esta caracterstica observada devido a composio qumica que

    define cada tipo de ao inoxidvel comercial, como os austenticos, martensticos e

    ferrticos (SECO, 2002). Para melhorar esta caracterstica normalmente

    adicionado enxofre na composio qumica, em teores controlados. O enxofre tem a

    funo de formar sulfetos de mangans na matriz microestrutural, melhorando o

    ndice de deformidade desse novo material, o que facilita a quebra do cavaco na

    zona de cisalhamento, bem como o escoamento do cavaco arrancado sobre a

    ferramenta (Carb, 2000). Esses fatores contribuem para a maior usinabilidade e

    qualidade superficial (baixa rugosidade) dos aos inoxidveis. Isso se torna possvel

    uma vez que a aresta de corte das ferramentas preservada por um maior tempo,

    devido a diminuio do esforo de corte e acmulo de cavado sobre a rea da

    usinagem, assim como a menor temperatura do gume da ferramenta de corte.

    (Oberg, 2000)

    Este trabalho foi elaborado com o intuito de investigar a usinabilidade dos aos

    AISI 304 e AISI 420 (recozido), para tanto, parmetros de corte severos foram

    selecionados intencionalmente para acelerar o processo de desgaste de flanco da

    ferramenta de corte, e com isso tecer discusses sobre o comportamento dos aos

    inoxidveis conforme as medies de rugosidade da superfcie usinada e desgaste

    da ferramenta de corte a cada passe de usinagem, e medio de temperatura do

    esforo de corte no momento da usinagem.

    MATERIAIS E MTODOS

    Este captulo apresenta o planejamento experimental, procedimentos

    experimentais e a descrio dos equipamentos e recursos utilizados para a

    realizao deste trabalho.

    Parmetros de corte

    Os aos inoxidveis foram usinados com parmetros de corte fixos, pois o

    objetivo foi de avaliar a usinabilidade por comparao dos mesmos e foi

  • determinado um nico parmetro de velocidade de corte (Vc), avano Fn e

    profundidade de corte (ap) representados na Tab 1.

    Tab 1 - Parmetros de corte utilizado para os ensaios de usinagem

    Material Vc [m/min] ap [mm] fn [mm/rot]

    AISI 304 200 0,5 0,1

    AISI 420 200 0,5 0,1

    Os insertos utilizados para anlise de desgaste foram do fabricante ZCCT-CT,

    modelo TNMG160404R-FM, classe de metal duro ISO M (indicado para aos

    inoxidveis), no qual indicavam os parmetros mdios de velocidade de corte de 220

    m/min, faixa de avano media (fn) de 0,2 mm/rot e profundidade de corte mxima de

    3,0 mm.

    Medio de desgaste

    Para anlise de desgastes dos insetos foi utilizado um estereoscpio ptico

    modelo BW1008-500X, com conexo USB e software para medio das imagens

    adquiridas, medio esta realizada atravs da converso de pixel para milmetros,

    definindo assim o desgaste de flanco dos insertos.

    Para medio de desgaste das ferramentas foram utilizados insertos novos, a

    partir das mesmas, analisado quanto desgastou de seu flanco (VBmax). A Fig. 1

    mostra como foi realizado as medies de desgaste de flanco, com seus respectivos

    valores.

    Fig. 1 - Inserto com indicao de flanco.

    Para a anlise de desgaste, foi realizada, por comparao dos dois materiais, e

    medido no mesmo comprimento usinado, assim minimizando possibilidades de erros

    de medio, e sempre com uma medio e duas rplicas, gerando assim valores

    estatsticos.

  • Mquina e materiais para testes de usinagem

    O material utilizado para realizao dos testes de usinagem foram barras

    trefiladas de aos inoxidvel AISI 304 e AISI 420, com dimetro de 50,8 mm (2),

    comprimento de 550 mm.

    Para a realizao dos testes de usinagem foi utilizado um torno cnc modelo

    Centur 30D, fabricante ROMI, com potncia de motor de 5 cv, acionado por um

    comando modelo MACH 9. Os testes foram realizados entre placa e ponta, devido

    ao comprimento a ser usinado ultrapassar a relao comprimento pelo dimetro,

    maior que 3.

