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II Seminário Internacional sobre Desenvolvimento Regional Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional Mestrado e Doutorado Santa Cruz do Sul, RS – Brasil - 28 setembro a 01 de outubro. A DINÂMICA TERRITORIAL DO DESENVOLVIMENTO: SUA COMPREENSÃO A PARTIR DA ANÁLISE DA TRAJETÓRIA DE UM ÂMBITO ESPACIAL PERIFÉRICO Valdir Roque Dallabrida 1 Dieter Rugard Siedenberg 2 Víctor Ramiro Fernández 3 RESUMO Neste artigo são analisados os fatores que explicam trajetórias progressivas de desenvolvimento de âmbitos espaciais periféricos, a partir das abordagens regionalistas, tendo como referência empírica a experiência do município de Sarandi (RS-Brasil), entre 1990 e 2003. As abordagens regionalistas do desenvolvimento, apesar das recentes revisões críticas, apontam para um cenário de respostas aos percalços da territorialização do desenvolvimento, desafiante e ao mesmo tempo alentador, na medida que reforçam a importância da organização socioterritorial e da inovação coletiva territorial, com seus reflexos nos sistemas territoriais de produção. O desafio é maior quando a referência são âmbitos espaciais periféricos. Neste sentido, várias questões instigam a investigação, tais como: (1) qual a possibilidade de desencadear movimentos de reação dos territórios ou regiões? (2) quais características precisam estar presentes em territórios ou regiões, para criar as condições favoráveis a uma reação mais autônoma e protagonista, com maior possibilidade de sucesso? (3) como é possível perceber estas características na realidade de territórios ou regiões fora dos centros mais dinâmicos da economia nacional e mundial? Tangenciando tais questionamentos, a pesquisa busca entender em que medida as variáveis como a densidade institucional, as inovações coletivas territoriais e o desenvolvimento da cadeia de valor, podem explicar 1 Professor e pesquisador do Departamento de Ciências Sociais da UNIJUÍ, mestre e doutorando em Desenvolvimento Regional, na UNISC. 2 Professor no Mestrado em Desenvolvimento, Gestão e Cidadania da UNIJUÍ e no Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Regional, da UNISC, doutor em Antropogeografia pela Universität Tübingen / Alemanha. 3 Professor e pesquisador da Universidad Nacional del Litoral – Santa Fé (AR), doutor em Ciência Política pela Universidad Autónoma de Madrid, membro do Consejo Nacional de Investigaciones Cientificas de la Argentina - CONICET.

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Page 1: 302MICA TERRITORIAL DO DESENVOLVIMENTO.doc) · 1.1 Desenvolvimento e território: relação global-local No atual estágio do desenvolvimento capitalista, percebe-se que a apropriação

II Seminário Internacional sobre Desenvolvimento Regional Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional Mestrado e Doutorado Santa Cruz do Sul, RS – Brasil - 28 setembro a 01 de outubro.

A DINÂMICA TERRITORIAL DO DESENVOLVIMENTO: SUA COMPREENSÃO A PARTIR DA ANÁLISE DA TRAJETÓRIA DE UM

ÂMBITO ESPACIAL PERIFÉRICO

Valdir Roque Dallabrida

1

Dieter Rugard Siedenberg2

Víctor Ramiro Fernández3

RESUMO

Neste artigo são analisados os fatores que explicam trajetórias progressivas de

desenvolvimento de âmbitos espaciais periféricos, a partir das abordagens regionalistas,

tendo como referência empírica a experiência do município de Sarandi (RS-Brasil),

entre 1990 e 2003. As abordagens regionalistas do desenvolvimento, apesar das recentes

revisões críticas, apontam para um cenário de respostas aos percalços da

territorialização do desenvolvimento, desafiante e ao mesmo tempo alentador, na

medida que reforçam a importância da organização socioterritorial e da inovação

coletiva territorial, com seus reflexos nos sistemas territoriais de produção. O desafio é

maior quando a referência são âmbitos espaciais periféricos. Neste sentido, várias

questões instigam a investigação, tais como: (1) qual a possibilidade de desencadear

movimentos de reação dos territórios ou regiões? (2) quais características precisam estar

presentes em territórios ou regiões, para criar as condições favoráveis a uma reação

mais autônoma e protagonista, com maior possibilidade de sucesso? (3) como é possível

perceber estas características na realidade de territórios ou regiões fora dos centros mais

dinâmicos da economia nacional e mundial? Tangenciando tais questionamentos, a

pesquisa busca entender em que medida as variáveis como a densidade institucional, as

inovações coletivas territoriais e o desenvolvimento da cadeia de valor, podem explicar

1 Professor e pesquisador do Departamento de Ciências Sociais da UNIJUÍ, mestre e doutorando em Desenvolvimento Regional, na UNISC. 2 Professor no Mestrado em Desenvolvimento, Gestão e Cidadania da UNIJUÍ e no Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Regional, da UNISC, doutor em Antropogeografia pela Universität Tübingen / Alemanha. 3 Professor e pesquisador da Universidad Nacional del Litoral – Santa Fé (AR), doutor em Ciência Política pela Universidad Autónoma de Madrid, membro do Consejo Nacional de Investigaciones Cientificas de la Argentina - CONICET.

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as causas que têm atuado na implementação de trajetórias de desenvolvimento de

âmbitos espaciais periféricos, como o município de Sarandi. A pesquisa estará focada

no inter-relacionamento destas variáveis, tomando como referência a aglomeração

principal das empresas locais, o setor de confecções.

Palavras-Chave: Dinâmica territorial do desenvolvimento. desenvolvimento regional, Sarandi, organização socioterritorial.

THE TERRITORIAL DYNAMICS OF DEVELOPMENT: ITS COMPREHENSION THROUGH THE TRAJECTORY ANALYSIS OF A

PERIPHERICAL SPATIAL SCOPE

ABSTRACT

In this article the factors that explain progressive trajectories of development in

peripherical spatial scope are analyzed, through the regionalist views, taking as

empirical reference the Sarandi (RS – Brazil) municipal district experience, between the

years of 1990 and 2003. The regionalist views of development, although have been

recently criticized, point to a scenery of answers to the troubles of territorial

development, which is challenging and encouraging at the same time, in a way that they

enforce the importance of a social and territorial organization and of territorial and

collective innovation, with its reflexes on the territorial systems of production. The

challenge is bigger when the reference are the peripherical spatial scopes. In this sense,

many questions instigate the investigation, such as: (1) what possibilities of unleashing

reaction movements of the territory or regions? (2) what characteristics need to be

present in the territories or regions in order to create favorable conditions to an

autonomous and protagonist reaction, with a higher possibility of being successful? (3)

how can these characteristics be noticed in the territorial or regional reality outside the

more dynamic centers of the national and global economy? The objective of the

research is to understand in what measure the variables such as institutional density,

collective territorial innovations and the development of value chains can explain the

causes that have acted in the trajectory implementation of development in peripherical

spatial scopes like in Sarandi municipal district. The research will focus in the inter-

relationship of these variables, taking as reference the main agglomeration of local

businesses, the confection sector.

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Key words: Territorial dynamics of development, regional development, Sarandi, social and territorial organization

INTRODUÇÃO

A referência à dinâmica territorial do desenvolvimento remete-nos à discussão

dos processos de desenvolvimento localizado. Neste artigo, tem-se o propósito de

buscar sua compreensão a partir da análise da trajetória de um âmbito espacial

periférico. Para tal, inicialmente, faz-se uma síntese das principais abordagens teóricas

que focam a temática do desenvolvimento a partir da perspectiva territorial, destacando

as vertentes globalista e regionalista do chamado novo regionalismo. Por outro lado,

tem-se o cuidado de mencionar as principais críticas feitas às abordagens regionalistas

do desenvolvimento.

Reafirma-se, no entanto, que apesar da adequação das críticas, é possível

vislumbrar um cenário de respostas aos desafios da territorialização do

desenvolvimento, desde que sejam priorizados os enfoques das abordagens regionalistas

que reafirmam a relação entre os padrões de organização socioterritorial, a inovação e o

desenvolvimento.

Na seqüência, faz-se algumas considerações sobre uma investigação empírica

que está na sua fase final de desdobramento, focada num âmbito espacial periférico

(Sarandi)4. Dá-se destaque a alguns conceitos presentes na evolução dos enfoques

regionalistas do desenvolvimento, além de situar a problemática central, suas bases

hipotéticas, as principais expectativas que se tem com a pesquisa, algumas

considerações de ordem metodológica e, por fim, são contempladas algumas conclusões

preliminares sobre os resultados da pesquisa.

1 ABORDAGENS TEÓRICAS QUE FOCAM A TEMÁTICA DO

DESENVOLVIMENTO, A PARTIR DA PERSPECTIVA TERRITORIAL

Quando se trata de sintetizar as abordagens teóricas que focam a temática do

desenvolvimento a partir da perspectiva territorial, é indispensável destacar a relação

4 Esta pesquisa empírica servirá de base para elaboração de Tese de Doutorado em Desenvolvimento Regional, na Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC.

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local-global, além de mencionar as vertentes globalistas e regionalistas do novo

regionalismo5.

1.1 Desenvolvimento e território: relação global-local

No atual estágio do desenvolvimento capitalista, percebe-se que a apropriação

do espaço nas diferentes regiões, ou seja, sua territorialização, tende a resultar de um

processo caracterizado por uma verdadeira “privatização e corporativização do

território”, na medida que as empresas globais ainda assumem um papel de forte

hegemonia (SANTOS E SILVEIRA, 2001).

No entanto, a globalização, enquanto movimento, determina a localização do

desenvolvimento, mas, em sentido contrário, a localização, enquanto contramovimento,

desafia a globalização do desenvolvimento (BECKER, 2001). Ou seja, a globalização é

um processo vinculado ao território, na medida que condiciona a dinâmica econômica

de territórios-regiões-cidades-lugares e, por sua vez, se vê afetado pelo comportamento

dos atores locais (MÉNDEZ, 2002). Assim, dado que não basta que os territórios sejam

um mero suporte na localização de plantas industriais e de oficinas de serviços, estes

têm que criar os recursos e externalidades específicas necessárias para seu

desenvolvimento (MAILLAT, 1995a).

A lógica funcional de ocupação do espaço, acima caracterizada como o processo

de privatização e corporativização do território, faz parte da lógica definida e

implementada pelo primado do econômico. Pelo contramovimento, da reação do social,

é possível constituir-se um novo cenário: o território transformar-se em “fonte de

desenvolvimento” (AYDALOT, 1986), sendo possível afirmar que os mundialmente

chamados “meios inovadores” e “distritos industriais”, representariam bons exemplos

de reação, ou seja, o privilegiamento da territorialização segundo a lógica territorial.

1.2 Abordagens do novo regionalismo

Para fins didáticos, é possível classificar as abordagens focadas no território em

duas vertentes: a globalista e a regionalista6.

1.2.1 A vertente globalista do novo regionalismo

5 Em Dallabrida, Siedenberg e Fernández (2004), esta temática é aprofundada. Por isso, destacam-se apenas alguns autores, sendo que na referida obra consta um maior número de referências bibliográficas. 6 Seguindo sugestão de Klink (2001).

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Genericamente, os enfoques da vertente globalista sustentam-se na tese da

possível homogeneização do espaço local, com base nos princípios liberais, acreditando

numa situação de competição perfeita entre localidades.

Podem ser sintetizados em quatro enfoques: (1) Nova Política Urbana – NUP,

em que se defende que governos locais e comunidades não têm outra escolha senão

oferecer todos os tipos de concessões para atrair o capital internacional (COX, 1995);

(2) estratégias de city marketing, sustentando que as cidades e as regiões estariam cada

vez mais assumindo as tarefas de geração de renda e emprego através da elaboração e

implementação de um comportamento empresarial (JENSEN-BUTLER et all, 1997);

(3) economia de fluxos e informações, reafirmando que redes de cidades e regiões

conectadas entre si numa sociedade global baseada no fluxo de informações, estariam

assumindo como os grandes sujeitos do processo de desenvolvimento (BORJA e

CASTELS, 1997), e (4) uma ordem internacional sem fronteiras nacionais estaria

surgindo, pelo que se condena o comportamento intervencionista do Estado (OHMAE,

1996), propondo até sua extinção (STRANGE, 1996) e proclama as vantagens da

competição livre entre regiões-territórios-cidades região-países.

1.2.2 A vertente regionalista

A tese principal em que sustentam os enfoques da vertente regionalista é a de

que aumentou a capacidade dos âmbitos espaciais locais, regiões ou territórios, de atuar

sobre os fatores estruturais, implicando numa maior capacidade de se utilizar e

aproveitar esses fatores globais em função das próprias especificidades do local.

Os diferentes enfoques da vertente regionalista, podem ser sintetizados em

quatro grupos. O primeiro, é o que se refere aos estudos centrados na problemática da

organização industrial. Centram-se, inicialmente, na análise da experiência japonesa

dos tecnopólos. Fundamentam-se na emergência de um novo paradigma

tecnoeconômico e na interpretação do processo de inovação através do conceito de

“sistema nacional de inovação” (LUNDVALL, 1992) ou “sistema regional de inovação”

(BRACZYK, COOKE e HEIDENREICH, 1998), entendido como expressão

organizacional das dinâmicas de aprendizagem coletiva que ocorrem num determinado

país, ou quadro territorial.

O segundo enfoque refere-se aos estudos centrados na crise do fordismo. Na

tentativa de interpretar a natureza da crise econômica dos anos 80, autores ligados à

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Escola Francesa da Teoria da Regulação, juntamente com vários autores americanos,

caracterizaram a concepção de novas formas de organização industrial, baseados em

modelos de “acumulação flexível”, facilitando a compreensão dos novos espaços

industriais (BOYER, 1986; PIORE e SABEL, 1993).

O terceiro enfoque refere-se aos estudos centrados nos distritos industriais. O

distrito industrial é visto como uma “entidade sócio-territorial” caracterizada pela

presença ativa de uma comunidade de pessoas e de uma população de empresas num

determinado território. Nos distritos industriais, cada uma das empresas tende a

especializar-se numa única, ou apenas algumas, das fases dos processos produtivos

específicos de cada distrito. Os estudos realizados sobre os chamados distritos

industriais, principalmente na Terceira Itália, são abordados originalmente por autores

italianos, dentre os quais destaca-se Becattini (1987), mais tarde tendo sido enriquecidos

por abordagens de outros autores, tais como Vázquez-Barquero (2000).

Por fim, o quarto enfoque refere-se aos estudos centrados nos meios inovadores.

O conceito de “meio inovador” (MAILLAT, 1995a), ou “territórios inovadores”

(MÉNDEZ, 2002), pretende apreender as dinâmicas territoriais de inovação, tendo

como pressuposto que atualmente os mecanismos do desenvolvimento regional residem

nas regiões que são capazes de inovar, de pôr em prática projetos que aliem as novas

técnicas, a cooperação entre as empresas, as instituições de formação e pesquisa, e que

desenvolvam novos produtos, com o apoio das autoridades locais e regionais e das

universidades.

1.3 Uma necessária revisão crítica das abordagens regionalistas

Alguns autores têm preferido considerar as abordagens regionalistas do

desenvolvimento como exageradamente otimistas7. No entanto, isso não significa

desconsiderar sua validade.

Vejamos algumas revisões críticas necessárias. Quanto aos distritos industriais,

uma das críticas feitas é sobre a presumida possibilidade destes virem a transformar-se

em um modelo alternativo de desenvolvimento, passível de ser transferido para outras

regiões do mundo. A presença de fortes mecanismos de regulação local tende a que o

sistema local seja lento na reação às alterações do mercado. Além disto, considere-se a

fraca capacidade dos distritos para influenciar as orientações da política macro-

7 Sobre tais críticas, são dadas algumas contribuições em Fernández (2001).

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econômica e da política regional (FERNÁNDEZ, 2003). Sobre as abordagens da

especialização flexível, a principal crítica feita é que, ao mesmo tempo que

reposicionaram as regiões no cenário globalizador, relativisaram a importância dos

âmbitos nacionais.