    Com a necessidade de fixao na mquina por parte das barras, foi indexado

    50 mm de comprimento de cada barra, para dentro da placa, afim de garantir uma

    boa fixao das mesmas na mquina, fixao representada pela Fig. 2.

    Fig. 2 - Barra de inox fixada entre placa e ponta.

    Medio de temperatura e rugosidade

    Para medio de temperatura foi utilizada um termovisor modelo TIR32,

    fabricante Fluke. Para leitura das medies de temperatura foi utilizado o software

    SMARTVIEW, fornecido pelo prprio fabricante da cmera.

    Para realizao das medies de rugosidade foi utilizado um rugosmetro

    modelo TR 100, onde foi determinado o parmetro de rugosidade Ra para anlise

    comparativa do ndice de usinabilidade dos materiais.

  • ANLISE DE RESULTADOS

    Neste capitulo sero apresentados os seguintes resultados: medio de

    desgaste das ferramentas, rugosidade superficial, medio de temperatura.

    Medio de rugosidade

    Para a medio de rugosidade foi determinado que seriam realizadas medies

    a cada passe da ferramenta na pea, ou seja, a cada 500 mm de comprimento

    usinado. A tabela 2 indica os valores de rugosidade mdia, encontrados durante o

    teste.

    Tab. 2 - Valores de rugosidade media superficial Ra [m]

    Material 1 passe 2 passe 3 passe 4 passe 5 passe

    AISI 420 0,93 m 1,11 m 2,06 m 1,8 m 1,87 m

    AISI 304 0,91 m 1,15 m 1,16 m 2,01 m 2,20 m

    Conforme valores indicados na Tab. 2, percebe-se valores de rugosidade Ra,

    menores para o AISI 420, valores estes, inferiores em alguns pontos de medio,

    podendo ser justificado pela usinabilidade melhorada em relao ao AISI 304, pois o

    baixo teor de Carbono origina cavacos mais longos, ocorrendo durante a usinagem a

    frico dos cavacos na superfcie j usinada.

    Como parmetro de rugosidade para analisar a usinabilidade dos inoxidveis

    em questo, estima-se que o AISI 420 possui usinabilidade melhor que o AISI 304.

    Medio de desgaste

    Conforme mencionado anteriormente, e adotado como padro metodolgico,

    os valores de medio de desgaste de ferramenta foram obtidos no mesmo ponto de

    medio para os dois materiais e analisados conforme imagens apresentadas na

    Tab. 3.

  • Tab. 3- Valores de desgaste de flanco de cada passe por material

    AISI 304 AISI 420

    1

    5

    A tabela mostra que os valores de desgaste de flanco VBmax, foram maiores em

    todas medies para o ao AISI 304, valores que conforme a normas ABNT 6258,

    indicam fim de vida da ferramenta, para processos de torneamento, de VBmax= 0,2

    mm.

    Segundo literatura encontrada, na famlia dos aos inoxidveis, os austenticos

    so considerados os de usinabilidade mais dificultada em virtude de seus elementos

    de liga como o Nquel e pelo seu baixo percentual de Carbono, ocasionando desta

    forma maior atrito dos cavacos na superfcie de folga da ferramenta, e maior

    encruamento do material.

    Segundo anlise das imagens obtidas, os mecanismos de desgaste que

    prevaleceram, durante o processo de torneamento, foi adeso do material na

    superfcie da ferramenta seguido de desgaste por entalhe, claramente evidenciado

    na Fig. 3.

  • Fig. 3 - Ferramenta com desgaste por entalhe aps usinagem do ao AISI 304

    Medio de temperatura

    Com base nos valores adquiridos pela anlise de temperatura da cmera

    termogrfica, durante o processo de torneamento dos aos AISI 420 e 304, com

    valores de parmetros de corte idnticos para as duas condies, fica evidenciado o

    aumento da temperatura durante o corte durante o processo de desgaste de flanco

    (Fig. 3), da ferramenta utilizada.