Sobre as abordagens da chamada “glocalização” (SWYNGEDOUW, 1997), dito

termo procura refletir uma nova relação simbiótica entre o espaço global e local. No

entanto, esta glocalização, não representa uma relação espacialmente harmônica. A

globalização pós-fordista não veio acompanhada de um processo de superação das

assimetrias econômico-espaciais. A experiência não tem apresentado as pequenas e

médias empresas como atores centrais na configuração de complexos territoriais de

produção e muito menos de redes globais. O que se percebeu é que as empresas

transnacionais têm-se convertido nos novos atores que controlam as redes globais e

desenvolvem um posicionamento espacial seletivo, o que não dá lugar a uma dinâmica

territorial descentralizadora e convergente, senão a um fortalecimento de determinados

espaços centrais e recrudescimento das assimetrias regionais, produto de sua capacidade

de operar com altos volumes de investimentos como ocorria na etapa fordista (AMIN,

CHARLES e HOWELLS, 1992).

Por fim, muitas das experiências de acumulação flexível exibidas nos anos 80

como representativas da nova glocalização, têm mostrado nos anos 90 um processo de

crise e forte reestruturação interna, derivando em desconfiguração dos padrões

horizontais de reprodução territorial e sua substituição por componentes hierárquicos de

escassa endogeneidade, e em outros, em um caminho de claro declive. Dentre as

dificuldades apresentadas uma se destaca: o desafio de ingressar nas redes globais de

comercialização, altamente concentradas nas mãos das empresas transnacionais

(HUMPHREY e SCHMITZ, 2000).

As revisões críticas não confrontam totalmente com a defesa teórica e análise de

experiências que apresentam território e atores como possíveis protagonistas do

processo de desenvolvimento local ou regional. Apenas exigem uma revisão de algumas

argumentações exageradamente otimistas, além de evidenciar a necessidade de refletir

profundamente e pesquisar, para dar respostas viáveis, sobre, no mínimo, três

interrogações8: (1) como as regiões periféricas podem afastar-se de seu posicionamento

marginal e alcançar novos padrões organizativo-funcionais fundados, como os distritos

8 Tais interrogações são também referidas em outra obra: Fernández (2001).

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industriais, por exemplo, no protagonismo e na articulação dos atores territoriais? (2)

como aqueles complexos territoriais que têm alcançado os atributos dos distritos

industriais, podem enfrentar suas limitações estruturais, ligadas à sua escala e ao

conjunto de inércias que bloqueiam sua qualificação, para ingressar nas redes globais

controladas pelas empresas transacionais? e, (3) como, em geral, os espaços regionais

podem encontrar padrões organizativo-funcionais que lhes permitam inserir em seu

âmbito as empresas transacionais, condicionando seu funcionamento dentro dos

territórios e operando com estes macro-atores uma lógica não reprodutiva, senão

altamente sinergética?

2 UM CENÁRIO DE RESPOSTAS AOS DESAFIOS DA

TERRITORIALIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO

As três interrogações acima referidas remetem nossa atenção sobre os principais

desafios da territorialização do desenvolvimento. Assim, são destacadas algumas

reflexões, que podem contribuir para a construção de um cenário de respostas a tais

desafios. São priorizados os enfoques das abordagens regionalistas que reafirmam a

relação entre os padrões de organização socioterritorial, a inovação e o

desenvolvimento.

No cenário atual, por um lado, tem-se assistido a uma consistente evolução na

reflexão teórica que busca interpretar a crise do capitalismo dos anos 70, resultando, por

exemplo, em enfoques que reforçam a dimensão territorial do desenvolvimento,

explicando as razões do êxito de inúmeras experiências de desenvolvimento localizado.

Por outro lado, assiste-se a um agravamento das assimetrias e redução das

convergências regionais, um aumento na hegemonia das empresas transnacionais e a

não consolidação dos sistemas territoriais de produção sob o comando de redes de

pequenas e médias empresas. Paralelamente, o espaço nacional e o Estado-Nação têm

sua função desconsiderada.

Diante disso, decorrentes das questões acima evidenciadas, outras interrogações,

parecem centrais para a investigação: (1) qual a possibilidade de desencadear

movimentos de reação dos territórios ou regiões? (2) quais características precisam estar

presentes em territórios ou regiões, para criar as condições favoráveis a uma reação

mais autônoma e protagonista, com maior possibilidade de sucesso? (3) como é possível

perceber estas características na realidade de territórios ou regiões fora dos centros mais

dinâmicos da economia nacional e mundial? (4) que variáveis e/ou indicadores são mais

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adequados para mensurar o padrão de competitividade, ou competência territorial destes

territórios ou regiões?9

Mesmo sem a preocupação de responder com profundidade a tais questões,

pretende-se contribuir com algumas reflexões a elas pertinentes.

2.1 Competitividade ou competência territorial? Inicialmente, entende-se como fundamenta, esclarecer uma questão teórica: ao

fazer referência aos âmbitos espaciais que possuem características favoráveis para o seu

desenvolvimento, estamos nos deparando com bons padrões de competitividade ou

competência territorial? Quanto a isto, existem diferentes abordagens.

Segundo Lopes (2001), competitividade territorial, pode ser entendida como a

capacidade de uma comunidade territorial para assegurar as condições econômicas do

“desenvolvimento sustentado”. Entende-se que as condições econômicas são condição

necessária, mas não suficiente. A capacidade de atrair e fixar população, gerar empregos

- preferencialmente empregos qualificados - e inovar, são indispensáveis. O desafio é

como conciliar a relação conflituosa entre a geração de emprego, o necessário aumento

da produtividade, a introdução de inovações tecnológicas no processo de produção, a

manutenção de bons níveis de empregabilidade e a agregação local de valor aos

produtos.

Já Veltz (1995), refere-se ao “êxito territorial”. Para ele o êxito territorial resulta

de competências, redes, projetos e instituições, do que decorrem algumas implicações:

(1) a competência exige quadros coletivos de ação sólidos; (2) a competência

desenvolve-se e valoriza-se através da constituição de redes internas e externas; (3) isto

pressupõe uma visão, um projeto, ou seja, uma visão consensuada de futuro e, como

resultante, (4) o desenvolvimento de territórios-regiões tem uma relação direta com a

densidade e qualidade das interações entre atores, o que exige a presença de instituições

sólidas e ativas.

Assim, considerando que o sucesso de um lugar-região-território depende mais

da competência, que se cria, que é construída socialmente, é possível afirmar que seu

desenvolvimento depende do que se prefere denominar de competência territorial, a

9 Têm-se claro, que as limitações de espaço deste artigo não darão conta de uma resposta adequada a tais questões. De qualquer forma, além das reflexões iniciais aqui contempladas, o término da pesquisa já mencionada, espera-se, trará importantes contribuições para a construção de novos cenários de respostas.

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qual inclui a dimensão da competitividade econômica, mas, sobretudo, dos fatores

necessários ao êxito territorial, acima destacados por Veltz.

2.2 Organização socioterritorial e desenvolvimento Aprofundando abordagem feita por Vázquez-Barquero (1996) sobre as políticas

de desenvolvimento regional, a partir do desencadeamento de ações na dimensão

“harware”, “software” e “orgware”, em outra oportunidade (FERNÁNDEZ, 2001,

2003), tem-se salientado a dimensão orgware do desenvolvimento. A dimensão

orgware do desenvolvimento refere-se à capacidade “auto-organizativa territorial”, ou

seja, à capacidade de organização econômica, social e institucional do território,

fundamentada nas traded e untraded interdependencies10.

Na dimensão das traded interdependencies, estão presentes as relações de

mercado, ainda que contempla também um complexo de práticas de cooperação entre os

agentes econômicos do território. Os atores aqui são as empresas. Já sobre as untraded

interdependencies (interdependências não-mercantis) tem se depositado a possibilidade

de construção de um padrão de desenvolvimento que abranja, além da dimensão

econômica, a social, a política, a ambiental e a cultural. Esse complexo de atores

edificam um processo de “regulação coletiva” (FERNÁNDEZ, 2001), conformado pelas

redes empresariais e as interações que ocorrem interinstitucionalmente,

interempresarialmente e entre instituições e empresas. Esse circuito de interações tem

como produto principal a geração de um sólido capital social e, como efeito mais

relevante, a emergência e desenvolvimento de processos sistemáticos e incrementais de

aprendizagens coletivas geradas no nível territorial (CAMAGNI, 1991).

Por fim, tem-se salientado que o objetivo destas interações é obter uma sólida

governance regional [ou Governança Territorial]11, formada pela ampliação e

qualificação de redes sinérgicas entre os atores, as PMEs, a força de trabalho e o

complexo de instituições públicas e semi-públicas com base na sociedade civil, que

operam no nível intra-territorial, adicionando às vantagens estáticas (bases constitutivas

dos complexos de produção territorial, tais como as infra-estruturas) as vantagens

dinâmicas (padrão de orgware regional e local) (FERNÁNDES, 2001).

10 Conceitos resgatados de Storper (1995). 11 Conforme já referido em Dallabrida e Becker (2003a).

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2.3 Inovação e desenvolvimento territorial Assume-se aqui o seguinte conceito de inovação: a capacidade de gerar e

incorporar conhecimentos para dar respostas criativas aos problemas do presente

(MÉNDEZ, 2002). Assim, ao referir-se a um lugar-região-território inovador, faz-se

referência a âmbitos espaciais em que seus atores-agentes e organizações-instituições

forem capazes de gerar e incorporar conhecimentos para dar respostas criativas aos

desafios que se lhes apresentam em cada momento da história.

Enfoques de várias áreas do conhecimento, como da economia, da administração

e também da geografia (a geografia da empresa), até recentemente, elegeram a empresa

como objeto de atenção específico, considerando que a inovação (em processos,

produtos ou gestão) devia ser interpretada a partir de fatores internos à própria firma e

relacionados com sua organização. Num contraponto a esta argumentação, no âmbito da

economia espacial, um número crescente de estudos geográficos e também econômicos,

sustentam que a inovação das empresas é, em grande medida, resultado da existência de

um entorno territorial (social, econômico, cultural, etc.) com características específicas.

Torna-se evidente, então, um fato: a concentração espacial e o entorno territorial

contribuem para a inovação empresarial. “A partir dessa evidência, a atenção prioritária

se dirige a analisar e tentar compreender o ambiente em que nascem e operam essas

empresas tentando detectar a possível existência de alguns fatores-chave externos à

empresa no entanto internos aos lugares onde estão presentes os processos de inovação”

(MÉNDEZ, 2002, p. 3).

Os estudos sobre os “distritos industriais” (BECATTINI, 1987), a referência aos

“sistemas produtivos localizados” (BENKO e LIPIETZ, 2000) e as propostas sobre o

“desenvolvimento local” – feitas por autores como S. BOISIER e A. VÁZQUEZ

BARQUERO, em várias obras, algumas delas aqui citadas -, já destacam o papel do

entorno territorial na inovação, mesmo que ainda não dando um papel prioritário.

Outras abordagens posteriores, como das “vantagens competitivas de nações e regiões”

(PORTER, 1991), a dos “meios inovadores” (MAILLAT, 1995b) e a das “redes de

inovação” (LUNDVALL, 1992), deram uma ênfase maior ao papel do entorno

territorial na inovação.

Recentemente, propostas surgidas como a da chamada “economia do

conhecimento”, transladadas ao plano territorial com conceitos como o de região

inteligente, regiões ou territórios que aprendem, ou “learning region” (FLORIDA,

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1995), reforçam o atual protagonismo do conhecimento e da aprendizagem coletiva

como recursos específicos. Outras, como as que realizam estudos sobre as “dinâmicas

de proximidade” (GILLY e TORRE, 2000), centram sua atenção na importância

exercida pela proximidade física, além da funcional e da cultural, na criação de redes

capazes de transmitir saberes tácitos, não formalizados e dificilmente decodificáveis, no

entanto, fundamentais para a geração e difusão de inovações.

Sem esgotar o debate sobre as influências da inovação, pode-se afirmar que

ambas as dimensões, a organizativa (empresa) e espacial (o entorno territorial), influem

de forma conjunta e se complementam, ainda que a importância seja diversa segundo o

tipo de empresa. Segundo Méndez (2002), nos sistemas produtivos territoriais formados

majoritariamente por micro, pequenas e médias empresas, a influência do entorno

territorial é decisiva. O autor chega a questionar se, desde a perspectiva geográfica, o

objetivo de nossas investigações deve ser a identificação dos fatores que permitem

compreender o comportamento mais ou menos inovador das empresas, ou pelo

contrário, devemos orientar nossos esforços a interpretar a diversa capacidade de

inovação mostrada pelos territórios.

A afirmação de Méndez (2002, p. 5) está sustentada no fato de que, segundo ele,

“a base econômica não resume a complexidade de nenhum território e isso exige

ampliar nosso horizonte para tentar abarcar o que está além das empresas (...)”, posição

reforçada por Maillat (1995b, p. 4), quando, ao referir-se aos meios inovadores, sobre a

questão da inovação, reafirma: “não é tanto a dimensão das empresas que importa

considerar, mas a existência ao nível territorial de modos originais de organização dos

sistemas de produção”.

Seguindo a mesma linha de argumentação, Lopes (2001) afirma que se é certo

que a inovação decorre da lógica econômica (modelo de organização territorial da

produção, configurado pelo tecido empresarial local), a compreensão do processo de

inovação requer, para além desta, a apreensão de uma lógica social (a dinâmica

institucional, configurada pelos atores que corporificam as parcerias orientadas para o

desenvolvimento local), “já que a inovação é essencialmente o resultado de um processo

interativo de aprendizagem coletiva” (p. 185). Em resumo, o padrão de competitividade

territorial [ou competência territorial], decorre, como síntese dialética, da especificidade

com que nesse território se combinam o conhecimento tácito enraizado no tecido sócio-

produtivo local, com o conhecimento codificado filtrado do exterior, ou seja, das

Page 13: 302MICA TERRITORIAL DO DESENVOLVIMENTO.doc) · 1.1 Desenvolvimento e território: relação global-local No atual estágio do desenvolvimento capitalista, percebe-se que a apropriação

sinergias resultantes dos fatores de competitividade não territorializáveis

(conhecimento tácito), com os fatores de competitividade territorializados (os

codificados) (2001).

2.4 A necessária reconsideração do papel do Estado Para complementar um cenário de respostas aos desafios da territorialização do

desenvolvimento, em obra já citada (FERNÁNDEZ, 2003), destaca-se mais dois

aspectos: (1) o necessário redimensionamento do papel do espaço nacional e das

capacidades estatais e, (2) o impacto, na dinâmica territorial do desenvolvimento, da

inovação territorial resultante das aprendizagens coletivas.

Quanto ao papel do Estado, visões liberais e neoliberais defendem a retirada do

mesmo do âmbito econômico, deixando o comando da economia às leis do livre

mercado, a ponto de alguns autores chegarem a decretar o fim do Estado-Nação. É claro

que não concorda-se com tal entendimento, defendendo-se a articulação entre os atores

territoriais, espaços nacionais e Estado-Nação, estabelecendo-se uma comunicação

estratégica, como necessária para definir a inserção dos territórios no processo de

globalização. Ou seja, o Estado, e suas capacidades, torna-se necessário para superar os

desafios da territorialização do desenvolvimento12.

Tem-se claro que, considerando a situação dos países da América Latina, este é

um desafio para ser enfrentado nas próximas décadas. Ou seja, tal situação está distante

da nossa realidade institucional.

3 REAFIRMAÇÃO DE ALGUNS CONCEITOS PRESENTES NA EVOLUÇÃO DOS ENFOQUES REGIONALISTAS DO DESENVOLVIMENTO

Sinteticamente, são destacados oito conceitos: Governança e Governança

Territorial, Dinâmica Territorial do Desenvolvimento, Densidade Institucional,

Inovação e Inovações Coletivas Territoriais, Cadeia de Valor e Desenvolvimento

Territorial. Estes merecem destaque, pois se entende que, inter-relacionados, podem

contribuir para a melhor compreensão e análise da dinâmica territorial do

desenvolvimento.