    Em relao a troca de material usinado, percebe-se visualizado na Tab. 4, que

    o AISI 304, obteve maior temperatura, comparando com o AISI 420, possivelmente

    pela formao de cavacos contnuos durante o processo de usinagem.

    Caracterstica tpica de materiais com baixo percentual de carbono, originando maior

    atrito do cavaco na superfcie de sada da ferramenta de corte, dificultando desta

    forma a troca de calor. O encruamento dos aos inoxidveis austenticos tambm

    pode ser atribuindo ao aumento de temperatura, em relao aos martensticos, pois

    dessa forma aumenta sua resistncia mecnica ao cisalhamento, gerando um

    aumento do esforo de corte, que, por consequncia aumento de temperatura

    durante o processo.

    A fig. 4 mostra o ponto onde foi realizado as medies de temperatura durante

    usinagem.

    Fig. 4 - Imagem normal AISI 420 1 passe, indicando 187,9 C.

  • Tab. 4- Imagens termogrficas durante usinagem.

    AISI 304 AISI 420

    1

    Passe

    5

    Passe

    CONCLUSO

    A manuteno do gume da ferramenta, analisada a partir do desgaste de flanco

    da ferramenta VBmax, um fator determinante para o ndice de usinabilidade dos

    aos AISI 304 e 420, apesar de serem da mesma famlia dos aos inoxidveis,

    apresentaram valores diferentes, indicando que o AISI 420 apresentou um valor de

    desgaste de flanco diferente e inferior ao AISI 304. Uma possvel soluo para

    reduo do desgaste de flanco na usinagem dos aos inoxidveis, seria a utilizao

    de fluidos lubri-refrigerantes para diminuio da temperatura durante o corte,

    facilitando o escoamento dos cavacos na superfcie de sada da ferramenta.

    Em termos de rugosidade superficial media Ra, da superfcie usinada, os

    valores de rugosidade para o AISI 420 foram inferiores, evidenciando que o AISI 304

    possui usinabilidade inferior ao AISI 420.

    O aumento de temperatura do AISI 304 em relao ao AISI 420, pode ter sido

    por consequncia do encruamento acentuado do austentico em relao ao

    martensticos, isso afetando o esforo de corte do material, prejudicando assim a

  • vida da ferramenta e o processo de expulso do cavaco, formando cavacos longos e

    contnuos, aumentando assim a frico do cavaco sobre a ferramenta.

    BIBLIOGRAFIA

    CARB, HCTOR MARIO. 2000. Ao inoxidvel, aplicaes e especificao. s.l. :

    acesita, 2000.

    CARVALHO, JOS ANTONIO NUNES DE. 2000. aos inox - caractersticas e propriedades

    de uso. seminrio inox 2000. acesita. 2000.

    DINIZ, ANSELMO EDUARDO, MARCONDES, FRANCISCO CARLOS E COPPINI,

    NIVALDO LEMOS. 2008. Tecnologia da usinagem dos materiais. so paulo : artliber,

    2008.

    OBERG, ERIK, et al. 2000. Machinerys handbook. new york : industrial press inc., 2000.

    SECO, TOOLS. 2002. Novidades seco e opinies ao redor do mundo. The new edge.

    2002, 4, pp. 18-21.

    ANALYSIS OF MACHINABILITY STAINLESS AISI 304 AISI 420 AND DURING CYLINDRICAL EXTERNAL TURNING

    ABSTRACT

    The managers of industrial machining segments, need to know the machinability of

    materials so that production strategies to achieve productivity goals and desired

    economic viability. Stainless steels are characterized by being difficult to cut

    materials. In this study severe external cylindrical grinding passes (turning) were

    performed without use of refrigerants means in AISI 304 and AISI 420. Global

    analysis of the results was compared average surface roughness (Ra), flank wear

    VBmx (wear maximum) flank and cutting temperature, and characterizing the

    predominant wear in samplings. Showing the lowest performance of AISI 304,

    compared to machining tests proposed in this paper, describing the AISI 304 and

    AISI 420 below the machinability material.

    KEYWORDS: Machinability, AISI 304, AISI 420, Turning, Flank wear