12 Esta temática é aprofundada em outra obra (FERNÁNDEZ, 2003).

Page 14: 302MICA TERRITORIAL DO DESENVOLVIMENTO.doc) · 1.1 Desenvolvimento e território: relação global-local No atual estágio do desenvolvimento capitalista, percebe-se que a apropriação

3.1 Governança e Governança Territorial Mayntz (2000), define governance, [ou governança], como a capacidade, gerada

no território, para gerir os assuntos públicos a partir do envolvimento conjunto e

cooperativo dos atores institucionais e econômicos desses âmbitos.

Assim, governança territorial, pode ser entendida como o exercício do poder e

autoridade, por parte dos cidadãos ou grupos devidamente articulados nas suas

instituições e organizações, incluindo todos os processos, com o objetivo de

diagnosticar a realidade, definir prioridades, planejar a implementação das ações e,

assim, determinar como os recursos financeiros, materiais e humanos devam ser

alocados, para a dinamização das potencialidades e superação dos desafios, visando o

desenvolvimento territorial. Já o sistema de governança territorial, refere-se ao

conjunto de estruturas em rede, através das quais os atores-agentes e organizações-

instituições locais atuam no planejamento e consecução das ações voltadas ao

desenvolvimento territorial (DALLABRIDA e BECKER, 2003a).

3.2 Dinâmica Territorial do Desenvolvimento Decorrente do conceito de desenvolvimento territorial, já explicitado, pode-se

referir à dinâmica territorial do desenvolvimento. O uso desta expressão pressupõe a

defesa da hipótese de que o desenvolvimento é, antes de mais nada, resultante da

dinâmica dos diferentes territórios. Assim, a dinâmica territorial do desenvolvimento,

diz respeito às diferentes formas dos atores-agentes e organizações-instituições locais

ou regionais organizarem-se para atuarem no processo de desenvolvimento de um

determinado âmbito espacial (município-região-território). Constitui-se na opção de

organização assumida pelos atores-agentes e organizações-instituições locais e regionais

para viabilizar o desenvolvimento. Resulta de um processo com duas direções: da

dimensão global do desenvolvimento, que impõe seus interesses econômico-

corporativos sobre o território, e da reação da sociedade organizada, movendo-se,

principalmente, pela defesa da vida (humana e do meio ambiente). É ressaltada, assim, a

relação dialética entre global e local, território e desenvolvimento (DALLABRIDA e

BECKER, 2003b).

3.3 Densidade Institucional Amin e Thrift (1995), ao ressaltarem a função da intensificação das

interdependências mercantis e não-mercantis que se desenvolvem no território

Page 15: 302MICA TERRITORIAL DO DESENVOLVIMENTO.doc) · 1.1 Desenvolvimento e território: relação global-local No atual estágio do desenvolvimento capitalista, percebe-se que a apropriação

(especialmente estas últimas), introduzem o conceito de densidade institucional, para

referir-se à presença no território de uma significativa quantidade de instituições

(entendidas como atores públicos e privados) e intensas e qualificadas formas de

cooperação intra e interinstitucionais, geradas localmente.

A relação do conceito com as trajetórias de desenvolvimento de regiões ou

territórios, deve-se ao fato de que tal componente tem sido considerado fundamental

para qualificar os processos de organização territorial, dinamizar o sistema produtivo e,

assim, qualificar o processo de desenvolvimento. Estas mesmas abordagens afirmam

que territórios que apresentam alta densidade institucional têm condições mais

favoráveis para o desenvolvimento de inovações fundamentais para impulsionar

trajetórias progressivas de desenvolvimento territorial (FERNÁNDEZ, 2004).

3.4 Inovação e Inovações Coletivas Territoriais Reafirma-se aqui o conceito de inovação, como a capacidade de gerar e

incorporar conhecimentos para dar respostas criativas aos problemas do presente

(MÉNDEZ, 2002). Sobre a questão da inovação, diferentes enfoques regionalistas,

alguns deles aqui revisados, destacam sua importância nos processos de

desenvolvimento territorial, considerando que este resulta, não como produto do esforço

individual das empresas, senão como resultado de uma aprendizagem coletiva, pela

interação dos atores públicos e privados que atuam no território.

Storper (1995), reafirma que para a obtenção da inovação territorial é

fundamental o papel assumido pelo complexo de hábitos, regras e tradições

compartilhadas, denominadas por ele de untraded-interdependencies (interdependências

não mercantis). Tais interdependências, conforme já destacado em outra oportunidade

(FERNÁNDEZ, 2004), facilitam o desenvolvimento de interações coletivas sob a forma

de rede, entre atores públicos e privados, sobre as quais se assentam aprendizagens

coletivas que potencializam a inovação e qualificam o sistema de governança territorial,

refletindo em melhoras na cadeia de valor dos sistemas produtivos territoriais.

As inovações resultantes das diferentes formas de inter-relações que ocorrem no

território são as inovações coletivas territoriais.

3.5 Cadeia de valor

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A cadeia de valor refere-se ao conjunto completo de atividades requeridas para

que um produto ou serviço seja concebido, produzido, transportado, comercializado,

consumido e finalmente reciclado. Pode ser organizada em forma de etapas, assim

identificadas: concepção tecnológica, produção, transporte, marketing, consumo,

reciclagem. Ao conjunto de etapas e atividades da cadeia de valor global que acontece

num determinado âmbito espacial, desenvolvidas no interior de um cluster, denomina-

se cadeia de valor local (FERNÁNDEZ, 2004).

3.6 Desenvolvimento territorial Sergio Boisier, em várias de suas obras, reafirma a necessidade de dar um salto

qualitativo radical na discussão das formas de promoção do desenvolvimento, pois as

modalidades tradicionais, hegemônicas na maioria dos países ou regiões, não têm

conduzido e não conduzirão ao sonhado desenvolvimento13. Em uma obra recente,

(BOISIER, 1998), ao referir-se ao desenvolvimento, afirma que nosso conhecimento é

escasso a respeito de sua causalidade. As propostas recentes, afirma ele, referem-se a

vários fatores: (1) aos recursos (desde os naturais até os cognitivos, os simbólicos e os

psicossociais); (2) aos atores (individuais, corporativos, coletivos); (3) às instituições (a

respeito das quais a preocupação centra-se em sua inteligência organizacional e em sua

contemporaneidade); (4) aos procedimentos (principalmente os de caráter mais

societário como os pertinentes ao governo, à administração, à informação); (5) à cultura

(voltada ao desenvolvimento, produtora de capital social, conforme Robert Putnam), e

finalmente, (6) à inserção do território em seu próprio entorno (basicamente articulação

com o aparato do Estado e articulação com o mercado internacional).

Assim, é possível deduzir que o desenvolvimento, além da dimensão tangível

(material), que tem nos aspectos econômicos sua expressão maior, possui uma dimensão

intangível (imaterial). Dentre os fatores causais do desenvolvimento, a dimensão 13 Em outra oportunidade (SIEDENBERG, 2001a), ao discorrer sobre o uso do conceito desenvolvimento, reforça-se a imprecisão conceitual, ambigüidade, indefinição, o uso indiscriminado, sem atribuir-lhe dimensões conceituais básicas, permitindo diversas interpretações. “Em suma, quando se trata do termo desenvolvimento, duas características de qualquer conceito – clareza e precisão – parecem estar em contradição direta com a intensidade e a freqüência de seu uso” (p. 6). Sobre o mesmo tema, já fez-se também uma discussão sintetizada sobre os indicadores socioeconômicos do desenvolvimento, aprofundando aspectos relacionados ao Índice de Desenvolvimento Humano-IDH, como um indicador que vai além da dimensão econômica (SIEDENBERG, 2003a). Ainda, em outras obras, aborda-se a questão da gestão do desenvolvimento, destacando ações e estratégias que se colocam entre a realidade e a utopia, onde a questão do inter-relacionamento dos diferentes atores locais é salientada (SIEDENBERG, 2003b). Da mesma forma, ao abordar a idéia da gestão societária do processo de desenvolvimento local-regional, reafirma-se que para uma inserção global menos submissa é necessária uma gestão autônoma do desenvolvimento (DALLABRIDA, 2001). Como se vê, apesar do tema já ter sido motivo de diferentes reflexões, é uma questão que ainda merece aprofundamento.

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possível de ser expressa pelos indicadores econômicos refere-se à dimensão tangível,

enquanto a dimensão intangível refere-se à capacidade coletiva para realizar ações de

interesse social (DALLABRIDA, 2004). Esta capacidade coletiva é interpretada por

diferentes autores, principalmente, pelo uso de conceitos como “capital social”

(PUTNAM, 2000), “capital sinergético” (BOISIER, 1999), ou “densidade institucional”

(AMIN e THRIFT, 1995).

Como conseqüência, o “desenvolvimento territorial” pode ser entendido como

um estágio do processo de mudança estrutural empreendido por uma sociedade

organizada territorialmente, sustentado na potencialização dos capitais e recursos

(materiais e imateriais) existentes no local, com vistas à melhoria da qualidade de vida

de sua população (DALLABRIDA et all, 2004).

4 UMA PROBLEMÁTICA PARA A INVESTIGAÇÃO

Uma das questões que ainda está presente quando se trata do desenvolvimento

territorial é: o que explica o fato de alguns âmbitos espaciais (territórios-regiões-

municípios-cidades) apresentaremm estágios progressivos de desenvolvimento,

enquanto outros são pouco dinâmicos, e outros ainda permaneçam estagnados ou até

regridam? Ou, em outras palavras: o que faz com que alguns territórios possam ser

identificados como inovadores14, enquanto outros permanecem estáticos, estagnados?

Revisando as diferentes abordagens que focam o desenvolvimento a partir da

perspectiva territorial percebe-se que, na sua quase totalidade ocupam-se da análise dos

fatores que explicam o desenvolvimento de determinadas regiões ou territórios situados

nos países centrais. Assim, os casos paradigmáticos, situam-se grande parte deles em

países europeus (Exemplo: distritos industriais italianos), ou nos Estados Unidos

(Exemplo: Vale do Silício). Além disto, tais casos-referência resultam de configurações

histórico-geográficas específicas, tornando inviável sua replicação em outros contextos

sociais e institucionais. Os próprios instrumentais metodológicos elaborados para a 14 Inovação, em algumas áreas do conhecimento, tem quase que exclusivamente o sentido de introdução de novas tecnologias. A partir do enfoque das abordagens aqui referenciadas, entende-se a inovação com um sentido que vai além desta dimensão: significa, também, e por vezes principalmente, introduzir medidas novas, dar respostas singulares e adequadas a cada situação. Assim, preliminarmente, considera-se território inovador, aquele meio, ou âmbito espacial, que desenvolveu a capacidade de inovar constantemente, dando respostas singulares e adequadas aos seus desafios. Considerando que a inovação não tem apenas a dimensão empresarial, mas também social, um território inovador abarca um espaço socioterritorial caracterizado pela presença de processos mais intensos de interação e aprendizagem coletiva. Assim, o território inovador é um âmbito espacial que compreende atores, empresas e instituições inovadoras.

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análise da realidade empírica, talvez sejam mais adequados para analisar âmbitos

espaciais que apresentem uma maior complexidade de organização socioeconômica.

O foco da maioria, ou quase totalidade, das investigações nos âmbitos espaciais

referência, ou centrais, apresenta-se como o principal desafio desta proposta de

investigação, na medida que se pretende centrá-la na realidade da periferia de um

Estado, de um país periférico. Trata-se do município de Sarandi, localizado no interior

do Estado do Rio Grande do Sul (Brasil).

Mas o que instiga a investigação centrada neste âmbito espacial? Deve-se ao fato

de que, em Sarandi, um município de pequeno porte, com cerca de 20.000 habitantes, a

partir da década de 90, começa a se perceber um dinamismo socioeconômico, do qual

resulta, principalmente, a estruturação de um cluster têxtil de significativa importância

regional. Até o início da década de 80, as principais atividades econômicas de Sarandi

eram a pecuária (suinocultura) e as águas alcalinas, potencializadas pela existência de

um frigorífico de médio porte e uma indústria extrativa (água mineral). Até então o

município tinha pouca expressão industrial. A crise da agricultura e pecuária da década

de 80 resultou no fechamento temporário do frigorífico, por duas ocasiões. Este período

foi marcado por uma estagnação da economia local.

A partir de informações prévias, resultantes do conhecimento pessoal da

realidade que pretende ser analisada, questão ressaltada em entrevistas já realizadas com

atores locais, é possível afirmar que o fechamento do frigorífico foi o motivo principal

para o início de um processo local de reflexão, liderado inicialmente pelo CDL-

Conselho de Diretores Logistas e depois pela Associação Comercial e Industrial de

Sarandi-ACISAR e o Poder Público Municipal. Difundiu-se então a idéia de que era

necessário buscar outras alternativas, junto com a compreensão de que, naquele

momento, a busca de alternativas dependia principalmente dos atores locais. Após um

momento inicial de reflexão e mobilização local, optou-se pela dinamização industrial,

sendo que o setor de confecções foi escolhido para liderar o processo.

Nos anos seguintes, houve o surgimento de novas empresas e sua ampliação.

Desencadeou-se, então, a partir da década de 90, um processo de crescimento

econômico singular, com reflexos positivos nos níveis de empregabilidade e agregação

de renda local. A ampliação da atividade e aperfeiçoamento tecnológico de algumas

empresas gerou um processo imitativo dos demais. Existem hoje (2004) 52 empresas do

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setor confecções. Estima-se que este número chegue a 60, se computadas outras que

ainda estejam atuando na informalidade15.

Além do setor têxtil, outras indústrias foram instaladas no município. Destaca-se

a iniciativa da ACISAR, Poder Público Municipal e Clubes de Serviço, trazendo para

Sarandi uma unidade da indústria de calçados DAKOTA, hoje com aproximadamente

800 funcionários, podendo ampliar-se brevemente para empregar 1.200. Destacam-se

também indústrias de móveis e metalúrgicas.

Gerou-se uma atmosfera social com a presença de um alto grau de

empreendedorismo e mobilização social, possível de ser percebido na visita ao local e

conversa com empresários, autoridades municipais e população em geral. Hoje Sarandi

é um pólo industrial regional, identificado pela presença de um cluster de confecções.

Estas observações preliminares sobre a realidade de Sarandi, parecem justificar a

adequação da escolha deste âmbito espacial como realidade empírica para a

investigação. Centra-se a pesquisa na investigação dos fatores que contribuem para o

desenvolvimento de âmbitos espaciais (municípios, regiões, territórios), principalmente

os periféricos16, sem desconhecer os desafios a serem enfrentados. Entende-se, no

entanto, que tal tarefa contribuirá para preencher lacunas das abordagens regionalistas

de desenvolvimento, principalmente no que se refere à necessidade de ampliar a

investigação dos fatores que explicam o desenvolvimento de tais âmbitos espaciais.

Propõe-se centrar a investigação numa interrogação central, que pode assim ser

expressa: em que medida as variáveis centrais reafirmadas na estruturação do marco

teórico, com destaque para a densidade institucional, as inovações coletivas territoriais e

o desenvolvimento da cadeia de valor, podem explicar as causas que têm atuado na

15 Dados de 1996 demonstram que a região do Rio Grande do Sul em que o município de Sarandi está localizado (Produção), situa-se entre as que tiveram um maior crescimento da taxa do PIB no Estado, neste ano. No entanto, segundo um índice de desenvolvimento, considerando indicadores como renda per capita, leitos hospitalares, mortalidade infantil, alfabetização, escolarização e miséria, a região ocupa a terceira posição, apresentando problemas no índice de miséria, escolarização e alfabetização, principalmente (SIEDENBERG, 2001b). Este possível contraste, aparentemente, pode ser explicado pelo alto percentual de população rural, ainda existente na região em que o município de Sarandi está situado. 16 A referência aos âmbitos espaciais periféricos, nesta proposta de investigação, não corrobora enfoques do tipo centro-periferia, com muitos aspectos já questionados sob o ponto de vista teórico. O sentido de periférico aqui atribuído é para referir-se aos âmbitos espaciais (lugares, cidades, regiões, territórios) localizados fora dos principais centros (econômicos, científico-tecnológicos e políticos) mais dinâmicos do espaço em que estão inseridos. Além disto, refere-se a âmbitos espaciais que apresentem uma menor complexidade na sua organização socioterritorial. Esta justificativa pode ser considerada ainda na sua versão preliminar, devendo merecer uma melhor explicitação no decorrer da estruturação final do marco teórico, quando da elaboração da tese.

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implementação de trajetórias de desenvolvimento de âmbitos espaciais periféricos,

como o município de Sarandi?

Desta questão central, outras questões complementares podem ser formuladas:

(1) quais fatores externos às empresas, mas pertencentes ao entorno territorial,

influenciaram a adoção de inovações coletivas territoriais, que contribuíram para a

evolução do setor de confecções? (2) que relações podem ser feitas entre a evolução do

setor de confecções e a trajetória progressiva de desenvolvimento de Sarandi?

Sintetizando, boa parte do marco teórico, em geral, sustenta que o

desenvolvimento localizado é resultante da organização socioterritorial, tendo como

elemento mediante a política, implementada pela estrutura estatal (políticos e

governantes), stakeholders territoriais e intelectuais orgânicos. Como resultante, é

possível pensar o desenvolvimento a partir da perspectiva territorial, ou seja, é possível

afirmar que o desenvolvimento resulta da dinâmica territorial, como uma síntese dos

interesses globais e locais. Os casos exitosos de desenvolvimento territorial poderiam,

então, ser considerados sínteses exemplares (Ex. distritos industriais, meios inovadores,

territórios inovadores, alguns clusters...).

O movimento globalizador, por contemplar prioritariamente a lógica das

empresas globais e ser, assim, instrumental e vinculado à dinâmica padronizadora da

economia de mercado, torna-se desterritorializante. O território sofre com isso um

processo de ocupação seletiva, constituindo as desigualdades regionais. No processo de

apropriação do espaço, ou sua territorialização, criam-se novas formas de

territorialidades que, dialeticamente, provocam novas formas de desterritorialidades e

dão origem a novas territorialidades. Estas, na medida que oportunizam à sociedade

assumir um papel fundamental no processo de territorialização, criam a possibilidade do

território tornar-se sujeito, pela potencialização da capacidade de auto-organização

regional, implementando uma dinâmica territorial do desenvolvimento mais autônoma,

não privatista, menos desigual e segundo a lógica da sociedade. Mas nem todas as

regiões conseguirão tal avanço. Este dependerá em grande parte do tipo de reação local:

mais passiva ou mais ativa.

As abordagens regionalistas do desenvolvimento, destacadas no marco teórico,

ressaltam a importância da organização e a inovação territorial, presentes em territórios

ou regiões, para criar as condições favoráveis a uma reação mais autônoma e

protagonista, com maior possibilidade de contemplar os interesses socioterritoriais. A

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inovação, entendida como a capacidade de gerar e incorporar conhecimentos para dar

respostas criativas aos problemas do presente, é fruto de uma lógica empresarial e de

uma lógica socioterritorial, ou entorno territorial. A competitividade, ou competência

territorial, assim, é fruto das sinergias resultantes dos fatores de competitividade

territorializados e não-territorializáveis.

Para a geração da inovação territorial é fundamental o papel assumido pelo

complexo de hábitos, regras e tradições compartilhadas, denominadas genericamente de

interdependências, que facilitam o desenvolvimento de interações coletivas sob a forma

de redes sociais, institucionais e empresariais, entre atores públicos e privados, sobre as

quais se assentam aprendizagens coletivas que potencializam a inovação e qualificam o

sistema de governança territorial. Tais interdependências são fruto da densidade

institucional territorial. A inovação territorial se expressa concretamente nas atividades

produtivas desenvolvidas no território, ou seja, no sistema produtivo territorial de um

determinado âmbito espacial.

A retomada destas breves considerações teóricas parece evidenciar, a priori,

uma relação explicativa ao caso em estudo (Sarandi). Assim, entende-se que o padrão

de organização socioterritorial e as inovações coletivas resultantes são os principais

elementos explicativos de trajetórias progressivas de desenvolvimento territorial. Pela

associação articulada de variáveis como a densidade institucional, as inovações

coletivas territoriais e o desenvolvimento da cadeia de valor do principal cluster, parece

possível explicar as causas que têm atuado na implementação de trajetórias progressivas

de desenvolvimento de âmbitos espaciais periféricos, como o município de Sarandi.

Isto, porque a concentração espacial e o entorno territorial contribuem para a inovação

empresarial, e a inovação, num setor empresarial, é fator essencial para sua evolução

progressiva. Finalmente, é possível concluir, que a evolução progressiva e inovadora do

setor empresarial principal de um determinado âmbito espacial, resulta na geração de

trajetórias progressivas de desenvolvimento de municípios, regiões, ou territórios

periféricos.

Tem-se algumas expectativas com a realização da pesquisa. Espera-se, pela

revisão das abordagens regionalistas do desenvolvimento, principalmente as que dão

destaque à relação padrões de organização socioterritorial, inovação e desenvolvimento,

inicialmente, investigar quais respostas os autores dão aos desafios da territorialização

do desenvolvimento. Além disto, procura-se analisar em que medida as variáveis

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centrais reafirmadas na estruturação do marco teórico, podem explicar as causas que

têm atuado na implementação de trajetórias de desenvolvimento de âmbitos espaciais

periféricos, como o município de Sarandi.

Numa perspectiva mais específica, com a pesquisa em desdobramento, espera-se

ainda analisar e compreender o ambiente em que nascem e operam as empresas do setor

de confecções de Sarandi, tentando detectar a existência de fatores-chave externos à

empresa, no entanto internos ao lugar, que explicam os processos de inovação e o

sucesso empresarial do setor de confecções de Sarandi. Com isso, finalmente, quer-se

compreender como o dinamismo do setor de confecções, tem influído na trajetória

progressiva de desenvolvimento do município de Sarandi.

O recorte territorial definido para a análise empírica é o município de Sarandi. O

período de análise será a década de 90, podendo contemplar, sempre que possível,

informações e análises anteriores, ou mais recentes. A análise da trajetória progressiva

de desenvolvimento territorial do município de Sarandi terá como referência teórica

para a análise, os principais enfoques regionalistas do desenvolvimento, com base em

algumas variáveis: a densidade institucional, as inovações coletivas territoriais e o

desenvolvimento da cadeia de valor.

As duas primeiras variáveis (densidade institucional e inovações coletivas

territoriais) merecerão maior destaque na análise. Quanto à variável desenvolvimento da

cadeia de valor, a análise restringir-se-á a dois aspectos. Primeiro, a identificação, numa

linha histórica, de quais etapas da cadeia de valor foram sendo dominadas localmente,

considerando as empresas no seu conjunto, com vistas a avaliar a capacidade de

agregação de valor local do setor de confecções. Segundo, a partir de informações da

amostra de empresas, far-se-á algumas inferências sobre o padrão de competitividade do

setor, considerando o destino da produção (regional, nacional e internacional). Entende-

se que um estudo mais detalhado desta última variável poderá servir como desafio para

futuras de investigações.

5 PARA CONCLUIR: ANÁLISES E CONCLUSÕES SOBRE A TEMÁTICA DE INVESTIGAÇÃO

Como a pesquisa ainda não está de todo concluída, são feitas apenas

considerações preliminares, a partir de observações diretas, entrevistas já realizadas e

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alguns dados disponíveis17. Assim, algumas considerações assumirão, ainda, um caráter

de interrogação.

Frente um cenário globalizador com tendências homogeneizantes, as abordagens

regionalistas do desenvolvimento têm reafirmado a possibilidade de explicar os fatores

impulsionadores de trajetórias de desenvolvimento localizado, possíveis de serem

percebidos de forma mais acentuada em alguns territórios. Consideradas suas

proporções, o município de Sarandi, a partir de uma análise preliminar, pode ser

considerado um caso exemplar de reação local, frente à ação homogeneizadora

globalizante.

Das abordagens revisadas no marco teórico deste projeto de investigação, os

enfoques regionalistas que destacam a relação entre o padrão de organização

socioterritorial, a inovação e o desenvolvimento, parecem contribuir para a explicar, ao

menos em parte, a realidade do objeto de análise empírica (Sarandi). Ressaltam os

mesmos que territórios que apresentam alta densidade institucional têm condições mais

favoráveis para o desenvolvimento de inovações, estas fundamentais para impulsionar

trajetórias progressivas de desenvolvimento territorial.

Logo, quanto à variável densidade institucional, considerando a pouca

complexidade do meio analisado e suas proporções, Sarandi apresenta uma situação

singular. Percebe-se, ao longo do período em análise, a preocupação local com a

reestruturação, ou constituição, das instituições necessárias à qualificação das

interações, estas fundamentais para a evolução do cluster de confecções. São exemplo

disto: (1) a reestruturação da associação comercial e industrial local, redefinindo sua

estrutura organizacional e qualificando suas funções; (2) a parceria público-privada na

constituição da Escola de Costura, destinada à preparação da mão-de-obra local; (3) a

qualificação da atuação de instituições de apoio gerencial e tecnológico ao setor de

confecções, como o SEBRAE e SENAI; (4) o apoio do Poder Público Municipal

(Prefeitura Municipal) ao setor e, mais recentemente, (5) a exigência da instalação em

Sarandi de um Campus da Universidade de Passo Fundo, priorizando o funcionamento

local de cursos como Tecnólogo em Indústria de Confecções, Administração de

Empresas e Ciências da Computação.

17 O texto final da tese retomará estas análises e/ou conclusões preliminares, aprofundando-as, inclusive apresentando dados comprobatórios.

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Sarandi, trata-se de um âmbito espacial de pequeno porte, situado fora dos

centros mais dinâmicos da economia estadual e nacional. As inovações introduzidas no

setor de confecções local, ou seja, geradas localmente no setor produtivo (como, por

exemplo, uma nova máquina, ou equipamento, melhorias nos processos de produção...),

conforme foi possível observar a partir de uma primeira amostra de entrevistas locais,

parecem não ser significativas. Isso, talvez, se explique pelo fato de que o setor de

confecções é um setor tradicional da indústria de transformação em geral, destinado à

produção de produtos de consumo. Por outro lado, em Sarandi, o setor inicia sua

estruturação tardiamente (década de 80-90), depois que outros centros de maior

importância econômica, tanto no Estado (a região da Serra, por exemplo), como no

âmbito nacional (por exemplo, em Blumenau e Brusque, em Santa Catarina) e

internacional (por exemplo, a Itália, como centro internacional produtor de moda e de

máquinas e equipamentos industriais para o setor), já são referência em termos de

produção e de tecnologia.

Assim, as inovações tecnológicas (nos produtos, máquinas e equipamentos, nos

processos de produção...), em âmbitos espaciais periféricos e de pequenas proporções

(menos de 20.000 habitantes), como Sarandi, parecem resultar muito mais de processos

imitativos, via visitas à empresas do setor, participação em feiras, informações

fornecidas por fornecedores, internet e revistas, principalmente.

Apesar disto, a análise preliminar das informações que estão sendo levantadas,

demonstra que, consideradas suas proporções, o empresariado do setor de confecções

conseguiu dar respostas criativas aos desafios que se lhe apresentaram ao longo do

processo de constituição e solidificação do cluster de confecções. Assim, é possível

destacar, a priori, algumas iniciativas inovadoras, tais como: (1) identificação inicial de

potenciais investidores (muitos não de origem urbana) e realização de trabalho conjunto

de incentivo para investirem na abertura de novas empresas, trabalho coordenado,

principalmente, pelos empresários pioneiros, Poder Público e ACISAR; (2) parcerias

interempresariais de acompanhamento dos novos empreendedores, pelos empresários

pioneiros, principalmente, facilitando, e por vezes até subsidiando, seu acesso à

fabricantes de máquinas, equipamentos e insumos industriais; (3) parcerias

interempresariais de acompanhamento dos novos empreendedores, pelos empresários

pioneiros, cedendo temporariamente máquinas, equipamentos e/ou funcionários com

prática, principalmente no período inicial de suas atividades; (4) apoio formal do Poder

Público (subsidiando aluguéis, obras de infra-estrutura) ou informal, para a instalação

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das empresas dos novos empreendedores; (5) uma preocupação constante do setor de

confecções com sua viabilização e ampliação da demanda, destacando-se iniciativas

como (a) a organização da EXPOFESA - Exposição Feira de Sarandi, trazendo

empresas do setor de confecções de outros municípios, principalmente de Ijuí, onde, na

época, o setor já atingia um estágio mais avançado de organização, servindo de

incentivo aos novos e futuros empreendedores, (b) a organização da INDUVESA - Feira

da Indústria do Vestuário de Sarandi, em duas edições anuais, tendo como estratégia o

lançamento das coleções outono-inverno e primavera-verão, e, mais recentemente, (c) a

organização da FEISA - Feira da Indústria de Sarandi, buscando dar visualização e

apoio à ampliação de outros setores da indústria local (móveis, agroindústria, metal-

mecânica, calçados, principalmente), mesmo assim continuando o destaque ao setor de

confecções, inclusive redirecionando sua atenção, do consumidor final para o

comerciante; (6) reconhecimento da liderança política e econômica local do setor

empresarial, principalmente, através da reestruturação da Associação Comercial e

Industrial de Sarandi - ACISAR, resultando num maior dinamismo, com participação

hegemônica do setor de confecções nos cargos de liderança da entidade; (7) adoção de

novas estratégias para atingir o mercado, não só o consumidor final, mas também os

lojistas, destacando-se a construção e organização de Shoppings de Fábricas; (8) uma

atenção maior à preparação de mão-de-obra especializada, destacando-se a Escola de

Costura e, recentemente, a presença local de um Campus Universitário; (9) organização

e funcionamento do berçário industrial, destinado a estimular o surgimento de novos

empreendimentos no setor; por fim, (10) as empresas de maior porte, redirecionando

seu foco de venda exclusivamente nos lojistas, voltando-se fortemente para a

exportação, atingindo mercados que exigem altos volumes de produção, gerando

iniciativas atuais como a organização de Consórcios de Exportação.

Por fim, a partir de um contato mais efetivo com a realidade empírica, permitido

pelas reuniões e entrevistas realizadas, além da aplicação e análise de um primeiro

conjunto de questões a uma amostra de empresas, permitem a priori fazer algumas

observações. O âmbito espacial analisado, Sarandi, destaca-se, em alguns aspectos,

como por exemplo: (1) a concentração espacial e o entorno territorial dinâmico e

singular contribuiu para a inovação empresarial local; (2) o setor empresarial de

confecções, tem se destacado nas suas ações inovadoras (a capacidade de gerar e

incorporar conhecimentos para dar respostas criativas aos problemas do presente),

sendo fator essencial na explicação das causas da sua evolução progressiva e, (3) a

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trajetória progressiva de desenvolvimento do município de Sarandi, parece ter uma

relação direta com a evolução progressiva e inovadora do setor empresarial de

confecções18.

Uma última questão a ressaltar, que tem referência com a pequena dimensão do

setor de confecções de Sarandi. Percebe-se que o setor de confecções não absorve uma

quantidade tão grande de funcionários (em torno de 600, atualmente). É uma quantidade

próxima ao número de empregos oferecidos por uma única empresa que atua localmente

no setor de calçados, voltada principalmente para exportação. No entanto, a presença

local de mais de 50 empresas do setor de confecções, proporciona a convivência local

de um número significativo de lideranças empresariais, transformando-se tal fato num

diferencial, em termos da qualidade dos atores que agem no município. Mesmo sem

considerar outros fatores, o processo de constituição e evolução do setor de confecções

local, serviu como elo de ligação entre os atores sociais, institucionais, políticos e

econômicos locais, sendo motivo de desafios, podendo ser considerado uma escola de

formação de mentes empresariais, com o conseqüente reflexo na trajetória progressiva

de desenvolvimento local.

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18 No relatório de Tese, serão apresentados dados para fundamentar tais afirmações.

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